Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
 
 Direitos Humanos
 Desejos Humanos
 Educação EDH
 Cibercidadania
 Memória Histórica
 Arte e Cultura
 Central de Denúncias
 Banco de Dados
 MNDH Brasil
 ONGs Direitos Humanos
 ABC Militantes DH
 Rede Mercosul
 Rede Brasil DH
 Redes Estaduais
 Rede Estadual RN
 Mundo Comissões
 Brasil Nunca Mais
 Brasil Comissões
 Estados Comissões
 Comitês Verdade BR
 Comitê Verdade RN
 Rede Lusófona
 Rede Cabo Verde
 Rede Guiné-Bissau
 Rede Moçambique




Lutando contra a impunidade

Cecília Coimbra *

“As bombas contra os movimentos em prol das minorias, os apresentadores de televisão (e) do rádio que envergonham a classe jornalística com sua ‘militância’ diária, caluniando a própria idéia de Direitos Humanos ... tudo isso se coaduna com a volta dos serviços de espionagem. Somem-se à lista as censuras disfarçadas ... e outros atentados às liberdades públicas e particulares e temos quadro definitivo de uma direção autoritária, para não dizer tirânica, na República Federativa do Brasil”. (Roberto Romano, Folha de São Paulo, 22/11/00.)

 À lista do filósofo e professor de ética da Unicamp somam-se outros itens: criminalização dos movimentos sociais através de ameaças aos seus líderes; espionagem escancarada, especialmente nas atividades e manifestações dos movimentos populares; assassinato de líderes sindicais e rurais, de jovens e crianças considerados perigosos infratores, de pessoas humildes suspeitas de crimes. O desrespeito aos direitos humanos cresce na mesma medida em que se implanta e expande a política neoliberal encabeçada pelo governo federal, que faz funcionar a lógica de um modelo econômico que marginaliza, exclui e criminaliza imensas parcelas da população e torna cotidianas as legiões de miseráveis que vagam pelas cidades, o desemprego programado, a restrição de acesso aos bens mínimos necessários à dignidade humana etc.

Ao lado disso, torturas e violações são o dia-a-dia de estabelecimentos que se diz servirem à ressocialização dos que ferem a lei: torna-se banal e natural agentes do Estado espancarem, abusarem e matarem quem está sob a sua guarda; torna-se cotidiano promotores pouco investigarem e juizes raras vezes condenarem. Mas a impunidade também se alimenta da premiação dos que num passado recente cometeram crimes de lesa-humanidade, integrando o aparato repressivo na ditadura militar; os exemplos se somam a cada dia e é preciso dar nomes aos que hoje estão em cargos importantes dos governos federal, estadual e municipal.

No Rio há figuras nefandas como Josias Quintal, atual secretário de Segurança Pública e ‘analista de informações’ no DOI-CODI, de 1976 a 1978, e José Halfeld Filho, ex-secretário de Defesa Civil nos governos Brizola e ex-vice-secretário de Agricultura e ex-coordenador da Agência de Desenvolvimento Regional na cidade de Cordeiro no governo Garotinho. Em 1969 este major-bombeiro foi o carcereiro responsável pelas presas políticas no Presídio São Judas Tadeu, no prédio do DOPS-RJ, e para a nossa indignação se elegeu vice-prefeito de Cordeiro em novembro último, pela coligação entre PDT e PSB, que se colocam como partidos de oposição. Em Curianópolis, no sudeste do Pará, na região de Serra Pelada, foi eleito prefeito pelo PMDB Sebastião Curió, conhecido major do Exército que já foi deputado federal, atuou na repressão à Guerrilha do Araguaia e atuou como agente do SNI e membro do Conselho de Segurança Nacional, nos anos 70.

Em dezembro descobriu-se que algumas personagens ocupavam postos-chave no governo federal: o tenente da reserva do Exército Carlos Alberto Del Menezzi era diretor de Acompanhamento de Organizações Criminosas da Agência Brasileira de Inteligência, embora a sua participação direta na repressão e tortura a presos políticos no 12o Batalhão de BH, em 1969 e 1970, seja conhecida e ao menos sete pessoas o acusem de tê-las torturado; o major da reserva do Exército Rubens Robine Bizerril, coordenador de Planejamento de Segurança do Ministério da Justiça, serviu no 2o Batalhão de Caçadores em Goiás no início de 1970, quando da prisão, tortura e morte do militante do PCB Ismael de Jesus Silva, e esteve à frente do Inquérito Policial Militar que concluiu pela versão de suicídio. Os dois foram afastados das funções mas não se tem notícias da abertura de sindicância para apuração das denúncias.
Também em dezembro a imprensa divulgou que o general Alberto Cardoso afastara mais dois funcionários da Abin que haviam participado de torturas na ditadura. Os seus nomes? o que eles fizeram? É confidencial e sigiloso!... Como os governos militares, o atual governo nada informa; ao contrário: protege e até premia e/ou condecora os que cometeram e/ou respaldaram atrocidades em nome da ‘segurança nacional’.

Entendemos, como o filósofo Michel Foucault, que “cada luta se desenvolve em torno de um foco particular de poder”, e um dos objetivos do GTNM-RJ e outras entidades que lutam contra a impunidade tem sido “designar esses focos de poder, denunciá-los, falar deles publicamente, (pois) falar a esse respeito — forçar a rede de informação institucional, nomear, dizer quem fez, o que fez, denunciar o alvo — é a primeira inversão do poder, é um primeiro passo para outras lutas contra o poder”. (Microfísica do poder. Rio de Janeiro : Graal, 1988. p. 75-76.)

Apesar das vitórias pontuais as violações aos direitos humanos crescem assustadoramente no país, e em vista disso nos perguntamos: o que comemorar em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos? o que comemorar nos 15 anos que o Grupo Tortura Nunca Mais – RJ completou em novembro? Talvez comemorar não seja o principal, mas afirmar e garantir certos princípios: afirmar e garantir o respeito à vida em todas as suas expressões; afirmar e garantir direitos humanos a todos; afirmar e garantir que a história dos mortos e desaparecidos seja contada, que as circunstâncias dos assassinatos, os locais dos sepultamentos e os nomes dos algozes sejam conhecidos de todos, e para isso urge que se abram os arquivos da repressão, que sabemos que existem e são de responsabilidade da Presidência da República.
Que estes 15 anos do Grupo Tortura Nunca Mais – RJ, que este Dia Internacional dos Direitos Humanos possam ser lembrados pela afirmação de todos esses diferentes direitos que ainda são desrespeitados, negados e ignorados pelo próprio Estado, que através das suas políticas e dos seus agentes tem sido o primeiro a massacrá-los.

* Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ
Desde 1995 © www.dhnet.org.br Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: enviardados@gmail.com Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Notícias de Direitos Humanos
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
História dos Direitos Humanos no Brasil - Projeto DHnet
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Memória e a Verdade
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multimídia Memória Histórica Potiguar