Potiguariana
Digital
Experiências
de Educação Popular
De Pé no Chão Também
se Aprende a Ler
Memória Histórica
Potiguar
40
anos sem Djalma Maranhão
Por
Alexandre de Albuquerque Maranhão,
Historiador
1 DE AGOSTO DE 2011 - 16H05
De
Pé no Chão | 40
Horas de Angicos | Movimento
de Natal |
CEBs no ES | Potiguariana
Eterno
exemplo de homem público. De estilo
inovador, foi o único prefeito da
cidade de Natal a governar sabendo ouvir
e atender às reivindicações
da população
Djalma Maranhão já deveria
ter sido agraciado e lembrado pelos livros
didáticos de história. Político
honesto e íntegro cumpriu com zelo,
lisura e ética suas funções
enquanto esteve à frente da Prefeitura
de Natal por dois mandatos, de 1956-1959
e 1960-1964, e também como legislador,
quando foi eleito deputado estadual em 1954
e deputado federal, de maio de 1959 a outubro
de 1960.
Jamais
buscou tirar proveito do exercício
dos respectivos mandatos a seu favor ou
de quem quer que seja: amigos, aliados políticos
ou parentes de qualquer grau. Detestava
a corrupção, a falsidade e
a traição. Para ele, honestidade
e transparência com os recursos públicos
tinha que ser regra e não exceção
nem um favor do gestor e sim uma obrigação.
Portanto,
não é exagero nenhum afirmar
que Djalma Maranhão foi e ainda é
o político mais importante da história
do Rio Grande do Norte, pela sua ousadia,
dignidade, caráter, coerência
e capacidade administrativa com visão
voltada para o futuro. Além do mais,
tinha uma comunicação direta
e uma estreita relação com
as camadas mais pobres e carentes da cidade.
Com
recursos públicos escassos, enfrentou
as dificuldades administrativas com coragem,
firmeza e criatividade. Sua grande parceria
foi com a população. Aliás,
a formulação das propostas
de seu programa de governo durante a campanha
eleitoral de 1960 e a execução
das diversas políticas públicas,
após ser eleito pelo voto direto
o primeiro prefeito de Natal, tiveram a
participação decisiva de diversos
setores da sociedade natalense.
De
personalidade forte, mas humanista por princípio,
possuía uma grande sensibilidade:
sabia ouvir as pessoas, suas reivindicações.
Coerente e sincero, 'não levava desaforo
para casa'. Vivia com intensa alegria, participava
de forma efetiva das diversas manifestações
populares, como o carnaval, as festas juninas,
os ciclos natalinos, ou autos e folguedos
folclóricos.
Sua
grande capacidade administrativa de gerir
os poucos recursos públicos que dispunha
na época, transformou Natal num verdadeiro
canteiro de obras. A cidade, antes de areia
e argila vai ganhar ruas asfaltadas; galerias
pluviais; iluminação a vapor
de mercúrio e fluorescentes; estação
rodoviária; quadras esportivas e
parques infantis; pavimentação
a paralelepípedos de mais de cento
e vinte ruas, entre outras tantas obras
importantes.
No entanto, sua extensa rotina de trabalho
à frente do Executivo Municipal trazia-lhe
ansiedade e insônia. Geralmente dormia
pouco menos de quatro horas por noite. Resolvia
então, inspecionar obras e serviços
da prefeitura em plena madrugada ao volante
de seu veículo, um Jipe, que batizara
de "Fura Mundo".
Além
da honestidade, do compromisso e respeito
com o contribuinte, Djalma Maranhão
notabilizou-se por implementar uma revolucionária
obra de educação popular:
a "Campanha de Pé no Chão
Também se Aprende a Ler". Esta
tornou-se símbolo da alfabetização
e democratização da cultura,
conhecida nacionalmente e recomendada pela
UNESCO e a OEA, para a erradicação
do analfabetismo nas áreas do mundo
subdesenvolvido.
O
golpe militar de 1964 eclode no auge da
Campanha pela educação democraticamente
aberta a todos, fiel à problemática
brasileira e comprometida com a emancipação
do Brasil e do seu povo. No dia 2 de abril
daquele ano, Djalma Maranhão é
deposto do cargo de prefeito de Natal e
levado à prisão no 16º
Regimento de Infantaria do Exército
(16 RI), no bairro do Tirol.
Quais
os crimes teria cometido Djalma Maranhão
para sofrer tamanha arbitrariedade? Seria
o "crime" de ter alfabetizado
e dado ao povo pobre de Natal acesso às
fontes do saber? Talvez tenha sido por causa
da sua marcante administração,
onde não havia negociatas nem superfaturamento
de obras
Em
15 de julho do mesmo ano, é transferido
do 16 RI, para o quartel da Polícia
Militar de Natal. Um mês depois, em
15 de agosto, é levado e confinado
à Ilha de Fernando de Noronha. Será
que existe uma explicação,
no mínimo razoável para esse
confinamento e essas prisões deste
homem que honrou de verdade os votos da
grande maioria dos natalenses e que jamais
e em tempo algum desviou verbas do erário
público? Talvez, quem sabe, a devida
explicação esteja no fato
de Djalma Maranhão ter sido um democrata
e patriota e ter tido um amor indescritível
pelo Brasil e pela cidade de Natal.
Em
novembro de 1964, consegue asilo político
na Embaixada do Uruguai, no Rio de Janeiro.
Em julho de 1965, viaja para Montevidéu,
onde permaneceu por seis anos, com imensa
saudade de seu povo e de seu país.
Esse grande líder político
brasileiro sobrevivia vendendo jornais e
revistas de turismo. Não aguentou
a solidão e a angústia de
viver longe de sua cidade Natal. Faleceu
há quarenta anos, na capital uruguaia
no dia 30 de julho de 1971.
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