SUSP
Sistema Único de Segurança
Pública Estados
Arquitetura
institucional do SUSP
CAPÍTULO
4
Formação
Policial
I - Plano Nacional
de Segurança Pública
II - O papel do Grupo
de Trabalho sobre "Educação
Policial"
III - Âmbito do
Sistema de Educação Policial
IV - Notas para uma Teoria
da Educação Policial
V - Processos Educativos
e Metodologias de Ensino e Aprendizagem
VI - Proposta de Matriz
Curricular: Eixos Temáticos
A – Parte Geral
– Eixos Temáticos e Disciplinas
(ementas)
I ) Sociologia do
Controle Social
EMENTÁRIO
II) Cultura Jurídica
e Prática Policial
EMENTÁRIO
III) Valorização
Profissional: Disciplinas e Ementas
EMENTÁRIO
B – Parte
específica: Eixo Temático
e Sugestões de Disciplinas
IV) Inovações
e/ou adequações de técnicas
policiais
7. Estruturas de
Ensino
8. Sistemas de Avaliação
Institucional
9. Análise Estratégica
da Educação Policial no
Campo do Controle Social
10 - Constituição
de um Sistema de Pesquisa sobre Temas
de Segurança Pública e Proteção
Social
11 - Efeitos na Educação
Policial, Derivados da Organizações
Policiais atuais: homo faber ou homo humanus?
12 – Planejamento
Estratégico Situacional Aplicado
à Educação Policial
13. Conclusão
CAPÍTULO
4
Formação
Policial
I
- Plano Nacional de Segurança Pública
(
http://www.mj.gov.br/noticias/2003/abril/pnsp.pdf
)
Este
documento tem como objetivo propor um
Sistema Nacional de Educação Policial,
a partir das diretrizes do Plano Nacional
de Segurança Pública, o qual afirma:
“A formação deve estar comprometida com
a paz e a cidadania e conectada com os
avanços da ciência. Só assim será possível
desenvolver a construção de conceitos
teóricos e práticos de segurança pública,
de Polícia Militar, de Polícia Civil,
dentre outras instituições, que expressem
os valores, as garantias e o sentido de
ordem para o Estado Democrático de Direito
e para a sociedade organizada”.
Constitui
a base para o estabelecimento das Diretrizes
Curriculares, definindo uma formação humanística,
científica e altamente profissionalizada
para os policiais: “O ciclo básico desses
cursos priorizará a formação humanística,
científica e multidisciplinar dos profissionais,
sendo que o ciclo técnico também será
fundado nesses elementos norteadores,
voltando-se para o conhecimento e o uso
detécnicas atualizadas de policiamento,
investigação, prevenção, proteção e controle,
com ênfase maior ou menor nessas práticas,
dependendo da especialização do(a) policial
a ser formado(a)”.
O
PNSP adota uma postura crítica em relação
ao atual sistema de formação policial,
heterogêneo e desarticulado, sendo enfático
quanto à necessidade de uma integração
institucional:
“A
unificação progressiva das academias e
escolas de formação não se limita à integração
dos currículos. É preciso que as polícias
civis e militares, da base operacional
aos setores intermediários e superiores,
sejam formadas em uma única academia ou
escola descentralizada, fundada nos preceitos
da legalidade democrática e do respeito
aos direitos fundamentais da pessoa
humana”.
Enfim,
o PNSP formula uma concepção de Educação
Policial orientada para a proteção dos
direitos constitucionais e fundamentais
do cidadão brasileiro:
“A
formação unificada das polícias é fator
imprescindível para a integração coordenada,
profissional e ética do trabalho preventivo
e investigativo, tendo sempre como destinatário
o cidadão, a sua defesa e a proteção de
seus direitos”.
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II
- O papel do Grupo de Trabalho sobre “Educação
Policial”
O
Grupo sobre Formação Policial concebe
o Policial como um agente voltado para
a segurança do Estado e a proteção da
sociedade. Como a função do Estado é servir
à sociedade, devemos, através da educação,
fazer com que o policial reconheça que
o Estado é um meio e não um fim: por conseqüência,
o policial deve ser um profissional que
trabalha em favor da sociedade, garantindo
a segurança do cidadão.
Nosso
papel é definir alguns parâmetros garantidores
da qualificação dos processos educativos,
oferecidos aos Operadores de Segurança
Pública, que possam garantir - respeitadas
as realidades e os saberes locais - um
mínimo de convergência dos Programas em
curso nos Estados e Instituições universitárias.
Construímos
os seguintes princípios de responsabilidade
social da educação policial:
-
Garantir uma formação com respeito
à dignidade humana em toda a atividade
policial;
-
Eliminar a discriminação de gênero,
orientação sexual, religiosa ou étnica,
induzindo uma formação orientada pelo
respeito à dignidade humana e às diferenças;
-
Propiciar uma educação orientada
por uma ética da responsabilidade social
do serviço público, de modo a controlar
a corrupção no interior das organizações
policiais, civis e militares;
-
Desenvolver uma formação orientada
pela transparência e responsabilização
interinstitucional e frente à sociedade
civil;
-
Formação que reconheça a legitimidade
do controle externo das Polícias, previsto
na Constituição de 1988, pelo Ministério
Público, (Art. 129, VII).
^
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III
- Âmbito do Sistema de Educação Policial
Pretendemos
estabelecer uma formação que possa servir
às várias polícias existentes, ou seja,
os policiais que serão os sujeitos do
processo de ensino-aprendizagem. Nesta
proposta, serão contemplados os membros
das Polícias Militares, das Polícias Civis
e também dos Corpos de Bombeiros. Entretanto,
as formulações gerais desta proposta poderão
ser úteis para contribuir à formação de
outras categorias profissionais envolvidas
no Sistema Único de Segurança Pública.
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IV
- Notas para uma Teoria da Educação Policial
Orientados
pelo paradigma da autonomização moral
e intelectual e tendo como perspectiva
as análises complexas da sociedade no
Século XXI, propomos que a formação dos
policiais incorpore a contemporaneidade
do saber crítico em Ciências Humanas e
Jurídicas.
Para
desenvolver as habilidades e competências
em regulação de conflitos, na prevenção
de crimes, na repressão profissional e
na investigação criminal, necessitamos
de uma perspectiva complexa e holística.
Se
a primeira e mais substantiva função da
polícia constitui-se na regulação de conflitos
do cotidiano, é evidente que a esta função
devem estar subordinadas as demais, por
definição secundárias.
Tanto
a reconstrução dos fatos pela investigação
destinada a esclarecê-los e a punir
eventuais transgressores da lei, quanto
a repressão explícita necessária à contenção
de comportamentos individuais ou coletivos
que põem em risco a segurança de todos
e de cada um, devem se constituir apenas
em parte da formação policial, estruturando-se
em procedimentos previsíveis e conseqüentes,
decorrentes de uma política de segurança
pública baseada na inevitabilidade do
conflito e na necessidade de sua regulação,
para o exercício pleno da cidadania na
sociedade estruturada juridicamente em
um Estado moderno, republicano e democrático.
