Biografia
NILMÁRIO MIRANDA
O nome de Nilmário Miranda é hoje
uma referência importante no movimento de defesa e
desenvolvimento dos direitos humanos no Brasil. Deputado federal
pelo PT de Minas Gerais, exerce seu terceiro mandato consecutivo,
depois de ter sido deputado estadual no seu Estado. Nilmário
preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,
cuja criação ele mesmo propôs e foi seu primeiro presidente, em
1995.
Não foi fácil criar uma Comissão
de Direitos Humanos no Congresso Nacional. Tanto a Câmara dos
Deputados quanto o Senado Federal já haviam recusado em várias
oportunidades propostas nesse sentido. Ao apresentou seu
requerimento para instalar a Comissão, entretanto, Nilmário já
havia percorrido um bem-sucedido caminho na luta parlamentar em
prol dos direitos humanos, um fator que, associado à circunstância
do crescimento da organização social por esses direitos,
transformou a idéia numa realidade. Hoje a Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados está consolidada como organismo
atuante e respeitado, caracterizado pela atuação corajosa mas
equilibrada, eficaz e pluralista, vocacionada para as parcerias
com a sociedade civil e outras instituições do Estado. A militância
de Nilmário na Comissão de Direitos Humanos, quer como seu
fundador e presidente por dois períodos, quer como membro
permanente, contribuiu efetivamente para que esse órgão do
Congresso Nacional conquistasse seu espaço e prestígio que detém
hoje.
A trajetória de Nilmário Miranda
começa em Belo Horizonte, onde nasceu em 1947, filho de Oldack
Caetano de Miranda e Nelly Dapieve de Miranda. Com os pais começou
seu aprendizado de amor à solidariedade, a compreender a importância
da participação política e o significado da lealdade aos
valores humanos universais. Viveu sua infância em Teófilo Otoni,
na região nordeste do Estado de Minas Gerais, acompanhando a família
que ali trabalhou por muitos anos no restaurante popular que possuía.
Essa experiência iniciou Nilmário numa outra paixão que ele
passou a cultivar mais tarde, primeiro movido pela necessidade do
cárcere, depois como um prazer em meio à família e aos: a culinária.
Uma de suas especialidades é criar pratos sutis a partir do que
houver disponível na geladeira, seja o que for.
Casado com Stael Luíza Rocha de
Santana e pai de Vítor, Renata e Fernanda, Nilmário cultiva uma
amorosa relação familiar. Para ele, harmonizar a extensa agenda
de homem público com a convivência com a esposa e os filhos é
um exercício cotidiano que mistura dever e prazer. A intensa
amizade com os filhos permitiu que os três jovens absorvessem os
valores humanos transmitidos por Stael e Nilmário, sendo hoje
cidadãos estruturados e felizes.
Os vínculos estreitos com a família
são legado que Nilmário recebeu de seus pais. E foi motivado
pelas idéias que recolhia no seio familiar, nas leituras e no
inconformismo diante das desigualdades sociais e do sistema de arbítrio
instalado pelo regime militar, ainda bem jovem Nilmário abraçou
o sonho socialista, participando, nas décadas de 60 e 70,
primeiro do movimento pelas reformas de base em Teófilo Otoni e,
depois, do movimento estudantil em Belo Horizonte. Militante de um
dos grupos políticos proscritos nos anos de chumbo, a POLOP,
conheceu a amarga experiência da prisão política por três anos
e meio e teve seus direitos políticos cassados por cinco anos. Ao
ser libertado, no final dos anos 70, não hesitou em retornar à
militância, passando a desempenhar um papel de liderança na
construção do movimento popular e sindical na região industrial
da Grande Belo Horizonte. Junto com outros companheiros, criou e
dirigiu o Jornal dos Bairros, um instrumento de mobilização de
comunidades pobres em torno de direitos como o acesso à moradia,
ao saneamento e outros serviços públicos. Nessa ocasião, ajudou
a criar o embrião de um movimento nacional de desenvolvimento
urbano.
Formou-se em Jornalismo na
tradicional Universidade Federal de Minas Gerais, em 1979, tendo
trabalhado como jornalista no Sindicato dos Bancários de Minas
Gerais e no Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, associando a
atuação profissional à militância política e social. Em 1980,
faz pós-graduação em Ciência Política na Universidade Federal
de Minas Gerais e, em 1982, conclui, no CIESPAL, do Equador, o
curso de especialização em Comunicação Popular. Entre 1983 e
1985, Nilmário trabalha como chefe de gabinete do Partido dos
Trabalhadores na Assembléia Legislativa de Minas Gerais.
