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Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos - RN

N. 013 – 24/11/03

TRANSGÊNICOS E MÍDIA

Reproduzimos um artigo sobre a maneira grosseira e superficial com que a revista Veja, na edição da última semana de outubro, tratou o tema dos transgênicos em uma tentativa totalmente ideológica e sem nenhuma base sólida (tanto científica quanto econômico-social) de promover a liberalização destes produtos no Brasil.

Transgênicos: Veja que mentira!

A reportagem especial "Transgênicos, os grãos que assustam", publicada na última edição da revista Veja, apresenta uma série de incorreções e omissões que induzem o leitor a concluir que a transgenia só oferece benefícios e que todos os grupos contrários à liberação de tais organismos sem as devidas avaliações de riscos à saúde e ao meio ambiente são irracionais, passionais e inimigos do progresso.

O Idec, entidade que há 16 anos atua de forma coerente e responsável pela preservação dos direitos do consumidor, fundamentalmente dos relacionados à saúde e à segurança, repudia o teor da referida reportagem.

Ao contrário do que relata a revista, a comunidade científica está extremamente dividida em relação aos riscos e benefícios dos OGMs. O jornal britânico The Guardian publicou recentemente os resultados de um dos maiores estudos de campo já realizados sobre os efeitos de organismos transgênicos ao meio ambiente. O estudo é taxativo: em dois casos (canola e beterraba) dos três estudados, os transgênicos se mostraram prejudiciais ao meio ambiente. No caso do milho, terceiro produto estudado, há discussões sobre os resultados obtidos. Veja ignorou este e outros estudos importantes, que justificam o princípio da precaução.

Veja ignorou em todo o texto os direitos básicos dos consumidores à informação e à escolha. Em nenhum momento abordou a questão da rotulagem.

Como forma de apresentar os transgênicos como única alternativa para combater a fome no mundo, Veja compara a transgenia à "revolução verde", que na década de 60 teria evitado que dezenas de milhões de indianos, paquistaneses e chineses morressem de desnutrição. Não é verdade. Os fracassos da Revolução Verde são muito conhecidos: degradação ambiental, contaminação de alimentos, concentração de mercado e pobreza. E mais: a fome aumentou e já atinge 800 milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive indianos, paquistaneses, chineses e brasileiros. Como bem deveria saber Veja, atualmente se produz comida suficiente para alimentar os pouco mais de 6 bilhões de habitantes no mundo. O problema não está na produtividade agrícola, nem nas deficiências da produção em relação à demanda de alimentos, mas no sistema econômico, onde consumidores não têm acesso aos alimentos básicos. Ao contrário, Veja deveria mencionar que as empresas de biotecnologia já dispõem do "terminator", ferramenta genética patenteada que, aplicada às sementes, fará com que as plantas produzam grãos estéreis, obrigando que os agricultores (e nações) comprem sementes em todas as safras.

A revista traça um paralelo jocoso entre a liberação dos transgênicos e a "Revolta da Vacina", episódio em que, equivocadamente, a sociedade se rebelou contra a campanha de vacinação promovida pelo sanitarista Oswaldo Cruz. Esqueceu, porém, de mencionar episódios como o ocorrido com a Talidomida, medicamento responsável por uma geração de pessoas com deformidade, os agrotóxicos organoclorados e várias drogas veterinárias, que são cancerígenos, que passaram por análises superficiais e tiveram que ser mais tarde proibidas, com um prejuízo irreparável para a sociedade.

Veja relata que nos Estados Unidos "há três órgãos federais regulamentando a produção de safras e alimentos geneticamente modificados. Entre eles está o FDA, departamento que analisa os níveis de toxicidade e potencial alergênico dos grãos para só então autorizá-los a entrar no mercado. Segue-se para os transgênicos o mesmo processo de verificação usado na aprovação de remédios".

