Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Delícias de não
ser jovem
As
pessoas idosas não têm o direito
de guardar para si a experiência que a vida
proporcionou. Está certo o filósofo
inglês Alfred Whitehead quando ensina que
a experiência não é para ser
guardada. Alguma coisa temos de fazer com ela.
Quando
eu estava na magistratura ativa, proferi palestras
fora do Estado, porém com muita parcimônia
porque o ofício de juiz me prendia à
comarca. Aposentado como juiz, mas continuando
ativo na Universidade Federal do Espírito
Santo, ainda aí a liberdade de viajar era
restrita em face dos compromissos do magistério
regular.
Só
depois de aposentado na Justiça e na Universidade,
é que pude voar amplamente.
Falando
aqui e ali, ia sorvendo e continuo a sorver minha
aposentadoria. Dos Estados brasileiros só
não fui a Tocantins e Amapá.
Falei
para advogados, a convite da OAB federal e de
Conselhos Seccionais.
Disse
a palavra solicitada em Universidades, a chamado
de estudantes ou de professores.
Levei
meu modesto verbo, em diversas cidades, a colegas
da magistratura ativa.
Falei
para membros do Ministério Público,
inclusive na Escola Superior do Ministério
Público, sediada em Brasília.
Falei
para serventuários da Justiça num
congresso da categoria.
Falei
a profissionais alheios ao mundo do Direito: servidores
da Fazenda Pública, jornalistas, educadores
populares, engenheiros, arquitetos, enfermeiros,
professores de primeiro e segundo grau.
De
eventos de Igreja participei, no Brasil e no Exterior,
não apenas daqueles promovidos pela Igreja
a que pertenço, mas também de encontros
ecumênicos, comungando sonhos de um mundo
fraterno com cristãos de diversas denominações,
muçulmanos e judeus.
Com
minha família fui à Europa, com
passagens que ganhamos da Varig, em circunstâncias
muito interessantes. Marquei o lançamento
de um livro meu, em Vitória, na abertura
de um encontro nacional de Faculdades de Direito.
No dia do evento, autor presente, convidados presentes,
coquetel à disposição dos
convivas, falta o ator principal: o livro que
seria lançado. O pacote de livros, que
se destinava a Vitória, foi parar em Belém.
Fico envergonhado diante de tanta gente que compareceu
à solenidade. Escrevo uma carta ao presidente
da Varig, sem nada pedir. Apenas relatando minha
decepção. O presidente sensibiliza-se:
“Meu
prezado escritor,
Não
há indenização compatível
com o dano emocional que lhe foi causado. A Varig
quer lhe proporcionar uma alegria. Escolha qualquer
cidade do mundo, onde pousam aviões da
Varig, e daremos passagens de cortesia, para o
senhor e sua família”.
Conto
a história a minha mulher e lhe pergunto:
qual o destino? Ela não pestaneja: Paris,
capital do mundo. E de Paris, um pulo na Grécia,
berço da Antigüidade.
A
aposentadoria não tem de assinalar o encerramento
de atividades úteis. Novas experiências
podem ser descortinadas. Que cada um encontre
seu caminho. Que a sociedade não cometa
o desatino de desprezar a sabedoria dos mais velhos. |