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 Clones:
              aspectos biológicos e éticos
 José Roberto
              Goldim
 Aspectos
              biológicos da clonagemA palavra clone, para
              identificar indivíduos idênticos genéticamente foi introduzida
              na língua inglêsa no início do século XX. A sua origem etimológica
              é da palavra grega klon, que quer dizer broto de um
              vegetal.A clonagem é uma
              forma de reprodução assexuada que existe naturalmente em
              organismos unicelulares e em plantas. Este processo reprodutivo se
              baseia apenas em um único patrimônio genético. Nos animais
              ocorre naturalmente quando surgem gêmeos univitelinos. Neste caso
              ambos novos indivíduos gerados tem o mesmo patrimônio genético.
              A geração de um novo animal a partir de um outro pré-existente
              ocorre apenas artificialmente em laboratório  Os indivíduos
              resultantes deste processo terão as mesmas características genéticas
              cromossômicas do indivíduo doador, ou também denominado de
              original.
               A clonagem em
              laboratório pode ser feita, basicamente, de duas formas:
              separando-se as células de um embrião em seu estágio inicial de
              multiplicação celular, ou pela substituição do núcleo de um
              óvulo por outro proveniente de uma célula de um indivíduo já
              existente.
               A primeira forma,
              separação provocada das novas células de um embrião, produzirá
              novos indivíduos exatamente iguais, quanto ao patrimônio genético,
              porém diferentes de qualquer outro já existente. É um processo
              semelhante ao que ocorre na natureza quando da geração de gêmeos
              univitelinos, que tem origem a partir de um mesmo óvulo e de um
              mesmo espermatozóide. A primeira tentativa de realizar este tipo
              de procedimento foi tentada em 1902 por Hans
              Spemann, utilizando a salamandra como modelo animal. O Prof.
              Spemann  ganhou o prêmio Nobel, em 1935, pelas suas
              pesquisas sobre o efeito organizador no desenvolvimento embrionário.
              Esta tentativa foi feita em embrião de salamandra.
                A
              segunda forma de clonagem é a que reproduz assexuadamente um
              indivíduo igual a outro pré-existente, pela substituição do
              material nuclear, também denominada de duplicação.Este processo 
              foi proposto teoriamente pelo Prof. Hans Spemann , em 1938. 
              O primeiro experimento com sucesso já foi realizado em 1952,
              pelos Drs. Robert Briggs e Thomas J. King, do Instituto Carnegie/Washington-EEUU.
              Eles obtiveram os primeiros clones de rãs, por substituição de
              núcleos celulares. Durante muitos anos isto foi testado em
              diferentes espécies animais, especialmente mamíferos. O Prof.
              Ian Wilmut e seus colaboradores, do Roslin
              Institute, de Edimburgo/Escócia, associados a empresa PPL,
              realizaram em 1996, uma substituição de núcleo de um óvulo
              pelo de uma célula mamária proveniente de uma ovelha adulta. O
              resultado foi o nascimento da ovelha Dolly. Este processo,
              conceitualmente simples, é, na prática, muito difícil e
              delicado. A equipe do Prof. Wilnut utilizou 834 núcleos de células
              de animais adultos e de fetos. De todos os 156 óvulos
              implantados, somente 21 se desenvolveram e apenas 8 animais
              nasceram. Destes, apenas um único (Dolly) era oriundo de um núcleo
              de uma célula de um animal adulto. O objetivo comercial desta
              pesquisa talvez seja a produção de fator VIII sanguíneo, para o
              tratamento de pacientes hemofílicos ou outros produtos biológicos
              semelhantes. Os resultados destes experimentos só foram
              divulgados na Revista
              Nature, em fevereiro de 1997. Desde a sua divulgação este
              experimento gerou algumas dúvidas quando a sua veracidade, pois não
              havia certeza quanto ao animal que tinha sido o doador da célula
              mamária. Após foi divulgado que a ovelha doadora, que estava
              prenha, já havia morrido, três anos antes, e que o seu material
              biológico havia sido congelado. Isto impede a realização de
              contraprovas, por exemplo, através de enxertos de tecidos da
              ovelha doadora na ovelha clonada. Caso não houvesse reação
              imunológica estaria demonstrada a identidade biológica entre
              ambas. Um ano após, no início de 1998, o próprio Prof.
              Wilnut admitiu a possibilidade de que tenha havido um
              "engano" e que a ovelha Dolly não seja de fato um clone
              de células típicas de um animal adulto. Alguns propuseram que
              podrria ter havido uma clonagem a partir de célulasembrionárias.