Não é verdade. Nos Estados Unidos, os alimentos transgênicos são desregulamentados e são tratados como se fossem alimentos convencionais e, por isso, não são feitas as análises de risco similares a medicamentos, aditivos ou agrotóxicos. A FDA foi processada pela superficialidade com que tratava os alimentos transgênicos, sendo reveladas 44 mil cópias de documentos que comprometeram a credibilidade da Agência (ver www.biointegrity.org).

Além disso, ao comparar alimentos transgênicos com medicamentos, Veja desconsiderou aspectos básicos que os diferenciam:

1- A autorização de um medicamento passa por diversas fases, que podem durar décadas, e ao serem liberados têm um protocolo de monitoramento de reações adversas, que, não raras vezes, identifica problemas e leva esses produtos a serem proibidos ou restritos. Os transgênicos, até agora, são rapidamente aprovados para comercialização e não têm qualquer monitoramento pós-comercialização.

2- Medicamentos chegam ao consumidor de forma altamente purificada, mas os alimentos transgênicos são consumidos por completo, incorporando não apenas a modificação genética, mas também quaisquer substâncias formadas nas alterações resultantes diretamente da manipulação genética, ou, indiretamente, devido a efeitos não esperados ou, ainda, devido a mudanças em práticas agrícolas (aumento do uso de agrotóxicos) ou condições ambientais decorrentes das características do novo produto;

3- O medicamento é utilizado, geralmente, em uma pessoa doente, sem muitas alternativas terapêuticas e, portanto, há algum nível de aceitação de risco, inclusive o imprevisível, como as reações alérgicas. O alimento é geralmente consumido por pessoas saudáveis, que não aceitam riscos previsíveis ou imprevisíveis, pois têm outras opções alimentares sem risco.

4- O medicamento é acompanhado de extensa informação sobre as características do produto e seus riscos e benefícios. Já o alimento transgênico, até o momento, não é acompanhado de nenhuma orientação ou rotulagem completa.

Apesar de ridicularizar a preocupação dos chamados "opositores ideológicos" dos transgênicos com o aspecto econômico da questão, Veja evidencia que, mesmo não apresentando vantagens ao consumidor ("Na Europa, o óleo produzido com soja transgênica está um pouco mais barato que o da versão não transgênica. Ainda assim, não é possível afirmar se o preço menor se deve aos ganhos de produtividade ligados à transgenia ou a uma política de preços favoráveis para tentar contornar uma eventual resistência do consumidor."), "a biotecnologia tem-se revelado um bom negócio para as companhias. Um cálculo feito pela Universidade de Iowa, nos EUA, chegou à conclusão de que, em 1999, o plantio de soja transgênica resultou em um excedente de 2,7 bilhões de reais em toda a cadeia. A maior parte desse dinheiro, 55%, ficou com a Monsanto; os outros 45% foram distribuídos pelos milhares de fazendeiros que plantaram as sementes modificadas". Conclusão: o aspecto econômico deve considerado apenas pelas empresas. O consumidor deve se contentar apenas os riscos. Além disso, a definição da rentabilidade como parâmetro de validação dessa tecnologia é extremamente perigoso, pois poderá estimular cultivos como o da maconha, atividade também ilegal, mas inegavelmente rentável para todos os elos da cadeia produtiva.

Veja apregoou que as empresas oferecem lucros de 25% a mais para os agricultores que aderirem aos transgênicos. A propaganda é desmentida pelos próprios agricultores: A FAEP - Federação de Agricultura do Estado do Paraná informa que esta diferença é de no máximo 10% para a soja RR e pode ser anulada pela produtividade menor. No Rio Grande do Sul, a produtividade da última safra, que foi em grande parte transgênica, foi de 2,6 toneladas por hectare. Na Argentina, que tem solo muito mais fértil, o resultado foi 2,8. No Paraná, que não teve soja transgênica (menos de 5%), a produtividade foi de 3,0 toneladas por hectare. Além disso, os agricultores terão de pagar royalties e sofrerão rejeição do produto transgênico pelos consumidores/importadores de outros países.

Além disso, também não informou que houve aumento de quase três vezes no uso de glifosato no estado do Rio Grande do Sul, segundo dados do Ibama, com todos os impactos previsíveis para a saúde dos trabalhadores e para o meio ambiente, entre outros.

