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 EDUCAÇÃO
              EM DIREITOS HUMANOS 
              
              
              
               Olhando
              para o séc. XX lemos a impressão de que vivemos muito mais
              intensamente nestes últimos anos, tão profundas foram as mudanças
              ocorridas em todos OS níveis e setores da vida pública e
              pessoal. Parece que o mundo ficou menor com o extraordinário
              desenvolvimento da informática, das telecomunicações. da
              biotecnologia, da biótica. levando a um extraordinário
              estreitamento das relações humanas. Porém, concomitantemente,
              as máquinas substituindo os operários, provocaram demissões em
              massa. Os meios de comunicação impuseram valores e incentivaram
              um consumismo desenfreado e criaram frustrações e egoísmos que
              ensejaram a violência e agressividade.
              
               No
              mundo ocidental, a religião já não tem a mesma influência e
              os valores éticos furam muito abalados.
              
               À
              tragédia de 11 de setembro passado veio contribuir mais ainda
              para abalar nosso frágil equilíbrio. Com a queda das torres,
              desabaram também muitas de nossas certezas.
              
               Vivemos
              num momento conturbado, nebuloso, sem saber o que esperar do
              esperar do futuro próximo.
              
               Em
              épocas de dúvidas, precisamos mais do que nunca apegar-nos a
              valores sólidos, e essenciais.
              
               Os
              Direitos Humanos são referências éticas que afetam a toda a
              humanidade e podem ser a bandeira de união entre os povos. Será
              uma utopia longínqua? Talvez mas neste inundo angustiado em que
              vivemos, podem ser uma luz de esperança.
              
               Os
              Direitos Humanos são universais. independem de fronteiras e leis
              nacionais. são direitos inerentes a todos os homens, todas as raças
              e povos.
              
               Direitos
              Humanos são naturais, essenciais a pessoa humana, mesmo na ausência
              de tinia legislação específica. Se existo, tenho direitos.
              
               Os
              Direitos Humanos são históricos, mudam com os tempos, porém
              permanecem dinâmicos. São também indivisíveis e
              interdependentes, não se pode defender apenas alguns direitos, em
              detrimento de outros.
              
               Acreditamos
              que o ensinos dos Direitos Humanos pode contribuir para a construção
              de uma sociedade mais justa e democrática, para criar um
              verdadeiro cidadão.
              
               Os
              primeiros anos de escola são fundamentais para a formação do
              cidadão. Neste período devem ser inculcadas nos alunos as
              sementes da noção de cidadania, de respeito ao outro, de
              colaboração e espírito de equipe.
              
               Podemos
              ensinar Direitos Humanos desde o jardim de infância, nas
              brincadeiras compartilhada por muitos, respeitando a atuação dos
              companheiros; na generosidade de um empréstimo, por exemplo: de
              um lápis ou de uma borracha, no cuidado com a limpeza da classe,
              respeitando o Bem Comum.
              
               Criando
              novas práticas sociais, de cooperação, tolerância, respeito à
              dignidade de cada um, estaremos construindo uma sociedade melhor.
              
               Nos
              1º e 2º graus, a Educação em Direitos Humanos deve permear
              todas as matérias do currículo. Através de uma educação
              transversal, por exemplo, é possível exemplos que evidenciem
              injustiças, como na escravidão, e na exploração dos mais
              fracos, dos recursos naturais em benefício de apenas de alguns.
              
               Os
              direitos humanos, contudo devem ser vividos 24 horas por dia, nos
              pequenos e grandes atos do cotidiano.. Não se pode dizer: agora,
              entre 9 e 10 horas é hora dos Direitos Humanos.
              
               Direitos
              Humanos são um ESTADO DE ESPIRITO. que introjetados .devem
              tornar-se parte intrínseca da pessoa. A educação em direitos
              humanos deve transformar as mentes e os corações.
              
