Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
 
 Direitos Humanos
 Desejos Humanos
 Educação EDH
 Cibercidadania
 Memória Histórica
 Arte e Cultura
 Central de Denúncias
 Banco de Dados
 MNDH Brasil
 ONGs Direitos Humanos
 ABC Militantes DH
 Rede Mercosul
 Rede Brasil DH
 Redes Estaduais
 Rede Estadual RN
 Mundo Comissões
 Brasil Nunca Mais
 Brasil Comissões
 Estados Comissões
 Comitês Verdade BR
 Comitê Verdade RN
 Rede Lusófona
 Rede Cabo Verde
 Rede Guiné-Bissau
 Rede Moçambique

SEGUNDO RELATÓRIO NACIONAL SOBRE OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
2000 – 2002

REGIÃO NORTE

A Região Norte, formada pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, é caracterizada pela presença da Floresta Amazônica e de grandes rios das bacias do Amazonas e do Tocantins. Dos 4 milhões de quilômetros quadrados de floresta original, 13,3% já foram devastados, principalmente nos estados do Pará, Rondônia e Acre. O Norte é a região do país que tem a menor densidade demográfica, de apenas 3,31 habitantes por km2. Tem uma população de 12.900.704 habitantes (7,60% da população brasileira). A população urbana representa 69,87% e a população rural representa 30,13% da população total da região. Ao lado do Nordeste, é a região que apresenta maior população rural do país.1 A taxa anual de crescimento da população é de 2,4%, a mais alta entre as regiões do país. 2 É a região onde há a menor proporção de população de cor branca, a maior proporção de população de cor parda e a maior população indígena no país, incluindo os 9 mil indígenas Ianomami.3 Entre todas as regiões brasileiras, o Norte é a que apresenta a maior proporção de crianças e adolescentes de até 14 anos e a menor proporção de idosos de 65 anos ou mais. 4 Na década de 1990, aumentou o rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios e diminuiu a população em situação de pobreza na região. Mas o aumento do rendimento foi inferior ao registrado nas demais regiões do país e 36,2% da população ainda vive em situação de pobreza (com renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo). Apenas o Nordeste tem uma população em situação de pobreza maior do que a do Norte.5 Ainda que a desigualdade de renda também tenha diminuído na década de 1990 no Norte, assim como nas demais regiões do país, o grau de desigualdade de renda permanece alto, inferior ao do Nordeste e Centro-Oeste, mas superior ao do Sudeste e Sul. 6 Com 30% da população residindo em área rural, a Região Norte registrou 435 conflitos rurais, envolvendo 237 mil pessoas, que causaram 30 mortes entre 1999 e 2001. No mesmo período, 2.313 trabalhadores sem situação de escravidão foram encontrados e 1.307 foram libertados. Nos dois casos, há uma concentração de violações no Estado do Pará. 7 Tendo a maior população indígena do país, a maioria concentrada nos estados do Amazonas e Roraima, a Região Norte também registra conflitos e violências decorrentes da luta pela posse das terras indígenas, incluindo invasões de terras já demarcadas. As organizações de defesa dos direitos dos povos indígenas enfatizam que, apesar dos avanços no processo de demarcação das terras e de defesa dos povos e das culturas indígenas, refletidos no crescimento da população indígena nos últimos anos, ainda não foram adotadas as medidas necessárias para garantir definitivamente a posse das terras demarcadas, a sobrevivência e o desenvolvimento sustentável das populações indígenas na região. No Amazonas, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro desenvolve, em parceria com a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, o projeto Cidadania Indígena no Rio Negro, visando proteger e promover os direitos dos povos indígenas na região, incluindo o Balcão da Cidadania Indígena e oficinas, cursos e seminários visando promover o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida da população e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente. Os novos estados do Amapá, Rondônia e Roraima registram índices de homicídio que estão entre os mais altos do país. Roraima é o estado do país com a maior taxa de homicídios de mulheres por 100 mil habitantes. 8 Para enfrentar o problema da violência na região, inclusive da violência praticada por agentes públicos, foram implantados Programas Estaduais de Proteção a Testemunhas e Vítimas Ameaçadas no Acre, Amazonas e Pará, com apoio da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). Há também um Centro de Apoio a Vítimas de Crime em processo de implantação no Pará. Ainda no Pará, o Governo do Estado criou a Ouvidoria de Policia em 1997. Em relação às crianças e adolescentes, a Região Norte apresenta problemas de trabalho infanto-juvenil e de exploração sexual, incluindo tráfico de crianças, adolescentes e mulheres. Ao mesmo tempo, Amazonas, Rondônia e Roraima se destacam positivamente por aplicar mais freqüentemente medidas sócio-educativas em meio aberto, particularmente liberdade assistida, ao invés de medidas de internação. Em Belém, capital do Pará, foi estabelecido, em 2002, um núcleo da Rede Nacional de Observatórios de Direitos Humanos, que visa formar grupos de jovens para identificar as violações de direitos humanos e atuar na proteção e promoção dos direitos humanos nas suas comunidades. 9

