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1982
I Encontro Nacional de Direitos Humanos do MNDH
1982 , Petrópolis-RJ

 

PETRÓPOLIS – RIO DE JANEIRO

Grupo de Ação, Justiça e Paz

QUEM SOMOS E PORQUE EXISTIMOS

1. O Grupo Ação, Justiça e Paz é uma associação livre de pessoas que querem unir suas forças a partir de uma convergência de ideais e de propostas concretas, no sentido de maior justiça social que traz como seu fruto a paz.

Existimos como grupo organizado desde dezembro de 1979. Até uma data bem recente estávamos integrados à pastoral da Catedral. Agora agimos como grupo espontâneo.

Como pessoas, não queremos estar ausentes aos conflitos, aos dramas e aos problemas sociais dos nossos irmãos. Queremos participar critica e criativamente como agentes sociais, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos povos. Por isso, somos um grupo de ação.

Como discípulos de Cristo queremos instaurar uma praxes evangélica na busca do Reino de Deus e de sua justiça. Por isso somos um grupo de justiça e paz.

2. Entendemos ser uma resposta ao apelo do Espírito que nos interpela pela voz da realidade histórica em que vivemos e pela voz dos nossos pastores no Vaticano II, em Medellín e Puebla. Fiéis a este espirito nos colocamos no seguimento de Jesus Cristo na «Opção preferencial e solidária pelos pobres no intuito de sua integral libertação» (Puebla 1134; cf. Lc 4,16-21), junto a Episcopados Nacionais, numerosos setores de leigos religiosos e religiosas, bem como sacerdotes que tentam tornar mais verdadeiro e realista seu compromisso com os pobres (cf, Puebla 1336).

3. Entendemos ser urna voz profética aqui em Petrópolis, onde, corno em toda a América Latina e no Brasil, existem os efeitos da injustiça e da exploração, do escândalo de uma comunidade que se diz cristã e que permite no seu seio a existência de irmãos a quem falta o mínimo necessário para serem homens e para serem gente (cf. Mateus 25,31-46).

Também em Petrópolis existe o que obrigou o Papa João Paulo II a exclamar falando aos jovens de Belo Horizonte: «É indecente que alguns esbanjem o que falta ã mesa dos demais». Citamos apenas dois exemplos a favela do lixo e o morro dos anjos no Caxambu. E contra esta «indecência» e a favor dos rostos e dos corpos marcados com a imagem de Cristo Sofredor que queremos ser a voz que denuncia a marginalização (cf. Puebla 29 e 71) e anuncia que o Reino de Deus de justiça e paz é a favor dos pobres.

4. Na Eucaristia haurimos inspiração e estimulo para a nossa ação. O 42º Congresso Eucarístico Internacional realizado em Lourdes em julho do corrente ano, no lema «Jesus Cristo, pão partido para um mundo novo», tornou bem claro a relação dos dinamismos especiais e das urgências sociais e políticas, para que «desapareçam a pobreza, a miséria moral e espiritual, a marginalização e que todos os cidadãos se reconheçam e se abracem como autênticos irmãos em Cristo» (João Paulo II na homilia de abertura do X Congresso Eucarístico Nacional em Fortaleza, julho de 1980).

Não queremos comungar apenas eucaristicamente o Cristo, e socialmente o entregarmos à sua sorte nos pobres e nos fracos, lavando-nos as mãos como Pilatos, deixando os membros vivos de Cristo serem flagelados, torturados e conduzidos à morte.

5. Não somos ingênuos e já sabemos por experiência que num mundo marcado pela dominação, pelos conflitos e pelas desigualdades estruturais, numa situação de injustiça institucionalizada (cf. Puebla 1259), o nosso grupo porquanto pequeno e nossa presença aparentemente insignificante, não pode agradar aos poderosos.

