Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Prêmio ao humanismo
e a Justiça
O Governador do Estado do Espírito
Santo sancionou a lei que cria o Prêmio
Dom Luís Gonzaga Fernandes. O ato oficial,
pelo seu significado ético, transpõe
os limites estaduais, como se verá no correr
deste texto.
Atribuído
cada ano, o prêmio homenageará pessoas,
grupo de pessoas ou entidades que se distingam
na procura da construção de um mundo
novo, mais justo, mais humano, em harmonia com
a natureza.
A
iniciativa, a meu ver, merece aplausos, por uma
dupla razão.
Primeiro
pelo sentido altamente pedagógico do prêmio,
como foi concebido. Numa época em que se
exaltam os desvalores, em que se cultiva a futilidade,
em que se celebra o êxito pelo êxito,
independente dos caminhos através do qual
o sucesso foi obtido, numa época assim
tem extremo significado premiar as ações
humanas forjadas em valores éticos.
Como razão complementar e conseqüente,
a lei sancionada é oportuna e justa porque
homenageia alguém cuja vida, por si só,
é o perfil e a consubstanciação
do prêmio que se cria.
Dom
Luís Gonzaga Fernandes exerceu seu ministério
na Arquidiocese de Vitória, ao lado de
Dom João Baptista da Mota de Albuquerque.
Foi Bispo Auxiliar, mas Bispo em plenitude, segundo
a tradição do múnus episcopal.
Em
1981 foi transferido para a Diocese de Campina
Grande, na Paraíba.
Foi um Bispo que transpôs os limites de
uma igreja específica. A visão ecumênica
profunda e humilde foi um dos traços mais
belos de sua biografia. Não foi sem razão
que representantes de um amplo leque de confissões
religiosas compareceram ao ato de sanção
da lei que o consagra.
Outra característica de D. Luís
Fernandes foi o realce que deu à figura
da mulher, quer na Igreja, quer na sociedade.
A Igreja Católica sempre acolheu mulheres,
mas em funções de mera ajuda, em
papéis secundários. Até hoje
o sacerdócio e a função de
Bispo são reservadas a homens, diversamente
do que ocorre em outras Igrejas cristãs.
Dom Luís confiou a mulheres encargos de
liderança contribuindo eficazmente para
que a Igreja de Vitória assumisse a face
de uma Igreja feminina. Comunidades eclesiais
de base, Comissão de Justiça e Paz,
Pastorais Sociais – nada disso teria tido
a expressão histórica que teve se
o sangue e a alma das mulheres não estivesse
levedando a ação.
Dom
Luís acreditava na palavra, no contato
direto, na doçura do trato, sem prejuízo
da firmeza inquebrantável das convicções.
A partir da humildade pessoal, da perseverança
nordestina, tinha uma capacidade infinita de tecer
projetos humanos descobrindo e fazendo desabrochar
os talentos de cada um.
Não
se extravie o povo nos caminhos da amnésia
e no culto ao presente, perdendo o sentido de
História.
Que
o Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes
seja uma estrela que contribua para a construção
de estruturas de Humanismo e Justiça. Que
sua criação repercuta fora dos limites
do Espírito Santo e que inspire ou encoraje
a abertura de sendas semelhantes, nos mais diversos
rincões brasileiros. |