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Memória Histórica Potiguar

 

 

 

Evocação de Natal
Djalma Maranhão
(Poema incompleto, escrito no exílio)

 

De Pé no Chão | 40 Horas de Angicos | Movimento de Natal | CEBs no ES | Potiguariana

Textos | Livros e Publicações | Áudios | Vídeos | Fotografias | Rede RN | CDHMP

 

Evocação de Natal

Natal, encruzilhada do Mundo.
O ponto mais avançado da América,
No caminho da Europa, pelo roteiro da África,
Olhando de frente e desafiando o mar.
É um duelo de gigantes,
Em que um povo imbatível,
Abrindo o áspero caminho do seu futuro,
Desafia o destino, a própria natureza.

Não te esquecerei, Natal!
Os olhos do sol transpondo as dunas,
Iluminando a cidade,
Que dormiu embalada
Pelo sussurro das águas do Potengi.
Jerônimo, o que plantou o marco de tua fundação;
Poti, o teu guerreiro nativista,
Que nasceu ali em Igapó, antiga Aldeia Velha.
Brasil Colônia, Brasil Império.
Pedro Velho, teu grande chefe republicano.

Não te esquecerei, Natal!
Nas asas dos pássaros metálicos,
Foste o Trampolim da Vitória,
Na guerra dos povos contra o fascismo.
Teus céus foram cruzados
Pela primeira vez, no Brasil,
Nas travessias transoceânicas,
Por Gago Coutinho e Sacadura Cabral,
Mermoz e Saint-Exupery, Ferrarin e Del Prete.
O Graf Zeppelin lançado uma coroa de flores
Sobre a estátua de Augusto Severo.
Portugueses, Franceses e Italianos,
E a epopéia verde-amarela do Jaú, de Ribeiro de Barros.
Teu Aéro Clube fez obra de pioneirismo
Na história brasileira da aviação civil

Não te esquecerei Natal!
No lirismo dos teus poetas;
O quase bárbaro Itajubá
E o quase gênio Otoniel
E também o alucinado Milton Siqueira.
Jorge Fernandes esbanjando poesia
Na mesa de um bar
Era a imagem viva de um Verlaine.
A projeção dos teus intelectuais,
Que têm em Câmara Cascudo
Um nome regional com ressonância internacional.
Uma tradição literária de Wanderley,
Revivendo a tua boemia.
O saxofone de Tibiro.
Os vilões de Heronides, Macrino, ao irmãos Lucas.
Tuas modinhas – “Praeira dos meus Amores” –
Deolindo, Cavalcanti Grande. Ávila, Carlos Siqueira,
Vitoriano, Jaime, Pedrinho, Saturnino,
Jaime declamando sua poesia.
Tuas serenatas e Evaristo de Souza,
O teu último grande boêmio.

Não te esquecerei, Natal!
A vocação libertária do teu povo,
A pregação caudilhesca de Zé da Penha,
Alguns políticos enganando o povo,
Que um dia ganhará conscientização.
Os teus médicos humanitários:
Antunes, Luís Antônio, José Ivo, Januário,
E Luís Soares, monumento cívico
Em carne e osso...
Sílvio Tavares tocando requinta na banda,
Alba Garcia, tua primeira Miss.
E café Filho, no mastro da Presidência da República,
Pousando de estadista.

Inez Barreto, Diva Mariz, Dulce Figueiredo
Encarnando as melhores virtudes da mulher brasileira.
Teus grandes oradores,
Kerginaldo Cavalcanti sendo chamado Patativa do Norte,
Peregrino Junior elevando-se à Presidência da Academia Brasileira de Letras.
Toscano de Brito, o primeiro General
Que a cidade conheceu na intimidade,
A presença, com precisão cronométrica,
De Nestor Lima nas sessões do Instituto Histórico,
Milton Varela com artes de Grão Senhor.

Não te esquecerei, Natal!
Na tradição da tua Igreja,
A humildade de João Maria
E a bondade de monsenhor Pegado,
A cultura do Padre Monte
E os sermões de Luís Wanderley,
A vocação social das irmãs Vitória, Gonzaga, Rosalli,
E também os ingênuos poemas de Dom Marcolino;
Dom José Pereira, célebre fundador do teu Arcebispado.
Anoto para o futuro as lutas de hoje
Dos jovens sacerdotes
Plasmados por Dom Eugênio e Dom Nivaldo,
Para os duros embates sociais,
Na fidelidade às Encíclicas de João XXIII
Herdeiros do sacrifício de Frei Miguelinho.

