Lançamento do PNDH 2
Discurso
do Secretario de Estado dos Direitos Humanos,
Paulo Sérgio Pinheiro
Senhor
Presidente,
Permita-me
fazer uma saudação especial ao Ministro da Justiça, Miguel Reale Jr.,
por ser a primeira solenidade aqui na qual estamos juntos, para dizer da
minha enorme satisfação de graças a V. Exa. podermos estar de novo
tão próximo para colaborarmos para a promoção de direitos humanos.
Às vezes tenho a sensação que Franco Montoro onde quer que esteja
continua sendo o imã que a todos imanta.
No
dia de hoje, nossos pensamentos se voltam para o tardio processo de
abolição da escravatura no Brasil. Seu legado ainda marca pesadamente
o cotidiano dos irmãos e irmãs afrodescendentes, ainda afetados pelo
racismo estrutural e pela desigualdade. Mas o Brasil é hoje um dos
raros países que está se esforçando por implementar a declaração e
o programa de ação de Durban que ajudamos a construir. Essa luta
aprofunda, para usar uma expressão cunhada por Vossa Excelência, a
radicalização da democracia. Temos hoje a oportunidade de dar passos
importantes nessa direção.
Estamos,
em primeiro lugar, entregando oficialmente à sociedade brasileira o
Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH II. Decorridos seis anos
do lançamento do programa original, em 1996.
As
518 metas estabelecidas no PNDH II resultam de um abrangente processo de
consulta à sociedade civil. O programa que Vossa Excelência institui
hoje por meio de decreto representa o maior esforço coletivo, reunindo
governo e sociedade civil, de que se tem notícia no país para a
formulação de políticas públicas no campo dos direitos humanos.
Dessa forma conseguimos ultrapassar a habilidade limitada de fixar
objetivos em longo prazo: o PNDH II vai além do imediato e prolonga os
compromissos atuais para o futuro.
A
mobilização gerada pela preparação do PNDH II estimulou a
construção da proposta de reforma do Poder Judiciário, na qual se
inclui, entre outras medidas destinadas a agilizar o processamento dos
responsáveis por violações, a chamada "federalização" dos
crimes de direitos humanos. A aprovação da reforma do Judiciário
constitui um das principais metas do PNDH II no campo da garantia do
direito à justiça.
Quero
agradecer a todos os que contribuíram para a consolidação das
propostas do PNDH II, especialmente à Professora Flavia Piovesan, da
PUC-SP, membro do CDDPH e ao Professor Paulo Mesquita Neto, que atuaram
como consultores da Secretaria de Estado nesse projeto e a meus colegas
Assessores da Secretaria, Conselheiro Marcos Pinta Gama e Marcus Lemos.
O
novo programa expande as metas do PNDH original no campo dos direitos
civis e políticos, e, atendendo a justa reivindicação da sociedade
civil, incorpora os direitos econômicos, sociais e culturais.
O
PNDH II reforça as medidas de combate à discriminação contra os
grupos mais vulneráveis da sociedade. Novas metas foram estabelecidas
para promover os direitos das crianças e adolescentes, das mulheres,
dos idosos, das pessoas portadoras de deficiência, dos
afrodescendentes, dos povos indígenas, dos ciganos, dos homossexuais e
dos estrangeiros, migrantes e refugiados.
O
PNDH II representa a vanguarda do pensamento do governo de V. Exa e da
sociedade brasileira no campo da proteção e promoção dos direitos
humanos.O acompanhamento e o monitoramento das ações contempladas no
PNDH II se fundamentam na relação estratégica entre a implementação
do programa e a elaboração das leis orçamentárias anuais. O PNDH II
passa a ser implementado por meio de planos de ação anuais, os quais
definirão as medidas a serem adotadas, os recursos orçamentários
destinados a financiá-las e os órgãos responsáveis por sua
execução. O Plano de Ação 2002 está sendo distribuído juntamente
com a versão atualizada do Programa Nacional.
Senhor
Presidente,
Hoje
apresentamos também à sociedade brasileira duas publicações de
grande relevância para a proteção e promoção dos direitos humanos
no país.
A
primeira delas, sobre a segurança alimentar e o direito à
alimentação no Brasil, sob a coordenação do IPEA. O documento
retrata a riqueza do debate interno sobre a questão da fome e do
direito à alimentação no Brasil, que remonta aos estudos e à obra de
Josué de Castro. Apresenta um diagnóstico da situação brasileira
nesse campo, assim como um repertório das ações governamentais
destinadas a operacionalizar o direito à alimentação, com indicação
de "boas práticas" em cada uma das áreas consideradas.
A
segunda publicação, intitulada "Combate ao Trabalho Forçado no
Brasil", foi produzida pelo Ministério da Justiça, por meio da
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, em parceria com o Ministério
do Trabalho e Emprego e sua Secretaria de Inspeção do Trabalho.
