Comitê
Estadual pela Verdade, Memória e
Justiça RN - Rio Grande do Norte
Centro
de Direitos Humanos e Memória Popular
CDHMP
Rua Vigário Bartolomeu, 635 Salas
606 e 607 Centro
CEP 59.025-904 Natal RN
84 3211.5428
enviardados@gmail.com
Comissões
da Verdade Brasil
| Comissões
da Verdade Mundo
Comitê
de Verdade Estados | Comitê
da Verdade RN
Reprimidos
Ditadura Militar no RN | Repressores
Ditadura Militar no RN
Ditadura
Militar de 1964 no Rio Grande do Norte
Glênio
Fernandes de Sá
Repressão no RN
Textos
Alírio
e Glênio: Um grande legado!
Canindé
de França, 26.06.2010
É
assim que prefiro relembrar a memória
e a trajetória de lutas de duas das
mais ilustres personalidades da luta popular
e da história de construção
do Partido Comunista do Brasil-PCdoB/RN,
me refiro aos camaradas Alírio Guerra
de Macedo e Glênio Fernandes Sá.
Em terras potiguares
Se tivéssemos de identificá-los
pelos traços da geografia logo diríamos,
são filhos do Brasil, de uma região
importante e resistente, como foram as suas
vidas. Glênio Sá, de Caraúbas
no Médio Oeste potiguar, Alírio
Guerra, de Curimatá no Sudoeste do
Piauí, se localizaram na caminhada
da vida e da luta pela bússula da
política revolucionária do
PCdoB, em tempos de autoritarismo e de cerceamento
das liberdades democráticas.
Na
mesma época enfrentaram de formas
diferentes e em lugares distintos o regime
dos generais, enfrentaram o combate, mesmo
que desigual, mas não fugiram à
luta, todo empenho, o melhor de suas energias
físicas e intelectuais foram direcionadas
para restaurar a democracia solapada e salvaguardar
o Partido enquanto instrumento de luta política
da emancipação do povo brasileiro
e da construção de uma nova
sociedade-Socialista.
60 e 70, anos de muitas resistências
Meados dos anos 60, ainda jovens, muitos
jovens, presenciaram a inquietação
do Partido com os horrores da ditadura militar
e dos golpistas que buscavam a todo custo
sufocar qualquer manifestação
de resistência ao arbítrio
promovido pelo regime de excessão.
A
resistência era o único caminho,
as formas de apresentá-la foram diversas,
o cenário da resistência tanto
ocorreu no campo como nas cidades. A democracia
estava comprometida e à vida em risco
permanente.
Guerrilha e Patriotismo
Cumprindo tarefas diferentes, mas com o
mesmo objetivo ajudaram com o ímpeto
peculiar a juventude a edificar as barreiras
da resistência, tanto em solo urbano,
com em terras rurais. Conscientemente abdicaram
do conforto e da segurança do seio
familiar e se lançaram a uma jornada
de lutas e riscos permanentes, o ambiente
era sombrio e a luta desafiadora, podendo
até dizer profundamente desproporcional
no que pertine a contingentes e instrumentos
utilizados nas batalhadas do cotidiano.
A
Guerrilha do Araguaia foi um demonstrativo
de despreendimento e de patriotismo dos
militantes e dirigentes do PCdoB, que sem
outra alternativa ou meios de lutar pela
democracia e liberdade se socorreram da
luta armada para dar vida a resistência
popular e não permitir que a nossa
pátria vilipendiada sucumbisse as
trevas da ditadura.
No
Araguaia Glênio esteve presente e
participando diretamente, inclusive compondo
um destacamento militar na condição
de guerrilheiro. Lutou, foi preso, resistiu
as torturas e sobreviveu as humilhações
impostas pelos algozes e torturadores. Foi
um dos poucos sobreviventes da luta armada
nas selvas do araguaia.
Diferente
não foi a luta e a conduta de seu
camarada Alírio Guerra, que dentre
outras privações advindas
da resistência contra a ditadura,
também passou a viver na clandestinidade,
tendo como consequência o seu banimento
do curso de medicina da Universidade.
Como
os conhecia, tenho plena certeza da dor
que sentiram ao saber da derrota da guerrilha
e do asssassinato/execução
de boa parte de seus camaradas que resistiram
com bravura. Dor aumentada com a morte do
líder estudantil Honestino Guimarães,
da União Nacional dos Estudantes-UNE.
Mesmo
na adversidade, continuaram a luta em defesa
dos ideais que professavam, acreditando
na possibilidade de reencontrar os caminhos
que reconduzisse o Brasil ao leito da democracia
e do Estado Democrático de Direito.