Não te esquecerei, Natal!
Os Grão-Mestres de tua Maçonaria
Fazendo o bem, sem perguntar a quem,
Na escuridão sublime do anonimato.
Os teus Pastores Protestantes
Evangelizando sem tempo para tomar fôlego.
As minhas queridas áreas suburbanas,
Os Centros Espíritas
Fazendo da doutrina de Kardec
Uma ciência para aliviar as dores do próximo.
Leon Wolfson, Rabino improvisado da comunidade judaica.
Mas, também, não posso esquecer
Os Pais-de-terreiros, meus amigos,
Na pureza de tuas ignorâncias.

Não te esquecerei, Natal!
A tua jovem Universidade,
Herdeira das tradições do velho Ateneu:
João Tibúrcio, Torres, Celestino,
Severino Bezerra, Clementino, Seu Emílio.
A tua Escola Doméstica
Iniciativa inesquecível de Henrique Castriciano,
Centro altamente refinado de ensino.
E a Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler
Ferramenta indestrutível de uma geração
Que teima, deseja e atingirá
As fontes do saber e da cultura,
Quando um dia o ensino não for um privilégio.
As tuas jornadas de folclore,
Com Veríssimo e Moacyr de Góes
E o “Papa” Cascudinho,
Moreira, Mailde, Roberto, Omar, Nísia,
O Mateus do Boi Calemba
E o Rei Cariongo dos Congos.
A Diana do “cordão azul”.
Lapinhas e Pastoris,
Que recordam Gotardo e Felinto Manso.
Dr. Ivo marcando, em francês,
Uma “quadrilha” na véspera de São João;
Vendo renascerem no Ararunas
As danças antigas e semi-desaparecidas,
No compasso de mestre Cornélio e Dona Chiquinha.

O “rema que rema” do Fandango
E o fardão vermelho dos mouros da Chegança,
O velho Calixto comandando o Bambelô
E a turma formando o côco-de-roda,
Dando umbigada, sapateando,
No ballet rústico dos antigos escravos.

Não te esquecerei, Natal!
O pregão onomatopaico de tua vendedora de ervas:
“Juá, Jucá, Muçambê, Cabeça de Negro, Batata de Purga”;
As esquisitices de Joca Lira e Miguel Leandro;
Os teus “foroleiros” de memoráveis histórias:
Coronel Quincó, Arari Brito, Luís Tavares;
A Caixa Rural de Ulisses de Góis –
O “City Bank” de tua classe média.
E a rinha de galos de Jorge Elisio,
A parteira Dona Adelaide, minha madrinha,
Que viu nascer milhares de natalenses,
Antes da instituição da Maternidade hospitalar.

Não te esquecerei, Natal!
A Ribeira subindo em direção à Cidade,
Os teus primeiros bairros Rocas e Alecrim,
O Grande Ponto dos dias de hoje,
Convergência de todos os encontros
E foco de todos os boatos.
Os bairros novos:
Tirol, Petrópolis, Quintas, Conceição,
Lagoa Seca, Juruá, Guarita, Carrasco,
(Que aqui em Montevideo, onde estou exilado,
É nome de uma praia Chic),
E como estamos falando em praia,
Vem a saudade de Ponta Negra e Redinha,
Areia Preta, o meio e Circular.

Não te esquecerei, Natal!
Levas de flagelados, tangidos pela seca,
Semi mortos de fome, pedindo comida pelo amor de Deus.
A taxa de mortalidade infantil de tuas crianças,
A mais alta do mundo
E também recordo os matutos endinheirados
Viajando pelos trens da Centarl e da Great Western,
Com suas botinhas marca “Bostock”, rangideiras,
Fazendo compras na Rua Dr. Barata.
Teus cangaceiros de gravata,
Cujos nomes não é conveniente lembrar,
Mas que merecem um estudo sociológico.
Marginais e valentões do teu sub-mundo:
Os Quilitanos, Cuscús, King Kong.

