História
dos Direitos Humanos no Brasil
Encontros
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1982
I
Encontro Nacional de Direitos Humanos do
MNDH
1982 , Petrópolis-RJ
SÃO PAULO — SP
Comissão
Arquidiocesana de Direitos Humanos e
Marginalizados
da Arquidiocese de São Paulo
Apresentação
Somos
uma Comissão de Pastoral totalmente
dedicada á Evangelização
pela promoção dos Direitos
Humanos na Igreja de São Paulo.
Participamos
profundamente do anseio da Igreja em
perceber com clareza o que significa anunciar
o Evangelho no mundo de hoje e, num momento
em que tanto se tala sobre Direitos Humanos,
interrogamo-nos seriamente sobre o sentido
destes Direitos numa perspectiva evangelizadora.
Sabemos
que Jesus, seguindo uma longa tradição
velho-testamentária, veio para evangelizar
os pobres, «os pequenos de Javé».
Antes
de Jesus, pobres eram “os estrangeiros,
os órfãos e as viúvas”
(cf. Jr 7,1-7; lRs 17,8-16) como também
os simples trabalhadores, que sempre pagaram
o preço dos «projetos»
dos reis de Israel (p. ex. lSm 8,1-10).
No
tempo em que Jesus viveu, esses pobres,
destinatários da sua mensagem, eram
“os cativos, os cegos, os oprimidos
ou maltratados" (Lc 4,16-19), “os
coxos, os leprosos os surdos” (Mt
11,4—5) enfim, as vitimas da sociedade
estruturada de seu tempo.
Desta
maneira, podemos afirmar que em toda tradição
bíblica, conhecer a Deus é
buscar a justiça do Reino em primeiro
lugar (Mt 6,33) e fazer a justiça
aos pobres (cf. Lc 6,20).
Dai
então as nossas interrogações:
quem são os pobres, hoje? Que significa,
diante do quadro atual da pobreza defender
e promover os direitos humanos numa linha
evangelizadora?
1.
OS POBRES
1.1.
Quem são
No
nosso dia-a-dia junto ao povo das periferias
e do submundo de nossa sociedade, percebemos
que pobres são os que vivem o drama
das Situações infra-humanas
de existência.
Pobre
é:
—
quem sofre a defasagem entre o salário
percebido e o custo dos bens necessários
para viver, de tal forma que não
pode adquirir os gêneros de primeira
necessidade quem, se sobreviver ao primeiro
ano, não tem esperança de
vida longa;
—
quem, se doente, é o último
a ter a assistência necessária;
—
quem, para viver, se prostitui
—
quem, para poder matar a fome, mendiga pelas
ruas;
—
quem não tem casa para morar;
—
quem, em sua infância e adolescência,
se sente abandonado;
—
quem, vendo os seus passarem fome, se desespera;
—
quem se vê jogado na criminalidade;
—
quem é expulso, com sua família,
da terra que o sustentava;
—
quem, sem recursos, ainda é vitima
da exploração imobiliária
—
quem não tem oportunidade de freqüentar
escolas;
—
quem não tem direito ao descanso;
—
quem sofre violência física
por parte dos poderosos;
—
quem, injustamente perseguido, não
tem direito á defesa;
—
quem não tem segurança no
trabalho e no emprego;
—
quem, por ser indígena, é
explorado e exterminado quem se vê
privado de participar da construção
consciente de seu destino.
1.2.
Os pobres se levantam
O
povo que caminhava na escuridão viu
um grande clarão; sobre os que habitavam
na região tenebrosa começou
a brilhar a luz (Isaias 9,1).
Vemos
também que os pobres começam
a sacudir o jugo e a perceber que a redenção
está próxima. Estes sinais
dos tempos não os notamos por
toda a parte. São os cristãos
das camadas mais humildes que se unem
em comunidades de base para refletirem
sobre a Palavra de Deus, para o encontro
litúrgico e, ao mesmo tempo, se organizam
para reivindicar melhorias de bairro, de
condução, de escolas, de higiene
e saúde, de meio—ambiente,
de habitação (loteamentos
clandestinos) etc. ~ o povo em massa que
começa a protestar contra o custo
de vida. São os 01)erários
que, nos bairros, nas fábricas, nos
sindicatos, recuperam suas energias de reivindicação
e luta. São as mães que se
coordenam em clubes e entidades para se
movimentarem em prol dos direitos da mulher.
Índios e posseiros, bóias-frias
começam a tomar consciência
da exploração de que
são vitimas.
Ao
mesmo tempo, constatamos que os setores
estudantis, nas escolas e nas ruas, manifestam
suas inquietações e seu protesto
contra unia sociedade injusta. Vários
intelectuais se engajam. Alguns artistas
fazem da arte uma mensagem que desperta,
alenta e propõe. Certos políticos
renunciam á demagogia e se põem
a exigir mudanças.