              O que possivelmente tenha ocorrido é a clonagem a partir de uma célula
              proliferativa do epitélio mamário da ovelha, que devido ao fato
              de ela estar prenha se encontram em um estado de intensa divisão
              celular.
 Em 1978, a publicação
              do livro: In His Image: The Cloning of Man, causou uma
              grande polêmica. O seu autor, David
              Rorvik, já havia escrito vários livros sobre divulgação de
              assuntos científicos. O seu relato era de uma experiência,
              financiada por um milionário solteiro que queria ter um filho
              igual a si próprio. Esta pessoa solicitou ao autor que reunisse
              uma equipe de cientistas capazes de realizar tal experimento. Foi
              escolhido um país do sudeste asiático para sediar o laboratório
              e uma mulher do local serviu de mãe
              substituta para gerar o bebe. Quando o livro foi escrito,
              segundo seu autor, o bebe já havia nascido e passava bem. A comunidade
              científica não deu crédito a estas informações. Apesar de
              a editora Lippincott, reconhecidamente séria, ter publicado o
              livro como obra de não-ficção. Após alguns anos a própria
              Editora alegou não ter provas sobre o ocorrido. Várias publicações
              foram feitas na imprensa leiga, algumas de caráter
              sensacionalista e outra extremamente céticas, inclusive colocando
              o livro como sendo a expressão de uma fraude. Num depoimento
              recente, dado à revista OMNI, Rorvik afirmou que tem certeza
              de que já foram produzidos clones humanos.
               Para muitos
              cientistas a clonagem de seres humanos ainda não é possível,
              embora em 1979 um pesquisador norte-americano, L.B. Shettles,
              da Universidade de Colúmbia/EUA, tenha publicado uma comunicação
              sobre uma substituição de núcleo de um ovócito humano com
              sucesso. Este pesquisador utilizou uma espermatogônia humana. A
              publicação incluía fotos que demonstravam que o autor levou o
              processo até a forma de mórula. Este artigo é a primeira
              publicação na história sobre a clonagem humana.
               Em 1993, o Prof.
              Jerry Hall, da Universidade George Washington, de Washington/EEUU
              produziu clones humanos. Foram utilizados embriões gerados para
              fertilização in vitro, onde foram constatadas malformações genéticas,
              devidas a penetração múltipla de espermatozóides no óvulo, e
              por isso não seriam implantados. Foram divididos 17 embriões,
              nos estágios de duas a oito células, resultando em 48 novos
              embriões. Todos os embriões gerados foram destruídos ao final
              do experimento, com um estágio máximo de desenvolvimento de 32 células.
                A questão ética
              em torno dos clones humanos retornou com a entrevista do físico
              Richard Seed (Chicago/EEUU), feita através da imprensa
              internacional, no início de 1998. Este físico, sem vínculo
              acadêmico e que já realizou pesquisas em biologia, afirmou que
              poderia produzir clones humanos até a metade do ano de 1999.
              Chegou a estimar poderia produzir até 500 destes indivíduos por
              ano. Suas colocações reacenderam as discussões a este respeito
              em várias partes do mundo (Estados
              Unidos, Austrália,
              Europa).
               No inicio de 2001,
              dois pesquisadores Severino Antinori, da Itália, e Panayotis
              Zavos, da Grécia, mas que trabalha na Universidade de Kentucky,
              nos Estados Unidos, disseram que constituíram um consórcio para
              produzirem o primeiro clone humano, pois  já detem
              tecnologia suficiente para isto, segundo uma reportagem da revista
              Time (18/02/2001). Segundo a imprensa, a sede da empresa será
              na cidade de Cesaréia,
              em Israel, pois este país não tem lei que impede a realização
              deste procedimento. Esta informação não é verídica, pois
              Israel proibiu a produção de clones humanos desde 1999. O Prof.
              Antinori já tinha tido notoriedade quando utilizou técnicas de
              fertilização assistida para permitir a gestação de uma mulher
              com 60 anos de idade. Em agosto
              de 2001, o Prof. Antinori voltou a propor a geração de
              clones humanos na Academia
              Norte-Americana de Cências. O Prof. Antinori afirmou que os
              riscos de gerar bebes com problemas, estimado entre 95% e 99%, é
              dos pais que demandarem este tipo de procedimento e não das
              equipes médicas, pois todos terão sido adequadamente informados
              sobre isto. O Prof. Wilmut, referindo-se a possibilidade levantada
              por Antinori de clonar no estágio atual de conhecimento, afirmou
              que esta proposta é repugnante. Em setembro de 2001, o Prof.
              Antinori foi expulso
              da APART (International Association of Private Assisted
              Reproductive Technology Clinics and Laboratories).