Sustenta nossa ação e nosso ideal a palavra de Deus e a praxes de Jesus, que nos torna livres daquela liberdade com que Ele nos agraciou (cf. 61 5,1); daquela liberdade que capacita o cristão de se colocar a serviço dos seus irmãos (cf. 61 5,13).

Supremo ideal de liberdade e de homem livre a serviço do Reino de justiça e de paz é o mesmo Cristo, evangelizador dos pobres, nosso único Senhor, guia e Mestre; enquanto na Igreja todos somos irmãos, onde os maiores devem servir aos menores (cf. Mateus 23,8-12).

6. Jesus não se dobra aos poderosos de qualquer tipo. A Herodes que apelida de «raposa» envia o recado corajoso e ousado da independência da sua própria missão (cf. Lc 13,31-33). A Pilatos lembra que a autoridade dele é fruto de um desígnio misterioso do alto (cf. Jo 19,8-11). Aos fariseus ensina que a autoridade e as instituições só se legitimam se forem para o serviço do homem e não para a dominação (cf. Mt 12,8-14; 165-12; 23,13-36). Aos discípulos prediz a necessidade das oposições e das perseguições, lógica do seguimento do Mestre e condição dos autênticos profetas: «Vos envio com ovelhas 110 meio de lobos» (Mt 5,11—12); dizendo-lhes não existir discípulo superior ao mestre e que se de mesmo foi chamado impostor e demônio (hoje quem sabe seria subversivo e comunista), quanto mais o seriam os discípulos. Mas ao mesmo tempo os anima a não ter medo e a confiar no Pai que cuida deles (cf. Mt 10.17-32); os previne a não ficarem assustados: quando a perseguição ou a incompreensão viessem até mesmo dos próprios familiares ou dos membros da própria comunidade (cf. Mt 10,36; Puebla 1138-1139).

A paz que Ele prega e quer trazer à terra não é o pacifismo dos acomodados ou a omissão dos covardes e dos pusilânimes, nem pode ser a paz dos cemitérios; mas a paz forte e comprometedora, fruto do conflito com os poderosos que o iria levar até a morte na Cruz. Não é a paz do mundo e dos grandes do mundo (cf. João 14,27). Aliás, paradoxalmente, é mais «espada» do que paz: «Com efeito vim trazer divisão entre o homem e o seu pai, entre a filha e a sua (Mt 10,35).

7. Os apóstolos aprenderam a lição. Aos sumos sacerdotes que lhes proíbem anunciar a salvação no nome de Jesus de Nazaré, Pedro e João respondem: “Julgai vós mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer mais a vós do que a Deus” (At 4,18). Enquanto Paulo terá a ousadia fraterna e firme de se opor abertamente até mesmo a Pedro, chefe da Igreja, quando achou que este teria se tornado digno de censura (ct. 01 2,11).

8. Entendemos permanecer fiéis ao Magistério da Igreja. Em consonância com o Concílio Vaticano II que na «Gaudium et Spes» (cf. 1) faz próprias as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres, os nossos bispos em Puebla, fazem-se eco dessa afirmação: «Preocupam-nos as angústias de todos, e mais especialmente queremos compartilhar as que nascem de sua pobreza. ..

Pois «vemos ã luz da fé, como um escândalo e uma contradição com o ser cristão, a brecha crescente entre ricos e pobres». Nisto «a Igreja discerne unia situação de pecado social» (nºs 27-28).

João Paulo II, o João de Deus de nosso povo, na sua visita ao Brasil nos deixa esta consigna: “Que se assuma a causa dos irmãos que se debatem na pobreza”, para que “desapareçam a marginalização e a miséria” e que “se lute para construir a paz na justiça”.