Veja se "esqueceu" de informar que com a soja transgênica teremos um aumento de resíduos de glifosato nos alimentos e nas águas de abastecimento, devido ao uso em quantidade muito maior dessa substância na agricultura. Em setembro de 1998, praticamente, na mesma semana em que o parecer favorável da CTNBio para a liberação da soja RR era divulgado, o Ministério da Saúde aumentou 100 vezes o limite de resíduos desse veneno nos produtos à base de soja (Portaria 764, de 24 de setembro de 1998). Ou seja, de 0,2 partes por milhão para 20 partes por milhão, constituindo-se em uma conseqüência danosa para os consumidores. Após a contestação feita por vários órgãos, inclusive o Idec, outra portaria foi publicada, estipulando em 2 ppm o limite de glifosato na soja, ainda assim, dez vezes mais. Em setembro de 2003, a ANVISA corrigiu a monografia e voltou aos 0,2 ppm. Com a liberação de plantio da soja transgênica e, se for liberado o Glifosato para uso na parte aérea da planta (o que ainda é proibido), como ficarão os limites? Não temos dúvidas que a empresa Monsanto irá pressionar para que sejam elevados os limites do herbicida na nossa comida.

Veja criticou o currículo de assessores da ministra do meio ambiente. Porém, calou-se sobre a inacreditável trajetória do americano Michael Taylor, descrita no livro "Seeds of Deception", publicado em 2003 (Yes! Books), pelo jornalista Jeffrey M.Smith. O advogado atuou no escritório King and Spaulding ajudando a Monsanto a preparar projetos utilizados pelo lobby da biotecnologia para direcionar a regulamentação da política dos transgênicos no país. Após desempenhar esse trabalho, Taylor passou a ocupar um cargo no FDA, criado especialmente para ele, tornando-se o funcionário mais influente no processo de regulamentação dos transgênicos dentro da agência.

Para não fugir ao "script" das matérias que fazem apologia aos transgênicos, descreve alimentos que vão combater a hepatite B, cólera e diabetes, mas não comprova onde estão disponíveis para nós, consumidores, essas "novidades". Até agora, só fomos apresentados à soja com mais glifosato e milho-inseticida.

Também esqueceu de mencionar o episódio do tomate transgênico, que prometia durar mais, mas acabou retirado do mercado nos Estados Unidos, possivelmente, por um problema de palatabilidade.

Veja fundamenta suas informações em "pesquisas publicadas e revisadas", cujas fontes não são reveladas. Talvez, isso confirme o que afirmam dois pesquisadores espanhóis, José L. Domingo Roig e Mercedes Gómez Arnáiz, no estudo "RIESGOS SOBRE LA SALUD DE LOS ALIMENTOS MODIFICADOS GENÉTICAMENTE UNA REVISION BIBLIOGRAFICA", publicado na Revista Española de Salud Pública - v.74 n.3 - 05/06.2000: "Fato é que não foram realizados estudos experimentais suficientes sobre os potenciais efeitos adversos dos alimentos transgênicos para justificar sua segurança". Os autores encontraram apenas seis estudos experimentais originais publicados e chamam atenção para a ausência de referências correspondentes a estudos ou avaliações nutricionais, toxicológicas e imunológicas relacionadas a esses alimentos, com caráter experimental. E concluiram:

"(...) podem-se estabelecer algumas conclusões referentes ao conhecimento do estado atual dos potenciais efeitos adversos sobre a saúde por parte dos alimentos geneticamente modificados. Assim, apesar de as manifestações nos meios de comunicação, levadas a cabo por representantes das empresas de biotecnologia que se dedicam à elaboração dos alimentos geneticamente modificados, indicarem que, de acordo com seus estudos, o consumo de alimentos geneticamente modificados já comercializados ou em vias de o serem não implica riscos para a saúde humana, diante da ausência de publicações de experimentos originais, o manifestado pelas ditas empresas converte-se em mero ato de fé, pelo fato de os resultados não terem podido ser devidamente julgados ou comprovados pela comunidade científica internacional. Tal como temos indicado, até a presente data, nas bases de dados Medline e Toxline compila-se apenas cifra muito reduzida de artigos correspondentes a estudos experimentais diretamente relacionados com o tema que é objeto desta revisão. Nenhum deles pertence a companhias do setor biotecnológico ou foi desenvolvido em agências ou organismos reguladores (...)"

