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 Bioética
                      e ciência: Até onde avançar sem agredir
 Volnei
                      Garrafa  Os avanços
                      alcançados pelo desenvolvimento científico e tecnológico
                      nos campos da biologia e da saúde, principalmente nos últimos
                      trinta anos, têm colocado a humanidade frente a situações
                      até pouco tempo inimagináveis. São praticamente diárias
                      as notícias provenientes das mais diferentes partes do
                      mundo que relatam a utilização de novos métodos
                      investigativos e/ou de técnicas desconhecidas, a
                      descoberta de medicamentos mais eficazes e o controle de
                      doenças tidas até agora como fora de controle. Se, por
                      um lado, todas essas conquistas trazem na sua esteira
                      renovadas esperanças de melhoria da qualidade de vida,
                      por outro, criam uma série de contradições que
                      necessitam ser analisadas responsavelmente com vistas ao
                      equilíbrio e bem-estar futuro da espécie humana e da própria
                      vida no planeta. Hans Jonas
                      (JONAS, 1990) foi um dos autores que se debruçou com mais
                      propriedade sobre esse tema, ressaltando a impotência da
                      Ética e da Filosofia contemporâneas frente ao homem
                      tecnológico, que possui tantos poderes não só para
                      desorganizar como também para mudar radicalmente os
                      fundamentos da vida, de criar e destruir a si mesmo. Ao
                      mesmo tempo que gera novos seres humanos por meio do domínio
                      das complexas técnicas de fecundação assistida, agride
                      diariamente o meio ambiente do qual depende a manutenção
                      futura da espécie. O surgimento de novas doenças
                      infecto-contagiosas e de diversos tipos de câncer, assim
                      como a destruição da camada de ozônio, a devastação
                      de florestas e a persistência de velhos problemas
                      relacionados com a saúde dos trabalhadores (como a
                      silicose), são "invenções" desse mesmo
                      "homem tecnológico", que oscila suas ações
                      entre a criação de novos benefícios extraordinários e
                      a insólita destruição de si mesmo e da natureza. Ao contrário
                      do que muitos pensam, a atual pauta bioética
                      internacional não diz respeito somente às situações
                      emergentes, proporcionadas por avanços como
                      aqueles alcançados no campo da engenharia genética e
                      seus desdobramentos (projeto genoma humano, clonagem
                      etc.), mas também às situações persistentes, relacionadas
                      principalmente com a falta de universalidade no acesso das
                      pessoas aos bens de consumo sanitário e à utilização
                      equânime desses benefícios por todos os cidadãos
                      indistintamente (GARRAFA, 1998). Considerando
                      essas duas situações, portanto, a humanidade se vê
                      atualmente às voltas não apenas com alguns velhos
                      dilemas éticos que persistem teimosamente desde a antigüidade,
                      como também com os novos conflitos decorrentes da marcha
                      acelerada do progresso. Juntamente com seus inquestionáveis
                      benefícios, a "biotecnociência", para utilizar
                      um neologismo proposto por Schramm (SCHRAMM, 1996. p.
                      109-127), pode, contraditoriamente, proporcionar a ampliação
                      dos problemas de exclusão social hoje constatados. Como
                      impedir, por exemplo, que os conhecimentos recentemente
                      alcançados sobre as probabilidades de uma pessoa vir a
                      desenvolver determinada doença no futuro devido a uma
                      falha em seu código genético (como nos casos da doença
                      de Huntington), não sejam transformados em novas formas
                      de discriminação por parte das companhias seguradoras
                      responsáveis pelos chamados "planos de saúde"?
                      (MORELLI in: BENER e LEONE, 1994. p. 287-292). Tudo isso
                      se torna mais dramático quando se sabe que o perfil
                      populacional mundial tem sofrido transformações
                      profundas a partir da elevação da esperança de vida ao
                      nascer das pessoas (em anos), aliada ao fenômeno da
                      globalização econômica que produz uma crescente e insólita
                      concentração da renda mundial nas mãos de poucas nações,
                      empresas e pessoas privilegiadas. Dentro desse complexo
                      contexto, merecem menção, ainda, o aumento dos custos
                      sanitários mediante a criação e expansão de
                      tecnologias de ponta que possibilitam novas formas de
                      diagnóstico e de tratamento, o recrudescimento de algumas
                      doenças que já estiveram sob controle (como a
                      tuberculose, febre amarela, dengue, malária e outras) e o
                      surgimento de novas enfermidades (como a aids). Segundo o
                      presidente da lnternational Association of Bioethics,
                      Alastair Campbell, em visita que fez ao Brasil em
                      1998, o maior desafio para a bioética será encontrar
                      uma forma mais adequada de justa distribuição de
                      recursos de saúde, numa situação crescente de
                      competitividade. Para ele, é indispensável fugirmos
                      do debate reducionista voltado exclusivamente para os
                      direitos individuais, preocupando-nos, além do problema
                      mais básico da exclusão social aos novos benefícios com
                      o resgate de conceitos mais abrangentes relacionados à dignidade
                      da vida humana, sua duração, o valor da diversidade na
                      sociedade humana e, especialmente, a necessidade de se
                      evitar formas de determinismo genético (...)