Ao
se tratar do ensino de noções de direito
aos policiais, a ênfase não deve ser na
memorização repetitiva de dogmas doutrinários
e de artigos da legislação administrativa
e penal. Trata-se de colocar ênfase na
própria historicidade do direito, sua
relação com os processos de formação do
Estado-Nação e o significado do direito
de acesso à justiça e com a constituição
das garantias jurídicas individuais e
o controle dos atos da administração pública,
no exercício do poder de polícia em oposição
ao poder da polícia de representar o monopólio
do uso comedido da força física pelo Estado.
Isto
decorre das lutas e razões que originaram,
em nossa tradição jurídica ocidental,
os direitos fundamentais do cidadão (civis,
políticos, econômicos, sociais e ambientais),
com suas conseqüências para as chamadas
políticas de direitos humanos e cidadania.
Ao
mesmo tempo, deve-se acentuar a importância
das condutas éticas para a proteção de
todos os profissionais, inclusive do
policial. O vetor epistemológico é no
sentido da desconstrução dos valores e
dos treinamentos inculcados nos policiais
contemporâneos, inclusive a crítica contemporânea
do direito penal e do direito processual
penal, em favor do modelo contemporâneo
de controle social disciplinar da sociedade.
A
educação policial no Brasil contemporâneo,
pelo exposto acima, encontra-se diante
de uma série de problemas do campo do
controle social formal, os quais poderiam
ser resumidos nas seguintes indagações:
1.
Como a formação integrada poderá ajudar
a superar as disputas de competências
entre os operadores de segurança pública
existentes – Polícia Federal, Polícia
Rodoviária Federal, Polícias Civis, Polícias
Militares, Guardas Municipais – propiciando
um patamar inovador acerca do significado
e das funções das organizações policiais?
2.
Tendo em vista o crescimento das guardas
municipais, como resolver o problema da
formação policial neste cenário de “municipalização”,
o qual envolve gestores de segurança municipal
e guardas municipais?
3.
Como um sistema de formação policial poderia
contribuir à regulação e ao controle público
das empresas privadas de segurança?
4.
Em que medida a educação policial poderá
ajudar a superar uma cultura organizacional
militarista nas Polícias Militares, marcada
pela presença da arbitrariedade e da
exaltação de um tipo de disciplina e de
hierarquia militar reprodutora de privilégios?
5.
Em que medida a educação policial poderá
ajudar a superar a ênfase em uma cultura
burocrática e juridicista existente na
Polícia Civil, marcada pela presença da
arbitrariedade e reprodutora de privilégios?
6.
Na mesma linha, como alterar a qualidade,
a forma e o conteúdo da ordenação interna
das corporações no sentido de um relacionamento
institucional de tipo democrático, isto
é, uma hierarquia e disciplina orientadas
por regras transparentes e critérios universais?
7.
Qual a contribuição da educação policial
no sentido de aumentar a eficiência do
desempenho policial e da gestão da segurança
pública?
8.
De que modo pode ser desenvolvido o treinamento
em técnicas policiais que reduzam o risco
de vida dos policiais e da população,
seguindo a orientação de só utilizar armas
de fogo em casos extremos, de acordo com
a filosofia do recente Estatuto do Desarmamento?
9.
Como desenvolver estratégias descentralizadas
de atuação que possibilitem lidar localmente
com problemas e soluções, de forma a resgatar
a função de integração social e de mediação
de conflitos interpessoais inerentes ao
ofício de polícia?
10.
De que maneira incluir no sistema de
educação policial as seguintes medidas
contra a discriminação e o racismo?
-
Formação contra a discriminação
racial;
-
Afirmação da diversidade social
e cultural;
-
Desconstrução dos estigmas internos
e/ou externos às organizações policiais;
-
Discussão sobre as cotas raciais
no ingresso nas organizações policiais;
11.
Quais as medidas necessárias para assegurar
a formação adequada de educadores bem
como a produção de materiais didáticos
pertinentes aos objetivos de uma nova
educação policial?
12.
Como a educação policial pode explicitar
os efeitos da mundialização no campo da
violência, do crime e do controle social,
e discutir a internacionalização dos modelos
de polícia e os desafios da integração
regional, na busca de um relacionamento
soberano e democrático entre as polícias
dos países da América do Sul e de outros
continentes?
13.
De que maneira a educação policial deve
assegurar o respeito aos direitos humanos
em todas as atividades policiais?
14.
Como assegurar que os conceitos desenvolvidos
no processo de ensino-aprendizagem sejam
congruentes com as práticas policiais?
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V
– Processos Educativos e Metodologias
de Ensino e Aprendizagem
Uma
visão corrente sobre os processos educativos
define-os como aqueles que constituiriam
as condições de produção, explicação e
justificação das realidades sociais, políticas,
econômicas, culturais e científicas, articuladas
e dispostas em estruturas e modelos determinados
de sociedade; consolidariam a internalização
de valores, crenças e representações simbólicas
que configurariam as formas de comportamentos
relacionais dos sujeitos educandos e desenvolveriam
a aquisição de conhecimentos técnicos
e apropriação de tecnologias e competências
de intervenção. Esses direcionamentos
dos processos educativos, a formação da
consciência social, a definição do caráter
identitário e a aquisição de instrumentais
necessários à intervenção sociocultural,
responderiam à necessidade de manutenção
e validação das estruturas e modelos sociais
e políticos hegemônicos vigentes. As metodologias
de ensino e aprendizagem dos processos
educativos, nessa racionalidade, são entendidas
como o recurso processual de comunicação
das experiências validadas, dos saberes,
dos valores, crenças e princípios constitutivos
que norteiam a concepção de uma determinada
sociedade. Os processos educativos escolhem,
elaboram e re-elaboram, num espectro de
possibilidades, aquelas metodologias de
ensino que consubstanciem os valores socioculturais,
as representações simbólicas e os interesses
hegemônicos que devam ser os vigentes
na sociedade.
As
metodologias de ensino e aprendizagem
seriam esse conjunto de procedimentos,
estratégias, tecnologias e recursos técnicos
auxiliares devidamente ordenados à aquisição
de determinados saberes, conhecimentos
técnicos e apropriação de tecnologias
e à obtenção de determinados comportamentos
finais, definidos como instrumentos necessários
à intervenção sociocultural dos sujeitos
educandos.