Regime em decadência
Com o resultado das eleições
parlamentares de 1974, a oposição
saiu fortalecida, elegendo uma forte bancada,
principalmente ao senado federal, mas mesmo
assim a ditadura já apresentava sinais
de fraqueza, sem no entanto abrir mão
do regime que comandava. Permanecia no controle
do governo e do poder político, apoiado
em forte aparato militar e repressivo.
Foi
neste ambiente de decadência da ditadura
e ainda de forte repressão, que em
dezembro de 1976, Alírio e Glênio
tomaram conhecimento da Chacina da Lapa
em São Paulo/SP, em que foram vítimas,
importantes dirigentes do Comitê Central
do Partido, foram violentamente assassinados
Pedro Pomar e Ângelo Arroio, que havia
sido o Comandante Militar da Guerrilha.
Forjados
neste ambiente de luta e resistência,
continuaram sua militância, novos
tempos se apresentavam, a luta em defesa
da anistia era fato concreto, resultado
de uma paciente e firme construção,
organizada por diversos segmentos sociais
da população, mas sustentada
politicamente também pela força
e convicção do Partido Comunista
em suas diversas frentes de luta.
Lágrimas e sorrisos
Desde a instauração da ditadura
militar em 1964, o sorriso era escasso e
o semblante contraído, as lágrimas
que caíram em abundância com
a derrota da guerrilha e a chacina da lapa,
regaram o campo da luta política
que trazia de volta ao Brasil, homens e
mulheres covardemente expatriados, em forma
de exílio patrocinado pela ditadura.
O
retorno de inúmeros patriotas, como
João Amazonas, Miguel Arraes, Leonel
Brizola e a legendária figura de
Luiz Carlos Prestes, com eles chegava também
a esperança da conquista da liberdade
e da democracia. Como em outros milhares
de brasileiros, o sorriso estava também
estampado nos rostos de Glênio e Alírio,
enfim, a esperança começava
a vencer o medo.
Homens do século passado,
de idéias contemporâneas
Final dos anos 70 e início dos anos
80, as suas vidas e militâncias se
concentraram em terras potiguares, dedicando-se
integralmente a reestruturação
política e organizativa do Partido
Comunista do Brasil, no Rio Grande do Norte.
Com
suas contribuições em momentos
diversos, foram participes do acúmulo
de forças que pôs fim a ditadura,
foram firmes no movimento das Diretas-Já,
e contribuíram na mobilização
da vitória de Tancredo e Sarney no
colégio eleitoral. Estava definitivamente
derrotada a ditadura militar.
Instaurava-se
um novo momento, o da legalidade do Partido,
que havia tido o registro cancelado e os
mandatos parlamentares cassados há
quase 40 anos, de 1947 a 1985. Agora o desafio
era de outra natureza, estruturar o PCdoB
e dotá-lo de condições
políticas para as novas batalhas,
inclusive as eleitorais, terreno novo e
ao mesmo tempo desconhecido para a militância
comunista.
Uma década vitoriosa
A década de 80 foi muito importante,
marca o fim da ditadura em 1985 e o início
do processo democrático, em quase
4 anos tivemos três disputas eleitorais,
1986, 1988 e 1989, sendo esta última
a primeira eleição direta
para presidente da república.
Glênio
e Alírio conduziram o Partido nesta
nova realidade, sendo os principais dirigentes
políticos em nosso Estado. Glênio
foi candidato a Dep. Estadual em 1986 e
Alírio candidatou-se a vereador em
Natal nas eleições de 1988.
Nestas disputas eleitorais o Partido foi
acumulando experiências e aumentando
a sua influência.
Novas disputas
O primeiro semestre de 1990, foi marcadamente
de muita efervescência na conjuntura
política nacional, estávamos
nos primeiros meses do governo do presidente
Collor de Mello, muitas movimentações
tendo em vista a disputa eleitoral que se
avizinhava para Governo, Senado, Câmara
e Assembléia Legislativa.
A
marca da nova aliança eleitoral era
politicamante de esquerda, composta pelo
PCdoB e PT, tendo como candidato a governador
Salomão Gurgel/PT e ao senado Glênio
Sá/PCdoB. Nesta eleição
Alírio Guerra concorria a uma vaga
na Assembléia Legislativa.
Na
noite de 25 de julho, em pleno período
da festa de Santana em Caicó, realizou-se
um ato político na Câmara de
vereadores com a presença da chapa
majoritária, de militantes, candidatos
e apoiadores da coligação
da Frente Popular.