9. Em 06 de janeiro de 1966 Paulo VI instituiu a Comissão Pontifícia de Justiça e Paz dando-lhe a seguinte finalidade: “Segundo os ensinamentos do Concilio Vaticano II, todos os fiéis cada um por sua parte, por motivo de sua pertença ao povo de Deus, devem exercer essa missão salvifica (LO 17 e 31)... Ao mesmo tempo, desejoso de entrar em diálogo com os homens desta época, dirigiu o Concilio Vaticano II sua atenção a certas aspirações e preocupações de maior monta dos homens de hoje (a esse pertencem os problemas do desenvolvimento dos estados, da promoção da justiça e da paz)”, (Motu proprio, Catholicam Christi Ecciesiam).

10. Junto a inúmeras Comissões de Justiça e Paz, que a partir dai brotaram em muitas dioceses ou comunidades também nós do Grupo Ação, Justiça e Paz queremos invocar para nós a «estima e a benevolência» do saudoso Pastor Paulo VI e queremos corresponder à sua «firme esperança» de que “os leigos do Povo de Deus — são suas palavras ao qual damos novo testemunho de estima e benevolência com essa organização oficial, se sentirão desde então mais unidos à ação e solicitude da Sé Apostólica e por conseguinte consagração à Santa Igreja, com sempre maior generosidade, sua atividade, seus recursos e ardor”.

Petrópolis, 1981.

GRUPO AÇÃO, JUSTIÇA E PAZ

DOSSIÊ HISTÓRICO

Nossa luta é a luta dos oprimidos 1 — Introdução

1. O presente dossiê se faz necessário face ao

1 Encontro Nacional de Comissões de Justiça e

Paz e de Centros de Defesa dos Direitos Humanos, realizado entre os dias 20 e 24 de janeiro

de 1982, em Petrópolis.

2. O Grupo Ação, Justiça e Paz de Petrópolis nasceu da reflexão de um pequeno mas decidido contingente de leigos e religiosos sobre a realidade social angustiante de Petrópolis, caracterizada como tantas comunidades brasileiras pelo flagrante desrespeito aos direitos humanos em vários níveis. Esta reflexão teve por inspiração os documentos mais recentes da Igreja Católica:

— Concilio Vaticano II, Medellin e sobretudo as linhas diretivas do documento de Puebla (43 parte do Cap. IV), no que se refere à realidade política, econômica e social da América Latina.

3. Ao término de uma etapa de dois meses de reflexão sentimos a necessidade de produzirmos um documento básico através do qual pudéssemos formalizar o grupo mediante a explicitação dos seus objetivos e de seu papel na comunidade petropolitana.

4. Em linhas gerais, este documento oficial focaliza os pressupostos filosófico—éticos e a ideologia do GAJP, suas formas de atuação, sua estrutura de núcleo e seu quadro humano coordenador.

5. Na reunião de 8 de novembro de 1979 foram eleitos com função de coordenação, com mandato provisório até março de 1980, os seus seguintes integrantes: Presidente Gustavo FrIaça (advogado); Secretário — Monsenhor Paulo Daher; Tesoureira — Hélida de Oliveira.

6. Em agosto de 1980 a estrutura da coordenação foi modificada, com a criação de novos cargos e a eleição de uma nova diretoria com mandato de doze meses. Seus integrantes: Presidente — Gustavo Friaça (advogado); Vice-Presidente — Ana Maria Rattes (advogada); 1º Secretário Frei Jaime Ferreira Lopes; 2º Secretário — Angela (psicóloga); 1ª Tesoureira Hélida de Oliveira e 2ª Tesoureira —Irmã Dulce Bastos.

7. Em 22 de outubro de 1981 novas eleições para a renovação do quadro coordenador do GAJP. A terceira coordenação, cujo mandato está em curso, é assim composta: Presidente —Márcia Miranda (agente pastoral); Vice-Presidente — Ruy Monteiro (professor); 1º Secretário — Frei Sérgio Messias; 2º Secretário — Maria Odete (operária); 1º Tesoureiro — Frei Jesus Mano e 2ª Tesoureira — Hélida de Oliveira.