                      (CAMPBELL, 1998. p. 9-11). MORAL , ÉTICA
                      E PESQUISA CIENTÍFICA Alguns dos
                      principais bioeticistas que têm-se dedicado a estudar a
                      ética e a moral, bem como suas relações com situações
                      que envolvem a vida no planeta, de uma forma geral,
                      procuram considerá-las como sinônimos (ENGELHARDT, 1998;
                      MORI, 1994. p. 332-341; SINGER, 1994. p. 01-23). Mesmo
                      assim, nas disciplinas e cursos de bioética que
                      venho ministrando na Universidade de Brasília e em outras
                      universidades de 1994 para cá, tenho utilizado, para fins
                      didáticos, alguns parâmetros diferenciais entre as duas.
                      Essa diferenciação tem-se revelado útil no sentido de
                      uma melhor compreensão de alguns temas mais conflitivos e
                      fronteiriços da análise bioética, principalmente quando
                      os interlocutores são alunos dos cursos de graduação. Assim
                      sendo, é inicialmente indispensável comentar que o termo
                      "ética" vem do grego ethos e
                      quer dizer "modo de ser" ou "caráter",
                      no sentido similar ao do "forma(s) de vida(s)
                      adquirida(s) pelo homem". A palavra
                      "moral", por sua vez, deriva
                      etimologicamente do latim mos ou mores
                      ("costume" ou "costumes") e quer
                      dizer "alguma coisa que seja habitual para um
                      povo". Ambas, portanto, tem significado similar.
                      Contudo, foi a partir do latim que estabeleceram-se as
                      bases do Direito romano. Na Roma Antiga é que criou-se,
                      historicamente, o que se entende hoje por "justiça",
                      no seu sentido formal, por meio de leis que
                      foram sendo adaptadas durante os séculos subseqüentes e
                      que até os dias atuais estabelecem as diferentes formas
                      de relação e regem os destinos de pessoas, povos e nações. Como os
                      romanos não encontraram uma tradução que lhes fosse
                      inteiramente satisfatória para o ethos, passaram
                      a utilizar de forma generalizada o mores, que
                      em português é traduzido por moral. Dessa
                      forma, a "boa" ou "correta" normatização
                      passou a ser entendida como aquela legislação que
                      interpretasse e manifestasse as situações concretas que
                      aconteciam, de modo mais aproximado aos costumes ou às
                      formas habituais dos cidadãos e das comunidades
                      procederem nas suas vidas societárias quotidianas. Em resumo,
                      se por um lado o significado etimológico de ética e
                      moral é similar, por outro, existe uma diferença
                      historicamente determinada entre ambas. Como vimos acima,
                      a moral romana é uma espécie de tradução latina de ética,
                      mas que acabou adquirindo uma conotação formal e
                      imperativa, que direciona ao aspecto jurídico e não ao
                      natural, a partir da antiga polarização secularmente
                      verificada, e especialmente forte naquela época, entre o
                      "bem" e o "mal", o "certo" e
                      o "errado", o "justo" e o
                      "injusto" (GARRAFA, 1995. p. 20-24). Para os
                      gregos, o ethos indicava o conjunto de
                      comportamentos e hábitos constitutivos de uma verdadeira
                      "segunda natureza" do homem. Na Ética a Nicômacos,
                      Aristóteles interpretava a ética como a reflexão
                      filosófica sobre o agir humano e suas finalidades (ARISTÓTELES,
                      1992). A partir da interpretação aristotélica, a ética
                      passou posteriormente a ser referida como uma espécie de
                      "ciência" da moral. Na prática, no entanto, a
                      discussão persiste até hoje. Os códigos de ética
                      profissional, por exemplo, consistem em manifestações
                      maniqueístas e formais (e muito bem estruturadas, sob o
                      ponto de vista corporativo ... ) daquilo que os romanos
                      entendiam por moral. As legislações, de modo geral, também
                      obedecem conotação semelhante. Dentre as
                      muitas discussões encontradas na literatura sobre as
                      diferenças ou semelhanças entre moral e ética, merecem
                      destaque as posições de Joseph Fletcher, de acordo com o
                      qual não deveríamos sentir-nos obrigados por qualquer
                      regra moral intangível: só o contexto e as conseqüências
                      úteis ou prejudiciais das nossas escolhas deveriam
                      determinar-nos (FLETCHER in: SÈVE, 1994. p.