               Em
              25 de novembro de 2001, foi divulgado para a imprensa que havia
              sido clonado o primeiro ser humano para fins terapêuticos pela
              empresa Advanced Cell
              Technology. O pesquisador que serviu de porta-voz na divulgação
              foi o Dr. Robert Lanza.
              O artigo foi publicado na revista E-biomed:
              The Journal of Regenerative Medicine. O artigo apresenta os
              resultados de uma pesquisa com 71 óvulos doados por 7 mulheres.
              Destes, 19 óvulos foram utilizados para o experimento sobre
              clonagem e 22 para partenogênese. O Comitê Consultor de Ética
              da empresa, autorizou a pesquisa, permitindo que os pesquisadores
              desenvolvessem embriões até o limite de 14 dias. Este é o
              limite estabelecido pelo Relatório
              Warnock, que denominando-os de pré-embriões.
              No experimento sobre partenogênese dos 22 óvulos ativados foram
              obtidos 20 embriões nos estágios iniciais de clivagem e 6
              atingiram o estágio de blastocisto, com uma efetividade de 30%.
              No experimento de clonagem propriamente dito, foram obtidos 3
              embriões, sendo que eles atingiram o estágio de 4 a 6 células.
              Vale lembrar que estes experimentos não tinham qualquer
              finalidade reprodutiva. O seu objetivo era o de estudar a
              viabilidade destas técnicas em células humanas, visando aplicações
              terapêuticas, isto é, o desenvolvimento de linhagens de células-tronco.
              Este episódio tem tido vários
              desdobramentos.
               Aspectos
              éticos da clonagemA preocupação com a
              abordagem das questões éticas dos processos de clonagem não é
              recente. Desde a década de 1970 vários autores tem discutido
              diferentes questionamentos a respeito dos aspectos éticos
              envolvidos. Paul Ramsey, em 1970, propos a
              importante discussão sobre a questão da possibilidade da
              clonagem substituir a reprodução pela duplicação. Esta
              possibilidade reduziria a diversidade entre os indivíduos, com o
              objetivo de selecionar características específicas de indivíduos
              já existentes. Isto teria como consequência a perda da
              individualidade, com a possível despersonalização destas
              pessoas.Em 1970 Alvin
              Toffler, em seu livro Choque do Futuro,
              já abordou a questão da clonagem. Foi um dos textos precursores
              sobre este tema. Em  duas páginas Toffler fez algumas
              considerações do impacto futuro deste processo reprodutivo. A
              sua previsão era de que a clonagem de seres humanos já seria
              possível em 1985.
               Em 1972 a Revista
              da Associação Médica Norte-Americana (JAMA) publicou um
              editorial sobre clonagem colocando a questão: "será que é
              isto mesmo que nós queremos ?"
               Em 1974 o filósofo
              Hans Jonas, em seu texto Engenharia biológica - uma previsão,
              afirmava que a clonagem era intolerável pois condenava o futuro
              do novo indivíduo ao passado do indivíduo original. Ele
              criticava a proposta de clonagem por retirar a possibilidade de
              novo indivíduo descobrir-se como pessoa, pois ele já viria com
              uma expectativa pré-determinada. Ele não teria o direito a
              "ïgnorância de a saber quem ele é". O poeta
              Edward E. Cummings, em 1958, já havia dito que:
               
                "Não ser ninguém
                além de mim mesmo - em um mundo que está fazendo o possível,
                dia e noite, para nos transformar em qualquer outra pessoa -
                significa travar a mais dura batalha que qualquer ser humano é
                capaz de travar e jamais parar de lutar."
               Em 1977, o Prof. Bernhard
              Haering, da Academia Alfonsiana de Roma/Itália, já discutia
              a outra questão, a relativa a possível seleção dos indivíduos
              gerados. Uma vez que exista possibilidade do processo de clonagem
              humana, caso forem constatadas anomalias, os indivíduos
              "defeituosos" poderiam ser eliminados. Pois, novos indivíduos
              poderiam ser "produzidos", até atingir-se o objetivo
              desejado, caracterizando uma forma de eugenia.
 Dentro desta mesma
              perspectiva, mais recentemente, em função dos experimentos de
              Hall e colaboradores, em 1993, DeBlois, Norris
              e O'Rourke manifestaram sua preocupação pelo fato de que
              poderiam ser gerados clones, por divisão de embriões em fases
              iniciais, apenas com a finalidade de diagnosticar possíveis
              problemas genéticos, antes da implantação. Desta forma, alguns
              embriões seriam utilizados como meio para diagnosticar a segurança
              ou não de implantar os demais. Isto caracterizaria uma situação
              eticamente inadequada de uso dos embriões, pois alguns seriam
              destruídos com a finalidade diagnóstica. Em todas estas situações
              o questionamento ético básico é o de utilizar um ser humano
              como meio e não como fim. Esta proposição sobre a dignidade
              humana baseia-se na ética de Kant.