Após
o ato ocorreu um jantar de confraternização
dos candidatos com os participantes do evento
no bairro Barra Nova. Coube a mim levar
Glênio até o terminal rodoviário,
pois teria que viajar logo em seguida, conversamos
sobre alguns assuntos da campanha, também
recebi algumas orientações
partidárias para o processo eleitoral
em curso. No dia seguinte estava previsto
uma atividade de campanha em Currais Novos/RN,
e logo seguiriam para Natal.
Mês de festa, dias de tristeza
Já no final da tarde de 26 de julho,
duvidei em acreditar na notícia que
acabara de receber, dizendo que um acidente
automobilístico havia vitimado alguns
membros da coligação que estavam
em campanha no município serrano
de Jaçanã, na região
do Traíri.
A
confirmação dava conta da
morte de Alíro Guerra e Glênio
Sá, naquele momento era como que
o mundo estivesse se afundando, era assim
inexplicável, não tinha como
acreditar, mas era a pura realidade. Uma
dor incontida, nunca em época alguma
havia sentido tamanha e pesarosa sensação.
Ali estava até então, as minhas
maiores referências partidárias
e de convivência muito aproximada.
20 anos de afirmação
e crescimento
Ao completar 20 anos da morte de Alírio
e Glênio, não é forçoso
reconhecer que apesar da grande perda dos
dois principais dirigentes do Partido no
RN, conseguimos, mesmo com dificuldades
estruturar do ponto de vista político
e organizativo o PCdoB em todas as regiões
do estado e em mais de dois terços
dos municípios potiguares.
De
modo que o legado de Alírio e Glênio
permanecem vivos e se desenvolvem nos dias
atuais, com outros métodos e novas
formas, aplicando o conteúdo político
dos tempos atuais, sem no entanto, se afastar
dos princípios e dos compromissos
históricos e ideológicos de
outrora.
Homens
de pensamento e ação modernizante
Não tenho dúvidas de que nos
dias atuais estavam comprometidos e abraçados
com o ideário da construção
de Um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento
para o Brasil. Mobilizados em torno do nosso
projeto político e eleitoral, buscando
afirmar ainda mais a identidade e fisionomia
do Partido Comunista do Brasil, em âmbito
nacional, e em particular em nosso estado.
Creio
que estariam firmes, pacientes e com a experiência
construída no cotidiano das lutas,
sabendo enfrentar os desafios e a nova realidade
que a luta institucional e as disputas eleitorais
trouxeram para a vida partidária.
Um
sonho que vai se realizando
A realidade de hoje, é fruto de um
longo período de construção,
de enfrentamento de concepções
e práticas que se manifestam no seio
do Partido, principalmente neste momento
de ampliação e alargamento
de suas fileiras e de sua crescente influência
na sociedade.
Somente
um Partido ousado, corajoso em suas decisões
políticas é capaz de se tornar
vencedor, sem abdicar de seus compromissos
históricos. Apoiamos a eleição
da candidata de Lula, a ex-ministra Dilma
Roussef/PT, que em sua plataforma expressa
profundos compromissos com o Brasil e o
povo brasileiro.
No
Rio Grande do Norte, a nossa opção
foi pela composição com o
PDT, tendo Carlos Eduardo Alves, ex-prefeito
de Natal como candidato a governador e Sávio
Racrat disputando uma vaga ao senado pela
legenda Comunista 65.
Maturidade e crescimento
O Partido de Alírio e Glênio,
em disputas eleitorais pela primeira vez
apresenta uma nominata robusta, são
09 candidatos a deputado estadual, 04 a
deputado federal, 01 ao senado e 01 suplente.
São ao todo 15 camaradas disputando
a eleição pelo Partido com
a legenda 65. É um fato inovador
para os comunistas do Rio Grande do Norte.
Portanto,
o sonho e as ações realizadas
por Glênio e Alírio precisam
ser continuadas, considero que a melhor
forma de relembrá-los e homenageá-los
é tornar os seus ideais ainda e cada
vez mais vivos nos dias de hoje, tornando
o PCdoB, mais forte, mais unido, coeso em
torno dos seus objetivos imediatos e futuros
e fundamentalmente identificados com os
trabalhadores, o povo brasileiro e com os
ideais de uma pátria livre, próspera,
soberana e Socialista.
Um
forte e caloroso abraço aos familiares
dos estimados camaradas e todos que honram
sua trajetória cotidianamente.
^
Subir
<
Voltar
|