                      138-139). Secundo Lucien Sève (SÈVE, 1994. p. 138-139),
                      numerosos médicos apoiaram Fletcher, tomando a defesa
                      deste repúdio dos absolutos morais em defesa de um contextualismo
                      de espírito utilitarista, a partir da expressão
                      "ética de situações".
                      Assim, estabeleceu-se uma distinção, que passou a
                      ser corrente em alguns meios, entre moral e ética, que
                      recobre o conflito entre a exigibilidade das condutas
                      prescritas por normas universais e a
                      flexibilidade das decisões adequadas em cada caso
                      singular. Transportando
                      o foco da discussão para o tema das investigações científicas,
                      objeto do nosso assunto, é indispensável assinalar que
                      as regras e as leis que dispõem sobre o desenvolvimento
                      científico e tecnológico devem ser cuidadosamente
                      elaboradas para, por um lado, prevenir abusos e, pelo
                      outro, evitar limitações e proibições descabidas.
                      Secundo o filósofo italiano Eugenio Lecaldano (LECALDANO in:
                      RODOTÁ, 1993), existe um núcleo de questões que
                      precisam ser reconduzidas dentro de regras de caráter
                      moral, e não sancionadas juridicamente; e um outro, no
                      qual estas questões devam ser rigidamente sancionadas e,
                      portanto, codificadas. O primeiro aspecto se refere ao
                      pluralismo, à tolerância e à solidariedade,
                      prevalecendo a idéia de legitimidade (moral). O
                      segundo diz mais respeito ao Direito formal e à justiça,
                      em que prevalece a idéia de legalidade (ética).
                      Dessa forma, dentro do pluralismo moral constatado nos
                      dias atuais, parece-me preferível confiar mais no
                      transculturalismo (nas singularidades culturais e nas
                      diferenças de moralidades verificadas entre pessoas e
                      povos) do que em certas "verdades universais" e
                      normas jurídicas inflexíveis. Vou
                      ilustrar a diferenciação que percebo entre ética e
                      moral, com um exemplo situado na zona de limites para a
                      tomada de decisões. Uma menina de rua com apenas doze
                      anos de idade, sem família, prostituta desde os oito
                      anos, natural de grande capital de uma região pobre do
                      Brasil, procura um médico para auxiliá-la na realização
                      do aborto. Um detalhe: a menina é portadora do vírus
                      HIV. Apesar de ser católico e saber que no Brasil o
                      aborto, nesses casos, é proibido, o médico decide
                      efetivar o ato, dizendo estar tranqüilo por não ter
                      pecado contra seu Deus, nem infringido o código de ética
                      médica ou a legislação do país. Essa situação pode
                      ser caracterizada entre aquelas que Adela Cortina denomina
                      de "ética sem moral" (CORTINA, 1990). Ou seja,
                      apesar de existir formalmente uma transgressão legal (ética),
                      pela infração aos mandamentos católicos, ao código
                      profissional e à legislação brasileira, o médico tomou
                      partido por uma decisão legítima pautada na sua
                      própria moralidade, que o levou a decidir pela interrupção
                      do processo de gravidez (ou, se os leitores preferirem, a
                      impedir que uma situação de limites como essa seguisse
                      adiante). Nesse caso, a essência da discussão não deve
                      incidir especificamente na decisão individual do médico,
                      mas na análise globalizada da ética da responsabilidade
                      pública do Estado com relação à sociedade que o mantém