O projeto de criação do Partido
dos Trabalhadores, na esteira da mobilização operária ocorrida
a partir do final dos anos 70, com a participação de
intelectuais e religiosos progressistas, contou desde o primeiro
momento com um Nilmário entusiasmado, dotado de grande capacidade
de trabalho e articulação. Virtudes que ele empregou na função
de secretário de Organização da seção mineira do PT, de 1983
a 1985, depois como secretário-geral da agremiação. Foi um período
em que Nilmário percorreu o vasto interior de seu Estado,
prestando uma reconhecida contribuição para a aglutinação e
capacitação de novos militantes do PT, o que emprestou ao
partido uma feição socialmente mais ampla e humanamente mais
rica.
Num dos momentos históricos memoráveis
da cidadania brasileira, a retomada da ordem democrática e a
intensa mobilização social que culminaram nas constituintes
nacional e estaduais, Nilmário é eleito, em 1986, deputado
estadual constituinte. Na Assembléia Legislativa de Minas Gerais,
destaca-se pela sua atuação, tendo sido líder da Bancada do PT
em 1989, e prestado relevante contribuição na elaboração da
Constituição do Estado, inclusive como presidente da Comissão
de Ciência e Tecnologia e integrante da Comissão de Defesa do
Meio Ambiente. Nessa época, Nilmário Miranda também foi membro
da Executiva Estadual e do Diretório Nacional de sua agremiação.
Em 1990, Nilmário Miranda é
eleito pela primeira vez deputado federal, sendo reeleito em 1994
e 1998 com votação sempre crescente. Embora tenha se destacado
na Câmara dos Deputados sobretudo por sua atuação em direitos
humanos, ao longo destes três mandatos parlamentares teve
participação significativa no processo de impeachment do
ex-presidente Fernando Collor e na CPI do Orçamento. Ao lado dos
movimentos populares, participou da coleta de assinaturas para o
primeiro Projeto de Lei de Iniciativa Popular apresentado à Câmara
dos Deputados, do qual se tornou o patrono por indicação das
entidades. O projeto cria o Conselho e o Fundo Nacional pela
Moradia Popular. Atuou em defesa de uma política urbana destinada
a assegurar a universalização do direito à moradia e mais
qualidade de vida para o povo.
Foi vice-presidente da Comissão
de Viação e Transportes, Desenvolvimento Urbano e Interior da Câmara;
integrou diversas outras comissões permanentes e temporárias;
foi vice-líder do PT em duas ocasiões e ocupou outras
importantes funções na direção nacional e estadual de seu
partido, inclusive a de secretário nacional de Direitos Humanos.
Por quatro anos consecutivos tem sido apontado como um dos
"Cabeças do Congresso Nacional" em pesquisa anual
publicada pelo Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar - O DIAP - que congrega mais de 900 entidades
sindicais de trabalhadores.
A trajetória do deputado Nilmário
Miranda no Congresso Nacional se confunde com o próprio processo
de afirmação dos direitos humanos no Poder Legislativo
brasileiro. Ao lado de outros parlamentares atuantes na área,
como o deputado Hélio Bicudo e a deputada Rita Camata, que
participaram de comissões temporárias para investigar temas
importantes de direitos humanos, criam as condições para que a Câmara
dos Deputados instale uma Comissão permanente específica para os
Direitos Humanos. No começo dos anos 90, Nilmário propõe a criação
e preside a Comissão Especial Externa sobre os Desaparecidos Políticos.
Os trabalhos dessa Comissão, conduzidos pelo deputado, foram
essenciais no processo que culminou na aprovação da Lei 9.140,
em 1995, estabelendo as condições para a reparação moral das
pessoas mortas por motivos políticos, bem como a indenização
financeira a seus familiares.