No livro "Seeds of deception", de Jeffrey M. Smith, o autor indica que apenas 10 estudos sobre o uso de alimentos transgênicos em animais foram publicados, sendo que apenas dois são independentes. Um encontrou danos no sistema imunológico e em órgãos vitais, bem como e uma condição potencialmente pré-cancerígena. E quando o cientista procurou alertar o público sobre isso, ele perdeu seu emprego e foi silenciado com ameaças de processos judiciais. Outros dois estudos, da mesma forma, mostraram evidencia de uma condição potencialmente pré-cancerígena. O autor menciona ainda que estudos não publicados revelam que cobaias alimentadas com transgênicos desenvolveram lesões estomacais e que 7 em 40 morreram no prazo de duas semanas.

Para sacramentar como verdade absoluta os benefícios dos transgênicos, a revista enunciou, em 10 itens, supostas verdades e mentiras sobre os OGMs. Leia abaixo os comentários do Idec sobre cada item:

1- Alergia
Veja: A ingestão do grão transgênico pode provocar mais alergias do que a versão natural?
O corpo humano cria anticorpos contra elementos estranhos, como bactérias, vírus e pó. Cerca de 2% dos adultos e 7% das crianças desenvolvem anticorpos contra proteínas presentes em alimentos, em geral soja, leite, ovos, peixes e frutos do mar. A lista de alimentos apontados como fonte alergênica contém mais de 180 itens não transgênicos. Como a transgenia envolve a troca ou adição de proteínas, os experimentos laboratoriais podem chegar a espécies que provocam, sim, novas alergias. Justamente em função disso, os fabricantes testam exaustivamente as sementes e destroem as espécies que causam alergia após a aplicação de testes. Recentemente, uma pesquisa com sementes de feijão realizada no Brasil foi encerrada depois que o laboratório descobriu - e anunciou - ter chegado a uma espécie alergênica. Para analisar a possibilidade de falhas no processo, cientistas independentes, não envolvidos com a produção de transgênicos, estudaram a segurança dos alimentos que, depois de testados e aprovados, foram colocados no mercado. Não se identificou o surgimento de alergias adicionais. Detectaram-se casos de alergia a grãos transgênicos apenas entre alérgicos ao grão comum.

Comentário do Idec: De fato, embora insuficientes, os testes de alergenicidade têm sido feitos, mas isso não evita que possam ocorrer acidentes, como o ocorrido com o milho Starlink, no qual o milho transgênico que deveria ser utilizado somente para alimentação animal, por ser alérgico a pessoas, acabou indo para consumo humano em alimentos a base de milho. Centenas de marcas de alimentos a base desse milho foram retiradas das prateleiras nos EUA. Não reportar esse caso, que envolveu uma questão de alergia, foi um dos maiores erros da reportagem.

2- Fracasso
Veja: Qual é o destino dos grãos experimentais quando as pesquisas com transgênicos fracassam e resultam em espécies que podem produzir alergias?
As experiências com genes são feitas sob rigorosa fiscalização, e apenas as espécies seguras deixam o laboratório. No caso dos clones, 97 de cada 100 experiências acabam abortadas porque os animais gerados são deformados. O mesmo vale para os transgênicos. Em meados dos anos 90, a Embrapa tentou produzir um feijão que tinha o gene da castanha-do-pará. Esse gene estimulava a produção de aminoácidos que faltavam ao feijão, deixando o alimento mais nutritivo. No entanto, descobriu-se que o gene podia causar alergia em quem o ingerisse, e o experimento foi abandonado. No ano passado, tentativas feitas na Inglaterra para tornar batatas resistentes a um determinado inseto também fracassaram, porque a planta passou a ser vulnerável a outros insetos. Em todos esses casos, a produção dos laboratórios foi destruída, em geral incinerada.