                      e aos quadros dramáticos de inadmissível abandono e
                      injustiça social constatados em todas regiões do país. A MANIPULAÇÃO
                      DA VIDA E O TEMA DOS "LIMITES" A questão
                      da "manipulação da vida" pode ser contemplada
                      a partir de variados ângulos: "biotecnocientífico",
                      político, econômico, social, jurídico, moral... Em
                      respeito à liberdade individual e coletiva conquistada
                      pela humanidade através dos tempos, a pluralidade
                      constatada neste final do século XX requer que o estudo
                      bioético do assunto contemple, na medida do possível e
                      de forma multidisciplinar, todas essas possibilidades. Com relação
                      à vida futura do planeta, não deverão ser regras rígidas
                      ou "limites" exatos que estabelecerão até onde
                      o ser humano poderá ou deverá chegar. Para justificar
                      essa posição, vale a pena levar em consideração alguns
                      argumentos de Morin sobre os sistemas dinâmicos
                      complexos. Para ele, o paradigma clássico, baseado na
                      suposição de que a complexidade do mundo dos fenômenos
                      devia ser resolvida a partir de princípios simples e leis
                      gerais, não é mais suficiente para considerar,
                      por exemplo, a complexidade da partícula subatômica, a
                      realidade cósmica ou os progressos técnicos e científicos
                      da área biológica (MORIN, 1996). Enquanto a ciência clássica
                      dissolvia a complexidade aparente dos fenômenos e
                      fixava-se na simplicidade das leis imutáveis da natureza,
                      o pensamento complexo surgiu para enfrentar a complexidade
                      do real, confrontando-se com os paradoxos da ordem e
                      desordem, do singular e do geral, da parte e do todo. De
                      certa forma, incorpora o acaso e o particular como
                      componentes da análise científica e coloca-se diante do
                      tempo e dos fenômenos. Para Hans
                      Jonas, o tema da "liberdade da ciência" ocupa
                      posição única no contexto da humanidade, não limitado
                      pelo possível conflito com outros direitos (JONAS, 1997.
                      p. 67-75). Para ele, no entanto, o observador mais atento
                      percebe uma contradição secreta nessa afirmação,
                      porque a posição especial alcançada no mundo graças à
                      liberdade da ciência significa uma posição exterior de
                      poder e de posse, enquanto a pretensão de
                      incondicionalidade da liberdade da investigação tem de
                      apoiar-se precisamente em que a atividade de investigar,
                      juntamente com o conhecimento, esteja separada da esfera
                      da ação. Porque, naturalmente, na hora da ação, toda
                      liberdade tem suas barreiras na responsabilidade, nas leis
                      e nas considerações sociais. De qualquer maneira, ainda
                      de acordo com Jonas, sendo útil ou inútil, a liberdade
                      da ciência é um direito supremo em si, inclusive uma
                      obrigação, estando livre de toda e qualquer barreira. Abordando o
                      tema da "ética para a era tecnológica", Casals
                      traz o assunto para a esfera da responsabilidade
                      individual dizendo que se trata de atingir o
                      equilíbrio entre o extremo poder da tecnologia e a consciência
                      de cada um, bem como da sociedade em seu conjunto: Os avanços
                      tecnológicos nos remetem sempre à responsabilidade
                      individual, bem como ao questionamento ético das pessoas
                      envolvidas no debate, especialmente aquelas que
                      protagonizam as tomadas de decisões (CASALS, 1997. p.