O
estudo comparativo dos processos educativos
e das suas respectivas metodologias de
ensino e aprendizagem e dos componentes
da estrutura curricular das escolas e
academias de polícia no Brasil revela
alguns pontos básicos:
a)
Predomínio das relações de subalternidade
na hierarquia organizacional, tendo como
conseqüência uma reprodução de tais relações
no processo de ensino e de aprendizagem;
b)
Fragmentação na estrutura dos componentes
curriculares, desconexos entre si e desvinculados
de uma visão global da realidade;
c)
Abordagens teóricas com pretensões de
neutralidade e que ocultam a discussão
das origens históricas das relações sociais,
políticas e econômicas de privilégios;
d)
Ausência de componentes curriculares referentes
ao multiculturalismo e às questões de
gênero que se encontram em processo de
construção e afirmação social;
e)
Isolamento das instituições de segurança
pública, das suas escolas e academias
de formação e aperfeiçoamento, em relação
aos centros universitários de pesquisa,
de organizações não governamentais, de
organizações representativas da sociedade
civil organizada e de organizações governamentais,
postulando uma ontologia institucional
própria, ancorada nas suas próprias tradições,
nas suas histórias centenárias, nos seus
rituais e cerimoniais;
f)
Presença de um conceito de formação policial
pautado por interesses técnicos voltados
para o atendimento da planificação institucional,
nem sempre explicitados nos seus propósitos
para os próprios operadores da instituição
e para o público em geral;
g)
Predomínio de práticas pedagógicas que
seguem uma lógica enumerativa e descritiva,
sem margem para processos de reflexão
conceitual nas atividades de ensinoaprendizagem,
assim como métodos de exposição e de avaliação
que privilegiam uma lógica memorialística
de postulados dogmáticos e acríticos;
h)
Utilização não-reflexiva de recursos de
mídia e de tecnologias submetidos a uma
razão instrumental;
i)
Interações intra-institucionais e entre
professores e alunos nas quais emergem
de forma recorrente a coerção, a coação
e a punição como recursos para o estabelecimento
dos sistemas de verdades contidos nos
processos educativos, nas estruturas curriculares
e nas metodologias de ensino;
j)
Ausência de programas de educação permanente,
para o conjunto dos profissionais da segurança
pública, por parte das academias, escolas
e institutos de ensino, formação e aperfeiçoamento;
k)
Inexistência de estruturas de acompanhamento,
monitoramento e avaliação institucional
das próprias escolas e academias;
l)
Ausência de um processo permanente que
oriente os egressos no acompanhamento
das práticas policiais e de sua congruência,
ou não, com os conteúdos desenvolvidos
nas academias.
Esse
conjunto de características decorrentes
de concepções sobre os processos educativos,
de componentes curriculares, de metodologias
de ensino das organizações policiais,
de suas técnicas e procedimentos de atuação
profissional, das relações interpessoais
e interinstitucionais, entre outras, conformam
uma formação em segurança pública orientada
pelo princípio da simplificação do real.
Essa lógica, se levada ao extremo, tende
a excluir aquilo que não seja quantificável
e mensurável, eliminando os elementos
humanos, tais como paixões, emoções, sofrimentos,
alegrias, incertezas e oculta o imprevisto,
o novo e inventividade.
Os
processos educativos, as metodologias
de ensino e aprendizagem e os recortes
das estruturas curriculares ensinam
o policial a separar, compartimentar e
isolar os conhecimentos; assim, acabam
por constituir um quebra-cabeça ininteligível.
As interações, os contextos e as complexidades
que se encontram nas disciplinas tornam-se
invisíveis. Os grandes problemas humanos
desaparecem em benefício dos problemas
técnicos particulares e pontuais.
A
incapacidade de organizar o saber disperso
e compartimentado conduz à atrofia da
disposição mental de contextualizar. A
configuração da inteligência parcelada,
compartimentada, mecanicista e reducionista
rompe o complexo do mundo em fragmentos
isolados, fraciona os problemas, separa
o que está unido, torna unidimensional
o multidimensional. Trata-se de um padrão
cognitivo que destrói as possibilidades
de compreensão e de reflexão, reduz as
possibilidades de discernimento e fratura
a construção do conhecimento crítico.
As
políticas de segurança pública, elaboradas
sob essa racionalidade da simplificação,
resultam na execução de um corolário de
estratégias, táticas, medidas e ações
de intervenção focado na repressão como
forma eficiente de eliminação dos problemas
e fenômenos da violência e da criminalidade,
desqualificando as suas múltiplas manifestações,
feições e articulações, social e historicamente
construídas.
Quais
as características dos processos educativos,
das metodologias de ensino e aprendizagem
e dos componentes da estrutura curricular
que seriam coerentes com políticas públicas
de segurança social sob a perspectiva
dos princípios constitucionais da sociedade
democrática e do Estado de Direito?
Postulamos
o entendimento de que as características
de um processo educativo, metodológico,
social e político se consubstanciam em
uma abordagem que compreenda as políticas
públicas de segurança como questão de
complexa governabilidade social.
Para
ser compatível com a concepção epistemológica
da complexidade aplicada aos processos
de educação das polícias, propomos:
a)
Buscar a superação de um saber fragmentado
e apenas instrumental;
b)
Possibilitar a vivência pelos alunos de
experiências sociais que favoreçam a formação
de conteúdos adequados às práticas policiais;
c)
Enfatizar metodologias de ensino e aprendizagem
de conceitos como instrumentos de problematização,
compreensão e transformação da realidade;
d)
Construir coletivamente conhecimentos,
a partir de situações concretas e do estabelecimento
de conexões da teoria com a prática;
e)
Promover a reflexão ativa e reflexiva
de todos os educandos, propiciando as
condições para a assunção de atitudes,
comportamentos e responsabilização ética
e moral referenciados aos direitos humanos;
f
) Privilegiar a compreensão das questões
sociais e avaliar alternativas de soluções
possíveis numa perspectiva sistêmica;
g)
Elaborar reflexões sobre as áreas temáticas
em estudo, no contexto da interdisciplinaridade,
aplicando o aprendizado às novas situações
no campo específico de atuação dos profissionais
de segurança pública;
j)
Desenvolver metodologias de ensino e aprendizagem
pela busca do entendimento entre docentes
e educandos através do diálogo e mediação
de conflitos.
^
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VI
- Proposta de Matriz Curricular: Eixos
Temáticos
Os
Eixos Temáticos centrais no processo de
educação policial constituem-se em áreas
de conhecimento fundamentais para a formação
do profissional de segurança em um Estado
Democrático de Direito, uma segurança
concebida como dever do Estado e responsabilidade
de todos os cidadãos e cidadãs, os quais
têm direito à segurança. Os Eixos Temáticos
centrais são:
A.
PARTE GERAL
I.
Sociologia do controle social;
II. Cultura jurídica e prática
policial;
III.
Valorização profissional;
B.
PARTE ESPECíFICA
IV.
Inovações e/ou adequação de técnicas policiais.
Tais
eixos temáticos deverão ser especificados segundo os conteúdos – conceitos,
noções, habilidades técnicas, procedimentos grupais e pessoais – segundo
um formato de disciplinas.