Comentário do Idec: Aqui também poderia ter sido relatado o caso Starlink e outros fracassos da engenharia genética, como o caso do salmão transgênico proibido por colocar em risco a espécie natural, o dos porcos transgênicos abatidos para consumo e o do suplemento alimentar triptofano, entre outros.

3- Câncer
Veja: Passaram-se décadas até que se estabelecesse uma relação de causa e efeito entre o cigarro e o câncer. Por que acreditar que os transgênicos não oferecem risco nessa área?
A fumaça do cigarro contém quase 5.000 substâncias, das quais sessenta são consideradas cancerígenas. Sabe-se que o cigarro é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão e por 35% dos vários outros tipos. Tais dados foram produzidos em estudos variados preparados pela comunidade científica. E é essa mesma comunidade científica que informa que até o momento não foram identificados casos de câncer provocados por transgênicos. Entre o início das pesquisas de um grão transgênico e o lançamento desse grão no mercado na forma de produto são gastos em média seis anos em estudos - equivalentes ao tempo consumido na pesquisa de novos medicamentos. Cientistas independentes garantem que o prazo é suficiente para estudar detalhadamente as espécies, avaliar seus impactos no ambiente e investigar eventuais riscos à saúde.

Comentário do Idec: A comparação com o cigarro é absolutamente incompreensível. Ao contrário do que é dito no final, ainda não foram feitos os estudos de avaliação do impacto ambiental e de riscos à saúde. Vários cientistas apontam para o risco do uso do vírus do mosaico da couve-flor, usado em muitos alimentos transgênicos, causar câncer. O Dr. Stanley Ewen, consultor em histopatologia da Aberdeen Royal Infirmary, por exemplo, afirma que o vírus mosaico da couve-flor utilizado em alimentos transgênicos pode aumentar os riscos de câncer de cólon e de estômago. Conforme foi mencionado anteriormente, o escritor Jeffrey M. Smith, apresenta em seu livro casos de danos à saúde já relatados.

4- DNA
Veja: Os alimentos modificados são feitos com pedaços de DNA que não pertencem à semente original, muitas vezes retirados de vírus e bactérias. Tais "corpos estranhos" não podem fazer mal ao homem?
Podem, mas a chance estatística é a que tem uma pessoa de ser atingida por um raio ao atravessar um campo de futebol numa tarde de chuva. Ou seja, trata-se de hipótese cientificamente possível, mas estatisticamente improvável. Uma vez ingerido, o DNA da planta transgênica é decomposto no processo de digestão da mesma maneira que o DNA de uma planta convencional. Se ele não for digerido, há a possibilidade de que seja incorporado de alguma forma pelo corpo humano e desenvolva alguma doença. A mesma possibilidade de ser atingido por um raio, afirmam os estudiosos.

Comentário do Idec: As conclusões e a comparação com o raio são simplistas. A propósito, lendo atentamente, usando-se o mesmo raciocínio da revista, comer transgênico tem o mesmo risco de ser atingido por um raio. Alguém se arrisca a fazer isso três ou mais vezes por dia?

