Movimento Negro Nacional Não respeita diferenças
Aucides Sales aucides2000@yahoo.com.br
Conheci em 1982,
o artista plástico José Maria Paixão, integrante
do Movimento Negro do Rio de Janeiro, dedicado
ao estudo da língua nagô, etnias e a obra de Lima
Barreto.
Hoje em contato com
integrantes do Movimento Negro Nacional, ligados
a Entidade Negra do Rio Grande do Norte, Kilombo,
percebo a mudança de atitude e fico estarrecido
com as contradições contidas no discurso.
Atualmente não vejo
no Movimento Negro menor preocupação com qualquer
estudo da cultura negra, porém com o cumprimento
da lei anti-racismo (para tanto, a entidade Kilombo
tem o chamado "disque racismo"), obtenção
de regalias para os negros e uma desesperada tentativa
de convencer a opinião pública, de que o Brasil
não é mais um país indígena, mas que agora é um
país negro, aliás, o maior depois da Nigéria,
uma vês que 45% da nossa população é descendente
de africanos, como afirma a assistente social
Elisabete Silva na cartilha "Dito e Feito
número 5", editada em novembro de 2001,pelo
mandato popular do vereador Fernando Mineiro,
citando como fonte a PNAD de 1998.
Infelizmente tenho
que contestar a afirmação da assistente social,
pois em consulta ao citado documento, correspondente
ao período de 1992\1999, encontrei o percentual
de 5,4% correspondente aos descendentes de africanos,
donde deduzimos que para ter 45% a Senhora Elyzabeth
somou os pretos aos pardos.
Essa atitude da Assistente
Social supra citada tem por base uma pretensão
do Movimento Negro, já contida no Plano Nacional
de Direitos Humanos publicado pela Secretaria
de Direitos Humanos do Ministério da Justiça em
1988.
No item referente
à proteção do direito a tratamento igualitário
perante a lei, abordando as populações negras,
o sétimo ponto propõe "determinar ao IBGE
a adoção de critério de se considerar os mulatos,
pardos e os pretos, como integrantes da população
negra".
Esta determinação
absurda, felizmente ainda não esta sendo cumprida
pelo IBGE, mesmo assim a assistente social Elisabeth
Silva canta vitória antes do resultado da consulta
pública feita pelo Ministério da Justiça, através
da internete, encerrada no início de janeiro de
2002, sobre as propostas para o Plano Nacional
de Direitos Humanos, e dessa forma fornece os
dados do IBGE manipulando-os em favor do Movimento
Negro.
Qual a base científica
dessa pretensão do Movimento Negro que age
como se acreditasse que existam apenas dois grupos,
o de pretos e o de brancos, formando a população
do Brasil? É indubitável a existência de índios
e seus descendentes, integrando a população brasileira,
que dessa forma, compõe-se de três grupos distintos.
Os critérios
para a determinação do item cor, durante a pesquisa
do IBGE, são democráticos, ou seja, o entrevistado
é quem determina qual a sua própria cor escolhendo
entre os tipos: branco, preto, pardo, índio e
amarelo.
Os descendentes
de índios cruzados com brancos e negros são sem
dúvida contados como pardos, por terem a pele
escura, e nem por isso são apenas afrodescendente,
mas descendente de todos os grupos, o que não
dá o direito a um grupo declarar-se detentor exclusivo
da origem dos pardos.
Reivindicar este
direito será "respeitar as diferenças"
como a Organização Kilombo diz ser uma de suas
metas? Ou fortalecer os laços de solidariedade
(outra meta da Kilombo), se faz com negação a
pesquisas como a que foi realizada pelo Dr. Danilo
Pena da UFMG e a qual faz o IBGE, para forjar
uma falsa realidade em favor próprio? A revista
Veja publicou em dezembro de 2000, a pesquisa
supra citada, realizada em consonância com a ONU,
teve como objetivo de realizar o mapeamento genético
do globo, fazendo para tanto, exames de DNA.
Tomando os critérios
de cor do IBGE, os resultados mostram serem infundadas
as pretensões do MNN que insiste em proclamar-se
maioria, pois até no grupo de pretos, a pesquisa
do Dr. Pena acusa existir apenas 40% de indivíduos
os quais podem ser realmente classificados como
tais.
