Nos
últimos anos, através da parceria do CAPEC com o Programa
Nacional Paz nas Escolas/Secretaria
de Estado dos Direitos Humanos/Ministério
da Justiça, trabalhamos com milhares de pessoas –policiais,
guardas municipais, professores, membros de conselhos tutelares,
líderes comunitários- em diversos estados
brasileiros, analisando o fenômeno da violência e propondo alternativas
para a construção da paz.
Nesse tempo,
foi ficando clara, para nossa equipe, a carência de textos reflexivos
que aprofundassem a análise crítica sem deixar de ter, a par
da utilidade simbólica, um caráter prático e ferramental.
Lançamo-nos,
assim, ao desafio de compor este livro, livres de maiores pretensões
de cunho acadêmico mas com muita vontade
de trazer provocações intelectuais que nos convidem à superação
do discurso banalizado e rasteiro sobre a violência e a pensar
criativamente os caminhos da paz, especialmente aqueles que
podem e devem ser trilhados pela parceria escola-comunidade-operadores
de segurança pública.
Escolhemos,
para tanto, um pequeno rol de autores que se caracterizam por
buscar suas reflexões na prática histórica e cotidiana da militância
pela paz, pela cidadania e pelos direitos humanos.
Marcelo Rezende Guimarães
é, no Brasil contemporâneo, ao lado de figuras como o Dr.
Feizi Milani, uma das lideranças mais
expressivas no campo da promoção da paz. Traz-nos sua competência
e profundidade como pensador, propondo a superação dos lirismos
inconseqüentes, às vezes indevidamente aderidos ao tema, para
uma intervenção fundada na inquietude crítico-criativa - assim
como nos propõe o título da presente coletânea.
Riccardo Cappi, um experiente criminólogo,
trouxe para o Brasil, ao lado de sua acurada capacidade intelectual
de descobrir o novo e as pistas não percebidas para a superação
dos impasses sociais, sua militância junto a organizações dedicadas
a crianças e adolescentes e sua intervenção como consultor para
a rearticulação de políticas públicas de segurança. Oferece-nos
um texto instigante sobre o papel dos operadores de segurança
pública como parceiros na produção de uma
cultura cidadã.
Rosillene Mazarotto me impressionou profundamente, durante exposição que fez na
Escola Porto Alegre, por ocasião de evento do Projeto
Coruja, que atua diferenciadamente
na escolarização e educação de meninos e meninas em situação
de risco, na Rede Municipal de Ensino da cidade de Porto Alegre.
Sua firmeza pedagógica, seu embasamento teórico e prático, sua
paixão de educadora estão, aqui, vertidos em texto, provocando-nos
a acreditar que com ousadia, persistência, espírito de equipe
e dedicação, verdadeiros milagres podem ser produzidos em realidades
tão adversas. O texto é uma rica ilustração para outros que
estão construindo suas próprias experiências.
Carlos Barcellos, o prefaciador,
é uma vida dedicada à causa da paz construída pelo protagonismo juvenil. Milhares de adolescentes tiveram e têm
no convívio com Carlos um bem raro, que a sociedade presente
não consegue ou não quer oferecer-lhes: o exemplo de uma existência
adulta repleta de significado. Ele “põe a alma” em tudo o que
faz e com o nosso prefácio não foi diferente.
Espero,
finalmente, que a leitura seja a todos muito proveitosa e que reacenda as esperanças, renove as humanas
certezas, estimule a inventividade, convide ao solidário agir.
Ricardo B. Balestreri
Organizador