5- Antibiótico
Veja: Alguns transgênicos recebem genes de bactérias resistentes a antibióticos. Quando esses alimentos são ingeridos, as bactérias presentes no corpo humano não vão se tornar resistentes aos antibióticos e impedir o combate a uma doença?
Avicultores e pecuaristas utilizam antibióticos regularmente para evitar que os animais desenvolvam certas doenças que, ao atingir o sistema imunológico, prejudicam o ritmo de engorda. Há vários estudos mostrando o efeito no corpo humano da ingestão de carne cujo animal foi tratado com antibiótico. Calcula-se que as pessoas tenham no corpo 200 vezes mais bactérias do que o total de seres humanos nascidos desde o surgimento do homem. O que se sabe é que o antibiótico, se utilizado de forma incorreta ou descontrolada, pode aumentar a resistência de algumas dessas bactérias. Em caso de doença, reduz-se a gama de antibióticos que atuem de forma eficaz contra a bactéria causadora do mal. É diferente com os transgênicos. Os grãos transgênicos possuem um gene resistente a um antibiótico, e não o antibiótico em si. É o contrário dos animais, cuja carne contém os antibióticos que receberam durante o período de engorda. O risco de as bactérias presentes no sistema digestivo se tornarem mais resistentes ao se combinar com o gene da planta transgênica é outra hipótese científica de efeito estatístico irrelevante. Em sete anos de consumo em larga escala de alimentos transgênicos, principalmente soja, milho e canola, nunca foi registrado um só caso de doença relacionada ao produto geneticamente modificado.

Comentário do Idec: Mais uma vez a revista usa um fundamento não científico para justificar que nem um caso foi registrado de resistência a antibióticos relacionado a transgênicos. Deveria dizer que não é feito qualquer monitoramento para este ou qualquer outro problema com os transgênicos. A revista deixa de informar que o Codex Alimentarius, órgão da FAO e OMS, em 2003 desaconselhou o uso de genes marcadores de resistência a antibióticos e que, na gestão dos riscos, recomenda o reconhecimento e o uso de medidas apropriadas em relação às incertezas científicas, a rotulagem dos produtos, o rastreamento dos produtos, o monitoramento pós-mercado, entre outros aspectos.

6- Mutação
Veja: Para a produção de transgênicos são usadas cadeias de DNA que não existem na natureza. A ingestão de alimentos geneticamente modificados não pode alterar a cadeia de DNA do próprio homem?
Os ecologistas muitas vezes se referem ao mal da vaca louca como se fosse um caso pertinente à discussão a respeito de alimentos modificados. Naquele episódio, o rebanho bovino, exclusivamente vegetariano, foi alimentado por criadores europeus com rações preparadas com restos de outros animais. O uso de animais doentes para alimentar os sadios gerou uma epidemia que levou à morte 200.000 animais somente na Inglaterra. O causador seria uma proteína mutante dos animais, capaz de provocar a degeneração do tecido cerebral. Embora a história seja assustadora, não há nenhuma relação entre uma coisa e outra. Primeiro, a ração dos bois não era resultado de modificação genética, mas de simples mistura. Depois, o DNA das plantas transgênicas em geral não é modificado de forma aleatória, mas controlada. No processo digestivo, o DNA do transgênico é fragmentado, da mesma forma que o DNA presente em pêlos de ratos e restos de baratas identificados em diversos alimentos convencionais, até mesmo em orgânicos.

Comentário do Idec: O caso da vaca louca é tratado como uma questão alheia aos transgênicos. Do ponto da saúde pública, esse caso evidencia uma lição a ser aprendida: NUNCA REALIZAR ANÁLISE SUPERFICIAL DE RISCOS Á SAÚDE antes de adotar novas técnicas. Ademais, esse também é um excelente exemplo para mostrar que os consumidores têm razão em sua percepção de que nem tudo lhes é contado sobre a segurança dos alimentos.

7- Ebola
Veja: Qual o risco de uma semente transgênica em fase de teste ser roubada do laboratório e contaminar a natureza?
Na Inglaterra, em 1978, uma amostra do vírus da varíola vazou no laboratório de uma universidade, contaminando uma pesquisadora. Nos Estados Unidos, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) é um órgão do governo que estuda vírus e desenvolve vacinas. Na sede de Atlanta estão guardados em cofres-fortes frascos com alguns dos mais temíveis vírus, entre eles o da varíola e o ebola. Muito já se escreveu sobre as terríveis conseqüências para a humanidade se ocorresse ali um acidente ou um atentado. E no caso dos laboratórios que pesquisam os transgênicos, não é possível acontecer a mesma coisa? Uma semente não pode escapar e contaminar a natureza? Na fase em que as sementes são "batizadas" com genes de microrganismos, o trabalho é interno, feito em laboratório. Elas são inicialmente plantadas em ambientes fechados. Numa etapa seguinte, após vários testes, as sementes são plantadas em fazendas experimentais, totalmente monitoradas para evitar acidentes. Elas são mantidas a uma distância muito grande de outra plantação convencional ou de ambientes selvagens. Em tese, uma dessas sementes ou o pólen podem se espalhar pelo ambiente. Mas aqui novamente a estatística trabalha a favor da ciência. A probabilidade de proliferação de uma planta fora da lavoura é de 0,1%, segundo estudo divulgado neste ano pelo governo inglês.

