1 – Como nada
foi provado na chacina de Mãe Luiza contra o policial Jorge
Abafador, por que os Direitos Humanos não o defendem? Não estariam
condenando um inocente?
Joana D’arc -
Capim Macio
Cara
Joana, você está equivocada. A participação do citado policial
na triste Chacina de Mãe Luíza não só foi provada como comprovada.
Ele foi condenado duas vezes pelo Tribunal do Júri Popular e
a sentença foi ratificada em decisão histórica pelo Tribunal
de Justiça do Estado do RN que acompanhou o criterioso voto
do Desembargador Caio Alencar.
Os Promotores
de Justiça Drs. Augusto Flávio e Giovanni Rosado, assistidos
pelos Advogados Ademar Rigueira e Martins Maia (da OAB Federal)
demonstraram de forma inequívoca que o policial assassinou como
queima de arquivo duas pessoas, dentre elas, uma senhora grávida,
além de ter provocado lesões de natureza grave em outras três.
2 – Como o
senhor explica os extermínios recentes em Parnamirim se o policial
Jorge Luiz, o Abafador, encontra-se preso? O senhor afirmou
várias vezes que ele era o autor de todos eles.
Dalila de Souza
Maia - Mirassol
Nunca afirmamos
que o policial já condenado seria o autor de todos os delitos.
A participação do mesmo no grupo de extermínio “Meninos de Ouro”
foi apurado pelo trabalho da Comissão formada por Promotores
e Procuradores de Justiça que, com raro desassombro, elencou
crimes, vitimas e autores e encaminhou inúmeras denúncias à
Justiça. Também nesses crimes encontraremos o referido policial
em papel de triste destaque. Quanto ao caso das mortes em Parnamirim,
teremos que assuntar e colher mais informações dos recentes
acontecimentos.
3 – Como o
senhor, defensor dos Direitos Humanos, agiria no caso de um
marginal entrar em sua residência e violentar uma pessoa da
sua família, já que os Direitos Humanos, pelo que vimos, só
defende estes marginais?
Rosângela Medeiros
da Silva Figueiredo - Cidade Satélite
E se
esse “marginal” fosse seu filho, irmão, pai ou neto , você teria
coragem de defender a pena de morte para ele? Dizer que os defensores
dos direitos humanos só defendem bandidos é não enxergar a complexidade
das relações sociais de um país desigual, de um país com estrutura
geradora de injustiças, onde a dita lei só acaba no lombo dos
pequenos.
Agora respondendo
diretamente a sua pergunta: utilizaria a minha vida para esclarecer
e não deixar impune a violência, como fazem Daniel Alves Pessoa
(filho do promotor assassinado Manoel Alves Pessoa Neto), Dra.
Gilda Mesquita (mãe da Advogada Bianca Mesquita), Luciano Capistrano
(irmão de João Ricardo Capistrano), Jeane Nascimento (irmã de
Jefferson Nascimento) e de Patrícia Cibele (viúva de Célio Marinho
que acaba de perder uma batalha na luta contra a impunidade
mas que com amigos , familiares e a participação decisiva do
Ministério Público, haverá de fazer valer a JUSTIÇA) e tantos
outros.
Todo
crime precisa ser apurado e os responsáveis punidos na forma
da lei. A dignidade humana precisa ser respeitada por todos.
Fico indignado
com todo tipo de violência, mas procuro ver a floresta e não
só as árvores. Defender os Direitos Humanos não é só denunciar
a violência policial, é lutar por Direitos Econômicos e Sociais
que são negados à grande parte da população e que são o combustível
para todo tipo de violência.
4 – O senhor
não acha que a violência aumentou depois que o senhor Maurílio
Pinto se encontra afastado do cargo?
Maria Aparecida
de Moura – Dix-Sept Rosado
Prezada
Maria Aparecida, querer explicar o aumento da violência por
conta da ausência do citado delegado é dar muito cabimento a
uma mentalidade provinciana remanescente do estado autoritário.
