Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff
A Vitória do Não
Num debate sobre desarmamento,
transmitido pela televisão, e também
em entrevistas concedidas, defendi a opção
pelo “sim”. Afirmei entretanto que,
independente do resultado das urnas, a realização
do referendo significava um avanço democrático.
Isto acontecia, não apenas pela prática
da consulta popular em si, mas pelo amplo debate
que o referendo desencadeava.
Não
me parece, de forma alguma, que o dinheiro público
foi gasto inutilmente. Dinheiro que se gasta no
aprimoramento da Democracia é dinheiro
muito bem empregado.
Creio
que agora há uma tarefa importante a ser
desenvolvida pelos pesquisadores sociais. As urnas
dizem apenas quantos votaram “sim”,
quantos votaram “não”. As urnas
dizem também como se distribuíram
os resultados, pelo vasto território brasileiro.
A propósito, Alagoas, Bahia, Ceará,
Espírito Santo e Pernambuco foram os Estados
da Federação onde o voto “sim”
alcançou seus mais altos percentuais. Enquanto
no Brasil, o “não” ganhou do
“sim” por 64 contra 36 por cento,
no Espírito Santo, por exemplo, a diferença
foi de 56 por 44.
As
urnas não dizem qual foi a diferença
de comportamento entre homens e mulheres, em face
da escolha. Este ponto merece ser aclarado. Antes
do referendo, pesquisas de opinião revelavam
que os homens, muito mais que as mulheres, optavam
pelo “não”. Heloneida Studart
diz que o corpo da mulher é desarmado.
Revólver, pistola, rifle – símbolos
fálicos – para ela não têm
valor.
O
voto “sim” é decididamente
um voto pacifista. Significa repúdio radical
às armas.
Mas,
em sentido oposto, a escolha do “não”
é um endosso às armas? Pelas inúmeras
declarações de voto publicadas pela
imprensa e pelos argumentos que circularam antes
do referendo, creio que se pode afirmar que a
desaprovação ao artigo 35 do Estatuto
do Desarmamento não significou, por parte
da maioria dos que assim votaram, apoio ao armamentismo.
Muitos
votaram movidos pelo medo, raciocinando: se o
comércio de armas é proibido eu
me sinto mais vulnerável porque os que
praticam crimes estarão mais seguros.
Só
uma pesquisa realizada dentro de critérios
científicos responderá as indagações
psicológicas, antropológicas, políticas
e sociológicas que o resultado do referendo
coloca.
Entretanto,
pela percepção que tenho dos fatos
e do clima dos debates, penso que, numa primeira
análise da realidade, podemos concluir
que a vitória final foi do desarmamento. |