               Ela
              objetiva formar o indivíduo para ser sujeito de sua própria história,
              e. como tal, um verdadeiro cidadão, apto a participar da construção
              de uma sociedade democrática, solidária, livre e igualitária.
              
               Educação
              em Direitos Humanos é tomar consciência dos direitos e deveres
              de cada um. de que todos somos iguais, detentores dos mesmos
              direitos, independentemente de sexo, religião e cultura.
              
               Os
              Direitos Humanos são universais. indivisíveis, e inerentes á própria
              pessoa humana.
              
               Educação
              em Direitos Humanos é, antes de tudo, educar-nos a nós mesmos,
              dizia o grande mestre Paulo Freire, sejam ou não professores,
              jovens ou velhos”.
              
               Direitos
              humanos e democracia são valores indivisíveis, que necessitam não
              somente de informação, mas de uma prática, de uma vívencia, da
              consciência de que o outro tem os mesmos direitos, e que. como
              bem disse o Evangelho: ama a teu próximo Como a ti
              mesmo. são os caminhos para construir a paz
              
               Não
              bastam leis bem elaboradas, belas Constituições, se os cidadãos
              não têm consciência de que possuem obrigações para com a
              sociedade. se não sabem o que é seu cidadão e se desconhecem os
              seus direitos e deveres.
              
               Direitos
              sempre fizeram parte do homem. Mas, através da história sua
              conscientização foi evoluindo.
              
               Foi
              depois da 2ª Guerra Mundial, quando o mundo, chocado com o genocídio
              dos judeus e as barbaridades cometidas nos campos de concentração.
              lançou em 10 de dezembro de 1948. a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
              DIREITOS HUMANOS, que passou a ser a carta de princípios para
              todos os países do mundo.
              
               A
              Declaração, seguiram-se numerosos Pactos. Tratados. Convenções,
              abordando os mais variados problemas.
              
               A
              pedagoga Vera Candau. por meio de uma metodologia desenvolvida na
              prática de oficinas pedagógicas, incita os participantes a
              confrontar a sua prática cotidiana com as questões que envolvem
              a problemática atual dos Direitos Humanos no Brasil e na América
              Latina. “As oficinas objetivam a conscientização e a dimensão
              ética, visando construir sociedades democráticas, justas, solidárias
              e fraternas.” Atividades com a participação de todos, vivência
              de sociodramas, leitura e discussão de textos, análise de fatos,
              depoimentos, realização de vídeos e debates são os métodos
              utilizados.
              
               A
              Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos. fundada em
              1995. e urna entidade suprapartidária. supra-religiosa e sem fins
              lucratívos. Ela foi inspirada nas orientações dos professores
              Paulo Freire e Perez Aguirre (do Uruguai). e quer ser um espaço
              de encontro, reflexão, coordenação. apoio. intercâmbio. e de
              reunião entre aqueles que aspiram por uma sociedade mais justa.
              mais democrática.
              
               Através
              de uma pedagogia libertadora, a Rede procura transmitir uma consciência
              social, formar um cidadão responsável que vai atuar no seu
              contexto social.
              
               Organizamos
              durante todos estes anos vários cursos de Educação em Direitos
              Humanos, quase sempre para professores, que são os
              multiplicadores por excelência.
              
               Os
              cursos são adaptados ao público alvo, mas têm tini programa básico,
              uma coluna vertebral que mostrou ser eficiente.
              
               Partimos
              da dignidade da pessoa humana. Cada um de nós é um ser étnico,
              insubstituível, diferente de todos os outros seres humanos do
              planeta. Cada um de nós nasce com direitos, iguais, universais,
              indivisíveis. Estes direitos nos impõem deveres, respeito aos
              direitos dos outros, aceitação do diferente.
              
               A
              intenção de educar em Direitos Humanos é a de construir uma
              escola na qual os seus integrantes conheçam os direitos seus e os
              dos outros. Em que o outro, por ser diferente, possa ser
              complemento ou talvez opositor; porém, nunca inimigo, na qual a
              vida dos outros seja, por princípio, tão valiosa quanto a minha.
              