Posteriormente, representando a
Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Nilmário Miranda
integrou a Comissão Especial do Ministério da Justiça que
analisou os processos sobre os desaparecidos. Nela, lutou para que
prevalecesse uma interpretação menos restritiva da lei,
possibilitando a inclusão sem vetos de diversos militantes políticos
que deram sua vida por um ideal de igualdade e democracia. Por
ocasião do 20º aniversário da Lei da Anistia Política,
comemorado em agosto deste ano, Nilmário Miranda lançou o livro
Dos filhos deste solo. Escrito em parceria com o jornalista Carlos
Tibúrcio, o livro registra em 650 páginas a história de cada um
dos mortos e desaparecidos políticos que emergiu dos trabalhos da
Comissão Especial do Ministério da Justiça, constituindo-se
numa fonte preciosa de pesquisa de um período de nossa história
política recente.
A preocupação com o
restabelecimento da verdade histórica dos anos de chumbo levou
Nilmário a empenhar-se num outro objetivo agora perto de ser
alcançado: a reabertura das investigações sobre o caso
Riocentro - o maior atentado político de nossa história recente,
que colocou em risco a vida de nove mil pessoas, em 1980. Depois
de realizar uma série de audiências com testemunhas ignoradas à
época, Nilmário reuniu elementos suficientes para convencer o
Ministério Público Militar a reabrir o caso.
Mas Nilmário não limitou sua atuação
nos direitos humanos ao resgate da verdade histórica obscurecida
até hoje pela ditadura militar. Pelo contrário, talvez sua
contribuição mais marcante para o movimento pelos direitos
humanos tenha sido no sentido da incorporação de novos temas, de
empenhar-se em favor dos direitos dos setores mais excluídos e
vitimizados por violações de seus direitos fundamentais. Isso se
traduziu em inúmeras atividades por ele promovidas e
incentivadas, dentro e fora do Congresso Nacional, em favor dos
direitos da mulher, da criança e do adolescente, do negro, das
populações indígenas, das minorias étnicas, homossexuais.
Atuou com prontidão e eficiência contra a impunidade nos
massacres de trabalhadores sem-terra ocorridos em Eldorado do
Carajás e Corumbiara e nos episódios de violência policial
contra pessoas pobres.
Para se dimensionar o crescimento
institucional dos direitos humanos, no qual Nilmário participou tão
destacadamente, é importante mencionar que, quando a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados foi instalada, em 1995,
só havia organismos assemelhados em três Assembléias
Legislativas no país. Hoje elas estão funcionamento em 25
unidades da Federação. Foi de Nilmário a iniciativa de criar o
Fórum Legislativo Nacional de Direitos Humanos, que possibilitou
uma grande interação e estímulo à criação de novas comissões
nos estados e municípios. Mesmo cobrado por ficar muito tempo
fora de seu Estado, Nilmário tem percorrido todo o Brasil fazendo
palestras, debates, participando de diligências e outras
atividades que têm contribuído para difundir e organizar a ação
em torno dos direitos humanos. Outra iniciativa de Nilmário que
contribuiu para disseminar e unir o movimento pelos direitos
humanos foi a Conferência Nacional de Direitos Humanos, que já
realizou quatro edições anuais bem-sucedidas, com a participação,
em cada uma delas, de mais de 300 entidades e 600 pessoas. Esses
eventos, já consolidados como os mais representativos da área no
Brasil, apresentaram conjunto de propostas ao Programa Nacional de
Direitos Humanos, lançado pelo presidente da República Fernando
Henrique Cardoso, em 1996, e para sua posterior implementação,
além da criação de programas estaduais de direitos humanos. No
que diz respeito à produção de novas leis, a Comissão
presidida por Nilmário desempenhou função relevante na aprovação
de várias leis recentes, como a que tipificou o crime de tortura,
aprovou o Estatuto dos Refugiados e criou o programa de proteção
a testemunhas e vítimas de crimes.
Na área externa, Nilmário tem se
esforçado na busca de uma aproximação com outras organizações
de direitos humanos de outros países. Um projeto iniciado em
1995, quando esteve na Costa Rica, participando da III Reunião da
Comissão Interparlamentar de Direitos Humanos, e na República
Dominicana, em reunião da Comissão de Direitos Humanos do
PARLATINO. Nesses encontros, estabeleceu frutífera cooperação
com seus colegas latinoamericanos, tendo resultado na visita ao
Brasil de diversos especialistas em direitos humanos dos Estados
Unidos, Canadá, México, Argentina, Chile, Inglaterra, França,
Holanda, que revelaram suas experiências exitosas não só aos
membros da Comissão de Direitos Humanos da Câmara como a
representantes de outras organizações. Em 1998, Nilmário, na
condição de membro da Comissão de Direitos Humanos do PARLATINO,
visitou presídios de nove países da América Latina, os
detentores das melhores e das mais indignas condições,
suscitando idéias para atuação no Brasil e um relatório
encaminhado a instituições internacionais, como a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos.