Comentário do Idec: A fiscalização dos experimentos é falha. Isto já foi reconhecido no Brasil, pelas autoridade do Ministério da Agricultura, e em outros países.

8- Vento
Veja: Se o vento espalhar sementes de uma lavoura transgênica, outras espécies naturais não podem sofrer mutações perigosas?
O que se constatou até o momento é que, em alguns casos, ervas daninhas se cruzam com as plantas transgênicas e adquirem suas características, como a resistência a um inseticida ou a herbicidas. No Canadá, onde há liberdade total para o plantio de determinadas variedades de canola tolerantes a herbicidas, há casos de ervas daninhas que adquiriram a mesma característica. Os cientistas avisam que a capacidade de gerar espécies resistentes a herbicidas não é exclusiva dos transgênicos. Nos últimos quarenta anos, surgiram em todo o mundo cerca de 120 espécies de plantas não transgênicas resistentes a herbicidas. Todas proliferaram apenas nas lavouras, não em ambiente selvagem.

Comentário do Idec: O risco da contaminação transgênica, levando à resistência a herbicidas por plantas, é absolutamente minimizado na matéria. A pesquisa da revista foi superficial, pois já existem trabalhos científicos sobre este tema.

9- Solo
Veja: As plantas liberam DNA no solo, pelas raízes. Os cientistas já pesquisaram qual é o efeito do acúmulo de DNA modificado no solo?
A maior parte do DNA é destruída durante o processo de decomposição natural da planta, mas há uma pequena possibilidade de que seus genes sejam incorporados por microrganismos que vivam ao redor de sua raiz. Ou seja, as bactérias que habitam o solo podem adquirir os genes das plantas, sejam elas transgênicas ou não transgênicas. No caso dos alimentos modificados, que muitas vezes recebem o gene de uma bactéria, a dúvida é o que poderia acontecer se os genes adquiridos pela bactéria que mora no solo forem justamente aqueles que pertenciam a outra bactéria. Os estudos realizados em lavouras sugerem que o efeito desse processo tende a ser insignificante para o microrganismo, mas os cientistas recomendam que o fenômeno deve ser analisado com mais profundidade.

Comentário do Idec: É o único item da reportagem que reconhece a necessidade de mais pesquisas, mas deixa de abordar o impacto negativo do uso de agrotóxicos em maior quantidade nas culturas transgênicas resistentes a eles. O glifosato é um exemplo e deveria ser citado.

10- Fauna
Veja: Há indício de que algum animal, seja ele grande ou pequeno, como um inseto, possa sofrer em função dos transgênicos?
Os estudos sobre o efeito dos transgênicos na fauna apontaram para duas conclusões. A primeira identificou que, em algumas plantações de grãos modificados, a população de minhocas, mariposas e outros insetos registrou uma pequena redução. No que diz respeito a eventuais conseqüências em outros animais que se alimentaram de sementes transgênicas, não se descobriu até o momento nenhuma alteração no mapa genético original nem mesmo a ocorrência de alguma doença.

Comentário do Idec: A revista não cita importante pesquisa divulgada no início deste mês, que demonstrou que duas das três plantações experimentais, autorizadas pelo governo da Grã-Bretanha, de organismos geneticamente modificados (OGM), semente de uva para óleo e beterraba para fabricação de açúcar, são mais danosas ao meio ambiente, inclusive para os insetos, do que as culturas tradicionais.

Fonte: IDEC

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