< Voltar


1 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

2 IBGE, dados de 1996 (www.ibge.gov.br).

3 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

4 IBGE, Censo Demográfico 2000, em Folha de S. Paulo, 20 de dezembro de 2001, Especial 2, quadro "Evolução por faixas etárias".

5 Folha de S. Paulo, 20 de dezembro de 2001, Censo 2000, Especial 5, quadros "Rendimento Mensal dos responsáveis pelo Domicílio"; Folha de S. Paulo, 17 de outubro de 2002, Eleições especial 5, quadro "Pobreza cai em todas as regiões". O rendimento médio do dos responsáveis pelos domicílios na Região Norte aumentou de R$ 428 em 1991 para R$ 577 em 2000, enquanto no País aumentou de R$ 542 em 1991 para R$ 769 em 2000. A população considerada pobre é a população residente com renda familiar per capita de até meio salário mínimo. Dados do IBGE, elaborados pelo IPEA, mostram que a população em situação de pobreza na Região Norte diminuiu de 49,5% da população total em 1992 para 32,7% em 1995 e aumentou novamente para 36,2% em 1999, enquanto no país diminuiu de 40,2% da população total em 1992 para 28,4% em 1999.

6 Folha de S. Paulo, 20 de dezembro de 2001, Censo 2000, Especial 5, "A Concentração de renda em 2000". A desigualdade de renda é medida pelo índice de Gini, que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de zero, maior a igualdade na distribuição de renda. Quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade na dist5ibuição de renda. Valores acima de 0,5 indicam a existência de alto grau de concentração de renda na sociedade. No ano 2000, o índice de Gini da Região Norte foi de 0,598, enquanto para o Brasil foi de 0,609.

7 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002 disponíveis no web-site da Comissão (www.cptnac.com.br); Ministério do Trabalho e Emprego, A Experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.

8 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002). O número de homicídio por 100 mil habitantes no ano 2000 foi de 32,5 no Amapá, 34,9 em Rondônia e 39,5 em Roraima, contra 27,0 homicídios por 100 mil habitantes no país. O número de homicídios por 100 mil habitantes entre as mulheres, no ano 2000, chegou a 13,9 em Roraima, contra 4,4 homicídios por 100 mil habitantes no país.

9 A formação da Rede Nacional de Observatórios de Direitos Humanos é um projeto coordenado pelo Instituto São Paulo contra a Violência e o Núcleo de Violência da Universidade de São Paulo, com apoio da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Secretaria de Estado da Assistência Social e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.