                      65-84). De acordo
                      com o exposto acima, para as pessoas que defendem o
                      desenvolvimento livre da ciência, mesmo aceitando que
                      este tenha como referência a responsabilidade e a
                      participação, é difícil conviver pacificamente com
                      expressões que estabeleçam ou signifiquem
                      "limites" para a mesma. O tema, contudo, é de
                      difícil abordagem e solução. Por isso, enquanto não
                      encontrar uma expressão (ou iluminação moral suficiente
                      ... ) que se adeque mais às minhas exatas intenções,
                      prefiro utilizar a palavra "limites" entre
                      aspas, procurando, com esse artifício, certamente frágil,
                      expressar minha dificuldade, sem abdicar de minhas posições. Assim
                      sendo, é necessário que se passe a discutir sobre princípios
                      mais amplos que, sem serem quantitativos ou "limítrofes"
                      na sua essência, possam proporcionar contribuições
                      conceituais e também práticas no que se refere ao
                      respeito ao equilíbrio multicultural e ao bem-estar
                      futuro da espécie. Nesse sentido, parece-me indispensável
                      agregar à discussão alguns temas que tangenciam as
                      fronteiras do desenvolvimento, sem limitá-lo: a
                      pluralidade e a tolerância, a participação e a
                      responsabilidade; a eqüidade e a justiça distributiva
                      dos benefícios (BERLINGUER, 1993. p. 19-37; BERLINGUER e
                      GARRAFA, 1993. p. 17-34). Diversos
                      setores da sociedade, principalmente aqueles religiosos e
                      mais dogmáticos, têm traçado uma visão perturbadora,
                      pessimista e apocalíptica da relação entre a ciência e
                      a vida humana neste final de século. Um dos documentos
                      mais respeitáveis surgidos nos últimos anos e que
                      contempla a discussão bioética — a Encíclica Evangelium
                      Vitae, do Papa João Paulo II — desenvolve
                      essa linha de pensamento (JOÃO PAULO II, 1995). A relação
                      de temas abordados pela Encíclica papal abrange tudo
                      aquilo que se opõe de forma direta à vida, como a fome e
                      as doenças endêmicas, guerras, homicídios genocídios,
                      aborto, eutanásia; tudo aquilo que viole a integridade da
                      pessoa, como as mutilações e torturas; tudo aquilo que
                      ofenda à dignidade humana, como as condições
                      sub-humanas de vida, prisões arbitrárias, escravidão,
                      deportação, prostituição, tráfico de mulheres e
                      menores, condições indignas de trabalho. A partir dessa
                      realidade incontestável, o Papa chega a definir o século
                      XX como uma época de ataques massivos contra a vida, como
                      o reino do culto à morte. A veracidade desses fatos, no
                      entanto, é maculada pela unilateralidade do julgamento
                      sobre o presente e pela escuridão apontada para o futuro. A insistência
                      nos aspectos negativos da realidade obstaculiza uma visão
                      mais precisa e articulada deste século. Sem cair na posição
                      oposta, deve-se reconhecer que o século XX, apesar das
                      guerras e crimes e de estar se encaminhando para seu final
                      em clima de incerteza, foi também o século da vida. Foi
                      o século no qual aprofundou-se o conhecimento científico
                      sobre a própria vida que, sem dúvida, melhorou em termos
                      de qualidade para a maioria da espécie humana. Foi o século
                      no qual, pela primeira vez na história, a duração média
                      da vida aproximou-se aos anos indicados como destino
                      "normal" da nossa espécie; no qual a saúde dos
                      trabalhadores foi defendida e sua dignidade reconhecida em
                      muitos países; onde vimos emergir os direitos vitais, jurídicos
                      e culturais das mulheres, que nos séculos anteriores
                      foram sempre desprezados; em que existiu uma substancial
                      valorização do corpo; onde as ciências biológicas e a
                      medicina chegaram a descobertas fantásticas, beneficiando
                      indivíduos e populações. O grande desafio de hoje,
                      portanto, é construir o processo de inclusão de
                      todas as pessoas e povos como beneficiários desse
                      progresso. A força da
                      ciência e da técnica está, exatamente, em apresentar-se
                      como uma lógica utópica de libertação, que pode
                      levar-nos a sonhar para o futuro inclusive com a
                      imortalidade. Tudo isso deveria, pois, desaconselhar as
                      tentativas de impor uma ética autoritária, alheia ao
                      progresso técnico-científico. Deveria, além disso,
                      induzir-nos a evitar formulações de regras jurídicas
                      estabelecidas sobre proibições. É preferível que os vínculos
                      e os "limites" das leis sejam declinados
                      positivamente e que seja estimulada uma moral autógena, não
                      imposta, mas inerente. Em outras palavras, é necessário
                      que entre os sujeitos ético-jurídicos não seja
                      desprezada a contribuição daqueles que vivem a dinâmica
                      própria da ciência e da técnica (os cientistas), sem