Com o
desmonte da nossa economia e o agravamento das questões sociais
(o desemprego, por exemplo), a violência seguramente vai aumentar.
Dom Pedro Casaldáliga diz que em determinadas situações o cristão
não deve ter medo. Urge que homens e mulheres corajosamente
resgatam os mais nobres valores do cristianismo e enfrentem
este grave problema, pois a violência vai atingindo a cada dia
mais pessoas, do cidadão comum ao pai do governador. Chamar
a cavalaria e o xerife não é solução, precisamos de mais sensibilização
e menos contenção.
5 – Por que
os Direitos Humanos protegem os ladrões? Fui roubada em R$ 5
mil há 22 dias dentro da casa da minha mãe, em Macaíba, e todos
sabem quem é o ladrão, até a polícia, mas ele não é preso porque
é menor. Se fosse maior, também não seria preso porque não houve
o flagrante. Se a polícia o prendesse e o imprensasse, os Direitos
Humanos reagiriam para protegê-lo. A polícia trabalha de mios
atadas, com medo de perder o emprego e ser processado. Eu pergunto:
cadê meus direitos?
Maria Edione
Barbosa de Melo - Lagoa Seca
Caríssima
Maria Edione, não defendemos ladrões nem assassinos, defendemos
os direitos e garantias Individuais de todo cidadão, defendemos
acima de tudo a vida. Você foi vítima de uma violência, exija
que as autoridades competentes cumpram o seu papel institucional,
se for o caso, denuncie as omissões. Agora, a polícia tem que
atuar respeitando o estado democrático de direito e tem que
se despir da prática da tortura como método de investigação.
A senhora
não gostaria que um ente querido seu fosse “imprensado“ pela
polícia, não é mesmo? Acredite, toda violência por menor que
seja, atrai mais violência num círculo vicioso e a senhora já
deve ter notado que toda violência é covardia.
6 – Por que
o Centro de Direitos Humanos deixou de se manifestar a respeito
dos crimes contra o advogado Gilson Nogueira e do travesti Carla?
Como andam as Investigações, se é que elas ainda continuam?
Os Direitos Humanos deixaram de acompanhar o caso?
José Carlos Rodrigues
- Soledade II
Em todas
as atividades do Centro de Direitos Humanos, Gilson e Antônio
Lopes são lembrados. Cotidianamente cobramos a elucidação de
seus bárbaros assassinatos. No que diz respeito ao caso Antônio
Lopes, conhecido como o “Caso Carla”, infelizmente ainda não
há dados muito concretos. Já com relação ao “Caso Gilson” existe
um policial civil preso que deverá ir a julgamento ainda neste
semestre.
A luta da memória
contra o esquecimento trará a verdade em sua plenitude e a partir
desse julgamento toda a trama que envolveu o assassinato do
companheiro Gilson será de conhecimento de todos.
7 – O senhor
sabe que, apesar de condenado, o policial Jorge Abafador ainda
não foi levado para a penitenciária? De quem é a culpa? Por
que os Direitos Humanos não cobram das autoridades a transferência
dele?
Adailton Pinheiro
- Conjunto Pirangi
Adailton,
desde que a sentença desse mal policial transitou em julgado,
que o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular tem cobrado
o cumprimento da lei de execuções penais. O próprio presidente
do Tribunal de Justiça, Dr. Ítalo Pinheiro, assegurou que a
transferência do preso para o Presídio de Alcaçuz esta em cursos.
É estranho que
até o presente momento o juiz das execuções penais ainda não
tenha expedido a guia de recolhimento do preso para Alcaçuz,
da mesma forma, não temos enxergado animação por parte do Promotor
que funciona junto àquela vara para fazer valer a letra da lei.
Muito em breve
iniciaremos uma campanha nacional e internacional, inclusive
pela Internet, solicitando que a sentença de 47 anos em regime
fechado seja cumprida efetivamente. Não queremos que aconteça
a Jorge o que aconteceu com o Tenente Gurgel que foi assassinado
também por omissão e prevaricação do estado e estamos dispostos
a defender os seus direitos enquanto apenado.
