SUSP
Sistema Único de Segurança
Pública Estados
Arquitetura
institucional do SUSP
CAPÍTULO
7
Prevenção
do Crime e da Violência e Promoção da
Segurança Pública no Brasil
1.
Apresentação
No
ano 2000, 45.919 pessoas morreram vítimas
de homicídio doloso no Brasil – o que
representa uma taxa de 27 mortes por homicídio
para cada 100 mil habitantes (Waiselfisz
2002). Segundo dados da Organização Mundial
da Saúde, para um conjunto de 74 países,
o Brasil é o país que registra a terceira
maior taxa de mortalidade por homicídio.
Apenas a Colômbia (61,6/100.000) e El
Salvador (55,6/100.000) têm taxas superiores
à taxa do Brasil (Krug et al 2002).
São
125 mortes decorrentes de homicídio por
dia, que representam apenas a ponta mais
visível e mais dramática de um problema
grave na área da segurança pública que
afeta a vida de milhões de indivíduos
e milhares de comunidades em todo o Brasil.
Crianças são vítimas da violência de seus
pais. Idosos são vítimas da violência
de seus filhos. Parceiros íntimos são
vítimas da violência de seus companheiros.
Homens e mulheres são vítimas da violência
de seus amigos, colegas ou conhecidos.
Jovens e adultos são vítimas de crimes
comuns e de crimes praticadas por pistoleiros,
justiceiros, membros de gangues, e de
grupos ou organizações criminosas, freqüentemente
envolvendo agentes públicos.
Nos
grandes centros urbanos, o problema é
agravado pela presença do crime organizado,
tráfico de drogas e comércio ilegal de
armas, fazendo com que o número de mortes
por homicídio por 100 mil habitantes chegasse,
no ano 2000, a 56,5 na Cidade do Rio de
Janeiro, 64,8 na Cidade de São Paulo e
95,8 em Recife (Waiselfisz 2002). Além
do problema humano e social, o crime e
a violência representam um grave problema
econômico. O custo do crime e da violência,
incluindo, entre outras, despesas com
saúde, segurança e justiça, perdas patrimoniais
e perdas intangíveis, é estimado em 10,5%
do produto interno bruto (Londoño e Guerrero
1999; Ayres 1998). Com o aumento da insegurança
e do medo do crime e da violência nas
décadas de 1980 e 1990, cresceram as demandas
por penas mais duras, mais prisões, mais
policiais, mais poderes, mais armas e
mais equipamentos para as polícias. À
medida que investimentos nesta direção
não produziram os efeitos esperados na
redução do crime e da violência e na melhoria
da segurança pública, cresceram, a cada
tragédia divulgada pela mídia, as demandas
pela pena de morte, prisão perpétua e
redução da maioridade penal, medidas que,
além de ineficazes, contrariam a Constituição
Federal e tratados internacionais assinados
pelo Brasil. Cresceu também a demanda
por serviços de segurança privada, que
beneficiam principalmente a minoria da
população que pode pagar por estes serviços
e que, ao invés de complementar ou suplementar
a atuação dos serviços de segurança pública,
freqüentemente crescem empregando ilegalmente
policiais e guardas municipais e contribuem
assim para enfraquecer os serviços de
segurança pública e agravar o problema
da insegurança, do crime e da violência.
Na
década de 1990, começou também a crescer
a demanda por políticas e programas de
prevenção do crime e da violência e melhoria
da segurança pública. As instituições
atuantes na área da segurança pública,
da justiça criminal e da administração
penitenciária têm um papel fundamental
na prevenção do crime e da violência.
Mas esta prevenção exige que se reoriente
a atuação destas instituições, a fim de
melhor compatibilizar o objetivo de identificar,
prender, processar, julgar e punir os
responsáveis pela prática de crimes e
violências e o objetivo de reduzir a incidência
e o impacto de crimes e violências na
sociedade.
Exige
ainda a articulação destas instituições
às organizações do governo e da sociedade
atuando na área econômica, social e cultural,
inclusive com as organizações que atuam
na área da segurança privada, visando
à formulação, implementação, monitoramento
e avaliação de políticas e programas de
prevenção do crime e da violência.
Objetivos
O
Relatório sobre Prevenção do Crime e da
Violência e Promoção da Segurança Pública
atende a uma solicitação da Secretaria
Nacional de Segurança Pública, no âmbito
do projeto “Arquitetura Institucional
do Sistema Único de Segurança Pública”,
desenvolvido com apoio do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)
e da Federação das Indústrias do Rio de
Janeiro (Firjan).
Em
2003, o Governo Federal adotou o Projeto
Segurança Pública para o Brasil, elaborado
originalmente pelo Instituto da Cidadania,
como Plano Nacional de Segurança Pública.
Inspirado na experiência do Sistema Único
de Saúde (SUS), o Projeto Segurança Pública
para o Brasil prevê – com a promoção do
Ministério da Justiça, através da Secretaria
Nacional de Segurança Pública – a construção
do Sistema Único de Segurança Pública
(Susp), a partir da integração das ações
federais, estaduais e municipais na área
da segurança pública, da constituição
de gabinetes integrados de gestão da segurança
pública nos estados e do desenvolvimento
de planos estaduais e municipais de segurança
pública. Visando a definir princípios,
diretrizes e prioridades para a construção
do Sistema Único de Segurança Pública,
a Secretaria Nacional de Segurança Pública
lançou o Projeto Arquitetura Institucional
do Sistema Único de Segurança Pública
e constituiu grupos de trabalho para apresentar
propostas de ação em nove áreas estratégicas:
·
Modernização da gestão das instituições
de justiça criminal;
·
Capacitação em gestão integrada da
segurança pública;
·
Bases nacionais de informação de Justiça
Criminal;
·
Gestão da prevenção em segurança pública;
·
Controle e participação social na
gestão das polícias;
·
Aprimoramento dos serviços de polícia
técnica;
·
Controle de arma de fogo;
·
Gestão municipal da segurança pública;
·
Gestão do sistema penitenciário.
O
grupo de trabalho de gestão da prevenção
em segurança púbica é um grupo multidisciplinar,
formado por profissionais com especialização
em Ciências Sociais, Direito e Saúde Pública,
atuando em centros de pesquisa e organizações
da sociedade civil, visando a orientar,
integrar e fortalecer as ações do governo
e da sociedade na área da prevenção do
crime e da violência e da melhoria da
segurança pública.
O
principal objetivo do grupo de trabalho
de gestão da prevenção em segurança pública
foi definir princípios, diretrizes e prioridades
para o desenvolvimento de políticas e
programas de prevenção do crime e da violência
no âmbito do Sistema Único de Segurança
Pública (Susp), visando a orientar, integrar
e fortalecer as ações federais, estaduais
e municipais nesta área crucial para a
estruturação do Susp: a redução do crime
e da violência e a melhoria da segurança
pública no país.
Não
se trata de aprofundar o estudo dos diversos
tipos de crime e violência, de suas manifestações,
causas e impactos, em diferentes regiões
e estados do país. Os membros da equipe
de trabalho consideram que estudos e pesquisas
deste tipo precisam ser realizados regularmente,
por acadêmicos e profissionais, atuando
em organizações governamentais e não governamentais,
sempre que possível com o apoio da universidade
e do governo.
Devem,
no entanto, subsidiar e orientar o desenvolvimento
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência, na esfera federal,
estadual e municipal. Entretanto, neste
relatório, o grupo de trabalho procurou
focalizar as políticas e programas de
prevenção do crime e da violência em desenvolvimento
no Brasil e no Exterior.
Nesse
sentido, o relatório procura identificar
os princípios, diretrizes e prioridades
que, de maneira geral, têm influenciado
o desenvolvimento destas políticas e programas,
particularmente aqueles capazes de demonstrar
resultados, bem como estratégias para
sua promoção, consolidação e aperfeiçoamento
no Brasil.
É
importante ressaltar, desde o começo,
que o grupo de trabalho procurou apresentar
no relatório os resultados de avaliações
dos programas de prevenção, quando disponíveis,
sem, no entanto, julgá-los. No caso de
programas desenvolvidos em outros países,
o grupo não examinou a possibilidade e
a conveniência de seu desenvolvimento
no Brasil. As recomendações contidas no
relatório dizem respeito, portanto, aos
princípios, diretrizes e prioridades que
devem orientar o desenvolvimento de políticas
e programas e não a tipos específicos
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência.
Metodologia
O
relatório foi elaborado a partir de levantamento
da bibliografia nacional e internacional
sobre a prevenção do crime e da violência,
e levantamento de informações sobre programas
de prevenção do crime e da violência desenvolvidos
no Brasil. Os principais livros, artigos
e relatórios consultados, bem como os
principais websites utilizados no levantamento
da bibliografia, são apresentados nas
seções 8-9. Entre os estudos consultados,
destacam-se, pela sua abrangência e qualidade:
a) Sherman, Lawrence W., et al, Preventing
Crime: what works, what doesn’t, what’s
promising (Washington, DC: National
Institute of Justice, 1998); b) Nuttall,
C., Goldblatt, P. e Lewis, C., Reducing
Offending: an assessment of research on
ways of dealing with offending behavior
(London: Home Office, 1998); c) Krug,
Etienne G. et al., World Report on
Violence and Health Geneve: World
Health Organization, 2002).
Entre
os documentos produzidos no Brasil, destacam-se,
pela sua importância no desenvolvimento
de uma política nacional de prevenção
do crime e da violência:
a)
Ministério da Justiça, Secretaria Nacional
de Segurança Pública, Plano Nacional
de Segurança Pública (Brasília, DF:
Ministério da Justiça, Secretaria Nacional
de Segurança Pública, 2001);
b)
Ministério da Saúde, Política Nacional
de Redução da Morbimortalidade por Acidentes
e Violências (Brasília, DF: Ministério
da Saúde, 2001); e c) Instituto da Cidadania,
Projeto Segurança Pública para o Brasil
(São Paulo: Instituto da Cidadania,
2002).
Informações
básicas sobre um conjunto de programas
de prevenção da violência e do crime em
desenvolvimento no Brasil foram sintetizadas
em fichas técnicas de cada programa e
apresentadas na seção 7. As fichas técnicas
contêm informações básicas de 109 programas,
desenvolvidos em 15 estados e no Distrito
Federal, com ações nas áreas da família,
educação, trabalho, mídia, comunidade,
polícia, justiça e saúde.
O
conjunto de programas apresentados no
relatório inclui aqueles sob a responsabilidade
de organizações governamentais e programas
sob a responsabilidade de organizações
da sociedade civil. A maioria dos programas
é resultado de parcerias entre governo
e sociedade civil. Alguns são desenvolvidos
exclusivamente em uma localidade, enquanto
outros em diversos locais, segundo um
modelo ou padrão adaptado às condições
de cada localidade. Da mesma forma, existem
programas centrados em um único tipo de
ação, direcionada a um único tipo de fator
de risco ou de proteção que afeta a incidência
e o impacto do crime e da violência. Outros
programas são compreensivos, integrando
diversos tipos de ações direcionadas a
diversos fatores de risco e de proteção.
Alguns programas têm a prevenção do crime
e da violência como objetivo. Outros atuam
sobre fatores de risco e de proteção que
afetam a incidência e o impacto do crime
e da violência. Não é uma amostra “representativa”
dos programas em desenvolvimento no país,
nem uma amostra de programas “bem-sucedidos”.
Um dos principais problemas constatados
na maioria dos programas apresentados
é justamente a ausência de indicadores
de resultados e de instrumentos de monitoramento
e avaliação dos resultados obtidos. O
conjunto de programas apresentados é uma
amostra preliminar de programas em
desenvolvimento no país, possível de ser
identificada no curto espaço de tempo
disponível para realização do relatório,
que serve de base para uma análise/diagnóstico
preliminar da situação da prevenção do
crime e da violência no Brasil – e que
pode servir de base para pesquisas mais
aprofundadas sobre o assunto.
Para
o levantamento de informações sobre os
programas de prevenção do crime e da violência,
foi realizado um mapeamento de programas
em funcionamento no país nos últimos três
anos. A base inicial para esse mapeamento
foram programas conhecidos dos integrantes
do grupo de trabalho, como o banco de
projetos de prevenção da violência do
Fórum Metropolitano de Segurança Pública
na Região Metropolitana de São Paulo,
os bancos de dados do Programa Gestão
Pública e Cidadania da Fundação Getulio
Vargas e do Prêmio Socioeducando, e a
pesquisa “Cultivando Vida, Desarmando
Violências” realizada em 2001pela Unesco
no Brasil.
O
grupo de trabalho solicitou a colaboração
dos responsáveis por aproximadamente cento
e cinqüenta programas. Desse contingente,
por volta de noventa programas puderam
colaborar. Para o levantamento das informações,
foi elaborado um questionário semiaberto,apresentado
na seção 7, com base em dois questionários
preparados pela Organização Mundial da
Saúde para a documentação de programas
de prevenção da violência interpessoal.
Parte dos questionários foi respondida
diretamente pelos responsáveis pelos próprios
programas e enviada por e-mail para o
grupo de trabalho. A outra parte foi respondida
por meio de entrevistas presenciais. Um
pequeno número de programas foi visitado
por integrantes do grupo de trabalho.
As
informações levantadas nos questionários,
complementadas com informações disponíveis
em documentos sobre os programas, serviram
de base para elaboração de fichas técnicas,
segundo modelo desenvolvido pelo grupo
de trabalho, apresentando as informações
básicas sobre os programas pesquisados.
Parte das fichas técnicas foi elaborada
pelo grupo de trabalho, apenas com base
em informações disponíveis em documentos
sobre o programa.
Nos
primeiros itens da ficha técnica, além
do nome do programa e das localidades
em que foi implementado, destaca-se a
data em que se iniciou sua implementação
oficialmente e, conforme o caso, a data
de término de sua execução. No primeiro
tópico (Problema), estão descritos
os fatores ou as situações que motivaram
o desenvolvimento do projeto. No segundo
(Objetivos), descreve-se o objetivo
geral e, eventualmente, os objetivos específicos
visados. No tópico Ações Estratégicas,
descrevem-se em linhas gerais quais seriam
as principais atividades desenvolvidas
para a realização da proposta. No quarto
tópico (Coordenadores e Parceiros),
destacam-se as instituições envolvidas
diretamente em sua execução. No quinto
(Orçamento/Recursos), detalha-se
o custo para sua implementação e a fonte
desses recursos. Em Resultados e Indicadores
são descritas informações sobre o
número de beneficiários e sobre os resultados
destacados pelas equipes que responderam
aos questionários. Finalmente, em Contato,
indica-se o nome de um integrante da equipe
responsável pelo programa além de seu
endereço e telefone.
Estrutura
do Relatório
A
partir do levantamento da bibliografia
nacional e internacional e de informações
sobre programas de prevenção do crime
e da violência no Brasil, o grupo apresenta
uma análise/diagnóstico da situação do
crime e da violência no país, focalizando
principalmente o caso dos homicídios,
das respostas do governo e da sociedade
ao problema, e as iniciativas, programas
e ações na área da prevenção do crime
e da violência. Este diagnóstico é apresentado
na seção 2.
Na
seção 3, o relatório apresenta um panorama
da prevenção do crime e da violência na
sociedade contemporânea, que embasa o
desenvolvimento de políticas de prevenção
na área da saúde e da segurança pública
em diversos países e que poderia servir
de base para o desenvolvimento de
políticas de prevenção do crime e da violência
e melhoria da segurança pública no âmbito
do Sistema Único de Segurança Pública.
Na
seção 4, o relatório analisa as características
básicas de programas e ações de prevenção
do crime e da violência em desenvolvimento
no país e no exterior, em oito áreas:
família; escola; trabalho; mídia; comunidade;
polícia; justiça; e saúde.
Na
seção 5, o relatório identifica práticas
que, de acordo com estudos e pesquisas
existentes, contribuem para o sucesso
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência, enfatizando a
importância de um processo contínuo, aberto,
transparente e participativo, de formulação,
implementação, monitoramento e avaliação
destas políticas e programas.
Na
seção 6, o relatório apresenta propostas
para o desenvolvimento de políticas de
prevenção do crime e da violência e de
promoção da segurança pública, nos âmbitos
federal, estadual e municipal. O relatório
focaliza e procura definir o papel da
União, dos Estados e dos Municípios na
área da prevenção do crime e da violência,
focalizando estratégias de apoio político,
econômico e técnico para incentivar programas
e ações de prevenção do crime e da violência
e promoção da segurança pública.
Na
seção 7, o relatório apresenta fichas
técnicas com informações resumidas sobre
programas de prevenção do crime e da violência
no Brasil. Apresenta também o questionário
para levantamento de informações sobre
programas de prevenção, que serviram de
base para elaboração das fichas técnicas.
Nas seções 8-9, o relatório apresenta
referências bibliográficas e web-sites
com informações sobre a prevenção do crime
e da violência. O principal objetivo da
apresentação de fichas técnicas de programas
de prevenção, referências bibliográficas
e web-sites é oferecer fontes de informações
para pesquisadores e profissionais interessados
no tema da prevenção do crime e da violência.
A seção 10 traz um glossário, apresentando
os principais conceitos utilizados no
relatório.
Originalmente
previsto para ser elaborado no período
de quatro meses, o relatório foi elaborado
em seis meses, sendo parcialmente interrompido
no período de mudança na direção da Secretaria
Nacional da Segurança Pública, entre o
final de 2003 e o início de 2004. Apesar
de todas as limitações inerentes a um
trabalho desta magnitude realizado em
período de tempo tão curto, os membros
do grupo de trabalho esperam que organizações
governamentais e da sociedade civil possam
usar o relatório para promover ações federais,
estaduais e municipais visando a desenvolver
políticas e programas de prevenção do
crime e da violência e melhoria da segurança
pública no Brasil.
Síntese
das Conclusões e Propostas
Há
diversas iniciativas, programas e ações
de prevenção do crime e da violência em
desenvolvimento, em muitos estados brasileiros,
mas estas iniciativas têm alcance e impacto
limitado e, até o momento, não foram capazes
de conter e reverter a tendência de aumento
do crime e da violência no país.2 Em parte,
as limitações destas iniciativas devem-se
ao fato da ausência ou fragilidade de
políticas de prevenção do crime e da violência,
incapazes de integrar e sustentar programas
e ações em diferentes esferas e áreas
do governo e da sociedade, direcionados
a diversos fatores de risco e de proteção
que afetam a incidência e o impacto do
crime e da violência.
As
limitações dos programas de prevenção
do crime e da violência em desenvolvimento
no Brasil devem-se também à presença de
problemas de concepção e de gestão dos
próprios programas. São problemas relacionados,
em primeiro lugar, à falta de integração
de ações em diversas esferas do governo
e da sociedade. E, em segundo lugar, à
falta de informações e dados sobre a incidência
de crimes e violências, e sobre os fatores
de risco e de proteção que afetam a incidência
de crimes e violências, bem como à falta
de instrumentos adequados para monitorar
e avaliar a implementação e os resultados
dos programas de prevenção. O desenvolvimento
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência no país é dificultado
pela predominância de uma concepção de
prevenção na área da segurança pública
segundo a qual a prevenção seria uma responsabilidade
das organizações atuando na área econômica,
social e cultural. Não seria uma responsabilidade
das organizações atuando nas áreas da
segurança pública, justiça criminal e
administração penitenciária, às quais
caberia principalmente a aplicação da
lei, mais especificamente a identificação,
detenção, persecução, julgamento e punição
dos responsáveis pela prática de crimes.
Esta
concepção está apoiada na idéia de que
as ações de prevenção se caracterizariam
principalmente pela natureza da ação e,
mais especificamente, pela ausência de
punição ou ameaça de punição. Ou seja,
pela redução da incidência e do impacto
do crime e da violência na sociedade,
e não tanto pelo resultado ou conseqüência
da ação.
Uma
concepção alternativa de prevenção do
crime e da violência está apoiada na idéia
de que as ações de prevenção se caracterizam
principalmente pelo resultado ou conseqüência
da ação, ou seja, a redução da incidência
e do impacto do crime e da violência na
sociedade.3 Esta concepção alternativa
permitiria a melhor compreensão do fato
de que tanto ações punitivas (especialmente,
mas não apenas na área da segurança pública,
justiça criminal e administração penitenciária)
quanto ações não-punitivas (especialmente,
mas não apenas nas áreas econômica, social
e cultural) podem ser preventivas, na
medida em que contribuem para reduzir
a incidência e o impacto de crimes e violência,
ou, alternativamente, podem ser criminógenas,
na medida em que contribuem para aumentar
a incidência e o impacto de crimes e violências.
Esta concepção da prevenção do crime e
da violência, centrada nos resultados
e não na natureza das ações desenvolvidas,
permitiria a melhor integração de programas
e ações em diversas esferas e áreas do
governo e da sociedade civil, direcionando-os
ao objetivo comum de reduzir a incidência
e o impacto de crimes e violências na
sociedade. Além disso, permitiria o desenvolvimento
de políticas de prevenção do crime e da
violência que integrassem programas e
ações de diversos tipos, em diversas áreas,
ampliando assim o alcance e o impacto
destes programas e ações. Permitiria,
enfim, a superação de uma dicotomia ainda
existente no país entre políticas e programas
de segurança pública e políticas e programas
de prevenção, que limita o alcance e o
impacto de ambos os programas.4 Além disso,
uma concepção da prevenção do crime e
da violência centrada nos resultados e
não na natureza das ações desenvolvidas
chamaria a atenção para a necessidade
de monitorar e avaliar o impacto sobre
o crime e violência de diversos tipos
de políticas, programas e ações, a fim
de que se possa identificar, em todas
as áreas, aqueles que efetivamente contribuem
e aqueles que não contribuem para a prevenção
do crime e da violência e para a melhoria
da segurança pública.5
Políticas
de prevenção do crime e da violência e
de melhoria da segurança pública adquirem
maior legitimidade e eficácia quando são
embasadas na Constituição Federal e nos
Tratados Internacionais ratificados pelo
Brasil, e devem ser orientadas pelos seguintes
princípios: promoção da democracia e dos
direitos humanos, do desenvolvimento sustentável,
e da cooperação internacional; responsabilidade
do estado; participação da sociedade;
universalidade; equidade; integralidade;
descentralização.6 Políticas e programas
de prevenção do crime e da violência são
mais eficazes quando, além de centrados
nos resultados e não na natureza das ações
desenvolvidas, têm objetivos definidos
de forma clara e precisa, são projetados
levando em consideração as características
específicas dos crimes e violências que
se pretende evitar e das comunidades em
que estes crimes e violências acontecem,
e atuam sobre os fatores de risco e os
fatores de proteção que afetam a incidência
e o impacto de crimes e violências – sejam
estes fatores relacionados às atitudes
e comportamentos dos agressores e das
vítimas, ou às situações ou contextos
em que os crimes e violências acontecem.
A
criminalidade e a violência são fenômenos
complexos, que se manifestam de forma
diferente, têm causas diferentes, e exigem
soluções diferentes em estados, cidades
e bairros diferentes. No Brasil, a criminalidade
e a violência urbana são problemas particularmente
graves. As grandes cidades e regiões metropolitanas
registram taxas de homicídios extremamente
elevadas em comparação com as registradas
em outros países da região e do mundo.
O problema da criminalidade e da violência
urbana deve estar no centro das atenções
no desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção. A violência familiar e doméstica,
a violência de gênero – freqüentemente
entre parceiros íntimos –, a violência
contra membros de grupos minoritários
e a violência envolvendo jovens são problemas
graves que contribuem de maneira significativa
para o aumento do crime na sociedade brasileira.
Estes problemas devem ser considerados
prioritários no desenvolvimento de políticas
e programas de prevenção, particularmente
nas esferas estadual e municipal.
O
crime organizado, a corrupção e a violência
– praticada por agentes públicos trabalhando
nas polícias, nos sistemas penitenciários
e nas unidades de internação de adolescentes
– são problemas que não apenas contribuem
para o aumento do crime e da violência
na sociedade, mas ainda minam a capacidade
das organizações governamentais e não
governamentais de desenvolver políticas
e programas de prevenção. Estes problemas
também devem ser considerados prioritários
no desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção, particularmente nas esferas
federal e estadual.
Na
sociedade brasileira, a desigualdade,
a discriminação e a falta de oportunidades,
particularmente na área da educação e
do trabalho, a desigualdade no acesso
aos sistemas de segurança e justiça, além
do estresse e da instabilidade no ambiente
familiar e comunitário, são fatores que
aumentam o risco e agravam o impacto de
muitos tipos de crimes e violências. Estes
fatores devem ser levados em consideração
no desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção. Políticas e programas de
prevenção são mais eficazes se forem compreensivos
e levarem em consideração o conjunto de
fatores de risco e fatores de proteção
cuja interação determina a vulnerabilidade
ou resiliência dos indivíduos, famílias,
grupos e comunidades diante do crime e
da violência. Neste sentido, políticas
e programas de prevenção devem ser multidisciplinares
e multi-setoriais, incorporando assim
a contribuição de profissionais especializados
em diversas disciplinas e de grupos e
organizações atuando em diversas áreas
do governo e da sociedade. A interação
e a colaboração de parceiros de disciplinas
e setores diferentes é mais efetiva quando
acontece desde o início – da fase de planejamento
das políticas e programas, continuando
nas fases de implementação, monitoramento
e avaliação.7
Políticas
e programas de prevenção são mais eficazes,
do ponto de vista da redução do crime
e da violência na sociedade, se forem
direcionados para as áreas e grupos onde
há maior concentração de fatores de risco
de crimes e violências e menor concentração
de fatores de proteção diante de crimes
e violência. A exceção a esta regra geral
seriam os programas de prevenção centrados
na área da família, cuja aceitação pública,
apoio político e econômico, e resultados
comprovados em programas avaliados indicam
a necessidade de sua universalização,
ainda que a implementação deva levar em
consideração as diferenças entre áreas
e grupos em relação aos fatores de risco
e aos fatores de proteção. Políticas e
programas de prevenção são mais eficazes
se o seu desenvolvimento estiver baseado
em informações e dados não apenas sobre
o tipo de crime e de violência que se
pretende evitar, mas também sobre a implementação
e os resultados de políticas e programas
de prevenção semelhantes desenvolvidos
anteriormente.
No
Brasil, com poucas exceções, há carência
de informações e dados sobre o crime e
a violência, e falta transparência às
instituições da área da segurança pública,
justiça criminal e administração
penitenciária. Duas condições são fundamentais
para o desen-volvimento e aperfeiçoamento
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência, nas esferas federal,
estadual e municipal: a) a constituição
de uma base de informações e dados
sobre o crime e a violência e sobre
políticas e programas de prevenção do
crime e da violência, integrando informações
e dados do governo e da sociedade, e que
seja acessível aos governos e à sociedade;
8
b) a formação de profissionais,
nas diversas áreas do governo, capazes
de produzir, analisar e utilizar estas
informações e dados, para planejar, implementar,
monitorar e avaliar políticas e programas
de prevenção.9
Para
o desenvolvimento e aperfeiçoamento de
políticas e programas de prevenção do
crime e da violência e promoção da segurança
pública, é indispensável também a constituição
de unidades gestoras, responsáveis
pela coordenação do processo de formulação,
implementação, monitoramento e avaliação
destas políticas e programas. Não é desejável
estabelecer um modelo único de unidade
gestora, necessariamente adaptada às condições
e necessidades do governo federal e dos
governos estaduais e municipais. Mas é
indispensável que as unidades gestoras
disponham de condições institucionais
e de recursos humanos e materiais para
realizar seu trabalho. É indispensável
também que sejam articuladas com conselhos
consultivos, paritários, com representantes
do governo e da sociedade civil, responsáveis
pela promoção da participação social e
do controle externo no desenvolvimento
de políticas de prevenção.
Também
não é desejável estabelecer um modelo
único de metodologia de desenvolvimento
de políticas e programas. Mas é indispensável
que as metodologias utilizadas contenham
requisitos mínimos, entre os quais se
destacam: o diagnóstico dos problemas
a serem enfrentados e suas causas; a identificação
de um conjunto de ações que sejam capazes
de solucionar os problemas e sejam sustentáveis
do ponto de vista político, econômico
e social, e instrumentos de monitoramento
e avaliação dos resultados.10 Por fim,
é fundamental mobilização de recursos
para a formulação, implementação, monitoramento
e avaliação de políticas e programas de
prevenção do crime e da violência e promoção
da segurança pública, também nas esferas
federal, estadual e municipal. A constituição
de fundos de segurança pública é
um procedimento que permite mobilizar
recursos públicos (federais, estaduais
e municipais) e privados e direcioná-los
para o desenvolvimento de políticas e
programas de prevenção do crime e da violência
e promoção da segurança pública.
Política
Nacional de Prevenção
O
Governo Federal passou a dispor de um
novo instrumento para apoiar o desenvolvimento
de políticas e programas na área da segurança
pública, inclusive políticas e programas
de prevenção do crime e da violência,
com a criação do Fundo Nacional de Segurança
Pública em junho do ano 2000, através
da medida provisória 2.029/00, posteriormente
instituído pela lei federal 10.201/01,
de 14 de fevereiro de 2001. Com a reestruturação
do Fundo Nacional de Segurança Pública,
através da lei federal 10.746/03, de 10
de outubro de 2003, o Governo Federal
procurou criar condições mais favoráveis
para o desenvolvimento de políticas de
prevenção do crime e da violência por
parte dos estados, integrando programas
na área da segurança pública e programas
de prevenção do crime e da violência desenvolvidos
em outras áreas, além da participação
dos municípios na prevenção do crime e
da violência e na melhoria da segurança
pública.
Além
da ampliação dos recursos do Fundo Nacional
de Segurança Pública, é fundamental a
definição de uma política nacional de
segurança pública, articulada a políticas
estaduais e municipais, na qual a prevenção
do crime e da violência seja um objetivo
central, e não apenas marginal, para orientar
a aplicação dos recursos do Fundo. Somente
assim será possível promover a efetiva
integração entre os programas federais,
estaduais e municipais desenvolvidos
na área da segurança pública, da justiça
criminal e da administra-ção penitenciária,
e os programas desenvolvidos nas áreas
da saúde, educação, trabalho, pro-moção
social, comunicação social, desenvolvimento
urbano, direitos humanos, entre outras,
que são relevantes para a prevenção do
crime e da violência e a melhoria da segurança
pública. Nesse sentido, o governo federal,
através do Ministério da Justiça, deve
desenvolver uma política nacional de prevenção
do crime e da violência e promoção da
segurançapública, que orientaria a aplicação
de recursos do Fundo Nacional de Segurança
Pública e a aplicação de recursos de órgãos
federais em políticas e programas federais,
estaduais e municipais de prevenção do
crime e da violência e promoção da segurança
pública.
Os
governos estaduais que se integrarem ao
Sistema Único de Segurança Pública devem
desenvolver uma política estadual de prevenção
do crime e da violência e promoção da
segurança pública alinhada à política
nacional. Da mesma forma, os municípios
que se integrarem ao Sistema Único de
Segurança Pública devem desenvolver políticas
municipais de prevenção do crime e da
violência e promoção da segurança pública
alinhada às políticas nacional e estadual.
Na esfera da União, o Governo Federal
poderia criar, junto ao Ministério da
Justiça, uma comissão executiva ou gabinete
de gestão integrada, responsável pelo
desenvolvimento da política nacional de
prevenção do crime e da violência e promoção
da segurança pública.
A
comissão executiva poderia ser presidida
pelo Ministro da Justiça, coordenada pelo
Secretário Nacional de Segurança Pública,
contando com a participação de representantes
dos diversos órgãos do Ministério da Justiça,
representantes de outros ministérios e
secretarias do Governo Federal, e ainda
representantes dos governos estaduais
e dos governos municipais. Esta comissão
executiva poderia estar articulada a um
conselho consultivo, responsável pela
promoção da participação social e controle
externo no desenvolvimento da política
nacional de prevenção do crime e da violência
e promoção da segurança pública. Este
conselho seria paritário, com representantes
do governo e da sociedade, e deveria contar
com a participação de especialistas e
representantes de organizações governamentais
e da sociedade civil, atuando na esfera
federal, estadual e municipal, nas áreas
da segurança pública, justiça criminal,
administração penitenciária, saúde, educação,
trabalho, promoção social, comunicação
social, desenvolvimento urbano, direitos
humanos e outras áreas relevantes para
a prevenção do crime e da violência. Em
longo prazo, o Governo Federal poderia
criar um Conselho Nacional de Prevenção
do Crime e da Violência e Promoção da
Segurança Pública, junto ao Ministério
da Justiça, a partir da fusão do Conselho
Nacional de Segurança Pública e do Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
Em
curto prazo, o Governo Federal poderia
criar um Conselho Nacional de Prevenção
do Crime e da Violência e Promoção da
Segurança Pública, junto à Secretaria
Nacional de Segurança Pública, a partir
da reestruturação do Conselho Nacional
de Segurança Pública. Esta reestruturação
teria por objetivo ampliar a representatividade
do conselho, através da inclusão de representantes
de organizações governamentais (federais,
estaduais e municipais), organizações
da sociedade civil e da universidade,
atuando em áreas relevantes para a prevenção
do crime e da violência e a promoção da
segurança pública.
Para
promover a participação e integração de
organizações federais ao Sistema Único
de Segurança Pública, seria importante
a participação de representantes da Polícia
Federal, do Ministério Público Federal,
do Conselho Nacional de Política Criminal
e Penitenciária, Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana, Conselho Nacional
de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente, Conselho Nacional dos Direitos
da Mulher, Conselho Nacional de Promoção
da Igualdade Racial, Conselho Nacional
de Educação, Conselho Nacional de Saúde,
Conselho Nacional de Assistência Social,
e Conselho Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social. Para promover a participação
e integração de organizações estaduais
ao Sistema Único de Segurança Pública,
seria importante a inclusão de representantes
das secretarias de estado da segurança,
da justiça e da administração penitenciária,
de entidades da polícia civil, da polícia
militar, da polícia técnico-científica,
do Ministério Público Estadual, de conselhos
estaduais da área da segurança pública,
justiça e administração penitenciária.
Para promover a participação e integração
dos municípios ao Sistema Único de Segurança
Pública, seria importante a participação
de representantes de entidades nacionais
dos municípios, entidades nacionais das
guardas municipais, e conselhos municipais
da área da segurança urbana. O Governo
Federal deve ainda constituir um sistema
nacional de informações sobre segurança
pública e justiça criminal, definir e
promover a implantação de regras mínimas
para formação e aperfeiçoamento de profissionais
de segurança pública, e identificar e
promover inovações e boas práticas nos
estados e municípios da federação. O Governo
Federal deve, através do Ministério da
Justiça, assumir a responsabilidade pela
política de prevenção do crime organizado
inter-estadual e internacional, contando
sempre com a colaboração de outros ministérios
e secretarias de estado do Governo Federal,
e ainda dos estados e dos municípios,
através de convênios ou protocolos estabelecidos
entre as partes.
Políticas
Estaduais e Municipais de Prevenção
O
Governo Federal deve promover o desenvolvimento
de políticas e programas estaduais e municipais
de prevenção do crime e da violência e
promoção da segurança pública, e a integração
dos estados e municípios ao Sistema Único
de Segurança Pública, através de apoio
econômico, contando para isso com recursos
do Fundo Nacional de Segurança Pública
e de outras fontes disponíveis, apoio
técnico, apoio político, e da definição
de regras mínimas para orientar o desenvolvimento
de políticas estaduais e municipais articuladas
com a política nacional.
O
Governo Federal deve condicionar os investimentos
dos recursos do Fundo Nacional de Segurança
Pública à apresentação pelos estados e
municípios de informações e dados sobre
o crime e a violência e sobre a implementação
e o resultado de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência,
bem como à observância pelos estados e
municípios das regras mínimas estabelecidas
na política nacional, entre as quais se
destacam:
·
A constituição de unidades integradas
de gestão da segurança pública responsáveis
pelo desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência e
promoção da segurança pública, com representação
de diferentes setores do governo;
·
A constituição de conselhos consultivos
para promover a participação social e
o controle externo no desenvolvimento
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência e promoção da
segurança pública, com representação de
diferentes setores do governo, da sociedade
e da universidade;
·
A elaboração de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência e
promoção da segurança pública, integrando
ações de diferentes setores do governo
e da sociedade civil;
·
O desenvolvimento de bases de informação
para subsidiar a formulação, implementação,
monitoramento e avaliação de políticas
e programas de prevenção do crime e da
violência e promoção da segurança pública;
·
A formação e qualificação de profissionais
para formular, implementar, monitorar
e avaliar políticas e programas de prevenção
do crime e da violência e promoção da
segurança pública.
·
A constituição de fundos e a destinação
de recursos públicos e privados para formulação,
implementação, monitoramento e avaliação
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência e promoção da
segurança pública. O Governo Federal deve
reservar uma parcela dos recursos do Fundo
Nacional de Segurança Pública para promover
o desenvolvimento de políticas e programas
municipais de prevenção do crime e da
violência, e a integração dos municípios
ao Sistema Único de Segurança Pública.
Na aplicação da parcela dos recursos do
Fundo Nacional de Segurança Pública destinada
aos municípios, o Governo Federal deve
priorizar os municípios que são capitais
de estados, pertencem a regiões metropolitanas,
são pólos regionais, têm alta concentração
populacional e alta taxa de homicídio,
além de municípios com experiências inovadoras
na área da prevenção do crime e da violência.
Os
estados devem assumir a responsabilidade
pela política de prevenção do crime e
da violência no seu território, especialmente
a prevenção do crime organizado intermunicipal,
a prevenção dos crimes e violências de
maior gravidade, além da prevenção do
crime e da violência nos municípios que
não se integrarem ao Sistema Único de
Segurança Pública, contando sempre com
a colaboração da União e dos Municípios,
através de convênios ou protocolos estabelecidos
entre as partes. Os municípios que se
integrarem ao Sistema Único de Segurança
Publica devem compartilhar com o Estado
e a União a responsabilidade pela política
de prevenção do crime e da violência no
seu território, especialmente no desenvolvimento
de programas de prevenção primária e na
prevenção dos crimes e violências de menor
gravidade, da violência doméstica e de
gênero, violência contra minorias e violência
envolvendo jovens, da desordem urbana
e dos conflitos interpessoais e sociais.
Devem contar sempre com a colaboração
do Estado e da União, através de convênios
ou protocolos estabelecidos entre as partes.
Programas
de Prevenção
De
um modo geral, há pouco acompanhamento
e monitoramento dos resultados de programas
de prevenção do crime e da violência desenvolvidos
no Brasil. Os indicadores mais freqüentes
são os números de participantes e beneficiários,
sendo que há poucos registros sobre a
evolução do trabalho realizado e sobre
o reflexo desses programas na prevenção
do crime e da violência. Partindo do pressuposto
de que a prevenção do crime e da violência
exige políticas e programas que levem
em consideração as características específicas
dos crimes e violências que se pretende
evitar, bem como das comunidades e locais
em que estes crimes e violências acontecem,
e que há poucos estudos e pesquisas avaliando
o resultados de programas de prevenção
no Brasil, não é possível nem desejável
definir uma relação de programas a serem
promovidos pelo Governo Federal e desenvolvidos
pelo estados e municípios.
Entretanto,
com base na experiência nacional e internacional,
é possível apontar tipos de programas
que poderiam ser alvo da atenção dos gestores
federais, estaduais e municipais, no desenvolvimento
de políticas de prevenção do crime e da
violência e melhoria da segurança pública.
Poderiam ser também foco de estudos e
pesquisas, para que estes programas possam
ser mais conhecidos e que seus resultados
possam ser efetivamente avaliados.
Família
A
avaliação de programas internacionais
e nacionais revela que programas centrados
na família, demonstrando bons resultados
para a prevenção de crimes e violências,
são geralmente compreensivos e continuados,
com enfoque sobre vários fatores de risco
que fragilizam as famílias. Estes tendem
a apresentar resultados positivos em prazo
mais longo. Programas de prevenção efetuados
sobre famílias na fase de pré-natal, pós-natal
e primeira infância dos filhos mostram
os melhores resultados no que se refere
à redução de envolvimento com o crime
na juventude e também à obtenção de melhor
rendimento escolar e maiores oportunidades
de emprego no futuro. Efeitos mais imediatos
surgem sobre a redução do comportamento
anti-social e desordens de conduta e melhoria
da qualidade de cuidado dos pais
com os filhos. Programas que fazem visitas
domiciliares desde os primeiros anos de
vida da criança, associados a programas
de educação préescolar, também oferecem
resultados muito promissores. Outro tipo
de intervenção recomendada é a terapia
familiar para adolescentes em situação
de risco ou envolvidos com o crime e a
violência.
Em
relação à violência familiar envolvendo
adultos, há evidências favoráveis a abrigos
para atendimento, assistência e apoio
a mulheres vítimas de violência. Visitas
domiciliares realizadas por policiais
após incidentes de violência doméstica
são consideradas ineficazes. Há que se
ressaltar que os especialistas concordam
com o fato de que nenhuma medida isoladamente
poderá reduzir definitivamente a violência
familiar. Apresenta-se no relatório um
total de 109 programas de prevenção do
crime e da violência em desenvolvimento
no Brasil (ver seção 7), 15 deles com
ações centradas na esfera da família.
Outros 20 programas, apesar de estarem
centrados em outras áreas, especialmente
nas áreas da saúde, da justiça e da comunidade,
também desenvolvem ações no âmbito familiar,
procurando integrar ações de prevenção
em várias esferas. A maioria desses programas
trabalha diretamente com o atendimento
a vítimas da violência doméstica, particularmente
crianças, adolescentes e mulheres. Há,
contudo, os que trabalham principalmente
sobre os fatores de risco, através da
capacitação de profissionais de diferentes
áreas para identificar e lidar com problemas
de violência familiar, e do treinamento
dos pais para educação dos filhos.
·
Programas voltados para a unidade
familiar, procurando englobar o maior
número de familiares (e não apenas a díade
mãe-filho), como estratégia fundamental
para a prevenção de crimes e violências;
·
Programas que respeitem a cultura
na qual a família está inserida; que estabeleçam,
juntamente com a família, as metas a serem
alcançadas; permitam a integração social
da família com a comunidade e tratem de
forma respeitosa as práticas das famílias
sobre as quais atuam. Enfim, programas
que promovam a idéia de “empoderamento”
da família como espaço privilegiado para
a promoção de valores para a paz;
·
Programas de melhoria do relacionamento
familiar, que oferecem orientações sobre
o desenvolvimento de crianças e adolescentes,
práticas de educação dos filhos e práticas
de comunicação e resolução de conflitos
de forma não violenta, e que estabelecem
ou reforçam crenças e atitudes favoráveis
à não-violência;
·
Programas de visitas domiciliares
continuadas, que levem os serviços disponíveis
na comunidade até as famílias, incluindo
acompanhamento pré-natal, saúde maternoinfantil,
saúde mental, educação e emprego para
os pais, especialmente a famílias com
o primeiro filho, com crianças pequenas
e em situação de risco social, por serem
as que mais se beneficiam desse tipo de
programa;
·
Programas voltados para famílias de
um único parente, com poucos recursos
econômicos e poucos vínculos com a área/comunidade
de residência;
·
Programas voltados para famílias de
jovens em situação de risco social, a
exemplo dos adolescentes em conflito com
a lei e usuários de drogas;
·
Programas de acolhimento a famílias
de vítimas de violência, oferecendo apoio,m
orientação e oportunidade para nova vinculação
social;
·
Programas de comunicação e informação
que ampliem o acesso de membros da família
a apoio médico, psicológico, jurídico
e social para viabilizar o rompimento
da situação de violência em que se encontram.
