Tecido
Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos
- RN
N.
008 – 07/11/03
ENTREVISTA
Maria Luisa Mendonça
"O Brasil está envolvido na estratégia dos Estados
Unidos de controle dos recursos naturais do continente"
Maria Luisa Mendonça, do movimento Rede Social de Justiça
e Direitos Humanos, foi palestrante da segunda conferência do
segundo dia do I Fórum Social Brasileiro com tema "Globalização
armada e militarização na América Latina", que teve lugar
no estadio Mineirinho pela manhã. Antes da conferência, a ativista
concedeu esta entrevista a Tecido Social.
Por Antonino Condorelli
Vocês esperam que o! Governo realize mudanças profundas nas
políticas econômicas - principalmente no que se refere à dívida
externa e à entrada do Brasil na Alca - nos próximos anos de
mandato?
Sim. Nós da Campanha Brasileira contra a Alca temos duas demandas
claras. Uma é que o Governo se retire das negociações da Alca
e a segunda é que o Governo realize uma auditoria da dívida
externa porque alguns dos contratos que nos vinculam a ela não
sabemos com certeza nem sequer se existem. Temos uma frente
parlamentar que está acompanhando esta questão da dívida e nem
eles, que são parlamentares, conseguem acessar a estes contratos.
Nós imaginamos que existem muitos problemas legais com estes
contratos e esperamos que o Governo Lula tenha uma postura diferente
com relação a isso. Em relação ao cumprimento dos direitos fundamentais
- direito ao trabalho, à saúde, à educação - e de todas as demandas
da sociedade - Reforma Agrária, Reforma Urbana - acho muito
difícil que o Governo realize uma ! mudança nestas áreas sem
mudanças estruturais na política econômica.
Acha que o Brasil corre o risco de ser um dos próximos alvos
deste projeto global de dominação econômica, política e militar
do "império" iniciado com a militarização da globalização
neoliberal após os atentados do 11 de setembro?
O que existe na América Latina é um investimento muito grande
no Plano Colômbia que, na verdade, é uma forma de ocupação territorial
e uma forma de controle dos recursos naturais da região amazônica
e é claro que o Brasil faz parte deste processo. Nos últimos
três anos o investimento militar dos Estados Unidos na América
Latina aumentou cinco vezes. Aqui no Brasil nós estamos lutando
contra o controle da base de Alcântara, em defesa das comunidades
quilombolas daquela área e acompanhando também, dentro da campanha
continental contra a militarização, a luta contra as bases militares
no continente, contra o treinamento de militares por parte dos
EUA, a tentativa! de envolver os países latinoamericanos no
Plano Colômbia e também em projetos como o SIVAM que fazem parte
desta estratégia de controle territorial e de recursos naturais.
Quai são as suas previsões sobre o futuro do Brasil? Acha
que vai haver nos próximos anos as esperadas mudanças?
Nós esperamos que sim. No Brasil e na América Latina os movimentos
sociais estão organizados, estão buscando mudanças, estão pressionando
os Governos. Por exemplo, com um plebiscito popular nós conseguimos
barrar o acordo que o Governo dos Estados Unidos queria fazer
com o Brasil sobre a base de Alcântara, estamos com uma postura
muito firme com relação a Alca, pressionando o Governo, então
acho que o nosso desfio é esse: unir esforços e pressionar o
Governo para que ele realmente de conta das grandes expectativas
da sociedade.
Veja
também:
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