2.
“DIREITOS HUMANOS”, NOVA FACE
DA DOMINAÇÃO
Diante
deste quadro da pobreza e do despertar dos
oprimidos, percebemos também que
as nações desenvolvidas vêm
mudando sua estratégia de dominação.
Estão desistindo de segurar a ferro
e a fogo as rédeas dos povos pobres,
pois espreitam a possibilidade de uma revolta.
Criaram uma Comissão Trilateral,
que reúne os principais detentores
dos trustes dos três grandes blocos
ocidentais (Estados Unidos, Europa e Japão)
e combinaram uma nova ordem internacional
com relação aos subdesenvolvidos.
Querem unia certa abertura política
e econômica. Mostram-se como
os defensores dos Direitos Humanos
contra os regimes de ditaduras, contra as
torturas e os métodos violentos de
opressão. Pregam as garantias individuais.
Pregam o retorno á «democracia».
Promovem uma ampliação
dos mercados internos dos subdesenvolvidos
para provocar uni maior consumo de bens.
Para facilitar esse consumo, torçam
uma distribuição uni pouco
mais eqüitativa da renda interna unia
política fiscal mais realista, um
certo aumento salarial, a criação
de emprego nas zonas mais desfavorecidas,
a ampliação da tecnologia
nos campos, etc.
Nós,
entretanto, não nutrimos nenhuma
ilusão quanto aos reais objetivos
destes «direitos humanos».
Sabemos que não são os direitos
dos pobres. São o desejo de perpetuidade
e de progresso das multinacionais.
Percebemos também que essa bandeira
ideológica já ganhou entre
nós seus pseudo líderes naqueles
que postulam a volta a um estado de
direito de tipo liberal, e pregam reformas
politico-econômicas paliativas que
outra finalidade não têm senão
a de manter o controle sobre o povo que
procura abrir o caminho á participação.
3.
NOSSO CAMINHO DE FÉ
Vivendo
neste quadro de pobreza e sentindo na carne
os anseios do povo e as sementes de libertação
que germinam por toda a parte, procuramos
ler cada vez mais fundo a Palavra de Deus
e viver as exigências cristãs
de uma ordem nova.
Em
nossas liturgias e sermões, denunciamos
abertamente a opressão do povo e
a nova face sutil de que essa dominação
se reveste. Direitos humanos como liberalização
relativa visando a integração
das camadas mais baixas na trama do produzir-consumir,
constituem-se em novo engodo destinado a
perpetuar indefinidamente a dominação.
Denunciamos
a exploração que se manifesta
despudoradamente no abuso do poder econômico
social e político.
Denunciamos
a distribuição de renda iníqua,
que gera pobreza e relega a maioria do povo
em condições infra-humanas
de existência.
Denunciamos
a violência de que faz uso o Sistema,
o qual, para se manter, persegue, prende,
tortura e mata.
Denunciamos
o abafar dos meios de comunicação
pela censura; a extinção do
voto secreto e livre; a proibição
das associações, a eliminação
do direito á greve, o cerceamento
da liberdade sindical.
Denunciamos
o gigantismo do poder executivo, que já
subjugou legislativo e judiciário
e pretende ainda avassalar a Igreja como
força legitimadora de seus desmandos.
Temos
plena certeza de que a Redenção,
hoje, requer decidida opção
pelos oprimidos, sabendo que é deles
que o Senhor se servirá para destronar
os poderosos e instaurar um novo mundo de
justiça (cf. Lc 1,52).
Fizemos
esta opção não apenas
de maneira romântica, mas procuramos
vivê-la nos fatos. Por isso, estamos
procurando abraçar uma vida ele pobreza
e renunciar a privilégios e favores.
demonstrando nosso total repúdio
pelas estruturas sócio-político-econômicas
nacionais e internacionais que oprimem
nosso povo.
Admitimos
que o quadro de pobreza que vivemos
é fruto das relações
de trabalho que sustentam nosso modo
de produção capitalista.
Descobrimos
nos movimentos sociais de reivindicação
e Imita, que surgem e tentam se consolidar,
a força de Deus que liberta, as sementes
de uma libertação que se aproxima.
Evangelizar,
numa perspectivo cristã de defesa
e promoção dos direitos humanos,
significa, para nós, solidarizar-nos
com esses movimentos, abrir para eles as
portas das nossas igrejas, comungar com
seus fracassos e sucessos. E o que procuramos
fazer no nosso dia-a-dia. Assumimos os seus
riscos. Entretanto, pelo múnus profético
que nos impele, colocamo-nos também
diante deles e com eles em permanente atitude
de revisão e criticidade para evitar
os perigos do imobilismo e da intolerância.
Procuramos constantemente animá-los
com o Espirito do Senhor que nos urge a
buscar sempre o «novo homem, que sempre
se renova, á imagem d’Aquele
que nos criou».
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