Potiguariana
Digital
Experiências
de Educação Popular
De Pé no Chão Também
se Aprende a Ler
Memória Histórica
Potiguar
Com
o pé no chão e a cabeça
no futuro
Tribuna
do Norte, 30/07/11
De
Pé no Chão | 40
Horas de Angicos | Movimento
de Natal |
CEBs no ES | Potiguariana
Com
o pé no chão e a cabeça
no futuro
Há 40 anos
morria Djalma Maranhão que revolucionou
a Educação Pública
implantando o programa "De Pé
no Chão, Também se Aprende
a Ler"
Ricardo
Araújo
repórter
Numa cruzada contra o analfabetismo, os
acampamentos escolares iam aonde os analfabetos
estavam. Em cada canto de praia, em cada
favela. Naquela época, início
dos anos 60, a disputa nas ruas da capital
não era entre gangues, como ocorre
hoje em dia, e sim pelo menor índice
de analfabetos. Com faixas estendidas de
um canto a outro das ruas e vielas, a população
vibrava a cada novo alfabetizado. Como se
a vitória de um, fizesse parte do
esforço de cada morador. Sim, era
esta a Natal governada pelo prefeito Djalma
Maranhão. Sob palhoças erguidas
no chão arenoso dos bairros periféricos,
nas ruas de barro, crianças eram
alfabetizadas. Afinal de contas, "De
Pé no Chão, Também
se Aprende a Ler".
Djalma
Maranhão morreu no axílio,
em Montevidéu, em 1971
Nos meados dos anos 50, Djalma Maranhão
foi nomeado pelo então governador
do Estado, Dinarte Mariz, prefeito de Natal.
Em 1960, aos 45 anos, foi eleito o primeiro
prefeito da capital através do voto
direto. Em 1964, com o golpe militar, Djalma
é preso e levado ao Quartel General
por ter sido contrário aos ideais
militares da época. Na Guarnição,
o coronel Mendonça Lima o ofereceu
liberdade em troca da renúncia ao
cargo de prefeito. Djalma não aceitou
e foi encaminhado à prisão.
Passou pelas celas de Fernando de Noronha
e, depois, em Recife. No mesmo ano, pediu
exílio político e foi levado
para Montevidéu.
Maranhão
não dispôs do tempo que desejava
para governar a capital e realizar todos
os projetos que trazia consigo. Entretanto,
ele dispôs do tempo necessário
para mudar a história de vida de
milhares de potiguares que até hoje
o relembram saudosos e com um respeito dispensado
a poucas figuras da história deste
país. "Djalma é uma pessoa
que nós poderíamos chamar
de intelectual orgânico. Ele pensava
no bem comum, na política voltada
a quem mais precisava: os pobres",
ressalta o pesquisador Roberto Monte.
O
nome de Djalma Maranhão pode ser
considerado sinônimo de uma campanha
que marcou o Rio Grande do Norte, principalmente
Natal, nos anos obscuros da Ditadura Militar.
Nas palhoças, uma equipe de professores
com recursos mínimos, conseguiu alfabetizar
cerca de 25 mil crianças. Era, acima
de tudo, um processo de inclusão
social. Diante das mais diversas dificuldades,
além da situação miserável
da maioria da população natalense,
as escolas iam até os alunos. Uma
espécie de processo inverso à
realidade atual.
Além
de aprender a ler e a escrever, as crianças
dividiam momentos de lazer e se alimentavam
de frutos da terra, de legumes e verduras
plantadas em hortas administradas por eles
próprios. Além das crianças,
adolescentes e adultos também tinham
a oportunidade de estudar. Em locais fechados,
ou até mesmo nas palhoças,
em horários diferenciados. Djalma
Maranhão foi vanguardista no que
hoje foi batizado de Ensino de Jovens e
Adultos (EJA).
"A
influência maior de Djalma foi na
inovação e na honestidade.
Dentro do contexto da pobreza, ele foi o
melhor prefeito que Natal já teve",
afirmou o presidente da Associação
dos Anistiados Políticos, Mery Medeiros.
Assim como Mery, Djalma também foi
preso político. Exilado em Montevidéu,
segundo escritos de Moacyr de Góes
e Darcy Ribeiro, ele enfrentou os anos mais
tristes de sua vida.
