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                 25 
                  de abril de 2001 
                   
                 A 
                  NAFTA trouxe mais prejuízos que benefícios ao México 
                 
                 
                Max 
                Altman 
                 Analista de Política internacional 
                e membro do Conselho de Política Externa da Secretaria de Relações 
                Internacionais do Partido dos Trabalhadores 
                    
                 Um 
                  dos mais insistentes argumentos esgrimidos pelos presidente 
                  americano George Bush na recente Cúpula das Américas de Quebec 
                  em favor do livre comércio e da adoção imediata da ALCA foi 
                  o benefício trazido pela NAFTA (North American Free Trade Agreement) 
                  aos países participantes: os desenvolvidos Estados Unidos e 
                  Canadá e o subdesenvolvido México. O conservador presidente 
                  mexicano Vicente Fox Quesada se apresentou como férreo defensor 
                  da ALCA na qual vislumbra a possibilidade de que todos os países 
                  do hemisfério acedam a oportunidades de desenvolvimento. 
                   
                  Para defender esta idéia, Fox tomou o exemplo da NAFTA, firmado 
                  em 1994: "Este pacto resultou, no todo, um êxito que nos 
                  levou a níveis sem precedentes em matéria de comércio exterior, 
                  de criação de empregos que nos permitiu ter praticamente a metade 
                  do país em pleno emprego". Empresários do continente saúdam 
                  o crescimento dos níveis da exportação mexicana em 1.400 por 
                  cento ao longo de sete anos, omitindo o outro prato da balança 
                  do comércio exterior, o da importação, que cresceu com igual 
                  ímpeto, e até mais. 
                   
                  Numa substanciosa análise do que pode vir a representar a ALCA 
                  para a América Latina, o economista Osvaldo Martinez, diretor 
                  do Centro de Investigações da Economia Mundial examinou o caso 
                  do México, onde a NAFTA trouxe mais prejuízos que benefícios. 
                  Salientou que há sete anos o país azteca está unido aos Estados 
                  Unidos e Canadá pelo Tratado de Livre Comércio (TLC), que em 
                  suma não passa de uma ALCA de dimensões mais reduzidas, pois 
                  atende a mesma filosofia, e corresponde a uma tentativa de integração 
                  de duas economias desenvolvidas e uma subdesenvolvida ou emergente. 
                   
                  Que se passou com o México durante esses quase sete anos de 
                  aplicação da NAFTA? 
                  Martínez oferece claras respostas que desnudam as conseqüências 
                  desse acordo, começando com o fato central que a NAFTA representou 
                  para o México uma deterioração de sua economia nacional e um 
                  evidente retrocesso social. Faz em seguida um enfoque comparativo 
                  nesse contexto e informa que nos anos 70, sem a NAFTA e sem 
                  o neoliberalismo, a economia mexicana cresceu em média 6,6 por 
                  cento ao ano, enquanto que nos anos 90, com a NAFTA e o neoliberalismo, 
                  seu crescimento foi de 3,1 por cento anual. Se examinarmos esse 
                  crescimento por habitante, acrescenta o economista, nos anos 
                  70 o produto per capita cresceu 3,4 por cento em média por ano; 
                  nos anos 90, somente 1,3 por cento. Comenta que a maravilha 
                  anunciada com a Nafta e o neoliberalismo simplesmente não aconteceu, 
                  pelo contrário. 
                   
                  Em sua análise citou o impacto que teve na população trabalhadora 
                  e nesse sentido deu a conhecer que se calcula hoje no México 
                  que o trabalho informal abarca 50 por cento do emprego, portanto 
                  sem condições trabalhistas, com baixos salários, sem direito 
                  à sindicalização, nem à aposentadoria, nem férias e muito menos 
                  licença por doença. Há cerca de 20 milhões de trabalhadores, 
                  numa população total de perto de 100 milhões, em precárias condições 
                  laborais. 
                   
                  Osvaldo Martínez fez questão de afirmar que se baseava em fontes 
                  mexicanas e internacionais para fundamentar sua argumentação. 
                  Falando sobre o que qualificou ironicamente de "maravilhas" 
                  do investimento de capital estrangeiro, reconheceu que neste 
                  item o ingresso foi de 36,4 bilhões de dólares entre 1998 e 
                  2000. Porém, neste mesmo período, o déficit em conta corrente, 
                  ou seja, o que em boa medida este capital forâneo sacou do México, 
                  especialmente para os cofres das casas matrizes norte-americanas, 
                  foi de 48,7 bilhões de dólares. "Este é o milagre do investimento 
                  estrangeiro", precisou. 
                   
                  Quanto à dívida externa mexicana, no ano de 2000 alcançava os 
                  163,2 bilhões de dólares, mais do dobro do que em 1982, exatamente 
                  quando explodiu a crise da dívida externa na América Latina 
                  em decorrência do desastre econômico mexicano. O diretor do 
                  Centro de Investigações da Economia Mundial considera que a 
                  NAFTA significa uma crescente dependência e concentração das 
                  relações econômicas do México com os Estados Unidos, posto que 
                  antes desse acordo suas relações eram mais diversificadas com 
                  o resto do mundo. 
                   