8 – A que os
Direitos Humanos atribui o aumento da criminalidade no Estado?
O senhor acha que os Investimentos anunciados pelo governador
Garibaldi Filho são suficientes para melhorar a Segurança Pública?
Por que mesmo com a prisão de Abafador e de outros policiais
e do afastamento do delegado Maurilio Pinto as mortes continuam
acontecendo?
Heriberto da
Silva Andrade - NeópoIis
Caro
Heriberto, infelizmente a geo-política está permeando a noção
de Segurança Pública prevalecente no âmbito governamental. É
preciso alargar os horizontes evoluindo-se rapidamente para
construção de uma política de Segurança Pública para o Estado
do Rio Grande do Norte.
A cada onda de
crimes hediondos a mídia governamental responde com compra de
armas e viaturas. E o investimento no ser humano, na qualificação
do policial está havendo? Fazer armas e carros desfilarem pelas
ruas com sirenes ligadas enquanto ocorriam assaltos a bancos,
seria cômico se não fosse trágico. Natal não é mais uma fazenda
iluminada. A título de exemplo, queremos alertar que todo o
esforço de construção de presídios que amenizou a situação do
nosso sistema penitenciário pode estar indo por água abaixo,
uma vez que não houve o necessário investimento no campo dos
recursos humanos, sendo que o próprio concurso para agente penitenciário
aprovado em regime de urgência há mais de dois anos pela Assembléia
Legislativa ainda não foi realizado. Pontes, viadutos, adutoras,
são obras necessárias. A questão da segurança, entretanto, é
o reclame mais agudo de todo o Estado. Ou o governo e sociedade
decifram este enigma, ou seremos todos devorados pela violência.
9 – O senhor
ainda acha que existe um grupo de extermínio agindo no Rio Grande
do Norte?
Paulo Diniz Sobrinho
– Petrópolis
Paulo Diniz,
pela leitura de estatísticas, inclusive do nosso banco de dados,
Natal é uma das poucas cidades do país que não está tendo a
ação terrível de grupos de extermínio. Mas, o grupo existe.
Está aparentemente desmobilizado, mas até quando?
A sociedade precisa
encarar a sua dor ante a violência com serenidade e está atentar
e vigilante. Qualquer desequilíbrio pode ser o alimento bastante
para pôr em movimento as ardilosas forças das trevas. Não se
esqueça que no coração da Europa o nazismo se assanha e se faz
presente no governo austríaco. Você se lembra do ovo da serpente,
não?
10 – Sr. Roberto
Monte, para que servem os Direitos Humanos?
Marcílio Medeiros
- Tirol
Prezado Marcílio,
a luta dos Direitos Humanos é pela defesa intransigente da vida
e pela dignidade do ser humano.
Há 52 atrás,
diversas nações mundiais se reuniram através da Assembléia Geral
das Nações Unidas e proclamaram a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, aquela que seria o início de uma sólida construção
pela efetivação dos Direitos Humanos no mundo. De lá para cá,
muitas ações, documentos, convenções, tratados e pactos solidários
ampliaram e aperfeiçoaram a implementação desses direitos.
Existe um conjunto
de direitos, entre eles os direitos civis, políticos, e mais
os sociais, econômicos e culturais que estão sendo incorporados
cada vez mais à realidade tão conturbada do cidadão comum.
No Brasil, e
particularmente no Rio Grande do Norte, a luta tem sido cada
vez mais intensa e acompanhada de alguns avanços. A criação
do Programa Nacional de Direitos Humanos, do Programa Estadual
de Direitos Humanos do RN, o segundo do Brasil, são exemplos
de como a Sociedade Civil, as organizações de Direitos Humanos,
as Entidades sociais podem se organizar, cobrar, denunciar e
também exercitar ações propositivas em busca do bem comum.
Caro Marcílio,
lutar pelos Direitos Humanos é servir e construir uma nova sociedade
baseada nos valores democráticos, na cidadania plena e nos ideais
solidários de fraternidade e justiça.