ACRE
VIOLÊNCIA POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
TRABALHO ESCRAVO
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Exploração Sexual
Trabalho Infanto-Juvenil
Medidas Sócio-Educativas
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
IDOSOS

O Estado do Acre, situado no sudoeste da Região Norte, faz divisa com Amazonas, Rondônia, Peru e Bolívia. Tem como capital Rio Branco e uma economia baseada na extração da borracha e da castanha, agricultura e pecuária. É o estado de Chico Mendes, líder seringueiro e ambientalista, fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e Xapuri e do Conselho Nacional dos Seringueiros, assassinado em Xapuri em 1988. 1 Além de ser marcado por conflitos de terra como os que vitimaram Chico Mendes, além de outros seringueiros, trabalhadores rurais e indígenas, o Acre é um estado que está na rota do tráfico internacional de drogas e registra a presença de grupos de extermínio ligados ao crime organizado com envolvimento de policiais e autoridades. Em setembro de 1999, o ex-deputado federal Hildebrando Paschoal, acusado pela CPI do Narcotráfico de liderar um grupo de extermínio, perdeu a imunidade e o mandato parlamentar e foi condenado a 40 anos de prisão pela Justiça do Acre. Apesar dos conflitos de terra, da presença do crime organizado e da atuação de grupos de extermínio, a Acre não apresenta índices elevados de homicídio, comparativamente aos demais estados da Região Norte. Entretanto, o estado tem índices elevados de homicídio contra mulheres, inferiores apenas aos de Roraima.

< Voltar

VIOLÊNCIA POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES

No Acre, há denúncias da atuação de grupos de extermínio, com participação de policiais civis e militares, de violência policial e da prática de tortura, acompanhadas e investigadas pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.2 O Centro de Direitos Humanos da Diocese (CDHD) e o Centro de Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP) do Acre elaboraram dossiê sobre a atuação de grupos do extermínio no Acre em 2001, segundo o qual 70 pessoas foram assassinadas por grupos de extermínio entre 1986 e 1999, sendo 14 das vítimas mortas em 1999. O relatório relaciona 21 policiais militares, 13 policiais civis e outras 20 pessoas, identificadas como integrantes de grupos de extermínio pela Comissão Parlamentar de Inquérito do Narcotráfico e pelo Ministério Público Federal. Segundo informações do relatório, a ação de grupos de extermínio no Acre está associada à atuação do crime organizado e do narcotráfico, com ligações no Peru e na Bolívia. 3 O CDHEP relata caso grave de violência policial e prática de tortura, sendo vítima Vilmar Rocha Brandão, seringueiro, morador do Seringal Russara, situado no município de Manoel Urbano. Em fevereiro de 2002 em torno de 3-4 horas da manhã, Vilmar estava saindo de sua residência para pegar lenha quando 5 ou 6 pessoas fardadas, policiais militares, e uma outra pessoa sem farda, promotor de justiça, dispararam 5 tiros que atingiram a vítima. A vítima teve uma perna quebrada (decorrente de uma bala), uma mão machucada a bala e marcas de tiros pelo corpo. Ele havia sido confundido com um bandido apresentado no Programa Linha Direta da Rede Globo. Desacordado, foi arrastado para fora de sua casa e almejado com as mãos para frente, sendo colocado dentro de uma rede e levado para o "porto" (beira do Rio), dentro de um barco junto com os policiais que estavam indo para a cidade de Manoel Urbano, onde foi hospitalizado apenas para pequenos curativos (cerca de meia hora) e foi embarcado em um avião para a cidade de Rio Branco. Chegando no aeroporto foi para o Hospital de Base (Pronto Socorro). Permaneceu no hospital até que militantes do Centro de Direitos Humanos da Diocese conseguiram sua transferência para o Hospital Santa Juliana. Desde o dia em que chegou ao hospital até 12 de março, Vilmar ficou sob escolta policial (Polícia Civil). O militante do CDHD que acompanhou o caso foi informado pelas enfermeiras e por uma assistente social que a vítima estava sendo torturada pelos policiais responsáveis pela sua escolta. Vilmar tinha medo de falar sobre esse assunto, pois temia ser eliminado, chegou até em pensar em suicídio. Retornou a sua residência no dia 27 de março de 2002.