               Cada
              pessoa deve ser considerada como um ser único porque nela habita
              o universal. Assim, a dignidade da pessoa humana é um valor
              supremo, que engloba todos os direitos fundamentais do homem.
              
               Sensibilizar
              é () primeiro passo da Educação em Direitos Humanos. buscando o
              sentido mais profundo dessas palavras, acompanhando o educando
              para que cada um encontre seus próprios sistemas de valores e
              canalize suas energias para metas mais solidárias, ajudando-o a
              sair do seu próprio egoísmo.
              
               O
              primeiro e mais absoluto dos Direitos Humanos é a defesa, o
              cuidado e o respeito à vida. Ser cidadão significa ter acesso
              pleno a todos os direitos individuais, políticos, sociais, econômicos
              e culturais. Há portanto uma estreita ligação entre cidadania e
              os Direitos Humanos.
              
               O
              primeiro Direito Humano é o Direito de ter Direitos”, já dizia
              Hanna Arendt. Eles são intrínsecos á natureza humana
              
                
              
               Se
              existo, tenho Direitos!
              
                
              
               Após
              a sensibilização. explicamos quais são os diferentes direitos.
              Abordamos o histórico dos Direitos Humanos, sua evolução através
              dos tempos. Em seguida, realizamos uma aula sobre a Constituição
              e de corno são organizados os três Poderes no Brasil.
              
               Passamos
              a tratar da realidade brasileira: comentando a mentalidade autoritária,
              o escravismo, a concentração de rendas e as desigualdades que
              caracterizam nosso país. Abordamos os preconceitos contra
              mulheres, negros. índios, e outras minorias.
              
               Ressaltamos
              a necessidade de praticas a tolerância, a aceitação do
              diferente, o respeito ao outro e a solidariedade.
              
               Como
              conseqüência dos direitos, discutimos a responsabilidade da
              participação social, e orientamos sobre os caminhos para buscar
              os direitos de cada um. os canais de defesa do cidadão e o papel
              dos meios de comunicação.
              
               Finalmente.
              diante deste quadro, mencionamos quais são os maiores desafios à
              superação das desigualdades. da impunidade, corrupção. violência,
              egoísmo e da indiferença.
              
               Deixamos
              sempre espaços para discussão de problemas específicos do grupo
              a quem nos dirigimos como por exemplo: drogas, violência contra
              mulheres e meninas, prevenção da gravidez de menores e
              adolescentes, etc.
              
               Finalmente,
              encerramos com práticas de ensino de direitos humanos, sempre com
              a preocupação de mostrar que Educação em Direitos Humanos não
              se faz com palavras, nem belos discursos, mas principalmente com a
              vivência, com a prática. com o exemplo, nos pequenos atos da
              vida cotidiana.
              
               As
              aulas devem pretender-se menos expositivas e mais participativas.
              com a utilização de técnicas de dinâmica de grupo, pesquisas,
              projeção de vídeos e filmes, visitas a obras, delegacias, prisões,
              etc.
              
               A
              Educação cm Direitos Humanos é atualmente
              bastante difundida. Por toda a América Latina várias ONG
              ‘s pesquisam novos métodos, didáticas apropriadas e
              sistematizam rica bibliografia sobre o assunto. Na Inglaterra, a
              Educação em Direitos Humanos é obrigatória nos cursos primários
              e secundários.
              
               Insistimos
              que a Educação em Direitos Humanos não se aprende em livros,
              eles apenas podem ajudar, inspirar, motivar. Ela tem que ser,
              antes de tudo, introjetada e ensinada através de todos os atos
              vivenciados, em todas as matérias, gestos e atitudes.
              
               Precisamos
              criar uma cultura de Direitos Humanos, só assim viveremos uma
              sociedade mais justa, que é a base da paz verdadeira.
              
                (NOV 2001)
               
                
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