Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Discriminação
dos aposentados
A discriminação
do aposentado não é uma questão
técnica, mas uma questão ética.
Seria uma questão técnica se envolvesse
apenas aspectos contábeis. É questão
ética porque ultrapassa os limites de simples
considerações de ordem financeira.
Por
Ética devemos entender todo o esforço
do espírito humano para formular juízos
tendentes a iluminar a conduta de pessoas, grupos
humanos, povos, sob a luz de um critério
de Bem e de Justiça.
Esse
critério de Bem e de Justiça, que
ilumina a Ética, prescreve que as novas
gerações sejam gratas às
gerações mais velhas.
A idéia
de reverência aos velhos esteve presente
em muitas culturas, ao longo dos séculos.
E mesmo hoje, quando uma cultura capitalista,
monetarista, utilitária, desligada de qualquer
compromisso ético, pretende impor-se ao
conjunto da Humanidade, ainda assim, vozes ancestrais
teimam em dizer que a terceira idade merece homenagem.
No
Espírito Santo, um inquérito civil
vai apurar as circunstâncias da morte da
aposentada Aghinellia Canal. Ela morreu durante
a remoção, por ambulância,
do Pronto-Atendimento de Guarapari para o Hospital
Santa Mônica, em Vila Velha.
Aghinellia
teve um mal estar. Não sendo atendida no
plantão do Hospital São Lucas, em
Guarapari, foi levada por familiares para o Pronto-Atendimento.
Mesmo diante de uma crise de pressão arterial,
tardaram os primeiros cuidados, segundo denunciam
os parentes da vítima. Um auxiliar de enfermagem
tentou tirar, sem êxito, a pulsação
da paciente. Nem essa situação aflitiva
evitou que Aghinellia permanecesse na maca, sem
maior atenção. Após apelos
insistentes da filha, uma ambulância da
Prefeitura de Guarapari removeu a mãe para
o Hospital Santa Mônica, de Vila Velha.
Ali foi constatado, entretanto, que a idosa havia
falecido.
O caso
de Aghinellia não é, infelizmente,
exceção. Acontece com freqüência.
Apenas nem todas as ocorrências vão
parar nos jornais.
Recentemente,
também no Espírito Santo, foi criado
um auxílio-saúde para determinada
categoria de servidores públicos.
Em
que faixa de idade mais pode ser reclamado, com
razão e justiça, um auxílio-saúde?
Em que faixa de idade as pessoas gastam mais com
medicamentos?
Não
é preciso convocar especialistas para responder
essas duas perguntas. O senso comum dá
a resposta. Se considerarmos correto e adequado
que servidores percebam auxílio-saúde,
os destinatários desse benefício
devem ser, em primeiro lugar, os idosos.
Mas
quem ficou fora do auxílio-saúde
acima mencionado? A resposta a essa indagação
não é óbvia, como foi óbvia
a resposta única das duas indagações
anteriores. Muito pelo contrário. A resposta
é surpreendente. Os idosos ficaram de fora.
Os idosos não precisam de auxílio-saúde. |