Escola
Na
escola, os programas de prevenção que
mostram bons resultados em avaliações
são aqueles baseados no enfoque educativo
com adolescentes, demonstrando resultados
para a prevenção de agressões e brigas
entre jovens, para a redução da violência
juvenil, e para o desestímulo ao uso de
substâncias psico-ativas. Três tipos de
programas se mostram relevantes:
a)
aqueles direcionados a aumentar a capacidade
da comunidade escolar de iniciar e sustentar
transformações, especialmente mudança
do processo de tomada de decisões;
b)
aqueles voltados para a delimitação de
normas e reforço de comportamentos apropriados
ao espaço escolar e estímulo à comunicação
na comunidade escolar, especialmente através
de campanhas contra a agressividade entre
escolares (bullying), produção
de textos, cartazes ou cerimônias com
o tema da redução da violência na escola;
c) programas educacionais compreensivos
atuando sobre o estudante, com ênfase
no aumento da competência e das habilidades
sociais, o desenvolvimento de autocontrole
e dos mecanismos para lidar com estresse,
a responsabilidade na tomada de decisões,
a resolução de problemas sociais e as
habilidades de comunicação interpessoal.
Dos
programas de prevenção de violência escolar
que se mostraram ineficientes estão:
a)
aconselhamento realizado por pares;
b)
programas que apenas oferecem atividades
alternativas para jovens (lazer, por exemplo),
sem a presença de um programa de prevenção
mais efetivo;
c)
programas instrucionais que focalizam
apenas a disseminação de informação, o
crescimento do medo e o apelo moral.
Programas
voltados apenas para a redução do consumo
de substância têm piores resultados que
os que associam o tema da redução do consumo
de substâncias ao desenvolvimento de habilidades
individuais e relacionais. Dentre os 109
programas de prevenção em desenvolvimento
no Brasil apresentados neste relatório,
treze estão centrados na escola. Dezoito
programas, apesar de estarem centrados
em outras áreas (especialmente na comunidade),
também desenvolvem intervenções relacionadas
ao espaço escolar, de forma integrada,
visando à prevenção do crime e da violência
na sociedade, especialmente entre os jovens.
Cerca de metade dos programas direcionados
para as escolas trabalha com o oferecimento
de atividades extracurriculares.
Alguns
trabalham com a democratização do espaço
escolar e o estímulo ao protagonismo juvenil.
Além disso, há também exemplos de programas
de conscientização sobre as drogas, de
capacitação de professores, de estímulo
à educação artística e de inclusão dos
portadores de necessidades especiais na
comunidade escolar. A maioria dos programas
investigados teve início nos últimos três
anos.
·
Programas direcionados a aumentar
a capacidade da escola de se abrir à sociedade,
iniciar e sustentar transformações na
escola e na comunidade em que a escola
está inserida. Escolas “inovadoras”, flexíveis
e comprometidas com uma gestão participativa
são cruciais não apenas para a redução
da violência escolar, mas também para
o bom rendimento acadêmico e crescimento
moral dos adolescentes;
·
Programas que envolvam a família e
a comunidade de forma participativa na
gestão escolar;
·
Programas direcionados à melhoria
de relacionamento entre alunos, tendo
como base a ética e a cidadania, fundamentados
em aprendizado de limites, resolução de
conflitos, aumento da competência escolar
e social e modificação de comportamentos;
·
Programas que valorizem e capacitem
os educadores para a prevenção da violência
na escola;
·
Programas de apoio à educação pré-escolar.
Trabalho
Há
diversos estudos e pesquisas sobre as
relações entre oportunidades de trabalho/
emprego e o crime e a violência que deixam
claro que não há uma relação direta e
automática entre eles. A falta de oportunidades
de emprego/trabalho aumenta o risco de
envolvimento dos indivíduos em crimes
e violências e o risco de crimes e violências
na comunidade. Mas isso não significa
que a ausência de oportunidades de trabalho/emprego
implique necessariamente o envolvimento
na prática de crimes ou o aumento da criminalidade
e da violência na comunidade.
Programas
de prevenção do crime e da violência através
do trabalho adotam dois
tipos
de ações principais:
a)
aumentar a qualificação e a inserção profissional
das pessoas através de educação ou capacitação
profissional;
b)
programas que visam a aumentar as oportunidades
de emprego/trabalho na comunidade.
Ações
para aumentar a qualificação e a inserção
profissional são direcionadas a grupos
em situação de risco de desemprego, particularmente
os jovens, os adultos que já receberam
penas, e os adolescentes que já receberam
medidas sócio-educativas pela prática
de atos infracionais. Ações para aumentar
as oportunidades de emprego/trabalho na
comunidade são direcionadas a comunidades
com poucas oportunidades de emprego/trabalho.
A coordenação dos dois tipos de ação é
um fator importante para aumentar a eficácia
das ações de prevenção centradas no trabalho.
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência desenvolvidos no Brasil apresentados
neste relatório (ver seção 7), dezesseis
estão centrados na área do trabalho e
renda. Outros quinze programas, apesar
de estarem mais diretamente voltados para
outras áreas (especialmente justiça e
comunidade), também desenvolvem ações
na esfera do trabalho. Muitos programas
voltados para adolescentes em cumprimento
da medida socioeducativa e mulheres vítimas
de violência desenvolvem atividades de
capacitação e inserção profissional, visando
a ampliar as oportunidades de trabalho
e renda destes grupos. Cerca de metade
dos programas direcionados para trabalho
e renda é voltada para os jovens.
·
Programas voltados para ampliação
da qualificação profissional e do acesso
a oportunidades de emprego, direcionados
particularmente para membros de grupos
em situação de risco de desemprego:
.
Inclui programas de estágio, primeiro
emprego, mudança de emprego, cursos de
curta e longa duração;
.
Inclui programas direcionados para jovens,
adolescentes em medida sócioeducativa,
e para adultos cumprindo pena.
·
Programas voltados para ampliação
das oportunidades de emprego e trabalho,
direcionados particularmente para comunidades
e grupos com poucas oportunidades de emprego
e trabalho.
.
Inclui programas de incentivo ao desenvolvimento
econômico, desenvolvimento de pequenas
e médias empresas e cooperativas, e contratação
de profissionais.
·
Programas que integrem os dois tipos
de programas mencionados acima, a fim
de aproximar as oportunidades de emprego
e trabalho e as pessoas e grupos que necessitam
de emprego e trabalho.
Mídia
Há
poucos estudos e pesquisas avaliando o
impacto de programas de prevenção do crime
e da violência centrados na mídia. Todavia,
há uma rica produção teórica com claras
indicações de ações que merecem ser analisadas
e implementadas. Grande parte das propostas
está voltada para a produção midiática
oferecida às crianças e adolescentes,
através de regulamentação da programação,
da auto-regulamentação dos meios de comunicação
e da advertência às imagens de violência,
ou ainda através da orientação dos pais
para monitorar o acesso às mídias por
seus filhos, educar pais e crianças sobre
os potenciais riscos da violência na mídia,
e estimular o diálogo sobre o conteúdo
assistido, tentando reduzir a possibilidade
delas imitarem o que vêem na mídia. O
incentivo a que as instituições que produzem
a informação se comprometam com uma comunicação
ética e respeitadora dos direitos humanos
também é consenso entre estudiosos. Outros
pontos que constam dos debates são a restrição
de horário e forma de apresentação dos
crimes e violências nas mídias, a disseminação
de experiências bem sucedidas na redução
do problema e a ênfase da divulgação de
mensagens preventivas.
O
relatório não traz exemplos de programas
de prevenção a crime e violência centrados
na mídia. No entanto, em programas levantados
nas esferas da comunidade e da escola,
há ações diretamente relacionadas à comunicação,
como a produção de jornais e revistas
comunitários por jovens envolvidos com
projetos nas suas comunidades, e a implantação
de rádios comunitárias em escolas, envolvendo
alunos e professores na utilização de
novas tecnologias para promover formas
de comunicação alternativas. Esses programas
não têm uma relação direta com o conteúdo
divulgado pela mídia escrita e televisiva,
mas conscientizam sobre a importância
da comunicação, além de capacitar jovens
e adultos para atos de comunicação.
·
Programas voltados para divulgação
de leis e políticas de proteção e promoção
dos direitos humanos, e o monitoramento
do cumprimento dessas leis e políticas
pelos meios de comunicação, em parceria
com outros setores da sociedade.
·
Programas voltados para ampliação
da discussão das causas da criminalidade
e da violência, fatores de risco e de
proteção na esfera individual, dos grupos
mais próximos, da comunidade e da sociedade,
e das políticas, programas e ações de
prevenção do crime e da violência em desenvolvimento
no país.
.
Inclui programas voltados para ampliação
da discussão sobre o papel das armas de
fogo no aumento da incidência e impacto
de crimes e violências, e das medidas
necessárias para limitar e controlar o
porte e a comercialização de armas de
fogo.
·
Programas voltados para ampliação
do intercâmbio de informações entre profissionais
de diversas disciplinas e áreas de atuação,
de forma a ampliar a compreensão da natureza,
das causas e das soluções para o problema
da criminalidade e da violência no país.
·
Programas voltados para ampliação
do conhecimento sobre as vítimas de crimes
e violência, os diferentes tipos de vítimas
e vitimização, bem como sobre os direitos
das vítimas, os serviços disponíveis e
as possibilidades de ação para as vítimas
de crimes e violência.
·
Programas voltados para a discussão
da condição da juventude brasileira, considerando
que:
a)
hoje, no país, as principais causas de
morte na faixa etária jovem são os homicídios
e os acidentes de trânsito;
b)
existe uma desproporcional representação
da violência praticada por jovens.
·
Programas voltados para divulgação
de projetos de prevenção que obtêm resultados
positivos em termos de redução do crime
e da violência e melhoria da segurança
pública.
Comunidade
Dois
tipos principais de programas e ações
de prevenção do crime e da violência têm
sido desenvolvidos na esfera da comunidade.
Por um lado, há programas de prevenção
social, voltados para a redução dos fatores
de risco e aumento dos fatores de proteção,
de natureza econômica, social, cultural,
ambiental e política-administrativa que
afetam a incidência e o impacto de crimes
e violências na comunidade. Por outro
lado, há programas de prevenção
situacional, voltados para a redução das
oportunidades da prática de crimes e violência
na comunidade.
Programas
de prevenção social – focalizando múltiplos
fatores de risco e de proteção, envolvendo
múltiplas ações estabelecidas por múltiplas
agências – estão sendo desenvolvidos em
diversos países, com a participação de
governos municipais ou locais e de organizações
da comunidade. Entretanto, estes programas
ainda são relativamente recentes e não
foram suficientemente avaliados. Programas
que envolvem a organização e a mobilização
da comunidade podem adotar estratégias
horizontais e verticais de organização
e mobilização.
Programas
que adotam estratégias verticais e procuram
organizar e mobilizar a comunidade para
influenciar a ação das organizações públicas
e privadas capazes de, efetivamente, resolver
os problemas da comunidade são apontados
como mais eficazes do que programas que
adotam estratégias horizontais e atribuem
à própria comunidade a responsabilidade
pela resolução dos seus problemas. Programas
compreensivos, multi-setoriais e continuados
tendem a produzir melhores resultados,
embora não imediatos. Programas de prevenção
situacional podem produzir resultados
imediatos, reduzindo a incidência de determinados
tipos de crimes e violências, em determinadas
situações, locais, e horários. Entretanto,
o impacto deste tipo de programa sobre
a criminalidade e a violência na comunidade
ainda não foi suficientemente avaliado,
havendo estudos que apontam o efeito da
migração dos criminosos para outros tipos
de crimes e para situações, locais e horários
em que os programas não são implementados.
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência desenvolvidos no Brasil apresentados
neste relatório, 34 são centrados na comunidade
e cerca de 40 são centrados em outras
áreas, apesar de realizarem ações na área
da comunidade. A maioria dos programas
de prevenção do crime e da violência na
esfera da comunidade começou a ser implementada
na década de 1990, mas trata-se de um
leque bastante heterogêneo de iniciativas.
Existem, também, programas iniciados na
década de 1980. Os programas focalizados
na comunidade são de dois tipos: há os
que trabalham a inclusão social de uma
forma mais completa, implementando diferentes
programas sociais (saúde, renda, trabalho,
moradia, cidadania) e revitalizando o
espaço urbano em determinados bairros
e/ou favelas das cidades; e há os que
trabalham através da implementação de
programas sociais específicos ou do incentivo
à organização e mobilização da comunidade
para melhoria no ambiente comunitário.
·
Programas voltados para organização
e mobilização da comunidade para participação
nas decisões sobre interesses da comunidade,
especificamente no desenvolvimento de
políticas de prevenção do crime e da violência
e melhoria da segurança pública;
·
Programas voltados para evitar e para
reduzir o envolvimento de grupos da comunidade
com o crime e a violência;
·
Programas voltados para evitar a vitimização
e/ou reduzir seu impacto sobre as famílias,
os grupos e a comunidade;
·
Programas de prevenção social do crime
e da violência, visando a reduzir os fatores
de risco e ampliar os fatores de proteção
que afetam a incidência e o impacto do
crime e da violência na comunidade, especialmente
nas seguintes áreas:
.
Infra-estrutura urbana e habitação;
.
Saúde, educação, emprego, promoção social;
.
Cultura, esporte e lazer;
.
Segurança e justiça;
·
Programas de prevenção situacional,
visando a reduzir as oportunidades para
prática de crimes e violências nas áreas
de risco (“hot-spots”).
Polícia
Nas
décadas de 1970 e 1980, uma série de pesquisas
mostrou as limitações, do ponto de vista
da prevenção do crime, das estratégias
tradicionais de policiamento centradas
no aumento da presença policial, das operações
de patrulhamento, do número de prisões,
e da rapidez no atendimento de ocorrências.
Estes estudos contribuíram para o desenvolvimento
de uma série de inovações na área da polícia,
particularmente o policiamento comunitário,
o policiamento orientado para a resolução
de problemas, o policiamento orientado
para a manutenção da ordem e da melhoria
da qualidade de vida, e o policiamentodirecionado
para “hot-spots” (locais e horários de
alto risco de crime e violência).
O
policiamento orientado para a resolução
de problemas e o policiamento comunitário,
principalmente quando se aproxima do policiamento
orientado para resolução de problemas,
têm sido considerados como estratégias
de policiamento eficazes para a prevenção
do crime e da violência. A legitimidade
da polícia e a existência de práticas
de responsabilização da mesma, capazes
de assegurar esta legitimidade, são fatores
cruciais para o sucesso da polícia na
prevenção do crime e da violência. Estudos
e pesquisas mostram que a legitimidade
da polícia, particularmente a decorrente
do tratamento dispensado aos cidadãos,
é um fator que contribui para a prevenção
do crime e da violência e, no caso dos
cidadãos já envolvidos com a prática de
crimes e violências, contribui para a
prevenção da reincidência.
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência desenvolvidos no Brasil apresentados
neste relatório, seis estão centrados
na polícia e onze incluem ações nesta
esfera, apesar de estarem centrados em
outras áreas, particularmente escola,
comunidade e saúde. De um modo geral,
os programas de prevenção do crime e da
violência na esfera da polícia são recentes,
ganhando importância a partir do final
da década de 1990, particularmente através
de programas de polícia comunitária e
de atendimento especializado a mulheres
e a crianças e adolescentes vítimas de
crimes e violências. Dentre os programas
levantados, boa parte deles desenvolve
atividades de policiamento comunitário,
incluindo a construção e implantação de
bases comunitárias em locais específicos,
a aproximação com a comunidade por meio
de reuniões comunitárias, a realização
de diagnóstico local sobre a situação
da criminalidade e violência, e a interação
com organizações comunitárias locais que
prestam atendimentos a vítimas e agressores.
·
Programas de apoio ao policiamento
orientado para a resolução de problemas.
·
Programas de apoio ao policiamento
comunitário, quando:
.
A comunidade efetivamente participa das
decisões sobre as prioridades na prevenção
do crime e da violência;
.
A polícia e a comunidade priorizam a responsabilização
e a legitimidade da polícia.
·
Programas de apoio ao policiamento
orientado para a manutenção da ordem e
da qualidade de vida, quando:
.
É possível resolver o problema de responsabilização
e legitimidade da polícia.
·
Programas de apoio ao policiamento
orientado para áreas e horários de maior
risco de crimes (“hot-spots”).
·
Programas de apoio ao policiamento
orientado para controle do comércio e
porte de armas de fogo e para apreensão
de armas de fogo ilegais, especialmente
programas direcionados a:
.
Áreas de risco de crimes praticados com
arma de fogo;
.
Rastreamento da propriedade de armas de
fogo;
.
Imposição de controles exigidos pela lei
para venda de armas;
.
Imposição de controles exigidos pela lei
para compra, registro e porte de arma.
·
Programas de apoio ao policiamento
direcionado para prevenção da direção
de veículo sob efeito de álcool.
·
Programas de apoio à investigação
criminal e à perícia técnica voltados
para os casos de crimes mais graves, de
criminosos com crimes mais graves e mais
freqüentes, e de vítimas de crimes mais
graves e mais freqüentes;
·
Programas de apoio à investigação
criminal e à perícia técnica voltados
para os casos de violência familiar ou
doméstica e violência sexual;
·
Programas de redução da lentidão na
tramitação dos inquéritos policiais;
·
Programas de redução do número de
pessoas presas em delegacias de polícias,
aguardando julgamento e especialmente
cumprindo pena;
·
Programas voltados para a limitação
e controle do uso da força em ações policiais;
·
Programas de apoio ao registro, compartilhamento,
análise e uso de informações sobre a incidência
do crime e a estrutura e funcionamento
do sistema de segurança pública, voltados
para o desenvolvimento de políticas e
programas de prevenção;
·
Programas de apoio ao estudo e pesquisa
sobre a estrutura e funcionamento do sistema
de segurança pública, e sua relação com
a prevenção do crime.
Justiça
Estudos
e pesquisas internacionais indicam que
a forma pela qual o sistema de justiça
criminal aplica e executa as punições
e trata os autores de crimes tem um impacto
significativo sobre a reincidência criminal
e a incidência de crimes e violências
na sociedade. São fatores importantes
o respeito à lei e aos direitos dos agressores,
bem como a consistência na aplicação e
execução das punições. Há pouca evidência,
entretanto, de que o aumento das punições,
especificamente o aumento da utilização
da pena de prisão, contribua para a prevenção
criminal.
Estudos
internacionais também dão muito destaque
às ações de prevenção do crime e da violência
realizadas pelas organizações que atendem
aos jovens infratores. Dois tipos de programas
mostram bons resultados: aqueles com enfoque
na reabilitação (em detrimento dos que
possuem enfoque punitivo) e os com supervisão
comunitária. Inúmeras avaliações mostraram
a não eficiência dos programas que incutem
o medo e a punição, aqueles de abordagem
militar e os que priorizam apenas o aconselhamento
individual ou coletivo dos jovens. Entretanto,
os programas com base na reabilitação
recebem dos avaliadores internacionais
a mesma crítica feita no Brasil: embora
a reabilitação seja o objeto principal
das ações, na prática, são muito pobremente
implementados, devido a fatores financeiros,
gerenciais e relacionais.
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência em desenvolvimento no Brasil
apresentados neste relatório, cerca de
19 são centrados na área da Justiça e
outros 16 têm um componente na área da
Justiça, apesar de estarem centrados em
outras áreas, como família, trabalho,
comunidade e saúde. Muitos programas de
prevenção do crime e da violência na esfera
da Justiça começaram a ser implementados
a partir da década de 1990. Além dos programas
destinados à população presa, há diversos
programas voltados para os adolescentes
em conflito com a lei, para as vítimas
de crimes e violências, para a descentralização
da justiça e aproximação de justiça e
da comunidade.
·
Programas de redução da lentidão na
tramitação dos processos judiciais;
·
Programas de redução da desigualdade
no acesso ao sistema de justiça e da desigualdade
no tratamento das pessoas e das comunidades
pelos profissionais e organizações do
sistema de justiça;
·
Programas de apoio à resolução extrajudicial
e comunitária de conflitos;
·
Programas de redução do número de
pessoas presas preventivamente aguardando
julgamento;
·
Programas de reabilitação e reinserção
familiar, profissional e social, dirigidos
a adultos cumprindo pena pela prática
de crime e para adolescentes em medida
socioedu cativa pela prática de ato infracional,
com as seguintes características:
.
Estruturados e direcionados para as características
e as necessidades dos participantes;
.
Centrados no desenvolvimento de habilidades
acadêmicas, profissionais e sociais dos
participantes;
.
Centrados nos incentivos para mudanças
de comportamento;
.
Implementados de forma adequada, pelo
tempo necessário;
.
Integridade nas relações entre agentes
responsáveis pela implementação e participantes.
·
Programas de apoio à aplicação e execução
de penas alternativas e medidas sócioeducativas
em meio aberto, direcionados para:
.
Crimes e infrações menos graves;
.
Adultos e adolescentes com baixa reincidência;
.
Casos em que penas alternativas possuam
maior eficácia e/ou melhor relação custo-benefício.
·
Programas de limitação da aplicação
e execução da pena de prisão e medidas
de internação aos crimes e infrações mais
graves e aos adultos e adolescentes com
alta reincidência;
·
Programas de apoio à família de adultos
cumprindo pena pela prática de crime e
de adolescentes em medida sócio-educativa
pela prática de ato infracional, especialmente
nos casos de pena de prisão e medida de
internação;
·
Programas de apoio à expansão e aperfeiçoamento
do papel da comunidade na reabilitação,
tratamento e reinserção familiar, profissional
e social dos adultos cumprindo pena pela
prática de crimes e adolescentes em medida
sócio-educativa pela prática de ato infracional;
·
Programas de apoio ao registro, compartilhamento,
análise e uso de informações sobre o processo
judicial e a execução penal, bem como
sobre a estrutura e funcionamento dos
sistemas de justiça criminal e administração
penitenciária, voltados para o desenvolvimento
de políticas e programas de prevenção;
·
Programas de apoio ao estudo e pesquisa
sobre a estrutura e funcionamento do sistema
de justiça criminal e administração penitenciária,
e sua relação com a prevenção do crime.
Saúde
Na
área da saúde, no Brasil e no Exterior,
predominava inicialmente uma abordagem
reativa e terapêutica ao problema da violência,
centrada no atendimento e tratamento das
vítimas. Posteriormente, principalmente
no setor da saúde pública, os profissionais
da saúde passaram a adotar uma abordagem
mais pró-ativa e preventiva, procurando
identificar a natureza e controlar a extensão
do problema da violência na sociedade,
identificar suas causas e possíveis soluções,
e aplicar amplamente as medidas adequadas
para solucionar o problema. No Brasil,
o Programa Saúde da Família é um amplo
programa de prevenção na área da saúde,
de abrangência nacional, direcionado à
família e à comunidade, que focaliza o
problema da violência.
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência em desenvolvimento no Brasil
apresentados neste relatório, seis estão
centrados na área da saúde. Outros 21
programas, apesar de estarem centrados
em outras áreas, também desenvolvem ações
na saúde. Programas centrados na família
– que atendem mulheres ou crianças e adolescentes
vítimas de violência familiar–, e programas
centrados na comunidade – que atendem
a vítimas e familiares de crimes violentos
– freqüentemente contam com a participação
de profissionais da área da saúde, tais
como atendimento médico e psicológico.
A maioria dos programas tem como
preocupação central a saúde das vítimas
de violência. Há também aqueles voltados
para a saúde de crianças e adolescentes
em situação de risco. E existem programas
direcionados para o problema das drogas.
·
Programas de prevenção e tratamento
de problemas relacionados ao consumo de
álcool e drogas;
·
Programas de prevenção e tratamento
de problemas psico-sociais e biológicos
que aumentam o risco de comportamentos
violentos;
·
Programas de apoio ao registro, compartilhamento,
análise e uso de informações sobre a incidência
e o impacto da violência na sociedade,
voltados para o desenvolvimento de políticas
e programas de prevenção;
·
Programas de apoio ao estudo e pesquisa
sobre violência e prevenção da violência.
2.
A Situação Atual: O Crescimento do Crime
e da Violência e as Respostas do
Governo
e da Sociedade no Brasil
No
Brasil, a redução do crime e da violência
e o aumento da segurança dos cidadãos
são hoje um desafio do governo e da sociedade.
O crime e a violência atingem pessoas
de todos os grupos e classes sociais.
Além das perdas sofridas pelas vítimas,
inclusive da própria vida, o crescimento
do crime e da violência contribui para
a desintegração de famílias e comunidades,
para a deterioração de centros urbanos
e abandono de áreas públicas, além de
dificultar o processo de desenvolvimento
econômico e social e de consolidação da
democracia em todos os estados do país.
Na
década de 1990, o crescimento do crime
e da violência fez com que o número de
mortes resultantes de homicídios aumentasse
50,23%, passando de 30.566 em 1991 para
45.919 no ano 2000 (Waiselfisz 2002).
A taxa de mortes resultantes de homicídio
aumentou 29,19%, passando de 20,9 mortes
por 100 mil habitantes em 1991 para 27,0
mortes por 100 mil habitantes no ano 2000
(Waiselfisz 2002).
O
crescimento do crime e da violência não
é um problema recente. Tem origens na
década de sessenta e principalmente setenta,
quando o país atravessou um processo acelerado
de urbanização e de crescimento de grandes
centros urbanos e regiões metropolitanas,
sob um regime autoritário e excludente.
A transição para a democracia, na década
de oitenta, não resultou em mudanças imediatas
na situação de desigualdade e exclusão
social e de práticas autoritárias por
parte de agentes públicos e privados (Pinheiro
1998). Persistiu um quadro marcado por
graves violações de direitos humanos,
incluindo execuções extrajudiciais, torturas
e prisões arbitrárias, agravadas pelo
crescimento do crime organizado (Pinheiro
e Mesquita Neto 1999; Mesquita Neto e
Affonso 2003). Antes de saltar de 20,9
em 1991 para 27,0 no ano 2000, a taxa
de homicídio por 100 mil habitantes havia
crescido de 7,9 em 1977 (Mello Jorge 1997)
para 11,5 em 1980 (Yunes and Zubarew 1999).
Apesar de não ser um fenômeno recente,
o crescimento do crime e da violência
ainda não se constitui um fenômeno generalizado.
O crime e a violência estão distribuídos
desigualmente no país, e atingem de forma
particularmente grave a população jovem,
do sexo masculino, nas cidades grandes
e regiões metropolitanas, em áreas caracterizadas
por carências econômicas, sociais, culturais
e ambientais, por graves violações de
direitos humanos e, freqüentemente, pela
presença do crime organizado, do tráfico
de drogas e do comércio e porte ilegal
de armas (Campos et al 2003; Cardia, Adorno
e Poleto 2003; Pochmann e Amorim 2003;
Minayo e Souza 2003; Cardia e Schiffer
2002).
Em
todas as regiões e estados do país, o
crime e a violência estão concentrados
nas grandes cidades e, principalmente,
áreas metropolitanas (Waiselfisz 2002).
Na década de 1990, o número de mortes
por homicídios nas capitais aumentou 58,85%,
passando de 12.023 em 1991 para 19.099
em 2000. A taxa de mortes por homicídios
nas capitais aumentou 38,4%, passando
de 34,1 mortes por 100 mil habitantes
em 1991 para 47,2 mortes por 100 mil habitantes
no ano 2000 – 74,8% superior à taxa brasileira.
As capitais que registraram as maiores
taxas foram Recife, Vitória, Cuiabá, São
Paulo, Rio de Janeiro e Porto Velho.
A
violência também atinge de forma mais
intensa os homens, os jovens e os moradores
de comunidades carentes (Waiselfisz 2002).
Das 45.919 mortes por homicídio registradas
no país no ano 2000, 41.927 foram de homens
(91,7%) e 3.791 de mulheres (8,3%). A
taxa de mortes por homicídio entre os
homens chegou a 50,2 mortes por 100 mil
habitantes no ano 2000 – 11,4 vezes superior
à taxa entre as mulheres, de 4,4 mortes
por 100 mil habitantes, e 85,9% superior
à taxa brasileira.
Na
década de 1990, o número de mortes por
homicídio entre os jovens de 15 a 24 anos
aumentou 77%, passando de 10.036 em 1991
para 17.762 em 2000. A taxa de mortes
por homicídios aumentou 48%, passando
de 35,2 mortes por 100 mil habitantes
em 1991 para 52,1 mortes por 100 mil habitantes
no ano 2000 – 92,9% superior à taxa brasileira.
Comparando
o aumento das taxas de mortes por homicídios
na população de 15 a 24 anos e na população
da demais faixas etárias, verifica-se
que o crescimento deste tipo de violência
nos últimos vinte anos no Brasil vitimou
principalmente a população jovem. A taxa
de vitimização na faixa de 14 a 25 anos
aumentou de 30 mortes por 100 mil habitantes
em 1980 para 52,1 mortes por 100 mil habitantes
em 2000 (+73,7%). No mesmo período, a
taxa de vitimização nas demais faixas
etárias caiu de 21,3 mortes por 100 mil
habitantes para 20,8 mortes por 100 mil
habitantes (-2,35%). Nas capitais, a taxa
de mortes por agressões na faixa etária
de 15 a 24 anos chegou a 98,8 mortes por
100.000 habitantes no ano 2000 – 109,3%
superior à taxa da população total das
capitais e 265,9% superior à taxa brasileira.
As taxas mais altas de mortes por agressões
entre os jovens foram registradas em Recife,
Vitória, São Paulo, Rio de Janeiro e Cuiabá.
Levando
em consideração apenas a população masculina,
de 15 a 24 anos, nas capitais, a taxa
de mortes por agressões ou homicídios
chega a 181,8 mortes por 100 mil habitantes
– 424,5 em Recife, 309,0 em Vitória, 269,4
em São Paulo, 264,9 em Cuiabá e 252,3
no Rio de Janeiro. Mapas de risco da violência
mostram que as maiores taxas de homicídio
são registradas na periferia das grandes
cidades, onde há maior pobreza, desemprego
e falta de serviços básicos, como saúde,
educação, esporte, cultura e lazer, transporte,
comunicações, segurança e justiça (Campos
et al. 2003; Cardia, Adorno e Poleto 2003;
Cardia e Schiffer 2002; Cano 2001; Akerman
e Bousquat 1999; Cedec 1996a, 1996b, 1997a,
1997b). É também nessas áreas que costumam
ocorrer graves violações de direitos humanos,
como execuções sumárias, tortura e detenções
arbitrárias. Na cidade de São Paulo, por
exemplo, a taxa de homicídio por 100 mil
habitantes chega a ser 28 vezes maior
em um bairro pobre de periferia, como
o Jardim Ângela (116,23 homicídios por
100 mil), do que em um bairro rico na
região central, como Moema (4,11 homicídios
por 100 mil habitantes).
As
Respostas do Governo e da Sociedade
O
crescimento do crime e da violência e
o aumento da organização e mobilização
da sociedade civil, que acompanharam o
processo de transição para democracia,
contribuíram para estimular os estudos
e pesquisas sobre o crime e a violência,
particularmente na área da saúde
pública (Minayo e Souza 2003a; Minayo,
Souza e Njaine 1999) e das ciências sociais
(Lima et al 2000; Zaluar 1999; Adorno
1993). Em vários estados, professores
e pesquisadores construíram centros para
desenvolver estudos e pesquisas sobre
o tema. Lideranças da sociedade civil
criaram organizações não-governamentais,
freqüentemente associadas a centros de
estudos e pesquisas, para promover o debate
e desenvolver ações na área de segurança
pública. Vários destes centros de estudos
e pesquisas e organizações não governamentais
têm web-sites, cujos endereços são apresentados
na seção 9 do relatório.
O
Brasil tem um sistema político federal,
integrado pela União, composto por 26
estados, o distrito federal e 5.561 municípios.
As principais agências policiais são as
polícias estaduais, a polícia militar,
a polícia civil e a polícia técnico-científica,
na sua maioria sob o controle de Secretarias
de Estado da Segurança Pública. A polícia
militar, força de reserva e auxiliar do
Exército, é responsável pelo policiamento
ostensivo e preventivo e manutenção da
ordem pública. A polícia civil é responsável
pela investigação criminal. A polícia
técnicocientífica é responsável pela realização
de perícias e elaboração de laudos nas
áreas de identificação, criminalística
e medicina legal. Apesar de haver um movimento
favorável à autonomia institucional da
polícia técnico-científica, na maioria
dos estados a políciatécnico científica
é parte integrante da polícia civil.
A
União tem uma polícia federal e uma polícia
rodoviária federal, sob o controle do
Ministério da Justiça. A polícia federal
é responsável pelo controle de fronteiras
e investigação de crimes federais. A polícia
rodoviária federal é responsável pelo
patrulhamento das rodovias federais. O
Exército, sob o controle do Ministério
da Defesa, é responsável pela defesa externa,
mas também pela manutenção da lei e da
ordem.
Os
municípios podem manter guardas municipais.
Ainda que não tenham o poder de polícia,
na prática as guardas realizam atividades
de policiamento. Dos 5.561 municípios
do país, 1.045 têm guardas municipais,
dos quais 248 estão situados no Estado
da Bahia e 176 no Estado de São Paulo.
Das 1.045 guardas municipais, 911 estão
em cidades com menos de 100 mil
habitantes e 134 em cidades com mais de
100 mil habitantes. Durante a década de
1980 e parte da década de 1990, a principal
resposta ao crescimento do crime e da
violência foi o aumento do efetivo das
polícias, guardas municipais e das empresas
e serviços privados de segurança. De 1985
para 1995, o número de policiais e guardas
municipais no país, na sua maioria policiais
militares e civis, cresceu de 339.900
para 494.162 (+45,4%). O número de pessoas
empregadas na segurança privada cresceu
de 640.500 em 1985 para 1 milhão em 1995,
sem incluir os policiais e outras pessoas
que trabalham ilegalmente na segurança
privada.
Este
fortalecimento das polícias contribuiu
para a intensificação das ações policiais
e para o aumento do número de pessoas
presas, aguardando julgamento ou condenadas
pela justiça, de 88 mil em 1988 para 126
mil em 1993, 170 mil em 1997 e 285 mil
em junho de 2003. Na segunda metade da
década de noventa, começou a perceber-se
que o aumento do efetivo policial e das
prisões não era suficiente para reduzir
o crime e a violência, e particularmente
o número de homicídios no país. Ficou
evidente, também, que os sistemas de segurança
pública, justiça criminal e administração
penitenciária não tinham estrutura adequada
para solucionar os problemas de segurança
pública. Processos de reforma institucional
nestes sistemas não foram suficientes
para transformar práticas e superar deficiências
herdadas do regime autoritário, consolidar
práticas democráticas, e promover a integração
das organizações destes sistemas com outras
organizações governamentais, da sociedade
civil e do setor privado.
No
governo e na sociedade, surgiram diversas
propostas de reforma das organizações
dos sistemas de segurança pública, justiça
criminal e administração penitenciária,
e da sua integração com outras organizações
governamentais, organizações da sociedade
civil e do setor privado, visando
ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de
políticas e programas de prevenção do
crime e da violência e melhoria da segurança
pública. Cresceu a convicção de que a
prevenção do crime e da violência e a
melhoria da segurança pública não são
responsabilidade apenas dos estados e
das organizações da segurança pública,
da justiça criminal e da administração
penitenciária, mas que o governo federal,
os governos municipais e a sociedade civil
têm um papel fundamental a desempenhar
nesta área.
A
Prevenção do Crime e da Violência
A
partir da segunda metade da década de
1990, nas áreas da segurança pública,
da justiça criminal e administração penitenciária,
dos direitos humanos, da saúde pública
e do desenvolvimento urbano, entre outras,
começou a haver uma crescente mobilização
a favor do desenvolvimento de políticas
e programas de prevenção do crime e da
violência e melhoria da segurança pública.
O Governo Federal criou a Secretaria Nacional
de Segurança Pública (Senasp) em 1997,
no âmbito do Ministério da Justiça, reestruturando
e fortalecendo a Secretaria de Planejamento
das Ações Nacionais de Segurança Pública
(Seplanseg), criada em 1995. A estrutura
da Senasp passou por várias modificações
e sua competência atual é definida no
artigo 14 do decreto 4.991, de 18 de fevereiro
de 2004, incluindo o assessoramento ao
Ministro da Justiça “na definição, implementação
e acompanhamento da Política Nacional
de Segurança Pública e dos Programas Federais
de Prevenção Social e Controle da Violência
e Criminalidade”:
Art.
14. À Secretaria Nacional de Segurança
Pública compete:
I
- assessorar o Ministro da Justiça na
definição, implementação e acompanhamento
da Política Nacional de Segurança Pública
e dos Programas
Federais
de Prevenção Social e Controle da Violência
e Criminalidade;
II
- planejar, acompanhar e avaliar a implementação
de programas do Governo federal para a
área de segurança pública;
III
- elaborar propostas de legislação e regulamentação
em assuntos de segurança pública, referentes
ao setor público e ao setor privado;
IV
- promover a integração dos órgãos de
segurança pública;
V
- estimular a modernização e o reaparelhamento
dos órgãos de segurança pública;
VI
- promover a interface de ações com organismos
governamentais e não governamentais, de
âmbito nacional e internacional;
VII
- realizar e fomentar estudos e pesquisas
voltados para a redução da criminalidade
e da violência;
VIII
- estimular e propor aos órgãos estaduais
e municipais a elaboração de planos e
programas integrados de segurança pública
objetivando controlar ações de organizações
criminosas ou fatores específicos que
gerem índices de criminalidade e violência,
bem como estimular ações sociais de prevenção
da violência e criminalidade;
IX
- exercer, por seu titular, as funções
de Ouvidor-Geral das Polícias Federais;
X
- implementar, manter e modernizar o Sistema
Nacional de Informações de Justiça e Segurança
Pública - INFOSEG;
XI
- promover e coordenar as reuniões do
Conselho Nacional de Segurança Pública
- CONASP; e
XII
- incentivar e acompanhar a atuação dos
Conselhos Regionais de Segurança Pública.
O
decreto 4.991/04 também define, nos artigos
36 e 37, a competência do Conselho Nacional
de Política Criminal e Penitenciária (criado
em 1980, instituído pela lei federal 7.210
de 1984) e do Conselho Nacional de Segurança
Pública (criado em 1997), ambos no âmbito
do Ministério da Justiça, atribuindo ao
primeiro a formulação da política criminal,
incluindo a prevenção do crime, e ao segundo
a formulação da política de segurança
pública:
Art.
36. Ao Conselho Nacional de Política Criminal
e Penitenciária compete:
I
- propor diretrizes da política criminal
quanto à prevenção do delito, administração
da Justiça Criminal e execução das penas
e das medidas de segurança;
II
- contribuir na elaboração de planos nacionais
de desenvolvimento, sugerindo as metas
e prioridades da política criminal e penitenciária;
III
- promover a avaliação periódica do sistema
criminal para a sua adequação às necessidades
do País;
IV
- estimular e promover a pesquisa criminologia;
V
- elaborar programa nacional penitenciário
de formação e aperfeiçoamento do servidor;
VI
- estabelecer regras sobre a arquitetura
e construção de estabelecimentos penais
e casas de albergados;
VII
- estabelecer os critérios para a elaboração
da estatística criminal;
VIII
- inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos
penais, bem assim informarse, mediante
relatórios do Conselho Penitenciário,
requisições, visitas ou outros meios,
acerca do desenvolvimento da execução
penal nos Estados e Distrito Federal,
propondo às autoridades dela incumbida
as medidas necessárias ao seu aprimoramento;
IX
- representar ao Juiz da Execução ou à
autoridade administrativa para instauração
de sindicância ou procedimento administrativo,
em caso de violação das normas referentes
à execução penal; e
X
- representar à autoridade competente
para a interdição, no todo ou em parte,
de estabelecimento penal.
Art.
37. Ao Conselho Nacional de Segurança
Pública - CONASP compete:
I
- formular a Política Nacional de Segurança
Pública;
II
- estabelecer diretrizes, elaborar normas
e articular a coordenação da Política
Nacional de Segurança Pública;
III
- estimular a modernização de estruturas
organizacionais das polícias civil e militar
dos Estados e do Distrito Federal;
IV
- desenvolver estudos e ações visando
a aumentar a eficiência dos serviços policiais,
promovendo o intercâmbio de experiências;
e
V
- estudar, analisar e sugerir alterações
na legislação pertinente.
No
ano 2000, o Governo Federal lançou o Plano
Nacional de Segurança Pública (Brasil,
Ministério da Justiça 2001) visando a
promover e integrar ações de organizações
federais, estaduais, municipais, de entidades
da sociedade civil e do setor privado,
para controlar e prevenir o crime e a
violência. Entre as medidas no âmbito
da cooperação entre o Governo Federal
e os governos estaduais, o Plano Nacional
de Segurança Pública incluiu a intensificação
das ações do Programa Nacional de Direitos
Humanos, lançado em 1996 e atualizado
em 2003, direcionadas para prevenção do
crime e da violência. Entre as medidas
de natureza institucional, o Plano Nacional
de Segurança Pública incluiu a criação
de um comitê de acompanhamento e integração
de programas sociais, que deu origem ao
Plano Integrado de Acompanhamento de Programas
Sociais (Piaps), na esfera do Gabinete
da Segurança Institucional da Presidência
da República.
Também
no ano 2000, o Governo Federal criou o
Fundo Nacional de Segurança Pública (medida
provisória 2.029/00; lei federal 10.201/01),
visando a apoiar o desenvolvimento de
projetos estaduais municipais na área
da segurança pública e projetos da prevenção
do crime e da violência enquadrados no
Plano Nacional de Segurança Pública. Em
2002, o Ministério da Justiça constituiu
um grupo de trabalho formado por representantes
da Secretaria Nacional de Segurança Pública,
Secretaria Nacional de Justiça e Secretaria
de Estado dos Direitos Humanos para propor
medidas visando à integração das ações
federais, estaduais e municipais na área
da segurança pública e a redução do crime
e da violência no país. O relatório final
do grupo de trabalho apresentou a proposta
de constituição do Programa Nacional de
Apoio à Administração da Segurança Pública
nos Estados e Municípios (Penaspem), com
o objetivo de integrar ações federais
nas áreas da segurança pública, administração
da justiça criminal, administração penitenciária
e direitos humanos, bem com ações federais,
estaduais e municipais, enfatizando a
importância das ações de prevenção e visando
à redução do crime e da violência no país
no período 2002-2006.
Em
2003, entretanto, após a mudança na direção
do Governo Federal, o Ministério da Justiça
adotou o Projeto Segurança Pública para
o Brasil, elaborado originalmente pelo
Instituto da Cidadania, como Plano Nacional
de Segurança Pública. Inspirado na experiência
do Sistema Único de Saúde (SUS), o Projeto
Segurança Pública para o Brasil prevê
e o Ministério da Justiça promove, através
da Secretaria Nacional de Segurança Pública,
a construção do Sistema Único de Segurança
Pública (Susp), a partir da integração
das ações federais, estaduais e municipais
na área da segurança pública, da constituição
de gabinetes integrados de gestão da segurança
pública nos estados e do desenvolvimento
de planos estaduais e municipais de segurança
pública.
Também
em 2003, o Governo Federal reestruturou
o Fundo Nacional de Segurança Pública,
através da lei federal 10.746/03, procurando
criar condições mais favoráveis para utilização
dos recursos no desenvolvimento de programas
estaduais e municipais de prevençãodo
crime e da violência, na integração dos
programas na área da segurança pública
e nos programas de prevenção do crime
e da violência desenvolvidos em outras
áreas. Ainda em 2003, o Conselho Nacional
de Política Criminal e Penitenciária aprovou
a Resolução 16, de 17 de dezembro de 2003,
que dispõe sobre as diretrizes básicas
de política criminal quanto à prevenção
do delito, administração da justiça criminal
e execução da penas e medidas de segurança.
A Resolução 16 atualiza a Resolução 5,
de 19 de julho de 1999, reforçando a importância
da prevenção do crime no contexto da política
criminal e penitenciária.
Na
área da saúde, o Governo Federal lançou
a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade
por Acidentes e Violências em 2001 (Brasil.
Ministério da Saúde 2002). Assim como
o Plano Nacional de Segurança Pública,
a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade
por Acidentes de Veículos e Violência
enfatiza a importância de ações integradas,
intersetoriais, comunitárias e preventivas
para a redução da violência. Antes disso,
em 1992, o Ministério da Saúde havia apresentado
uma proposta de linhas de ação para prevenção
da violência doméstica (Brasil, Ministério
da Saúde, 1993).