11 – O senhor
tem conhecimento de qualquer processo a que tenha sido eu submetido
e condenado, a qualquer tempo, por violação de direitos humanos
ou outro motivo criminalmente equilatável?
·
O senhor tem conhecimento se existe qualquer prova de meu
envolvimento com a morte do advogado Gilson Nogueira, já estando
denunciado por estas acusações levianas o senhor James Louis
Cavallaro, presidente da Human Watch no Brasil perante a Quarta
Vara Criminal desta Comarca de Natal? Por que o senhor James
Cavallaro foi embora para os EUA, a fim de não responder ao
processo por crime contra a honra por mim proposto?
·
Em quantos processos atuou o Centro de Direitos Humanos na defesa
de policiais mortos em serviço, ao longo de sua gestão, ou qualquer
outra? A que ou a quem o senhor atribui as inúmeras absolvições
em processos considerados pelo Centro de Direitos Humanos como
violadores da pessoa humana?
·
Gostaria de saber se o senhor pode comprovar que tenha eu
recebido qualquer propina, suborno ou mesmo presentes, em razão
de minha função de delegado, objetivando beneficiar alguém.
Fui acusado de mandar botar fogo em um carro de uma pessoa que
teria uma dívida com um empresário amigo meu. Cite o nome do
proprietário do carro e do empresário amigo meu, inclusive a
data e o local onde teria ocorrido o fato.
Maurílio Pinto
de Medeiros – Delegado de Polícia Civil
Senhor Maurilio,
não nos parece oportuno responder a quem ainda na semana passada
confessou ter ficado satisfeito com o brutal assassinato de
Antonio Lopes, o Carla. Da nossa parte continuaremos atentos
e vigilantes.
No entanto, temos
feito algumas reflexões. Que medos fazem mover o ódio e as ações
deste senhor que contumazmente nos ataca como uma cantilena
de disco engalhado? Por que vilimpendia os cadáveres de Gilson
e Carla que não mais podem se defender? Talvez só agora deu-se
conta do peso morto que tornou-se depois de ter sido usado e
descartado pelas elites.
O debate deve
ser travado em alto nível, sem preconceitos, com espírito aberto
para se construir um mundo novo.
Em dezembro de
1999 fizemos um Seminário sobre Educação para os Direitos Humanos
e se o senhor pudesse ver os nossos mestres construindo a Cidadania
em meio às adversidades da vida talvez enxergasse o mundo com
outra cores que não as do ódio.
Em agosto do
ano passado, dezenas de amigos e familiares de mortos e desaparecidos
políticos comemoraram conosco os 20 anos da Lei da Anistia.
Nessa oportunidade, talvez se o senhor pudesse ter assistido
os depoimentos de Luciano Almeida, Juliano Siqueira, Moisés
Domingos, Homero Costa, Maurício Anísio, comprovaria que o homem
é capaz de sair das madorras e buscar construir coisas ricas
e belas na face da terra.
Se acaso tivesse
acompanhado a entrega do Prêmio Estadual de Direitos Humanos,
seguramente se comoveria com o depoimento de Elizabeth Teixeira,
viúva de João Pedro Teixeira, o cabra marcado para morrer, líder
sindical assassinado, e com certeza se emocionaria com a lembrança
de Waldson Pinheiro, de Marise Paiva, dos heróis que fizeram
a campanha “de pé no chão também se aprende a ler”. E por falar
nesta campanha. renovarias tuas forças ao avistar o professor
Moacir de Góes chegar correndo de outro compromisso e encontrar
os lutadores de hoje reverenciando o passado, prenhe de sonhos
para um futuro que ainda será radiante. Por fim agradeço a participação
dos leitores e faço votos para que este inquisidor encontre
no interior mais recôndito do seu ser resquícios de uma formação
cristã que faça aflorar gestos generosos, pois acredito na reconversão
das almas e todos sabem que o senhor Mauríio É UM BOM PAI.