Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
Bispo da Paraíba,
do Espírito Santo, da América Latina
Dom Luís Gonzaga Fernandes,
que foi Bispo de Campina Grande durante vinte
anos, não se inscreveu apenas na História
da Igreja no Estado da Paraíba, mas também
na História da Igreja no Estado do Espírito
Santo. E também na História da Igreja
na América Latina. Foi um Bispo com olhos
abertos para o mundo e dotado de elevadíssimo
espírito ecumênico.
Antes
de ser designado para Campina Grande, Dom Luís
atuou em Vitória. Parece-me muito inspirada
a iniciativa capixaba de celebrar sua memória
através da criação de um
prêmio anual com seu nome. Conhecendo, como
conheci, o jeito nordestino, o espírito
prático e o empenho pastoral de D. Luís,
imagino que não lhe agradaria uma homenagem
póstuma que se centrasse apenas na pessoa
dele, sem qualquer repercussão social.
O Prêmio D. Luís Fernandes é
o oposto disso. Cada ano sua concessão
tem como objetivo reverenciar obras, destacar
vidas e ações como exemplo para
a coletividade.
Neste
ano foram consagrados Nestor Cinelli, D. Aldo
Gerna e a Pastoral dos Meninos de Rua.
Nestor
Cinelli recebeu a homenagem “em memória”.
Advogado competente e probo, dedicou-se apaixonadamente
à defesa dos marginalizados servindo gratuitamente
e sem esmorecimento às causas, principalmente
coletivas, dos oprimidos, dos sem direito, dos
sem nome, através da Comissão de
Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória.
Nestor Cinelli foi também o criador e o
dirigente, por longos anos, da Livraria Âncora,
um símbolo de cultura e um marco histórico
no desenvolvimento intelectual do Espírito
Santo.
Dom
Aldo Gerna, Bispo de São Mateus, no norte
do Espírito Santo, integra aquele elenco
de Bispos que deram nova face à Igreja
capixaba, brasileira e latino-americana. Desde
o início do cumprimento de seu múnus
pastoral firmou compromisso de fé e de
vida com a libertação do povo de
Deus. Libertação porque se trata
de romper grilhões que escravizam, suprimir
abismos que impedem o povo de ser gente, construir
pontes que, antes de levar ao Céu, garantam
ao povo de Deus dignidade, reconhecimento, esperança.
É fácil assumir uma empreitada dessa
no plano meramente teórico. Difícil
é abraçar esta causa, no cotidiano,
com todas as conseqüências do enfrentamento
em face de pessoas, instituições
e circunstâncias que se opõem ao
projeto libertador. Foi essa dedicação
de cada dia, sem medir conseqüências
pessoais aflitivas, que sempre marcou os passos
e os vôos de Dom Aldo Gerna.
A
Pastoral dos Meninos de Rua é uma obra
coletiva integrada por um grupo de apóstolos
da ação que professam as mais diversas
crenças religiosas. Não se trata
da Pastoral das crianças ricas ou de classe
média porque estas já têm,
no seio da própria família, as condições
de crescimento. Trata-se de uma Pastoral que volta
sua vista e seus cuidados para as “crianças
de rua”. É lastimável que
se tenha, num país, “crianças
de rua” como categoria social. Mas esta
é a verdade e “crianças de
rua” nós temos, como fenômeno
vergonhoso, não para as crianças,
que não têm culpa disso, mas para
nós que não nos indignamos, que
calamos, por comodismo, a “ira santa”
que devia explodir diante dessa aberração.
Busquemos um pouco de indulgência diante
da omissão coletiva apoiando e aplaudindo,
pelo menos, a Pastoral dos Meninos de Rua e outras
iniciativas e ações que, nos mais
diversos espaços do território brasileiro,
tenham objetivo semelhante. |