8. Inicialmente, vinculamo-nos à pastoral da Catedral de S. Pedro de Alcântara, cujos trabalhos têm a liderança do vigário, amigo e irmão Monsenhor Paulo Dalier.

9. Através da unidade mínima provocada pelo debate de seu documento básico, o GAJP decidiu engendrar esforços para realizar trabalho concreto junto ao povo de Petrópolis. Nesse sentido, cumpre destacar três pontos essenciais e orientadores de nossa atuação:

— Linha de atuação ao nível de conscientização mais geral, tentando atingir inicialmente as camadas médias da sociedade petropolitana com o objetivo de sensibilizá-las para a luta popular;

— Linha de atuação que servisse de inspiração para a formação de outros grupos e movimentos nessa perspectiva de conscientização e luta popular;

— Desenvolvimento da prática de manifestações de apoio, solidariedade e protesto em relação ás questões locais, nacionais e internacionais, emergentes.

11 — Atuação especifica junto à luta popular emergente

A) A nível municipal:

1. Em dezembro de 1979, o GAJP colocou-se na defesa dos pais de estudantes petropolitanos matriculados em escolas públicas estaduais e municipais. Estas instituições, em sua maioria, exigiam «taxa de matricula» em total desrespeito ao texto constitucional em vigor no pais, O ensino nas escolas públicas é inteiramente grátis.

2. Em janeiro de 1980, mediante uma campanha de mobilização de clubes de serviços e da maioria das paróquias o GAJP colocou-se ao lado dos servidores municipais diante do fato do atraso de seus salários em tempo de quatro meses. Em muitas paróquias, mediante aviso-prévio, foram recolhidos donativos em geral, demonstrando o efeito positivo da mobilização. Preocupado em que os trabalhadores municipais do serviço público tomassem em suas mãos a direção e os destinos de seu movimento, o GAJP deu total apoio à sua mobilização e á sua organização. É importante ressaltar que a mobilização dos petropolitanos católicos militantes foi um fato ímpar de Petrópolis, na medida em que foi o primeiro movimento comunitário de solidariedade.

3. Após a greve de janeiro de 1980, o GAJP destinou o restante dos donativos arrecadados junto ao público ao Fundo de Auxilio dos operários da empresa Cometa, os quais, por sua vez, também não recebiam os seus salários relativos aos oito primeiros meses de 1979. Nesta época a fábrica Cometa tinha em seus quadros duzentos e trinta operários em situação financeira extremamente precária, O GAJP procurou colaborar no assessoramento da mobilização e organização dos trabalhadores explorados, objetivando convencer a direção da empresa a partir para um acordo viável. Em abril de 1980 a Cometa entrou em acordo trabalhista com os operários que também não tinham, até então, recebido salários correspondentes aos quatro primeiros meses deste ano. Durante o processo de mobilização foi organizada uma comissão de operários, eleita pelo conjunto dos trabalhadores. Duas de suas propostas foi a promoção de uma passeata pelas ruas de Petrópolis e de um ato à baiana, objetivando o recolhimento de fundos para suprir as necessidades elementares de sobrevivência dos trabalhadores em luta.

4. Entre o movimento popular de janeiro e o de abril de 1980, aludidos acima, o GAJP veio a público, mediante matérias nos jornais da cidade, para uma prestação de contas.

5. Em agosto de 1980, o GAJP promoveu um trabalho de assessoria de mobilização e organização dos operários da fábrica de tecidos

D. Isabel. Ê importante frisar que esta colaboração foi solicitada pelos operários. A questão central resumia-se no perigo que representava para os trabalhadores um prédio recém-construído na referida fábrica, o qual apresentava em sua estrutura geral rachaduras ameaçadoras. O problema foi sanado com a realização de escoramentos e contenções. Mas foi necessária a mobilização operária.

6. Em maio de 1981, o GAJP articulou uma bem sucedida Missa do Trabalhador, realizada na Catedral de Petrópolis. Estiveram presentes aproximadamente 500 trabalhadores.