Na
área do desenvolvimento urbano, a Câmara
dos Deputados, através da Comissão de
Desenvolvimento Urbano e Interior, com
apoio da Comissão de Direitos Humanos
e do Conselho Nacional de Saúde, organizou
o Seminário Nacional sobre Violência Urbana
e Segurança Pública em 2001. Com apoio
do Conselho Nacional de Saúde, organizou
seminários regionais sobre Violência Urbana
e Saúde Pública em 2002, nas cidades de
Belo Horizonte, Recife, Curitiba e Belém.
Ainda em 2002, organizou a IV Conferência
das Cidades em 2002, sobre o tema “Cidade
Cidadã: as diversas formas de superação
da violência”.
A
IV Conferência das Cidades sistematizou
e consolidou as propostas de açã
apresentadas nos encontros anteriores,
e enfatizou a necessidade de ações de
natureza integradas, intersetoriais, comunitárias
e preventivas para redução da criminalidade
e da violência urbana, incluindo ações
nas áreas do desenvolvimento urbano, educação,
saúde, segurança, justiça, e comunicação
social (Brasil, Câmara dos Deputados,
Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior,
2002). Em junho de 2003, o Fórum Nacional
da Reforma Urbana realizou encontro nacional
e aprovou uma Plataforma para uma Nova
Política de Desenvolvimento Urbano que
inclui uma seção dedicada a diretrizes
gerais para a política de segurança pública
e promoção da paz nas cidades (Fórum Nacional
da Reforma Urbana 2003).
Na
Subchefia de Assuntos Federativos, da
Casa Civil da Presidência da República,
o Comitê de Articulação Federativa constituiu
um grupo de trabalho sobre segurança pública,
com o objetivo de produzir um texto de
referência para discussão do papel dos
municípios na área da segurança pública.
O grupo de trabalho foi constituído por
representantes da Frente Nacional de Prefeitos,
Confederação Nacional de Municípios, Associação
Brasileira de Municípios, Conselho Nacional
das Guardas Municipais, Casa Civil/Subchefia
de Assuntos Federativos, Ministério da
Justiça/Secretaria Nacional de Segurança
Pública e Ministério das Cidades. Sob
a coordenação da Secretaria Nacional de
Segurança Pública, o grupo de trabalho
produziu o relatório “O Papel dos Municípios
no Sistema Único de Segurança Pública”
(Brasil, Ministério da Justiça 2003),
que atribui aos municípios um papel central
na área da segurança pública, especificamente
no desenvolvimento de programas e ações
prevenção do crime e da violência, e propõe
a articulação de programas e ações municipais
através de planos municipais e metropolitanos
de segurança urbana e prevenção à violência
criminal.
Sistema
Internacional
Iniciativas
internacionais incentivam e fortalecem
iniciativas nacionais na área da prevenção
do crime e da violência. Em 1995, o Conselho
Econômico e Social da Organização das
Nações Unidas adotou resolução definindo
Diretrizes para Cooperação e Assistência
Técnica no Campo da Prevenção da Criminalidade
Urbana (Organização das Nações Unidas,
Conselho Econômico e Social, Resolução
1995/9). Em 2002, o Conselho Econômico
e Social da Organização das Nações Unidas
adotou resolução para promoção da prevenção
criminal, que define um conjunto de diretrizes
para prevenção do crime (Organização das
Nações Unidas, Conselho Econômico e Social,
13 Agosto 2002, E/2002/INF/2Add.2). A
Organização Mundial da Saúde publicou
o Relatório Mundial sobre Violência e
Saúde (OMS 2002). Tanto o Conselho Econômico
e Social da ONU quanto a Organização Mundial
da Saúde ressaltam a importância de estratégias
de prevenção para a redução do crime e
da violência, recomendam a governos de
todos os países o desenvolvimento e o
fortalecimento de políticas de prevenção
do crime e da violência, e a organizações
internacionais o apoio a políticas nacionais
de prevenção do crime e da violência.
Programas
de Prevenção do Crime e da Violência
Desde
a década de 1990, governos estaduais,
prefeituras municipais e organizações
da sociedade civil passaram a desenvolver
programas e ações de prevenção do crime
e da violência, em várias áreas, incluindo
não apenas na segurança pública, justiça
criminal e administração penitenciária,
mas também nas áreas da saúde, educação,
trabalho, promoção social, comunicação
social e direitos humanos (Brasil, Ministério
da Justiça 1997). Mais recentemente, algumas
prefeituras passaram a desenvolver programas
municipais de segurança pública e prevenção
do crime e da violência, como aconteceu
com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre
(RS), São Paulo (SP), Diadema (SP) e Resende
(RJ). Em algumas regiões metropolitanas,
as prefeituras começaram a se articular
em fóruns regionais para debater e promover
programas e ações municipais na área da
segurança pública, particularmente na
prevenção do crime e da violência. Em
São Paulo, os prefeitos da Região Metropolitana
de São Paulo, com apoio do Instituto São
Paulo Contra a Violência, do Núcleo de
Estudos da Violência e da Rede Globo de
Televisão, criaram o Fórum Metropolitano
de Segurança Pública, em março de 2001,
para promover programas e ações municipais
na área da segurança pública, particularmente
de natureza preventiva, em parceria com
o governo federal, o governo do estado
e a sociedade civil. A partir de 2003,
diversas prefeituras estabeleceram convênios
com o governo do estado, através dos quais
o governo do estado passou a disponibilizar
mapas de ocorrências criminais no território
do município para o desenvolvimento de
programas municipais de prevenção do crime
e da violência.
Em
Pernambuco, os prefeitos da Região Metropolitana
de Recife, juntamente com o Governo do
Estado e o Governo Federal, decidiram
criar uma Câmara de Defesa Social no Conselho
de Desenvolvimento da Região Metropolitana
de Recife e desenvolver um Programa Metropolitano
de Segurança Urbana e Prevenção da Violência
e da Criminalidade em 2003.
Levantamento
preliminar realizado pelo grupo de trabalho
sobre gestão da prevenção em segurança
pública, responsável pela elaboração deste
relatório, identificou 109 programas de
prevenção do crime e da violência em desenvolvimento
em 15 estados e no Distrito Federal, com
ações nas áreas da família, educação,
trabalho, comunidade, polícia, justiça
e saúde. Fichas técnicas com informações
básicas sobre estes programas são apresentadas
na seção 7 deste relatório.
O
conjunto de programas apresentados no
relatório inclui aqueles sob a responsabilidade
de organizações governamentais e programas
sob a responsabilidade de organizações
da sociedade civil. A maioria deles é
resultado de parcerias entre governo e
sociedade civil. Alguns são desenvolvidos
exclusivamente em uma localidade, enquanto
outros em diversos locais, segundo um
modelo ou padrão adaptado às condições
de cada localidade. Da mesma forma, existem
programas centrados em um único tipo de
ação, direcionada a um único tipo
de fator de risco ou de proteção que afeta
a incidência e o impacto do crime e da
violência. Outros programas são compreensivos,
integrando diversos tipos de ações direcionadas
a diversos fatores de risco e de proteção.
Alguns programas têm a prevenção do crime
e da violência como objetivo. Outros atuam
sobre fatores de risco e de proteção que
afetam a incidência e o impacto do crime
e da violência. De maneira geral, o levantamento
mostra a disseminação de iniciativas,
programas e ações na área da prevenção
do crime e da violência. Mas mostra também
que, de maneira geral, estas iniciativas
são recentes, têm duração limitada, alcance
e impacto limitado, não estão integradas
entre si, e não encontram sustentação
em políticas municipais e estaduais de
prevenção do crime e da violência e de
melhoria da segurança pública. Na maioria
dos casos, os programas de prevenção do
crime e da violência não são dotados de
instrumentos de monitoramento e avaliação
e não são capazes de demonstrar os resultados
alcançados.
Desafios
na Prevenção do Crime e da Violência
Apesar
do crescente interesse no desenvolvimento
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência, e do empenho
do Ministério da Justiça e da Secretaria
Nacional de Segurança Pública neste sentido,
o governo e a sociedade enfrentam enormes
desafios no desenvolvimento destas políticas
e programas. Ainda prevalece no país uma
concepção tradicional da prevenção do
crime e da violência, como se a prevenção
constituísse uma área dissociada, complementar
ou suplementar às áreas da segurança pública,
justiça criminal e administração penitenciária.
Na esfera federal, a dissociação entre
a prevenção do crime e da violência e
a segurança pública fica particularmente
evidente na estrutura do Ministério da
Justiça, onde até hoje existe um Conselho
Nacional de Segurança Pública com competência
para assuntos de segurança pública e um
Conselho Nacional de Política Criminal
e Penitenciária com competência para assuntos
de prevenção do crime, administração da
justiça criminal e execução das penas
e medidas de segurança.
Esta
concepção tradicional da prevenção do
crime e da violência, que associa a prevenção
a ações na área econômica, social e cultural,
dificulta a realização de mudanças na
estrutura e funcionamento de organizações
governamentais, a integração de ações
em diversas esferas do governo, e o desenvolvimento
de políticas e programas integrados, voltados
para a prevenção do crime e da violência
e a melhoria da segurança pública.
Além
disso, os governos e a sociedade civil
freqüentemente deixam de dar atenção ao
desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência,
assumindo que políticas e programas econômicos,
sociais e culturais, particularmente aqueles
capazes de reduzir a desigualdade e a
exclusão social, independentemente de
ações direcionadas especificamente à redução
do crime e da violência, possam resolver
os problemas de segurança pública.
A
carência e a baixa qualidade das informações
e dados sobre o crime e a violência e
sobre a atuação das agências dos sistemas
de segurança pública, justiça criminal
e administração penitenciária também dificultam
– se não inviabilizam – o planejamento,
o monitoramento e a avaliação adequada
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência.
Na
área da segurança pública, ainda não há
um sistema nacional de registro de ocorrências
criminais, apesar da realização de estudos
para criação deste sistema. Cada estado
tem seu próprio sistema. A metodologia
e a qualidade do registro de ocorrências
criminais varia de estado para estado
e mesmo de um governo para outro. As informações
dos estados não são imediatamente comparáveis.
Pesquisas de vitimização são realizadas
nas capitais, mas não regularmente, de
forma a permitir um monitoramento adequado
das tendências da criminalidade nos estados
ou mesmo nas capitais. Na área da saúde,
há um sistema nacional de registro de
mortes violentas, que produz dados nacionais
sobre o número de mortes resultantes de
agressões, de acidentes, de suicídio,
e de arma de fogo. Os dados de morte por
agressões, da área da saúde, entretanto,
não são diretamente comparáveis com os
dados de ocorrências de homicídio, da
área da segurança pública. O setor da
saúde registra informações e dados sobre
o número de mortes violentas, a causa
da morte e as características da vítima,
com destaque para o local de residência.
O setor de segurança pública registra
informações e dados sobre o número de
ocorrências criminais, as circunstâncias
da ocorrência, com destaque para o local
da ocorrência, e as características dos
autores, vítimas e testemunhas dos crimes.
Freqüentemente, há discrepâncias e conflitos
entre os dados da saúde e da segurança
pública.
Além
da falta de informações e dados, há também
uma carência de profissionais qualificados
para fazer a análise das tendências e
das causas do crime e da violência, e
formular, implementar, monitorar e avaliar
políticas e programas de prevenção do
crime e da violência. O problema é grave,
inclusive na área da segurança pública,
na medida em que as organizações policiais
estão voltadas principalmente para o atendimento
a ocorrências, a investigação criminal
e a prisão dos responsáveis por crimes
e violências, e dão pouca atenção ao desenvolvimento
de programas de prevenção do crime e da
violência.
3.
Proposta de Mudança: Uma Visão da Prevençaõ
do Crime e da Violência no
Sistema
Único de Segurança Pública.
O
conceito de prevenção ganhou importância
inicialmente na área da saúde, na década
de 1950, a partir da pressuposição de
que é possível “antecipar, preceder ou
tornar impossível por meio de uma providência
precoce” o desenvolvimento de doenças
e agravos à saúde. Leavell & Clarck
(1976) defenderam que os objetivos finais
de toda atividade de saúde eram a promoção
da saúde, a prevenção das doenças e o
prolongamento da vida. Responsáveis pela
disseminação do conceito de prevenção,
idealizaram estratégias de prevenção primária,
secundária e terciária das doenças, definidas
principalmente pelo aspecto temporal.
As
ações de prevenção secundária e terciária
têm sido mais implementadas, mas recentemente
tem crescido a importância das ações de
prevenção primária e de promoção da saúde
e da qualidade de vida (Krug et al 2002).
A
prevenção primária se dirige a prevenir
a violência antes que ela surja, atuando
sobre os fatores contribuintes e os agentes
da violência. Foi denominada por Leavell
& Clarck como fase pré-patogênica,
em analogia ao modelo médico etiológico
de enfermidades. Engloba atividades de
promoção da saúde e medidas de proteção
específicas (por exemplo, imunização contra
doenças). Com o passar dos anos, a importância
dessa forma de prevenção tem ocupado maior
destaque na área da saúde, embora seja
mais utilizada quando existem medidas
de proteção mais objetivamente percebidas,
que mostrem um custo-benefício razoável
(vacinas, medicamentos). É ainda pouco
utilizada quando requer medidas ampliadas
e que demandam investimento em mudança
de comportamento (estratégias educativas,
de apoio à melhoria de qualidade de vida,
entre outros). É uma meta de mais difícil
execução, pois requer a participação de
todos os setores da sociedade, muitas
vezes contrariando interesses políticos
e comportamentos habituais. Busca motivar
mudanças no nível educacional, legal e
social, tendo impacto importante na saúde
e bem estar da população.
A
prevenção secundária se caracteriza pelas
respostas mais imediatas à violência,
enfocando a capacidade de diagnóstico,
tratamento precoce e limitação do dano.
Nesse nível de atuação, os sistemas assistenciais
e as redes de apoio social e comunitário
são extremamente relevantes, pois permitem
a identificação de casos e populações
sob risco. Escolas, creches, lideranças
comunitárias, serviços de segurança e
de saúde, especialmente ambulatoriais
e de emergência, representam instituições
sociais cruciais para a prevenção neste
segundo nível. A prevenção terciária compõe-se
de respostas de mais longo prazo, destinadas
ao processo de reabilitação das vítimas.
Embora devesse ser utilizada apenas nos
casos em que as medidas anteriores não
tivessem surtido efeito, costuma ser ainda
estratégia muito utilizada. Visa a intervir,
controlar e tratar os casos reconhecidos,
buscando reduzir os efeitos, seqüelas
e traumas, evitar que a violência se torne
crônica e promover a reintegração dos
indivíduos. No Brasil, o conceito de prevenção
ganhou maior importância na área da saúde
com o Movimento da Reforma Sanitária,
a Constituição Federal de 1988 e a estruturação
do Sistema Único de Saúde, a partir da
promulgação das Leis Orgânicas da Saúde
(Lei 8.080/90 e 8.142/ 90), com o objetivo
de garantir o direito à saúde “mediante
políticas sociais e econômicas que visem
à redução do risco de doença e outros
agravos e assegurem o acesso universal
igualitário a ações e serviços de promoção,
proteção e recuperação da saúde” (CF 1988,
art. 196).
Há
hoje uma ampla literatura sobre a prevenção
de doenças e agravos à saúde, incluindo
estudos e pesquisas sobre a prevenção
da violência que, devido ao elevado número
de mortes violentas registrados no país,
particularmente entre os jovens, passou
cada vez mais a ser considerada um problema
de saúde pública (Minayo e Souza 2003;
Minayo, Souza e Njaine 1999). Em 2001,
o Ministério da Saúde lançou a Política
Nacional de Redução da Morbimortalidade
por Acidentes e Violências (Ministério
da Saúde 2001).
A
Prevenção na Segurança Pública
A
difusão do conceito de prevenção na área
da segurança pública realizou-se nas sociedades
industriais avançadas na década de 1970
e 1980. Diante do crescimento da criminalidade,
e de estudos e pesquisas mostrando os
limites das respostas repressivas (isto
é, da punição e/ou ameaça de punição),
principalmente através das organizações
policiaise dos sistemas de justiça criminal
e administração penitenciária, para reduzir
a incidência e o impacto de crimes na
sociedade, houve um importante movimento
no sentido de desenvolver teorias e práticas
sobre a prevenção do crime (Bennet 1998;
Pease 1997).
O
desenvolvimento de teorias e práticas
sobre a prevenção do crime na área da
segurança pública foi paralelo ao desenvolvimento
de teorias e práticas sobre prevenção
da violência na área da saúde pública
(Minayo e Souza 2003; Krug et al 2002).
Na área da segurança pública, entretanto,
o desenvolvimento de teorias e práticas
sobre a prevenção foi prejudicado pela
incompreensão e pelo debate em torno do
conceito de “prevenção”. Na área da segurança
pública, a prevenção é freqüentemente
apresentada e percebida como um tipo específico
de ação visando à redução da criminalidade,
alternativa a ações repressivas, centradas
na punição ou ameaça de punição dos autores
de crimes, estas últimas sob responsabilidade
das organizações policiais e do sistema
de justiça criminal e de administração
penitenciária. Deste ponto de vista, as
organizações policiais e do sistema de
justiça criminal e administração penitenciária
não teriam atuação na área da prevenção.
A prevenção diria respeito apenas ou principalmente
a ações econômicas, sociais, culturais
e ambientais ou urbanísticas, fora da
área de atuação das organizações policiais
e do sistema de justiça criminal e administração
penitenciária.
Segundo
outro enfoque, entretanto, a prevenção
é entendida como um resultado de ações
visando à redução da criminalidade, que
pode ser alcançado através de diferentes
tipos de ações, incluindo a punição ou
ameaça de punição dos autores de crimes,
mas também ações econômicas, sociais,
culturais e ambientais ou urbanísticas.
Deste ponto de vista, a prevenção diz
respeito apenas ou principalmente a ações
capazes de produzir um resultado específico:
a não-ocorrência de um ou mais crimes
que teriam ocorrido na ausência da ação
preventiva (Bennet 1998, Sherman 1997).
Este
segundo entendimento do conceito de prevenção
tem três vantagens sobre o primeiro: a)
chama atenção para a importância do monitoramento
e avaliação dos resultados de diferentes
tipos de ações visando à redução da criminalidade;
b) chama a atenção para a possibilidade
de redução da criminalidade através de
diferentes tipos de ações, tanto ações
punitivas, sob responsabilidade das organizações
policiais e do sistema de justiça criminal
e administração penitenciária, quanto
através de ações econômicas, sociais,
culturais e ambientais ou urbanísticas,
sob responsabilidade de outras organizações;
e c) chama a atenção para as similaridades
e não para as diferenças, conseqüentemente
promovendo a cooperação e não o conflito
entre as organizações policiais e do sistema
de justiça criminal e administração penitenciária
e outras organizações governamentais e
não-governamentais visando à redução do
crime e da violência na sociedade.
A
fim de identificar e planejar corretamente
as ações preventivas, entretanto, é importante
ressaltar que prevenção do crime não implica
necessariamente redução da criminalidade.
Num contexto de queda da criminalidade,
ações preventivas bem sucedidas contribuem
para acentuar a redução da criminalidade.
Mas, num contexto de crescimento da criminalidade,
ações preventivas podem contribuir para
a reversão da tendência e redução da criminalidade
ou, alternativamente, podem contribuir
apenas para a contenção do crescimento
da criminalidade (Bennet 1998). Políticas
e programas de prevenção, portanto, devem
levar em consideração o contexto, a fim
de definir seus objetivos e adequar objetivos,
ações e recursos.
Tipos
de Prevenção
Na
área da segurança pública, como na área
da saúde pública, as ações preventivas
são freqüentemente classificadas como
ações de prevenção primária, secundária
e terciária. Mas o critério de classificação
não é temporal. É principalmente o objeto
ou o foco da ação. A prevenção primária
diz respeito a ações dirigidas ao meio
ambiente físico e/ou social, mais especificamente
aos fatores ambientais que aumentam o
risco de crimes (fatores de risco) e/ou
aos fatores ambientais que diminuem o
risco de crimes (fatores de proteção),
visando a evitar incidência e/ou limitar
e controlar as conseqüências negativas
de crimes e violências. A prevenção primária
pode incluir ações que implicam mudanças
mais abrangentes, na estrutura da sociedade
ou comunidade, visando a reduzir a pré-disposição
para a prática de crimes e violências
na sociedade (prevenção social). Ou, alternativamente,
pode incluir ações que implicam mudanças
mais restritas, nas áreas ou situações
em que ocorrem os crimes e violências,
visando a reduzir as oportunidades para
a prática de crimes e violências na sociedade
(prevenção situacional).
Ampliação
dos serviços de saúde direcionados a famílias
com filhos recém-nascidos, ampliação das
oportunidades de educação e trabalho na
comunidade, por exemplo, são ações típicas
de prevenção social. Limitação e controle
do uso de armas, modificação de horários
e locais de atividades econômicas, sociais
e culturais, aumento da vigilância através
da presença de policiais, guardas municipais,
seguranças privados ou circuitos de televisão,
são ações típicas de prevenção situacional.
O
fato de exigir recursos menores é uma
vantagem que tem facilitado o desenvolvimento
da prevenção situacional, particularmente
no setor da segurança privada, mas também
no setor da segurança pública. A maior
desvantagem da prevenção situacional,
particularmente do ponto de vista da segurança
pública, é o risco de deslocamento dos
agressores para outras áreas ou situações
ou para outros tipos de crimes. Assim,
ao invés de contribuir para a redução
da criminalidade na sociedade, a prevenção
situacional poderia contribuir apenas
para a redução da criminalidade em áreas
ou situações específicas ou para a redução
de tipos específicos de crimes. Defensores
da prevenção situacional, entretanto,
argumentam que o deslocamento nem sempre
acontece e nem sempre é uma desvantagem,
e que a prevenção situacional pode contribuir
efetivamente para a redução da criminalidade
na sociedade.
A
prevenção secundária diz respeito a ações
dirigidas a pessoas e grupos mais suscetíveis
de praticar crimes e violências e aos
fatores que contribuem para a vulnerabilidade
e/ou resiliência destas pessoas e grupos,
visando a evitar o seu envolvimento com
o crime e a violência ou ainda limitar
os danos causados pelo seu envolvimento
com o crime e a violência. Diz respeito
também a pessoas e grupos mais suscetíveis
de serem vítimas de crimes e violências,
visando a evitar ou a limitar os danos
causados pela sua vitimização. Ações de
prevenção secundária são freqüentemente
dirigidas aos jovens e adolescentes, e
a membros de grupos vulneráveis e/ou em
situação de risco, inclusive crianças,
mulheres e idosos em casos de violência
doméstica ou intrafamiliar, mulheres em
casos de violência de gênero, e negros
em casos de violência contra minorias.
O que diferencia a prevenção secundária
da prevenção primária é principalmente
o fato de que a secundária está mais direcionada
a pessoas e grupos, enquanto que a primária
está mais direcionada ao meio-ambiente,
áreas ou situações. Freqüentemente, políticas
e programas de prevenção combinam ações
de prevenção primária e secundária. É
o caso, por exemplo, de uma política de
limitação e controle do uso de armas de
fogo, ou de ampliação das oportunidades
de trabalho, direcionada especificamente
a adolescentes e jovens.
A
prevenção terciária diz respeito a ações
dirigidas a pessoas que já praticaram
crimes e violências, visando a evitar
a reincidência e a promover o seu tratamento,
reabilitação e reintegração familiar,
profissional e social, bem como a pessoas
que já foram vítimas de crimes e violências,
visando a evitar a repetição da vitimização
e a promover o seu tratamento, reabilitação
e reintegração familiar. No Brasil, assim
como em outros países, o principal foco
das ações de prevenção terciária são os
adultos que praticaram crimes e os adolescentes
que praticaram infrações. Mas, cada vez
mais, programas e ações de prevenção são
direcionados às vítimas de crimes e violências.
Tradicionalmente, o governo e a sociedade
têm adotado uma postura reativa diante
dos problemas de segurança pública, privilegiando
as ações de prevenção terciária, geralmente
sob responsabilidade do sistema de justiça
criminal e de administração penitenciária,
comparativamente a ações de prevenção
primária e secundária. Cada vez mais,
entretanto, diante do agravamento dos
problemas de segurança pública, a sociedade
e o governo procuram adotar uma postura
mais pró-ativa e procuram desenvolver
também ações de prevenção secundária e
primária, selecionando estratégias ou
combinações de estratégias em função da
natureza do problema.
Além
disso, tradicionalmente, a sociedade e
o governo têm privilegiado ações preventivas
direcionadas para os fatores de risco,
privilegiando a estratégia de reduzir
ou enfraquecer os fatores de risco como
forma de reduzir a vulnerabilidade de
indivíduos, famílias e comunidades diante
de crimes e violências. Cada vez mais,
entretanto, refletindo e reforçando a
tendência à adoção de posturas mais pró-ativas,
dá-se crescente atenção à estratégia de
aumentar ou fortalecer os fatores de proteção
como forma de aumentar a resiliência de
indivíduos, famílias e comunidades diante
de crimes e violências. Valoriza-se, assim,
a promoção da segurança pública e o desenvolvimento
de ações de prevenção antes mesmo do aumento
dos fatores de risco e da vulnerabilidade
de indivíduos, famílias e comunidades
diante de crimes e violências.
Ao
mesmo tempo em que são valorizadas as
estratégias de prevenção primária e secundária
e as estratégias direcionadas para os
fatores de proteção, são valorizadas também
as estratégias desenvolvidas através de
parcerias entre organizações governamentais
e organizações da sociedade civil atuando
em diversas áreas, incluindo área econômica,
social, cultural, segurança pública, justiça
criminal e administração penitenciária.
Contextos
da Prevenção
Ações
de prevenção primária, secundária e terciária
são cada vez mais desenvolvidas simultaneamente,
de forma mais ou menos integrada, em diversas
áreas ou contextos institucionais. Torna-se,
assim, freqüente a utilização de outra
forma de classificação das ações preventivas,
centrada no contexto institucional nos
quais as ações se desenvolvem, com destaque
para os seguintes contextos: família,
escola, trabalho, mídia, comunidade,
polícia, justiça e saúde.
Tradicionalmente,
na esfera das organizações policiais e
organizações do sistema de justiça criminal
e de administração penitenciária, a prevenção
do crime e da violência tem sido entendida
simplesmente como resultado de ações punitivas
e/ou de ameaças de ações punitivas, particularmente
através da pena de prisão. Estudos e pesquisas
recentes, entretanto, indicam que a punição
ou a ameaça de punição tem um impacto
limitado na prevenção do crime e da violência,
e podem eventualmente contribuir para
o aumento do crime e da violência na sociedade,
particularmente quando aplicadas em desacordo
com as exigências da lei e as expectativas
da comunidade (Sherman 1997). O que contribui
efetivamente para a prevenção do crime
e da violência é a forma como as organizações
policiais e do sistema de justiça criminal
lidam com os agressores, vítimas e testemunhas,
e ainda a natureza das relações destas
organizações com organizações atuando
em outros contextos da sociedade, na família,
escola, trabalho, comunidade, mídia, saúde
(Sherman 1997, Nuttal 1998). Exemplos
de ações preventivas nestas áreas incluem
o policiamento orientado para a comunidade,
para a resolução de problemas e para situações
de risco, assim como programas de
tratamento, reabilitação e re-inserção
social para adultos e também jovens e
adolescentes envolvidos com o crime e
a violência.
Estudos
e pesquisas recentes indicam também que
ações na esfera da família, escola, trabalho,
comunidade, em situações de risco, mídia
e da saúde podem contribuir de maneira
significativa para a prevenção do crime
e da violência na sociedade (Sherman 1997,
Nuttal 1998). Ainda há menos programas
de prevenção do crime e da violência,
e menos estudos e pesquisas sobre prevenção
do crime e da violência nestas áreas do
que na área da polícia e do sistema de
justiça criminal. Entretanto, algumas
ações nestas áreas têm sido consideradas
eficazes do ponto de vista da prevenção
do crime e da violência, particularmente
em relação aos crimes e violências intrafamiliares
e praticados por jovens e adolescentes,
claramente associados aos crimes e violências
praticados na sociedade. São recentes
os estudos e pesquisas sobre a eficácia
e eficiência de diferentes tipos de prevenção
do crime e da violência, bem como de ações
preventivas em diferentes contextos institucionais.
Há poucas conclusões definitivas nesta
área. Mas há um amplo consenso em relação
à importância de integrar ações de governo,
da sociedade civil e do setor privado,
ações de prevenção primária, secundária
e terciária, ações direcionadas a fatores
de risco e a fatores de proteção, ações
em diferentes contextos institucionais,
bem como de direcionar ações de prevenção
para áreas e situações de risco e para
grupos vulneráveis, e adequar as ações
de prevenção às condições da sociedade
e às necessidades, interesses e expectativas
de seus membros.
4.
Programas de Prevenção do Crime e da Violência:
O Que Fazer para Prevenção do Crime e
da Violência?
Este
capítulo apresenta e analisa as conclusões
de estudos e pesquisas sobre a eficácia
e as condições para o sucesso de programas
de prevenção do crime e da violência,
realizados principalmente na América do
Norte e na Europa Ocidental, particularmente
nos Estados Unidos e Inglaterra.11 Muitos
programas de prevenção do crime e da violência
desenvolvidos na América do Norte e na
Europa Ocidental começam a ser adotados
no Brasil, conforme mostra o levantamento
de programas em desenvolvimento no Brasil
apresentado na seção 7 deste relatório.
Entretanto, no Brasil, estes programas
ainda têm alcance limitado e são desenvolvidos
sem o esforço de monitoramento e avaliação
existente nos Estados Unidos e, em menor
escala, na Inglaterra. Como não é possível
ter certeza de que programas eficazes
na América do Norte e na Europa Ocidental
são também eficazes no Brasil, é importante
monitorar e avaliar os programas desenvolvidos
neste país, e promover a pesquisa e desenvolvimento
de programas de prevenção do crime e da
violência adequados às necessidades e
especificidades do Brasil.
Apesar
dos avanços realizados pelos estudiosos
e pesquisadores nos últimos anos, ainda
há pouco conhecimento acumulado sobre
as causas do crime e da violência e sobre
a eficácia, o custo-benefício e as condições
necessárias para o desenvolvimento de
programas de prevenção do crime e da violência.
Neste sentido, uma das principais contribuições
que os governos podem dar para a prevenção
do crime e da violência é incentivar o
monitoramento e a avaliação dos programas
de prevenção do crime e da violência a
fim de identificar os programas mais eficazes
e que têm a melhor relação custo-benefício,
bem como as condições necessárias para
o desenvolvimento destes programas.
Estudos
e pesquisas desenvolvidos na América do
Norte e Europa Ocidental mostram que aumentos
e reduções da criminalidade são resultados
da influência de múltiplos fatores,
incluindo fatores contextuais, ligados
às características da sociedade, da comunidade,
do grupo e da família na qual os indivíduos
se inserem, e fatores associados às políticas
e programas governamentais, não havendo
um fator determinante nem uma explicação
simples para o aumento ou a redução do
crime e da violência. Separar e diferenciar
as influências de múltiplos fatores é
um desafio permanente dos pesquisadores
e estudiosos (Reiss e Roth 1993; Sherman
et al 1997; Nuttall, Goldblatt e Lewis
1998; Krug et al 2002). Os estudos e pesquisas
disponíveis mostram que a eficácia de
políticas e programas de prevenção do
crime depende do contexto econômico, social
e cultural em que são desenvolvidos e
da integração das políticas e programas
desenvolvidos em diferentes contextos
institucionais, mais especificamente,
na área da família, da escola, do trabalho,
da comunidade, da polícia, da justiça
e da saúde (Sherman et al. 1997; Nuttall,
Goldblatt e Lewis 1998; Krug et al 2002).
A eficácia e a relação custo-benefício
de políticas e programas de prevenção
do crime também dependem da sua abrangência.
Programas desenvolvidos com sucesso em
áreas de alto risco de crime e violência
freqüentemente não podem ser implementados
em toda a sociedade devido ao alto custo
da expansão, ou podem ser implementados
em áreas maiores, mas com maior custo
e/ou menores benefícios (Sherman et al
1997; Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998).
Há fatores contextuais e mais especificamente
práticas sociais que contribuem para o
aumento e para a redução do crime independentemente
de políticas e programas governamentais.
Neste sentido, é possível falar em “fatores
de risco”, quando estes fatores aumentam
o risco de crimes e violências, e “fatores
de proteção”, quando estes fatores diminuem
o risco de crimes e violências.
Políticas
e programas de prevenção podem reduzir
ou limitar a ação dos fatores de risco
e/ou aumentar ou ampliar a ação dos fatores
de proteção, contribuindo assim para redução
do crime e da violência, principalmente
quando são direcionados para problemas
específicos, áreas de risco e grupos vulneráveis,
quando têm a participação de ação de organizações
do sistema de justiça criminal e organizações
da sociedade, e quando são apoiados em
estudos e pesquisas sólidas. Programas
compreensivos e intersetoriais, que focalizam
múltiplos fatores de risco e fatores de
proteção, em diversos contextos institucionais,
implementados consistentemente ao longo
do tempo, têm mais chance de produzir
resultados positivos do que programas
que focalizam apenas um fator de risco
ou proteção, em apenas um contexto institucional,
de forma esporádica e descontínua. O problema
do crime e da violência nas grandes cidades,
objeto da atenção das polícias e demais
organizações do sistema de justiça criminal,
está associado a problemas na esfera da
família, da escola, do trabalho e da comunidade,
que atingem crianças, adolescentes e jovens
adultos, aumentando as chances da sua
exposição ao crime e à violência, e do
seu envolvimento com o crime e a violência.
Conseqüentemente, políticas e programas
de prevenção do crime e da violência desenvolvidos
na esfera da polícia e da justiça têm
alcance limitado e dificilmente produzem
resultados duradouros se não estiveram
associados a políticas e programas desenvolvidos
na esfera da família, da escola, do trabalho
e da comunidade. Da mesma forma, políticas
e programas de prevenção do crime e da
violência destinados aos adultos têm alcance
limitado e dificilmente produzem resultados
duradouros se não estiverem associados
a políticas e programas destinados aos
jovens adultos, adolescentes e crianças.
Em
vários países do mundo, há uma tendência
a valorizar e incentivar estudos e pesquisas
sobre políticas e programas de prevenção
primária, desenvolvidos na esfera da família,
da escola, do trabalho e da comunidade,
e políticas e programas destinados aos
jovens (Krug et al 2002; US Department
of Health and Human Services 2001; Nuttall,
Goldblatt e Lewis 1998; Sherman et al
1997). Há também uma tendência de valorizar
políticas e programas que focalizam não
apenas os fatores de risco, mas também
fatores de proteção, com o objetivo de
reduzir a vulnerabilidade e também aumentar
a resiliência de indivíduos, famílias,
grupos sociais e comunidades diante do
crime e da violência (Travis e Waul 2002;
Hampton, Jenkins and Gullota 1996).
Nas
próximas seções são apresentados diversos
tipos de programas de prevenção do crime
e da violência na esfera da família, da
escola, do trabalho, da mídia, da comunidade,
da polícia, da justiça e da saúde. Há
programas nas diversas esferas que têm
por objetivo principal ou secundário a
prevenção do crime e da violência. Há
programas que contribuem para a prevenção
do crime e da violência, mas são desenvolvidos
com outros objetivos, sem uma preocupação
explícita com a redução do crime e da
violência. Há também programas que não
contribuem diretamente para a redução
do crime e da violência, mas contribuem
para diminuir os fatores de risco e aumentar
os fatores de proteção associados à incidência
de crimes e violências.
Freqüentemente,
programas de prevenção do crime e da violência
estão centrados em uma área, por exemplo
a família, mas incluem ações em diversas
áreas, por exemplo saúde, justiça, trabalho
e comunidade. Neste relatório, os programas
são apresentados na área em que estão
centrados, ainda que seja às vezes difícil
determinar a principal área de atuação
do programa. O Programa da Saúde da Família,
por exemplo, é apresentado na seção dedicada
à saúde, ainda que tenha muitas ações
na esfera da família e da comunidade.
Programas de policiamento comunitário
são apresentados na área da polícia, ainda
que tenham ações na esfera da comunidade.
Programas de delegacias especializadas
no atendimento de mulheres e de crianças
e adolescentes são apresentados na área
da polícia, ainda que tenham ações na
área da justiça, da saúde e da família.
Programas de aplicação e execução de penas
alternativas e de medidas sócio-educativas
a adolescentes em conflito com a lei são
apresentados na área da Justiça, ainda
que tenham muitas ações na esfera da família,
escola, trabalho e comunidade.
4.1.
A Prevenção na Família
A
conexão entre violência na família e a
ocorrência de violências e crimes na sociedade
está claramente estabelecida por estudos
científicos nacionais e internacionais.
De um lado, a violência familiar ou doméstica
– na maioria das vezes contra mulheres,
crianças, adolescentes e idosos – contribui
para aumentar a incidência e o impacto
de violências e crimes na sociedade. Por
outro lado, a exposição à violência na
família é um fator que aumenta o risco
de envolvimento de crianças e adolescentes
em outros tipos de violência e crimes
quando eles crescem. Embora exista clareza
teórica sobre a importância das ações
de prevenção de crimes e violências centradas
na família, tendo como objetivo reduzir
a incidência da violência familiar e a
exposição de crianças e adolescentes à
violência familiar, no campo das práticas
políticas e sociais essas ações ainda
têm muito espaço para se consolidarem
efetivamente. Tomar as ações na esfera
da família como parte importante para
a prevenção dos crimes e violências
não significa definir os problemas das
famílias como causa da violência social,
pois esta tem causas muito mais complexas
e intrincadas, na esfera da escola, do
trabalho, da comunidade, da polícia, da
justiça e da saúde, como assinalado nas
próximas seções deste capítulo. Significa,
sim, o reconhecimento de que a violência
social é potencializada pela violência
familiar, especialmente pelo fato da família
produzir e reproduzir cultura e mentalidade,
atitudes e comportamentos, sendo a responsável
pelo crescimento e desenvolvimento das
crianças, adolescentes e jovens, que podem
vir a se envolver com o crime e a violência.
Além disso, a família é a unidade básica
de pertencimento dos indivíduos, acolhendo-os
e possibilitando a integração com a sociedade
que a cerca.
Estudos
com adolescentes e jovens envolvidos em
infrações e violências mostram que esses
jovens comumente provêm de famílias com
problemas de violência familiar, em que
estão presentes vários fatores de risco,
especialmente relacionados a: a) estresse
- intensos conflitos familiares, pobreza,
criminalidade de familiares, psicopatologia
de familiares, entre outros; b) profunda
instabilidade – mudanças constantes, limites
muito rígidos ou inconsistentes, punições
excessivas ou inconsistentes, supervisão
familiar precária, apoio familiar, escolar
e comunitário precários (Sherman et al
1997; Schoemaker 1996; Nuttall, Goldblatt
e Lewis 1998; Negreiros 2001; Thornton
et al 2002; Krug et al 2002).
As
pesquisas também mostram que, à medida
que se reduzem os fatores de risco para
violência familiar, obtém-se efeito substancial
na redução de crimes e violências na sociedade.
Entretanto, há mais pesquisas realizadas
e mais conhecimento acumulado sobre a
redução da violência familiar envolvendo
crianças e adolescentes do que sobre redução
da violência familiar envolvendo adultos
(Sherman et al 1997). No Brasil, a maioria
dos autores confirma a existência de freqüentes
violências nas famílias submetidas a várias
situações de risco, tais como pobreza,
envolvimento familiar com a criminalidade,
mortes na família, desigualdade e exclusão
social e violência na comunidade, decorrentes
das ações do narcotráfico, das gangues
e da polícia (Silva 1997; Rizzini et al
2000; Assis 1999; Assis e Constantino
2001). A idéia de ciclo da violência também
faz parte da preocupação dos autores nacionais
e internacionais. A existência da relação
entre sofrer violência na família e praticar
ou continuar a sofrer violência na vida
adulta tem sido reiteradamente apontada,
embora não seja uma relação de causa e
efeito. Essa relação é mediada por vários
atributos, tais como características bio-psicológicas
da vítima, existência de outras formas
de suporte familiar, escolar ou comunitário,
grupo de pares e apoio escolar vivenciado.
Em concordância com a bibliografia internacional,
um estudo realizado com 1.685 adolescentes
de escolas públicas e particulares de
São Gonçalo, município da região metropolitana
do Rio de Janeiro, comprovou que os alunos
que sofrem violência nas suas famílias
são três vezes mais vítimas de violência
na escola e quase quatro vezes mais vítimas
de violência na comunidade em que vivem.
Também são três vezes mais transgressores
das normas sociais (Assis & Avanci
2003).
Estudos
longitudinais vêm comprovando que programas
de prevenção efetuados sobre famílias
na fase de pré-natal, pós-natal e primeira
infância dos filhos mostram os melhores
resultados no que se refere à redução
de envolvimento com o crime na juventude
e também à obtenção de melhor rendimento
escolar e maiores oportunidades de emprego
no futuro. Efeitos mais imediatos surgem
sobre a redução do comportamento anti-social
e desordens de conduta e melhoria da qualidade
de cuidado dos pais com os filhos (Sherman
et al 1997; Nuttall, Goldblatt e Lewis
1998). Os programas de prevenção do crime
e da violência centrados na família –
estratégia que se propõe compreensiva
e continuada – tendem a mostrar resultados
positivos em longo prazo. Embora mudanças
de comportamento e relacionamento na família
sejam visíveis em prazo mais curto, o
objetivo final de redução dos crimes e
violências na sociedade pode ser evidenciado
até duas décadas depois que as ações de
prevenção tenham sido realizadas (Sherman
et al 1997).
Uma
avaliação das intervenções preventivas
realizadas nas últimas décadas nos EUA,
patrocinada pelo governo federal, indicou
que os programas mais bem sucedidos na
redução de crimes são programas compreensivos
e continuados, que atuam sobre mais
fatores de risco que fragilizam as
famílias e sobre crianças desde os
primeiros anos de vida. Programas
que fazem visitas domiciliares desde os
primeiros anos de vida do primeiro filho,
associados a programas de educação pré-escolar,
oferecem resultados muito promissores,
reduzindo violências contra crianças e
envolvimento em crimes e violência na
adolescência e juventude (Sherman et al
1997). Outro tipo de intervenção recomendada
é a terapia familiar para adolescentes
em situação de risco ou envolvidos com
o crime e a violência (Sherman et al 1997).
Essas evidências são reafirmadas por pesquisas
inglesas, que afirmam que para se promover
uma sociedade com menos crimes é necessário
prevenir o envolvimento de jovens com
a criminalidade e violência, através de
intervenções intensivas sobre crianças
e famílias em situação de risco e do aumento
da coesão das famílias e comunidades (Nuttall,
Goldblatt e Lewis 1998).
Em
relação à violência familiar envolvendo
adultos, há evidências favoráveis a abrigos
para atendimento, assistência e apoio
a mulheres vítimas de violência (Sherman
et al 1997). Visitas domiciliares realizadas
por policiais após incidentes de violência
doméstica são consideradas ineficazes
(Sherman et al 1997). Há que se ressaltar
que os especialistas concordam com o fato
de que nenhuma medida isoladamente poderá
reduzir definitivamente a violência familiar.
Recomendam um pacote de melhores práticas
– aquelas cujos resultados sejam evidentes
e comprovados através de avaliações –
a serem desenvolvidas e integradas consistentemente
ao longo do tempo (Nuttall, Goldblatt
e Lewis 1998).
São
várias as iniciativas nacionais e internacionais
de prevenção do crime e da violência que
têm a preocupação de incluir a família.
Contudo, cada sociedade possui um sistema
próprio de defesa e promoção de direitos,
que é reflexo e que se reflete na forma
como concebe as ações de prevenção dos
crimes e violências, incluindo-se as abordagens
direcionadas às famílias. Os programas
de prevenção da violência familiar podem
ser classificados em dois tipos principais,
classificação que se aplica também programas
de prevenção em outras áreas (Sherman
et al 1997; Krug et al 2002): a) “universais”,
direcionados a todas as famílias; b) “localizados”,
que podem ser dirigidas a famílias em
situação de risco (“escolhidos”) ou famílias
que já manifestaram problemas de crime
e violência (“indicados”). Segundo Sherman
(Sherman et al 1997), programas de prevenção
do crime e da violência centrados na família
são uma exceção à regra geral, válida
para as outras áreas de prevenção, e que
programas “localizados”, isto é, direcionados
para grupos em situação de risco, são
mais efetivos do que programas “universais”.