Longe
da mulher, Dária, e do filho único,
Marcos, ele tentava matar as saudades da
cidade natal enviando cartas. Numa tentativa
desesperada, segundo relato de Roberto Monte,
Djalma ligou o rádio na capital uruguaia
na esperança de ouvir alguma AM natalense.
Djalma
faleceu de insuficiência cardíaca,
aos 56 anos, no dia 30 de julho de 1971
em Montevidéu. Para Darcy Ribeiro,
ele morreu de saudades, de banzo. Assim
como os negros africanos extraídos
da sua terra natal.
Veja
vídeo da Campanha de "Pé
no Chão Também se Aprender
a Ler no site: www.tribunadonorte.com.br
"Meu
crime foi alfabetizar 25 mil crianças"
Numa das mensagens enviada ao povo brasileiro
enquanto estava exilado, Djalma faz uma
análise sobre o que poderia ter sido
seu erro. "Meu crime maior foi alfabetizar
25 mil crianças, na pioneira campanha
De Pé no Chão Também
se Aprende a Ler". De acordo com a
carta, a campanha foi reconhecida pela UNESCO
como válida para as regiões
subdesenvolvidas do mundo.
"Djalma
era um homem comprometido com a educação,
com a saúda do povo pobre. Foi este
seu grande diferencial. Sentimos falta disso",
alega Mery Medeiros. Segundo Mery, a ideia
de montar palhoças para alfabetizar
a massa de miseráveis que habitava
a Natal dos anos 60, surgiu numa reunião
comunitária nas Rocas. Sem dinheiro
para subsidiar construções
de alvenaria, foi esta a saída adotada
pelo então prefeito.
Segundo
Mery, Djalma não foi vanguardista
apenas na forma de priorizar a educação
pública, mas também na transparência
com os gastos públicos. "Quando
ele calçava uma rua, saía
de casa em casa prestando contas. Ele era
transparente", destacou.
Em
termos estatísticos (e quando a população
de Natal era de 160.000 mil habitantes),
em três anos, De Pé no Chão
alcançou uma matrícula acumulada
de 34 mil alunos. Além disso, foi
criado um centro de formação
de professores que desdobrou-se na campanha
"De Pé no Chão também
se Aprende uma Profissão".
Para Fernando Tovar, militante da campanha
de Djalma à Prefeitura de Natal,
o ex-prefeito jamais negou trabalho. "Era
incrível. Eu era adolescente e me
sentia fascinado por aquele homem que queria
mudar a realidade de muitas crianças",
afirmou. Para quem conheceu Djalma Maranhão,
ele era um exemplo de sensibilidade humana,
honestidade e, acima de tudo, coerência.
Projeto
foi uma política educacional
A lembrança que mais permanece na
memória popular do povo norte-riograndense
é a campanha "De Pé no
Chão Também se Aprende a Ler".
Campanha esta criada por Djalma maranhão
cujo objetivo era lutar para a erradicação
do analfabetismo.
A
Campanha foi além de uma proposta
alfabetizadora e alcançou o nível
de uma política educacional. Além
de estar aliada à revalorização
da cultura e dos autos populares e iniciação
profissional. Como prefeito, Djalma Maranhão,
fez com que a escola pública municipal
fosse fruto de duas vertentes: o saber acadêmico,
historicamente acumulado, de seus professores
e técnicos, e as propostas do movimento
popular vitorioso das eleições
de 1960.
Em
Natal, foram criados 120 Comitês Nacionalistas
que continuaram funcionando após
a posse, em novembro. Esta especificidade
da escola municipal nesse momento, em Natal,
faz emergir no ensino oficial do município
a Educação Popular.
De
Pé no Chão venceu desafios
comuns à escola brasileira: onde
não havia escolas de alvenaria, construiu
Acampamentos Escolares; como não
havia professores diplomados, qualificou
os seus próprios recursos humanos;
sem material didático, redigiu seus
próprios textos educacionais; a sala
de aula jamais foi largada à própria
sorte: o acompanhamento técnico-pedagógico
se fez na proporção de um
supervisor para cada vinte professores.
Serviço
Quem
desejar contribuir com material histórico
para o acervo sobre Djalma Maranhão,
poderá entrar em contato com Roberto
Monte.
Fone:
3221 5932 / 3201 4359
e-mail:
enviardados@gmail.com
Site:
www.dhnet.org.br/educar/penochao
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