Não te esquecerei, Natal!
O austero Forte dos Ris Magos
Com os velhos canhões de fogo morto,
A ponte metálica de Igapó,
A alegre pensão de Maria Boa,
Onde uma geração se iniciou nos segredos do amor,
A Peixada da Comadre, no Canto do Mangue,
E a Caranguejada do Arnaldo,
A Feira do Alecrim e o seu Clube do Sarapatel,
Os cegos tocando viola,
A carne assada do Lira e do Marinho,
Batidas de Maracujá nas baiúcas da Quarentena,
Cerveja bem geladinha no carneirinho de Ouro
E o café sempre requentado do Bar Quitandinha,
A farmácia de Cloro, na rua Ulisses Caldas,
A última que mantém as características
Das históricas “boticas” do começo do século,
Os aperitivos no Magestic,
(Onde Oliveira Junior tinha uma garrafa “cativa”),
Traço de união de três gerações,
Esquina com o Royal Cinema
Que o progresso da cidade engoliu,
Mas, imortalizando na valsa de Tonheca Dantas,
O Strauss papa-jerimum.

Não te esquecerei, Natal!
A Velha Simôa,
Mais imortal que uma antologia de Bocage,
Chico Santeiro, o Aleijadinho potiguar,
Esculpindo os seus bonecos de madeira,
Com a ponta de um canivete,
ABC e América, na guerra santa do futebol,
Deixando Farache fanatizado,
Arrancando os botões do jaquetão.
O duelo esportivo-feminino entre Centro e AFA.
Comerciantes que o tempo levou:
Seu Melo, Lagreca, Coriolano, Santos, Fortunato,
Viana, Ismael Pereira, Machado, Galvão, Aureliano.
Os teus novos ricos do após guerra,
Aficcionados no pooker do Natal Clube:
Sandoval Capistrano, Augusto de Souza, Teodorico
E o meu Xará Djalma Marinho.
O apito de tua primeira fábrica de tecidos.
O Esquadrão da Cavalaria, lá na Solidão.
E o capitão Joca do Pará,
O primeiro Sherlok que a cidade conheceu.
Novenário da festa da Apresentação,
Exarcebando a emulação das bandas de música
Do Exército e da Polícia.
E acabou-se, também, a rivalidade briguenta
Entre Xarias e Canguleiros

Não te esquecerei, Natal!
O teu carnaval, festa do povo.
A “Divisão Branca” de Barôncio Guerra,
Esnobando na sociedade
E o “Pinto Pelado” esbaldando-se nas ruas.
E a namorada que arranjei,
Em um sábado de carnaval,
E que é hoje minha mulher.
Os velhos bondes,
Substituídos pelos ônibus, que já estão velhos.
Genar e Bulhões.
Os que primeiro falaram em microfone.
Carlos Lamas fundando a Rádio Educadora.
O Tiro de Guerra 18 e o Brigada Chicó.
Luís Toró, com um braço só,
Campeão de bilhar.
Ângelo de Pessôa e João Ferreira, dançando tango.
Tuas regatas marcaram época,
Antes do apogeu do futebol.

Não te esquecerei, Natal!
Encontro os teus pecadores no Ano do Centenário,
Com a mesma audácia dos irmãos Polinésios,
Numa jangada de velas esfarrapadas,
Levando a mensagem do Potengi a Baia da Guanabara.
Alberto Maranhão, governador e mecenas.
Época dos maestros italianos:
Nicolino, Russel, Mariscano, Babini.
Tempos do perfume Pirioca,
Doces similares e cigarros Vigilante,
Água de côco em aguardente,
Era e continua sendo o melhor wisky nacional.
E o menestrel escravo Fabião das Queimadas,
Que libertou a si e a própria mãe,
Ganhando dinheiro, cantando e tocando rabeca.
Do teus juristas notáveis,
De Amaro Cavalcanti a Seabra Fagundes.
Dr. José Augusto que envelheceu no tempo
E continuou jovem com o soro da eterna juventude.

Não te esquecerei, Natal!
A revolução de 1930,
Meu batismo nas lutas sociais.
Fanfarras agitando, agitando,
Muitos discursos, poucos tiros.
Guimarães na Prefeitura.
Café e Silvino Bezerra disputando a interventoria,
Que ficou com Irineu Jofilly,
Misturando cachaça com austeridade
- Autêntico percursor de Jânio Quadros-
A quixotesca espada de Varela, à frente da milícia,
Vai, em 1932, enfrentar a rebeldia cívica dos paulistas,
Desafiando desembainhada pelas ruas.
A voz de fogo dos teus tribunos,
Ontem, contra o colonialismo,
Hoje, frente ao imperialismo.

Não te esquecerei, Natal!

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