Programas localizados fazem uso mais eficaz
e eficiente de recursos disponíveis, normalmente
limitados. Mas programas universais são
política e socialmente mais atraentes
e podem receber mais recursos por família
do que programas focalizados. Devido à
freqüente oposição a ações governamentais
na esfera da família, identificada como
a esfera da vida privada, a adoção de
programas universais pode ser uma necessidade
para torná-los política e socialmente
aceitáveis e para viabilizar investimentos
públicos nesta área. Uma forma de compatibilizar
as vantagens de programas universais e
focalizados seria a adoção de programas
universais, capazes de direcionar mais
recursos por família em média, levando
em consideração as necessidades de cada
família na alocação dos recursos destes
programas – como acontece, por exemplo,
no Programa Saúde da Família, no Brasil
(ver seção sobre prevenção na área da
saúde).
Quanto
à implementação das ações e alocação de
recursos financeiros para a prevenção
da violência familiar, há que se reconhecer
que as ações precisam ser implementadas
e os recursos precisam ser alocados de
forma multidisciplinar e multi-setorial,
através de programas que podem ser implementados
na residência da família, na pré-escola
e na escola freqüentada pelas crianças
e adolescentes, em unidades de saúde freqüentadas
pela família, em entidades comunitárias,
órgãos de assistência social, unidades
policiais ou do sistema de justiça a que
se dirigem membros da família enfrentando
diferentes tipos deproblemas e conflitos
familiares (Sherman et al 1997). Em relação
à prevenção da violência na família, os
EUA registram esforços desde a década
de 70, momento em que foram priorizadas
as ações de prevenção centradas em visitas
domiciliares a famílias sob risco, educação
parental e grupos de pais, voltadas para
os momentos de crise familiar. Essa visão
de prevenção, centrada nas relações pais-filhos,
recebeu críticas nos anos seguintes, recolocando
as relações comunitárias e as relações
sociais mais amplas como fatores que podem
influenciar tanto a origem quanto a possibilidade
de resolução dos problemas familiares
(Daro & Donnely, 2002). Durante a
década de 80 houve uma multiplicação e
diversidade de serviços comunitários para
dar suporte às famílias norte-americanas,
prevenir a violência familiar e proteger
as crianças/adolescentes. Os anos 90 se
caracterizaram pela consolidação do sistema
de suporte às famílias e prevenção à violência,
que se inicia na gravidez e que acompanha
o indivíduo em toda a sua formação. As
visitas domiciliares são o cerne das medidas
preventivas, pois oferecem serviços mais
diretos e personalizados para as famílias
com problemas (especialmente para aquelas
incapazes de chegarem aos serviços de
atenção). Também se aproxima mais dos
valores culturais e necessidades de cada
núcleo familiar (Daro & Donnely, 2002).
Várias
experiências internacionais ocorridas
na última década, especialmente na Europa
e EUA, destacam a importância do atendimento
à família promover o seu empoderamento
(empowerment intervention). O “empoderamento“
da família em seu ambiente natural busca
estimular as capacidades existentes, assumindo
que os pais têm capacidade para identificar
o que é melhor para a família, respeitando
e apoiando os valores do sistema familiar,
promovendo a auto-estima da família e
o resgate, ou mesmo a construção do seu
papel protetor e cuidador. Essa tendência
tem sido incorporada por vários serviços
nacionais (Deslandes e Assis, 2003).
Sherman
(Sherman et al 1997), comparou 18 programas
norte-americanos com esse enfoque. Variam
quanto à freqüência, conteúdo, habilidades
desenvolvidas na família e contexto sociocultural-familiar.
A qualidade das visitas domiciliares é
aspecto importante no sucesso da intervenção:
quando constantes e feitas por pessoas
bem treinadas e supervisionadas, constata-se
maior redução da violência na família,
interações mais positivas entre pais e
filhos, além de maior probabilidade da
família se aproximar de outras instituições,
reduzindo o seu isolamento (Daro &
Donnely, 2002). A formação dos visitadores
é variada: enfermeiras, assistentes sociais,
professores pré-escolares, psicólogas
ou para-profissionais. O papel do visitador
é cuidar do desenvolvimento da criança
através do contato com os pais e a criança.
Podem apenas dar informações, suporte
emocional, ensinar ativamente ou apenas
acompanhar a família e ouvir as dificuldades.
Os visitadores podem ser treinados em
práticas de saúde, desenvolvimento humano
e instruções sobre habilidades cognitivas
e sociais. Contudo, o trabalho essencial
é prover uma ponte entre os pais (especialmente
a mãe) e a criança.
Uma
outra forma de aplicação de visitas domiciliares
focaliza famílias de jovens infratores
da Flórida/EUA, com resultados bem sucedidos
(Cervenka et al 1996; Dembo et al 1999).
É uma intervenção intensiva baseada na
linha sistêmica, efetuada sobre a família
e sobre o domicílio dos jovens. Um consultor
se encontra com a família por uma hora,
no mínimo, três vezes por semana, durante
aproximadamente dez semanas. Todos os
membros da família participam dos encontros.
Após esse período de contato intensivo,
permanece a comunicação telefônica com
os pais, durante quatro anos, visando
a monitorar o funcionamento familiar e
o nível de estresse. Toda a intervenção
é baseada na retaguarda de serviços de
apoio, que são acessados de acordo com
a necessidade de cada família. Um ponto
importante abordado por alguns serviços
é o relacionamento da família com o sistema
jurídico, enfocando o fato de que os pais
se sentem sem poder quando não são informados
das decisões, de atrasos ou do não andamento
dos processos (Grosz et al 2000). Na experiência
internacional, a prevenção da violência
realizada no espaço doméstico é bem freqüente
e criativa. Os profissionais que visitam
as famílias compartilham momentos, procuram
a melhor forma de tratar um problema sem
agredir a cultura familiar, desenvolvem
a habilidade de resolução de problemas,
utilizando como ponto de transformação
a observação das atitudes inadequadas.
Para tanto, precisam ter um respeito profundo
pelos membros da família e a capacidade/conhecimento
que cada um dos membros possui. Nota-se
um cuidado muito grande com a postura
do profissional na residência, para que
ele não reproduza, com suas ações, a postura
autoritária com que a sociedade costuma
tratar as famílias por ela rotuladas como
“problemáticas” (Deslandes e Assis 2003).
Outro
modelo de ação preventiva é o de centros
comunitários. As estratégias empregadas
são grupos de auto-ajuda (composto por
pais), grupos terapêuticos (de pais, de
crianças/adolescentes) e terapia domiciliar
(Pillai et al, 1982). A participação nestes
grupos permite romper com o isolamento,
sentir-se apoiado, ter um espaço para
conversar com pessoas que passam por situações
semelhantes. Um exemplo de um serviço
centrado na família que faz articulação
entre o sistema de justiça e saúde é o
“FAMILY VIOLENCE PREVENTION SERVICES”
(http://www.serve.com/fvps/),
localizado na Carolina do Norte/EUA. Promove
tratamento e prevenção para famílias que
vivenciam situação de agressão ou violência.
Faz acompanhamento de grupos separados
de homens, mulheres e crianças/adolescentes
durante 21 semanas. A intervenção enfatiza
o poder de escolha, as conseqüências e
a responsabilidade. É uma alternativa
efetiva de programa para evitar que a
família cumpra sentença judicial. A cada
ano, menos de 5% de clientes que receberam
penas nas cortes e que completaram o programa
retornam à Corte que lida com a violência
familiar. O programa também tem ajudado
a reduzir a superlotação nas prisões e
a manter homens e mulheres nos lares,
no trabalho e no grupo familiar enquanto
recebem a ajuda que necessitam. Fazem
intervenção junto à vítima; comunicação
à corte de justiça; terapia em grupo para
homens e para mulheres; terapia em grupo
para crianças/adolescentes; terapia para
casais; projetos de prevenção à violência
nas escolas; serviços de informação e
referência por telefone; informação e
educação para comunidades.
Nos
Estados Unidos, existem cerca de 1.800
programas que abrigam mulheres agredidas
e seus filhos, cuja principal finalidade
é prover um local durante um período de
risco existente após as agressões familiares
(Sherman et al 1997). Problemas decorrentes
de superlotação são relatados como críticos.
Dentre os poucos destes serviços que foram
avaliados, um deles informa que para aquelas
mulheres que deram passos no sentido de
buscar ajuda junto a outras pessoas ou
instituições houve redução do cometimento
de novas agressões durante seis semanas.
Para aquelas que apenas viram a permanência
temporária no abrigo como a forma de resolução
do conflito, a reincidência foi elevada.
A
análise da atuação dos serviços internacionais
de atenção às famílias envolvidas com
a violência traz importantes reflexões
para a realidade nacional. Neles, a abordagem
de toda família com histórias de violência
é a marca principal, com atividade paralela
e intensiva com os diferentes personagens
da trama violenta. A concepção de atendimento
familiar se cristaliza e a meta de prevenção
secundária e terciária é efetivamente
aplicada. Há serviços que incorporam também
os irmãos, concebendo que eles também
são elos importantes a serem trabalhados
e modificados pela atuação, além de fontes
potenciais para a transformação familiar.
Em boa parte desses serviços, os pais
agressores são também atendidos, um deles
utilizando, inclusive, a atenção oferecida
como alternativa ao aprisionamento (Deslandes
e Assis, 2003).
Brasil
No
Brasil, a história da prevenção do crime
e da violência através de ações centradas
na família é mais recente e ações que
ocorreram seqüencialmente nos Estados
Unidos ocorrem também no Brasil. A fase
do estabelecimento do conceito de violência
familiar e
da
importância da violência familiar no contexto
da violência social já teve início, mas
ainda se faz necessária, face à dimensão
continental e à diversidade de conhecimentos
nos diferentes grupos culturais.
A proliferação dos serviços e programas
já se iniciou, em diversas áreas, particularmente
nas áreas da saúde, da justiça e da comunidade,
mas ainda há muitíssimo a ser realizado,
especialmente no que se refere à integração
dos mesmos, configurando uma rede social
forte e atuante. A priorização de um contato
mais aproximado da família ainda é um
ideal, reconhecido pelos serviços e demandado
pela população, embora alguns passos já
comecem a ser dados (Deslandes e Assis
2003). Há no país, hoje, a presença de
muitos tipos de programas e ações desenvolvidas
há décadas nos países com maior grau de
desenvolvimento econômico e social. Contudo,
o escopo de atuação ainda está localizado
em cidades de maior grau de desenvolvimento,
a abrangência ainda é restrita e voltada
para pequena parcela da população de menor
poder aquisitivo, o grau de amadurecimento
ainda é muito preliminar, a avaliação
dos programas é praticamente inexistente,
e a consciência social sobre a importância
da prevenção da violência na esfera da
família ainda é insipiente. Diversos serviços
públicos de atendimento à população em
situação de elevado risco social e às
vítimas de violência utilizam o recurso
das visitas domiciliares. Entretanto,
muitas vezes, essas visitas são mais um
artifício de coleta/troca de informações
do que parte de um programa efetivamente
voltado para mudança de hábitos e comportamentos
familiares e a prevenção da violência.
Estudo que investigou as formas de atendimento
empregadas por dez serviços brasileiros
de atenção a famílias em situação de violência
(hospitalares, ambulatoriais e organizações
não-governamentais) notou que as estratégias
do atendimento domiciliar e comunitário
ainda são abordagem incipiente no país,
apesar das vantagens que oferecem, pois
permitem envolver um maior número de familiares
e conhecer o cotidiano da família, provendo
uma intervenção mais sistêmica (Deslandes
e Assis, 2003). Este estudo mostrou que,
na prática, a família é incluída a partir
da participação de poucos membros, via
de regra, a criança e sua mãe, geralmente
na própria instituição. Esse atendimento
costuma ser feito por assistente social,
acompanhado ou não de uma entrevista de
psicóloga. As visitas domiciliares são
pontuais. Há uma insuficiência marcante
do atendimento ao familiar identificado
como agressor. Apesar de sete entre os
dez serviços estudados afirmarem atendê-los,
na maioria das vezes, esses atendimentos
não se realizam (Deslandes e Assis, 2003).
Um
modelo de atendimento preventivo sobre
a família em situação de violência é o
Instituto Sedes Sapientiae (Ferrari &
Veccini, 2002), localizado na cidade de
São Paulo. Além dos atendimentos em grupo/individuais
que oferece às crianças/adolescentes,
os pais também participam de encontros
personalizados. Acolhe também os familiares
agressores. Efetua ainda visitas domiciliares,
além de desenvolver oficinas de prevenção
à violência em comunidades do Estado.
Atua ainda na área de capacitação de profissionais
para trabalharem com violência familiar.
O serviço faz um trabalho de prevenção
e integração com a comunidade, de atendimento
aos agressores e é articulado ao Sistema
de Garantias do seu município.
Poucas
instituições no país oferecem atendimento
jurídico às famílias em situação de violência.
É comum, especialmente nas unidades de
saúde, o encaminhamento para órgãos públicos
como Promotorias Públicas, Delegacias
Especializadas, Varas da Justiça, Conselhos
Tutelares ou instituições que prestam
serviço jurídico. A despeito dos vários
serviços encaminharem as famílias para
receberem esse atendimento jurídico em
outras instituições, constata-se a desarticulação
do fluxo entre as dimensões de atendimento,
responsabilização e defesa de direitos
(Deslandes & Assis, 2003). Uma experiência
de atendimento à família vem sendo oferecida
por algumas Varas da Infância e Juventude,
com projetos denominados “Escola de Pais”.
Esses programas têm finalidade educativa,
além de proporcionar apoio social a famílias
em situação de risco social. Há também
iniciativas voltadas à complementação
do cuidado dispensado por famílias
com filhos em situação de vulnerabilidade
social. As crianças/adolescentes ficam
na instituição no horário que não vão
para a aula. Destacam-se projetos que
visam a diminuir a agressividade das crianças
e adolescentes e a melhorar o seu desempenho
na escola e o seu relacionamento com a
família. Freqüentemente são associadas
ações voltadas para a profissionalização
e resgate da auto-estima familiar.
Um
exemplo de programa que acolhe a família
como mecanismo de prevenção de problemas
de socialização e envolvimento com violência
é a Casa da Árvore, que atua em cinco
diferentes comunidades de baixo poder
aquisitivo do Rio de Janeiro. Embasada
no pensamento de Françoise Dolto, a Casa
da Árvore aplica metodologia preconizada
inicialmente na França, adaptando-a à
realidade nacional. É um projeto do Instituto
de Psicologia da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro. Acolhe crianças pequenas
acompanhadas de pelo menos um dos pais,
que ficam na unidade pelo tempo que desejarem.
Promovem a integração social, auxiliam
os pais a assumirem responsabilidades
e a expressarem seus problemas, permitem
à criança uma aprendizagem adequada da
vida social. Facilita também a troca de
experiência entre mães, através de identificações,
solidariedade e construção de novos espaços
sociais. Tem íntima relação com a comunidade.
Há ainda iniciativas originadas por Varas
da Infância e Juventude voltadas para
a adoção de crianças que vivem em abrigos.
Uma outra iniciativa mais recente é a
de programas que promovem a inserção das
crianças em famílias acolhedoras/guardiãs.
Em geral, esses programas visam a: implementar
ações de orientação e intervenção técnica
junto à família de origem da criança/adolescente;
desenvolver com a família substituta/acolhedora
o acompanhamento técnico durante o processo
de acolhimento temporário; reintegrar
as crianças/adolescentes às famílias de
origem.
Nesses
modelos, as crianças costumam ser acompanhadas
na própria família oucolocadas em família
acolhedora, dependendo da necessidade.
Quando necessário, oferecem apoio financeiro
através de bolsa alimentação e/ou dinheiro.
São propostas visitas domiciliares, reuniões
socioeducativas com famílias, grupos temáticos
com famílias de origem e acolhedora, oficinas
e cursos profissionalizantes. A equipe
é composta por psicólogos e assistentes
sociais e recebe casos dos Conselhos Tutelares.
A rede de atuação também inclui o Ministério
Público (Deslandes e Assis, 2003). Um
outro modelo de serviço de atendimento
envolvido em ações preventivas é o deabrigos
para mulheres e crianças envolvidas em
situação de violência. Um exemplo é o
Projeto Rio Mulher do Centro de Artes
Calouste Gulbenkian, sob responsabilidade
da Obra Social da Cidade do Rio de Janeiro/Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Social.Hospeda,
durante quatro meses, mulheres e seus
filhos vítimas de violência doméstica,
oferecendo assistência médica, psicológica,
jurídica, além de acompanhamento escolar
para as crianças e capacitação profissional
para as mulheres, preparando-as para o
mercado de trabalho. Muitos exemplos de
abrigos com essa finalidade começam a
surgir no país nos últimos anos, alguns
deles ligados a Prefeituras Municipais
como a de Guarulhos, que implantou a Casa
das Rosas Margaridas e Beths. Por fim,
aponta-se a importância de programas sociais
governamentais que buscam dar suporte
financeiro às famílias, melhorando as
condições de existência e a inserçãoescolar
e profissional dos integrantes do núcleo
familiar (Renda Mínima; Bolsa Escola,
Primeiro Emprego, entre outros...).
As
informações apresentadas neste capítulo
apontam para o elevado número de desafios
e dificuldades que os profissionais que
atendem famílias com dinâmicas de violência
enfrentam, tanto no país como no exterior.
Dificuldades pessoais das equipes e das
famílias, dos serviços de atenção, da
rede social de apoio e da estrutura social
do país interferem na qualidade do atendimento.
Não obstante as dificuldades, a evolução
do atendimento no país é flagrante, embora
o caminho a percorrer ainda seja longo.
O conhecimento produzido no Brasil
deverá refletir cada vez mais o amadurecimento
teórico, a disseminação dos profissionais
e serviços pelas diferentes regiões do
país e a construção de uma consciência
coletiva mais cidadã, respeitosa e ciente
dos direitos da família envolvida em situações
de violência. Torna-se cada vez mais necessário
o compromisso dos setores públicos de
reconhecer a importância de programas
com estrutura para promover, a médio e
longo prazo, o acompanhamento sócio-familiar
integral (Deslandes e Assis, 2003). Apenas
dessa forma se poderá pensar em prevenção
dos crimes e da violência e promoção de
segurança para a população brasileira.
Programas
Centrados na Família
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência em desenvolvimento no Brasil
apresentados neste relatório (ver seção
7), 15 realizam ações centradas na esfera
da família. Outros 20 programas, apesar
de estarem centrados em outras áreas,
especialmente nas áreas da saúde, da justiça
e da comunidade, também desenvolvem ações
na esfera da família, procurando integrar
ações de prevenção em várias esferas.
A maioria desses programas trabalha diretamente
com o atendimento a vítimas da violência
doméstica, particularmente as crianças
e adolescentes e as mulheres, mas há também
os que trabalham principalmente sobre
os fatores de risco através da capacitação
de profissionais de diferentes áreas para
identificar e lidar com problemas de violência
familiar, especialmente violência contra
crianças e adolescentes, e do treinamento
dos pais para educação dos filhos. De
um modo geral, iniciaram-se nos últimos
anos, mas alguns já existem desde os anos
80 e início dos anos 90, como o Centro
de Atenção aos Maus Tratos na Infância
no ABCD (CRAMI) e a Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância
e Adolescência no Rio de Janeiro (ABRAPIA).
Os
programas que trabalham com a violência
praticada contra a criança e o adolescente
procuram realizar um trabalho com as vítimas
e com a família, mais especificamente
com os pais, que habitualmente são os
próprios agressores. Nesse sentido, todos
oferecem atendimento multidisciplinar
para as vítimas, e alguns para os agressores.
Alguns programas realizam visitas domiciliares.
Um deles oferece abrigo para crianças
e adolescentes em situação de risco social
e outro oferece acolhimento temporário
em outra família. Há os programas que
se voltam diretamente para o problema
da violência sexual e os que trabalham
com a violência de uma forma geral. Por
fim, pode-se dizer que a maioria realiza
capacitação profissional e algum tipo
de trabalho de prevenção primária (campanhas,
participação na elaboração de políticas
sociais, desenvolvimento de trabalhos
de divulgação e sensibilização etc.).
Todos os programas que trabalham com a
violência contra a mulher realizam atendimento
da vítima e alguns deles atendem também
os filhos, mas apenas um dos programas
que constam do levantamento atende também
o agressor. O atendimento é multidisciplinar
(social, psicológico, médico e jurídico),
às vezes individual e às vezes em grupo.
Alguns programas oferecem também capacitação
profissional para as mulheres vítimas
e casa abrigos para os casos em que é
necessário o afastamento do lar. Apenas
alguns deles realizam ações de prevenção
primária. Poucos programas no país se
dedicam a prestar atendimento ao familiar
agressor. Um exemplo é o do Núcleo
de Atenção à Violência, situado na cidade
do Rio de Janeiro. Realiza atendimento
psicanalítico individual para crianças/adolescentes,
para mães e para os autores da agressão.
Na maioria das vezes o familiar-agressor
chega encaminhado pela Justiça, mas o
atendimento só ocorre quando há adesão
voluntária do sujeito. A necessidade deste
tipo deatendimento é reconhecida, especialmente
nos casos de famílias que não conhecem
outras formas de educar crianças e se
relacionar senão através de agressões,
mas esse tipo de atendimento ainda é pouco
estudado e avaliado, mesmo em países com
mais tradição no atendimento à violência.
O abandono, nesses tipos de programa,
entretanto, costuma ser elevado. De um
modo geral, há pouco acompanhamento e
monitoramento dos resultados do trabalho
realizado. O indicador mais freqüente
é o número de atendimentos realizados
(por mês ou por ano) e o número de profissionais
capacitados, sendo que há poucos registros
concernentes à evolução do trabalho realizado
e ao cumprimento dos objetivos pretendidos.
Recomendações
Entre
as várias tendências de políticas e programas
de prevenção ao crime e à violência centrados
na família, algumas merecem ser priorizadas,
em função da importância das ações desenvolvidas
e dos resultados obtidos, mensurados através
de avaliações:
.
Programas voltados realmente para
a unidade familiar, procurando englobar
o maior número de familiares (e não apenas
a díade mãe-filho), como estratégia fundamental
para a prevenção de crimes e violências;
.
Programas que respeitem a cultura
na qual a família está inserida, que dialoguem
e negociem com a família as metas a serem
alcançadas, que permitam a integração
social da família com a comunidade e que
tratem de forma respeitosa as práticas
das famílias sobre as quais atuam; enfim,
que promovam a idéia de “empoderamento”
da família como espaço privilegiado para
a promoção de valores para a paz;
.
Programas voltados para a melhoria
do relacionamento familiar, que oferecem
orientações sobre o desenvolvimento de
crianças e adolescentes, práticas de educação
dos filhos e práticas de comunicação e
resolução de conflitos de forma não violenta,
e que estabelecem ou reforçam crenças
e atitudes favoráveis à não-violência;
.
Programas de visitas domiciliares
continuadas, que levem os serviços disponíveis
na comunidade até as família, incluindo
acompanhamento pré-natal, saúde maternoinfantil,
saúde mental, educação e emprego para
os pais, especialmente a famílias com
o primeiro filho, com crianças pequenas
e em situação de risco social, por serem
as que mais se beneficiam desse tipo de
programa;
.
Programas voltados para famílias de
um único parente, com poucos recursos
econômicos e poucos vínculos com a área/comunidade
de residência;
.
Programas voltados para famílias de
jovens em situação de risco social, a
exemplo dos adolescentes em conflito com
a lei e usuários de drogas;
.
Programas de acolhimento a famílias
em situação de violência, oferecendo apoio,
orientação e oportunidade para nova vinculação
social;
.
Programas de comunicação e informação
que ampliem o acesso de membros da família
a apoio médico, psicológico, jurídico
e social para viabilizar o rompimento
da situação de violência em que se encontram.
4.2.
Prevenção na Escola
A
violência que ocorre no âmbito da escola
tem repercussão direta na socialização
de crianças e adolescentes, uma vez que
essa instituição é, junto com a família,
diretamente responsável por esse processo,
e reconhecida como espaço de defesa de
direitos desse grupo. Neste sentido, considera-se
a escola como um dos lugares privilegiados
para a reflexão das questões que envolvem
crianças e adolescentes, pais e filhos,
educadores e educandos e as relações que
se dão na sociedade. Esse espaço, portanto,
além de proporcionar a integração social
desse grupo, é importante para discutir
a questão da violência e atuar na sua
prevenção. No entanto, a escola tem servido
como palco de violências contra crianças
e adolescentes e também como espaço para
a prática de atos infracionais cometidos
por membros deste grupo etário. A violência
na escola ocorre tanto em países periféricos
quanto nos considerados ricos. Na França,
o problema da violência na escola é discutido
por pedagogos e psicólogos desde a década
de 1970, mas ganhou importância na década
de 1990, quando passou a ser tema
de debate envolvendo governo, sociedade
e mídia (Derbarbieux 1997). A violência
nas escolas francesas é concebida como
uma forma de delinqüência e percebida
principalmente como uma ameaça que vem
de fora (por exemplo, como resultado da
concentração de imigrantes africanos na
área da escola). As principais estratégias
adotadas para solucionaro problema foi
o redirecionamento das políticas públicas
francesas, com intervenções diretasdo
Estado, tais como: colocação de professores
experientes em áreas consideradas difíceis;
formação contínua; recompensas salariais;
formação de equipes de intervenção. Outras
medidas tomadas buscavam mapear os territórios
de maior ocorrência de conflitos, instalando
observatórios, estabelecendo uma comunicação
com outros serviços, em especial, a polícia
e a justiça, acionando mecanismos
de repressão e segurança. Há pouca participação
de pais e comunidade na prevenção da violência
na escola (Derbarbieux 2001).
Os
Estados Unidos adotaram um caminho diferenciado
na prevenção de violência nas escolas,
promovendo, além das medidas de repressão
e segurança, programas comunitários de
prevenção, especialmente nos bairros com
histórias de desigualdade social e violência.
A participação dos pais na escola também
tem sido relevante nessas experiências.
As técnicas de mediação de conflitos são
estratégias de prevenção cruciais nos
Estados Unidos. Visam a ajudar os estudantes
a lidar construtivamente com os conflitos
interpessoais e a diferença cultural (Crawford
e Bodine 1996). Programas de prevenção
norte-americanos, baseados no enfoque
educativo com adolescentes, têm mostrado
bons resultados para prevenção de agressões
e brigas entre jovens na escola, para
a redução da violência juvenil, e para
o desestímulo ao uso de substâncias psico-ativas
(Sherman et al 1997). Os que se mostraram
mais efetivos são:
.
Programas direcionados a aumentar
a capacidade da escola de iniciar e sustentar
transformações, especialmente mudança
do processo de tomada de decisões. As
intervenções envolvem educadores, pais,
estudantes e membros da comunidade, engajados
em planejar e desenvolver as atividades
para melhorar o ambiente escolar. Esses
programas possuem como etapas o diagnóstico
dos problemas, a formulação de metas e
objetivos, a definição das possíveis soluções,
o monitoramento dos progressos e a avaliação
dos resultados. Também estão incluídas
atividades direcionadas a aumentar a capacidade
administrativa da escola em estimular
a comunicação e a cooperação entre os
membros da comunidade escolar. Embora
esses programas não estejam entre os mais
freqüentemente implementados, mostram
um dos melhores resultados para redução
da violência escolar e do consumo de substância
por estudantes;
.
Programas direcionados a: mudanças
de normas e reforço de comportamentos
apropriados ao espaço escolar; estabelecimento
e divulgação de regras escolares; estímulo
à comunicação na comunidade escolar, especialmente
através de campanhas contra a agressividade
entre escolares (bullying), produção
de textos, cartazes ou cerimônias com
o tema da redução da violência na escola;
.
Programas educacionais compreensivos:
tipo de intervenções que focalizam o aumento
da competência e das habilidades sociais,
o desenvolvimento de autocontrole e dos
mecanismos para lidar com estresse, a
responsabilidade na tomada de decisões,
a resolução de problemas sociais e as
habilidades de comunicação interpessoal.
É um dos programas mais freqüentemente
implementado, com bons resultados na redução
da violência escolar. Necessitam de um
tempo mais longo para que produzam resultados,
perpassando várias séries escolares. Alguns
desses programas têm como foco paralelo
a resistência ao uso de drogas ou ao convívio
com gangues juvenis.
Um
dos programas educacionais compreensivos
mais disseminados e avaliados nos= EUA
é o Life
Skill Training, voltado para incrementar
habilidades sociais e diminuir o
consumo de drogas entre os jovens. Esse
tipo de programa tem material instrucional
que acompanha a seriação escolar, um período
inicial mais intensivo e depois encontros
ao longo dos anos escolares posteriores.
Trabalha com questões como competência
emocional e social, desenvolvimento de
habilidades, autocontrole, relacionamento
interpessoal, resolução de conflitos (em
sala de aula, com colegas, pais), além
de treinamento de pais. Em relação especificamente
à prevenção do uso de substâncias, um
outro tipo de estratégia mostrou resultado
efetivo: são os programas destinados à
modificação de comportamentos e a “ensinar
a refletir”. Direcionados para jovens
de elevado risco social, são limitados
no tempo, apregoando metas e utilizando
reforços negativos ou positivos para mudar
comportamentos.
Outro
tipo de programa não mostrou resultados
estatísticos na redução da violência juvenil
e do uso de substâncias, embora tenha
mostrado resultados muito promissores.
São programas que agrupam jovens em pequenas
unidades escolares (escolas dentro das
escolas), propiciando mais interações
e suporte, bem como flexibilidade na instrução.
Entre os programas de prevenção de violência
escolar que se mostraram ineficientes
estão:
a)
aconselhamento realizado por pares;
b)
programas que apenas oferecem atividades
alternativas para jovens (lazer, por exemplo),
sem a presença de um programa de prevenção
mais
efetivo;
c)
programas instrucionais que focalizam
apenas a disseminação de informação, o
crescimento do medo e o apelo moral.
Programas
voltados apenas para a redução do consumo
de substância têm piores resultados que
os que associam o tema da redução ao consumo
de substâncias ao desenvolvimento de habilidades
individuais e relacionais (Sherman et
al 1997).
Brasil
No
Brasil, o tema da violência na escola
eclodiu no início dos anos 80, num quadro
de demanda de segurança por parte de moradores
das periferias dos centros urbanos, que
atingiu o sistema público de ensino no
Brasil. A mídia abriu espaço para denúncias
sobre os acontecimentos violentos nas
escolas situadas nas periferias urbanas
(Sposito 2001). Segundo Sposito (2001),
no início de 1980, diante do problema
da violência na escola, professores, alunos
e pais buscavam melhores condições de
funcionamento nas escolas. As respostas
a essas reivindicações, em geral foram:
policiamento nas áreas externas, zeladorias,
muros, iluminação nas áreas externas e
pátios internos, grades nas janelas, portões
altos. Não se questionavam as formas de
gestão da escola e as relações entre os
integrantes da comunidade escolar, porém
algumas iniciativas de caráter educativo
tentavam modificar a cultura escolar para
que atendesse mais às demandas dos alunos.
Na década de 90, o problema da violência
é agravado com o clima de insegurança
promovido pelo crescimento da ação do
crime organizado e do tráfico de drogas.
O tema da segurança pública e da segurança
nas escolas ganha importância no debate
público no país, ao mesmo tempo em que
arrefece a discussão sobre mudanças na
forma de gestão das escolas.
Vários
autores nacionais se dedicaram ao estudo
problema, apontando a articulação entre
a violência vivida e testemunhada no cotidiano
dos jovens com a violência na escola e
com o baixo desempenho escolar e relacional
entre os diversos atores da comunidade
educacional. São discutidas a relações
entre violência na família, no bairro
e aumento da probabilidade de fracasso
escolar e de violência praticada por jovens,
bem como a relação entre o aumento da
criminalidade e o crescimento das taxas
de violência na escola e de fracasso escolar.
Há afirmações de que as raízes da violência
na escola encontram-se na violência no
bairro, na família e em condições estruturais
como a pobreza e privação (Cardia, 1997;
Cardia, 1999; Candau et al 1999; Guimarães,
1996; Njaine e Minayo, 2003). Cardia (1999),
a partir da opinião de moradores de dez
capitais brasileiras, destaca que a violência
nas escolas brasileiras tem as mesmas
causas que a violência fora da escola:
o uso e o tráfico de drogas, formação
de gangues, porte de armas. Esses fatores
também foram identificados na pesquisa
de Njaine e Minayo (2003) acrescidos de
uma visão mais crítica sobre as relações
sociais na escola, na família e da influência
da mídia. Nessa pesquisa, alunos e professores
apontaram como causas da violência nas
escolas: (a) a agressividade dos próprios
alunos que afeta a luta pela afirmação
de sua identidade, e que não é reconhecida
pelos educadores; (b) o descaso da escola,
e a violência, sobretudo verbal, dos professores
e funcionários contra os jovens; (c) a
influência da mídia; e (d) a negligência
da família.
Um
estudo realizado sobre condições de trabalho
com 51 mil professores da rede pública
do Brasil, abordando o tema da violência
e segurança na escola, coordenado pelo
Laboratório de Psicologia do Trabalho
da UnB (Codo 1999) identificou três situações
mais freqüentes: depredações; furtos e
roubos do patrimônio; agressões físicas
entre os alunos e agressões de alunos
contra os professores. Esse estudo mostrou
que estabelecimentos com mais de 2.200
alunos são os mais suscetíveis a essas
violências, principalmente os que se encontram
nas capitais. As escolas que adotaram
medidas de segurança ostensiva não tiveram
ocorrências de roubo e/ou vandalismos
alteradas significativamente. Os maiores
índices de agressões a alunos dentro da
escola foram encontrados em Brasília (58,6%)
e os mais baixos no Estado de Goiás (8,5%)
As difíceis e por vezes tensas relações
entre os adolescentes são fonte de preocupação,
explicitadas nas humilhações, ameaças
e brincadeiras físicas que podem levar
a agressões mais graves. Muitos aspectos
negativos nas relações entre os educandos
e desses com os professores também são
evidentes. Não se consegue demarcar os
limites de manifestação para essas agressões
que podem envolver meninos, meninas, professores,
pais e mesmo galeras, com todas as possíveis
combinações entre esses atores (Njaine
e Minayo 2003). A presença de armas
de fogo e armas brancas nas
escolas também tem ocupado a pauta de
investigação. O acesso e a disponibilidade
de armas na população são citados por
vários autores e pelos próprios alunos,
revelando uma intricada rede de violência
invadindo o cotidiano dos jovens, inclusive
no espaço escolar. No ano de 2002, campanhas
contra armas de fogo foram veiculadas
na televisão. A atuação da mídia e de
movimentos sociais como “Viva Rio” propiciou
a intensificação de mensagens que apregoavam
o perigo das armas de fogo em casa e na
escola, além da discussão sobre o Estatuto
para limitar a venda de armas de fogo,
ampliando o debate público sobre o assunto.
Recentemente,
inúmeras atividades ou programas de
prevenção à violência juvenil têm
surgido no país, preocupadas em reduzir
a violência nas escolas. Ganharam força
ações públicas iniciadas timidamente nas
décadas de 1980 e 1990, oscilando entre
medidas de caráter educativo e medidas
relacionadas à área de segurança, provenientes,
sobretudo, das esferas estaduais e municipais.
São iniciativas ainda fragmentadas e descontínuas
(Gonçalves e Sposito 2002). Na esfera
do Governo Federal, a iniciativa de elaboração
de políticas públicas para a redução da
violência escolar não partiu do Ministério
da Educação, mas do Ministério da Justiça,
que incentivou uma série de ações que
foram sendo implementadas nos estados
e municípios. O Ministério da Justiça
criou, em junho de 1999, uma comissão
de especialistas para elaborar diretrizes
para o enfrentamento da violência na escola,
com a parceria de alguns institutos de
pesquisas e organizações não governamentais.
Os primeiros resultados são sintetizados
no Programa Paz nas Escolas, desenvolvido
em conjunto com o Ministério da Educação,
a partir de 2000, em 14 estados brasileiros.
A execução nos estados segue as prioridades
de cada realidade. As principais atividades
desse programa são:
(a)
campanhas visando ao desarmamento da população;
(b)
apoio na formação e treinamento integrando
jovens e policiais no ensino das técnicas
de mediação de conflitos;
(c)
ações de capacitação de educadores e policiais
em direitos humanos e ética. Gonçalves
e Sposito (2002) ressaltam que essas
iniciativas são muito recentes e que demandam
uma avaliação que possa aferir seu grau
de impacto e sua intervenção na vida escolar,
considerando a magnitude do país e de
sua rede pública. Uma análise das experiências
de programas de redução da violência na
escola nas cidades de São Paulo, Porto
Alegre e Belo Horizonte, constatou que:
(a) as ações centradas somente no policiamento
das escolas não são suficientes;
(d)
as medidas de controle e vigilância, como
detectores de metais na porta das escolas,
câmaras instaladas no interior da escola
e exames para identificar o uso de drogas
possuem um caráter restritivo;
(e)
a intensificação do medo pela mídia
contribui para a construção de uma imagem
estigmatizada de crianças e jovens que
moram em bairros periféricos e freqüentam
escolas públicas;
(f)
a abertura da escola à comunidade não
garante uma mudança dos padrões de relação
no ambiente escolar, pois depende da mobilização
das unidades escolares, embora alguns
casos demonstrem o potencial dessa ação;
(g)
as ações de prevenção pautadas na concepção
do jovem como “problema social” que deve
ser afastado do crime e da delinqüência,
podem ocultar o autoritarismo vigente
nas instituições escolares e a pouca capacidade
de lidar com os conflitos que se apresentam
nesse meio (Gonçalves e Sposito 2002).
No
caso das cidades de São Paulo e Belo Horizonte,
as medidas de abrir a escola à comunidade
ajudaram na redução da violência escolar.
Contudo, os autores do estudo concluem
que manter os portões abertos à comunidade
não significa, necessariamente, alterações
nos padrões de relacionamento escolar.
O sucesso das iniciativas baseadas na
proposta de uma gestão democrática, envolvendo
pais, alunos e moradores, depende da escola
já estar mobilizada em torno de projetos
similares. O principal benefício para
os grupos envolvidos nesses programas
é permitir a organização e desenvolvimento
de habilidades como música, grafite e
teatro. Gonçalves e Sposito (2002) mostram
que muitos educadores têm mobilizado seus
alunos para participar de projetos de
redução da violência, sensibilizados com
a situação de vida de muitos desses jovens
e com as dificuldades que enfrentam no
seu cotidiano. Entretanto, os autores
ressaltam que os educadores podem ser
influenciados por uma idéia bastante recorrente
no debate público, que vê os jovens como
um “problema social” e, como tal, devem
ser alvos de ações reparadoras por parte
do mundo adulto. Dizem que no quadro mais
comum dessas percepções pode estar se
buscando práticas preventivas que supostamente
colaborariam para afastar esses jovens
da infração.
O
Programa da Unesco Escolas de Paz é
um dos exemplos recentemente implementados.
Atua na prevenção primária, oferecendo
a jovens de escolas situadas em regiões
de elevada vulnerabilidade social, em
vários estados do país, oportunidades
de acesso à cultura, esporte, arte e lazer,
utilizando como estratégia a abertura
de escolas nos finais de semana, buscando
congregar escola, comunidade e família,
e estimular uma cultura de paz (Abramovay
2001). Trabalho da Unesco com escolas
brasileiras inovadoras em vários estados
mostrou como importante: o “bom clima”
na escola, enfatizando uma boa capacidade
relacional entre os componentes da comunidade
escolar; uma gestão inovadora, aberta
e flexível a mudanças; a valorização de
todos os componentes da comunidade escolar;
o exercício do diálogo; o trabalho coletivo;
a participação da família e da comunidade
nas atividades escolares; a ressignificação
do espaço físico da escola; o incremento
da sociabilidade e a construção do sentido
de pertencimento (Abramovay 2003).,
Entre
as várias tendências de políticas e programas
de prevenção ao crime e à violência centrados
na escola, algumas merecem ser priorizadas,
em função da importância das ações desenvolvidas
e dos resultados obtidos, especialmente
daqueles mensurados através de avaliações.
.
Programas direcionados a aumentar
a capacidade da escola de se abrir à sociedade,
iniciar e sustentar transformações na
escola e na comunidade em que a escola
está inserida. Escolas “inovadoras”, flexíveis
e comprometidas com uma gestão participativa
são cruciais não apenas para a redução
da violência escolar, mas também para
o bom rendimento acadêmico e crescimento
moral dos adolescentes;
.
Programas que envolvam a família e
a comunidade de forma participativa na
gestão escolar;
.
Programas direcionados à melhoria
de relacionamento entre alunos tendo como
base a ética e a cidadania, fundamentados
em aprendizado de limites, resolução de
conflitos, aumento da competência escolar
e social e modificação de comportamentos;
.
Programas que valorizem e capacitem
os educadores para a prevenção da violência
na escola;
.
Programas de apoio à educação pré-escolar.
Programas
centrados na Escola
Dos
109 programas de prevenção em desenvolvimento
no Brasil apresentados neste relatório
(ver seção 7), treze estão centrados na
escola. Outros dezoito programas, apesar
de estarem centrados em outras áreas (especialmente
na comunidade), também desenvolvem intervenções
relacionadas com o espaço escolar, de
forma integrada, visando à prevenção do
crime e da violência na sociedade, especialmente
entre os jovens.
Cerca
de metade dos programas direcionados para
as escolas trabalham com o oferecimento
de atividades extracurriculares. Alguns
trabalham com a democratização do espaço
escolar e o estímulo ao protagonismo juvenil.
Além disso, há também exemplos de programas
de conscientização sobre as drogas, de
capacitação de professores, de estímulo
à educação artística e de inclusão dos
portadores de necessidades especiais na
comunidade escolar. Com exceção do programa
Iniciação Artística em Linguagem Cênica,
que vem sendo implementado desde janeiro
de 1991, em Belém do Pará, todos os outros
programas se iniciaram recentemente, sendo
a maioria datada dos últimos três anos.
Os
programas que trabalham o oferecimento
de atividades extracurriculares aos jovens
têm como preocupação central a ausência
de atividades disponíveis nos períodos
não escolares e a falta de abertura e
de identificação das escolas com as comunidades.
Os programas variam em relação à época
dessa abertura: alguns funcionam nos períodos
de férias escolares, outros nos horários
vagos dos períodos de aula e outros ainda
nos fins de semana. Oferecem aos jovens
possibilidades de acesso a diferentes
atividades: recreativas, esportivas, artísticas,
culturais, escolares, profissionalizantes
etc. Alguns programas funcionam não somente
para os jovens, mas para toda a comunidade,
especialmente aqueles que propõem a abertura
do espaço escolar nos fins de semana.
São
diversos os tipos de programas voltados
para a democratização do espaço escolar
e o estímulo ao protagonismo juvenil.
Entre eles, podemos identificar, por exemplo,
o programa Paz nas Escolas (implementado
em 2002 e 2003 em São Bernardo do Campo
–SP), que se desenvolveu no espaço escolar
e trabalhou com a comunidade local a reflexão,
criação e execução de projetos de intervenção
visando à promoção da paz e à prevenção
da violência. Há também programas de estímulo
à criação de grêmios escolares e programas
de formação de rádios comunitárias.
De
um modo geral, há pouco acompanhamento
e monitoramento dos resultados do trabalho
realizado. Os indicadores mais freqüentes
são o número de participantes e de escolas
que desenvolvem os programas, sendo que
há poucos registros sobre a evolução do
trabalho realizado e o reflexo desses
programas na prevenção da violência.
4.3.