7. Ao longo de sua trajetória o GAJP esteve presente na inspiração e criação da “Pastoral da Periferia” (Set. 1981). O primeiro desdobramento desta pastoral foi a realização de uma «Novena de Natal» a partir da realidade social da periferia de Petrópolis. A última etapa dessa «novena», em consonância com o tema da Campanha da Fraternidade de 1981 (Saúde para Todos), foi a realização de uma caminhada inédita em Petrópolis: A Caminhada do Povo de Deus. Esta caminhada foi revestida de um significado eclesial e social de grande importância para a luta e organização populares: primeiro pela grande adesão popular — (cerca de aproximadamente mil pessoas, em sua maioria da periferia da cidade); segundo porque a própria caminhada em si mesma foi um momento de conscientização da luta popular e terceiro, porque pela primeira vez a Catedral de Petrópolis acolheu em seu interior uma manifestação popular tendo por base suas legitimas reivindicações a partir da celebração da Fé. Entretanto, estamos conscientes de que esta primeira avaliação não esgota a constatação dos efeitos deste evento para o movimento eclesial-popular em Petrópolis.

9. Na primeira semana de dezembro de 1981, em conseqüência das fortes chuvas que desabaram em Petrópolis, o GAJP mobilizou-se para prestar colaboração na ajuda às famílias de trabalhadores desabrigados. Instituímos o Fundo de Assistência aos Desabrigados, fazendo vigorosa campanha de levantamento de recursos financeiros. Essa campanha teve os seguintes aspectos: 1º - foi realizada em um ponto especifico da principal avenida da cidade (Av. do Imperador), no qual estivemos com listas coletivas de arrecadação durante sete dias; 2º - esta campanha foi ativada mediante tinia P nota oficial á imprensa, através da qual solicitávamos a solidariedade do público petropolitano e, em seguida, por uma nota ã População, onde não só solicitávamos igual solidariedade, como também denunciávamos a gravidade do quadro social da periferia diante de uma administração pública antipopular; 3º - outro aspecto a ser ressaltado consistiu na montagem de um painel no qual lembrávamos os trinta e três anos da assinatura da Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU) e denunciávamos o desrespeito dos fies diante desse quadro social.

Acreditamos que esta campanha não restringiu-se a um trabalho literalmente assistencialista, considerando que o GAJP chamou a atenção do público para as verdadeiras causas da catástrofe que se abateu sobre a cidade. Até porque estamos conscientes de que se as causas não forem removidas, fenômenos sociais semelhantes repetir-se-ão frente aos imprevistos naturais.

B) A nível de repercussão nacional: Seguindo a linha a que se propôs (item 9 da Introdução), desde sua gênese, o GAJP manifestou-se diante dos seguintes acontecimentos de repercussão nacional:

1. Em abril de 1980, junto ao Movimento de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis (na época em fase de estruturação e pouco depois extinto), promoveu a venda de bônus pela cidade e nas portas das igrejas em solidariedade aos grevistas do ABC paulista.

1º. Em consequência da atuação terrorista no Rio de Janeiro, em agosto de 1980, atingindo a Ordem dos Advogados do Brasil, na pessoa de D. Lidia Monteiro, e a José Ribamar, funcionário da Câmara Municipal, enviou-se telegramas de solidariedade ao Ministro da Justiça. Solicitou-se, mediante telegrama, a apuração imparcial desses atos.

2. No dia nacional contra a carestia, em setembro de 1980, participou apoiando ato público realizado em Petrópolis,

2º. Por ocasião do processo de expulsão do Padre Vito Miracapillo enviou-se-lhe telegrama de total solidariedade contra a arbitrariedade do regime do governo brasileiro (out./80), que atingia seus direitos. Igualmente foi enviado telegrama a Dom Acácio e ao Ministro da Justiça, remeteu-se também um telegrama exigindo fossem respeitados os direitos deste missionário italiano.