Esforçou-se sempre em imprimir ao
trabalho da Comissão a universalidade que caracteriza os direitos
humanos. Nessa linha, tem sido uma das vozes mais presentes no país
em defesa da paz mundial e da solidariedade para com os povos de
outros países. Desde anos atrás, quando poucos se importavam com
a tragédia de Timor Leste, já estava o Nilmário sensibilizando
seus colegas para a questão, ajudando a criar a Frente
Parlamentar de Solidariedade àquele país. A cada guerra ou
perseguição étnica ou política, inclusive contra os povos mais
esquecidos, como os africanos, o presidente da Comissão de
Direitos Humanos tem desempenhado um papel vigoroso na mobilização
da Câmara dos Deputados, entidades da sociedade civil e
organismos internacionais para expressar a solidariedade e a
disposição do povo brasileiro de boa-vontade em ajudar de uma
forma adequada. Por ocasião da visita ao Brasil do líder
espiritual e político do Tibet, Nilmário, ao contrário de
muitos homens públicos, não hesitou em preparar uma bela
homenagem ao Dalai Lama, realizada no Salão Negro do Congresso
Nacional. Igualmente, quando se acirraram os conflitos internos na
Colômbia, a primeira instituição pública brasileira a assumir
uma iniciativa solidária foi a Comissão de Direitos Humanos,
cujo presidente coordenou uma subcomissão que deslocou-se para o
país vizinho, além de ter recebido em audiências públicas no
Brasil o vice-presidente da República e ativistas de direitos
humanos daquele país, entre outros movimentos úteis no sentido
buscar uma participação mais importante do Brasil na busca da
paz, descartando apoio a propostas descabidas de intervenção na
Colômbia.
Outra característica fundamental
dos direitos humanos - que é a sua indissociabilidade - também
tem sido valorizada pelo presidente da Comissão de Direitos
Humanos. Ele foi um dos que liderou o movimento, ora em curso, de
colocar na agenda política e do movimento dos direitos humanos, a
dimensão econômica, social e cultural desses direitos, sem
exclusão e sim com associação, da dimensão mais conhecida e
trabalhada, que é a dos direitos civis e políticos.
A universalidade e a
indissociabilidade dos direitos humanos tem sido cultivada no
cotidiano por Nilmário Miranda. Tem como princípio situar os
direitos humanos acima de fronteiras de qualquer espécie, sejam
ideológicas, políticas, espirituais ou quaisquer outras.
Provavelmente resultaram dessas virtudes e da grandiosidade de sua
contribuição pública, Nilmário Miranda foi distinguido com a
Medalha da Ordem do Mérito Legislativo, da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais; a Medalha de Honra ao Mérito
Tiradentes pela Polícia Militar do Estado de Minas Gerais; a
Medalha de Mérito Santos Dumont pelo Governo do Estado de Minas
Gerais e uma Menção Honrosa do Prêmio Franz de Castro Holzwarth
de Direitos Humanos, da OAB de São Paulo. Em 21 de abril de 1999,
Nilmário recebeu, em Ouro Preto, a Grande Medalha da Inconfidência,
principal comenda do Estado de Minas Gerais.
Um traço típico de Nilmário
é sua capacidade de identificar interfaces e promover a soma de
diferentes atores na luta pelos direitos humanos, um traço que não
só enobrece sua alma como tem agregado eficiência à sua militância.
Sua condição de parlamentar de oposição ao Governo Federal,
que ele sustenta convicto, não lhe tem impedido de suscitar
parcerias com órgãos de direitos humanos do Poder Executivo e
manter uma convivência cordial e produtiva com seus
representantes. Ele é membro atuante do Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana, do Ministério da Justiça, o principal
organismo do Poder Executivo na área, tendo acumulado uma extensa
relação de serviços prestados naquele forum. Também atua em
cooperação com outras instituições de âmbito estadual onde
haja espaço para a cooperação no sentido da afirmação dos
direitos humanos. Enfim, para Nilmário Miranda, se a causa é
sincera em defesa dos direitos humanos, ele quer ser seu parceiro,
seja você quem for.
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