A Prevenção no Trabalho
Há
diversos estudos e pesquisas sobre as
relações entre oportunidades de trabalho/
emprego e o crime e a violência, que deixam
claro que não há uma relação direta e
automática entre eles (Sherman et al 1997).
Estudos e pesquisas nos Estados Unidos
não têm mostrado uma relação forte entre
oportunidades de emprego/trabalho e o
crime e a violência em nível nacional.
Mas têm mostrado a existência desta relação
no nível de estados, cidades, bairros
e indivíduos. Segundo diversos estudos,
a falta de oportunidades de emprego/trabalho
aumenta o risco de envolvimento dos indivíduos
em crimes e violências e o risco de crimes
e violências na comunidade. Mas isso não
significa que a ausência de oportunidades
de trabalho/emprego implique necessariamente
o envolvimento na prática de crimes ou
o aumento da, criminalidade e da violência
na comunidade. Bushway and Reuter (1997)
resumem quatro teorias principais sobre
estas relações:
a)
teoria da escolha racional, segundo a
qual os indivíduos escolhem entre meios
legais/ legítimos e ilegais/ilegítimos
de trabalho dependendo do custo-benefício
das duas opções, e a ausência de oportunidades
de emprego/trabalho e/ou de qualificações
para os empregos/trabalhos legais/legítimos
aumenta as chances da opção por trabalhos
ile-gais/ ilegítimos;
b)
teoria do controle social, segundo a qual
a falta de emprego/trabalho diminui os
vínculos dos indivíduos com a família
e a comunidade e aumenta o risco de envolvimento
em crimes e violências;
c)
teoria da anomia, segundo a qual a falta
de emprego/trabalho gera desigualdade
e outros problemas que aumentam o sentimento
de frustração, de privação, de injustiça,
e o risco de envolvimento em crimes e
violências; e
d)
teoria da rotulagem, segundo a qual a
rotulagem ou estigmatização de comunidade,
por qualquer motivo, mas particularmente
por ter alta incidência de crimes e violências,
diminui os investimentos e as oportunidades
de emprego/trabalho e aumenta o risco
de envolvimento dos membros da comunidade
com o crime e a violência.
Estas
teorias motivaram o desenvolvimento de
dois tipos de programas de prevenção do
crime e da violência através do trabalho
(Bushway and Reuter, 1997):
a)
programas que visam a aumentar a qualificação
profissional das pessoas através de educação
ou capacitação profissional, direcionados
principalmente a grupos em situação de
risco de desemprego, particularmente os
jovens, os adultos que já receberam penas,
e os adolescentes que já receberam medidas
sócio-educativas pela prática de atos
infracionais;
b)
programas que visam a aumentar as oportunidades
de emprego/trabalho, direcionados principalmente
a comunidades com poucas oportunidades
de emprego/trabalho. Programas para aumentar
a qualificação profissional dos jovens
incluem:
a)
programas de estágios em organizações
públicas e privadas;
b)
programas de primeiro emprego para jovens
recém-saídos da escola;
c)
programas de longa duração (um ano), que
oferecem residência, educação, capacitação
profissional e serviços de apoio para
jovens em situação de risco. Estes programas
não são geralmente avaliados pelo seu
impacto sobre o crime e a violência. Mas
os estudos disponíveis sugerem que os
programas de estágios, de curta duração,
são relativamente baratos, mas não ajudam
a prevenir o crime e a violência. Os programas
de longa duração, mais intensivos, são
mais caros, mas têm maior probabilidade
de contribuir para a prevenção do crime
e da violência.
Programas
para aumentar a qualificação profissional
de adultos que receberam penas e adolescentes
que receberam medidas socioeducativas
podem ser desenvolvidos dentro ou fora
de estabelecimentos prisionais ou de internação.
Normalmente, programas para adolescentes
enfatizam mais a educação e qualificação
profissional do adolescente. Programas
para adultos enfatizam mais o acesso a
oportunidades de emprego/trabalho. Programas
voltados para a reintegração profissional
de adultos que já cumpriram penas apresentam
melhores resultados do ponto de vista
de redução do envolvimento com crimes
e violências. Programas voltados para
adultos cumprindo pena também apresentam
resultados positivos. Mas estes programas
têm pouco impacto na redução do crime
e da violência na sociedade, se os crimes
e violências são praticados por jovens
e adultos que não passaram pelo sistema
de justiça criminal. Programas voltados
para adolescentes que receberam medidas
sócio-educativas não apresentaram resultados
satisfatórios, possivelmentedevido a problemas
de concepção e dificuldades de implementação.
Programas
para aumentar as oportunidades de emprego/trabalho
de comunidades e grupos incluem:
a)
incentivos para contratação de pessoas
de grupos em situação de risco;
b)
incentivos para desenvolvimento econômico
para comunidades em situação de risco;
c)
apoio para desenvolvimento de pequenas
e médias empresas em comunidades em situação
de risco.
Estes
programas ainda não foram suficientemente
avaliados. Segundo Bushway and Reuter
(1997), os efeitos limitados de programas
de prevenção do crime e da violência na
esfera do trabalho podem ser atribuídos
à falta de integração de programas voltados
para aumentar a educação e qualificação
profissional de indivíduos em situação
de risco e programas voltados para ampliação
das oportunidades de traba-lho/ emprego
em comunidades e grupos em situação de
risco. Além disso, programas na esfera
do trabalho freqüentemente não têm por
objetivo a redução do crime e da violência
e não estão associados a programas voltados
para redução do crime e da violência.
O desenvolvimento destes programas é dificultado
pela estigmatização das comunidades e
grupos a que os programas se destinam
e dependem, para seu sucesso, da sua integração
em programas compreensivos de prevenção
do crime e da violência capazes de reduzir
a estigmatização destas comunidades e
grupos.
Programas
Centrados no Trabalho
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência desenvolvidos no Brasil apresentados
neste relatório (ver anexo), dezesseis
estão centrados na área do trabalho e
renda. Outros quinze programas, apesar
de estarem mais diretamente voltados para
outras áreas (especialmente justiça e
comunidade), também desenvolvem ações
na esfera do trabalho. Muitos programas
voltados para adolescentes em cumprimento
da medida socioeducativa e mulheres vítimas
de violência desenvolvem atividades de
capacitação e inserção profissional, visando
a ampliar as oportunidades de trabalho
e renda destes grupos. Cerca de metade
dos programas direcionados para trabalho
e renda é voltada para os jovens. Alguns
atuam no combate ao trabalho infantil.
Há exemplos de iniciativas voltadas para
o acesso ao micro-crédito, para as pessoas
com mais de 40 anos e para os trabalhadores
ambulantes. Nem todos os programas apresentam
como objetivo a redução da violência,
mas sim de fatores de risco como o desemprego
e exclusão social. Todos os programas
são recentes, sendo a maioria datada de
2001 e os mais antigos de 1998.
Os
programas que estão voltados para os jovens
demonstram todos a preocupação com a dificuldade
de inserção dos jovens entre 16 e 21 anos
no mercado de trabalho. Oferecem oficinas
e cursos de capacitação profissional e
oportunidades de estágios e trabalhos
em empresas privadas e no serviço público.
Alguns programas também oferecem bolsa
para os participantes, muitas vezes condicionada
à permanência na escola ou participação
em atividades comunitárias.
Os
programas voltados para o combate ao trabalho
infantil desenvolvem ações de complementação
de renda e geração de trabalho para as
famílias, de forma a substituir a renda
proveniente dos trabalhos das crianças.
Há o estímulo para que as crianças permaneçam
nas escolas e creches e não voltem ao
mercado de trabalho. Também são desenvolvidas
ações no sentido de mapear o trabalho
infantil e desenvolver trabalhos mais
amplos visando à superação da situação
de miséria das famílias.
De
um modo geral, há poucas informações sobre
o reflexo desses programas na prevenção
da violência. O indicador mais freqüente
é o número de pessoas atendidas pelos
programas, mas há alguns que demonstram
também indicadores relativos à inserção
no mercado de trabalho. Uma exceção à
regra é percebida nos programas que fazem
parte da estratégia de combate à exclusão
na Cidade de São Paulo (Renda Mínima,
Bolsa Trabalho e Começar de Novo), que
apresentam indicadores de diminuição do
desemprego, aumento do comércio local
e redução da violência nos distritos nos
quais foram implementados.
Recomendações
.
Programas voltados para ampliação
da qualificação profissional e do acesso
a oportunidades de emprego, direcionados
particularmente a membros de grupos em
situação de risco de desemprego:
.
Inclui programas de estágio, primeiro
emprego, mudança de emprego, cursos de
curta e longa duração;
.
Inclui programas direcionados para jovens,
adolescentes em medida sócioeducativa,
e para adultos cumprindo pena.
.
Programas voltados para ampliação
das oportunidades de emprego e trabalho,
direcionados particularmente a comunidades
e grupos com poucas oportunidades de emprego
e trabalho:
.
Inclui programas de incentivo ao desenvolvimento
econômico, desenvolvimento de pequenas
e médias empresas e cooperativas, e contratação
de profissionais.
.
Programas que integrem os dois tipos
de programas mencionados acima, a fim
de aproximar as oportunidades de emprego
e trabalho e as pessoas e grupos que necessitam
de emprego e trabalho.
4.4.
A Prevenção na Mídia
A
exposição ao crime, à violência e à discriminação
através da mídia é um fator que vem chamando
a atenção de estudiosos e pesquisadores,
na medida em que pode reforçar ou atenuar
os efeitos desta exposição na esfera da
família, da escola, do trabalho e da comunidade,
e também pode reforçar ou atenuar o impacto
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência.
No
Brasil, ainda são incipientes os estudos
sobre a violência na mídia. Contudo, em
outros países, muito se tem pesquisado
e divulgado a respeito da influência dos
meios de comunicação sobre a agressividade
das crianças e adolescentes. Os resultados
não são conclusivos, mas pesquisadores
têm encontrado relação entre meios de
comunicação que privilegiam a violência
como tema e a agressividade humana (Cardia
1995). Programas de prevenção que enfocam
o treinamento de pais para modificar o
hábito de seus filhos assistirem televisão
não mostram resultados adequados. Outros
que visaram dar à criança noções sobre
a importância do que se assiste e suas
conseqüências, dando-lhes liberdade de
decisão, parecem surtir melhor efeito
(Heath et al 1989).
Revisando
mais de 1.000 estudos produzidos nos Estados
Unidos, Strasburger (1999) constata que
a violência na mídia, mesmo que secundariamente,
é uma das causas da violência na sociedade
norte-americana. As conclusões desses
estudos demonstram que a violência na
mídia pode: a) facilitar o comportamento
agressivo e anti-social em indivíduos
suscetíveis, demandando pesquisas sobre
esses perfis; b) dessensibilizar o espectador
para a violência na vida real, tornando
as pessoas mais indiferentes ao sofrimento
alheio e menos aptas a intervirem em situações
de conflito; c) aumentar reações de medo
e concepções tendenciosas sobre a realidade.
Em
1993, a Associação Norte-americana de
Psicologia publicou o Relatório “Juventude
e Violência”, enumerando alguns dos
principais fatores sócio-culturais relacionados
a essa questão e destacou a importância
da intervenção e da prevenção da violência
na mídia, por parte dos profissionais
de educação e saúde. A partir de um complexo
retrato da juventude norte-americana,
incluindo afro-americanos, asiáticos e
latino-americanos, o documento apontou
a violência na mídia como um dos fatores
responsáveis pelo incremento da violência
na sociedade, tanto no que se refere à
perpetração de atos que afetam a integridade
do outro, quanto na vitimização desse
grupo etário. Em síntese, o Relatório
destacou que, ao longo do tempo, a incorporação
de hábitos agressivos serve como base
para comportamentos agressivos futuros
e concluiu que a exposição excessiva à
violência na televisão pode:
a)
contribuir para atitudes violentas contra
mulheres (quando representadas em papéis
de vítimas) e contra minorias étnicas
(quando representados como grupos agressivos);
b)
impulsionar os jovens para atitudes consumistas,
fazendo inclusive uso da violência para
obter produtos que a propaganda apresenta.
No
Canadá, o National Clearinghouse on
Family Violence divulgou, em 1994,
um documento sobre os efeitos da violência
na mídia sobre as crianças, enfatizando
o papel dos pais na mediação da relação
televisão e público infantil. Algumas
das recomendações desse documento são:
a criação de rotinas, pelas quais as crianças
devem realizar outras atividades, limitando
o tempo frente à tv; a adequação de uma
abordagem sobre a convivência com a tv
à idade da criança e o diálogo sobre os
valores positivos para um ambiente não
agressivo.
O
Guia Médico para a Violência na Mídia,
da Associação Médica Americana (1996),
é uma das principais publicações que vem
orientando os profissionais de diversos
países sobre os possíveis efeitos causados
pelo excesso de exposição à mídia. Esse
guia relaciona os efeitos bio-psico-sociais
e recomenda a médicos e pais medidas específicas
para prevenir os efeitos nocivos da violência
na mídia, tais como: controle do tempo
de exposição frente à tv; estímulo à prática
de outras atividades, principalmente físicas
etc. A Academia Americana de Pediatria
sugere as seguintes orientações a seus
membros: desestímulo à noção autoritária
de proibição de programas; implantação
de uma agenda pró-criança nos meios de
comunicação, indicando temas e reduzindo
o excesso de violência; orientação de
pais e familiares sobre a questão; atuação
sobre os meios de comunicação visando
ao bem-estar da criança e divulgação do
potencial positivo dos meios de comunicação
(Charren et al 1994).
Em
recente publicação, a Academia Americana
de Pediatria recomenda uma série de medidas
a serem tomadas por profissionais de saúde,
pais, escola, comunidade, governo e os
próprios meios de comunicação, de forma
a intervir nos níveis de violência na
televisão, nos videogames, nos filmes,
na mídia impressa e nos clipes musicais.
A Equipe de Recursos da Mídia da Academia
Americana de Pediatria trabalha com a
indústria de entretenimento no sentido
de analisar roteiros e questões sobre
a adequação do material a ser veiculado
para crianças. Essa entidade desenvolveu
tecnologias como os softwares Babá da
Net, Patrulha Cibernética e Observador
do Surfe a fim de evitar que determinados
materiais sejam acessados via computador.
Essa abordagem tem restrições, pois necessita
de habilidade dos pais para o uso desses
softwares, e não há um controle sobre
outras ofertas on-line que burlam essas
restrições. A Academia tem um papel importante
na pressão aos meios de comunicação e
recomenda, sobretudo, a parceria dos pediatras
com profissionais de demais entidades
de diversas áreas para a elaboração de
uma agenda da saúde pública com relação
à violência na mídia (American Academy
of Pediatrics 2001). Na América Latina
e Brasil, as pesquisas realizadas sobre
violência na mídia são extremamente escassas.
Há um reconhecimento por parte dos pesquisadores
de que não é possível generalizar para
os países latino-americanos os resultados
das pesquisas realizadas em outras culturas.
Cada sociedade possui realidades específicas
que determinam os modos de produção, circulação
e consumo dos produtos midíáticos, mesmo
considerando a questão da globalização
que faz com que os processos tecnológicos
e a realidade virtual transponham essas
fronteiras.
Merlo-Flores
(1999), investigando a questão na Argentina,
na década de 80, constatou que as crianças
se relacionam umas com as outras utilizando
elementos da televisão, e que um desses
elementos mais freqüentes é a agressão.
Para essa autora, a agressão se tornou
um novo “código de comunicação”, sobretudo
para as pessoas mais jovens. No entanto,
essa pesquisadora questiona se esse fator
torna as crianças necessariamente agressivas
no sentido patológico.
No
Brasil, pesquisa recente do UNICEF com
5.280 adolescentes revela que 52% desse
grupo etário têm na televisão a maior
fonte de lazer. Cerca de 70% consideram
a programação da tv “muito boa” (UNICEF/Fator
OM, 2002). Enfatizar os aspectos positivos
da mídia, assim como o compromisso de
uma parte dos profissionais da área de
comunicação com a qualidade da programação
tem sido também um esforço em âmbito mundial.
A televisão estatal brasileira, TV Cultura,
é um exemplo pela alta qualidade de sua
programação e acumula prêmios por preservar
essa qualidade.
Pesquisa
financiada pela UNESCO, em 1998, realizada
em 23 países, incluindo o Brasil, com
5.000 crianças de 12 anos de idade, procurou
investigar através de questionários como
essas crianças percebem a violência na
TV. O estudo mostrou que a televisão é
um meio presente em todas as áreas pesquisadas,
e que as crianças passam mais tempo em
frente à TV (uma média de 3 horas) do
que com qualquer outro meio de comunicação
(rádio ou livros), ou com qualquer outra
atividade, inclusive lição de casa. O
estudo aponta a atração das crianças pela
violência, que está relacionada, de certa
forma, ao modo como os heróis da ficção
(principalmente dos países ocidentais)
são recompensados por suas ações. Desse
modo, a violência na mídia pode servir
como modelo para a solução dos problemas
na vida real. Essa pesquisa adverte, no
entanto, que é preciso investigar outros
fatores, como o impacto da personalidade
da criança, seu ambiente real, experiência
com agressão, circunstâncias familiares
e contexto cultural (Groebel, 1999).
Legislação
e Regulamentação
Os
meios de comunicação são uma das principais
fontes de informações sobre crimes e violências
e cumprem um papel de informar, denunciar
e, muitas vezes, investigar crime e violências.
Para além dessas funções, mais recentemente,
a mídia tem ampliado suas atividades sociais
cumprindo um papel de:
(a)
apoiar as campanhas institucionais com
mensagens preventivas;
(b)
acolher os movimentos sociais de vítimas
de violência;
(c)
incorporar essa temática através do marketing
social nas novelas, trazendo para o público
o debate sobre as formas diversas de violência
que afetam a nossa sociedade.
Entretanto,
alguns programas funcionam também como
produtores de violências, veiculando conteúdos
violentos na programação de entretenimento,
estereótipos de determinados grupos sociais
como mulheres, negros e homossexuais,
inclusive dos criminosos e dos policiais,
que contribuem com concepções distorcidas
a respeito do crime e da violência. A
despeito de suas possibilidades de assumir
uma função pedagógica e preventiva com
relação à violência, quando se voltam
para uma ação educativa, os meios de comunicação,
inversamente, podem difundir uma cultura
de violência e contribuir para o aumento
de comportamentos anti-sociais e violentos,
principalmente no grupo de crianças e
adolescentes. É inegável a condição estratégica
da mídia e da cultura na prevenção do
crime e da violência, tanto como espaços
que ampliam as vozes da sociedade, quanto
na circulação de mensagens orientadas
para a valorização da vida e eliminação
das formas de violência. Legislações e
regulamentações voluntárias com o intuito
de estabelecer limites à ação da mídia
estão sendo discutidas em muitos países
atualmente. A Austrália é um dos países
mais atuantes nesse sentido. Desenvolve
pesquisas sobre o assunto desde a década
de 1970 e, para garantir um controle maior
sobre os meios de comunicação, promove
leis, regulamentos, auto-regulamentação
das mídias e uma participação ampla da
comunidade. Países da União Européia procuram
regulamentar as mídias controlando programas,
imagens ou cenas que incitem o ódio, a
discriminação, a violência, a obscenidade
e a pornografia infantil. Nos Estados
Unidos não há regulamentação para cenas
violentas e um dos controles sobre a programação,
exercido pelos pais, é através do uso
da tecnologia V-chip12, implantada
nos aparelhos de TV.
A
Convenção da ONU sobre os Direitos da
Criança, adotada em 1989, reúne um conjunto
de princípios em seu Artigo 17, que estabelece
o direito da criança à informação e acesso
às fontes, e aborda a necessidade de
“encorajar o desenvolvimento de orientações
apropriadas para proteger a criança de
informações e materiais prejudiciais ao
seu bem-estar”. A década de 90 marca
a mobilização de muitos países, a maioria
com o apoio dos órgãos das Nações Unidas,
em torno da problemática do crescimento
da violência na mídia. Em 1997 foi criada
a Câmara Internacional da UNESCO para
Crianças e a Violência na Tela ligada
ao Centro de Informação Nórdica para a
Pesquisa sobre Mídia e Comunicação (Nordicom),
e financiada em conjunto pelo governo
sueco e pela UNESCO. Essa Câmara tomou
como base a Convenção da ONU para os Direitos
da Criança. A partir daí, reuniu um conjunto
de pesquisas realizadas em diversos países
do mundo sobre o tema, produzidas principalmente
em países com amplo acesso à mídia, como
os Estados Unidos, Canadá, países da Europa
Ocidental, Japão e Austrália. O resultado
das pesquisas, apesar das diversidades
socioculturais desses países, aponta a
mídia como parte importante da vida social
alertando que, mesmo que não seja o único
meio que influencia na violência, exerce
uma participação significativa quando
associada principalmente a outros fatores
ambientais e individuais.
Também
foi criado na década de 90 um Conselho
Mundial para a Educação em Mídia com o
apoio da UNESCO. Quatro países lideram
esse Conselho: Austrália, África do Sul,
Canadá e Grã-Bretanha. Essa educação voltada
para a mídia também faz parte dos currículos
escolares de países como a Finlândia,
Suécia, França, Noruega e Dinamarca, desde
a década de 70. A educação para a mídia
é tida pela maioria desses países como
uma solução para crianças e jovens aprenderem
a lidar de modo reflexivo com os meios
de comunicação (von Feilitzen 2002).
Brasil
No
Brasil, tem sido escassa a iniciativa
do poder público na reflexão e responsabilização
social dos meios de comunicação no que
se refere à exposição de crianças e adolescentes
às imagens e conteúdos violentos veiculados,
sobretudo, pela televisão. O Plano Nacional
de Direitos Humanos, instituído pelo decreto
1.904 de maio de 1996 e atualizado por
meio do decreto 4.229 de maio de 2002,
contém, no capítulo sobre a garantia do
direito à liberdade, uma série de recomendações
referentes à regulamentação da programação
televisiva e radiofônica. O Plano prevê,
por exemplo, a criação de um sistema de
avaliação permanente sobre os critérios
de classificação indicativa e faixa etária
e o mapeamento de programas televisivos
e radiofônicos que estimulem a apologia
ao crime, à violência, à tortura, ao racismo
e a outras formas de discriminação, à
ação de grupos de extermínio e à pena
de morte, para identificar os responsáveis
e adotar as medidas legais pertinentes.
Em
1997, o Governo do Estado do Rio Grande
do Sul instituiu, a partir do Decreto
nº 37.730, o Comitê de Estudos da Violência
com representantes do Governo do Estado,
da sociedade civil, Secretaria de Justiça
e Segurança. O objetivo do Comitê foi
o de estabelecer medidas legislativas
e buscar alternativas para a violência,
através da atuação do Estado, da
sociedade civil e das entidades não governamentais.
O Comitê de Estudos da Violência organizou
uma comissão para trabalhar a violência
na mídia. Um dos primeiros trabalhos dessa
comissão foi a consolidação dos resultados
de um pesquisa sobre valores sociais e
meios de comunicação, a pedido do Ministério
da Justiça e da Unesco, e a tradução do
Guia Médico sobre Violência na Mídia,
autorizada pela Associação Médica Americana.
Algumas ONGs, como TVBem, Tver e Agência
Nacional dos Direitos da Infância (ANDI),
têm procurado influenciar a legislação
brasileira no sentido de regulamentar
a programação, analisar o seu conteúdo,
e levar os principais temas da infância
e adolescência brasileiras para as pautas
das diversas mídias.
A
Agência Nacional dos Direitos da Infância
(ANDI), organização não-governamental
criada em 1992, desempenha um papel de
destaque, promovendo junto aos meios de
comunicação a inserção de temas relevantes
para a promoção e defesa dos direitos
da criança e do adolescente no país. Essa
agência analisa a cobertura da mídia sobre
a infância e adolescência e verifica como
os temas são inseridos, apontando a prioridade
e a relevância de determinados temas sociais.
Em março de 2000 foi criada a Rede ANDI
Brasil, uma parceria de organismos de
comunicação. Essa relevante iniciativa
busca investir na formação de uma cultura
jornalística que priorize as questões
dos direitos da infância e adolescência
brasileiras. A Rede ANDI abrange as cinco
regiões do país e produz boletins semanais,
clippings, pesquisas locais, além
de disponibilizar on-line um banco
de projetos sociais. Outras organizações
não governamentais vêm realizando um monitoramento
da mídia brasileira. O Tver é uma entidade
criada em 1998 e analisa as conseqüências
e responsabilidades da televisão com relação
à criança (www.tver.com.br). É um grupo
constituído por psicanalistas, psicólogos,
educadores, jornalistas e advogados. O
TV Bem é um Instituto de Defesa do Telespectador,
criado em 1999 com o objetivo de mobilizar
a sociedade para a reflexão e análise
da responsabilidade social e pública da
televisão brasileira. Não se tem uma avaliação
mais aprofundada sobre essas iniciativas
no sentido de aferir o real impacto de
sua atuação na prevenção da violência
na mídia.
As
TVs Comunitárias também têm contribuído
para dar visibilidade à realidade das
comunidades, produzindo sua própria programação
utilizando linguagens locais para abordar
problemas locais. A Sociedade Brasileira
de Pediatria divulgou em 2001 o documento
Promoção de Segurança da Criança e
do Adolescente frente à Mídia (TV, Internet).
Nesse texto, recomenda aos pais que estejam
atentos em relação aos hábitos de seus
filhos de assistir TV e usar a internet,
buscando limitar o tempo frente a esses
meios, estimular outras atividades de
lazer, conhecer os programas a que os
filhos assistem e ajudar a compreender
o conteúdo que é veiculado (Doria Filho,
2001). No entanto, essa iniciativa não
foi amplamente disseminada, de forma a
se tornar uma prática incorporada na rotina
de médicos e demais profissionais de saúde.
Em 2001 foi elaborado pelo Consórcio Universitário
pelos Direitos Humanos em parceria com
a Fundação Friedrich Ebert e com apoio
da Secretaria de Estado de Direitos Humanos,
UNESCO e ILANUD o Manual de Mídia e
Direitos Humanos, com o objetivo de
ser um guia prático para consulta de fontes
e textos reflexivos sobre a relação entre
direitos humanos e mídia. Em 2003, foi
publicado o Guia de Direitos Humanos
– Fontes para jornalistas, elaborado
pela Conectas em parceria com a ANDI e
apoio da Secretaria de Estado de Direitos
Humanos, UNESCO e Fundação Ford, com noções
gerais, áreas temáticas, fichas sobre
instituições de direitos humanos, textos
relevantes, dicas, calendário e glossário
para subsidiar jornalistas e outros interessados.
Reato
(2001) e Yunes (2001) destacam que, do
ponto da vista da saúde pública e da epidemiologia,
a programação violenta nos meios de comunicação
é considerada como um fator de risco.
Esses pesquisadores propõem a mediação
de pais, profissionais de saúde e educação
para promoverem orientação e prevenção.
Programas
Centrados na Mídia
Das
iniciativas voltadas à prevenção do crime
e da violência na mídia, existem algumas
que incentivam a comunicação ética e respeitadora
dos direitos humanos, realizando o monitoramento
dos conteúdos divulgados, em especial
daqueles que possam ter impacto sobre
crianças e adolescentes. Nessa linha,
há produção de conteúdo jornalístico adequado,
compartilhado por meio de rede de organizações
para a divulgação de informações positivas
e corretas sobre os direitos da criança
e do adolescente. A Agência Nacional dos
Direitos da Infância (ANDI), por exemplo,
criou em 2000 a Rede ANDI Brasil, uma
articulação de órgãos de comunicação voltados
para o estímulo a uma cultura jornalística
que priorize esses direitos.
Em
alguns dos programas levantados nas esferas
da escola e da comunidade há ações diretamente
relacionadas à comunicação, como a produção
de jornais e revistas comunitárias por
jovens envolvidos com projetos nas suas
comunidades e a implantação da educomunicação
em escolas, envolvendo alunos e professores
na utilização de novas tecnologias para
promover formas de comunicação alternativas,
como rádios comunitárias dentro das escolas.
Esses programas não têm uma relação direta
com o conteúdo divulgado pela mídia escrita
e televisiva, mas conscientizam sobre
a importância da comunicação e capacitam
jovens e adultos para comunicar.
Recomendações
.
Programas voltados para divulgação
de leis e políticas de proteção e promoção
dos direitos humanos, e o monitoramento
do cumprimento dessas leis e políticas
pelos meios de comunicação, em parceria
com outros setores da sociedade;
.
Programas voltados para ampliação
da discussão das causas da criminalidade
e da violência, fatores de risco e de
proteção na esfera individual, dos grupos
mais próximos, da comunidade e da sociedade,
e das políticas, programas e ações de
prevenção do crime e da violência em desenvolvimento
no país;
.
Inclui programas voltados para ampliação
da discussão sobre o papel das armas de
fogo no aumento da incidência e impacto
de crimes e violências, e das medidas
necessárias para limitar e controlar o
porte e a comercialização de armas de
fogo.
.
Programas voltados para ampliação
do intercâmbio de informações entre profissionais
de diversas disciplinas e áreas de atuação,
de forma a ampliar a compreensão da natureza,
das causas e das soluções para o problema
da criminalidade e da violência no país;
.
Programas voltados para ampliação
do conhecimento sobre as vítimas de crimes
e violência, os diferentes tipos de vítimas
e vitimização, bem como sobre os direitos
das vítimas, os serviços disponíveis e
as possibilidades de ação para as vítimas
de crimes e violência.
.
Programas voltados para a discussão
da condição da juventude brasileira, considerando
que:
a)
hoje, no país, as principais causas de
morte na faixa etária jovem são os homicídios
e os acidentes de trânsito; e
b)
existe uma desproporcional representação
da violência praticada pos jovens.
.
Programas voltados para divulgação
de projetos de prevenção que obtêm resultados
positivos em termos de redução do crime
e da violência e melhoria da segurança
pública.
4.5.
A Prevenção na Comunidade
Estudos
e pesquisas mostram que as comunidades
têm características que podemaumentar
ou diminuir o risco de crime e violência,
particularmente aumentando ou diminuindo
o controle social formal e principalmente
o controle social informal sobre o comportamento
dos indivíduos e grupos que a integram.
No mesmo país, estado ou cidade,
há uma distribuição desigual dos crimes
e violências e freqüentemente há uma concentração
relativamente grande de crimes e violências
em um número pequeno de comunidades e
bairros. A prevenção do crime e da violência
nestas comunidades ou bairros tem um papel
central na prevenção do crime e da violência
na sociedade.
Os
fatores de risco e os fatores de proteção
presentes na comunidade não são determinantes
da maior ou menor presença do crime e
da violência. A presença de múltiplos
fatores de risco não implica necessariamente
uma alta incidência de crimes e violência,
assim como a presença de múltiplos fatores
de proteção não implica necessariamente
uma baixa incidência de crimes e violências.
Além
disso, fatores de risco e de proteção
afetam de maneiras diversas os indivíduos
em famílias e grupos diferentes e indivíduos
em diferentes fases do seu desenvolvimento
– o que pode provocar uma distribuição
desigual dos crimes e violências entre
as famílias e grupos no interior da mesma
comunidade e fazer com que indivíduos
na mesma família ou grupo sejam expostos
de forma diferente ao crime e à violência.
Entretanto, de maneira geral, quanto maior
é a presença de fatores de risco e menor
é a presença dos fatores de proteção,
maior é chance de crimes e violências
na comunidade.
Políticas
e programas de prevenção do crime e da
violência na esfera da comunidade têm
por objetivo diminuir a presença e o impacto
dos fatores de risco e aumentar a presença
e o impacto dos fatores de proteção existentes
na comunidade. A maior dificuldade para
a prevenção do crime e da violência é
que as características das comunidades
influenciam não apenas o risco de crimes
e violências, mas também as chances de
implementação de políticas e programas
de prevenção. Assim, políticas e programas
de prevenção são implementados mais facilmente
e mais freqüentemente com sucesso em comunidades
onde há menor risco de crimes e violências
do que naquelas em que há maior risco
de crimes e violências. O desafio é não
apenas desenvolver políticas e programas
de prevenção do crime e da violência,
mas principalmente desenvolver políticas
e programas que possam beneficiar as comunidades
em que há maior risco de crimes e violências.
Para beneficiar as comunidades com maior
incidência de crimes e violências, políticas
e programas precisam ser efetivamente
compreensivos, direcionados para redução
de múltiplos fatores de risco e aumento
de múltiplos fatores de proteção (Sherman
et al 1997).
Entre
os fatores apontados mais freqüentemente
como fatores de risco estão:
.
Pobreza, particularmente quando associada
ao desemprego, à marginalização e à exclusão
social e cultural, e quando atinge os
jovens;
.
Exposição ao crime, à violência e
à discriminação, direta e indireta, inclusive
através da mídia, particularmente quando
atinge crianças e adolescentes.
.
Deterioração física e desorganização
social:
.
Falta de infra-estrutura urbana;
.
Falta de oportunidades de habitação, educação,
trabalho, lazer, esporte e cultura;
.
Falta de oportunidades de participação
política;
.
Presença de gangues e grupos ou organizações
envolvidas com o crime;
.
Disponibilidade de drogas, álcool
e armas de fogo.
Nos
Estados Unidos, estudos e pesquisas mostram
que o maior aumento e a maior redução
das taxas de crimes violentos no período
1960-2000 aconteceu entre os jovens, nas
grandes cidades, particularmente nas áreas
e comunidades pobres (Travis e Waul 2002).
Em particular, no caso dos homicídios,
todo o aumento no final da década de 1980
e declínio na década de 1990 deveu-se
a homicídios praticados com arma de fogo
por adolescentes (menos de 18 anos de
idade) e jovens adultos (18-24 anos de
idade). Os especialistas apontam três
fatores contextuais cuja influência contribui
para o aumento e declínio das taxas de
crimes violentos nos Estados Unidos: mudanças
demográficas, mais especificamente a proporção
de jovens adultos (18-24 anos de idade)na
população; mudanças no mercado da droga,
particularmente a expansão e posterior
limitação do comércio do crack, envolvendo
jovens adultos e adolescentes, com acesso
a armas de fogo; e mudanças no mercado
de trabalho, com a retração e expansão
da economia e particularmente a disponibilidade
de empregos e de salários compensadores
para jovens com baixa qualificação.
Há
menos estudos e pesquisas sobre os fatores
de proteção, que diminuem o risco de crimes
e violências. Entre os fatores apontados
como fatores de proteção contra o crime
e a violência estão:
.
Inclusão econômica, social e cultural,
particularmente dos jovens;
.
Valorização de atitudes e comportamentos
não-criminosos, não-violentos e nãodiscriminatórios,
a partir dos primeiros anos de desenvolvimento
da criança e do adolescente;
.
Desenvolvimento urbano e social;
.
Presença de famílias, grupos e redes
de supervisão e apoio a crianças, adolescentes
e jovens;
.
Limitação e controle do acesso a drogas,
álcool e armas de fogo.
Os
principais tipos de programas de prevenção
do crime na esfera da comunidade são (Sherman
et al 1997):
a)
programas voltados para a organização
e mobilização da comunidade;
b)
programas dirigidos a gangues;
c)
programas com mentores (orientadores);
d)
programas de recreação;
e)
programas para a redução da presença ou
do acesso a drogas, álcool e armas.13
Estes
programas ainda não foram suficientemente
avaliados, mas de maneira geral, ainda
que possam produzir resultados positivos,
não são suficientemente compreensivos
e direcionados para os fatores principais
ou estruturais que influenciam a incidência
de crimes e violências na esfera da comunidade.
Entre os programas desenvolvidos, Sherman
aponta que são promissores os programas
com orientadores (mentores), programas
dirigidos a gangues quando voltados para
redução da coesão das gangues, e programas
de recreação para jovens após a escola
quando contam com adequada orientação
e supervisão dos participantes.
Programas
de organização e mobilização da comunidade
incluem programas que podem ser voltados
à criação de organizações comunitárias
ou à mobilização de recursos para resolver
problemas comunitários, e que podem adotar
estratégias horizontais e verticais de
organização e mobilização da comunidade.
Segundo Sherman, a maioria destes programas
não produz resultados porque adotam estratégias
horizontais e atribuem a organizações
da própria comunidade a responsabilidade
pela resolução de problemas cuja resolução
depende da ação de organizações públicas
e privadas situadas fora da comunidade.
Estes programas poderiam ser mais eficazes
se adotassem estratégias verticais e procurassem
influenciar a ação das organizações públicas
e privadas capazes de, efetivamente, resolver
os problemas da comunidade.
Em
relação ao controle de armas de fogo,
os especialistas assinalam a eficácia
do mpoliciamento direcionado para áreas
de risco de crimes cometidos com arma
de fogo, do rastreamento da propriedade
de armas de fogo, e do aumento das condições
exigidas para a compra e a venda de armas
(Travis e Waul 2002). Por outro lado,
os especialistas assinalam a ineficácia
de programas através dos quais o governo
compra de volta as armas dos cidadãos
e programas através dos quais o governo
exige uma licença especial para o porte
de armas de fogo ocultas (Sherman et al
1997, Travis e Waul 2002).
Prevenção
Local 14
Nos
últimos vinte anos, em diversos países,
os governos locais começaram a desenvolver
políticas e programas mais compreensivos
e intersetoriais, visando à prevenção
do crime e da violência e à promoção
da segurança de “comunidades” cujo tamanho
pode variar de bairros até cidades de
menor ou maior porte. Governos centrais
e organizações internacionais, particularmente
a Organização das Nações Unidas, através
do Programa Cidades Mais Seguras e do
Programa de Gestão Urbana, têm apoiado
estas iniciativas. Estes programas tipicamente
focalizam múltiplos fatores de risco e
de proteção, e integram ações de diversas
organizações governamentais e não governamentais.
Nos Estados Unidos e Canadá, com o desenvolvimento
do policiamento comunitário e do policiamento
orientado para a resolução de problemas,
a polícia freqüentemente assume um papel
central na articulação de organizações
locais e no desenvolvimento de programas
de prevenção na comunidade. Na Inglaterra,
França e Itália, governos locais freqüentemente
assumem a liderança. Na Inglaterra, os
programas de prevenção na comunidade envolvem
a formação de parcerias contra o crime.
Na França, os programas de prevenção na
comunidade envolvem o estabelecimento
de contratos locais de segurança. Nos
Estados Unidos, programas de prevenção
na comunidade assumem diversos formatos,
mas freqüentemente envolvem parcerias
entre a polícia e organizações locais,
incentivados pelo governo federal através
de programas federais como Local Law
Enforcement Block Grants, Weed and Seed,
Comprehensive Communities, Title V Delinquency
Prevention Grants.
Estudos
e pesquisas realizados nos Estados Unidos
sugerem a importância do desenvolvimento
de programas de prevenção compreensivos
e multi-setoriais, particularmente dirigidos
a cidades e bairros onde há alta incidência
de crimes e violências (Sherman et al
1997). Entretanto, estes programas ainda
são relativamente recentes e não foram
suficientemente avaliados. Além disso,
o fato de serem compreensivos, focalizando
múltiplos fatores de risco e de proteção,
de envolverem múltiplas ações desenvolvidas
por múltiplas agências, e assumirem características
diferentes em comunidades diferentes,
dificulta o monitoramento e avaliação
dos resultados, mais especificamente a
identificação das ações que produziram
e das ações que não produziram resultados
positivos.
Prevenção
Situacional
Em
comunidades e bairros, a incidência de
crimes e violência também é freqüentemente
concentrada em determinadas situações,
locais e horários – os chamados “hot-spots”
– onde as oportunidades para a prática
de crimes e violências são maiores. A
concentração de ações de prevenção em
“hot-spots”, visando a reduzir as oportunidades
para a prática de crimes e violências,
é uma estratégia adotada de maneira crescente,
principalmente por empresas públicas e
privadas e serviços de segurança privada,
mas também por organizações policiais
(ver seção dedicada a ações de prevenção
na esfera da polícia) e governos locais,
paralelamente a ações de prevenção dirigidas
diretamente às vítimas ou agressores.
Programas
de prevenção situacional são bastante
utilizados para prevenção de crimes contra
o patrimônio, que freqüentemente envolvem
o uso de violência, em condomínios e áreas
residenciais, áreas comerciais, bancos,
estabelecimentos e máquinas que acumulam
grande quantidade de dinheiro, espaços
públicos com grande circulação de pessoas,
estações rodoviárias, metroviárias, ferroviárias
e aeroportos, estacionamentos e garagens,
meios de transporte público.
O
principal objetivo de programas de prevenção
situacional é a redução das oportunidades
para prática de crime, através do aumento
do custo, aumento do risco e redução do
benefício associado à prática de crimes
em situações, locais e horários específicos,
visando a dissuadir a prática de crimes
nestas situações, locais e horários. Estudos
e pesquisas realizados nos Estados Unidos
e Inglaterra mostram que programas de
prevenção situacional são efetivamente
capazes de reduzir de maneira significativa
o crime e a violência nas situações, locais
e horários em que são implementados, mesmo
considerando-se os efeitos da migração
dos crimes (Eckblom 1998; Pease 1998;
Pease 1997; Eck 1997). Mostram também
que estes programas podem produzir dois
tipos de efeitos não previstos, um contrabalançando
o outro: a) migração de crimes para outras
situações, locais e horários, que não
são alvos de programas de prevenção; b)
redução de crimes em outras situações,
que não são alvos de programas de prevenção,
mas, devido à proximidade ou semelhança
com situações em que estes programas existem,
são percebidas como situações em que os
programas são desenvolvidos.
Entretanto,
programas de prevenção situacional freqüentemente
combinam diferentes estratégias visando
a reduzir as oportunidades para prática
de crimes e violências, algumas delas
centradas no aumento de custos, e outras
no aumento de riscos, e outras ainda na
redução de benefícios associados à prática
do crime e da violência (Eckblom 1998:
Pease 1997). Neste caso, é difícil determinar
quais estratégias são efetivamente responsáveis
pela prevenção do crime (Eck 1997). A
proteção de alvos e vítimas, o controle
de acesso a alvos e vítimas, o afastamento
dos agressores, e o controle de facilitadores
para prática de crimes e violências (em
particular, armas, álcool e drogas), são
estratégias que visam a aumentar os custos
para a prática de crimes e violências.
O
controle de entrada e saída, e a vigilância,
que podem ser feitas por profissionais
de segurança, pelos trabalhadores nos
locais de trabalho e pelo público, são
estratégias que visam a aumentar os riscos
da prática de crimes e violências. A remoção
de alvos e vítimas, a identificação de
bens, a remoção de estímulos, o estabelecimento
de regras de conduta são estratégias que
visam a reduzir os benefícios resultantes
da prática de crimes e violências.
É
um traço inerente a estratégias de prevenção
situacional serem muito sensíveis às características
das situações para as quais foram desenvolvidas,
sendo mais eficazes nas situações para
as quais foram desenvolvidas. Diante de
situações com características diferentes,
ou mesmo de mudanças nas características
das situações nas quais foram desenvolvidas,
inclusive mudanças resultantes da capacidade
dos criminosos de responder à implantação
de programas de prevenção situacional,
estratégias de prevenção situacional podem
perder eficácia. Deste fato decorre a
necessidade de constante adaptação e aperfeiçoamento
de estratégias de prevenção situacional.
Pease (1998) argumenta que indivíduos
e organizações freqüentemente deixam de
adotar, desenvolver e aperfeiçoar estratégias
de prevenção situacional porque desconhecem
as possibilidades de prevenção, mas principalmente
porque os custos são maiores do que os
benefícios da prevenção e há possibilidade
de repassar os custos da prevenção situacional
para terceiros e para organizações policiais.
Neste sentido, Pease argumenta que os
governos devem incentivar indivíduos e
organizações a adotar medidas de prevenção
situacional e evitar o repasse dos custos
da prevenção situacional para terceiros
e para organizações policiais. Entre as
diferentes formas através das quais os
governos podem incentivar a prevenção
situacional, Pease destaca:
.
Disseminação de informação sobre as
possibilidades de redução do crime e da
violência através de estratégias de prevenção
situacional;
.
Disseminação de informação sobre princípios
de prevenção situacional do crime e da
violência que podem ser aplicados em diferentes
situações;
.
