PROPOSTAS
PARA MUDAR A POLÍCIA
(Folha
de São Paulo, 27.7.1999)
Benedito Domingos Mariano
Um órgão de
fiscalização autônoma e independente da atividade policial tem
o dever de mostrar ao governo e, em particular, à sociedade que,
além de encaminhar denúncias e acompanhá-las com rigor, também
prioriza propor alternativas para diminuir deficiências
estruturais que a Ouvidoria torna públicas. As principais
propostas da Ouvidoria são:
1)
Fortalecer, dar competência estadual e estudar a
possibilidade de criação de carreira própria para órgãos
corregedores das polícias, garantindo inamobilidade e mandato
para os corregedores.
2)
Mudar o Regulamento Disciplinar da PM, eliminando cerca de
40 transgressões que não se coadunam com o Estado Democrático
de Direito, extinguindo prisões administrativas, exceto quando
houver indícios de crime, compatibilizando disciplina e
hierarquia com democracia e auto-estima.
3)
Indenizar as vítimas de violência policial, por meio de
um termo de cooperação entre a Ouvidoria da Polícia e a
Procuradoria Geral do Estado, acelerando os processos dos casos em
que comprovadamente tenha havido violência policial.
4)
Disciplina permanente de direitos humanos nas academias de
polícia.
5)
Estudar a possibilidade de, a curto
ou médio prazos, descarac9terizar 80% dos carros da Polícia
Civil e fortalecer a investigação científica.
6)
Estudar a possibilidade de diminuir o número de patentes
da Polícia Militar, que hoje são 12, para, no máximo, 6,
visando a diminuir a distância entre oficiais e praças.
7)
Não utilizar armas de fogo em reintegrações de posse,
greves e outros eventos com multidões.
8)
Implementar o Programa de Saúde Mental da PM, com grupos
de psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais nos batalhões,
de acordo com o projeto de lei já sancionado.
9)
Estudar a possibilidade de criação de um único órgão
de informação e inteligência, sob controle do Executivo, com
regimento interno único, voltado exclusivamente para o combate ao
crime organizado e para prevenir e inibir a prática de delitos
cometidos por agentes do Estado e subsidiar o planejamento estratégico
da ação policial.
10)
Buscar alternativas, como pagamento de horas extras, para
evitar os bicos dos policiais (cerca de 70% das mortes de
policiais militares ocorrem nas folgas.
11)
Unificar progressivamente as academias e escolas e
estabelecer convênios com universidades para a formação em
determinados temas.
12)
Criar mecanismos ágeis que garantam rapidez no julgamento
de processos administrativos e disciplinares sumários –
Conselho de Disciplina ou de Justificação – de policiais que
cometeram delitos e que impeçam que eles, no curso do processo,
exerçam funções de polícia.
13)
Estudar a possibilidade de diminuir a distância entre o
maior e o menor salário dos policiais (hoje em torno de dez
vezes), estabelecendo piso mínimo e máximo, com diferença entre
eles não maior do que quatro vezes.
O governo do
Estado pode considerar as propostas ou não. Algumas foram
aceitas. Sua natureza essencial está no campo das recomendações.
O fato é que é necessário mudar a polícia, e as Ouvidorias
querem dar sua contribuição para as mudanças estruturais que a
sociedade espera e almeja.
Nesse contexto,
representa um grande avanço o decreto do presidente da República,
de 1º de junho de 1999, que criou o Fórum Nacional de Ouvidores
de Polícia, que tem como finalidade oferecer sugestões, em caráter
nacional, voltadas para o aperfeiçoamento institucional dos órgãos
policiais e para estimular a criação de novas Ouvidorias, que
hoje já funcionam em quatro Estados e estão em processo de
implantação em oito.
Uma atividade
policial pautada pela legalidade, transparência, eficiência e prática
dos valores democráticos deve ser símbolo da polícia cidadã.
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