Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
 
 Direitos Humanos
 Desejos Humanos
 Educação EDH
 Cibercidadania
 Memória Histórica
 Arte e Cultura
 Central de Denúncias
 Banco de Dados
 MNDH Brasil
 ONGs Direitos Humanos
 ABC Militantes DH
 Rede Mercosul
 Rede Brasil DH
 Redes Estaduais
 Rede Estadual RN
 Mundo Comissões
 Brasil Nunca Mais
 Brasil Comissões
 Estados Comissões
 Comitês Verdade BR
 Comitê Verdade RN
 Rede Lusófona
 Rede Cabo Verde
 Rede Guiné-Bissau
 Rede Moçambique

                

Memorial Online Mércia de Albuquerque
Diários 1973-1974

ABC Reprimidos | ABC Repressores AdvogadosFamiliares | Organizações  
Projeto | Acervo Mércia | DiáriosCartasJurídico | Jornais | Peça Teatral
ÁudiosVídeos | Imagens |  Brasil Nunca Mais | Memoriais NE | Equipe


A Mércia que conheci
Maria do Amparo Araújo*

Conheci Mércia Albuquerque em novembro do cinzento ano de 1977, recém-chegada a Recife, Pernambuco. Ainda clandestina, eu tinha em mãos uma lista de quatro advogados pernambucanos, três homens e apenas uma mulher advogada; me decidi por ela. Foram indicados pelo Modesto da Silveira; era para procurar só em caso de extrema necessidade ou prisão.

Eu estava sem documentos; o que usei para viajar do Rio de Janeiro para Maceió, uma identidade fria com o primeiro nome Eunice, precisei destruir antes de desembarcar em Maceió. Era essa a orientação do Doutor Modesto, pois se fosse presa daria só uma falsidade ideológica – difícil de provar juridicamente – se identificada apenas pelo tíquete do voo.

  

Para piorar a situação, quando vim para Recife de ônibus, de madrugada, peguei um táxi que bateu em outro carro e eu quebrei meu braço direito, justo aquele em que já tinha rompido os tendões quando levei um “coice” de uma 12, em um treinamento em 1971. Acordei no Hospital da Restauração; meu irmão Pedro, que tinha me resgatado em Maceió e ia me acolher na casa dele, estava ao meu lado e inventou uma história para eu ser atendida sem documento. Colocaram um gesso e me liberaram.

Me encontrei com a Doutora Mércia muito provavelmente na primeira quinzena de novembro de 1977, pois a data da minha nova carteira de identidade, “quente”, é de 29-11-1977. Ela estava num escritório num endereço que me deram; me recebeu muito séria e tão desconfiada quanto eu. A conversa foi curta; me informou que para tirar uma identidade eu deveria tirar fotos com uma determinada medida e ir a uma delegacia com minha certidão de nascimento, cópia recém emitida em Palmeira dos Índios, Alagoas. Ela disse: “Aproveite enquanto está com esse braço quebrado... de repente vão agilizar por conta disso aí... por esse seu sotaque... não fale muito, vá arrumada... diga que arrumou um emprego de babá e que precisa tirar os documentos, que iria começar a trabalhar assim que tirasse o gesso”. Quando ia saindo disse ainda: “Deixe meu contato com seu irmão, mas ele só deve me procurar se você for presa; quando sair daqui dê muitas voltas, pegue vários ônibus; com certeza será seguida, fique de olho, pelo menos dê uma canseira neles, todo mundo que vem aqui sai ‘com rabo’...”.

Segui as instruções; passeei um bocado nesse dia, fui até Boa Viagem. Fiquei zanzando até cansar; vez por outra desconfiei de umas figuras mal-encaradas, enfim cansaram-se também.
Enfim, essa era Mércia, clara, objetiva e direta. Anos se passaram, reencontrei Mércia durante os trabalhos da Comissão que indenizou os sobreviventes, presos políticos de Pernambuco; ela era Ouvidora na Secretaria de Justiça de Pernambuco; em seguida foi a pessoa encarregada de ouvir os depoimentos de sobreviventes e testemunhas de mortes e desaparecimentos. Com certeza alguém muito qualificada para contar a história desses “anos de chumbo” do nosso tão desmemoriado país.

Maria do Amparo Araújo, militante da ALN - Ação Libertadora Nacional e fundadora do Grupo Tortura Nunca Mais PE

 

ABC Reprimidos | ABC Repressores AdvogadosFamiliares | Organizações  
Projeto | Acervo Mércia | DiáriosCartasJurídico | Jornais | Peça Teatral
ÁudiosVídeos | Imagens |  Brasil Nunca Mais | Memoriais NE | Equipe

 

Home Page Mércia Albuquerque
Criada no ano de 2003

Desde 1995 © www.dhnet.org.br Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: enviardados@gmail.com Facebook: DHnetDh
Google
Notícias de Direitos Humanos
Loja DHnet
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
História dos Direitos Humanos no Brasil - Projeto DHnet
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Memória e a Verdade
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multimídia Memória Histórica Potiguar
Curso de Agentes da Cidadania Direitos Humanos