Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Ditadura da televisão
Impõe-se
a democratização dos meios de comunicação
e especialmente da televisão. Não
pode haver democracia real, se um grupo limitadíssimo
de pessoas "faz a cabeça" daquela
parte da população que não
lê jornais, nem revistas e livros, mas que
se guia pela "telinha" colorida.
É
preciso que haja uma maior regionalização
dos programas. Mesmo os fatos nacionais deveriam
ser interpretados e discutidos à luz das
realidades locais, por jornalistas locais, por
pessoas da comunidade. Nas diversas redes, o tempo
destinado às programações
locais não condiz com o respeito que merecem
o senso crítico e a criatividade das comunidades
telespectadoras. Com programação
mais regionalizada, seria possível um controle
mais eficaz da sociedade sobre os meios de comunicação.
A regionalização
contribuirá para que se preservem as riquíssimas
culturas regionais brasileiras.
É
preciso que haja conselhos éticos dentro
de cada emissora, com participação
de jornalistas e representantes da comunidade.
Deve ser maior o poder dos comunicadores dentro
de cada veículo. A frase de Assis Chateaubriand,
captada por Fernando Moraes, de que para ter opinião
própria era preciso que o jornalista fosse
dono do meio de comunicação, não
pode prosperar, se temos uma concepção
não-autoritária de imprensa.
Televisão
é serviço público, é
instrumento de educação popular,
como também o rádio.
As
imagens da TV e as ondas do rádio não
pedem licença para entrar em nossas casas.
São invasoras. Podem falar aos filhos,
sem o consentimento dos pais, inclusive quando
os pais não estão em casa. A sociedade
tem o direito de controlar essa máquina,
para não ser por ela controlada, tragada
e escravizada.
A violência
na TV tornou banal a violência.
A supressão
de qualquer referência ética caracteriza
alguns dos programas de maior audiência.
A sociedade
foi consultada se concorda com todo esse culto
da violência, com a supressão da
ética no universo televisivo?
A outorga
e a renovação das concessões
deveria ser submetida a controle da sociedade.
Canal que sistematicamente desinforma, deseduca
e embrutece deve ser cassado por órgão
democrático da sociedade civil.
Seria
extremamente útil algum controle dos jornalistas
das afiliadas na condução das emissoras
matrizes.
Numa
outra vertente, muito bom seria que a sociedade
civil organizada, através de suas instituições,
premiasse programas positivos de televisão,
incentivasse uma linha educativa nas transmissões,
destacasse com elogio a publicidade com mensagem
humanamente construtiva, enobrecesse com a palma
do reconhecimento o telejornalismo honesto e investigativo.
Como
sociedade civil, não podemos nem devemos
concordar em ser mero apêndice dos que controlam,
pela televisão, a opinião pública
brasileira.
Na
afirmação da cidadania, temos de
exigir que se cumpra a Constituição
Federal de 1988, cujo artigo 221 estabelece que
a programação das emissoras de rádio
e televisão dêem preferência
a finalidades educativas, promovam a cultura nacional
e regional, estimulem a produção
independente, respeitem os valores éticos
da pessoa e da família.
Depois
que lemos o que está escrito na Constituição
e ligamos nossos aparelhos de TV, a impressão
que temos é a de que estamos lendo a Constituição
de um outro país. |