Disseminação de informação sobre estratégias
de prevenção situacional, consideradas
eficazes para diferentes situações;
.
Incentivos econômicos para adoção
de medidas que diminuam as oportunidades
para a prática de crimes, por exemplo,
na construção de espaços e estabelecimentos
públicos e privados, no desenvolvimento
de produtos e serviços, e até mesmo no
desenvolvimento de novas políticas;
.
Sanções econômicas para adoção de
medidas que aumentem as oportunidades
para a prática de crimes;
.
Imposição da obrigatoriedade de estudos
para verificar o impacto, do ponto de
vista da segurança pública, de propostas
de construção de espaços e estabelecimentos
públicos e privados, de desenvolvimento
de produtos e serviços, e de desenvolvimento
de novas políticas.
Programas
Centrados na Comunidade
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência desenvolvidos no Brasil apresentados
neste relatório, 34 são centrados na comunidade
e cerca de 40, centrados em outras áreas,
realizam ações na área da comunidade.
A maioria dos programas de prevenção do
crime e da violência na esfera da comunidade
começou a ser implementada na década de
1990, mas apresentam um leque bastante
heterogêneo de iniciativas. Há, também,
programas iniciados na década de 1980.
Dos
programas focalizados na comunidade há
os que trabalham a inclusão social de
uma forma mais completa, implementando
diferentes programas sociais (saúde, renda,
trabalho, moradia, cidadania) e revitalizando
o espaço urbano em determinados bairros
e/ ou favelas das cidades. Há os que trabalham
através da implementação de programas
sociais específicos ou do incentivo à
organização e mobilização da comunidade
para me-lhoria no ambiente comunitário.
Há
programas que oferecem oportunidades de
esporte, lazer e cultura para jovens em
sua comunidade e essas atividades vão
desde boxe, basquete, futebol e outros
esportes, até teatro, dança, música, escultura
e restauração de obras históricas. Em
alguns programas a atividade comunitária
é realizada em locais criados para esse
fim na própria comunidade, o que faz com
que a população se sinta co-responsável
pelo equipamento. Há também programas
que aproximam a escola da comunidade e
transformam a escola em centro de reflexão
sobre seus próprios problemas e sobre
os problemas da comunidade, sendo que
em alguns desses programas observou-se
o desenvolvimento de atividades extra-classe
com foco na valorização da comunidade
por crianças e jovens, bem como a participação
em projetos comunitários.
De
uma forma geral, a formação e capacitação
de jovens para compreender e intervir
de uma forma positiva nas suas comunidades
aparece nos programas de prevenção. A
articulação de programas, serviços, órgãos
governamentais e entidades comunitárias,
bem como a definição dos papéis e atribuições
desses atores envolvidos com a prevenção
da violência, compõem programas cujo eixo
é a elaboração e implementação de planos
municipais de segurança pública. Há também
programas que criam articulações regionais
entre municípios acerca de uma temática
específica, como segurança pública e infância
e juventude, por exemplo.
Há
ainda programas específicos de iluminação
pública nas vizinhanças de escolas com
alto índice de violência, programa de
silêncio urbano que determina o horário
de fechamento de bares, programa de retirada
de vendedores ambulantes das vias públicas
e re-alocação em espaço específico para
esse comércio, programa de fechamento
de lixões e organização de cooperativas
de catadores e desenvolvimento de reciclagem
e monitoramento de vias públicas por meio
de câmeras de vídeo. A intervenção na
esfera da comunidade permeia também quase
todos os programas voltados para a violência
doméstica contra mulheres, crianças e
adolescentes, sejam eles mais específicos
da saúde, da família ou da justiça. Esses
programas, de uma forma geral, realizam
atendimento multidisciplinar e acabam
intervindo na esfera da comunidade quando
realizam palestras, seminários, debates,
criam fóruns locais e regionais para discussão
da temática, promovem campanhas de conscientização
e de incentivo a denúncias e notificações
e articulam os serviços e organizações
locais em uma rede de atendimento.
Programas
de implantação de centros que integram
serviços de assistência jurídica, plantões
de delegacias, emissão de documentos,
mediação de conflito, juizados especiais,
centros de informação, dentre outros serviços,
em bairros e comunidades específicas e
em determinadas regiões das cidades, são
também formas de intervenção na esfera
da comunidade. Em alguns programas focalizados
na revitalização urbana ou na resolução
de problemas de segurança pública
em determinados bairros, há a criação
de conselhos e/ou comissões que prevêem
a participação da comunidade no levantamento
dos problemas e das possibilidades de
solução.
A
dimensão comunitária, como se pode constatar
dos programas encontrados na realidade
brasileira, é bastante fluida e permeia
boa parte dos programas de prevenção do
crime e da violência, adquirindo maior
ou menor importância dependendo do programa
e do contexto em que é implementado. A
importância das ações na esfera da comunidade
no desenvolvimento de programas de prevenção
do crime e da violência vem sendo cada
vez mais reconhecida.
De
um modo geral, há pouco acompanhamento
e monitoramento dos resultados do trabalho
realizado. Os indicadores mais freqüentes
são o número de participantes e de atendimentos
realizados, sendo que há poucos registros
sobre a evolução do trabalho realizado
e do reflexo desses programas na prevenção
do crime e da violência, especialmente
considerando que muitos programas trabalham
com fatores de risco e de proteção e que
não há informações sistematizadas que
possam servir para esse monitoramento.
No
entanto, alguns programas mais específicos,
como aqueles de prevenção situacional
e em “hot spots” conseguem estabelecer
uma relação mais direta com a prevenção
do crime e da violência, uma vez que avaliam
o impacto através de indicadores mais
objetivos, como o número de crimes.
Recomendações
.
Programas voltados para organização
e mobilização da comunidade para participação
nas decisões sobre interesses da comunidade,
especificamente no desenvolvimento de
políticas de prevenção do crime e da violência
e melhoria da segurança pública.
.
Programas voltados para evitar e para
reduzir o envolvimento de grupos da comunidade
com o crime e a violência;
.
Programas voltados para evitar a vitimização
e reduzir o impacto da vitimização sobre
as famílias, os grupos e a comunidade;
.
Programas de prevenção social do crime
e da violência, visando a reduzir os fatores
de risco e a ampliar os fatores de proteção
que afetam a incidência e o impacto do
crime e da violência na comunidade, especialmente
nas seguintes áreas:
.
Infra-estrutura urbana e habitação;
.
Saúde, educação, emprego, promoção social;
.
Cultura, esporte e lazer;
.
Segurança e justiça;
.
Programas de prevenção situacional,
visando a reduzir as oportunidades para
prática de crimes e violências nas áreas
de risco (“hot-spots”).
4.6.
A Polícia e a Prevenção
O
papel desempenhado pela polícia na prevenção
do crime e da violência vem sendo estudado
e pesquisado em diversos países do mundo,
especialmente nos Estados Unidos e Inglaterra.
Há uma polarização do debate entre aqueles
que argumentam que a polícia tem um papel
central e aqueles que argumentam que a
polícia tem um papel marginal na prevenção
do crime e da violência. Mas diversos
estudos e pesquisas procuram distinguir
diferentes tipos de estratégias
adotadas pelas polícias e avaliar o impacto
destas estratégias sobre o crime e a violência.
Nas
décadas de 1970 e 1980, uma série de pesquisas
mostrou as limitações, do ponto de vista
da prevenção do crime, das estratégias
tradicionais de policiamento centradas
no aumento da presença policial, das operações
de patrulhamento, do número de prisões,
e da rapidez no atendimento de ocorrências.
Estes estudos contribuíram para o desenvolvimento
de uma série de inovações na área da polícia,
particularmente o policiamento comunitário,
o policiamento orientado para a resolução
de problemas, o policiamento orientado
para a manutenção da ordem e na melhoria
da qualidade de vida, e o policiamento
direcionado para “hot-spots” (locais e
horários de alto risco de crime e violência).
O
direcionamento de policiais para “hot-spots”
é uma típica ação de prevenção situacional,
freqüentemente adotada junto a outras
ações de prevenção situacional utilizadas
pela comunidade, como, por exemplo, a
instalação de câmeras de televisão, para
aumentar a vigilância em locais com alta
incidência de crimes. Entretanto, o impacto
do policiamento direcionado para “hot-spots”
depende em grande parte do tipo de relacionamento
existente entre a polícia e a comunidade
(Sherman et al 1997).
O
policiamento comunitário e o policiamento
orientado para a resolução de problemas
são direcionados para a redução dos fatores
de risco que contribuem para aumentar
a incidência de crimes e violências na
sociedade. Há diferentes formas de policiamentocomunitário,
algumas delas se aproximam bastante do
policiamento orientado para a resolução
de problemas. A principal diferença entre
os dois tipos de policiamento é que o
policiamento comunitário enfatiza a importância
do contato polícia-comunidade e a redução
de fatores conjunturais/situacionais que
aumentam o risco de crimes na comunidade.
O policiamento orientado para a resolução
de problemas enfatiza a importância dos
resultados da ação policial e a redução
dos fatores estruturais/sociais que aumentam
o risco de crimes na comunidade. Sherman
compara a estratégia de prevenção do policiamento
comunitário à estratégia adotada pelos
serviços de segurança privada e a estratégia
do policiamento orientado para resolução
de problemas à estratégia adotada pelos
profissionais da saúde pública (Sherman
1995).
Segundo
Sherman, a legitimidade da polícia e a
existência de práticas de responsabilização
da polícia capazes de assegurar esta legitimidade
são fatores cruciais para a prevenção
do crime e da violência (Sherman et al
1997).15 Estudos e pesquisas mostram que
a legitimidade da polícia, particularmente
a legitimidade decorrente do tratamento
dispensado aos cidadãos, é um fator que
contribui para a prevenção do crime e
da violência e, no caso dos cidadãos já
envolvidos com a prática de crimes e violências,
contribui para a prevenção da reincidência.
Estudos e pesquisas disponíveis indicam
que há estratégias de policiamento eficazes
na prevenção do crime e da violência,
particularmente:
.
Direcionamento do policiamento para
“hot spots” em que há alto risco de crime
e violência;
.
Direcionamento da investigação criminal
e das prisões para os casos dos criminosos
envolvidos em crimes mais graves e em
maior número de crimes;
.
Direcionamento da investigação criminal
e das prisões para os casos de violência
doméstica, quando os suspeitos têm emprego
ou trabalho;
.
Direcionamento da investigação criminal
e das prisões para os casos de pessoas
dirigindo sob efeito de álcool;
. Direcionamento
do policiamento para proteção de vítimas
envolvidas em crimes graves e em maior
número de crimes.
Indicam
também que há estratégias ainda não suficientemente
avaliadas, mas que podem ser consideradas
promissoras, incluindo:
.
Policiamento comunitário quando a
comunidade participa efetivamente da definição
das prioridades para a prevenção do crime
e da violência;
.
Policiamento comunitário quando a
polícia e a comunidade priorizam o aumento
da responsabilização e da legitimidade
da polícia e melhoria das relações entre
a polícia e a população, inclusive as
relações com as vítimas e dos autores
de crimes e violências;
.
Policiamento orientado para a manutenção
da ordem, quando é possível resolver o
problema de declínio da legitimidade da
polícia e de deterioração das relações
entre a polícia e a população;
.
Policiamento orientado para a resolução
de problemas;
.
Policiamento direcionado para apreensão
de armas.
Há,
entretanto, estratégias de policiamento
que são consideradas pouco ou nada eficazes,
e até contraproducentes, do ponto de vista
da prevenção do crime e da violência.
.
Policiamento comunitário quando não
há um claro direcionamento das ações da
polícia e da comunidade para a prevenção
do crime e da violência, mais especificamente
para os fatores que aumentam e/ou diminuem
o risco de crimes e violências;
.
Policiamento comunitário centrado
em programas de vigilância de bairro (“neighborhood
watch”)
.
Policiamento para manutenção da ordem,
quando não é possível resolver o problema
de declínio da legitimidade da polícia
e de deterioração das relações entre a
polícia e a população.
.
Direcionamento da investigação criminal
e das prisões/apreensões para os casos
de jovens/adolescentes envolvidos em crimes
de pouca gravidade.
.
Direcionamento da investigação criminal
e das prisões para pessoas envolvidas
no tráfico de drogas.
.
Direcionamento da investigação criminal
e das prisões para os casos de violência
doméstica, quando os suspeitos não têm
emprego ou trabalho.
Programas
Centrados na Polícia
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência desenvolvidos no Brasil apresentados
neste relatório, seis estão centrados
na polícia e onze incluem ações nesta
esfera, apesar de estarem centrados em
outras áreas, particularmente escola,
comunidade e saúde. De um modo geral,
os programas de prevenção do crime e da
violência na esfera da polícia são recentes,
ganhando importância a partir do final
da década de 1990, particularmente através
de programas de polícia comunitária e
de atendimento especializado a mulheres
e a crianças e adolescentes vítimas de
crimes e violências. Ainda que existam
programas desenvolvidos na década de 1980,
muitos foram interrompidos e reiniciados
ou reformulados na década de 1990.
Dentre
os programas levantados, boa parte deles
desenvolve atividades de policiamento
comunitário, incluindo a construção e
implantação de bases comunitárias em locais
específicos, aproximação com a comunidade
por meio de reuniões comunitárias, a realização
de diagnóstico local sobre a situação
da criminalidade e violência, interação
com organizações comunitárias locais que
prestam atendimentos a vítimas e agressores.
Há
programas visando à criação de conselhos
comunitários ou municipais de segurança,
integrando a polícia à população, a guardas
municipais, a setores organizados da sociedade
civil e a outros departamentos e órgãos
governamentais. Estes conselhos buscam
construir, de forma compartilhada, o diagnóstico
do problema do crime e da violência,
bem como apontar as possíveis ações a
serem desenvolvidas para a melhoria da
segurança pública, dividindo e compartilhando
as atribuições de cada ator. Em alguns
casos, há também a elaboração de planos
municipais de segurança que buscam aproximar
e racionalizar as atividades das polícias,
da guarda municipal e de outros órgãos
e secretarias municipais.
Há
programas voltados para o atendimento
de vítimas do crime e da violência, como
delegacias especializadas e o Programa
Bem Me Quer, desenvolvido em São Paulo
e posteriormente implantado em outros
estados, que integram o atendimento policial
aos atendimentos médico, jurídico, social
e psicológico, particularmente o atendimento
a vítimas de determinados tipos de violência,
como a violência doméstica e sexual.
Programas
realizados pela polícia, direcionados
aos jovens, freqüentemente incluem aconselhamentos
e palestras sobre o crime e a violência
e especialmente sobre o uso de álcool
e drogas em escolas.
De
um modo geral, nos programas de prevenção
do crime e da violência realizados na
esfera da polícia, existe monitoramento
em relação à incidência de crimes, uma
vez que é a própria polícia quem produz
os dados sobre crimes. No entanto, ainda
é baixo o grau de organização desse acompanhamento
estatístico, especialmente no que diz
respeito à continuidade do acompanhamento
no tempo e à integração das informações
sobre crimes com outras informações relevantes
para o monitoramento e a avaliação do
resultado dos programas de prevenção da
violência.
Recomendações
.
Programas de apoio ao policiamento
orientado para a resolução de problemas;
.
Programas de apoio ao policiamento
comunitário, quando:
.
A comunidade efetivamente participa das
decisões sobre as prioridades na prevenção
do crime e da violência;
.
A polícia e a comunidade priorizam a responsabilização
e a legitimidade da polícia.
.
Programas de apoio ao policiamento
orientado para a manutenção da ordem e
da qualidade de vida, quando:
.
É possível resolver o problema de responsabilização
e legitimidade da polícia.
.
Programas de apoio ao policiamento
orientado para áreas e horários de maior
risco de crimes (“hot-spots”).
.
Programas de apoio ao policiamento
orientado para controle do comércio e
porte de armas de fogo e para apreensão
de armas de fogo ilegais, especialmente
programas direcionados a:
.
Áreas de risco de crimes praticados com
arma de fogo;
.
Rastreamento da propriedade de armas de
fogo;
.
Imposição de controles exigidos pela lei
para venda de armas;
.
Imposição de controles exigidos pela lei
para compra, registro e porte de arma.
.
Programas de apoio ao policiamento
direcionado para prevenção da direção
de veículo sob efeito de álcool;
.
Programas de apoio à investigação
criminal e à perícia técnica voltados
para os casos de crimes mais graves, de
criminosos com crimes mais graves e mais
freqüentes, e de vítimas de crimes mais
graves e mais freqüentes;
.
Programas de apoio à investigação
criminal e à perícia técnica voltados
para os casos de violência familiar ou
doméstica e violência sexual;
.
Programas de redução da lentidão na
tramitação dos inquéritos policiais;
.
Programas de redução do número de
pessoas presas em delegacias de polícias;
.
Programas voltados para a limitação
e controle do uso da força em ações policiais;
.
Programas de apoio ao registro, compartilhamento,
análise e uso de informações sobre a incidência
do crime e a estrutura e funcionamento
do sistema de segurança pública,
voltados para o desenvolvimento de políticas
e programas de prevenção;
.
Programas de apoio ao estudo e pesquisa
sobre a estrutura e funcionamento do sistema
de segurança pública, e sua relação com
a prevenção do crime.
4.7.
A Justiça e a Prevenção
A
Justiça tem um papel central na prevenção
do crime e da violência, nem sempre reconhecido
pela população que vê as organizações
do sistema de justiça criminal e administração
penitenciária como organizações responsáveis
simplesmente pela aplicação e execução
de punições aos autores de crimes e não
como organizações responsáveis pela prevenção
de crimes na sociedade.
Entretanto,
as punições aplicadas e executadas pelo
sistema de justiça criminal e administração
penitenciária não têm como objetivo apenas
a retribuição do mal causado à sociedade
pelos autores dos crimes. Têm como objetivo,
principalmente, a reabilitação e reintegração
social, profissional e familiar dos autores
de crimes, e/ou a sua detenção e incapacitação
para a prática de novos crimes. Neste
sentido, as organizações do sistema de
justiça criminal e administração penitenciária
têm um papel central na prevenção da reincidência
criminal e conseqüentemente na prevenção
do crime e da violência na sociedade,
na medida em que a reincidência criminal
contribui para o aumento dos crimes e
violências na sociedade. Além disso, a
ameaça de punição por parte das organizações
do sistema de justiça criminal e administração
penitenciária aumenta o risco e o custo
da prática de crimes. É, portanto, um
fator de dissuasão que também contribui
para a prevenção da reincidência criminal
e para a prevenção do crime e da violência
na sociedade. Além disso, a Justiça também
tem um papel fundamental na prevenção
do crime e da violência na medida em que
o sistema judiciário é uma das instâncias
de resolução de conflitos interpessoais
e coletivos que, se não resolvidos, podem
se intensificar e aumentar o risco de
crimes e violências na sociedade. Com
relação à punição, os estudos e pesquisas
disponíveis indicam que a forma pela qual
o sistema de justiça criminal aplica e
executa as punições e trata os autores
de crimes tem um impacto significativo
sobre a reincidência criminal e a incidência
de crimes e violências na sociedade. São
fatores importantes o respeito à lei e
aos direitos dos agressores, bem como
a consistência na aplicação e execução
das punições. Há pouca evidência, entretanto,
de que o aumento das punições, especificamente
o aumento da utilização da pena de prisão,
contribui para a prevenção criminal.
São
considerados eficazes do ponto de vista
da prevenção criminal:
.
Programas de reabilitação e reinserção
social, profissional e familiar, desde
que sejam estruturados e compreensivos,
adequados às necessidades dos participantes,
centrados no desenvolvimento de habilidades
educacionais, profissionais e sociais,
e no reforço de regras de comportamento,
e não simplesmente ao fortalecimento da
auto-estima, e caracterizados por um relacionamento
positivo entre as pessoas responsáveis
pela implementação e os participantes
do programa.
.
Penas de prisão para pessoas que cometem
crimes graves ou reincidem freqüentemente;
.
Penas alternativas à prisão, para
crimes menos graves, variáveis de acordo
com o tipo de crime e a situação do agressor;
.
Programas para tratamento da dependência
química na prisão.
Jovens
Na
área da Justiça, há organizações e profissionais
responsáveis especificamente pelo tratamento
de adolescentes autores de atos infracionais.
No Brasil, como em outros países, os adolescentes
se tornam alvo de medidas socioeducativas
visando a sua reabilitação e reinserção
social, profissional e familiar, no momento
em que dão entrada no sistema de justiça.
A gravidade e freqüência dos atos infracionais
são os parâmetros para definição das medidas
a serem aplicadas ao jovem. Há consenso
na literatura internacional, e na brasileira,
de que quanto mais perto da comunidade
estiver o adolescente em cumprimento das
medidas sócio-educativas, melhores são
os resultados obtidos. Estudos internacionais
dão muito destaque às ações de prevenção
do crime e da violência realizadas pelas
organizações que atendem aos jovens infratores.
Dois tipos de programas mostram bons resultados:
aqueles com enfoque na reabilitação (em
detrimento dos que possuem enfoque punitivo)
e os com supervisão comunitária. Inúmeras
avaliações mostraram a não eficiência
dos programas que incutem o medo e a punição,
aqueles de abordagem militar e os que
priorizam apenas o aconselhamento individual
ou coletivo dos jovens. Entretanto, os
programas com base na reabilitação recebem
dos avaliadores internacionais a mesma
crítica feita no Brasil: embora a reabilitação
seja o objeto principal das ações, na
prática, são muito pobremente implementados,
devido a fatores financeiros, gerenciais
e relacionais (Sherman et al 1997).
A
análise de 443 diferentes programas norte-americanos
avaliados mostrou que, em média, a taxa
de reincidência caiu de 50% entre os adolescentes
que não passaram por programa de reabilitação
para 45% entre os adolescentes que passaram
por programas de reabilitação. Considerando-se
apenas os adolescentes que passaram por
programas de reabilitação mais estruturados
e compreensivos – isto é, adequados às
necessidades dos participantes, centrados
no desenvolvimento de habilidades educacionais,
profissionais e sociais, no reforço de
regras de comportamento, e caracterizados
por um relacionamento positivo entre as
pessoas responsáveis pela implementação
e os participantes do programa – a taxa
de reincidência cai ainda mais, ficando
entre 32%-38% (Sherman et al 1997).
Um
interessante exemplo de intervenção intensiva
com jovens que deram entrada na Justiça
Juvenil da Flórida/EUA é baseado na linha
sistêmica, englobando o jovem, sua família
e comunidade (Cervenka et al. 1996). É
efetuado na própria casa do jovem em cumprimento
de medida. Um consultor de campo se encontra
com a família por uma hora, no mínimo
três vezes por semana, durante aproximadamente
10 semanas. Todos os familiares que vivem
na casa fazem parte dos encontros. Após
esse período de contato intensivo, a comunicação
permanece através de contato telefônico
com os pais, durante quatro anos, visando
a monitorar o funcionamento familiar e
o nível de estresse.
A
intervenção é baseada na disponibilização
de serviços de apoio, acessados pela instituição,
de acordo com a prioridade demonstrada
por cada família (usados para ajudar a
família a se conectar com seus próprios
recursos). Trabalha com o suporte e o
“empoderamento“ da família em seu ambiente
natural, e não com suas fraquezas. Assumese
que os pais têm capacidade para identificar
o que é melhor para a família, buscando-se
respeitar e apoiar os valores do sistema
familiar. As metas que os serviços desenham
para o “empoderamento” da família são:
reestruturar limites; restaurar a hierarquia
familiar; estimular habilidades parentais
mais efetivas; restaurar a organização
pela adoção de limites (o que é aceitável
e o que não é), estabelecendo regras e
delegando tarefas apropriadas para a idade,
acordadas entre todos os membros da família;
dar suporte aos pais para tomarem a responsabilidade
do bemestar da criança/adolescente; aumentar
habilidades para comunicação entre os
membros; desenvolver habilidade em resolver
problemas.
Também
são postuladas metas para a família, desenvolvendo
sua auto-estima e a capacidade da criança/adolescente.
Defende-se que a criança/adolescente em
conflito com a lei deve: ser ouvida e
aceita, não ser identificada como um problema.
Sua família precisa: dar uma “trégua”
ao comportamento antigo, oferecendo a
possibilidade de um novo começo; criar
um ambiente de segurança, onde temas como
drogas, dificuldades entre pares,
problemas na escola e outros possam ser
discutidos livremente, sem conseqüências.
A criança/adolescente necessita ser retirada
do lugar de “poder” (posição freqüentemente
ocupada por infratores que possuem recursos,
autonomia no mundo infracional e/ou liderança
na família) e colocada como um igual entre
os irmãos, sendo, porém, reconhecida como
uma pessoa única e especial.
O
programa estabelece quatro fases da atenção.
A primeira fase é a de coleta de dados,
que se inicia no primeiro encontro, momento
crítico para o resultado da intervenção.
É comum que muitas famílias tenham sido
tratadas de forma desrespeitosa por outras
instituições, chegando ao serviço desconfiadas
ou resistentes. São acionados mecanismos
sociais de apoio econômico, social e profissional.
A fase intermediária reforça esses pontos,procurando
apontar o que está mudando e o que não
está. Reduz-se o número de contatos.
A
fase seguinte é a de término, duas semanas
antes da graduação, momento em que se
finaliza o atendimento. Nesse encontro,
que lembra o momento da graduação acadêmica,
é feita uma checagem sobre alguns pontos
cruciais, como hierarquia, limites, “empoderamento”,
problemas, comunicação, regras/tarefas
e conexão com outros sistemas sociais.
Nessa fase, é comum ocorrerem novamente
comportamentos disfuncionais como os apresentados
antes do tratamento, que o consultor deve
estar apto a lidar, já que há incerteza
quanto ao funcionamento familiar sem a
presença do consultor. Pensar medidas
de prevenção e promoção é uma tarefa ainda
mais difícil quando os jovens estão inseridos
em gangues juvenis. Estudos internacionais
sobre a efetividade dos programas atuarem
sobre esses grupos ressaltam a dificuldade
de generalização dos resultados obtidos
pela diversidade de organização e atuação
dos grupos juvenis. Avaliações desses
programas mostraram efeito fraco ou inexistente
sobre a violência cometida pelas gangues.
Muitas
ações realizadas sobre esses grupos –
inclusive as ações policiais – tendem
a reforçar a coesão do grupo e aumentar
sua identificação infracional. Contudo,
essa forma de atuação é considerada promissora
quando consegue reduzir a coesão do
grupo e quando está associada a intervenções
em problemas estruturais na comunidade.
Programas escola-res e comunitários são
realizados geralmente com a presença de
orientadores que moni-toram o comportamento
dos jovens.
Alguns
itens são considerados essenciais para
que um programa que atue sobre gangues
juvenis seja bem sucedido:
(1)
as comunidades não podem negar a existência
do problema das drogas e de gangues;
(2)
deve-se voltar para jovens de médio ou
alto risco, com abordagem intensiva e
multifacetada, focalizando o desenvolvimento
de habilidades (como a resolução de conflitos),
desestimulando crenças, atitudes e valores
que reforcem comportamentos antisociais;
(3)
oferecer alternativas para o envolvimento
dos jovens das gangues, como programas
recreacionais, eventos escolares, trabalho;
(4)
deve ser conduzido nas próprias comunidades
dos jovens, envolvendo as famílias e a
escola;
(5)
a equipe que o dirige deve ser bem treinada,
capaz de sentir empatia pelos jovens e
de compreender a cultura juvenil, sem
desmerecer ou depreciar suas crenças;
(6)
procurar associar-se ao mundo do trabalho,
propiciando oportunidades de treinamento
profissional e emprego;
(7)
seus objetivos devem ser específicos e
resultar em alguma forma oficial de sucesso,
como por exemplo, um diploma;
(8)
compreender que a reincidência é normal
(especialmente para os usuários de álcool
e drogas e para alguns comportamentos
sociais negativos) e que o tratamento
é um processo contínuo, mais do que um
único episódio. Técnicas de prevenção
de reincidência devem sempre ser utilizadas
para facilitar a adaptação do jovem à
comunidade.
Brasil
Estudo
nacional realizado com adolescentes em
conflito com a lei de Recife e do Rio
de Janeiro identificou distinções entre
os jovens das duas cidades. No Rio de
Janeiro, a influência do tráfico predomina
e os grupos formados são muito mais voltados
para os interesses econômicos de
cada “boca de fumo”. Em Recife, os jovens
se agregam mais em função do seu bairro
e dos interesses comuns aos grupos de
cada localidade (Assis, 1999). Essas diferenças
poderiam se encaixar dentro do que Zaluar
(1997) define como quadrilhas e galeras.
As primeiras costumam ter hierarquia bem
definida e possuir pequeno número de pessoas
que se organizam com a finalidade de desenvolver
atividades ilegais para o enriquecimento
de seus membros. Já as galeras se caracterizariam
por serem organizações sem chefia instituída,
regras explicitadas e rituais de iniciação,
geralmente com estreita relação com os
bairros em que vivem, que se reúnem mais
para atividades recreativas.
Grupos
de jovens de classe média também são reconhecidos
pela violência no país. Sejam eles os
jovens de Brasília que queimaram vivo
um índio, ou alguns lutadores de artes
marciais, que cultivam gestos e atitudes
agressivas, colecionando episódios de
violência, numa cultura em que a pedagogia
da briga e os valores machistas se mostram
profundamente arraigados (Minayo et al.,
1999). Poucas ações conjuntas preventivas
sobre esses grupos têm sido feitas no
país, desconhecendo- se suas formas de
organização e atuação. Menos ainda se
sabe sobre os mecanismos de prevenção
da violência mais indicados para esses
tão variados grupos. Um outro tópico que
tem tido destaque no Brasil quando se
pensa em prevenção da violência e promoção
de segurança se refere às medidas para
melhorar as condições de ressocialização
do jovem em conflito com a lei, especialmente
aquele privado de liberdade, geralmente
afastado da comunidade e da família.
No
que se refere à condução das medidas de
Liberdade Assistida e Semiliberdade, alguns
municípios brasileiros têm saído à frente
com estratégias de mobilização comunitária.
Alguns exemplos são os municípios de Santo
Ângelo/RS, Boa Vista/RR, Recife/PE e Belo
Horizonte/MG. Nesses locais, a participação
da comunidade se destaca, inserindo-se,
freqüentemente, a figura de orientadores
comunitários voluntários que acompanham
o adolescente no dia a dia, dando suporte
ao técnico responsável pelo jovem. Todavia,
em parte significativa dos municípios
brasileiros, ainda perduram: o distanciamento
da comunidade na implementação das medidas
socioeducativas, a precariedade das intervenções
sociais e cognitivas de apoio à família
do jovem e o atendimento socioeducativo
mais focalizado na punição e não na ressocialização
juvenil.
Criatividade
ainda menor é a dos serviços que atendem
jovens em situação de privação de liberdade.
Os avanços conceituais sobre as formas
de atendimento e prevenção da infração
juvenil alcançados no Brasil na última
década, que distanciam os antigos modelos
punitivos das perspectivas atuais (que
priorizam modelos pedagógicos de atenção
e desenvolvimento de potencialidade),
ainda não foram suficientes para reverter
a prática institucional conservadora de
institucionalização, secularmente arraigada.
A despeito da nova doutrina, muitas instituições
têm contribuído pouco para a promoção
de qualidade de vida, saúde mental, cidadania
dos usuários do sistema, ressocialização
e redução da reincidência (Oliveira e
Assis, 1999). Ao contrário, muitas vezes
permitem ou produzem formas significativas
de violação aos direitos humanos, sobretudo
quando a infração cometida e a medida
aplicada são de maior gravidade. (Xaud,
1999; Brasil, 2002).
O
retorno do adolescente privado de liberdade
ao seu lar e comunidade é um momento delicado
e usualmente não é acompanhado pelas instituições,
facilitando, para muitos jovens, o retorno
ao mundo infracional. As más condições
da estrutura de grande parte das instituições
brasileiras (lotação, adequação do espaço
à proposta socioeducativa), os modelos
de atenção e as formas como são executadas
as atividades socioeducativas constituem
outro ponto fundamental de interesse para
o campo de reflexão sobre as medidas preventivas
e para a noção de promoção de condições
de vida para esses jovens e suas famílias.
A constatação da realidade vivenciada
em muitas instituições brasileiras ilustra
o quão distante para esses jovens estão
os paradigmas da prevenção e promoção
(Assis e Constantino, 2003).
A
dificuldade de atuar preventivamente e
de forma a promover condições de reaprendizado
social nessas instituições “fechadas”
é um dos mais sérios impasses a serem
enfrentados. Uma das poucas tentativas
observadas foi a do Programa Escola
de Paz, em desenvolvimento pela Unesco
na rede pública de ensino de boa parte
do país, que durante alguns meses tentou
levar a noção de cultura de paz aos adolescentes
em privação de liberdade do Rio de Janeiro.
A falta de continuidade dos programas,
a precariedade dos registros dos programas
institucionais e a inexistência de avaliações
dificultam a socialização de experiências
e impedem a real compreensão do “estado
da arte” da prevenção da violência juvenil
e da promoção da segurança pública no
país.
Recomendações
.
Priorizar programas com enfoque na
reabilitação e de supervisão comunitária;
.
Integrar programas de prevenção direcionados
aos jovens em conflito com a lei a programas
de prevenção mais universais, especialmente
aqueles voltados à prevenção da violência
familiar;
.
Estimular programas de prevenção da
violência em nível escolar;
.
Associar às ações do programa, incentivos
ao apoio econômico e social aos jovens
e suas famílias;
.
Os programas devem agir junto com
as comunidades propondo a redução do acesso
do jovem ao álcool, drogas e armas de
fogo;
.
Criar programas para tratamento do
uso de substâncias psico-ativas;
.
Realizar pesquisas e avaliações nacionais
sobre os programas de prevenção à violência
e promoção de segurança, visando à gestão
mais precisa e frutífera dos recursos
públicos e privados.
Programas
Centrados na Justiça
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência em desenvolvimento no Brasil
apresentados neste relatório, cerca de
19 são centradas na área da Justiça e
outros 16 têm um componente na área da
Justiça apesar de estarem centrados em
outras áreas, como família, trabalho,
comunidade e saúde. Muitos programas de
prevenção do crime e da violência na esfera
da Justiça começaram a ser implementados
a partir da década de 1990. No sistema
de justiça criminal, há promotorias e
varas especializadas no atendimento de
adolescentes em conflito com a lei que
desenvolvem programas voltados para aplicação
e execução de medidas socioeducativas
em meio aberto (liberdade assistida e
prestação de serviços à comunidade). Seja
por meio de organizações não-governamentais,
seja por meio de prefeituras, há diversos
programas centrados no atendimento aos
adolescentes cumprindo medida socioeducativa
em meio aberto. Há programas que têm por
objetivo incentivar a municipalização
do atendimento, para que a execução das
medidas sócio-educativas seja feita na
comunidade de residência dos adolescentes.
Estes programas podem incluir acompanhamento
jurídico, atendimento individual e em
grupo e à família, inserção em cursos
profissionalizantes, estágios e pagamento
de bolsas, visitas domiciliares, inserção
do adolescente e da família na rede de
serviços, atividades culturais e artísticas,
e encaminhamento à escola.
No
sistema penitenciário, há programas que
oferecem capacitação profissional e trabalho
para o preso. Há também programas educacionais
e programas de incentivo à leitura e redação,
e à prática de esporte, jardinagem, teatro,
pintura e dança. Outro foco de programas
é a execução de penas alternativas à prisão
que se concretiza por meio da implantação
de centrais de penas e medidas alternativas,
responsáveis por captar vagas em instituições
sociais para o apenado, encaminhá-lo e
acompanhá-lo na execução da pena alternativa,
bem como supervisionar e apoiar tecnicamente
comarcas que desenvolvem o programa.
Na
área da Justiça, há diversos programas
que visam a descentralizar o atendimento
jurídico, aproximando a população do Poder
Judiciário e/ou oferecendo a possibilidade
de mediação e resolução pacífica de conflitos
em comunidades mais distantes e com pouca
infra-estrutura urbana. Tais programas
contribuem para realização de acordos
judiciais e extrajudiciais, prestam outros
tipos de serviços como emissão de documentos
e realizam oficinas e palestras sobre
direitos e justiça. Nessa linha, há programas
que prestam orientação e encaminhamento
jurídico, desde que o interessado participe
ativamente do encaminhamento da demanda,
incentivando o protagonismo do cidadão
que tiver um direito violado. Existem
centros e núcleos de atendimento a vítimas
de crimes violentos e a familiares de
vítimas fatais, em funcionamento em vários
estados, com apoio do governo federal.
Estes centros oferecem atendimentos multidisciplinares
(jurídico, social e psicológico) para
as vítimas e familiares, e procuram garantir,
entre outros objetivos, o acesso da vítima
à justiça e a responsabilização dos agressores.
Há
também, em vários estados, com apoio do
governo federal, programas de proteção
a vítimas e testemunhas ameaçadas em função
de participação em processo criminal,
cujo objetivo é garantir a proteção integral
das mesmas durante o processo criminal.
Há ainda muitos programas de atendimento
a mulheres e crianças e adolescentes vítimas
de violência doméstica e sexual, com componente
na área da Justiça. De uma forma geral,
os resultados dos programas são auferidos
pelo número de atendimentos. No caso da
execução das medidas socioeducativas,
poucos programas fazem o acompanhamento
da reincidência e do aumento ou diminuição
da aplicação da medida de internação.
No caso de proteção de testemunhas, há
também acompanhamento do número de casos
resolvidos com o auxílio do programa (quadrilhas
desbaratadas e réus condenados). No entanto,
falta articulação entre os indicadores
disponíveis para o monitoramento dos programas,
bem como a sistematização dos atendimentos
realizados pelos programas de forma a
possibilitar a construção de indicadores
mais objetivos.
Recomendações
.
Programas de redução da lentidão na
tramitação dos processos judiciais;
.
Programas de redução da desigualdade
no acesso ao sistema de justiça e da desigualdade
no tratamento das pessoas e das comunidades
pelos profissionais e organizações do
sistema de justiça;
.
Programas de apoio à resolução extrajudicial
e comunitária de conflitos;
.
Programas de redução do número de
pessoas presas preventivamente, aguardando
julgamento;
.
Programas de proteção a vítimas e
testemunhas ameaçadas em razão de participação
em inquérito policial e processo judicial;
.
Programas de reabilitação e reinserção
familiar, profissional e social, dirigidos
a adultos cumprindo pena pela prática
de crime e para adolescentes em medida
sócioeducativa pela prática de ato infracional,
com as seguintes características:
.
Estruturados e direcionados para as características
e as necessidades dos participantes;
.
Centrados no desenvolvimento de habilidades
acadêmicas, profissionais e sociais dos
participantes;
.
Centrados nos incentivos para mudanças
de comportamento;
.
Implementados de forma adequada, pelo
tempo necessário;
.
Integridade nas relações entre agentes
responsáveis pela implementação e participantes.
.
Programas de apoio à aplicação e execução
de penas alternativas e medidas sócioeducativas
em meio aberto, direcionados para:
.
Crimes e infrações menos graves;
.
Adultos e adolescentes com baixa reincidência;
.
Casos em que penas alternativas possuam
maior eficácia e/ou melhor relação custo-benefício.
.
Programas de limitação da aplicação
e execução da pena de prisão e medidas
de internação
aos
crimes e infrações mais graves e aos adultos
e adolescentes com alta reincidência;
.
Programas de apoio à família de adultos
cumprindo pena pela prática de crime e
de adolescentes em medida sócio-educativa
pela prática de ato infracional, especialmente
nos casos de pena de prisão e medida de
internação;
.
Programas de apoio à expansão e aperfeiçoamento
do papel da comunidade na reabilitação,
tratamento e reinserção familiar, profissional
e social dos adultos cumprindo pena pela
prática de crimes e adolescentes em medida
socioeducativa pela prática de ato infracional;
.
Programas de apoio ao registro, compartilhamento,
análise e uso de informações sobre o processo
judicial e a execução penal, bem como
sobre a estrutura e funcionamento dos
sistemas de justiça criminal e administração
penitenciária, voltados para o desenvolvimento
de políticas e programas de prevenção;
.
Programas de apoio ao estudo e pesquisa
sobre a estrutura e funcionamento do sistema
de justiça criminal e administração penitenciária,
e sua relação com a prevenção do crime.
4.8.
A Saúde e Prevenção
Desde
a década de 1970, inicialmente nos Estados
Unidos e depois em outros países do mundo,
cresceu a atenção dos profissionais da
saúde ao problema da violência devido
ao reconhecimento do impacto causado por
ela sobre a saúde das pessoas e das comunidades
e do custo da violência para as instituições
do sistema de saúde. Inicialmente, o setor
de saúde adotou uma abordagem reativa
e terapêutica, centrada no atendimento
e tratamento das vítimas da violência.
Posteriormente, principalmente no setor
da saúde pública, os profissionais da
saúde passaram a adotar uma abordagem
mais pró-ativa e preventiva, procurando
identificar a natureza e controlar a extensão
do problema da violência na sociedade,
identificar suas causas e possíveis soluções,
e aplicar amplamente as medidas adequadas
para solucionar o problema.
Na
área da saúde, adota-se uma tipologia
que classifica as diversas manifestações
de violência em três tipos principais:
a)
violência contra si mesmo;
b)
violência interpessoal, entre as quais
é possível distinguir a violência familiar
e a violência na sociedade, a violência
contra crianças, parceiros, idosos, jovens,
pessoas conhecidas, pessoas estranhas,
e a violência sexual;
c)
violência coletiva.
Compreende-se
ainda que a violência é um fenômeno complexo,
multicausal, cuja incidência e impacto
são influenciados por fatores na esfera
individual, dos grupos mais próximos,
da comunidade local e da sociedade. A
partir da identificação da natureza e
das causas da violência presente na sociedade,
procura-se definir estratégias de prevenção
primária, secundária e terciária, direcionadas
para a população em geral, pessoas ou
grupos em situação de risco, ou pessoas
e grupos que já se tornaram autores ou
vítimas violência. As violências interpessoais,
na esfera da família e da comunidade,
em muitas das suas formas tipificadas
como crime, são objetos de preocupação,
tanto dos profissionais de saúde quanto
dos profissionais da área da segurança
pública e da justiça criminal. Ações de
prevenção da violência têm sido desenvolvidas
pelos profissionais da saúde em diversos
países do mundo, direcionadas a
fatores de risco na esfera individual,
dos grupos mais próximos, da comunidade
mais próxima e da sociedade em geral,
entre as quais se destacam:
.
Na esfera individual, há programas
com o objetivo de promover atitudes e
comportamentos para proteger as crianças
e jovens enquanto crescem e programas
com o objetivo de modificar atitudes e
comportamentos de pessoas que já se envolveram
com a violência, sejam como autores ou
como vítimas. Destacam-se os programas
educativos, inclusive sobre o abuso de
drogas, programas de desenvolvimento de
habilidades sociais e de autocontrole,
programas de aconselhamento e apoio, e
programas de tratamento médico.
.
Na esfera dos grupos mais próximos,
há diversos programas com o objetivo de
melhorar o relacionamento ou resolver
problemas de relacionamento interpessoal,
e são direcionados para as relações familiares
e para relações com colegas e amigos,
na escola e ou na comunidade. Destacam-se
os programas de visitas domiciliares,
programas de instrução sobre relações
pais-filhos, programas de terapia familiar,
programas de desenvolvimento de habilidades
de relacionamento.
.
Na esfera da comunidade local, os
programas têm por objetivo sensibilizar,
organizar e mobilizar os membros da comunidade,
especialmente dos profissionais da saúde,
para identificar a presença de manifestações
de violência nos seu estágio inicial ou
de fatores de risco de violência, bem
como para atuar na prevenção da violência
e no atendimento, assistência e tratamento
das vítimas da violência.
.
Na esfera da sociedade, há ações visando
à adoção de leis e políticas com o intuito
de promover o desenvolvimento de programas
e ações visando a identificar a natureza
e as causas da violência que atinge os
usuários do sistema de saúde, bem como
medidas de prevenção primária, secundária
e terciária para reduzir a mortalidade
e morbidade decorrente de violências.
