Procurador
acusa ex-secretário do RN
O procurador-geral de Justiça do Rio Grande
do Norte, Emanuel Cristóvão Cavalcanti, disse ontem que policiais
envolvidos em um grupo de extermínio local "recebiam proteção"
de Maurílio Pinto de Medeiros, ex-secretário- adjunto da Segurança
daquele Estado.
Conhecido por "Meninos de Ouro", o grupo de extermínio é
acusado de praticar 28 assassinatos. Responsáveis pela apuração
desses crimes, dez pessoas, entre elas o procurador, tiveram seus nomes
incluídos em uma lista para também serem assassinados.
Por causa dessas ameaças, a Comissão de Direitos Humanos da OEA
(Organização dos Estados Americanos) solicitou ao governo brasileiro
proteção policial para elas. O Ministério da Justiça criou comissão
para apurar a denúncia.
Dois dos policiais acusados de envolvimento nos assassinatos foram
presos. Outros acusados estão respondendo a inquérito. Cavalcanti
disse que parte deles trabalhava no gabinete de Medeiros.
O procurador diz não ter provas sobre o envolvimento de Medeiros nos
crimes. Mas, segundo Cavalcanti, o ex- secretário "criou
dificuldades" nas investigações sobre o envolvimento de seus
subordinados nos crimes atribuídos a
eles.
Em outubro passado, foi assassinado um advogado e ativista de direitos
humanos que denunciara o envolvimento dos policiais nesses assassinatos.
Pressionado por Brasília, o governador Garibaldi Alves Filho (PMDB)
afastou Medeiros.
O procurador disse que ele e os promotores que investigam o caso nunca
receberam ameaças diretas de morte. Mas confirma que seus nomes
apareceram em uma lista de pessoas marcadas para morrer. "Se foi
uma armadilha para intimidar o Ministério Público, houve perda de
tempo", afirma.
Para ele, nenhuma ameaça "impedirá a apuração".
A lista com os nomes das pessoas ameaçadas foi entregue por um presidiário
para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O
advogado Gilson Carvalho, assassinado em outubro, também constava da
relação.
Além de Cavalcanti, constam da lista os nomes de seis promotores, um
delegado de polícia e dois integrantes do Centro de Direitos Humanos e
Memória Popular de Natal. O Ministério da Justiça dará proteção a
eles.
O secretário da Segurança do Rio Grande do Norte, Sebastião Américo
de Souza, disse ontem que tem enviado à Justiça, para "providências
legais", toda denúncia que chega a ele sobre o envolvimento de
policiais em assassinatos.
"Mas não acredito que exista grupo de extermínio formado por
policiais", disse. Para ele, o ex-secretário Medeiros é "um
patrimônio da polícia" local. "Ele é tido aqui como um
policial exemplo." (Folha de São Paulo, 27/12/96)
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