Definimos
este formato básico na forma de: créditos (15 ou 30\horas aula); ementa
(define o escopo da disciplina); e bibliografia. Por outro lado, a carga
horária das disciplinas poderá variar de acordo com o nível e as funções
policiais para as quais serão organizados os cursos, desde que mantida
a referência teórica que fundamenta esta proposta. Sugerimos, ainda, que
o plano curricular seja adequado às necessidades educacionais das funções
policiais, não apenas às atualmente existentes como às novas construções
institucionais da Educação Policial a serem geradas pelos efeitos do Plano
Nacional de Segurança Pública e o desenvolvimento do projeto Arquitetura
do SUSP – Sistema Único de Segurança Pública.
^
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A
– Parte Geral – Eixos Temáticos e Disciplinas (ementas)
I
) Sociologia do Controle Social
1.
Sócio-antropologia do crime e da violência;
2.
Teorias psicológicas do crime e da violência;
3.
Sócio-antropologia da discriminação, da desigualdade e da diferença;
4.
Modelos e instituições de segurança pública em uma perspectiva comparada;
5.
Contexto histórico das organizações policiais;
6.
O significado e as funções da profissão policial;
7.
Violência, discriminações e estereótipos culturais nas práticas policiais;
8.
História sócio-política e econômica do Brasil;
9.
Instituições de segurança pública no Brasil;
10.
Sistemas de produção de verdades: confissão, inquirição, exame e prova
legal;
11.
Planificação situacional e gestão integrada;
^
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EMENTÁRIO
1.
Sócio-antropologia do crime e da violência.
Ementa:
estudo das diversas teorias sócio-antropológicas acerca do crime e da
violência e sua aplicabilidade à realidade brasileira.
2.
Teorias psicológicas do crime e da violência.
Ementas:
estudo das diversas teorias psicológicas acerca do crime e da violência
e sua aplicabilidade à realidade brasileira.
3.
Sócio-antropologia da discriminação, da desigualdade e da diferença.
Ementa:
estudo das representações e interpretações da diferença na sociedade,
e seus efeitos nos processos de discriminação social e racial.
4.
Modelos e instituições de segurança pública em uma perspectiva comparada.
Ementa:
estudo dos diversos modelos históricos de polícia, por exemplo, os modelos
inglês, francês, dos Estados Unidos, canadense e latino-americano, etc.
5.
Contexto histórico das organizações policiais.
Ementa:
análise da formação do Estado-Nação e da constituição dos funcionários
públicos especializados que detêm o monopólio legal e legítimo da coerção
física – a polícia.
6.
O significado e as funções da profissão policial.
Ementa:
discussão do significado das polícias enquanto instituições voltadas para
a proteção do cidadão e da sociedade, ao lado da manutenção da ordem pública
estatal.
7.
Violência, discriminações e estereótipos culturais nas práticas policiais.
Ementa:
desconstrução dos estereótipos culturais que estão subjacentes a comportamentos
de policiais que podem resultar em atitudes discriminatórias e atos de
violência.
8.
História sócio-política e econômica do Brasil.
Ementa:
estudo dos efeitos do processo de formação econômica, social e política
no Brasil sobre as instituições de controle social, no período colonial,
imperial e republicano.
9.
Instituições de segurança pública no Brasil.
Ementa:
análise crítica das categorias “civil” e “militar”, utilizadas para se
nomear as polícias, a fim de ressaltar que esta classificação dicotômica
expressa uma concepção de polícia como órgão de defesa do Estado, indicando
a relevância das transformações em curso no sentido de construção de uma
polícia voltada para a proteção do cidadão.
10.
Sistemas de produção de verdades: confissão, inquirição, exame e prova
legal.
Ementa:
análise crítica dos procedimentos das polícias no sentido de produzir
verdades mediante diversos instrumentos, tais como a confissão, a inquirição,
o exame e a prova.
11.
Planificação situacional e gestão integrada.
Ementa:
construção de habilidades em Planejamento Estratégico Situacional - PES,
com vistas a capacitar administradores em gestão integrada de ação policial.
^
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II)
Cultura Jurídica e Prática Policial.
1.
Análise crítica do Direito;
2.
A construção histórica do Estado-Nação: direito de acesso à Justiça;
3.
Garantias constitucionais de direitos do cidadão no Brasil;
4.
Ética, cidadania e direitos humanos no Brasil;
5.
Poder de Polícia e Poder da Polícia;
6.
Transformações contemporâneas no direito penal e processual penal;
7.
Conseqüências das transformações legislativas e/ou administrativas sobre
as instituições policiais;
8.
Efeitos das inovações legislativas em direitos coletivos difusos na prática
policial.
^
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EMENTÁRIO
1.
Análise crítica do Direito.
Ementa:
crítica da ótica regulatória constituinte do direito positivo, em detrimento
da herança emancipacionista da modernidade.
2.
A construção histórica do Estado-Nação: direito de acesso à Justiça.
Ementa:
estudo da formação histórica do Estado-Nação, das liberdades públicas
e do acesso universal dos cidadãos à Justiça.
3.
Garantias de direitos fundamentais do cidadão no Brasil.
Ementa:
estudo da formação histórica dos direitos civis, políticos, econômicos,
sociais e ambientais no Brasil.
4.
Ética, cidadania e direitos humanos no Brasil.
Ementa:
discussão dos direitos universais de cidadania e da necessidade de um
princípio de igualdade jurídica que supere os obstáculos decorrentes dos
privilégios jurídicos e desigualdades sociais na efetivação de uma ética
das práticas policiais.
5.
Poder de Polícia e Poder da Polícia.
Ementa:
discussão das conseqüências do exercício do poder discricionário de Polícia,
em contraste com os poderes da Polícia, decorrentes de suas funções judiciárias
penais;
6.
Transformações contemporâneas do direito penal e processual penal.
Ementa:
estudo das transformações contemporâneas do direito penal e processual
penal no Brasil e seus efeitos nas práticas policiais.
7.
Conseqüências das transformações legislativas e/ou administrativas sobre
a instituições policiais.
Ementa:
análise das transformações legislativas e/ou administrativas sobre as
instituições policiais, tais como: militarização jurídica das polícias
militares, regulamentos das polícias, lei da tortura, lei dos crimes hediondos,
foros especiais, etc.
8.
Efeitos das inovações legislativas em direitos coletivos difusos na prática
policial.
Ementa:
análise das inovações legislativas em direitos coletivos difusos na prática
policial, em particular o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
o Código de Trânsito Brasileiro, o Estatuto do Idoso, o Estatuto do Desarmamento,
Código do Consumidor, Lei dos Crimes Ambientais, criminalização da violência
doméstica, etc.
^
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III)
Valorização Profissional: Disciplinas e Ementas
1.
Qualidade de vida física e mental;
2.
Fundamentos do corpo e do movimento humano;
3.
Defesa pessoal;
4.
Direitos profissionais;
5.
Relações interpessoais e de grupo nas organizações policiais;
6.
Gestão e desenvolvimento de recursos humanos;
7.
