Manifesto
de proclamação da
Confederação do Equador
(2 jul. 1824)
"Brasileiros. - A salvação da
honra da pátria, e da liberdade, a defesa de nossos imprescritíveis e
inalienáveis direitos de soberania, instam, urgem e imperiosamente
comandam que com laços da mais fraterna e estrita união, nos prestemos
recíprocos auxílios para nossa comum defesa.
É inato no coração do homem o desejo
de ser feliz, e este desejo, como princípio de toda a sociabilidade, é
bebido na natureza e na razão, que são imutáveis; para preenchê-lo
é indispensável um governo que, dando expansão e coordenando todos os
seus recursos, eleve os associados àquele grau de prosperidade e
grandeza que lhe estiver destinado nos planos da Providência, sempre
disposta em favor da humanidade. Reconhecendo estas verdades eternas,
adotamos o sistema de governo monárquico representativo e começamos
nossa regeneração política pela solicitude de uma soberana assembléia
constituinte de nossa escolha e confiança.
Antes que se verificassem nossos votos
e desejos fomos surpreendidos com a extemporânea
aclamação do imperador; subscrevemos a ela tácita,
ou expressamente, na persuasão de que isso era
conducente a nossos fins, porque envolvia em seus
princípios a condição de bem servir à Nação.
Reuniu-se a soberana assembléia, e
quando nos parecia que havíamos entrado no gozo de nossos inauferíveis
direitos, e apenas tinha ela dado principio à organização de nosso
pacto social, vimos que o Imperador, postergando os mais solenes
juramentos, e os mesmos principios que lhe deram nascimento político,
autoridade e força, insultou caluniosamente o respeitável corpo que
representava a nova soberania, e desembainhando a homicida espada de um
só golpe fez em pedaços aquele soberano corpo o dilacerou seus
membros!
Não é preciso, brasileiros, neste
momento fazer a enumeração dos nefandos procedimentos do imperador,
nem das desgraças que acarretamos sobre nossas cabeças por havermos
escolhido, enganados, ou preocupados, tal sistema de governo e tal chefe
do poder executivo! Vós todos, e todo o mundo que os têm observado, os
conhecem e enumeram; porém, conquanto estivessem prevenidos na
expectativa de males, nunca a ninguém podia passar pela idéia, talvez
como possibilidade que, o imperador havia trair-nos, e abandonar-nos ao
capricho de nossos sangrentos e implacáveis inimigos lusitanos, no
momento em que teve notícia de estar fazendo-se à vela a expedição
invasora! E é crivei que não fosse preparada de acordo com ele? É
possível, mas não provável.
Na portaria, que abaixo transcrevo, tendes,
ó brasileiros, uma prova indelével de quanto devemos
ao perpétuo defensor do Brasil, e que jamais ousamos
pensar! Nela vereis nímio temor de reações internas
(efeitos da consciência do mal que tem obrado),
vergonhosa confissão de fraqueza em recursos pecuniários,
exército e esquadra; e alfim dizer "É indispensável
que cada província se valha dos próprios recursos
no caso de ataque!" Acredita-lo-eis vindouros!
Não tem recursos uma capital que e o empório e
receptáculo de quase todas as rendas de oito províncias,
que de todas as outras tem tirado quanto tem podido
em dinheiro, efeitos e construções navais; e há
de ter recurso cada uma província isolada?
Brasileiros! salta aos olhos a negra perfídia,
são patentes os reiterados perjuros do imperador, e está conhecida
nossa ilusão ou engano em adotarmos um sistema de governo defeituoso em
sua origem, e mais defeituoso em suas partes componentes. As constituições,
as leis e todas as instituições humanas são feitas para os povos e não
os povos para elas. Eia, pois, brasileiros, tratemos de constituirmos de
um modo análogo às luzes do século em que vivemos; o sistema
americano deve ser idêntico; desprezemos instituições oligárquicas,
só cabidas na encarnecida Europa.
Os pernambucanos, já acostumados a
vencer os vândalos, não temem suas bravatas; doze mil baionetas
manejadas por outros tantos cidadãos soldados de primeira e segunda
linha formam hoje uma muralha inexpugnável; em breve teremos forças
navais, e algumas em poucos dias.
Segui, ó brasileiros, o exemplo dos bravos
habitantes da zona tórrida, vossos irmãos, vossos
amigos, vossos compatriotas; imitai os valentes
de seis províncias do norte que vão estabelecer
seu governo debaixo do melhor de todos os sistemas
- representativo -; um centro em lugar escolhido
pelos votos dos nossos representantes dará vitalidade
e movimento a todo nosso grande corpo social.
Cada Estado terá eu respectivo centro, e cada
um destes centros, formando um anel da grande
cadeia, nos tomará invencíveis.
Brasileiros! Pequenas considerações só
devem estorvar pequenas almas; o momento é este, salvemos a honra, a pátria
e a liberdade, soltando o grito festivo - Viva a Confederação do
Equador! - Manoel de Carvalho Paes de Andrade, Presidente."
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