Militantes
Brasileiros dos Direitos Humanos
Joćo
Baptista Herkenhoff
Escola e Cidadania
Não
é tradição brasileira a
influência da escola na formação
político-social do povo.
Durante longos períodos de nossa História,
a Política foi tema proibido ou considerado
de somenos importância na formação
do jovem. A Educação para a Cidadania
ficava fora dos currículos e da preocupação
das escolas.
Cantar simplesmente o Hino Nacional, como sempre
se fez, obviamente não pode ser considerado
um programa de formação para a
cidadania. É louvável, a meu ver,
que se cante o Hino Nacional. O Hino nos faz
sentir que somos um povo, temos uma História
comum e há pela frente um país
a construir com garra e amor. Além disso,
nosso Hino é realmente muito belo. Mas
de forma alguma a educação para
a Cidadania pode limitar-se à prática
de cantar o Hino Nacional.
Lembro-me
que, no ginásio, tinha de enfrentar a
análise sintática do Hino Nacional.
A tarefa começava por colocar na ordem
direta os longos períodos e encontrar
as palavras ocultas: As margens plácidas
do (rio) Ipiranga ouviram o brado retumbante
de um povo heróico. E por aí seguia.
O
Governo João Goulart, pouco antes da
deposição do Presidente, criou
nas escolas de grau médio (antigos ginásios)
a cadeira de “Organização
Social e Política Brasileira”.
Muito
bem projetada pelos seus idealizadores, essa
disciplina tinha a finalidade de contribuir
para a formação político-social
do educando, de modo que se tornasse um cidadão
consciente e prestante.
Tenho
a honra de ter sido um dos primeiros professores
dessa disciplina, lecionando-a em Cachoeiro
de Itapemirim.
Com o golpe de 1964 e a ideologia de “Segurança
Nacional”, em que se apoiou, o projeto
de formação democrática
do Governo João Goulart foi adulterado.
A disciplina “Organização
Social e Política Brasileira”,
embora formalmente mantida, foi ligada à
cadeira de “Educação Moral
e Cívica”, que então foi
criada. As diretrizes governamentais endereçavam
essas disciplinas a inculcar na juventude a
ideologia do que então se entendia como
“segurança nacional”. Na
verdade não se tratava de autêntica
Segurança Nacional, mas de segurança
do regime ditatorial, através do controle
das consciências e de uma maciça
lavagem cerebral.
Embora
fosse difícil enfrentar o regime de frente,
nem todas as escolas e professores dobraram-se
ao poder dominante e a seu intento de impor
à juventude o pensamento oficial. A história
da resistência democrática, o boicote
inteligente e silencioso às ordens do
déspota ainda não foi escrita
e talvez não possa nunca ser escrita,
por falta de documentação suficiente.
Essa constatação, de qualquer
forma, é motivo de crença no Brasil.
Superada
a fase do regime ditatorial, votada uma nova
Constituição, realizadas várias
eleições diretas, no plano federal,
estadual e municipal, creio que a educação
para a Cidadania, a formação democrática
deve voltar à pauta dos grandes temas
nacionais.
A
escola tem um papel valioso na construção
do perfil do verdadeiro cidadão.
Cabe
à escola:
a)
proporcionar formação política
aos alunos, educar enfim para a cidadania, quer
através do currículo, quer de
forma extracurricular;
b)
acompanhar e debater, isenta de sectarismos
partidários, a vida política do
município, do Estado e do país,
aproveitando-se da ajuda que possam proporcionar
outras instituições sociais;
c)
exercer ação educativa sobre a
família e a comunidade.
A
leitura crítica de jornais nas salas
de aula, o debate dos fatos do momento, a visão
do presente com olhos postos no futuro, a integração
de todas as atividades escolares sob a inspiração
do desejo de contribuir para formar integralmente
o ser humano – eis um projeto de escola
conscientizadora e libertadora.
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