No grupo dos pardos,
os pretos ocupam uma faixa de apenas 29%, contra
35% que são resultado do cruzamento de índia com
branco e o restante é o resultado da mistura dos
três grupos.
Negar a existência
de descendentes indígenas na nossa população,
é um erro grosseiro, um equívoco que pode custar
caro à imagem de Movimento Negro Nacional, que
negando a participação dos indígenas na formação
do grupo dos pardos, desrespeita as diferenças
existentes neste grupo, passando à história como
trapaceiros e usurpadores do lugar que a lógica
reserva para os primeiros habitantes deste continente
que contribuíram com 36% das mães que geraram
o povo brasileiro segundo os dados do Dr. Danilo
Pena que também afirmar que as mães negras representam
o percentual de 27%, sendo por tanto a menor contribuição,
já que os pais são quase que exclusivamente brancos,
a que se somando as mães brancas, compõe nossa
população que tem 60% de indivíduos que se dizem
brancos ( a pesquisa de Pena mostrar que 55% desta
parcela tem sangue indígena, 7% tem sangue negro),
5;4% de afrodescendentes, 34% de pardos e 0,6
de índios e amarelos.
Não vejam em meu
protesto um ato racista, mas pelo contrário, levanto
me contra um grupo que se valendo de uma oportunidade
se insinua falsamente, maioria. Se o Movimento
Negro sugere que todos sejam contados como negros,
porque não contar todos como índios? Afinal estamos
na terra que deles lhes foi tirada.
A solidariedade
do MNN deixou os índios de fora da cota de 20%
das vagas nas universidades e nos empregos federais
que agora são reservadas para os afrodescendestes.
Os pretos são
apenas 5,4% da população, mas inexplicavelmente
exigem uma cota de vagas quase quatro vezes maior
que o seu percentual.
Boa parte da população
mesmo branco ou pardo, não consegue vaga na universidade
e emprego público, pelo mesmo motivo que os pretos,
ou seja, por ser tão pobre quanto eles, pois se
sabe que a riqueza brasileira esta na mão de uma
pequena parcela da população branca, que sendo
a grande maioria da população (60%) boa parte
que resta, também amarga a miséria, apesar da
brancura da pele.
O que falta é oportunidade
para todos, e não cota para branco ou preto. Um
problema de difícil solução, é determinar a quem
de direito cabe as vagas reservadas pela nova
lei.
Qual o critério para
escolha dos candidatos? Quem for mais preto vai
primeiro? Aí pardo claro, ou seja, o caboclo,
já está em desvantagem.
Então usa-se teste
de DNA? O custo é superior a 800 reais, quem paga?
Problema 2: dois irmãos de pais mestiços, um nasceu
preto e outro muito claro, os dois entram na universidade
(ou na vaga do emprego público), ou só entra o
preto? Isto parece uma comédia de Moliérè,
ou Otelo às avessas.
Cria-se no Brasil
uma nova etnologia, a do preto e do branco, e
uma nova nobreza, formada pelos afrodescendentes
e pelos caboclos ávidos de serem agora, não mais
brancos, porém agora "afros" por causa
dos tais 20% das vagas nas universidades e empregos
federais. O Rio Grande do Norte será grandemente
afetado, já que a maioria de sua população (64%)
é formada de pardos e uma minoria menor que a
nacional (2,8%) de pretos.
Estas medidas podem
parecer simpáticas aos olhos da ONU, porém diante
daqueles que orgulham se de portar o universal
sangue indígena, elas soaram como um ultrage.
Segundo Maquiavel,
se divide para reinar. Seja quem for, está reinando,
e muito bem, pois com o acolhimento destas pretensões
descabidas, o governo do PSDB já dividiu a pobreza
em " quem tem a pele escura e quem tem a
pele clara" e dando privilégios aos afrodescendentes
vai gerar antipatia a este grupo nos demais, fomentando
a desunião, e o povo desunido sempre será vencido.
Aucides
Sales
é artista popular especialista
em teoria das Artes Plásticas e descendente
de índios potiguara
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