Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
Revolucionários
Potiguares em Memórias do Cárcere
Graciliano Ramos
Nosso
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João
Alves Rocha
Estivador, 06 anos e 06 meses de
prisão 7
Alcides
Washington Guerra Carlindo
Revoredo Carlos
Wan der Linden Domicio Fernandes
Ephifânio
Guilhermino Ezequiel Fonseca
Filho Gastão
Correia da Costa João
Anastacio Bezerra João
Francisco Gregório João
Alves Rocha José
Macedo Lauro Cortês Lago
Leonila Felix
Mario Ribeiro de Paiva Miguel
Bezerra Morais Paulo Pinto Pereira
Ramiro Magalhães
Paiva Sebastião Felix
Aragão Vicente
Ribeiro da Silva
“Havia
um estudantezinho de preparatórios, João
Rocha, mulato, franzino, inconseqüente, falador;
“
“E redes a tiracolo, dobradas em rolos,
como enormes serpentes grávidas, chamaram-me
a atenção para algumas figuras do
Rio Grande do Norte. Enfileirando-me à
pressa, distingui Macedo, João Rocha, Van
der Linden, José Gomes, o pequeno dentista
Guerra.
“Findos os arranjos, atenuada a lufa-lufa,
convenci-me afinal de que éramos dezessete
pessoas, cinco nordestinos e doze paranaenses.
Fixei a atenção nestes, quase todos
rapagões fortes e brancos, já percebidos
vagamente no andar térreo do Pavilhão
dos Primários, envoltos em largos sobretudos
espessos. Tinham prosódia esquisita, e
sobrenomes exóticos feriam-me os ouvidos:
Petrosky, Prinz, Zoppo, Garrett, Cabezon. A minoria,
vulgar e mais ou menos cabocla, usava designações
caseiras, expressas na fala arrastada, familiar
no porão do Manaus, quatro meses atrás:
Guerra, Macedo, João Rocha, José
Gomes.”
“Falas vagarosas me arrastavam de chofre
ao porão do Manaus, e três figuras
ressurgiam: João Rocha, o pequeno dentista
Guerra, José Gomes. De que modo iria comportar-se
o pobre Guerra, dias antes acometido por um acesso
de terror, a urinar-se e a tremer, querendo a
presença de mamãe? “
“Lembrava-me dos modos esquivos dos meus
companheiros, da malícia estulta de João
Rocha. Bem. Cortavam-me várias amarras,
vidas estranhas iam patentear-se no formigueiro
em rebuliço. Dos rápidos minutos
desse encontro apenas resta o bom efeito causado
pelo tipo anormal. Gaúcho falava gíria,
de quando em quando me obrigava a interrompê-lo:
- Que significa escrunchante? Escrunchante? Ora
essa! O lunfa que trabalha no escruncho, quer
dizer, no arrombamento. Era a profissão
dele. Súbito a palestra morreu.
- Formatura geral, gritou um negro lá da
porta. Deslocaram-se com rumor os objetos espalhados
no solo, uma nuvem de poeira toldou as luzes escassas,
toda a gente se moveu, organizaram-se à
pressa numerosas filas. A minha, ao fundo, era
a mais curta e algum tempo ficou acéfala.
De repente mandaram-me sair de forma e achei-me
em frente aos dezesseis homens firmes, direitos,
de braços cruzados. Cabo de turma, realizava-se
a previsão funesta. Mas não me conservaria
no miserável cargo: era-me impossível
fiscalizar os outros; naquele instante cerrava
as pálpebras, ignorava os acontecimentos
em redor. Uma voz longínqua chegava-me
aos ouvidos, a cantar números, e nem me
ocorria perguntar a mim mesmo a significação
deles. Abrindo os olhos, convencia-me da existência
de vultos indecisos a transitar para cima, para
baixo, certamente fazendo a contagem. E desgostava-me
enxergar a careta manhosa de João Rocha.
Tirou-me desse enleio um forte barulho. Despertei,
vi a dois passos um soldado cafuzo a sacudir violentamente
o primeiro sujeito da fila vizinha. Muxicões
terríveis. A mão esquerda, segura
à roupa de zebra, arrastou o paciente desconchavado,
o punho direito malhou-o com fúria na cara
e no peito. A fisionomia do agressor estampava
cólera bestial; não me lembro de
focinho tão repulsivo, espuma nos beiços
grossos, os bugalhos duas postas de sangue. Os
músculos rijos cresciam no exercício,
mostrando imenso vigor. Presa e inerme, a vítima
era um boneco a desconjuntar-se: nenhuma defesa,
nem sequer o gesto maquinal de proteger alguma
parte mais sensível. Foi atirada ao chão,
e o enorme bruto pôs-se a dar-lhe pontapés.
Longo tempo as biqueiras dos sapatos golpearam
rijo as costelas e o crânio pelado. Cansaram-se
enfim desse jogo, o cafuzo parou, deu as costas
pisando forte, soprando com ruído, a consumir
uns restos de furor. O corpo estragado conservou-se
imóvel. Estremeceu, devagar foi-se elevando,
agüentou-se nas pernas bambas, mexeu-se a
custo e empertigou-se na fileira, os braços
cruzados, impassíveis.”
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