< Voltar

SISTEMA PENITENCIÁRIO

 No Acre, há problema de superlotação no sistema penitenciário e as delegacias de polícia ou outras instalações da secretaria de segurança pública estão utilizando sua capacidade máxima. Em setembro de 2002, a população carcerária compreendia 1.451 detentos para 762 vagas, das quais 691 vagas estão distribuídas em quatro penitenciárias. As 71 vagas restantes estão em instalações do sistema de segurança pública. 4 VIOLÊNCIA RURAL No Acre, os casos de conflitos de terra diminuíram de sete em 1999 para dois em 2001. Mas o número de pessoas envolvidas nestes conflitos aumentou de 1.920 em 1999 para 3.725 em 2001. Entre janeiro e agosto de 2002, houve envolvimento de 1.060 pessoas em dois casos de conflitos. Três pessoas foram assassinadas em decorrência dos conflitos em 1999. 5

< Voltar

TRABALHO ESCRAVO

A Comissão Pastoral da Terra, em 2000 registrou a presença de 16 trabalhadores em condição análoga à escravidão, no município de Cruzeiro do Sul.6 Em 2001, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Gertraf realizou uma operação no Acre, que resultou na libertação de setenta trabalhadores encontrados em situação degradante ou análoga à escravidão. 7

< Voltar

LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Acre decretou a impugnação da candidatura e a suspeição dos direitos políticos por três anos do governador petista Jorge Viana que concorria à reeleição. O pedido foi formulado por seu adversário eleitoral Flaviano Melo, que alegou suposto abuso de poder econômico, o que teria acontecido devido ao suposto uso de publicidade institucional do governo na eleição. Esse argumento foi considerado infundado. O Ministério Público Eleitoral do Acre apoiou o Governador, que recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a cassação da decisão. O TSE acatou o pedido e manteve o direito de Jorge Viana de concorrer à reeleição. O governo realizado por Jorge Viana foi marcado pelo combate ao crime organizado e ao narcotráfico, e ainda colaborou com a CPI do Narcotráfico que resultou na cassação do mandato do deputado Hidelbrando Paschoal. 8 Nesse estado, 22 municípios receberam a proteção do Exército nas eleições realizadas no dia 06 de outubro de 2002 no 2º turno, em 27 de outubro do mesmo ano, 9 municípios receberam esta proteção. O motivo foi justamente o clima resultante do confronto entre o governador Jorge Viana e o TRE. 9

< Voltar

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

No Acre, o número de jovens entre 15 e 24 anos mortos por homicídio diminuiu de 51 para 50 entre 1998 e 2000. O número de mortes por homicídio por 100 mil habitantes na população entre 15 e 24 anos diminuiu de 44,3 em 1998 para 40,5 em 2000. Um indicador da probabilidade dos jovens virem a serem mortos é a taxa de vitimização juvenil que, no estado do Acre, era de 111,1 no ano de 2000, que é muito significativa se comparada com a taxa nacional de vitimização juvenil de 92,7. 10 Em relação à efetivação dos instrumentos de democracia participativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), até o final do 1º semestre de 2002 somente 12 dos 22 municípios (55%) do Acre contavam com Conselhos Tutelares. O que significa que no estado ocorria um flagrante descumprimento do Estatuto no que se refere à implantação desses órgãos. Quanto aos Conselhos Municipais de Direitos a situação era um pouco melhor, porém em 7 cidades (32%) ele não estava instalado. 11

< Voltar

Exploração Sexual

No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002, o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração sexual, das quais seis originaram- se no Estado do Acre. 12 Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada a Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, que constatou a existência no Brasil de 172 rotas de tráfico de pessoas com idade inferior a 18 anos. Tinham origem no estado do Acre, sete rotas, sendo que três delas também envolviam mulheres com idade superior a 18 anos. 13 Visando o combate ao abuso e à exploração sexual, através da prevenção e do atendimento especializado às crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, a Secretaria de Municipal do Trabalho e Bem- Estar Social de Rio Branco criou, em maio de 2001, o Programa Sentinela de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Um estudo, que precedeu o lançamento do programa, já registrava 73 casos no município, durante o período de junho de 2000 a fevereiro de 2001. Inicialmente, foi implantado o Centro de Referência com vistas ao atendimento e apoio psicossocial das vítimas. O Programa também previa o desenvolvimento de ações em outras frentes, como campanhas de esclarecimento, seminários, capacitação de profissionais ligados à rede de atendimento, sensibilização e mobilização de setores ligados à rede de exploração. 1 4

