Ciranda
Internacional da Informação Independente
Antonio Martins*
Se
um mundo novo é possível, vencer o jornalismo de mercado
também é...
1.
É provável que o motivo principal da enorme repercussão
alcançada pelo Fórum Social Mundial seja sua capacidade de
resgatar a utopia. A História não acabou, o mundo não será
mais como é! Milhares de pessoas de todo o mundo estão se
preparando para viajar a Porto Alegre e manifestar sua adesão a
esta idéia aparentemente simples, mas revolucionária. O FSM-2001
não estaria completo, porém, se sua própria história não
pudesse ser escrita por uma imprensa comprometida com a
transformação social. Por isso, está surgindo a Ciranda
Internacional da Informação Independente – CIIIn.
2.
A CIIIn vai colocar em
prática, durante o Fórum Social Mundial, uma das propostas mais
ousadas surgidas no debate sobre as alternativas ao
neoliberalismo: o saber e a informação são bens comuns a
toda humanidade; por isso, não
podem ser transformados em mercadorias. Para demonstrar que
esta frase é bem mais do que um amontoado de belas palavras, a CIIIn
vai colocar para si mesma um desafio: o de oferecer uma cobertura
muito mais abrangente, profunda e verdadeira do que a de qualquer
veículo de comunicação comercial presente ao FSM-2001.
3.
Para alcançar este objetivo, a CIIIn
vai transpor para o jornalismo o conceito que permitiu o
florescimento, nos últimos anos, do chamado “software livre”:
o copyleft. Por trás da brincadeira semântica,
há uma alternativa que está dando certo. Para enfrentar o poder
das grandes corporações que querem controlar a informação,
nada melhor que o saber compartilhado. Um grupo de
programadores ou de jornalistas independentes pode ser mais capaz
– e muito mais criativo... – que o staff de uma
mega-empresa de jornalismo ou de programas para computador. Para
isso, é preciso que tenham autonomia e que estejam, ao mesmo
tempo, dispostos a trabalhar num objetivo comum.
4.
Em termos práticos, a CIIIn
vai permitir que as publicações ligadas aos movimentos sociais,
ou de agências de notícia independentes, façam uma cobertura
ampla do Fórum Social Mundial. Por suas condições materiais,
cada um desses órgãos terá condições limitadas de estar em
Porto Alegre. Na grande maioria dos casos, enviará um ou dois
jornalistas.
A própria dimensão do evento impedirá que esta equipe tenha
sucesso, se isolada. Só no Centro de Convenções da PUC-RS, sede
do FSM-2001, serão quatro painéis
simultâneos
pela manhã e cerca de 60 conferências à tarde. Haverá, além
disso, debates e manifestações constantes em outros pontos da
cidade.
5.
E no entanto, serão centenas de publicações
independentes... Como seu próprio nome indica, a lógica da CIIIn
é unir, numa imensa ciranda,
o trabalho realizado por todos durante o Fórum Social Mundial.
Cada publicação participante terá inteira autonomia para pautar
e produzir os textos e fotos que quiser, de acordo com seus
próprios objetivos editoriais . Mas poderá, além disso,
reproduzir, sem necessidade de pagamento algum, as matérias e
imagens de todas as demais. Em contrapartida, oferecerá o
trabalho de seus próprios jornalistas para reprodução livre nas
publicações que aderirem à . Em
todos os casos, os créditos dos autores serão, evidentemente,
respeitados e mencionados.
6.
A CIIIn
nasce
com força. O site do Fórum Social Mundial (http://www.forumsocialmundial.org.br/),
que já recebe cerca de 300 visitas diárias e multiplicará esta
audiência durante o evento, está sendo redesenhado. Ele vai
abrigar, entre 25 e 30 de janeiro, todo o acervo de matérias e
fotos produzidas pelas publicações ligadas à Ciranda. Será
fonte indispensável de consulta tanto para centenas jornalistas
interessados em conhecer a produção dos demais colegas
integrados à CIIIn
quanto para as milhares de pessoas empenhadas, em todo o mundo, em
ter acesso ao relato do FSM-2001 feito pela imprensa independente.
A adaptação do site será possível graças ao apoio da Rede de
Informações do Terceiro Setor (RITS) e da Fábrica Digital, que
desenvolveu – e cedeu para o evento – o programa Publique! Além
disso, a Fundação pelo Progresso do Homem, sediada em Paris,
está procurando encontrar soluções para que, além dos
jornalistas, os próprios participantes do FSM-2001 possam redigir
e publicar, numa outra seção do site, seus relatos sobre o
encontro.
7.
A CIIIn
é uma iniciativa aberta para todos os que crêem na força da
imprensa independente. Para somar-se a ela bastam dois passos.
Estar registrado como jornalista junto ao Fórum Social Mundial e
credenciar-se como participante da própria CIIIn,
utilizando o formulário que estará disponível, muito em breve,
no site do FSM-2001. Às vésperas do Fórum, os jornalistas
credenciados receberão senha para inclusão de suas matérias no
site e instruções sobre como utilizá-lo.
8.
O Fórum Social Mundial não pretende ser um ponto de chegada, mas
o início de um longo processo de aproximação entre quem resiste
à “Nova Ordem” e de busca conjunta de alternativas. A CIIIn
também pode ser o primeiro passo para uma união mais sólida
entre as centenas de publicações e agências que procuram, em
todo o mundo, enfrentar a ditadura da mídia refundando um
jornalismo crítico.
Quem
já aderiu à CIIIn:
>>
Fórum Social Mundial, site
Alessandra Ceregatti, Antonio Martins, José Correia Leite
>>
Agência LatinoAmericana de Informação Independente – ALAI
Osvaldo
de León e equipe
>>
Linha Aberta, site do PT
Rosana
Lima
>>
Carta Maior, agência brasileira de informação
independente:
Emir Sader, Antonio Martins, Daniel Merli, Ricardo Maffeis
>>
Die Tageszeitung, de Berlin
Gerhard Dilger, correspondente no Brasil
>>
Veraz Comunicação
Marco
Aurélio Weissheimer, Jefferson, Wilson Sobrinho
>>
Estudante.net
Gisela
Mendonça, Luciana Bento
>>
Conexão, revista da Unafisco
Cyntia Campos, Solange Galvão
>>
Editora Publisher
Renato
Rovai
*Antônio
Martins é jornalista.
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