                  Acrescenta que após a implantação da NAFTA provêm dos Estados 
                  Unidos cerca de 74 por cento das importações mexicanas e, com 
                  destino ao poderoso vizinho do norte se dirigem 89 por cento 
                  das exportações. Quer dizer, uma concentração realmente absorvente 
                  das relações econômicas externas do México com a economia dos 
                  Estados Unidos. 
                   
                  Sobre essas exportações, que se constitui no "leit motiv" 
                  da propaganda dos defensores da NAFTA e da política neoliberal, 
                  elas certamente cresceram. Porém, quem as procede? pergunta 
                  o economista, ele mesmo dando a resposta. São cerca de 300 empresas 
                  fundamentais, a grande maioria delas filiais de transnacionais 
                  americanas, esclarece Martínez, às quais se acoplam as 'maquiladoras' 
                  (denominação de empresas situadas em lugares próximos das fronteiras 
                  de um país, onde se montam produtos com peças e componentes 
                  vindos do país vizinho com vantagens decorrentes de mão-de-obra 
                  barata), que fazem a montagem e importam praticamente tudo, 
                  explorando a mão-de-obra mexicana que é 15 vezes mais barata 
                  que a americana. 
                   
                  As 300 empresas e as 'maquiladoras' são responsáveis por 96 
                  por cento das exportações e os 4 por cento restantes se dispersam 
                  em dois milhões de pequenas empresas ameaçadas permanentemente 
                  pela política neoliberal com a absorção ou com a quebra. Deu 
                  como exemplo a indústria têxtil, que aumentou suas exportações 
                  para os Estados Unidos, mas nesse setor 71 por cento das empresas 
                  são americanas, que ali se instalaram depois de expulsar deste 
                  ramo ao capital mexicano. 
                   
                  Martínez citou as afirmações de economistas mexicanos no sentido 
                  de que por cada dólar de exportação industrial do México para 
                  os Estados Unidos apenas existem 18 por cento de componentes 
                  nacionais. Referindo-se às 'maquiladoras', afirmou que por cada 
                  dólar exportado o componente nacional mexicano é de 2 centavos. 
                  Fez referência ao transporte de carga por rodovia, que nos marcos 
                  da NAFTA foi liberado da noite para o dia, solução que a experiência 
                  de integração européia levou 40 anos. O resultado é que o Texas 
                  rejeita 50 por cento do transporte mexicano, o Arizona, 42 por 
                  cento e a Califórnia, 28 por cento. Esses três Estados americanos 
                  fazem fronteira com o México. 
                   
                  Esboçou as vicissitudes do setor agrícola que, ao pôr-se em 
                  contato com a agricultura e as exportações agrícolas americanas, 
                  enfrenta o sistema mais sofisticado de subsídios de todo tipo 
                  do planeta, ao que se soma ser a agricultura americana tecnicamente 
                  a mais avançada. Os resultados são adversos para o agrobusiness 
                  mexicano. Vemos que no caso do arroz (México era exportador), 
                  a produção nacional desse grão foi substituída pelas importações 
                  dos Estados Unidos, que representam mais de 50 por cento do 
                  consumo mexicano desse cereal. A batata, da qual o México é 
                  tradicional exportador, foi bloqueada pelo vizinho do norte, 
                  sob alegações de barreiras fito-sanitárias, enquanto que a proveniente 
                  da agricultura americana invade o mercado mexicano. 
                   
                  Recorda o economista, por outro lado, que o México era um importante 
                  exportador de algodão e passou a ser um dos maiores importadores 
                  desse produto. Completando a análise, assegurou que a superfície 
                  agrícola do México reduziu-se e existe cerca de 6 milhões de 
                  camponeses deslocados, que antes cuidavam de cultivos que foram 
                  sendo substituídos por produtos americanos importados. Esses 
                  trabalhadores buscam inutilmente emprego ou tratam de transpor 
                  o democrático muro que os norte-americanos levantaram na fronteira 
                  com o México, ao longo do Rio Grande, operação em que enfrentam 
                  perigo efetivo de morte e os maus tratos dedicados a imigrantes 
                  pela polícia dos serviços de imigração. 
                   
                  Citando estudos de economistas mexicanos, manifesta que 47 por 
                  cento da população mexicana vive na pobreza e 19 por cento na 
                  indigência. Informa também que nos anos de vigência da NAFTA, 
                  a cesta básica de alimentos aumentou em 560 por cento o seu 
                  preço, enquanto os salários cresceram em apenas 136 por cento. 
                  Dá a conhecer que nos anos de governo de Zedillo, o salário 
                  mínimo perdeu 48 por cento de seu poder de compra. São dados 
                  e argumentos que desfazem o arco-íris desenhado por Bush e seu 
                  parceiro Vicente Fox. 
                   
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