sim, os olhos do abismo são
castanhos.
e eu te amo em qualquer país. poço. nação.
tenho sede.
na sua dor eu me reconheço.
você de inchados pés
arranca de mim o que é mais precioso e doce.
o que é mais divino e víscera.
desliza por minhas coxas o seu sacro bastão.
flores. escudos. espessas ternuras.
sim, o homem é um adágio.
um rio corrente que rasteja e morde.
deus não é o perigo.
o perigo é nascer. parir. carregar óvulos. útero.
ser anônima. inquieta. inatingível.
arder.
depois murchar, repleta de memória e céu.
sim, o mundo é um terreno minado.
e o amor, um assombro.
não é a primeira vez que me precipito.
e caio, esgotada. cingida.
ser pouco não me interessa.
a minha vagina, contraída, contém o universo.
e o meu amor te chama
enquanto resgato em espirais de esmeralda
o destino dessa humanidade de prata,
ouro e merda.
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