                      chegar todavia a delegar somente a estes decisões que
                      dizem respeito a todos. Nesse
                      sentido, é necessário que ocorram mudanças nos antigos
                      paradigmas "biotecnocientíficos", o que não
                      significa obrigatoriamente a dissolução dos valores já
                      existentes, mas sua transformação: deve-se avançar
                      de uma ciência eticamente livre para outra eticamente
                      responsável; de uma tecnocracia que domine o homem para
                      uma tecnologia a serviço da humanidade e do próprio
                      homem ... de uma democracia jurídico-formal a uma
                      democracia real, que concilie liberdade e justiça (KÜNG,
                      1994). Trata-se, portanto, de estimular o desenvolvimento
                      da ciência dentro das suas fronteiras humanas, e, ao
                      mesmo tempo, de desestimulá-la quando esta passa a avançar
                      na direção de "limites" desumanos. "ENDEUSAMENTO"
                      VERSUS "DEMONIZAÇÃO" DA CIÊNCIA 
                        Com relação
                        às ciências biomédicas, as reflexões morais emanadas
                        de diferentes setores da sociedade mostram hoje duas
                        tendências antagônicas. De um lado existe uma radical bioética
                        racional e justificativa, por meio da qual tudo
                        aquilo que pode ser feito, deve ser feito. No
                        extremo oposto, cresce uma tendência conservadora,
                        baseada no medo de que nosso futuro seja invadido
                        por tecnologias ameaçadoras, levando seus defensores à
                        procura de um culpado, erroneamente identificado na
                        matriz das novas técnicas na própria ciência. Nesse
                        quadro complexo, a bioética pode vir a ser usada por
                        alguns como instrumento para afirmar doutrinas
                        anti-científicas e, por outros, ser considerada como um
                        obstáculo impertinente ao trabalho dos cientistas e ao
                        desenvolvimento bioindustrial; ou ainda, como um
                        instrumento para negar o valor da ciência (ou como
                        validação de posições anti-científicas) ou então
                        para justificá-la a qualquer custo (BERLINGUER e
                        GARRAFA, 1996a). Orientar-se
                      entre essas duas teses opostas não é tarefa fácil. A
                      novidade e a complexidade são características inerentes
                      à maioria dos temas bioéticos atuais, dos transplantes
                      às pesquisas com seres humanos e animais, do projeto
                      genoma à reprodução assistida. Sobre muitos desses
                      problemas, ainda não foram formuladas regulamentações
                      que em outros campos e em épocas passadas conduziram a
                      comportamentos mais ou menos homogêneos e se constituíram
                      no fundamento de leis cujo objetivo, mais do que evitar ou
                      punir qualquer conduta censurável, era o de manter um
                      certo equilíbrio na sociedade. Nos dias atuais, o
                      desenvolvimento da ciência está sujeito a choques com
                      diversas doutrinas e crenças existentes, ao mesmo tempo
                      em que as opiniões pessoais também oscilam entre
                      sentimentos e orientações diversas. Por outro lado,
                      linhas de pesquisa se alargarão no futuro, alcançando
                      resultados ainda imprevisíveis, enquanto diversos
                      conhecimentos já adquiridos (como a clonagem) estão
                      hoje apenas na fase inicial de sua aplicação prática. De acordo
                      com essa ordem polarizada de coisas, o mundo moderno poderá
                      desaguar em uma crescente "confusão diabólica"
                      ou na resolução de todos problemas da espécie humana
                      por meio do progresso científico. As duas hipóteses
                      incorrem no risco de alimentar, na esfera cultural, o
                      dogmatismo, e, na esfera prática, a passividade. Se, por
                      um lado, são inúmeros os caminhos a serem escolhidos
                      para que a terra se transforme num verdadeiro inferno, são
                      também infinitas as possibilidades de utilização
                      positiva das descobertas científicas. O embate entre
                      valores e interesses sobre cada uma das opções é um
                      dado real, inextinguível e construtivo sob muitos
                      aspectos. A adoção de normas e comportamentos moralmente
                      aceitáveis e praticamente úteis requer, por todas razões
                      já expostas, tanto o confronto quanto a convergência
                      das várias tendências e exigências (GARRAFA e
                      BERLINGUER, 1996b. p. 5). PLURALIDADE
                      E TOLERÂNCIA, PARTICIPAÇÃO E RESPONSABILIDADE, EQÜIDADE
                      E JUSTIÇA DISTRIBUTIVA Toda essa
                      desorganização de idéias e práticas comprometem
                      diretamente a própria espécie humana, que se tornou
                      interdependente em relação aos fatos, ainda que por
                      sorte se mantenha diversificada em termos de história,
                      leis e cultura. A relação entre interdependência,
                      diversidade e liberdade poderá tornar-se um fator
                      positivo somente no caso das escolhas práticas e das
                      orientações bioéticas terem reforçadas suas tendências
                      ao pluralismo e à tolerância. A intolerância
                      e a unilateralidade, porém, são fenômenos freqüentes
