Anistia aos vegetais
Fora da Lei

decálogo
Existe na natureza uma planta estratégica para o mundo moderno.
Capaz de entrelaçar duas lutas vitais deste fim de século _ o
desenvolvimento sustentável e as liberdades individuais.
Cannabis Sativa é o nome da planta. Estratégica, porém proibida.
A seguir, dez maneiras de dizer uma coisa só: Legalize!
1.....
Não é de hoje que a cannabis sativa é usada pelo homem. Em 2.800
antes de Cristo ela já era cultivada pelos chineses para extração de
fibra. As caravelas usadas na descoberta da América tinham suas velas
feitas a partir da cannabis (mais tarde, Napoleão tentaria liquidar a
Marinha britânica barrando a chegada da cannabis russa). Estima-se que,
no final do século passado, até 90% do papel usado no mundo provinha
da cannabis, da qual foi feita a primeira Constituição dos Estados
Unidos. Os primeiros jeans também foram feitos da fibra da planta. De
uma maneira ou de outra, a cannabis atravessa toda a história da
Humanidade.
2.....
Seria, então, uma planta milagrosa? Quase. Da cannabis pode-se extrair
25 mil produtos de uso essencial para a sociedade moderna. Roupas, calçados,
produtos de beleza, óleo de cozinha, chocolate, sabão em pó, papel,
tintas, isolantes, combustível, material de construção, carrocerias
de carro e muitos outros produtos fazem da cannabis uma matéria-prima
valiosa para a indústria mundial.
3.....
A cannabis sempre foi usada como instrumento religioso. Suas sementes
eram queimadas pelos sacerdotes para produzir os transes místicos. Seu
uso com fins recreativos começou entre os gregos, nos grandes
banquetes.
4.....
O uso industrial da cannabis sativa foi em grande parte sufocado por uma
campanha agressiva de um concorrente direto, a indústria do petróleo.
Em 1940, Henry Ford chegou a produzir um carro com a fibra da cannabis e
movido por óleo da semente da planta. Nos anos seguintes os
conservadores norte-americanos procuraram estigmatizar a planta,
atacando seu uso como droga e apelidando-a de Marijuana _ um apelo ao
racismo contra os mexicanos. A campanha resultou na proibição da
cannabis sativa nos EUA.
5.....
Também no Brasil, as dificuldades para o uso industrial da cannabis
provêm de uma campanha de viés racista contra a maconha. Os negros
africanos que chegavam como escravos traziam as sementes em suas tangas
e se reuniam à noite para fumar e cantar. Cientistas procuraram
depreciar aquele hábito, tentando, sem sucesso, evitar sua difusão
entre os brancos.
6.....
A cannabis tem um grande poder medicinal. Na China era usada como anestésico.
Hoje, é considerada um grande remédio contra o enjôo provocado pela
quimioterapia contra o câncer. É aceita também no tratamento de
glaucoma e pode ser usada contra a asma e o stress. Muitos pacientes com
Aids a utilizam para abrir o apetite e ganhar peso, reunindo forças
para resistir.
7.....
As pesquisas médicas indicam que a cannabis faz menos mal que o tabaco
ou o álcool. Diferente deste, é inofensiva para terceiros, pois não
provoca agressividade ou descontrole emocional. Não há indícios de
dependentes de cannabis nas clínicas brasileiras. Diz-se que a dose
mortal de cannabis são dois quilos jogados do 25o andar de
um prédio.
8.....
A proibição do uso da cannabis sativa tem sido o pretexto para uma das
formas mais hipócritas de violência contra o cidadão. Pessoas de bem
são abordadas como criminosas e arrancadas de sua tranquilidade, nos já
famosos "teatros" de agressão e extorsão da polícia. A lei
encaminhada no Congresso descriminalizando o usuário será um passo
importante para abolir estas situações da vida brasileira. Mas a violência
provocada pelo tráfico só será extinta com a liberação total da
cannabis.
9.....
Hoje, a cannabis é plantada na Hungria, França, Canadá, Inglaterra,
Portugal, China e Espanha. Com pesquisas genéticas, o Brasil poderia
produzir em três anos a semente da cannabis sem o THC (o princípio
psicoativo), para uso industrial.
10.....
A cannabis é uma matéria-prima estratégica para a sociedade sustentável.
Ao contrário do petróleo, é um recurso renovável e limpo. Seu
cultivo não necessita de agrotóxicos e tem alta performance produtiva,
pois cresce em no máximo 110 dias (podendo ser associado a outras
culturas). A cannabis favorece o princípio ecológico do
desenvolvimento de regiões auto-sustentáveis, com plantações e fábricas
lado a lado.
A luta pela plantação da cannabis sativa com uso industrial, já
adotada por grifes internacionais como Adidas, Guess e Calvin Klein, é
uma janela de otimismo para o futuro sustentável do planeta, após o
fim do petróleo e seus derivados.
A luta pela legalização da cannabis fumada por milhões de pessoas se
insere no avanço das liberdades individuais, uma marca deste fim de século.
As duas lutas já começaram no Brasil. Sinto-me orgulhoso por
participar das duas e sentir que, no Brasil, já há as condições
sociopolíticas para lançar a campanha que pode unir milhares de
pessoas, iniciativas e criatividade política.
É hora de discutir, agir e legalizar.
Fonte: Fernando Gabeira - PV/RJ
www.gabeira.com.br
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