| ABC 
                                Antecedentes Históricos dos Direitos Humanos 
                                MundoMarcos e Raízes Históricas 
                                dos Direitos Humanos DHnet
  
                                Carta a DiognetoEscrita 
                                cerca de 150 anos após a morte de Cristo
 Os 
                                Cristãos... Os 
                                cristãos não são diferentes 
                                dos outros homens nem pelo território, 
                                nem pela língua, nem pelo modo de viver. Eles 
                                não moram numa cidade exclusivamente sua, 
                                não usam uma língua própria, 
                                nem levam um gênero de vida especial. A 
                                sua doutrina não é conquista do 
                                pensamento e do esforço dos homens estudiosos, 
                                nem professam, como fazem alguns, um sistema filosófico 
                                humano. Moram 
                                em cidades gregas ou bárbaras, como coube 
                                em sorte a cada um, e, adaptando-se aos costumes 
                                de vestir, de comer e em todo o resto de vida, 
                                dão exemplo de uma forma de vida social 
                                maravilhosa que, segundo todos confessam, é 
                                inacreditável. Habitam 
                                na respectiva pátria, mas como estrangeiros; 
                                participam em todas as honras como cidadãos 
                                e suportam tudo como estrangeiros. (...) Todas 
                                as terras estrangeiras são uma pátria 
                                para eles e todas as pátrias são 
                                terras estrangeiras... Vivem 
                                da carne, mas não são segundo a 
                                carne. Moram na terra, mas são cidadãos 
                                do céu. Obedecem às leis estabelecidas, 
                                mas através do seu teor de vida superam 
                                as leis. Amam 
                                a todos e por todos são perseguidos. Não 
                                os conhecem e condenam-nos; dão-lhes a 
                                morte e eles recebem a vida. São 
                                mendigos e enriquecem a muitos; encontram-se privados 
                                de tudo e tudo têm em abundância. São 
                                desprezados e no desprezo encontram glória; 
                                difamam-nos e é reconhecida a sua inocência. São 
                                injuriados e abençoam; são tratados 
                                de modo insolente e eles tratam com reverência. Fazem 
                                o bem e são punidos como malfeitores; e, 
                                embora punidos, alegram-se quase como se lhes 
                                dessem a vida. Mas 
                                os que odeiam não sabem dizer o motivo 
                                do seu ódio. Numa 
                                palavra, os cristãos são no mundo 
                                o que a alma é no corpo. CARTA 
                                A DIOGNETO Exórdio1. Excelentíssimo Diogneto, vejo que te 
                                interessas em aprender a religião dos cristãos 
                                e que, muito sábia e cuidadosamente, te 
                                informaste sobre eles: Qual é esse Deus 
                                no qual confiam e como o veneram, para que todos 
                                eles desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não 
                                considerem os deuses que os gregos reconhecem, 
                                nem observem a crença dos judeus; que tipo 
                                de amor é esse que eles têm uns para 
                                com os outros; e, finalmente, por que essa nova 
                                estirpe ou gênero de vida apareceu agora 
                                e não antes. Aprovo esse teu desejo e peço 
                                a Deus, o qual preside tanto o nosso falar como 
                                o nosso ouvir, que me conceda dizer de tal modo 
                                que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao 
                                escutares, não se arrependa aquele que 
                                falou.
 [...]
 Os 
                                cristãos não se distinguem dos demais 
                                homens, nem pela terra, nem pela língua, 
                                nem pelos costumes. Nem, em parte alguma, habitam 
                                cidades peculiares, nem usam alguma língua 
                                distinta, nem vivem uma vida de natureza singular. 
                                Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta 
                                à invenção ou conjectura 
                                de homens de espírito irrequieto, nem defendem, 
                                como alguns, uma doutrina humana. Habitando cidades 
                                Gregas e Bárbaras, conforme coube em sorte 
                                a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, 
                                no vestuário, no regime alimentar e no 
                                resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa 
                                e paradoxal constituição no seu 
                                regime de vida político-social. Habitam 
                                pátrias próprias, mas como peregrinos: 
                                participam de tudo, como cidadãos, e tudo 
                                sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira 
                                é para eles uma pátria e toda a 
                                pátria uma terra estrangeira. Casam como 
                                todos e geram filhos, mas não abandonam 
                                à violência os recém-nascidos. 
                                Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo 
                                leito. Encontram-se na carne, mas não vivem 
                                segundo a carne. Moram na terra e são regidos 
                                pelo céu. Obedecem às leis estabelecidas 
                                e superam as leis com as próprias vidas. 
                                Amam todos e por todos são perseguidos. 
                                Não são reconhecidos, mas são 
                                condenados à morte; são condenados 
                                à morte e ganham a vida. São pobres, 
                                mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas 
                                em tudo abundam. São desonrados, e nas 
                                desonras são glorificados; injuriados, 
                                são também justificados. Insultados, 
                                bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras. 
                                Fazendo o bem, são punidos como maus; fustigados, 
                                alegram-se, como se recebessem a vida. São 
                                hostilizados pelos Judeus como estrangeiros; são 
                                perseguidos pelos Gregos, e os que os odeiam não 
                                sabem dizer a causa do ódio. Numa palavra, 
                                o que a alma é no corpo, isso são 
                                os cristãos no mundo. A alma está 
                                em todos os membros do corpo e os cristãos 
                                em todas as cidades do mundo. A alma habita no 
                                corpo, não é, contudo, do corpo; 
                                também os cristãos, se habitam no 
                                mundo, não são do mundo. A alma 
                                invisível vela no corpo visível; 
                                Também os cristãos sabe-se que estão 
                                neste mundo, mas a sua religião permanece 
                                invisível. A carne odeia a alma, e, apesar 
                                de não a ter ofendido em nada, faz-lhe 
                                guerra, só porque se lhe opõe a 
                                que se entregue aos prazeres; da mesma forma, 
                                o mundo odeia os cristãos que não 
                                lhe fazem nenhum mal, porque se opõem aos 
                                seus prazeres. A alma ama a carne, que a odeia, 
                                e os seus membros; Também os cristãos 
                                amam os que os odeiam. A alma está encerrada 
                                no corpo, é todavia ela que sustém 
                                o corpo; Também os cristãos se encontram 
                                retidos no mundo como em cárcere, mas são 
                                eles que sustêm o mundo. A alma imortal 
                                habita numa tenda mortal; Também os cristãos 
                                habitam em tendas mortais, esperando a incorrupção 
                                nos céus. Provada pela fome e pela sede, 
                                a alma vai-se melhorando; também os cristãos, 
                                fustigados dia-a-dia, mais se vão multiplicando. 
                                Deus pô-los numa tal situação, 
                                que lhes não é permitido evadir-se.
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