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Insurreição Comunista de 1935
em Natal e Rio Grande do Norte

Praxedes, um operário no poder

 

Praxedes: Um Operário no poder
A Insurreição de 1935 vista por dentro

Moacyr de Oliveira Filho
Editora Alfa-Omega,1985

 

 

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7. De volta a Natal

Terminado o curso, Praxedes retorna ao Rio de Janeiro, onde fica até o dia 6 de janeiro de 1935, quando o partido decide mandá-lo de volta a Natal. Antes de seguir viagem, mantém, inúmeros contatos com os dirigentes do partido, como Bangu e Miranda, onde, pela primeira vez toma conhecimento da existência de um plano de preparação de um movimento insurrecional contra o Governo de Getúlio Vargas.

No dia 14 de janeiro de 1935, o sapateiro José Praxedes de Andrade desembarca do navio Manaus no porto de Natal sem saber que em poucos meses estaria no centro de uma experiência política que o marcaria pelo resto da vida. Na sua ausência da cidade, o partido havia se reestruturado e Lauro Lago, diretor da Casa de Detenção, era um dos seus principais dirigentes. Praxedes se surpreende com o posto de Lago e explica por quê: “Eu sempre fiz objeções ao seu ingresso no partido pois achava ligado à polícia. Afinal, ele era diretor da Casa de Detenção. Além disso, era um elemento pequeno-burguês e de origem aristocrática. Varias vezes ele tentou ingressar no partido quando eu ainda estava em Natal, mas não conseguiu. Eu sempre dava um jeito de desconversar. Com a minha ausência ele não só conseguiu entrar como logo virou dirigente. A pequena burguesia é maluca por uma direção. Não quer saber de trabalho de base, não. Quer logo ser dirigente. Mas, já que ele estava lá, não podia fazer nada. Fiquei quieto. Aceitei a situação e continuei meu trabalho partidário”.

Em abril de 1935, o partido realiza uma nova conferência estadual para traçar suas diretrizes de ação política e elege uma nova direção, formada por Praxedes, Aristides, Francisco Moreira, Raimundo Reginaldo e Lauro Lago. Praxedes é eleito secretário político.

Pouco tempo depois da Conferência, Natal é sacudida por um forte movimento grevista que começou pelos motoristas de táxi e se estendeu às docas, à estiva, aos ferroviários da Great Western, culminando com a adesão dos funcionários da Companhia de Água e Energia Elétrica. A grave era dirigida pelo motorista Epifânio Guilhermino; e Praxedes, como dirigente do partido, dava assistência política ao movimento. As principais reivindicações eram 8 horas de trabalho e aumento de salário. A entrada dos funcionários da Companhia de Água e Energia Elétrica no movimento foi decisiva. Sem luz e sem água, a situação da cidade se agravava. A luz foi logo estabelecida a pedido dos próprios grevistas. “Nós não podíamos ficar com a cidade sem luz e pedimos para que o pessoal fosse movimentar as turbinas” – conta Praxedes. Mas a água continuou faltando, o que obrigou os soldados do Exército a buscar fontes de abastecimento do quartel, trazendo água das lagoas que havia nas proximidades de Natal.¹

As autoridades, preocupadas com a situação, pediram ajuda a Café Filho, na época já deputado federal. “Levaram o Café para o Centro Operário e os operários lá para ouvi-lo. O pessoal foi porque esperava que ele fosse anunciar um acordo. Mas não fez nada disso. Pelo contrário. Ele simplesmente fez um apelo ao bom-senso do pessoal, dizendo que a greve já estava muito prolongada e que não havia mais como evitar represálias, inclusive do Exército. Apelava, então, para que o movimento fosse encerrado, para evitar violências por parte do Exército. O pessoal ficou sem saber o que fazer e pediu para que eu falasse alguma coisa. Eu tomei a palavra e comecei dizendo: ‘Está provado que o senhor é um traidor dos trabalhadores’. Rapaz, não tive tempo de dizer mais nada porque o pessoal do Café caiu em cima de mim. Foi uma confusão dos diabos. Não houve pancadaria por muito pouco, mas a confusão foi grande. No meio do tumulto, o Café se aproveitou e fugiu pelos fundos do quintal. A greve foi mantida, até que as empresas deram alguma coisa e o movimento foi suspenso” – relembra Praxedes.

Na versão de alguns historiadores, as bases da Insurreição de 1935 começaram a ser sedimentadas exatamente a partir desse movimento grevista. Segundo Edgar Carone, os ferroviários da Great Western obtiveram um aumento de salário de 30% exatamente no momento em que a greve adquiria cada vez mais um caráter insurrecional. “Foi igualmente essa luta que forneceu o impulso decisivo para a Insurreição”, s – escreve Carone. Segundo ele, os soldados receberam ordens para atirar contra os trabalhadores, mas recusaram-se unanimemente a cumpri-las, preferindo confraternizar-se com os grevistas.²

Depois da greve, Praxedes é convocado pelo Comitê Central para ir ao Rio de Janeiro fazer um relato do movimento paredista. Ele reúne-se com o secretariado do Comitê Central integrado, na época, por Lauro Reginaldo, o Bangu, secretário de agitação e propaganda; Miranda ou Antonio Maciel Bonfim, secretário político e Martins, ou Heitor Guimarães, secretário de organização. “Nessa conversa” – conta Praxedes – “fiz um relato detalhado de todo o movimento grevista em Natal e recebi orientações sobre os preparativos que o Partido estava fazendo para um movimento armado contra o Governo. Fui informado nesse contato que a ANL estava preparando um movimento armado, mas não recebi nenhuma orientação mais concreta. Não havia ainda um plano detalhado. A ordem era apenas preparar as massas para a revolução. Não ficamos de braços cruzados como fizemos em 1931 e 32 quando o partido foi criticado pela Internacional Comunista, sobretudo o Comitê Regional de São Paulo, por ter pregado a paz durante a Revolução Constitucionalista”.

Recebidas as instruções, Praxedes retorna a Natal acompanhado de um assessor do Comitê Central, de nome João Lopes, que foi especialmente deslocado para ajudar o partido na preparação do movimento rebelde. Na viagem, Praxedes e Lopes levam algumas armas para reforçar o arsenal que já começava a ser montado em Natal. “Nessa época nós já estávamos nos preparando para a luta, montando arsenais, fabricando explosivos. Quando o voltei do Rio trouxe algumas armas comigo. Dois rifles e umas armas miúdas, como pistola e revólveres” – conta Praxedes.

A evolução da radicalização política era rápida. Em fins de junho de 1935, a Aliança Nacional Libertadora promove um comício em Natal com a presença de um dos seus principais líderes nacionais, o comandante Roberto Sisson. Depois do comício, Sisson reúne-se com alguns simpatizantes da ANL, entre eles muitos militantes do partido, e faz um novo alerta sobre a necessidade de se ir preparando um movimento armado de envergadura. De Natal, Sisson segue viagem para o Norte onde iria continuar sua pregação revolucionária. Nesse meio tempo, o Governo Getúlio Vargas a ilegalidade da ANL. A radicalização política iria ser ainda maior.
_________

1. SODRÉ, Nelson Werneck, Contribuição à História do PCB, Global, Editora São Paulo, 1984, pág. 101.

2. CARONE, Edgar, A Segunda República, 1930-37, Difel, Rio de Janeiro, 1978, pág. 363.

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