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Insurreição Comunista de 1935
em Natal e Rio Grande do Norte

Praxedes, um operário no poder

 

Praxedes: Um Operário no poder
A Insurreição de 1935 vista por dentro

Moacyr de Oliveira Filho
Editora Alfa-Omega,1985

 

 

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3. Organizando os sapateiros

Enquanto exercia seu trabalho de modelador, as idéias da revolta do índio Poty e as notícias da Revolução Russa fermentavam em sua cabeça e o contato direto com os sapateiros fazia com que essas idéias entrassem em maior ebulição. “Eu queria preparar o trabalhador para tomar o poder. Tinha certeza de que só o poder na mão do trabalhador é que poderia consertar a sua vida. Era exatamente isso o que eu sentia. Eu queria politizar e conscientizar o trabalhador. Quando lembrava do índio Poty sentia que ele tinha razão e percebia, também, todo o sofrimento dele, a sua luta contra o explorador holandês, contra o invasor que vinha explorar nossa terra e nossa gente. Achava que não havia mudado muita coisa. Não tínhamos mais os homens entre nós, mas tínhamos os grandes latifundiários, os patrões. Enfim, o povo continuava sendo explorado” – argumenta Praxedes.

Logo essas idéias iriam levar Praxedes à ação. Em dezembro de 1921 é convidado pelo sapateiro Raimundo Moreira a reorganizar a União dos Sapateiros de Natal, que havia fechado por falta de interesse dos operários em tocar o trabalho. “Ele me convidou e eu, como estava com aquele negócio da Revolução Russa na cabeça, achei que era uma boa oportunidade de começar esse trabalho com os operários e fomos em frente” – relata Praxedes. A União dos Sapateiros foi reorganizada e logo conquistou a simpatia dos trabalhadores de Natal.

Quem conta é Praxedes: “Reorganizamos a União dos Sapateiros e ela ficou de pé. Nesse tempo não tínhamos nenhuma ligação com qualquer marxista, mas eu já me sentia um comunista. Apoiava publicamente a Revolução Russa e passei a defender a União Soviética. Ate criamos um grupo de operários simpáticos à causa da Revolução Russa e começamos a trabalhar junto com os outros operários”.

“Nessa época” – prossegue Praxedes – “existia em Natal o Centro Operário e a Liga Operária do Rio Grande do Norte, liderados pelo deputado João Estêvão, intimamente ligado ao Governo do Estado. A União dos Sapateiros filiou-se a essas duas entidades, embora a gente desconfiasse deles. Nós já fazíamos um trabalho organizado dentro da Liga e do Centro, tentando mostrar que aqueles elementos eram ligados ao governo, aos burgueses, aos proprietários e que, portanto, não poderiam resolver os problemas do trabalhador. Naquele tempo os operários eram mal remunerados, não havia nenhuma lei que os protegesse, trabalhava-se de 6 da manhã às 8 da noite, sem nenhuma garantia, sem lei alguma. Quando o patrão precisava, mandava buscar o operário onde ele estivesse. Era como uma escravidão.”

Com base nessas reivindicações mínimas – melhores salários, redução da jornada de trabalho e uma legislação trabalhista – é que a União dos Sapateiros começa a se apresentar para os trabalhadores de Natal, dirigida por Raimundo Moreira e por Praxedes. Corria o ano de 1922 e surge em Natal um personagem que iria acabar desempenhado importante papel na história política da cidade, do Estado e do Brasil. Seu nome: João Café Filho, filho de um ministro protestante e advogado. Café começa a trabalhar como advogado dos operários, da gente pobre e assim vai angariando simpatias entre o povo. Junto com o jornalista, poeta e teatrólogo Sandoval Wanderley, cria o jornal Folha Operária e começa a fazer intenso trabalho de propaganda entre os trabalhadores.