Brasil
No
Brasil, o PROGRAMA
DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PSF é um exemplo
de programa de prevenção desenvolvido
na esfera da saúde, de abrangência nacional,
direcionado para a família e a comunidade.Criado
em 1993 pelo Ministério da Saúde, hoje
atende a 13 milhões de pessoas em comunidades
(http://www.hospitalar.com/arquivo_not/not1020.html).
Tem como características essenciais o
fato da família, e não o indivíduo, constituir
a referência para as práticas de saúde,
a visão da intervenção ativa e preventiva,
e a integração com a comunidade. As principais
atividades do programa são: diagnóstico
de saúde da comunidade, visita domiciliar,
participação em grupos comunitários, atendimento
nas unidades e estabelecimentos de referência
e contra-referência.
Um
manual de apoio específico sobre o tema
da violência familiar auxilia as equipes
responsáveis pelo Programa Saúde da Família,
ampliando a capacidade de atuação preventiva
em relação à violência contra crianças,
adolescentes, mulheres, idosos, portadores
de deficiência, além de discutir a articulação
entre masculinidade e violência (Deslandes
e Assis, 2003). Embora a equipe, composta
por médicos, enfermeiros e agentes comunitários,
esteja em contato próximo com as famílias,
há muitas dificuldades no que se refere
à atuação frente à violência familiar,
sejam elas devidas a resistências individuais,
normas culturais, inexistência de suporte
e recursos institucionais e insegurança
comunitária (Cavalcanti, 2002).
Este
programa combina serviços e atividades
universais e localizadas: atende tanto
a famílias em geral como àquelas com elevado
grau de vulnerabilidade. É um programa
baseado na comunidade, que atinge as famílias
da comunidade (incluindo as vítimas de
maus-tratos ou potencialmente vítimas),
e coloca os pais em posição privilegiada,
tanto para receber o atendimento como
para dar andamento às ações desenvolvidas
Atualmente, a área da saúde vivencia um
momento fértil na área da atuação frente
à violência, havendo um crescimento significativo
de ações realizadas pelas Secretarias
Estaduais e Municipais dos Estados, com
apoio do Ministério da Saúde, em unidades
do sistema de saúde, na comunidade e na
família. Atividades de monitoramento das
notificações de violência contra a criança
e adolescente hoje fazem parte de estratégias
de muitas secretarias de saúde, contribuindo
para a prevenção da violência à medida
que fornecem a dimensão e gravidade da
violência na sociedade, possibilitando
a conscientização da população sobre o
fenômeno e a definição de prioridades
para prevenção e atendimento. Recentemente
foi aprovada uma lei que estabelece a
notificação compulsória dos casos de violência
contra a mulher, fato que deve estimular
o registro e dar novo foco ao atendimento
a esse grupo nos serviços de saúde.
Uma
forma de prevenção que tem se disseminada
através da área da saúde é a de capacitação
de profissionais para a detecção e atendimento
à vítima de violência e seus familiares.
Em todo o país, Secretarias Estaduais
e Municipais e vários hospitais também
têm criado seus próprios serviços, que
assumem contribuir para o atendimento
e a prevenção da violência através da
capacitação profissional e da atenção
especializada. Programas de atendimento
a crianças e adolescentes vítimas de violência
têm sido criados em vários hospitais públicos
brasileiros, com ações de prevenção primária,
secundária e terciária, propondo atendimento
biopsicossocial à família, alguns deles
incluindo grupos de orientação aos pais.
A
emergência hospitalar é um outro local
em que atividades de prevenção de crimes
e violências podem ser realizadas (embora
efetivamente ainda não o sejam). Estudo
feito em dois hospitais de emergência
do Rio de Janeiro mostra que tanto pacientes
que tentaram suicídios, como crianças,
adolescentes e mulheres vítimas de violência
que buscaram atendimento não foram alvos
de medidas preventivas significativas.
Pelo contrário, vários desses pacientes
foram atendidos sem que se questionasse
a violência sofrida. O atendimento voltou-se
exclusivamente para as queixas clínicas
(Deslandes, 1999). Mesmo que a prática
ainda esteja distante da teoria, é um
avanço o exemplo articulado do Conselho
Regional de Medicina de São Paulo, Escola
Paulista de Medicina e Sindicato dos Médicos
do Estado, que propõem a integração do
atendimento às vítimas de violência (CRMES,
APM, SIMESP, 1998) e a definição do papel
de cada nível da atenção. Muitas organizações
não-governamentais também atuam nessa
área, com a participação de profissionais
da saúde, algumas delas capitaneando as
ações de prevenção da violência contra
a criança/adolescente e contra a mulher
no país.
Programas
Centrados na Saúde
Dos
109 programas de prevenção do crime e
da violência em desenvolvimento no Brasil
apresentados neste relatório (ver seção
7), seis estão centrados na área da saúde.
Outros 21 programas, apesar de estarem
centrados em outras áreas, também desenvolvem
ações na saúde. Programas centrados na
família, que atendem mulheres ou crianças
e adolescentes vítimas de violência familiar,
e programas centrados na comunidade que
atendem a vítimas e familiares de crimes
violentos freqüentemente contam com a
participação de profissionais da área
da saúde, tais como atendimento médico
e psicológico, por exemplo.
A
maioria dos programas tem como preocupação
central a saúde das vítimas de violência.
Há também aqueles voltados para a saúde
de crianças e adolescentes em situação
de risco. E, por fim, existem programas
direcionados para o problema das drogas.
Alguns programas se iniciaram no início
da década de 90, mas a maioria é bastante
recente. Os programas direcionados para
as vítimas de violência desenvolvem dois
tipos de intervenções principais: atendimento
às vítimas e capacitação de profissionais.
O atendimento é realizado especialmente
por profissionais da área médica e psicológica
e direcionado a vítimas de todas as formas
de violência, sendo que alguns programas
demonstram preocupação direta com as vítimas
de violência sexual. A capacitação de
profissionais é intervenção também bastante
freqüente e visa a preparar os profissionais
das áreas da saúde para receber, atender
e trabalhar com as vítimas de violência.
Também os programas que estão voltados
para a saúde dos jovens trabalham com
a capacitação profissional. Encontramos
exemplos de programas de capacitação permanente
dos profissionais que trabalham na área
da infância e da adolescência e de capacitação
de profissionais visando à prevenção da
morbi-mortalidade resultante de causas
externas (tanto intencionais como acidentais).
De
um modo geral, há pouco acompanhamento
e monitoramento dos resultados do trabalho
realizado. Os indicadores mais freqüentes
são o número de participantes dos trabalhos
de capacitação e de atendimentos realizados,
sendo que há poucos registros sobre a
evolução do trabalho realizado e o reflexo
desses programas na prevenção da violência.
Recomendações
.
Programas de prevenção e tratamento
de problemas relacionados ao consumo de
álcool e drogas;
.
Programas de prevenção e tratamento
de problemas psico-sociais e biológicos
que aumentam o risco de comportamentos
violentos;
.
Programas de apoio ao registro, compartilhamento,
análise e uso de informações sobre a incidência
e o impacto da violência na sociedade,
voltados para o desenvolvimento de políticas
e programas de prevenção;
.
Programas de apoio ao estudo e pesquisa
sobre violência e prevenção da violência.
5.
Metodologia para Desenvolver Políticas
e Programas de Prevenção do Crime e da
Violênvia: Como Fazer a Prevenção do Crime
e da Violência?
Crimes
e violências são problemas de segurança
pública com características e causas que
variam muito, dependendo do tipo de crime
e de violência, das pessoas envolvidas
e das circunstâncias em que ocorrem, cujas
soluções nem sempre são conhecidas pelos
profissionais das diversas áreas que lidam
com estes problemas. É fundamental, portanto,
ampliar o conhecimento sobre as características
e as causas dos crimes e violências na
sociedade, e as possíveis soluções para
estes problemas, através de estudos, pesquisas
e particularmente do monitoramento e avaliação
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência desenvolvidas
em cada país, estado, cidade ou bairro.
Estudos e pesquisas realizados em diferentes
países não são suficientes para determinar
o que funciona e o que não funciona em
matéria de prevenção do crime e da violência,
particularmente porque políticas e programas
que funcionam em um contexto freqüentemente
não podem ser implementadas ou não funcionam
em outros contextos. Mas estes estudos
e pesquisas mostram com relativa clareza
que alguns tipos de políticas e programas
têm menos chances de prevenir efetivamente
o crime e a violência:
a)
políticas e programas apoiados simplesmente
em ações de polícia e de justiça;
b)
políticas e programas desenvolvidos sem
planejamento e sem monitoramento e avaliação
da sua implementação e dos seus resultados;
e
c)
políticas e programas sem a participação
da sociedade.
Ainda
que estas políticas e programas possam
ter um efeito positivo no curto prazo,
dificilmente são sustentáveis e produzem
resultados positivos a médio e longo prazo.
Na seção anterior, este relatório apresentou
o resultado de estudos e pesquisas sobre
programas de prevenção do crime e da violência
em diversas áreas, incluindo família,
escola, trabalho, comunidade, mídia, polícia,
justiça e saúde, enfatizando que têm mais
chance de ser bem-sucedidas as políticas
e programas que são compreensivos e localizados,
isto é, dirigidos para áreas e grupos
de risco e para os múltiplos fatores de
risco e de proteção associados ao problema
que ser quer resolver, e também as políticas
e programas que são implementados de forma
contínua e permanente, por um período
suficiente para produzir e consolidar
os resultados desejados, com a participação
da sociedade. Nesta seção, o relatório
apresenta uma metodologia para o desenvolvimento
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência, com o objetivo
de auxiliar os profissionais diretamente
envolvidos no desenvolvimento destas políticas
e programas a aperfeiçoar o seu trabalho
e de aumentar a legitimidade, eficácia
e eficiência das políticas e programas
nesta área.
A
metodologia apresentada nesta seção é
um guia para ação, útil para profissionais
de diversas áreas, envolvidos na prevenção
de diversos tipos de crime e de violência,
em diversos estados, cidades ou bairros.
Assim, a metodologia não prescreve métodos
e ações específicas, adequadas a situações
específicas, para o desenvolvimento de
políticas e programas de prevenção do
crime e da violência. A metodologia descreve
e explica os passos fundamentais deste
processo – incluindo principalmente planejamento,
implementação, monitoramento e avaliação
–, que devem orientar a definição de métodos
e ações específicas, adequadas para o
desenvolvimento destas políticas e programas,
que só podem ser feitas pelos profissionais
diretamente envolvidos no processo, levando
em consideração o contexto no qual acontece.
Esta metodologia foi desenvolvida a partir
de um extenso levantamento de estudos,
pesquisas e relatórios sobre a prevenção
do crime e da violência, realizados por
profissionais de diversos países, especializados
na prevenção de diversos tipos de crimes
e violências.16
Apesar
da complexidade de muitos processos de
desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência,
bem como das próprias políticas e programas
de prevenção do crime e da violência,
esta complexidade dos processos não é
garantia da sua eficácia e freqüentemente
dificulta a sua implementação. Este relatório
procura apresentar uma metodologia básica,
simples, prática, que aponta os elementos
necessários para o desenvolvimento de
políticas e programas de prevenção do
crime e da violência, que poderão e deverão
ser desenvolvidos, aperfeiçoados e adaptados
de acordo com necessidades dos profissionais
que a utilizam.
Planejamento,
Implementação, Monitoramento e Avaliação
Em
teoria, o desenvolvimento de políticas
e programas de prevenção do crime e da
violência é um processo que envolve quatro
etapas ou fases principais, cada uma delas
envolvendo uma série de passos. São elas:
planejamento, implementação, monitoramento
e avaliação.
Planejamento
é a etapa que diz respeito ao processo
de elaboração de políticas, programas
e/ou ações de prevenção do crime e da
violência, que envolve necessariamente
a identificação do problema de segurança
pública a ser resolvido, suas conseqüências,
suas causas, e as ações capazes de resolvê-lo
ou pelo menos limitar e controlar a sua
incidência e/ou conseqüências.
Implementação
é a etapa que diz respeito ao processo
de execução de políticas, programas e/ou
ações de prevenção do crime e da violência.
Monitoramento é a etapa que diz respeito
ao processo de verificação da implementação
e dos resultados de políticas, programas
e/ou ações de prevenção do crime e da
violência. Avaliação é a etapa que diz
respeito ao processo de análise dos resultados
de políticas, programas e/ou ações de
prevenção do crime e da violência, incluindo
a determinação do seu sucesso ou insucesso,
bem como das causas do sucesso ou insucesso
e, eventualmente, uma definição ou recomendação
sobre a sua continuidade, descontinuidade
ou modificação. Planejamento, implementação,
monitoramento e avaliação são quatro etapas
interrelacionadas e interdependentes.
Por exemplo, o planejamento condiciona
e é condicionado pela implementação, monitoramento
e avaliação das políticas e programas.
Por um lado, om planejamento condiciona,
em maior ou menor grau, a implementação,
o monitoramento e a avaliação das políticas
e programas. Se não houver uma clara definição
de objetivos, ações estratégicas, resultados
esperados, e indicadores de implementação
e resultados, na fase de planejamento,
é mais difícil implementar, monitorar
e avaliar a política ou programa. Por
outro lado, o planejamento é condicionado,
em maior ou menor medida, pela possibilidade
ou pela expectativa de implementação,
monitoramento e avaliação das políticas
e programas.
Se
não houver organizações e grupos mobilizados
para implementar a política ou programa
e se não houver informações confiáveis
para o monitoramento e avaliação da implementação
e dos resultados, o planejamento da política
ou programa será afetado. Freqüentemente
há sobreposição entre as quatro etapas,
embora sejam logicamente subseqüentes,
na medida em que o início do planejamento
antecede o início da implementação, que
por sua vez antecede o início do monitoramento,
e este o início da avaliação. Assim, o
planejamento das ações não termina necessariamente
no momento de início da implementação,
mas pode continuar na medida em que se
processa a implementação, monitoramento
e avaliação de resultados, prática esta
que permite a correção de eventuais erros
e a incorporação no planejamento de fatos
novos, não previstos ou não conhecidos
até o início da implementação.
Nas
próximas seções, o relatório focaliza
cada uma das quatro etapas do processo
de desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção da violência, descrevendo
e explicando os passos mais importantes
em cada uma das quatro etapas, e indicando
produtos obtidos em cada uma das etapas.
Planejamento
A
etapa de planejamento pode ser subdividida
em duas etapas principais. A primeira
etapa é o diagnóstico ou auditoria da
segurança pública, para identificar a
natureza, a magnitude e as causas dos
problemas de criminalidade e violência,
as necessidades e expectativas dos indivíduos
envolvidos e da comunidade afetada pelos
problemas, bem como as possibilidades
e limitações existentes para o desenvolvimento
de ações visando a resolver estes problemas.
A
segunda etapa é a formulação de uma política
integrando diversos programas, ou de um
programa integrando diversas ações, visando
a solucionar o problema, definindo objetivos,
ações estratégicas, responsabilidades,
recursos, cronograma de implementação,
resultados esperados e indicadores de
resultados. Pré-condição para sua realização
é a constituição de uma unidade responsável
pelo planejamento, integrada por
profissionais capacitados para realizá-lo,
e a existência de uma base de informações
e dados necessários para o diagnóstico
do problema e a formulação de políticas
e programas para solucioná-lo.
Estruturar
a Unidade Responsável Pelo Planejamento
Em
teoria, o desenvolvimento de políticas
e programas de prevenção do crime e da
violência deve ser um processo aberto,
transparente. Deve contar com a participação
dos principais interessados na resolução
do problema e com as organizações e grupos
cuja contribuição é importante para a
sua resolução, em todas as suas fases,
incluindo o planejamento, a implementação,
o monitoramento e a avaliação. Portanto,
abertura, transparência e participação
são fatores importantes para assegurar
um mínimo de legitimidade, eficácia e
eficiência das políticas e programas de
prevenção do crime e da violência, assim
como acontece com outras políticas e programas
públicos.
Na
prática, abertura, transparência e participação
no processo de desenvolvimento de políticas
e programas de prevenção do crime e da
violência dependem de vários fatores,
incluindo a natureza do problema a ser
enfrentado, a natureza do regime político
e do governo, e organização e mobilização
da sociedade civil. Os estudos, pesquisas
e relatórios mais recentes sobre prevenção
do crime e da violência tendem a reconhecer
e enfatizar a importância da abertura,
da transparência e da participação para
o desenvolvimento de políticas e programas
e de prevenção do crime e da violência.
Reconhece-se, entretanto, que o grau de
abertura, transparência e participação
é variável em função das condições nas
quais se dá o desenvolvimento das políticas
e programas e que o grau de abertura é
um fator que influencia, mas não determina,
o resultado das políticas e programas.
Na
etapa de planejamento, é importante analisar
quais são as organizações e grupos cujo
envolvimento é importante para o sucesso
do processo de desenvolvimento da política/programa
de prevenção do crime e da violência,
e principalmente identificar a organização
ou grupo responsável pela gestão de cada
etapa deste processo (planejamento, implementação,
monitoramento e avaliação). A partir desta
análise, é importante estruturar= uma
unidade de gestão responsável pelo planejamento
(bem como as unidades de gestão responsáveis
pela implementação, monitoramento e avaliação,
que podem ou não coincidir com a unidade
de planejamento) e estabelecer a forma
de relacionamento entre esta unidade e
as demais organizações e grupos participantes
do processo. De maneira geral, quanto
mais complexa a sociedade e a política/programa
de prevenção do crime da violência, maior
será a separação, diferenciação e especialização
das organizações e grupos responsáveis
pelo planejamento, implementação, monitoramento
e avaliação de cada etapa do desenvolvimento
da política/programa de prevenção do crime
e da violência.
Nas
sociedades e políticas/programas mais
simples, entretanto, a mesma organização
ou grupo freqüentemente é responsável
pela gestão de todas as etapas do processo.
Organizações governamentais (dos governos
federal, estadual e/ou municipal), organizações
não governamentais (da sociedade civil
e/ou do setor privado) e centros de estudos
e pesquisas podem participar e colaborar
no desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência.
As
responsabilidades de cada organização,
especialmente a responsabilidade pela
gestão dos processos de planejamento,
implementação, monitoramento e avaliação
de políticas/programas de prevenção do
crime e da violência, dependem em grande
parte das características da sociedade
e do governo e da natureza do problema
de segurança pública que se deseja resolver.
Problemas referentes a ações de grupos
ou organizações criminosas atuando em
mais de um estado ou país normalmente
exigem políticas e programas geridos pelo
governo federal, com a colaboração dos
governos estaduais e municipais. Problemas
referentes a ações de grupos ou organizações
criminosas atuando em mais de um município,
bem como a crimes mais graves e à reincidência
freqüente, normalmente exigem políticas
e programas geridos pelo governo estadual,
com a colaboração do governo federal e
dos governos municipais. Problemas referentes
a ações individuais ou de grupos e organizações
atuando em um único município, bem como
a crimes menos graves, violência doméstica
e de gênero, violência envolvendo crianças
e jovens, e violência contra minorias,
normalmente podem ser objeto de políticas
e programas geridos pelo governo municipal
ou mesmo por entidades não governamentais
(da sociedade civil ou do setor privado),
com a colaboração do governo estadual
e do governo federal.
Identificar
a Natureza e a Magnitude do Problema
Identificar
a natureza e magnitude do problema de
segurança pública implica identificar
tipos de crimes e violências, a freqüência
das ocorrências, similaridades e diferenças
das ocorrências, as situações de incidência,
as características e as relações entre
os indivíduos e grupos afetados pelo problema,
na condição de agressores ou vítimas,
as conseqüências do problema para os indivíduos
e grupos afetados e para a sociedade,
incluindo danos físicos, psicológicos,
econômicos, sociais, culturais e políticos,
e os contextos econômico, social, cultural,
político e institucional nos quais o problema
se manifesta.
Informações
sobre o problema podem ser quantitativas
e/ou qualitativas e podem ser obtidas
a partir de diversas fontes, incluindo
organizações governamentais (federais,
estaduais e municipais), organizações
não-governamentais (da sociedade civil
e do setor privado), e centros de estudos
e pesquisas. Levantar informações junto
aos membros da comunidade e às pessoas
diretamente envolvidas em crimes e violências,
na condição de agressores e vítimas, normalmente
é importante para a adequada compreensão
da natureza e da magnitude do problema.
O
tipo de informação e as fontes de informação
dependem do tipo de problema de segurança
pública que é objeto de atenção, entre
os quais é possível citar, como exemplo:
o crime/violência urbana, o crime/violência
rural, o crime/violência doméstica, o
crime/ violência contra a mulher, crime/violência
envolvendo crianças e adolescentes, crime/
violência contra minorias, o crime/violência
praticado por agente público, o crime/violência
praticado por grupo ou organização criminosa
nacional, e o crime/violência praticado
por grupo ou organização criminosa internacional.
Fontes
de Informação 17
Entre
as fontes de informação mais comuns sobre
problemas de segurança pública, é possível
relacionar:
.
Organizações policiais (dados de boletins
de ocorrência, termos circunstanciados,
inquéritos policiais, sobre crimes, vítimas,
agressores e circunstâncias do crime;
estatísticas e mapas de ocorrências criminais);
.
Organizações do sistema de justiça
criminal, incluindo Ministério Publico,
Poder Judiciário e Defensoria (dados de
processos judiciais, sentenças, sobre
crimes/ violências, vítimas, agressores
e circunstâncias do crime);
.
Organizações do sistema penitenciário
e organizações especializadas na execução
de penas alternativas (dados sobre agressores
e execução penal);
.
Organizações especializadas na aplicação
de medidas sócio-educativas em meio fechado
e em meio aberto (dados sobre adolescentes
que praticaram atos infracionais e aplicação
de medidas sócio-educativas);
.
Organizações especializadas no atendimento
a vítimas de crimes/violências (dados
sobre os crimes/violências, as vítimas,
os agressores e as circunstâncias de crimes/violências);
.
Organizações do sistema de saúde (dados
sobre violências e vítimas);
.
Organizações governamentais, da sociedade
civil e do setor privado (dados de relatórios
sobre tipos específicos de crimes/violências,
agressores, vítimas e circunstâncias de
crimes/violências);
.
Organizações da mídia (dados de reportagens
e análises publicadas na imprensa);
.
Universidades e centros de estudos
e pesquisas (dados de estudos e pesquisas
sobre crimes/violências, vítimas, agressores,
as circunstâncias e as conseqüências do
crime/violência);
.
Pesquisas de vitimização (dados sobre
crimes/violências, vítimas, agressores,
as circunstâncias e as conseqüências do
crime/violência);
.
Pesquisas de opinião (dados sobre
a percepção que a população tem dos problemas
de segurança pública);
.
Grupos focais (dados sobre a percepção
que a população tem da natureza e das
conseqüências dos problemas de segurança
pública);
.
Entrevistas com lideranças e especialistas
(dados sobre a percepção que as lideranças
e os especialistas têm da natureza e das
conseqüências dos problemas de segurança
pública);
Em
relação à coleta de informações, é importante,
antes de procurar ou solicitar informações,
definir quais são as informações relevantes
e identificar as organizações que as possuem.
Assim, a coleta de informações pode ser
direcionada às informações relevantes
e às organizações que as detêm. Evita-se,
assim, o problema de procurar ou solicitar
informações irrelevantes e/ou de procurar
ou solicitar informações junto a organizações
que não as detêm.
Identificar
as Causas do Problema
Além
de identificar a natureza e magnitude,
é importante identificar as causas do
problema de segurança púbica que se deseja
resolver. Identificar as causas do problema
implica identificar os fatores que aumentam
o risco de crimes/violências (fatores
de risco) e/ou os fatores que diminuem
o risco de crimes/violências (fatores
de proteção) associados aos crimes/violências.
Estes fatores de risco e de proteção podem
estar associados à estrutura da sociedade
e/ou à estrutura das situações específicas
em que ocorrem os crimes/violências, bem
como às atitudes e comportamentos de indivíduos
e grupos que praticam e que são vítimas
de crimes/violências (Krug et al 2002;
Reiss e Roth 1993).
As
sociedades, comunidades, grupos e indivíduos
são influenciados por um conjunto de fatores
de risco e de proteção, que contribuem
para estabelecer uma situação de vulnerabilidade
ou resiliência diante do crime/violência.
Há razoável grau de consenso sobre a existência
de múltiplos fatores que contribuem para
aumentar e/ou diminuir o risco de crimes
e violências, bem como a vulnerabilidade
e/ou resiliência diante de crimes e violências.
Mas há sempre divergências sobre a importância
relativa dos vários tipos de fatores de
risco e de proteção e, conseqüentemente,
sobre as ações necessárias para resolver
o problema, que tendem a variar dependendo
do tipo de crime e de violência e das
características da sociedade.
Fatores
Sociais de Risco e de Proteção
Há
estudos e pesquisas sobre a origem do
crime e da violência que focalizam e enfatizam
a importância de fatores associados à
estrutura da sociedade, particularmente,
mas não apenas as características das
instituições familiares, educacionais,
comunitárias, econômicas, policiais, judiciárias
e penitenciárias. Segundo estes estudos
e pesquisas, as características da sociedade
influenciam o grau de pré-disposição dos
indivíduos e grupos para a prática de
crimes/violências. Também influenciam
a maior ou menor presença de indivíduos
e grupos orientados para a prática de
crimes/violências na sociedade – até certo
ponto, independentemente da vulnerabilidade
de indivíduos e grupos à vitimização e
do risco de encontro de agressores e vítimas
em determinados locais e horários.
Entre
os fatores de risco freqüentemente citados
estão: a desorganização social, comunitária
e familiar; a desigualdade de oportunidades,
particularmente nas áreas da saúde, educação,
trabalho, segurança e justiça; a discriminação,
marginalização e exclusão de grupos minoritários;
a disseminação de valores, normas e atitudes
favoráveis ao crime e à violência; a disseminação
de instrumentos (armas) e substâncias
(álcool e drogas) que facilitam a prática
do crime e da violência; as relações com
familiares, amigos e conhecidos envolvidos
com o crime e a violência; a ausência
ou fragilidade de políticas/programas
de prevenção do crime e da violência.
Entre
os fatores de proteção freqüentemente
citados estão: a organização social, comunitária
e familiar; a igualdade de oportunidades,
particularmente nas áreas da saúde, educação,
trabalho, segurança e justiça; a valorização
da diversidade e a inclusão de grupos
minoritários; a disseminação de valores,
normas e atitudes favoráveis à resolução
de problemas e conflitos por meios legais
e pacíficos; a disseminação de meios legais
e pacíficos de resolução de problemas
e conflitos; relações com familiares,
amigos e conhecidos capazes de resolver
problemas e conflitos por meios legais
e pacíficos; o desenvolvimento de políticas/
programas de prevenção do crime e da violência.
Fatores
Situacionais de Risco e de Proteção
Há,
entretanto, outros estudos e pesquisas
que focalizam e enfatizam a importância
de fatores associados à estrutura das
situações em que ocorrem os crimes/violência,
particularmente as relações entre potenciais
agressores e vítimas que se encontram
num determinado local e horário. Segundo
estes estudos e pesquisas, a predisposição
de indivíduos e grupos é fator importante,
mas não suficiente, para explicar o risco
de crimes e violências na sociedade, que
depende também da vulnerabilidade de indivíduos
e grupos à vitimização e, principalmente,
das oportunidades de encontro de potenciais
agressores e vítimas em lugares e horários
determinados. Deste ponto de vista, as
oportunidades para o encontro de potenciais
vítimas e agressores e para a prática
de crimes e violências afetam de maneira
significativa a incidência de crimes e
violências na sociedade – indepen-dentemente
da predisposição de indivíduos e grupos
para a prática de crimes.
Entre
os fatores de risco freqüentemente citados
estão: presença e concentração de pessoas
pré-dispostas à prática de crimes e violências;
concentração de pessoas vulneráveis à
vitimização; e/ou existência de oportunidades
para a prática de crimes e violências,
ou seja, situações, lugares e horários
em que crimes e violências têm custo baixo,
risco baixo e benefício alto.
Entre
os fatores de proteção freqüentemente
citados estão: ausência ou dispersão depessoas
pré-dispostas à prática de crimes e violências;
ausência ou de dispersão de pessoas vulneráveis
à vitimização; e/ou inexistência de oportunidades
para a prática de crimes e violências,
ou adoção de práticas e medidas que aumentam
o custo, aumentam o risco e reduzem o
benefício de crimes e violências.
Teorias
sobre o Crime e a Violência
Sherman
(1992) caracteriza as teorias sobre as
causas do crime e da violência na sociedade
como teorias da “pressão hidráulica” e
teorias da “oportunidade”. Segundo adeptos
das teorias da pressão hidráulica, as
oportunidades para a prática de crimes
e violências ajudam a explicar os tipos
de crime e violência mais recorrentes
na sociedade, os locais e horários de
maior incidência, e os indivíduos e grupos
mais vitimizados. Mas o que explica fundamentalmente
o problema de criminalidade e violência
na sociedade é a pré-disposição de indivíduos
e grupos para a prática de crimes e violências.
Dentre as teorias da pressão hidráulica,
três tipos são bastante freqüentes. O
primeiro tipo de teoria atribui a predisposição
à prática de crimes e violências na sociedade
à desorganização ou anomia na sociedade
e ao enfraquecimento de instituições e
práticas que incentivam a resolução de
problemas e conflitos por meios legais
e pacíficos, freqüentemente associada
a períodos de crise e/ou mudança social
e política.
O
segundo tipo de teoria atribui a predisposição
à prática de crimes e violências na sociedade
à socialização de indivíduos e grupos
para a prática de crimes e violência,
freqüentemente associada à presença na
sociedade de grupos e organizações criminosas
que promovem a resolução de problemas
e conflitos por meios ilegais e violentos.
O terceiro tipo de teoria atribui a predisposição
para a prática de crimes e violências
na sociedade à existência e disseminação
de problemas de natureza biológica, psicológica
e/ou psico-social, que diminuem o autocontrole
dos indivíduos e/ou aumentam sua propensão
para prática de crimes e violências. Para
adeptos das teorias da oportunidade, por
outro lado, a pré-disposição de indivíduos
e grupos para a prática de crimes/violências
é apenas uma dos fatores que contribui
para explicar o problema da criminalidade
e da violência na sociedade, e nem sempre
o mais importante. Outros fatores, mais
importantes, são a vulnerabilidade à vitmização
de indivíduos e grupos, e principalmente
a existência de oportunidades para a prática
de crimes e violências em determinadas
situações, lugares e horários.
No
diagnóstico das causas de um determinado
tipo de problema de segurança pública,
diante da multiplicidade de fatores que
contribuem para a origem do problema,
há freqüentemente uma tendência a privilegiar
determinados fatores em função da adesão
a teorias da “pressão hidráulica” ou a
teorias da “oportunidade”, ou mesmo a
maior disponibilidade de informações sobre
determinados fatores, associados à estrutura
da sociedade, à estrutura das situações
específicas em que ocorrem os crimes/violências,
e/ou às atitudes e comportamentos de indivíduos
e grupos que praticam e que são vítimas
de crimes/violências.
Diante
da ausência de um consenso sobre o valor
das diferentes teorias sobre o crime e
a violência, é prudente analisar, no caso
específico, a importância dos múltiplos
fatores, antes de fixar atenção em um
conjunto específico de fatores de risco
e de fatores de proteção, cuja presença
(no caso de fatores de risco) e ausência
(no caso dos fatores de proteção) contribui
para a origem do problema de segurança
pública. A abertura, a transparência e
a participação de lideranças e especialistas
no processo de diagnóstico da natureza
e das causas do problema de segurança
pública é um instrumento para minimizar
as chances de erro no diagnóstico e aumentar
as chances de correta identificação das
causas do problema.
Fontes
de Informação
Além
dos tipos e fontes de informação citadas
acima, para a identificação da natureza
e magnitude dos problemas de segurança
pública, é possível citar outras fontes
de informação relevantes para a identificação
das causas dos problemas:
.
Organizações do governo municipal,
estadual e federal (dados sobre a população
afetada e sobre o contexto ou a circunstância
na qual acontecem os problemas de segurança
pública);
.
Universidades e centros de estudos
e pesquisas (dados de estudos e pesquisas
sobre as causas dos problemas de segurança
pública);
.
Pesquisas de opinião (dados sobre
a percepção que a população tem das causas
dos problemas de segurança pública);
.
Grupos focais (dados sobre a percepção
que a população tem das causas dos problemas
de segurança pública);
.
Entrevistas com lideranças e especialistas
(dados sobre a percepção que as lideranças
e os especialistas têm das causas dos
problemas de segurança pública).
Definir
os Objetivos da Política/Programa de Prevenção
Na
definição dos objetivos da política/programa
de prevenção do crime e da violência,
há duas escolhas principais a serem feitas.
A primeira diz respeito à escolha entre
a redução da incidência do crime e da
violência ou a redução dos danos causados
pelo crime e pela violência. A opção pela
redução da incidência do crime e da violência
implica a priorização de estratégias de
prevenção primária e secundária do crime
e da violência, voltadas para o conjunto
da população e para as áreas e grupos
de risco. A opção pela redução dos danos
causados pelo crime e pela violência implica
a priorização de estratégias de prevenção
secundária e terciária, centradas nas
áreas e grupos de risco e os indivíduos
que já se tornaram vítimas e/ou autores
de crimes e violências.
A
segunda diz respeito à escolha entre a
redução e a limitação e controle do problema
do crime e da violência. A opção pela
redução e a limitação e controle do problema
implica a opção por estratégias mais compreensivas,
orientadas para um maior número de fatores
de risco e de proteção, e abrangentes,
orientadas populações e áreas maiores.
A opção pela limitação e controle do problema
implica a opção por estratégias menos
compreensivas, orientadas para um menor
número de fatores de risco e de proteção,
emenos abrangentes, orientadas para populações
e áreas menores. A definição dos objetivos
da política/programa condiciona e é condicionada
pelo conjunto de ações que podem ser realizadas
na implementação da política/programa.
Definir
as Ações para Realização dos Objetivos
da Política/Programa
Ações
para realização dos objetivos da política/programa
de prevenção do crime e da violência podem
ser implementadas em diversas áreas da
sociedade, incluindo as seguintes áreas:
família, escola, trabalho, comunidade,
mídia, polícia, justiça e saúde. A análise
das ações que podem ser implementadas
para realizar os objetivos da política/
programa deve levar em consideração a
sua legitimidade, a sua eficácia e eficiência,
bem como sua exeqüibilidade e sustentabilidade.
A definição das ações a serem implementadas
deve levar em consideração a necessidade
e suficiência das ações para, atuando
sobre os fatores de risco e de proteção,
realizar os objetivos da política/programa.
Ações desnecessárias devem ser descartadas.
As ações escolhidas devem ser suficientes
para realização dos objetivos. Na definição
das ações a serem implementadas, em função
de considerações sobre a legitimidade,
eficácia, eficiência, exeqüibilidade e
sustentabilidade das ações que podem ser
implementadas, é possível e freqüentemente
desejável haver uma redefinição e ajuste
dos objetivos da política/programa.
Definir
as Organizações e Grupos que Podem Colaborar
no Desenvolvimento da Política/Programa
Organizações
governamentais (federais, estaduais e/ou
municipais) e organizações não governamentais
(da sociedade civil e/ou do setor privado)
podem participar e colaborar no desenvolvimento
de políticas/programas de prevenção do
crime/violência e das ações de implementação,
monitoramento e avaliação das políticas/programas.
Na fase de planejamento, entretanto, é
importante definir claramente as responsabilidades
de cada organização e grupo, especialmente
das organizações e grupos responsáveis
pela gestão de cada etapa do processo
de desenvolvimento da política/programa.
No desenvolvimento de políticas/programas
de prevenção do crime e da violência,
a legitimidade e também a eficácia e eficiência
de políticas/programas normalmente podem
ser reforçadas através da identificação
e inclusão de dois tipos de organizações
e grupos:
a)
organizações e grupos representativos
das comunidades afetadas pelo problema,
especialmente da população afetada pelo
problema;
b)
organizações governamentais e não governamentais
desenvolvendo ações relevantes para resolução
do problema.
Definir
os Recursos para o Desenvolvimento da
Política/Programa
Na
definição dos recursos para o desenvolvimento
da política/programa, há duas escolhas
principais. Primeiro, a escolha da natureza
dos recursos, incluindo recursos materiais
e humanos. Tradicionalmente, na área da
segurança pública, os governos investem
mais na aquisição de tecnologias, equipamentos,
viaturas e armas do que na contratação
e qualificação dos profissionais para
fazer uso destes recursos materiais. Cada
vez mais, entretanto, há uma tendência
a enfatizar a importância dos recursos
humanos sobre os recursos materiais.
Segundo,
a escolha entre as fontes dos recursos,
que podem ser as organizações governamentais
(federais, estaduais, municipais) e não
governamentais (sociedade civil, setor
privado). No Brasil, tradicionalmente,
na área da segurança pública, o governo
federal e principalmente os governos estaduais
são as principais fontes de recursos para
políticas/programas de prevenção do crime
e da violência. De maneira crescente,
entretanto, reconhece-se a importância
dos recursos investidos pelos governos
municipais e por organizações não governamentais,
da sociedade civil e do setor privado.
Definir
um Cronograma para Desenvolver a Política/Programa
O
desenvolvimento da política/programa deve
ser orientado por um cronograma de execução,
definindo as ações a serem implementadas
no curto, médio e longo prazo, e os prazos
para implementação das ações.
Definir
os Resultados que se Espera Alcançar com
a Implementação da Política/Programa
É
importante definir os resultados que se
espera alcançar com o desenvolvimento
da política/programa, bem como a implementação
das ações que integram a política/programa,
a curto, médio e longo prazo, porque é
através do monitoramento dos resultados
que será possível saber se, e em que medida,
os objetivos da política/programa foram
atingidos. Os resultados esperados devem
estar sempre relacionados aos objetivos
da política/ programa, ainda que a relação
entre os resultados esperados e os objetivos
não seja sempre evidente ou óbvia. Além
de estarem relacionados aos objetivos
da política/programa, os resultados esperados
devem ser sempre mensuráveis através de
indicadores de resultados. Os resultados
esperados são freqüentemente definidos
em termos quantitativos, como, por exemplo,
a redução dos crimes violentos ou o aumento
do efetivo policial, mas podem ser definidos
também em termos qualitativos, como, por
exemplo, melhoria da segurança pública
ou o aperfeiçoamento da atuação da polícia.
Neste caso, entretanto, é importante definir
indicadores capazes de medir ou verificar
resultados qualitativos.
Planejar
o Monitoramento da Implementação e dos
Resultados
O
monitoramento da implementação e dos resultados
da política/programa e das ações previstas
na política/programa deve ser permanente,
iniciando-se logo após o início da implementação
da política/programa.
Na
fase de planejamento, é importante definir
quem realizará o monitoramento e como
o monitoramento será feito. É interessante
responsabilizar organizações ou grupos
diferentes pela implementação e pelo monitoramento
da política/programa, embora nem sempre
seja possível separar e diferenciar estas
duas atividades. O monitoramento da implementação
e dos resultados depende da existência
de indicadores capazes de medir ou verificar
avanços na implementação e os resultados
obtidos a partir da implementação da política/programa
e das ações previstas na política/programa.
Indicadores
são medidas que ajudam a “responder a
questão ‘quanto’, ou ‘se’, progresso está
sendo realizado na direção de um certo
objetivo” (Vera Institute of Justice,
2003). Indicadores são importantes para
verificar progresso na implementação de
ações ou programas por parte de uma organização
ou grupo, na obtenção de resultados específicos
a partir da implementação de ações ou
programas específicos por parte de organizações
ou grupos específicos, e na obtenção de
resultados gerais a partir da implementação
de um conjunto de ações e programas específicos
que integram uma política geral. O Vera
Institute of Justice (2003) desenvolveu
um guia para construção de indicadorespara
verificar os resultados de políticas e
programas na área da segurança e justiça,
que ressalta a importância de combinar
diversos tipos de indicadores, relacionados
aos resultados das ações desenvolvidas
pelas diferentes organizações e grupos
participantes da política ou programa,
para verificar o resultado geral das políticas
ou programas. O guia também ressalta a
importância de utilizar diversas fontes
para obter informação sobre os indicadores.
Entre
as principais fontes de informação na
área de segurança e justiça, o guia cita
os bancos de dados governamentais, as
pesquisas quantitativas e qualitativas,
os relatórios de organizações governamentais,
não governamentais e da imprensa, a legislação.
As
principais recomendações para o desenvolvimento
de indicadores são:
.
Começar pelo resultado, não pelo indicador;
.
Medir resultados com cestas balanceadas
de indicadores;
.
Testar os indicadores pela sua sensitividade
às mudanças pretendidas;
.
Desenhar indicadores que permitam
isolar as experiências de grupos com menos
poder, como, por exemplo, a população
pobre;
.
Evitar criar incentivos perversos;
.
Usar os indicadores mais simples e
baratos;
.
Desenvolver a confiança nos indicadores
entre os interessados;
.
Desenhar indicadores que façam sentido
para a maioria das pessoas.
Planejar
a Avaliação da Implementação e dos Resultados
A
partir dos dados obtidos durante o monitoramento
da implementação e dos resultados das
ações, programas e políticas, é possível
fazer uma avaliação da implementação e
dos resultados destas ações, programas
e políticas. Na fase de planejamento,
é importante definir quando serão feitas
avaliações, quem realizará as avaliações
e como estas serão feitas. As avaliações
podem ser mais ou menos freqüentes, mas
é fundamental a realização de uma avaliação
ao final do processo de implementação
da política ou programa. Avaliações
mais freqüentes oferecem mais oportunidades
de verificar se, e em que medida, as políticas,
programas e ações estão produzindo os
resultados esperados e realizando os seus
objetivos.
As
avaliações podem ser feitas de forma aberta
e pública, ou de forma fechada e reservada.
Podem contar com a participação de representantes
das organizações e grupos envolvidos no
planejamento, implementação e monitoramento
da política/programa, e também dos destinatários
ou beneficiários da política/programa.
Nas avaliações, é importante focalizar
os fatores que mais influenciaram a implementação
e os resultados da política/programa,
os resultados alcançados e não-alcançados,
os resultados esperados e inesperados.
É importante também realizar comparações
com outras políticas/programas semelhantes
e com políticas/programas diferentes.
O principal resultado da etapa de planejamento
é um documento estabelecendo de forma
clara e precisa a política/programa de
prevenção do crime e da violência e um
plano de ação para implementação da política/programa.
.
IMPLEMENTAÇÃO
A
etapa de implementação da política/programa
de prevenção do crime e da violência inclui
a implementação, conforme o plano de ação
estabelecido na etapa de planejamento,
das ações de curto, médio e longo prazo.
Pré-condição para a implementação da política/programa
é a constituição de uma unidade responsável
por esta implementação, que pode ser a
mesma responsável pelo planejamento, integrada
por organizações ou grupos e por profissionais
capacitados.
Estruturar
a Unidade de Gestão da Implementação
Essencial
na estruturação da unidade responsável
pela implementação da política/ programa
é a identificação de uma organização ou
grupo capaz de mobilizar organizações
e grupos parceiros e os recursos necessários
para implementar o plano de ação, bem
como de profissionais capazes de antecipar
e solucionar dificuldades na execução
do plano de ação e, eventualmente, modificar
e aperfeiçoar o plano de ação em função
dos resultados obtidos no processo de
implementação.
No
caso de políticas de prevenção do crime
e da violência, integrando diversos programas
e ações, governamentais e não-governamentais,
é importante que a unidade gestão seja
parte da estrutura governamental. No caso
de programas de prevenção, a unidade de
gestão pode ser ou não parte da estrutura
governamental. A gestão de programas de
prevenção é freqüentemente compartilhada
por organizações governamentais e não
governamentais.
Mobilizar
as Organizações e Grupos
Na
mobilização das organizações e grupos
responsáveis pela implementação da política/
programa, é importante informar os membros
destas organizações e grupos sobre os
objetivos da política/programa, bem como
capacitá-los e motivá-los para implementar
as ações previstas no plano de ação. Neste
sentido, cursos, estágios e materiais
didáticos podem ser desenvolvidos para
os profissionais de organizações governamentais
e não governamentais responsáveis pela
implementação da política/programa.