                      tanto nos comportamentos relacionados às situações
                      persistentes quanto nas atitudes que se referem aos
                      problemas emergentes surgidos mais recentemente e que
                      crescem todos os dias. Quanto aos comportamentos, pode-se
                      citar, por exemplo, o ressurgimento do racismo na Europa e
                      em outras partes do mundo e cujas bases culturais estão
                      exatamente em negar o fato de que as etnias pertencem ao
                      domínio comum da espécie humana e em confundir o
                      conceito de "diferença" com o de
                      "inferioridade". Para as atitudes com
                      relação aos problemas "emergentes", pode-se
                      recordar a decisão do Presidente norte-americano Bill
                      Clinton de proibir as pesquisas de clonagem com seres
                      humanos e cortar todo possível auxílio governamental
                      para as mesmas, contrariando as sugestões de uma comissão
                      nacional de bioética por ele convocada. O
                      desenvolvimento da ciência pode percorrer caminhos
                      diversos e utilizar diferentes métodos. O conhecimento é
                      por si só um valor, mas a decisão sobre quais
                      conhecimentos a sociedade ou os cientistas devem
                      concentrar seus esforços implica a consideração de
                      outros valores. Da mesma forma, não se pode deixar de
                      considerar o papel do cientista ou da atividade que ele
                      exerce. Sua responsabilidade ética deve ser avaliada não
                      só pelo exercício das suas pesquisas em si, mas
                      principalmente pelas conseqüências sociais decorrentes
                      das mesmas. Enquanto a ciência, não sendo ideológica
                      por sua estrutura, pode estar a serviço ou dos fins mais
                      nobres ou dos mais prejudiciais para o gênero humano, o
                      cientista não pode permanecer indiferente aos
                      desdobramentos sociais do seu trabalho. Se a ciência como
                      tal não pode ser ética ou moralmente qualificada, pode sê-la,
                      no entanto, a utilização que dela se faça, os
                      interesses a que serve e as conseqüências sociais da sua
                      aplicação. Está ainda inserido nessa pauta o tema da
                      democratização do acesso a todas as pessoas, indistinta
                      e equanimemente, aos benefícios do desenvolvimento científico
                      e tecnológico (às descobertas), uma vez que a espécie
                      humana é o único e real sentido e meta para esse mesmo
                      desenvolvimento. Dentro
                      ainda do tema da democracia e desenvolvimento da ciência,
                      não se pode deixar de tratar da questão do controle
                      social sobre qualquer atividade que seja de interesse
                      coletivo e/ou público. Mesmo em temas complexos como o
                      projeto genoma humano ou as doações e transplantes de órgãos
                      e tecidos humanos, a pluriparticipação é indispensável,
                      para a garantia de que a cidadania e os direitos humanos
                      sejam respeitados. O controle social, por meio do
                      pluralismo participativo, deverá prevenir o difícil
                      problema de um progresso "biotecnocientífico"
                      que reduz o cidadão a súdito ao invés de emancipá-lo.
                      O súdito é o vassalo, aquele que está sempre sob as
                      ordens e vontades de outros, seja do rei, seja dos seus
                      opositores. Essa peculiaridade é absolutamente indesejável
                      em um processo no qual se pretende que a participação
                      consciente da sociedade mundial adquira um papel de
                      relevo. A ética é um dos melhores antídotos contra
                      qualquer forma de autoritarismo e de tentativas espúrias
                      de manipulações. Ainda no
                      que diz respeito à tolerância, Mary Wamock destacou o
                      princípio segundo o qual a única razão válida para não
                      se tolerar um comportamento é que este cause danos a
                      outras pessoas, além de quem o adota (WARNOCK in:
                      MENDUS e EDWARDS, 1990. p. 169). O exemplo a que ela se
                      refere é a legislação sobre embriões, que foi
                      discutida na Inglaterra durante anos. Com relação ao
                      aborto, é oportuno recordar, na mesma linha de idéias já
                      abordada em tópico anterior, que existe uma diferença
                      entre seu enfoque legal e moral. Sobre a legalidade, vários
                      países o reconheceram, objetivando evitar que ele
                      permanecesse como um fenômeno clandestino, por isso mesmo
                      agravado e impossível de prevenir. Quanto à moralidade,
                      ele é, de qualquer modo, um ato interruptivo de um
                      processo vital, ao qual alguns setores da sociedade
                      atribuem significado negativo e outros não. De qualquer
                      forma, questões complexas como o aborto não encontram
                      respostas satisfatórias unicamente no âmbito exclusivo
                      do pluralismo e da tolerância, devendo ser integradas a
                      outros conceitos, como a responsabilidade (da mulher,
                      da sociedade e do Estado) e a eqüidade no seu
                      mais amplo sentido. CONSIDERAÇÕES
                      FINAIS É sempre
                      preferível confiar mais no progresso e nos avanços
                      culturais e morais que em certas normas jurídicas.