Ressalto a contribuição nesse trabalho do Professor José de Souza
Martins, meu colega (e também de Vossa Excelência e seu antigo aluno)
da Universidade de São Paulo, sem nenhum favor um dos mais eminentes
sociólogos contemporâneos, referência de dignidade acadêmica
impecável e por quem tenho grande estima e respeito intelectual.
O
documento contextualiza o surgimento da escravidão por dívida no
Brasil e registra as iniciativas adotadas pelo governo federal.
Reconhece a persistência de formas servis de trabalho no Brasil, e
mostra o empenho governamental na adoção, desde 1995, de medidas e
providências com vistas a aperfeiçoar os mecanismos de intervenção,
repressão e punição do trabalho forçado ou escravo. Desde a
criação em 1995 do GERTRAF e do Grupo de Fiscalização Móvel, do
Ministério do Trabalho, até as mais recentes, como a comissão
especial, no âmbito do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, o CDDPH, para a prevenção e repressão à violência no campo,
à exploração do trabalho forçado e escravo e à exploração do
trabalho infantil.
Outras
propostas mencionadas no documento são a expropriação de
proprietários de terras escravocratas em pleno século XXI, onde se
registra trabalho forçado ou a revisão do artigo do Código Penal
Brasileiro que tipifica esse crime, por orientação específica do
Ministro Miguel Reale Jr. Essas medidas contribuirão, assim que
implementadas, para erradicar em definitivo, e em todo o território
nacional, essas formas criminosas de exploração do trabalho.
Não
podemos pretender promover o trabalho decente sem erradicar-se ao mesmo
tempo trabalho infantil e o trabalho escravo. Na semana passada ao
participar da Sessão Especial da Assembléia Geral da ONU sobre a
Criança em New York lembrava V.Exa. ao dizer que eliminar aquelas
formas de exploração iníqua do trabalho é requisito da dignidade
nacional
Este
13 de maio marca também a inauguração de uma campanha nacional para a
promoção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência,
organizada pela Secretaria de Estado dos Direitos Humanos com o apoio da
Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Os spots
publicitários que veremos a seguir valorizam a pessoa do atleta
portador de deficiência, cujas habilidades e coragem servem de exemplo
para todos aqueles no Brasil que lutam contra preconceito.
Senhor
Presidente,
O
governo federal e a Secretaria de Estado de Direitos Humanos não
compactuam nem toleram nenhuma violação de direitos humanos nem
protegem perpetradores desses crimes. Durante todo seu governo o
Conselho de Defesa de Direitos da Pessoa Humana, o CDDPH, a mais antiga
comissão de direitos humanos das Américas, criado que foi em 1964 pelo
Presidente João Goulart, com alargada presença da sociedade civil e de
membros Congresso Nacional, governo e oposição, tem sido o fórum
privilegiado da política de direitos humanos do governo federal. Esse
CDDPH, que V.Exa. tão bem conhece a importância pois dele foi membro,
na Comissão Especial contra a tortura, no Conselho Nacional contra a
Discriminação, denúncias são ouvidas, governantes prestam
informações e ações legais de responsabilização dos culpados por
crimes contra os direitos e reparação do direito das vítimas são
iniciadas.
Temos
também contribuído para a busca de soluções, as quais, numa
federação caracterizada por nítida descentralização e separação
de poderes, os governos estaduais têm uma responsabilidade subsidiária
com o governo federal. Nesse sentido foram assinados em abril acordos
padrão de todos os estados com a Secretaria de Estado para assegurar a
cooperação na área da proteção dos direitos humanos.
A
transparência e a postura pró-ativa na área de direitos humanos na
comunidade internacional constituem uma marca de nosso país nos foros
internacionais - que a presença de meu querido amigo Celso Lafer no
Itamaraty confirma e aprofunda.
Na
última reunião da Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra em
que intervim pelo Brasil lembrei os compromissos sempre reafirmados por
Vossa Excelência a prevalência dos direitos humanos e da construção
do desenvolvimento na luta contra o terrorismo e a urgência de uma
globalização solidária, com incorporação da dimensão de justiça.
Ali informei que, depois de reunir-me em Washington, com a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, estamos iniciando, por orientação
de Vossa Excelência um complexo processo de negociação para
soluções amistosas para casos de violações de direitos humanos no
Brasil submetidos aquela Comissão.
Melhor
que ninguém Vossa Excelência sabe que a política, como queria
Plutarco, é uma longa viagem sem fim. Assim é a luta pelos direitos
humanos, onde não há porto final, construída a cada dia a vitória
contra as violações e a impunidade. Resta-nos apenas continuar
trabalhando, sob a orientação e o apoio generoso de Vossa Excelência,
para que os direitos humanos continuem sendo o fundamento essencial do
bom governo.
Muito
obrigado.