Campanhas
e materiais informativos podem ser desenvolvidos
para o público alvo da política/programa,
cuja colaboração é fundamental para o
sucesso da política/programa. No desenvolvimento
de cursos, estágios, campanhas, materiais
didáticos e informativos, é importante
verificar se estes são apropriados e relevantes
para os objetivos e para público que se
pretende atingir.
Mobilizar
os Recursos
Na
mobilização de recursos para políticas/programas
de prevenção, a criação de fundos públicos
para financiar políticas e programas governamentais
é uma estratégia adotada na área da saúde
e que vem sendo adotada na área da segurança
pública pelo governo federal e por diversos
governos estaduais e municipais. É importante,
entretanto, considerar que os recursos
públicos para o desenvolvimento de políticas/programas
de segurança pública são limitados e,
na maioria das vezes, não são direcionados
para prevenção do crime e da violência.
Além disso, organizações governamentais
freqüentemente desenvolvem políticas sociais
e urbanas relevantes para a prevenção
do crime e da violência, sem considerar
a relação das políticas/programas com
a prevenção do crime e da violência. Organizações
não-governamentais, da sociedade civil
e do setor privado, poderiam investir
mais recursos no desenvolvimento de políticas/
programas de prevenção do crime e da violência
e na melhoria da segurança pública, se
houvesse mais incentivos para que isso
acontecesse.
Com
incentivos adequados, parte dos recursos
atualmente investidos em políticas/ programas
segurança pública e justiça criminal poderia
ser direcionada para políticas/ programas
de prevenção do crime e da violência.
Parte dos recursos atualmente investidos
em políticas sociais e urbanas poderia
ser direcionada para políticas/programas
que contribuísse para a prevenção do crime
e da violência. E parte dos recursos atualmente
investidos na segurança privada poderia
ser direcionada para a segurança pública.
Entre os diversos tipos de incentivos
que podem ser considerados para direcionar
recursos públicos e privados para políticas/programas
de prevenção (Goldstein 1997; Pease 1998),
é possível citar:
.
Disseminação de informação;
.
Campanhas educativas;
.
Propostas informais/privadas;
.
Propostas formais/públicas;
.
Críticas informais/privadas;
.
Críticas formais/públicas;
.
Concessão de benefícios econômicos
para investimentos em prevenção;
.
Imposição de custos econômicos para
ausência de investimentos em prevenção;
.
Legislação obrigando investimentos
em prevenção;
.
Ações judiciais referentes a prejuízos
decorrentes de ações que aumentam a incidência
de crimes e violências, e da ausência
de ações de prevenção do crime e da violência.
Realizar
as Ações Previstas no Plano de Ação
Constituída
a unidade de gestão, mobilizados as organizações,
os grupos e os recursos necessários, é
possível realizar as ações previstas no
plano de ação, na forma estabelecida no
cronograma de execução. O principal resultado
da etapa de implementação é a efetiva
realização das ações= previstas no plano
de ação, visando à obtenção dos resultados
esperados, no curto, médio e longo prazo.
.
MONITORAMENTO
A
etapa de monitoramento da política/programa
de prevenção do crime e da violência se
inicia logo após a definição dos objetivos,
ações e resultados esperados, na fase
de planejamento da política/programa.
Atividades preparatórias para o monitoramento,
particularmente a identificação de indicadores
da implementação e dos resultados das
ações previstas na política/programa e
a identificação de fontes de informações
para verificação da evolução destes indicadores,
devem ser realizadas desde a fase de planejamento.
Ainda na fase de planejamento, antes do
início da implementação da política/ programa,
é importante verificar a situação dos
indicadores, a fim de permitir o acompanhamento
e a comparação dos indicadores antes,
durante e após a implementação da política/programa.
O início do monitoramento deve acontecer
simultaneamente ao início da implementação
da política/programa, a fim de permitir
o acompanhamento dos resultados a curto,
médio e longo prazo.
Pré-condição
para o monitoramento da política/programa
é a constituição de uma unidade responsável
por este monitoramento, integrada por
uma organização, grupo ou profissionais
capacitados, que disponham de recursos
e acesso a fontes de informações e dados
necessários para realizar o monitoramento.
Estruturar
a Unidade de Gestão do Monitoramento
Essencial
na estruturação da unidade responsável
pelo monitoramento da política/ programa
de prevenção do crime e da violência é
a identificação de uma organização, grupo
ou profissionais capazes de produzir,
coletar, sistematizar e analisar informações
e dados sobre a implementação e os resultados
da política/programa. Preferencialmente,
a unidade responsável pelo monitoramento
deve ser separada e diferente da unidade
responsável pelo planejamento e implementação
da política/programa. Deve incluir especialistas
com conhecimento na área de metodologia
de monitoramento e avaliação de políticas/programas
e conhecimento sobre o problema que é
objeto da política/programa.
É
importante que a unidade de gestão do
monitoramento esteja em comunicação com
organizações e grupos envolvidos no planejamento
e implementação do programa, e com organizações
e grupos que são ou devem ser atendidos
pela política/programa, a fim de que possa
receber a colaboração destes no processo
de monitoramento, particularmente através
do fornecimento de informações e dados
relevantes para o processo de monitoramento.
Mobilizar
Organizações e Grupos
Na
mobilização das organizações e grupos
que podem colaborar no processo de monitoramento,
fornecendo informações e dados sobre a
implementação e os resultados da política/programa,
é importante informar os membros destas
organizações e grupos sobre os objetivos
da política/programa e particularmente
da etapa de monitoramento, bem como motivá-los
para colaborar no processo de monitoramento.
A legitimidade do processo de monitoramento
de políticas/programas de prevenção do
crime e da violência é reforçada através
da inclusão e colaboração não apenas de
representantes de organizações e grupos
envolvidos no planejamento e implementação
da política/programa, mas principalmente
de representantes de organizações e grupos
que são ou devem ser atendidos ou beneficiados
pela política/programa.
Coletar,
Sistematizar e Analisar Informações e
Dados
No
processo de monitoramento, é importante
separar e diferenciar indicadores e fontes
de informações e dados referentes à implementação
das ações previstas na política/ programa
de prevenção e referentes aos resultados
das ações implementadas. É importante
também identificar as fontes de informações
e dados disponíveis para verificar a situação
dos indicadores. Por fim, é importante
utilizar diversos indicadores e diversas
fontes de informação e dados para verificar
a situação dos indicadores. Atendimentos
realizados, pessoas atendidas, benefícios
concedidos, pessoas beneficiadas, por
exemplo, são geralmente indicadores da
implementação das ações. Incidência de
crimes e violências, população vítima
de crimes e violências, população reincidente
na prática de crimes e violências, grau
de exposição a fatores de risco e a fatores
de proteção, grau de vulnerabilidade e
de resiliência diante de fatores de risco
e a fatores de proteção, por outro lado,
são geralmente exemplos de indicadores
de resultados da implementação das ações.
Número de homicídios, latrocínios, roubos,
lesões corporais e estupros são exemplos
de indicadores da incidência de crimes
violentos. Secretarias de estado da segurança
pública e secretarias da saúde são exemplos
de fontes de informação e dados sobre
a incidência de homicídios.
Elaborar
Relatórios
Constituída
a unidade de gestão, mobilizados as organizações
e grupos, coletadas, sistematizadas e
analisadas informações e dados, é possível
elaborar relatórios periódicos sobre a
implementação e os resultados das ações
previstas na política/programa. O principal
resultado da etapa de monitoramento são
relatórios apresentando informações, dados
e análises parciais e finais sobre a implementação
e os resultados das ações previstas na
política/programa. Além de informações,
dados e análises sobre o conjunto de ações
previstas na política/programa, é importante
apresentar informações, dados e análises
sobre ações específicas, focalizando as
principais ações, a fim de que seja possível
avaliar não apenas o resultado geral da
política/programa, mas também a contribuição
específica das principais ações para o
resultado geral.
.
AVALIAÇÃO
A
etapa de avaliação da política/programa
de prevenção do crime e da violência se
inicia logo após a elaboração do primeiro
relatório apresentando informações, dados
e análises parciais sobre a implementação
e dos resultados das ações previstas na
política/ programa. Durante esta etapa,
os relatórios parciais e o relatório final
do monitoramento são apresentados e analisados.
A partir desta análise da implementação
e dos resultados da política/programa,
são tomadas decisões em relação a sua
continuidade, reorientação ou, eventualmente,
suspensão.
Enquanto
o monitoramento da implementação e dos
resultados da política/programa é uma
atividade permanente, a avaliação é uma
atividade que acontece periodicamente,
normalmente a partir da elaboração dos
relatórios parciais e finais do monitoramento.
Freqüentemente,
a avaliação é realizada apenas ao final
do período de implementação da política/projeto.
Mas é boa prática a realização de avaliações
periódicas, durante o período de implementação
da política/programa, que podem servir
de base para a identificação e resolução
de problemas nos processos de implementação
e monitoramento.
A
avaliação deve incluir uma reflexão sobre
a implementação e os resultados das ações
previstas na política/programa, as condições
e os fatores que facilitaram e que dificultaram
a implementação da política/programa,
as condições e os fatores responsáveis
pelo sucesso ou pelo fracasso da política/programa.
Deve incluir ainda recomendações sobre
a continuidade, reorientação ou, eventualmente,
suspensão da política/programa.
No
caso da avaliação final, deve incluir
recomendações sobre a aplicabilidade da
política/programa em outros contextos.
Pré-condição
para a avaliação da política/programa
é a constituição de uma unidade responsável
por esta avaliação, integrada por uma
organização, grupo ou profissionais capacitados,
que disponham de recursos e de informações
e dados suficientes para realizar a avaliação.
Estruturar
a Unidade de Gestão da Avaliação
Essencial
na estruturação da unidade responsável
pela avaliação da política/programa de
prevenção do crime e da violência é a
identificação de uma organização, grupo
ou profissionais capazes de analisar os
relatórios de monitoramento e avaliar
a implementação e os resultados da política/programa.
Assim como a unidade responsável pelo
monitoramento, a unidade responsável pela
avaliação deve ser separada e diferente
da unidade responsável pelo planejamento
e implementação da política/programa.
A mesma unidade pode ser responsável pelo
monitoramento e pela avaliação da política/programa.
Deve incluir especialistas com conhecimento
na área de metodologia de monitoramento
e avaliação de políticas/programas e conhecimentosobre
o problema que é objeto da política/programa.
É
importante que a unidade de gestão da
avaliação esteja em comunicação com organizações
e grupos envolvidos no planejamento, implementação
e monitoramento do programa, e com organizações
e grupos que são ou devem ser atendidos
pela política/ programa, a fim de que
possa contar com a colaboração de seus
representantes no processo de avaliação
da implementação e os resultados da política/programa.
Mobilizar
as Organizações e Grupos
Na
mobilização das organizações e grupos
que podem colaborar no processo de avaliação,
é importante informar os membros destas
organizações e grupos sobre os objetivos
da política/programa e particularmente
da etapa de avaliação, bem como capacitá-los
e motivá-los para avaliar a implementação
e os resultados da política/programa.
A legitimidade do processo de avaliação
de políticas/programas de prevenção do
crime e da violência é reforçada através
da inclusão e colaboração não apenas de
representantes de organizações e grupos
envolvidos no planejamento, implementação
e monitoramento da política/programa,
mas principalmente de representantes de
organizações e grupos que são ou devem
ser atendidos ou beneficiados pela política/programa.
Elaborar
relatórios
O
principal resultado da etapa de avaliação
são relatórios avaliando a implementação
e os resultados das ações previstas na
política/programa, incluindo avaliações
sobre as condições e os fatores que facilitaram
e que dificultaram a implementação da
política/programa e os fatores responsáveis
pelo sucesso ou pelo fracasso da política/programa.
O relatório deve incluir ainda recomendações
sobre a continuidade, reorientação ou,
eventualmente, suspensão da política/programa.
No caso da avaliação final, o relatório
deve incluir recomendações sobre a aplicabilidade
da política/programa em outros contextos.
Além
da avaliação geral da implementação e
do resultado da política/programa, é importante
apresentar avaliações específicas da implementação
e dos resultados das principais ações,
a fim de que seja possível avaliar não
apenas o resultado geral da política/programa,
mas também a contribuição específica das
principais ações para o resultado geral.
6.
O Papel da União, Estados e Municípios:
Como Promover a Prevenção do Crime e da
Violência?
O
Brasil é um estado federal, no qual o
governo federal e os governos estaduais
e municipais têm responsabilidades específicas
na área da segurança municipal, conforme
estabelecido na Constituição Federal de
1988. O Sistema Único de Segurança Pública
visa a promover a integração das ações
federais, estaduais e municipais, sem
ferir o princípio da autonomia dos estados
e dos municípios, mas definindo princípios
e diretrizes comuns, e criando condições
favoráveis para que o governo federal
apóie ações dos governos estaduais e municipais,
e receba em contrapartida o apoio destes
governos, na área da segurança pública.
Apesar
das diferenças existentes entre as áreas
da segurança pública e da saúde, a experiência
de construção do Sistema Único de Saúde
no Brasil (Ministério da Saúde, Conselho
Nacional de Saúde 2002) é uma referência
fundamental para a construção do Sistema
Único de Segurança Pública. Também é uma
referência fundamental a experiência internacional
e a diretrizes da Organização das Nações
Unidas em matéria de prevenção do crime
e da violência (United Nations Economic
and Social Council, Commission on Crime
Prevention and Criminal Justice 2002).
Por fim, é uma referência importante a
experiência dos Estados Unidos, um estado
federal como o Brasil, em que o governo
federal desempenha um papel ativo na promoção
de programas de prevenção do crime e da
violência nos estados e municípios (Sherman
et al 1997).
Com
base em estudos e pesquisas nacionais
e internacionais sobre a prevenção do
crime e da violência, e na experiência
de construção do Sistema Único de Saúde
no Brasil, é possível delinear uma série
de princípios e diretrizes que podem orientar
a atuação do governo federal e o desenvolvimento
de políticas, programas e ações de prevenção
do crime e da violência, no contexto do
Sistema Único de Segurança Pública.
PRINCÍPIOS
Democracia
e Direitos Humanos, Desenvolvimento Sustentável,
Cooperação Internacional
A
prevenção do crime e da violência deve
ser compatível com e contribuir para o
fortalecimento da democracia e dos direitos
humanos, do desenvolvimento sustentável,
e da cooperação internacional. Sem democracia,
direitos humanos, desenvolvimento sustentável
e cooperação internacional, políticas,
programas e ações de prevenção não poderão
contribuir efetivamente para a redução
do crime e da violência.
Responsabilidade
do Estado
A
prevenção do crime e da violência é uma
responsabilidade do estado, que deve ser
compartilhada por organizações governamentais
em todos as esferas e áreas do estado,
incluindo organizações federais, estaduais
e municipais, responsáveis por políticas
econômicas, sociais, culturais, habitacionais,
urbanas, de segurança pública, administração
da justiça e administração penitenciária.
Participação
da Sociedade
A
prevenção do crime e da violência, apesar
de ser uma responsabilidade do estado,
deve contar com a participação de organizações
da sociedade civil e do setor privado,
na formulação, implementação, monitoramento
e avaliação de políticas e programas de
prevenção.
Universalidade
A
prevenção do crime e da violência deve
beneficiar o maior número possível depessoas
e grupos, especialmente as pessoas e grupos
vulneráveis e/ou em áreas e situações
de risco, mais suscetíveis de se tornar
vítimas e/ou autores de crimes e violências.
Eqüidade
A
prevenção do crime e da violência deve
beneficiar igualmente todas as pessoas,
independentemente da sua condição econômica,
social e/ou cultural, da sua orientação
política, ideológica ou religiosa, da
sua origem, nacionalidade, idade, gênero
e cor.
Integralidade
A
prevenção do crime e da violência depende
do desenvolvimento de ações de prevenção
primária, secundária e terciária, assim
como de ações em diversos contextos institucionais,
incluindo a família, escola, trabalho,
mídia, comunidade, polícia, justiça e
saúde.
Descentralização
A
prevenção do crime e da violência depende
da adequação das ações de prevenção às
condições específicas de cada estado e
município e às necessidades e prioridades
da população.
Diretrizes
A
aplicação destes princípios no desenvolvimento
de políticas, programas e ações de prevenção
do crime e da violência depende da implementação
de uma série de diretrizes, principalmente
por parte das organizações governamentais,
federais, estaduais e municipais, mas
também por parte das organizações da sociedade
civil e do setor privado:
Unidade
de Gestão 18
O
governo deve ter uma unidade de gestão
responsável pelo desenvolvimento da política
de prevenção do crime e da violência,
visando a integrar programas e ações de
organizações em diferentes esferas e áreas
de governo. Esta unidade de gestão pode
ser uma secretaria, coordenadoria, comitê,
comissão, grupo de trabalho e/ou gabinete
de gestão integrada da segurança pública,
mas deve ter estrutura adequada para desempenhar
seu papel e incluir representantes das
diferentes esferas e áreas de governo
cuja atuação é relevante para a prevenção
do crime e da violência e para a melhoria
da segurança pública. A disponibilidade
e compartilhamento de informações e dados
sobre a criminalidade e a violência e
sobre políticas e programas de prevenção
do crime e da violência e melhoria da
segurança pública é uma condição fundamental
para o funcionamento da unidade gestora.
Conselho
Consultivo 19
Associado
à unidade de gestão, o governo deve contar
com um conselho consultivo, para promover
a participação social e o controle externo
no desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência e
promoção da segurança pública. O conselho
consultivo deve ter estrutura adequada
para desempenhar seu papel e deve ser
paritário, incluindo representantes de
organizações do governo, da sociedade
e da universidade, além de especialistas,
cuja atuação é relevante para a prevenção
do crime e da violência e para a melhoria
da segurança pública. O acesso a informações
e dados sobre a criminalidade e a violência
e sobre políticas e programas de prevenção
do crime e da violência e melhoria da
segurança pública é uma condição fundamental
para o funcionamento do conselho consultivo.
Plano
de Ação
A
unidade de gestão, com apoio do conselho
consultivo, deve desenvolver um plano
de ação, definindo objetivos a serem alcançados,
ações para realização dos objetivos, organizações
responsáveis pela implementação das ações,
prazos para implementação das ações, recursos
disponíveis, resultados esperados, e instrumentos
de monitoramento e avaliação da implementação
e dos resultados do plano, visando à prevenção
do crime e da violência e a melhoria da
segurança pública Políticas e programas
de prevenção do crime e da violência são
mais eficazes quando têm objetivos definidos
de forma clara e precisa, são planejadas
levando em consideração as características
específicas dos crimes e violências que
se pretende evitar e das comunidades em
que estes crimes e violências acontecem,
e atuam sobre os fatores de risco e os
fatores de proteção que afetam a incidência
e o impacto de crimes e violências – sejam
estes fatores relacionados às atitudes
e comportamentos dos agressores e das
vítimas, ou às situações ou contextos
em que os crimes e violências acontecem.
A
criminalidade e a violência são fenômenos
complexos, que se manifestam de forma
diferente, têm causas diferentes, e exigem
soluções diferentes em estados, cidades
e bairros diferentes. No Brasil, a criminalidade
e a violência urbana são problemas particularmente
graves. As grandes cidades e regiões metropolitanas
registram taxas de homicídios extremamente
elevadas em comparação com as registradas
em outros países da região e do mundo.
O problema da criminalidade e da violência
urbana deve estar no centro das atenções
no desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção. A violência familiar e doméstica,
a violência de gênero, freqüentemente
entre parceiros íntimos, a violência contra
membros de grupos minoritários, a violência
envolvendo jovens, são problemas graves
que contribuem de maneira significativa
para o aumento do crime e da violência
na sociedade brasileira. Estes problemas
devem ser considerados prioritários no
desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção, particularmente nas esferas
estadual e municipal.
O
crime organizado, a corrupção e a violência
– praticada por agentes públicos trabalhando
nas polícias, nos sistemas penitenciários
e nas unidades de internação de
adolescentes – são problemas que não apenas
contribuem para o aumento do crime e da
violência na sociedade, como minam a capacidade
das organizações governamentais e não-governamentais
de desenvolver políticas e programas de
prevenção. Estes problemas também
devem ser considerados prioritários no
desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção, particularmente nas esferas
federal e estadual. Na sociedade brasileira,
a desigualdade, a discriminação e a falta
de oportunidades, particularmente
na área da educação e do trabalho, a desigualdade
no acesso aos sistemas de segurança e
justiça, além do estresse e da instabilidade
no ambiente familiar e comunitário, são
fatores que aumentam o risco e agravam
o impacto de muitos tipos de crimes e
violências. Estes fatores devem ser levados
em consideração no desenvolvimento de
políticas e programas de prevenção.
Políticas
e programas de prevenção são mais eficazes
se forem compreensivos e levarem em consideração
o conjunto de fatores de risco e fatores
de proteção cuja interação determina a
vulnerabilidade ou resiliência dos indivíduos,
famílias, grupos e comunidades diante
do crime e da violência. Neste sentido,
políticas e programas de prevenção devem
ser multidisciplinares e multi-setoriais,
incorporando assim a contribuição de profissionais
especializados em diversas disciplinas
e de grupos e organizações atuando em
diversas áreas do governo e da sociedade.
A interação e a colaboração de parceiros
de disciplinas e setores diferentes é
mais efetiva quando acontece desde o início,
da fase de planejamento das políticas
e programas, continuando nas fases de
implementação, monitoramento e avaliação.20
Políticas
e programas de prevenção são mais eficazes,
do ponto de vista da redução do crime
e da violência na sociedade, se forem
direcionados para as áreas e grupos onde
há maior concentração de fatores de risco
de crimes e violências e menor concentração
de fatores de proteção diante de crimes
e violência. A exceção a esta regra geral
seriam os programas de prevenção centrados
na área da família, cuja aceitação pública,
apoio político e econômico, e resultados
comprovados em programas avaliados indicam
a necessidade de sua universalização,
ainda que a implementação deva levar em
consideração as diferenças entre áreas
e grupos em relação aos fatores de risco
e aos fatores de proteção.
Políticas
e programas de prevenção são mais eficazes
se o seu desenvolvimento estiver baseado
em informações e dados não apenas sobre
o tipo de crime e de violência que se
pretende evitar, mas também sobre a implementação
e os resultados de políticas e programas
de prevenção semelhantes desenvolvidos
anteriormente.
Base
de Informação 21
A
qualidade de políticas e programas de
prevenção do crime e da violência e da
melhoria da segurança pública depende
da existência de uma base de informações
e dados sobre os principais crimes e violências
que se deseja prevenir, bem como sobre
as características do meio ambiente físico
e/ou social nos quais estes crimes e violências
acontecem, dos grupos em situações de
risco e/ou vulneráveis, e das as pessoas
que efetivamente praticam e/ou são vítimas
de crimes e violências.
Recursos
Humanos 22
A
qualidade de políticas e programas de
prevenção do crime e da violência e de
melhoria da segurança pública depende
também da existência de profissionais
qualificados, atuando em organizações
governamentais e não governamentais, e
de programas de formação e atualização
profissional em áreas relevantes para
a prevenção do crime e da violência.
Recursos
Materiais
A
qualidade de uma política e de um plano
para prevenção do crime e da violência
depende ainda da existência de recursos
suficientes para sua formulação, implementação,
monitoramento e avaliação, bem como da
alocação adequada dos recursos disponíveis,
levando em consideração principalmente
os resultados alcançados pelos diversos
programas e ações de prevenção.
União,
Estados e Municípios na Prevenção do Crime
e da Violência
Num
estado federal como o Brasil, o sucesso
na prevenção do crime e da violência depende
da integração de ações na esfera da União,
dos Estados e dos Municípios. A União
está numa posição mais favorável para
promover a cooperação entre o governo
e organizações internacionais. Os Estados
e Municípios, por sua vez, estão em posição
mais favorável para promover a cooperação
entre o governo e organizações da sociedade
civil e do setor privado. Depende, entretanto,
tanto da União quanto dos Estados e dos
Municípios, a integração das ações do
governo federal, governos estaduais e
governos municipais.
O
desafio, na construção do Sistema Único
de Segurança Pública, é definir a responsabilidades
da União, Estados e Municípios na prevenção
do crime e da violência, e as condições
mínimas para que a União, os Estados e
os Municípios desempenhem adequadamente
suas responsabilidades.
União
Analisando
a experiência dos Estados Unidos, Sherman
(Sherman et al 1997) argumenta que, nos
Estados Unidos, o governo federal desempenha
dois papéis principais na prevenção do
crime e da violência: a) direcionar a
prevenção criminal realizada pelos estados
e cidades, através de investimentos em
pesquisa e desenvolvimento de estratégias
de prevenção criminal; b) financiar o
desenvolvimento de programas de prevenção
criminal pelos estados e cidades. No caso
do direcionamento da prevenção criminal,
o governo federal financia a pesquisa
necessária para o desenvolvimento de um
programa de prevenção criminal, a implementação
do programa em uma localidade, o monitoramento
e avaliação do programa em uma localidade,
a disseminação de informação sobre o programa
e seus resultados para todo o país.
Uma
questão crucial, na definição do papel
do governo federal, é a relação entre
o direcionamento e o financiamento de
programas de prevenção. Nos Estados Unidos,
o governo federal historicamente desempenhou
os dois papéis paralelamente, aproveitando
o resultado de pesquisa e desenvolvimento
para orientar o financiamento de programas
de prevenção desenvolvidos pelos estados
e cidades. Segundo Sherman (Sherman et
al 1997), investimentos em pesquisa e
desenvolvimento produzem resultados muito
superiores do que investimentos no financiamento
de programas de prevenção criminal. A
melhor estratégia, portanto, seria integrar
os investimentos federais em pesquisa
e desenvolvimento e no financiamento de
programas de prevenção, exigindo que parte
dos investimentos destinados ao financiamento
dos programas de prevenção seja utilizado
no monitoramento e avaliação da eficácia
e do custo-benefício dos programas. O
Governo Federal passou a dispor de um
novo instrumento para apoiar o desenvolvimento
de políticas e programas na área da segurança
pública, inclusive políticas e programas
de prevenção do crime e da violência,
com a criação do Fundo Nacional deSegurança
Pública em junho do ano 2000, através
de medida provisória 2.029/00, posteriormente
instituído pela lei federal 10.201/01,
de 14 de fevereiro de 2001. Com a reestruturação
do Fundo Nacional de Segurança Pública,
através da lei federal 10.746/03, de 10
de outubro de 2003, o Governo Federal
procurou criar condições mais favoráveis
para o desenvolvimento de políticas de
prevenção do crime e da violência por
parte dos estados, integrando programas
na área da segurança pública e programas
de prevenção do crime e da violência desenvolvidos
em outras áreas, além da participação
dos municípios na prevenção do crime e
da violência e na melhoria da segurança
pública.
Além
da ampliação dos recursos do Fundo Nacional
de Segurança Pública, é fundamental a
definição de uma política nacional de
segurança pública, articulada a políticas
estaduais e municipais, na qual a prevenção
do crime e da violência seja um objetivo
central, e não apenas marginal, para orientar
a aplicação dos recursos do Fundo. Somente
assim será possível promover a efetiva
integração entre os programas federais,
estaduais e municipais desenvolvidos na
área da segurança pública, da justiça
criminal e da administração penitenciária,
e os programas desenvolvidos nas áreas
da saúde, educação, trabalho, promoção
social, comunicação social, desenvolvimento
urbano, direitos humanos, entre outras,
relevantes para a prevenção do crime e
da violência e para a melhoria da segurança
pública.
Nesse
sentido, o Governo Federal, através do
Ministério da Justiça, deve desenvolver
uma política nacional de prevenção do
crime e da violência e promoção da segurança
pública, que orientaria a aplicação de
recursos do Fundo Nacional de Segurança
Pública e a aplicação de recursos de órgãos
federais em políticas e programas federais,
estaduais e municipais de prevenção do
crime e da violência e promoção da segurança
pública. Os governos estaduais que se
integrarem ao Sistema Único de Segurança
Pública devem desenvolver uma política
estadual de prevenção do crime e da violência
e promoção da segurança pública alinhada
com a política nacional. Da mesma forma,
os municípios que se integrarem ao Sistema
Único de Segurança Pública devem desenvolver
políticas municipais de prevenção do crime
e da violência e promoção da segurança
pública alinhada com a política nacional
e a política estadual. Na esfera da União,
o Governo Federal poderia criar, junto
ao Ministério da Justiça, uma comissão
executiva ou gabinete de gestão integrada,
responsável pelo desenvolvimento e da
política nacional de prevenção do crime
e da violência e promoção da segurança
pública. A comissão executiva poderia
ser presidida pelo Ministro da Justiça,
coordenada pelo Secretário Nacional de
Segurança Pública, contando com a participação
de representantes dos diversos órgãos
do Ministério da Justiça, representantes
de outros ministérios e secretarias do
Governo Federal, e ainda representantes
dos governos estaduaise dos governos municipais.
Esta
comissão executiva poderia estar articulada
com um conselho consultivo, responsável
pela promoção da participação social e
controle externo no desenvolvimento da
política nacional de prevenção do crime
e da violência e promoção da segurança
pública. Este conselho seria paritário,
com representantes do governo e da sociedade,
e deveria contar com a participação de
especialistas e representantes de organizações
governamentais e da sociedade civil, atuando
na esfera federal, estadual e municipal,
nas áreas da segurança pública, justiça
criminal, administração penitenciária,
saúde, educação, trabalho, promoção social,
comunicação social, desenvolvimento urbano,
direitos humanos e outras áreas relevantes
para a prevenção do crime e da violência.
No
longo prazo, o Governo Federal poderia
criar um Conselho Nacional de Prevenção
do Crime e da Violência e Promoção da
Segurança Pública, junto ao Ministério
da Justiça, a partir da fusão do Conselho
Nacional de Segurança Pública e do Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
No
curto prazo, o Governo Federal poderia
criar um Conselho Nacional de Prevenção
do Crime e da Violência e Promoção da
Segurança Pública, junto à Secretaria
Nacional de Segurança Pública, a partir
da reestruturação do Conselho Nacional
de Segurança Pública. Esta reestruturação
teria por objetivo de ampliar a representatividade
do conselho, através da inclusão de representantes
de organizações governamentais (federais,
estaduais e municipais), organizações
da sociedade civil e da universidade,
atuando em áreas relevantes para a prevenção
do crime e da violência e a promoção da
segurança pública. Para promover a participação
e integração de organizações federais
ao Sistema Único de Segurança Pública,
seria importante a participação de representantes
da Polícia Federal, do Ministério Público
Federal, do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, Conselho de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana,
Conselho Nacional de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente, Conselho
Nacional dos Direitos da Mulher, Conselho
Nacional de Promoção da Igualdade Racial,
Conselho Nacional de Educação, Conselho
Nacional de Saúde, Conselho Nacional de
Assistência Social, e Conselho Nacional
deDesenvolvimento Econômico e Social.
Para
promover a participação e integração de
organizações estaduais ao Sistema Único
de Segurança Pública, seria importante
a inclusão de representantes das secretarias
de estado da segurança, da justiça e da
administração penitenciária, de entidades
da polícia civil, da polícia militar,
da polícia técnico-científica, do Ministério
Público Estadual, de conselhos estaduais
da área da segurança pública, justiça
e administração penitenciária. Para promover
a participação e integração dos municípios
ao Sistema Único de Segurança Pública,
seria importante a participação de representantes
de entidades nacionais dos municípios,
entidades nacionais das guardas municipais,
e conselhos municipais da área da segurança
urbana.
O
Governo Federal deve promover o desenvolvimento
de políticas e programas estaduais e municipais
de prevenção do crime e da violência e
promoção da segurança pública, e a integração
dos estados e municípios ao Sistema Único
de Segurança Pública, através de apoio
econômico, contando para isso com recursos
do Fundo Nacional de Segurança Pública
e de outras fontes disponíveis, apoio
técnico, apoio político, e da definição
de regras mínimas para orientar o desenvolvimento
de políticas estaduais e municipais articuladas
com a política nacional. O Governo Federal
deve condicionar os investimentos dos
recursos do Fundo Nacional de Segurança
Pública à apresentação pelos estados e
municípios de informações e dados sobre
o crime e a violência e sobre a implementação
e o resultado de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência,
bem como à observância pelos estados e
municípios das regras mínimas estabelecidas
na política nacional, entre as quais se
destacam:
.
A constituição de unidades integradas
de gestão da segurança pública responsáveis
pelo desenvolvimento de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência e
promoção da segurança pública, com representação
de diferentes setores do governo.
.
A constituição de conselhos consultivos
para promover a participação social e
o controle externo no desenvolvimento
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência e promoção da
segurança pública, com representação de
diferentes setores do governo, da sociedade
e da universidade.
.
A elaboração de políticas e programas
de prevenção do crime e da violência e
promoção da segurança pública, integrando
ações de diferentes setores do governo
e da sociedade civil.
.
O desenvolvimento de bases de informação
para subsidiar a formulação, implementação,
monitoramento e avaliação de políticas
e programas de prevenção do crime e da
violência e promoção da segurança pública.
.
A formação e qualificação de profissionais
para formular, implementar, monitorar
e avaliar políticas e programas de prevenção
do crime e da violência e promoção da
segurança pública.
.
A constituição de fundos e a destinação
de recursos públicos e privados para formulação,
implementação, monitoramento e avaliação
de políticas e programas de prevenção
do crime e da violência e promoção da
segurança pública.
O
Governo Federal deve ainda constituir
um sistema nacional de informações sobre
segurança pública e justiça criminal,
definir e promover a implantação de regras
mínimas para formação e aperfeiçoamento
de profissionais de segurança pública,
e identificar e promover inovações e boas
práticas nos estados e municípios da federação.
O Governo Federal deve, por fim, através
do Ministério da Justiça, assumir a responsabilidade
pela política de prevenção do crime organizado
interestadual e internacional, contando
sempre com a colaboração de outros ministérios
e secretarias de estado do Governo Federal,
e ainda dos estados e dos municípios,
através de convênios ou protocolos estabelecidos
entre as partes.
Estados
No
Brasil, os estados têm desempenhado um
papel central na área da segurança pública,
através das organizações do sistema de
segurança pública, justiça criminal e
administração penitenciária, mas não têm
sido capazes de desenvolver e de sustentar
políticas de prevenção do crime e da violência
e desenvolver ações integradas com o Governo
Federal e os governos municipais. Para
viabilizar o desenvolvimento de uma política
estadual de prevenção do crime e da violência,
o Estado deve constituir uma unidade de
gestão que, juntamente com um conselho
consultivo, seria responsável pela política
estadual e pela formulação, implementação,
monitoramento e avaliação de um plano
de ação integrando programas para prevenção
do crime da violência e melhoria da segurança
pública no estado. Para viabilizar a operacionalização
da política estadual de prevenção do crime
e da violência, o Estado deve criar o
Fundo Estadual de Segurança Pública, constituir
um sistema estadual de informações sobre
segurança pública e justiça criminal e
adotar as regras mínimas para formação
e aperfeiçoamento de profissionais de
segurança pública. O Estado deve assumir
a responsabilidade pela política de prevenção
do crime e da violência no seu território,
especialmente a prevenção do crime organizado
intermunicipal, a prevenção dos crimes
e violências de maior gravidade, além
da prevenção do crime e da violência nos
municípios que não se integrarem ao Sistema
Único de Segurança Pública, contando sempre
com a colaboração da União e dos municípios,
através de convênios ou protocolos estabelecidos
entre as partes.
Municípios
23
No
Brasil, há um crescente reconhecimento
do papel dos municípios na área da segurança
pública (Brasil, Ministério da Justiça
2003). Entretanto, a atuação dos governos
municipais na prevenção do crime e da
violência ainda é incipiente e tem alcance
e impacto limitado. A efetiva participação
dos municípios na área da segurança pública,
ao lado do governo do estado e do Governo
Federal, depende da existência ou da criação
de condições favoráveis, nos municípios,
para o desenvolvimento e a sustentação
de políticas de prevenção do crime e da
violência, entre as quais se destacam:
uma unidade de gestão e um conselho consultivo,
responsáveis pelo desenvolvimento da política
municipal de prevenção do crime e da violência
e melhoria da segurança pública; uma base
municipal de informações; um grupo de
profissionais capacitados; e disponibilidade
de recursos e um fundo municipal para
segurança pública.
Para
viabilizar a operacionalização da política
municipal de prevenção do crime e da violência,
o Município deve criar o Fundo Municipal
de Segurança Pública, constituir um sistema
municipal de informações sobre segurança
pública e, caso tenha guarda municipal,
adotar as regras mínimas para formação
e aperfeiçoamento de profissionais de
segurança pública.
O
Governo Federal deve reservar uma parcela
dos recursos do Fundo Nacional de Segurança
Pública para promover o desenvolvimento
de políticas e programas municipais de
prevenção do crime e da violência, e a
integração dos municípios ao Sistema Único
de Segurança Pública. Na aplicação da
parcela dos recursos do Fundo e no processo
de integração dos municípios ao Sistema
Único de Segurança Pública, o Governo
Federal deve dar atenção especial aos
municípios que são capitais de estado,
pertencem a regiões metropolitanas, são
pólos regionais, têm grande concentração
populacional e altas taxas de homicídio,
além de experiências inovadoras na área
da segurança pública. Os municípios que
se integrarem ao Sistema Único de Segurança
Publica devem compartilhar com o Estado
e a União a responsabilidade pela política
de prevenção do crime e da violência no
seu território, especialmente no desenvolvimento
de programas e prevenção primária e na
prevenção dos crimes e violências de menor
gravidade, da violência doméstica e de
gênero, violência contra minorias e violência
envolvendo jovens, da desordem urbana
e dos conflitos interpessoais e sociais.
Os
municípios devem contar sempre com a colaboração
do Estado e da União, particularmente
os municípios que são capitais de estado,
pólos regionais, têm grande concentração
populacional ou pertencem a regiões metropolitanas.
Enquanto não houver legislação federal
regulamentando a participação dos municípios
na área da segurança pública, esta participação
deve ser regulada através de convênios
ou protocolos estabelecidos entre Município,
Estado e, principalmente quando apoiada
pelo Fundo Nacional de Segurança Pública,
pela União.
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Glossário
Crime
Transgressão
imputável da lei penal, por dolo ou culpa,
ação ou omissão (Houaiss).
Violência
Uso
intencional da força física ou do poder,
real ou em ameaça, contra outra pessoa
ou contra si próprio ou contra outro grupo
de pessoas, que resulte ou tenha grande
possibilidade em resultar em lesão, morte,
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento,
ou privação (OMS).
Prevenção
do Crime e da Violência
Resultado
de políticas, programas e/ou ações de
redução do crime e da violência e/ou seu
impacto sobre os indivíduos e a sociedade,
atuando sobre os fatores de risco e os
fatores de proteção que afetam a incidência
do crime e da violência e seu impacto
sobre os indivíduos, famílias, grupos
e comunidades, e sobre a vulnerabilidade
e a resiliência dos indivíduos, famílias,
grupos e comunidades diante do crime e
da violência.
Fator
de Proteção
Fator
que reduz a probabilidade de incidência
ou de efeitos negativos de crimes ou violências.
Quanto maior a presença de fatores de
proteção e menor a presença de fatores
de risco, menor a probabilidade de incidência
e de efeitos negativos de crimes e violências.
Fator
de Risco
Fator
que aumenta a probabilidade de incidência
ou os efeitos negativos de crimes ou violências,
mas não determina a incidência ou os efeitos
negativos de crimes e violências. Quanto
maior a presença de fatores de risco,
e menor a presença de fatores de proteção,
maior a probabilidade de incidência e
de efeitos negativos de crimes e violências.
Resiliência
Condição
de indivíduos, famílias, grupos e comunidades
que os tornam menos suscetíveis ao envolvimento
com o crime e à violência e de vitimização,
mesmo em situações de alto risco.
Vulnerabilidade
Condição
de indivíduos, famílias, grupos e comunidades
que os tornam mais suscetíveis de envolvimento
com o crime e a violência e de vitimização,
mesmo em situações de baixo risco.
Política
de Prevenção do Crime e da Violência
Conjunto
de programas, desenvolvido pelo governo
(federal, estadual e/ou municipal), integrados
em função de objetivos comuns, visando
a reduzir a incidência do crime e da violência
e/ou seus efeitos negativos sobre os indivíduos,
famílias, grupos e comunidades.
Programa
de Prevenção do Crime e da Violência
Conjunto
de ações, desenvolvidas por organizações
governamentais e/ou não governamentais,
integradas em função de objetivos comuns,
visando a reduzir a incidência do crime
e da violência e/ou seus efeitos negativos
sobre os indivíduos, famílias, grupos
e comunidades.
Prevenção
Primária
Estratégia
de prevenção centrada em ações dirigidas
ao meio ambiente físico e/ou social, mais
especificamente aos fatores ambientais
que aumentam o risco de crimes e violências
(fatores de risco) e que diminuem o risco
de crimes e violências (fatores de proteção),
visando a reduzir a incidência e/ou os
efeitos negativos de crimes e violências.
Pode incluir ações que implicam mudanças
mais abrangentes, na estrutura da sociedade
ou comunidade, visando a reduzir a pré-disposição
dos indivíduos e grupos para a prática
de crimes e violências na sociedade (prevenção
social). Ou, alternativamente, pode incluir
ações que implicam mudanças mais restritas,
nas áreas ou situações em que ocorrem
os crimes e violências, visando a reduzir
as oportunidades para a prática de crimes
e violências na sociedade (prevenção situacional).
Prevenção
Social
Estratégia
de prevenção centrada em ações dirigidas
à redução da pré-disposição dos indivíduos
e grupos para a prática de crimes e violências
na sociedade.
Prevenção
Situacional
Estratégia
de prevenção centrada em ações dirigidas
à redução das oportunidades para a prática
de crimes e violências na sociedade, através
do aumento dos custos, aumento dos benefícios
e/ou redução dos benefícios associados
à prática de crimes e violências.
Prevenção
Secundária
Estratégia
de prevenção centrada em ações dirigidas
a pessoas mais suscetíveis de praticar
crimes e violências, mais especificamente
aos fatores que contribuem para a vulnerabilidade
e/ou resiliência destas pessoas, visando
a evitar o seu envolvimento com o crime
e a violência ou ainda a limitar os danos
causados pelo seu envolvimento com o crime
e a violência, bem como a pessoas mais
suscetíveis de ser vítimas de crimes e
violências, visando a evitar ou limitar
os danos causados pela sua vitimização.
É freqüentemente dirigida aos jovens e
adolescentes, e a membros de grupos vulneráveis
e/ou em situação de risco.
Prevenção
Terciária
Estratégia
de prevenção centrada em ações dirigidas
a pessoas que já praticaram crimes e violências,
visando a evitar a reincidência e promover
o seu tratamento, reabilitação e reintegração
familiar, profissional e social, bem como
a pessoas que já foram vítimas de crimes
e violências, visando a evitar a repetição
da vitimização e a promover o seu tratamento,
reabilitação e reintegração familiar,
profissional e social.
Prevenção
Universal
Estratégias
de prevenção direcionadas a toda a população,
independente do risco de crime e de violência.
Prevenção
Localizada
Estratégias
de prevenção direcionadas a uma parcela
da população, levando em consideração
o risco de crime e de violência.
Prevenção
Escolhida
Estratégia
de prevenção direcionada à população em
situação de risco de envolvimento em crimes
e violências, na condição de autor ou
de vítima.
Prevenção
Indicada
Estratégia
de prevenção direcionada à população que
já se envolveu em crimes e de violências,
na condição de autor ou de vítima.
Prevenção
Compreensiva
Estratégias
de prevenção baseadas em múltiplas ações/programas,
direcionadas a múltiplos fatores de risco
e de proteção.
Prevenção
Focalizada
Estratégia
de prevenção baseada em uma única ação/programa,
direcionadas a um único fator de risco
ou de proteção.
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