Como a Liga e o Centro Operário eram controlados pelo deputado João Estêvão, Café Filho, com evidentes interesses políticos, parte o trabalho de organização de outras categorias profissionais como forma de neutralizar a influência que Estêvão exercia sobre a Liga e o Centro Operário. Nesse trabalho ele conta com a ajuda da União dos Sapateiros e de grupo de quatro sapateiros, formado por Praxedes, Aristides, José Pereira e Pedro Marinho, os que mais se destacavam no trabalho junto aos operários. “Esse grupo de quatro pessoas foi organizado por nós para discutir as idéias da Revolução Russa e do Maximalismo. Começamos a nos reunir para discutir todas essas coisas e decidimos chamá-los de Grupo Maximalista, na verdade, a primeira célula comunista organizada em Natal”, conta Praxedes.

O grupo resolve integrar-se ao trabalho de organização dos trabalhadores que começava a ser feito por Café Filho, mas sempre com um pé atrás. “Decidimos participar para acompanhar as coisas de dentro, mas não confiávamos em Café. Eu, às vezes, dizia para os companheiros: “É preciso ter cuidado. Esse sujeito faz tudo isso mas depois pode nos dar um fora” – relembra Praxedes. Foram organizados, então, os trabalhadores das docas e da estiva, os choferes de táxi, os trabalhadores da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte e do Leste Brasileiro, da Companhia de Energia Elétrica, das Prensas de algodão, do serviço de água, da Companhia Circular de Bonde. “Nós participamos de tudo isso, mas com a cabeça feita. Os melhores que apareciam a gente chamava para as reuniões do nosso grupo, mostrando que João Café era um interesseiro” – conta Praxedes.

Todo esse trabalho de organização dos operários coincidia com uma grande efervescência política vivida no país depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Os movimentos reivindicatórios cresciam em todo país, culminando com a famosa Coluna Prestes, em 1924. Em 1925 chega a Natal uma caravana da Aliança Liberal, dirigida por Assis Brasil! e é recebida na cidade por João Café Sandoval Wanderley e o farmacêutico Guimarães. Praxedes rememora esse episódio, lembrando-se das palavras de um discurso feito por Café: “Ele era danado. Me lembro até hoje de um trecho do discurso de saudação da caravana, onde ele exaltava a ‘emancipação do povo brasileiro imposta pela espada flamejante do Cavaleiro da Esperança’. Nessa época João Café se dizia adepto de Prestes e da Coluna”.

Apesar de tudo isso, o grupo de Praxedes não conseguia confiar nas intenções de João Café. “Nós trabalhávamos com ele como sindicalistas. Nessa época nosso trabalho de comunista não aparecia, embora já existente mesmo sem um vínculo formal com o Partido. No nosso grupo ninguém estava sendo enganado por Café. Na verdade, nós o ajudávamos para nos infiltrar nas organizações que estavam sendo criadas. Ele não tinha nenhum respaldo político na classe média, que o odiava tanto quanto os oligarcas, os senhores de engenho, os grandes proprietários de terra. Os jornais o chamavam de ‘João Rubiácea’, ‘João Ninguém, ‘Lenin Papa-Jerimum’, sempre procurando desmoralizá-lo”.

Ainda em 1924 é que Praxedes toma contato pela primeira vez com a literatura marxista e com os materiais do Partido. Nesse ano chega a Natal o sargento da Marinha, José Alves, vindo do Rio de Janeiro, que procura a Liga Operária para fazer uma reunião com os trabalhadores. “Eu não fui a essa reunião” – conta Praxedes – “mas o Raimundo Moreira foi e me trouxe um folheto, chamado ‘Quem é Lenin’, que foi distribuído pelo sargento. Coincide com isso a chegada às bancas de Natal do jornal do partido, A Nação. Esse jornal deu um impulso tremendo à nossa luta. eu comprava quatro, cinco, seis exemplares, de acordo com o dinheiro disponível e os distribuía para o pessoal. Aos poucos fomos organizando a compra e a leitura do jornal e isso ajudou bastante a nossa compreensão dos problemas políticos da época”.

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