Insurreição
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte
Revolucionários
Potiguares em Memórias do Cárcere
Graciliano Ramos
Nosso
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Ephifânio
Guilhermino
Motorista, 33 anos de prisão
Alcides
Washington Guerra Carlindo
Revoredo Carlos
Wan der Linden Domicio Fernandes
Ephifânio
Guilhermino Ezequiel Fonseca
Filho Gastão
Correia da Costa João
Anastacio Bezerra João
Francisco Gregório João
Alves Rocha José
Macedo Lauro Cortês Lago
Leonila Felix
Mario Ribeiro de Paiva Miguel
Bezerra Morais Paulo Pinto Pereira
Ramiro Magalhães
Paiva Sebastião Felix
Aragão Vicente
Ribeiro da Silva
“Duas
mulheres achegaram-se, uma branca, nova, bonita, uma
pequena cafuza de olhos espertos. Fiquei sabendo que
a primeira se chamava Leonila e era casada com Epifânio
Guilhermino.”
“Epifânio
Guilhermino, terrivelmente sério, falava baixo
e rápido, sublinhando com movimentos de cabeça
afirmações categóricas, sem pestanejar.
Ferido em combate, ficara meses entre a vida e a morte;
uma bala o atravessara, deixando-lhe duas cicatrizes
medonhas, uma na barriga, outra nas costas. Livrara-se
por isso do espancamento. E restabelecido, até
gordo, ali se achava, em companhia da mulher, apanhada
a mexer num fuzil-metralhadora. “
“Escrevi
até à noite. Se houvesse guardado aquelas
páginas, com certeza acharia nelas incongruências,
erros, hiatos, repetições. O meu desejo
era retratar os circunstantes, mas, além dos
nomes, escassamente haverei gravado fragmentos deles:
os olhos azuis de José Macedo, a contração
facial de Lauro Lago, a queimadura horrível de
Gastão, as duas cicatrizes de Epifânio
Guilhermino, o peito cabeludo e o rosário do
beato José Inácio, a calva de Mário
Paiva, os braços magros de Carlos Van der Linden,
o rosto negro de Maria Joana iluminado por um sorriso
muito branco.”
“O
abafamento. Esta palavra circulou, batizando a morrinha
coletiva e pensei no banzo dos negros, no mal-triste
do gado. Era um nome apenas, mas com ele nos vinha um
começo de explicação. A história
desgraçada nos contaminava. Abafamento. Não
me haviam falado nisso, a moléstia me pegava
de surpresa. Conhecia-lhe os primeiros efeitos, via
de longe viventes combalidos tentando livrar-se do singular
enjôo. Lembrei-me do porão do Manaus, das
trouxas vivas a arfar, a vomitar, na porcaria extrema.
Não me abatera: uma semana de jejum me deixara
lúcido, a mover-me aos solavancos entre as redes
oscilantes, a redigir notas a lápis no camarote
do padeiro. Agora não me seria possível
andar ou escrever. Reminiscências da estúpida
viagem me perseguiam: o cachimbo e a placidez de Macedo,
o estrabismo de Lauro Lago, as mangas curtas de Van
der Linden, a cicatriz de Epifânio Guilhermino,
a careta medonha de Gastão, Leonila e Maria Joana
a torrar num beliche improvisado. Evidentemente isso
eram correlações a que pretendia segurar-me.
Um novo porão anexava-se ao primeiro, sobrepunha-se
a ele, enchia-se de minúcias temerosas, horríveis
por não terem sido vistas por mim: Se aquelas
misérias me passassem diante dos olhos, decerto
não me impressionariam tanto; observadas por
outro, lançadas no papel, não queriam
fixar-se, prestavam-se a exageros e interpolações.
O abafamento progredia, rápido; agora o conhecíamos
e nos tornávamos por isso mais vulneráveis.
A idéia de moscas tontas a desfalecer no inseticida,
batendo as asas lânguidas, vinha-me com insistência.
Algumas procuravam resistir à sonolência
mortal. Em cima, no terraço, os militares excediam-se
na ginástica.”
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