Gestão integrada e democrática das organizações policiais;
8.
Relações institucionais intersetoriais;
9.
Planejamento estratégico situacional;
10.
Metodologias informacionais;
11.
Elaboração, gestão e avaliação de projetos sociais e culturais em segurança;
12.
Controle interno e externo das organizações policiais: transparência e
responsabilização social.
^
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EMENTÁRIO
1.
Qualidade de vida física e mental.
Ementa:
estudo do desenvolvimento da personalidade humana, dos componentes da
psiquê (ego, id e superego) e análise das possibilidades terapêuticas
de consolidação da personalidade em situações de risco.
2.
Fundamentos do corpo e do movimento humano.
Ementa:
história das teorias sobre a corporeidade e o movimento humano, qualidades
físicas de base. Planejamento, execução e avaliação de programas de compreensão
do corpo e de treinamento do movimento humano.
3.
Defesa pessoal.
Ementa:
estudo dos elementos fundamentais das várias técnicas de defesa pessoal,
com ênfase na utilização de técnicas voltadas para o uso comedido da força,
visando à proteção da vida tanto dos policiais quanto da população. Estudo
das alterações músculo-esqueléticas, como resultado do treinamento de
força. Formas de manifestação da força muscular, bem como os métodos para
seu treinamento como preservação da saúde física e mental.
4.
Direitos profissionais.
Ementa:
análise dos direitos constitucionais, administrativos e profissionais
dos membros das organizações de segurança pública.
5.
Relações interpessoais e de grupo nas organizações policiais.
Ementa:
estudo dos princípios da dinâmica dos grupos sociais e das relações interpessoais
nas organizações policiais de modo a desenvolver a valorização profissional
de seus membros.
6.
Gestão e desenvolvimento de recursos humanos.
Ementa:
análise das formas de gestão de recursos humanos no setor da segurança
pública que reconheçam as necessidades múltiplas, materiais e simbólicas,
dos membros das organizações policiais, sintetizadas na noção de qualidade
de vida do profissional de segurança pública.
7.
Gestão integrada e democrática das organizações policiais.
Ementa:
estudos dos métodos de gestão das organizações policiais que privilegiem
as ações integradas voltadas para a solução de problemas no setor da segurança
do cidadão.
8.
Relações institucionais intersetoriais.
Ementa:
Estudo da prática da administração pública de modo intersetorial, orientada
por estratégias de soluções de problemas sociais.
9.
Planejamento estratégico situacional.
Ementa:
análise da metodologia do planejamento estratégico situacional enquanto
uma modalidade de planificação que incorpora a participação dos diversos
atores sociais em uma determinada situação, em processos de conflito e/ou
de cooperação, mediante procedimentos dinâmicos de formulação, monitoramento
e avaliação de políticas de segurança pública.
10.
Metodologias informacionais.
Ementa:
análise das possibilidades de uso das diferentes ferramentas informacionais
no trabalho policial e a indicação das transformações nos processos de
planejamento, tomada de decisão, investigação e prevenção que as ferramentas
computacionais tornam possível (base de dados, análise estatística, análise
de discurso, georeferenciamento, sistemas de inteligência artificial).
11.
Elaboração, gestão e avaliação de projetos sociais e culturais em segurança
pública.
Ementa:
estudo dos projetos sociais e culturais como um processo de ação coletiva
que tem como objetivo intervir na mudança dos grupos sociais (normas,
relações, processos e instituições sociais) em uma situação pertinente
ao setor da segurança pública. Análise dos diferentes métodos de elaboração,
gerenciamento, monitoramento e avaliação de projetos sociais e culturais
no setor das políticas de segurança pública.
12.
Controle interno e externo das organizações policiais: transparência e
responsabilização social.
Ementa:
estudos dos princípios da transparência e da responsabilização social
das organizações da segurança pública, bem como do funcionamento das instituições
de controle interno (Corregedorias) e externo (Ouvidorias e Conselhos)
das organizações policiais.
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B
– Parte específica: Eixo Temático e Sugestões de Disciplinas.
IV)
Inovações e/ou adequações de técnicas policiais.
A
parte específica será diversificada, levando-se em conta o fato de termos
instituições distintas, como a Polícia Militar, a Polícia Civil e os Corpos
de Bombeiros Militares, além das peculiaridades regionais.
Recomenda-se
que, na operacionalização, sejam adequados os procedimentos pedagógicos
e o ensino e aprendizado de conteúdos aos diferentes níveis de escolaridade
do corpo discente, sem que isso expresse uma segmentação por níveis hierárquicos.
Sugerimos as seguintes temáticas a serem operacionalizadas, segundo as
especificidades pertinentes, tanto em nível de educação quanto de formação
permanente: 1
- Sistemas
institucionais de administração de conflitos: negociação e mediação
social de conflitos;
- Gerenciamento
de crises;
- Técnicas
de tomada de decisão;
- Policiamento
preventivo;
- Policiamento
ostensivo;
- Preservação
do local da ocorrência;
- Padronização
de registros de ocorrência;
- Investigação
policial;
- Sistema
de proteção às testemunhas;
- Perícia;
- Medicina
Legal aplicada;
- Métodos
e técnicas de entrevista, interrogatório e registro no inquérito policial;
- Princípios
de uso legítimo da força;
- Armamento
e tiro;
- Identificação
e classificação de armas;
- Técnicas
policiais de abordagem e contenção;
- Formas
e técnicas de patrulhamento e presença no território;
- Fundamentos
de policiamento comunitário;
- Noções
de atendimento de urgências e primeiros socorros;
- Sistemas
de comunicação no atendimento ao público;
- Gestão
de sistemas de informação;
- Telecomunicações;
- Sistemas
de inteligência policial democráticos;
- Prevenção
do uso e redução do uso de substâncias psicoativas.
Sugerimos
que a parte específica seja planejada e construída pela SENASP segundo
as necessidades educacionais das funções policiais atualmente existentes:
- Polícia
Civil: escrivães; investigadores; peritos e delegados;
- Polícia
Militar: soldados, cabos, sargentos; formação de alunos-oficiais; capitães
(Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais); majores, tenentes-coronéis (Curso
Superior de Polícia). Entretanto, os efeitos do Plano Nacional de Segurança
Pública e o desenvolvimento do projeto Arquitetura do SUSP – Sistema
Único de Segurança Pública – poderão suscitar novas construções institucionais
para dinamizar a Educação Policial.
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7.
Estruturas de Ensino
Segundo
o PNSP, a Educação é um processo fundamental para a atualização das capacidades
e habilidades das polícias na sociedade brasileira: “Instrumento fundamental
para a modificação das polícias brasileiras é a educação, tanto a regular,
nos cursos das academias, quanto a permanente, traduzida pela educação
continuada que se perfaz pelos treinamentos, seminários ou outros instrumentos
pedagógicos”. “O sistema proposto alimentará sistematicamente a requalificação
dos policiais, possibilitando o enfrentamento do atraso desses quadros
a respeito de novas técnicas de prevenção, mediação, negociação, investigação
e realização da segurança pública nas diversas regiões do Brasil”.
