Cabano
O
isolamento da província do Pará
levava-a a ignorar, na prática, as
determinações do governo regencial.
No final de 1833, o governo nomeou o político
Bernardo Lobo de Souza presidente do Pará.
Lobo de Souza valeu-se da repressão
para impor sua autoridade na província,
o que fez crescer contra si a oposição
local.
Líderes como o padre João
Batista Gonçalves Santos, o fazendeiro
Félix Antônio Clemente Malcher
e os irmãos Vinagre -- Francisco
Pedro, Manuel e Antônio -- armaram
uma conspiração contra o governador.
Em janeiro de 1835, o governador foi assassinado.
Os rebeldes ocuparam a cidade de Belém
e formaram um governo revolucionário
presidido por Malcher, que defendia a criação,
no Pará, uma república separatista.
Entretanto, o novo governador mantinha estreita
relações com outros proprietários
locais e decidiu permanecer fiel ao Império.
Por
isso, o movimento radicalizou-se. Líderes
populares, como Antônio Vinagre e
Eduardo Angelim, refugiaram-se no interior
da província, em busca do apoio das
populações indígenas
e mestiças. Foram então as
pessoas pobres, que moravam em cabanas,
que assumiram a luta pela independência
do Pará.
Em
agosto de 1835, os cabanos voltaram a ocupar
Belém e criaram um governo republicano,
desligado do restante do Brasil.
Mas
o isolamento da província e uma epidemia
de bexiga enfraqueceram os revoltosos, que
não tiveram condições
de resistir à esquadra imperial que,
em pouco tempo, dominou o porto de Belém.
Enquanto a cidade era saqueada e incendiada,
tropas do governo, auxiliadas pelos grandes
proprietários locais, percorriam
os vilarejos do interior à cata de
rebeldes. Ao cabo de cinco anos de guerrilhas,
mais de 30% da população paraense
-- estimada na época de cem mil habitantes
-- foi dizimada.
A Cabanagem foi o mais importante movimento
popular do Brasil. Foi o único em
que representantes das camadas humildes
ocuparam o poder em toda uma província.
(...)
Os
negros, índios e mestiços
compunham a maioria da população
inferiorizada do Grão-Pará
e viviam agrupados nas pequenas ilhas e
na beira dos rios em cabanas miseráveis
(daí o nome cabanos, como eram conhecidos).
Liderados a princípio por grupos
da elite que disputavam o poder, os cabanos,
insatisfeitos, resolveram assumir sua própria
luta contra a miséria, o latifúndio,
a escravidão e os abusos das autoridades.
Invadiram Belém, a capital da província,
depuseram o governo que havia sido imposto
pelos regentes e assumiram o poder. Formou-se
então o único governo do país
composto por índios e camponeses.
(...)
A Cabanagem deixou um saldo de 40 mil mortos.
Era mais um claro exemplo que a classe dominante
não admitia a ascensão do
povo ao poder nem as manifestações
populares que colocassem em risco o domínio
político da aristocracia. |