Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Futebol, elo nacional
Mesmo
quem não acompanha futebol, mesmo quem
não entende de futebol, mesmo quem não
gosta de futebol assiste aos jogos do Brasil na
Copa do Mundo.
O futebol
é o mais forte elo de comunhão nacional.
Quando
joga o Brasil, antipatias são esquecidas,
preconceitos são abolidos, diferenças
de classe desaparecem, níveis de instrução
passam a ser irrelevantes. Um sentimento une o
país e poderia ser traduzido numa frase:
“se você é brasileiro, você
é meu irmão, vamos torcer pelo Brasil”.
Quando a seleção faz um gol, ou
quando o jogo termina com a vitória brasileira,
um só grito, uma só emoção,
um só riso, uma só lágrima
sacode o país de norte a sul juntando-se
à alma dos patrícios que estão
assistindo aos jogos ao vivo e à alma dos
outros patrícios que, nos mais diversos
recantos do universo, seja como imigrantes, seja
como ausentes eventuais, no solo, no ar, no mar,
acompanham as partidas.
Quisera
que essa fraternidade que o futebol cria fosse
fraternidade para a vida cotidiana. Se é
possível alcançar a fraternidade
através do futebol, certamente será
possível atingir a fraternidade por caminhos
permanentes.
Imagino
que a todos os brasileiros deve ser proporcionada
a oportunidade de assistir aos jogos do Brasil
na Copa do Mundo. Os que estão privados
da capacidade de ver, por serem cegos ou porque
os olhos estão trabalhando na hora dos
jogos, pelo menos ouçam as transmissões.
Os que estão privados da possibilidade
de ouvir, por serem surdos ou porque o ouvido
está ocupado, vejam as partidas. Que aos
que se encontram internados nas enfermarias gerais
dos hospitais seja assegurado o acesso a uma televisão,
de modo que possam coletivamente presenciar os
jogos. Que nos asilos que acolhem idosos, que
nos estabelecimentos onde se encontram crianças
ou adolescentes, que em todos os espaços
onde se segregam pessoas, os jogos do Brasil,
como oposto da segregação, sejam
uma senha de integração de todos
os brasileiros.
Leio
nos jornais que organizações criminosas
estão “exigindo” televisão
nas cadeias, de modo que os presos possam assistir
aos jogos da Copa. Não se deve proporcionar
às organizações criminosas
a oportunidade de fazer uma coisa que deve ser
iniciativa das administrações dos
presídios, em colaboração
com entidades da sociedade civil como, por exemplo,
as pastorais carcerárias. Deixar essa reivindicação
por conta das organizações criminosas
é favorecer o aumento de seu poder e prestígio
junto à população que está
nos cárceres.
Os
presos devem poder sim assistir aos jogos do Brasil
na Copa. É um dos poucos momentos em que
eles se sentem integrados à nacionalidade,
como tão bem percebeu Dráuzio Varela
no livro “Carandiru”. Privar os presos
de ver os jogos da Copa é aumentar seus
sentimentos de revolta. Deve ser buscada a reinserção
dos presos à sociedade e não aprofundar
o abismo que os separa da comunidade. |