Seguindo
tal pressuposto, propomos que as estruturas da educação policial sigam
os seguintes critérios pedagógicos:
1.
Liberdade de participação e expressão convivendo democraticamente com
os processos de hierarquia e disciplina.
2.
Firmamos uma posição crítica frente às metodologias de ensino em curso
nas escolas e academias de operadores de segurança pública, focando, por
exemplo, a questão da verticalidade dos processos de ensino e aprendizagem,
a tendência ao formalismo e ao legalismo estrito, a hipertrofia de didáticas
diretivo-expositivas, a falta de parti-cipação e estímulo à formação das
autonomias moral e intelectual dos educandos;
3.
Torna-se necessário desvelar os “currículos ocultos” nas práticas pedagógicas,
oriundos de uma cultura profissional baseada em uma arcaica doutrina de
“segurança nacional”, a qual pretende que a polícia, em especial as polícias
militares, assuma uma identidade militarizada de atuação, e que as polícias
civis continuem com práticas inquisitoriais de obtenção da confissão ao
invés da formulação da prova dos delitos;
4.
A disseminação dos direitos humanos como orientador das práticas policiais;
5.
Referencial do processo de ensino e aprendizagem centrado, a um só tempo,
no educando e na realidade;
6.
O Papel do educador como proponente de desafios morais e intelectuais;
7.
Conhecimento concebido como derivado de processos de construção individual
mediados, obrigatoriamente, pela relação com o coletivo;
8.
Foco central na construção da autonomia moral e intelectual (tendo como
meios, para isso, as temáticas, conteúdos e relacionamentos);
9.
Comunicabilidade e vínculos empáticos nos processos de ensino e aprendizagem;
10.
Utilização das metodologias informacionais na educação policial (processador
de texto, uso da internet, planilhas, banco de dados, análise estatística,
programas de apresentação, análise informacional de discurso, programas
de georeferenciamento, cartografias sociais, modelagem cognitiva).
Para
garantir a implementação de tais princípios pedagógicos, sugerimos critérios
mínimos na estrutura da educação policial que garantam a eficácia, a eficiência
e a coerência das proposições acima formuladas:
- Períodos
e tempos mínimos sugeridos para as formações integradas, segundo as
especificidades;
- Recursos
humanos e materiais necessários (perfil de professores em coerência
com as metodologias propostas, tipos de espaços físicos favorecedores
de metodologias participativas);
- Laboratórios
de Metodologias Informacionais, inclusive para formar profissionais
para operar com sistemas de informações, tais como o Sistema Nacional
de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal – SNESP – e
o TerraCrime (http://www.mj.gov.br/senasp/terracrime.ppt);
- Tipo
de gestão das instituições educacionais de forma democrática e colegiada,
com Conselhos Superiores com participação de representantes da sociedade
civil;
- Turmas
mistas com membros da Polícia Civil, da Polícia Militar, Corpos de Bombeiros
Militares e integrantes da sociedade civil interessados nos Eixos Temáticos
na parte geral, itens I e II, agrupados somente pelo nível de escolaridade;
- Turmas
mistas com membros da Polícia Civil, da Polícia Militar, dos Corpos
de Bombeiros Militares nos demais Eixos Temáticos, agrupados apenas
em função do nível de escolaridade e de suas atribuições funcionais.
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8.
Sistemas de Avaliação Institucional
- Incorporar
o Documento da Comissão de Avaliação do MEC – Media provisória 147/2003,
de 15 de dezembro de 2003 (http: //www. inep.gov.br/)
- Constituir,
em conjunto com o MEC, uma Agência Nacional de avaliação da Educação
Policial;
- Fomentar,
segundo o documento acima, práticas avaliativas internas: em nível de
escolas e academias; em nível de instituições; em nível de unidades;
- Resolver
o problema das equivalências com títulos universitários, em Comissão
conjunta com o MEC/SESU.
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9.
Análise Estratégica da Educação Policial no Campo do Controle Social
A
educação policial insere-se no campo do controle social, formado tanto
por atores sociais e institucionais públicos - Ministério da Justiça,
SENASP, organizações policiais públicas, Academias e Escolas de Polícia
Estaduais, Escola Nacional de Polícia da Polícia Federal – quanto por
atores sociais da Sociedade Civil: forças sociais, sindicatos, partidos
políticos, Universidades Privadas e Comunitárias, organizações não-governamentais,
projetos sociais e culturais do 3º setor, projetos de responsabilidade
social de empresas privadas e públicas, empresas de segurança privada.
Em particular, a Educação Policial necessita estar articulada com o Ministério
da Educação, com o Ministério da Ciência e da Tecnologia e outros, em
uma perspectiva de ação intersetorial na Administração Pública. Partindo
deste pressuposto, sugerimos:
- Implementar
da Escola Nacional de Segurança Pública, de modo a dinamizar e regular
a implementação das mudanças sugeridas neste texto, mediante a criação
de um Núcleo de Formação em Segurança Pública e Proteção Social, que
fará parte da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Ministério
da Justiça, com a função de supervisionar a formação de todos os policiais
brasileiros. O Núcleo será formado por educadores, professores universitários
e policiais das diversas corporações, escolhidos por sua qualificação
no campo da educação e da formação;
- Dinamizar
os convênios entre as Instituições de Ensino Policial, as Universidades
Públicas, Federais e Estaduais, e as Universidades Comunitárias;
- Estimular
a criação nas Universidades Públicas, Federais e Estaduais, de Cursos
de Formação de Bacharéis em Segurança, de modo a qualificar a formação
de profissionais no setor da Segurança, em suas múltiplas dimensões,
assegurando um efeito-dedemonstração para toda a Educação Policial no
Brasil;
-
Desenvolver processos de formação permanente (em parceria com as Universidades
e/ou ONG´s) para a construção de uma cultura cidadã dos operadores de
segurança pública;
- Desenvolver
de estratégias descentralizadas de atuação que possibilitem lidar localmente
com problemas e soluções, de forma a resgatar a função de integração
social e de mediação de conflitos interpessoais que o ofício de polícia
supõe;
-
Problematizar
a cultura organizacional militarista: alterar
a qualidade, a forma e o conteúdo da organização
interna das corporações, no sentido de um
relacionamento institucional de maior densidade
democrática, mediante proposta de mudanças
nos regimentos disciplinares;
- Rediscussão
dos regulamentos internos das instituições
de ensino policial;
- Estimular
procedimentos de responsabilização pública
e de transparência das ações das instituições
encarregadas da educação policial.