               O Prof.
              Andrew Varga, em 1983, levantou outras questões éticas, como
              as associadas à produção de clones de plantas e animais
              destinados ao consumo humano ou à produção de outros produtos.
              Este debate continua extremamente atual, devido ao seu impacto na
              redução da diversidade da flora e da fauna, além dos outros
              problemas que poderão decorrer da sua utilização.
               O Prof. Arthur
              Caplan, da Universidade da Pennsylvania/EUA, publicou artigo onde
              propos que é intolerável permitir pesquisas sobre clonagem
              humana devido ao número de embriões e fetos que seriam
              sacrificados neste processo. Em 2001 o Prof. Caplan defendeu a
              utilização da clonagem terapêutica
               O experimento de
              Hall e colaboradores fez com que o governo dos EEUU propusesse uma
              moratória de pesquisas em embriões humanos a partir de 1994,
              vigente até a presente data. No Brasil, a Lei
              8974/95, estabeleceu as normas para uso das técnicas de
              engenharia genética. O item IV do artigo 8o. veda a "produção,
              armazenamento ou manipulação de embriões humanos destinados a
              servir como material biológico disponível".
                O experimento
              realizado na Escócia despertou novamente o debate sobre a adequação
              da pesquisa em genética. Muitas fantasias cercam o tema da produção
              de clones, valorizando apenas as características genéticas
              contidas no núcleo substituído, desqualificando a influência
              dos fatores histórico-ambientais e de herança genética
              citoplasmática (mitocôndrias). O portavoz da Human
              Cloning Foundation, dos Estados Unidos, Randolfe Wicker, por
              exemplo, difunde a idéia de que a clonagem é sinônimo de
              imortalidade, pois acredita que o novo ser clonado é o mesmo que
              o que o originou. Assim, morrendo o ser original a cópia
              sobreviveria mantendo viva a pessoa. Esta é uma visão totalmente
              equivocada do processo de clonagem, opis ela nada mais é uma
              forma de reprodução assexuada, desta forma o novo organismo é
              uma nova pessoa e não um anexo da que o originou, a exemplo dos
              pais e filhos na reprodução sexuada convencional.
               Nos Estados Unidos,
              os estados da Califórnia, Louisiana, Michigan, Rhode Island e
              Texas tem leis que proibem a clonagem em seus territórios. No
              Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio),
              vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, talvez
              extrapolando a sua competência legal, baixou uma Instrução
              Normativa 08/97, de 9 de julho de 1997, proibindo a manipulação
              genética de células germinativas ou totipotentes humanas, assim
              como os experimentos de clonagem em seres humanos. Vale ressaltar
              que já tramitaram quatro projetos de lei no Congresso Nacional
              sobre a questão da clonagem de seres humanos. Todos estes
              projetos proibiam este procedimento, baseando-se principalmente em
              aspectos religiosos ou de temor frente a este tipo de
              procedimento.
               Em 1997, nos
              Estados Unidos foi publicado o livro "Remaking
              Eden : How Genetic Engineering and Cloning Will Transform the
              American Family", do Prof. Lee M. Silver, do
              Departamento de Biologia Molecular da Universidade Princeton. Este
              livro já foi traduzido para o portugues, em 2001, com o título
              "De volta ao Éden". A parte três deste livro é toda
              dedicada a clonagem. São 37 páginas onde o autor faz uma série
              de considerações, postulando que o que ocorre é um mal
              entendido, que os eticistas e cientista contrários a utilização
              da clonagem em humanos não tem argumentos consistentes, mas
              apenas pontos de vista não defensáveis. Ele ilustra as suas posições
              através de inúmeros casos fictícios onde a clonagem huamna,
              segundo seus argumentos, seria desejável. Um deles seria para
              salvar um filho portador de leucemia, quando a produção de um
              clone aumentaria as chances de um transplante de medula óssea
              para quase 100%. Outro exemplo seria a perda de um filho, no seu
              exemplo de dois gêmeos, em um acidente. Os pais poderiam utilizar
              células destes filhos para gerarem clones que os substituiriam,
              inclusive em tempos diferentes. Ou seja, poderiam gerar novamente
              dois filhos, porém em duas gestações distintas.
               Em 1999, o Dr.