                      Existem de fato zonas de fronteira nas aplicações da ciência.
                      Levando em consideração a velocidade do progresso "biotecnocientífico"
                      é, contudo, impossível reconstruir rapidamente certas
                      referências ou valores que possam vir a ser
                      compartilhados por todos, a menos que se insista na
                      alternativa da imposição autoritária e unilateral de
                      valores. A solução está, então, em verificarmos se é
                      possível trabalhar para a definição de um conjunto de
                      condições de compatibilidade entre pontos de vista que
                      permanecerão diferentes, mas cuja diversidade não
                      implique necessariamente um conflito catastrófico ou uma
                      radical incompatibilidade (RODOTÁ, 1993. p. 9). É
                      oportuno levantar, neste ponto, o importante papel
                      formador desempenhado pela mídia (virtual, impressa,
                      falada e televisionada), que deve avançar do patamar do
                      simples entretenimento em direção à abertura de debates
                      públicos relacionados e comprometidos com temas de
                      interesse comum. O grande nó
                      relacionado com a questão da manipulação da vida humana
                      não está na utilização em si de novas tecnologias
                      ainda não assimiladas moralmente pela sociedade, mas no
                      seu controle. E esse controle deve-se dar em
                      patamar diferente ao dos planos científicos e tecnológicos:
                      o controle é ético. É prudente
                      lembrar que a ética sobrevive sem a ciência e a técnica;
                      sua existência não depende delas. A ciência e a técnica,
                      no entanto, não podem prescindir da ética, sob pena de
                      transformarem-se em armas desastrosas para o futuro da
                      humanidade nas mãos de minorias poderosas e/ou
                      mal-intencionadas. O
                      "xis" do problema, portanto, está no fato de
                      que dentro de uma escala hipotética de valores vitais
                      para a humanidade, a ética ocupa posição diferenciada
                      em comparação com a pura ciência e a técnica. Nem
                      anterior, nem superior, mas simplesmente diferenciada. Além
                      de sua importância qualitativa no caso, a ética serve
                      como instrumento preventivo contra abusos atuais e futuros
                      que venham a trazer lucros abusivos para poucos, em
                      detrimento do alijamento e sofrimento de grande parte da
                      população mundial e do próprio equilíbrio bio-sóciopolítico
                      do planeta. Para que a
                      manipulação da vida se dê dentro do marco referencial
                      da cidadania, com preservação da liberdade da ciência a
                      partir do paradigma ético da responsabilidade, existem
                      dois caminhos. O primeiro deles é por meio de legislações
                      que deverão ser construídas democraticamente pelos
                      diferentes países, levando-se em consideração os
                      indicadores já mencionados e no sentido da preservação
                      de referenciais éticos estabelecidos em consonância com
                      o progresso moral verificado nas respectivas sociedades.
                      No que diz respeito a esse tópico, vale a pena recordar o
                      fracasso representado pela nova legislação brasileira
                      com relação à doação presumida de órgãos para
                      transplantes: após a promulgação da lei, nos últimos
                      meses de 1997, a qual em momento algum foi discutida e
                      muito menos aceita pela sociedade do país, o número de
                      doadores mortos passou a diminuir progressivamente, mês
                      após mês, até que em agosto de 1998 o Ministério da Saúde
                      anunciou interesse pela sua alteração. O segundo,
                      por meio da construção democrática, participativa e
                      solidária — pela comunidade internacional de nações
                      — de uma versão atualizada da Declaração Universal
                      dos Direitos Humanos, pautada não em proibições, mas na
                      busca afirmativa da inclusão social, de saúde, bem-estar
                      e felicidade. Uma espécie de Estatuto da Vida, que
                      possa vir a servir de guia para as questões conflitivas já
                      constatadas atualmente e para aquelas novas situações
                      que certamente surgirão no transcorrer dos próximos anos
                      como conseqüência do desenvolvimento. REFERÊNCIAS
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                      é Professor titular do Departamento de Saúde Coletiva e
                      Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Bioética
                      da Universidade de Brasília e Vice-presidente da
                      Sociedade Brasileira de Bioética (l998-2001).  
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