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10
- Constituição de um Sistema de Pesquisa
sobre Temas de Segurança Pública e Proteção
Social
O
PNSP propõe a montagem de uma instituição
de pesquisa em Segurança Pública, com
a arquitetura de redes de pesquisa envolvendo
docentes e pesquisadores de Universidades
e Instituições de Pesquisa, para desenvolver
estudos sobre temas de segurança pública
e proteção social.
O
Núcleo desenvolverá, junto com universidades
e centros qualificados, um centro de pesquisa
sobre temas fundamentais para conhecimento,
informação e direcionamento das atividades
educacionais do sistema unificado.
Nesta
perspectiva, propomos:
- Montagem
de um Centro de Pesquisa em Segurança
Pública, como articulador, coordenador
e fomentador de redes de pesquisa envolvendo
docentes e pesquisadores de Universidades
e Instituições de Pesquisa;
- O
Centro poderá, em colaboração com universidades
brasileiras e estrangeiras, promover
e fomentar estudos sobre temas de segurança
pública e proteção social, realizando
cursos de especialização, de mestrado
ou de doutorado;
- Desenvolver
atividades de formação continuada de
professores para a Educação policial;
- Desenvolver
e estimular, mediante convênios e editais,
a produção e publicação de material
didático qualificado, seguindo as orientações
da presente proposta, a fim de suprir
as atividades das Instituições de Educação
Policial;
- Prosseguir
na realização de Editais de Pesquisas
Aplicadas sobre o tema da Segurança
Pública.
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11
- Efeitos na Educação Policial, Derivados
da Organizações Policiais atuais: homo
faber ou homo humanus?
Precisamos
perguntar-nos se, apesar de todas as dificuldades
estruturais e conjunturais apresentadas,
uma mudança em nossa estratégia formativa
dos operadores não poderia trazer resultados
melhores ou até mesmo surpreendentes.
Em
primeiro lugar, uma “profissão de fé”:
na qualificação da prestação de qualquer
tipo de serviço, a qualificação da pessoa
do servidor tem primazia, antecedendo
e transcendendo até mesmo as condições
objetivas que se lhe oferecem para trabalhar.
De
igual forma, operadores não “vocacionados”,
desmotivados, mal instrumentados, podem
solapar os Projetos mais sofisticados
e respaldados pelas mais adequadas estruturas.
Evidentemente, não se trata, aqui, de
dicotomizar: precisamos, para alcançar
a eficácia e a eficiência desejadas, da
intervenção pessoal mais qualificada do
operador, assentadosobre infra-estruturas
apropriadas.
No
entanto, diante das crônicas carências
estruturais que precisam ser tomadas (ativamente,
é verdade) como dados da realidade, reveste-se
de especial importância pensar criticamente
a formação dos operadores, uma vez que
é esta a ferramenta de transformação mais
imediata de que podemos dispor.
Parece
possível apostar que a melhor formação
do operador gere maior competência (mesmo
no difícil quadro das condições existentes)
e que esta competência anteceda e force,
como movimento, as prioridades políticas
e orçamentárias do Estado, no sentido
de aprimorar suas condições de trabalho
e vida.
Mesmo
que devamos reconhecer, nos últimos anos,
um significativo acréscimo de investimentos
(em especial por parte do Governo Federal,
via Fundo Nacional de Segurança Pública),
de maneira geral, os salários oferecidos,
para a maior parte do pessoal, continuam
injustos e os prédios, mobiliário, veículos,
armas e equipamentos, insuficientes e
antigos.
Nessa
conjuntura, basicamente, dois tipos de
público afluem para os quadros institucionais,
como agentes operadores: os vocacionados,
com significativo grau de altruísmo, disposição
para o serviço, projetos de vida identificados
com causas sociais e capacidade de suportar
frustrações sem desqualificar o trabalho
junto aos beneficiários; e os não vocacionados,
ingressantes por falta de melhores oportunidades
(ao menos nos níveis mais básicos, não
dirigentes), com projetos de vida, voltados
à sobrevivência ou à gratificação individual
(no aguardo de melhores oportunidades),
com reduzido nível de consciência ética
e desenvolvimento moral.
É
preciso, em longo prazo, melhorar as condições
da oferta e, subseqüentemente, da seleção
e, em curto prazo, desafiar a elevação
do padrão moral dos profissionais a estágios
mais avançados, o que somente pode ser
alcançado através de processos permanentes
de desafio educacional.
Sabemos,
realisticamente, que isso não é fácil
e que não resulta positivamente com a
totalidade dos desafiados. Haverá, sempre,
um contingente refratário, seja por
questões de caráter, seja em função de
nossas próprias carências em saber encontrar
para cada um a linguagem e as provocações
mais significativas.
A
partir da experiência acumulada em anos
de trabalho educacional, cremos que vale
a pena investir mais e melhor na formação
dos operadores, mesmo daqueles que parecem
resistentes, ou não vocacionados. Parte
significativa deles pode ser recuperada
por uma estratégia educacional competente,
diferente daquela que, historicamente,
tem sido, de forma genérica, adotada pelo
poder público.
Não
esqueçamos, no entanto, o primeiro grupo,
aquele que denominamos “vocacionado” ao
social. Ele, igualmente, não está imune
às graves mazelas oferecidas pela realidade
com a qual necessita trabalhar. Ao longo
dos anos, diante da incúria de Estados
que se sucedem e da não resolução dos
problemas, esse grupo tende a desanimar,
a “perder fôlego”, a deixar-se abater
pela desesperança e pela decadência da
auto-estima. Ademais, sofre os ataques
dos contingentes “não vocacionados”, uma
vez que, ao propor e realizar uma prestação
de serviços significativa, deflagra a
elevação do padrão de expectativas e exigências
sociais em relação à função pública, com
toda a demanda de trabalho e responsabilidade
decorrente de tal processo.
São
vistos, pois, pelos colegas “não vocacionados”,
como “traidores” dos interesses de classe,
uma vez que procuram prestar bons serviços,
apesar dos salários muitas vezes insuficientes
ou até aviltantes (conforme o nível hierárquico)
e das precaríssimas condições de trabalho
e de vida.
Assoberbados
com seu próprio labor e com as conseqüências
da omissão e das atividades imobilizantes
ou destrutivas do grupo “não vocacionado”,
acabam “consumindose” pelo cotidiano,
sem tempo e energia para a reflexão individual
e coletiva, para o estudo, para o encontro
de alternativas pessoais e institucionais
fundadas em novos paradigmas. Também esse
grupo, que aqui chamamos de “vocacionado”,
diante das inevitáveis carências oriundas
dos projetos políticos estatais, necessita
um intenso investimento formativo
suplementar, que possa ajudá-lo a suprir,
pelo menos, as demandas mais básicas no
campo das vivências simbólicas, abstratas,
motivacionais e existenciais. Em termos
estratégicos, esse é o aporte mais conseqüente
que podemos oferecer e a ele deve voltar-se
nossa mais prioritária atenção.