              Robert P. Lanza conseguiu a adesão de inúmeros  cientistas
              renomados, vários deles contemplados com Prêmios Nobel, para a
              publicação de uma carta
              na revista Science.  Esta carta contestava a intromissão
              da política na limitação da liberdade da ciência.
              Aparentemente, esta posição é o oposto do que foi realizado na
              década de 1970, quando do início da Engenharia Genética, quando
              os próprios cientistas estabeleceram uma moratória no sentido
              auto-estabelecer limites para a pesquisa nesta área, que culminou
              com a realização da conferência de Asilomar.
              Vale ressaltar que naquela época a maioria das pesquisas era
              realizada em ambientes acadêmicos, contrariamente a stuação
              atual.
               O Prof.
              Ronald Green, em 2001, utilizou o termo "entidade
              humana", e não ser humano ou pessoa ao se referir aos embriões
              produzidos na pesquisa da ACT de clonagem
              terapêutica, caracterizando-os como um novo tipo de ser até
              agora ainda não existente e desta forma merecedor de um novo
              status. No artigo a revista US
              News, sobre esta mesma pesquisa, consta a opinião de membro
              da Igreja Episcopal, que era a denominação religiosa de um dos
              doadores de fibroblastos utilizados no experimento. Um bispo
              expressou sua opinião de que não há impedimento religioso para
              este tipo de procedimento, pois são células da própria pessoa e
              não serão utilizadas para fins reprodutivos. A clonagem de embriões
              para fins terapêuticos foi equiparada com uma cultura de células.
              A divulgação simultânea destes argumentos éticos e religiosos
              poderia ter sido feita com a finalidade de dar suporte e gerar um
              clima de aceitação para a pesquisa realizada, sem contudo
              esclarecer os demais aspectos que podem ser levantados. Não era
              parte do trabalho científico publicado, mas outras fontes,
              intrinsecamente vinculadas a ele, davam este suporte.
               A própria comunidade
              científica vem se manifestando no sentido de que a produção
              de clones humanos será realizada, ainda que não viável nas
              condições científicas atuais. Esta busca de alcançar o limite
              das possibilidades tem sido creditada a tradição moderna da ciência,
              baseando-se nas idéias de Bacon ("Tente todas as
              possibilidades possíveis"). Esta proposição, contudo, não
              tinha, talvez, este objetivo, mas sim o de buscar soluções possíveis.
              A proposta contida no documento Donum Vitae, publicado pelo
              Vaticano em 1987, já propunha que: "O que é tecnicamente
              posível não é, por esta razão, moralmente admissível".
              Leonard Martin, em 1993 completou com a seguinte frase: "Além
              da questão técnica do que se pode fazer, surge a questão ética
              do que se deve fazer".
               Estudos recentes
              sobre aspectos
              genéticos envolvidos no processo de clonagem questionam os
              aspectos técnicos, além dos aspectos éticos já discutidos.
              Estas novas questões levantadas revelam que inúmeros mecanismos
              podem ser responsáveis pela liberação ou não da leitura do código
              genético na íntegra, a partir de uma célula não embrionária.
               As comunidades vem
              se manifestando, através de progrmas e pesquisas de opinião
              sobre este tema. Em Porto Alegre, em um levantamento de opiniões,
              durante um debate de rádio (Rádio Gaúcha - Programa Polêmica
              27/11/2001), 62% dos 357 ouvintes que se manifestaram
              posicionaram-se a favor da clonagem com finalidade terapêutica.
              Nos Estados Unidos, em um levantamento semelhante, com 1195
              participantes, 59% das pessoas também concordam. Neste grupo,
              quando a pergunta se altera para a clonagem reprodutiva, o índice
              se reduz para 45%. Esta é uma questão extremamente importante de
              ser esclarecida para a população. Seja para fins reprodutivos ou
              para fins terapêuticos o processo é o mesmo. A clonagem terapêutica
              teria dois agravantes: 1),os embriões gerados seriam
              obrigatoriamente mortos, com a finalidade de serem obtidas as células-tronco
              desejadas; 2) existem outras linhagens celulares, não embrionárias,
              que poderiam ser utilizadas.
               A clonagem é um
              dos grande temas de questionamento ético atual. A evolução das
              técnicas, dos procedimentos e dos debates permitirá melhor
              delimitar os aspectos positivos e negativos envolvidos na
              clonagem. O Prof. Joaquim Clotet, em 1997, referindo-se a 
              questão da proibição da clonagem, afirmou: "a pesquisa
              não deve ser banida, apenas deve ser orientada para o bem geral
              da humanidade". Esta é a posição que reconhece que
              este conhecimento é um "conhecimento perigoso", mas não
              um conhecimento que deva ser banido.
                
               
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