3. Através de iniciativas de apoio, traduzidas em cartas e divulgação na imprensa local, participou da luta dos nossos irmãos trabalhadores sem-terra do Acampado Natalino de Ronda Alta, RS, desde os primórdios do movimento. Em consequencia deste apoio, o GAJP recebeu a visita de dois trabalhadores rurais representantes do Acampado de Ronda Alta, no mês de novembro de 1981, em missão de divulgação das suas lutas, buscando apoio nacional.

4. Em novembro de 1981 solidarizou-se aos missionários franceses e aos trabalhadores rurais de Conceição do Araguaia, enviando ao nosso irmão Dom Patrício J. Hanrahan, Bispo desta localidade, uma carta de apoio, condenando o abuso do poder «que atinge profundamente as garantias constitucionais em vigor em nosso pais, denegrindo sua imagem no exterior, particularmente junto ao governo democrático da França e seu povo, ao mesmo tempo que significa, para nós, uma clara tentativa de coerção sobre o dever de evangelização da Igreja». Evidenciou-se, ainda, «de que o propósito dos poderosos é o tolhimento da caminhada de nosso povo, oprimido em seu próprio pais, de defender seus direitos e ver realizadas suas aspirações mais singelas». Esta missiva foi publicada no jornal O São Paulo, em sua edição de 4 a 10 de dezembro de 1981, á página 2, sob o titulo «Compromisso com os Oprimidos».

III — Ação conscientizadora

O GAJP tem preocupação permanente com a formação da consciência critica, em vista da adesão de um maior número de pessoas da sociedade petropolitana ao processo de transformação social e eclesial consequentes cio nosso pais. Nesse sentido, organizamos os seguintes eventos:

1. Em maio de 1980 o nosso irmão Frei Leonardo Boff proferiu palestra intitulada «O Cristão e a Luta pela Justiça», realizada no Colégio Santa Isabel. Estiveram presentes cerca de setecentas pessoas. Como efeito, o GAJP recebeu adesão e filiação de algumas pessoas, sobretudo leigos.

2. Em dezembro de 1980 o nosso irmão Padre Oscar Beozzo proferiu palestra intitulada «A Formação da Consciência Critica», realizada no salão paroquial da Catedral. Estiveram presentes cerca de cento e cinquenta pessoas.

3. Em junho de 1981 o nosso irmão Padre Rubens Chasseraux proferiu palestras relatando suas experiências e a de seu povo na luta popular no ABC de São Paulo. O conjunto das palestras foi assim direcionado: uma palestra exclusiva para representantes da periferia de Petrópolis; uma segunda palestra para os membros do GAJP, aberta ao público em geral.

4. Finalmente, dos dias 21 de agosto a 6 de dezembro organizou-se um ciclo de palestras intitulado «Religião e Transformação Social» que contou com a presença de um grupo de teólogos, cientistas sociais e agentes do movimento eclesial popular.

IV — Projeção para o 1º semestre de 1982

1. O GAJP pretende realizar em Petrópolis um curso, voltado para a periferia, com base nos slides «Fé e Política». preparados e divulgados pela Arquidiocese de São Paulo;

2. O GAJP pretende, ainda, organizar um ciclo de palestras sobre o tema «Fé e Política» dirigido ao público em geral;

3. Finalmente, o GAJP pretende montar, com apoio da periferia, um painel fotográfico sobre a realidade social angustiante de Petrópolis, dando ênfase aos aspectos de moradia e saúde.

V — Conclusão

Em linhas gerais tentamos reproduzir, neste dossiê, o histórico de nossa caminhada junto ao nosso povo. Estamos conscientes das limitações de nossas iniciativas e das dificuldades inerentes a toda ação que com base na defesa dos Direitos Humanos visa a conquista da Justiça para se alcançar a Paz.

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