Para
os dois perfis de operadores, portanto,
a educação (formação significativa, útil,
com sentido e desafiadora da elevação
dos padrões de moralidade e satisfação
interior advindas das relações interpessoais)
é a melhor possibilidade que podemos ofertar
no contexto limitado e limitante do sistema.
É, também, a única forma imediata de humanizar
o trabalho junto à clientela e agregar-lhe
competência.
É
preciso que os operadores-educandos (no
caso agentes policiais) estabeleçam relações
de pertinência, vínculos afetivos com
as possibilidades formativas que lhes
são oportunizadas.
Isso
ocorre porque, via de regra, a visão tecnocrática
do Estado contamina mesmo os processos
educacionais. As “capacitações”, assim,
assumem um caráter de tecnicismo (ainda
que “pedagógico”) enfadonho e desvinculado
dos dramas e possibilidades reais e cotidianos
das pessoas e instituições.
O
tecnocratismo e o tecnicismo não envolvem
o sujeito receptor. Não é a toa que os
operadores apresentam fortes queixas em
relação à maioria das “capacitações” que
lhes são oferecidas. Não há foco no pessoal
e por isso a elevação dos padrões de qualidade
humana é praticamente nula. Uma abordagem
nova da “capacitação” precisa trabalhar,
em seu primeiro desenvolvimento, com conteúdos
e dinâmicas auto-referenciais, voltadas
para as demandas imediatas e mediatas
do sujeito como pessoa (e não do “operador”
como profissional, em primeiro plano).
Em outras palavras: a qualificação do
exercício profissional passa, necessariamente,
pela qualificação existencial do sujeito.
Treinamentos
de eficiência operatória, que não sejam
antecedidos pela reflexão do psicológico,
do interpessoal familiar e do campo profissional;
pelo axiológico e pelo simbólico estão
fadados ao fracasso por seu artificialismo
e desvinculação das demandas mais profundas
do beneficiário.
Alcançado
esse patamar auto-reflexivo e autoproponente,
o operador estará disponível ao aprofundamento
(de forma não segmentada, não desvinculada
dessa base pessoalmente significativa),
dos projetos amplos, das utopias e das
posturas solidárias emergentes na sociedade
brasileira.
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12
– Planejamento Estratégico Situacional
Aplicado à Educação Policial
O
Grupo sobre Formação Policial concebe
o Policial como um agente voltado para
a segurança do Estado e a proteção da
sociedade. A fim de poder implementar
a concepção de policial enquanto um profissional
que trabalha em favor da sociedade, garantindo
a segurança do cidadão, pode-se realizar
uma planificação das políticas públicas
de segurança mediante o uso do Planejamento
Estratégico Situacional (PES), o qual
utilizaria a ferramenta de projetos sociais
e culturais.
Uma
definição de planejamento estratégico
pode ser assim formulada: uma ação para
assegurar conseqüências futuras, pressupondo
um processo sistemático, a integração
das decisões e a previsão das conseqüências.
Esse planejamento pode ser de cima para
baixo ou de baixo para cima, mas necessariamente
deverá ser em ambas as direções. Em outros
termos, essas modalidades de planejamento
estratégico poderiam ser mais bem aplicadas
na gestão pública, relembrando o conceito
clássico de eficiência, de racionalidade
de meios com relação a fins, para se utilizar
melhor os recursos, sobretudo aqueles
relacionados às políticas públicas de
segurança.
O
Planejamento Estratégico Situacional,
segundo a definição de Carlos Matus,
supõe que os agentes sociais atuem como
forças políticas em uma situação vivida.
O que especifica o Planejamento
Estratégico Situacional é a concepção
básica de considerar que os vários atores
sociais estão em um jogo de conflito e/ou
cooperação. Ao visualizar a planificação
na esfera pública, o PES supõe uma concepção
de estratégia em um horizonte de indeterminação.
Por conseqüência, a noção de contexto
situacional, no qual os atores sociais
tomam posições no espaço social, será
decisiva para o planejamento situacional
e de suas estratégias de programas e operações
sobre o social.
Podemos
dar um passo mais na direção da governabilidade
se o planejamento estratégico situacional,
no setor da segurança pública, vier a
implementar ações preventivas da violência
e da criminalidade mediante a ferramenta
dos projetos sociais e culturais. Podemos
definir projetos sociais e culturais como
uma tecnologia social de poder, ou seja,
um processo de ação coletiva, de iniciativa
estatal ou da sociedade civil, que tem
como objetivo intervir para a mudança
dos grupos sociais: de suas normas, relações,
processos e instituições. Afora isto,
se tais projetos sociais forem acompanhados
de monitoramento e de avaliação sistemática,
seu alcance operacional para o setor da
segurança será ainda mais expressivo.
O
sentido da avaliação dos projetos sociais
e culturais consiste em que os diferentes
procedimentos de avaliação contribuam
para aumentar a racionalidade na tomada
de decisões, identificando problemas,
selecionando alternativas de solução,
prevendo suas conseqüências e otimizando
a utilização dos recursos disponíveis.
No
caso das políticas de segurança pública,
poderíamos esboçar um elenco de problemas
e temas que exigem a implementação de
projetos sociais e culturais, a fim de
aumentar a governabilidade em tempos de
crise da segurança pública. A saber:
- Redução
da exclusão social: ações para reduzir
a miséria, a fome e o analfabetismo;
- Expansão
da solidariedade social, local e comunitária;
- Incremento
do emprego, da moradia, da saúde e da
educação;
- Prevenção
e redução da drogadição entre os jovens;
- Assistência
social aos idosos e às pessoas portadoras
de deficiências físicas ou mentais;
- Difusão
dos valores coletivos, da responsabilidade
social e do desenvolvimento humano;
- Respeito
pelos direitos humanos;
- Aumento
da cidadania e da participação na vida
política;
- Expansão
das ações integradas das organizações
policiais;
- Potencialização
do acesso aos direitos e ao sistema
de Justiça;
Trata-se,
portanto, da invenção de novas tecnologias
sociais de regulação do poder, de formas
de planificação, de construção da cidadania
e de expansão da governabilidade; de gerenciamento
de projetos; da construção de aplicativos
para a análise estatística; da organização
de base de dados; da análise de mensagens
qualitativas não-estruturadas; e de formas
de comunicação.
^
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13.
Conclusão
As
concepções, o processo, a metodologia
e o sistema de educação policial, acima
proposto, possibilitarão a construção
de um saber teórico-prático processual
e reflexivo, fundado no princípio da complexidade,
o qual reconhece a multidimensionalidade
do social, a incorporação do indeterminismo,
da incerteza e do risco nas ações coletivas
e a ruptura epistemológica no processo
de conhecimento das situações sociais.
Esta modalidade de saber teórico-prático
poderá contribuir para a renovação das
práticas policiais no Brasil, no sentido
de adicionar-lhes qualitativamente justiça,
equidade social, eficiência e eficácia,
o que poderá agregar confiança e legitimidade
às organizações policiais brasileiras.
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