< Voltar

Trabalho Infanto-Juvenil

 O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente indicou que em 1999 havia 6.537 crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Estado do Acre. Porém, cabe salientar, que assim como outros Estados da Região Norte, o Mapa não traz informações sobre o trabalho da população infantojuvenil do Acre residente em área rural. Esse grupo ocupava com maior freqüência os seguintes setores: Agropecuária (2.615) e Comércio (2.287). Ademais, do total 2.614 não recebiam remuneração, 1.308 eram empregados, 981 trabalhadores domiciliares, 654 trabalhavam por conta própria e 653 trabalhavam para autoconsumo. 15

< Voltar

Medidas Sócio-Educativas

Conforme dados fornecidos pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do adolescente e pelo Departamento da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério Justiça, o Estado do Acre tinha, em março de 2002, 109 adolescentes inseridos em medida sócio-educativa de liberdade assistida (56,19% do total de adolescentes em conflito com a lei). Em junho do mesmo ano, havia 85 (43,81%) jovens internados nas 3 unidades do Estado, sendo 53 do sexo masculino e 32 do feminino16. Assim, o índice de adolescentes em liberdade assistida era de 1,28. 17 Em junho de 2002, não havia nenhum adolescente inserido na medida de semiliberdade tampouco sob internação provisória, o que se justificava pelo flagrante descumprimento a adequação imposta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que o Estado não tinha nenhuma unidade para cumprimento das medidas de semiliberdade e internação provisória.

< Voltar

MULHERES

O Acre tem a segunda maior taxa de homicídios contra as mulheres na Região Norte, inferior apenas a de Roraima. No estado, a taxa de homicídios contra as mulheres foi de 4,7 por 100 mil habitantes no ano de 2000. As mulheres representaram este ano 12,1% das vítimas de homicídios. 18 Em muitos casos, os autores dos homicídios ou tentativas de homicídio são pessoas com as quais as mulheres mantinham relações. Dois casos recentes exemplificam o problema. No primeiro, uma doméstica de 22 anos, residente no bairro Mauri Sérgio, em Rio Branco, procurou abrigo na Delegacia da Mulher para não ser assassinada pelo seu ex-marido. O marido havia sido preso por agredi-la e tentar matá-la usando uma faca. Passou dois dias na delegacia e, quando saiu, foi até a casa da ex-mulher, quebrou tudo e ainda jogou a televisão na cabeça dela. A intenção do marido era matá-la, só que a doméstica conseguiu correr e pedir ajuda aos vizinhos. Policiais foram até a casa para prender o agressor, mas ele havia fugido. 1 9 Em outro caso, após a separação do casal, a mulher passou a viver em um quarto construído nos fundos do terreno da casa do pai, no bairro Boa Vista, em Rio Branco. Mas o ex-marido não a deixava em paz e vivia ameaçando matá-la caso a encontrasse com outro homem. Um dia, observou que a ex-mulher se encontrava em casa na companhia de um homem. Ele invadiu a casa com uma faca na mão e atacou primeiro o rapaz, de 16 anos, com uma violenta facada na garganta e, em seguida, partiu para cima da mulher, dandolhe três facadas. A mulher morreu antes de ser removida para o hospital. O agressor entregou-se à polícia e foi encaminhado a Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher. 2 0 Em Rio Branco, foram registradas na polícia em 2000, 48 ocorrências de estupro, 17 atentados violentos ao pudor. Em 2001, foram registrados 31 estupros e 16 atentados violentos ao pudor. 21 Em uma Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher do estado do Acre, foram registradas 4.672 ocorrências policiais em 1999. Destas, foram 1.586 ameaças (33,95%), 6 homicídios (0,13%), 18 tentativas de homicídio (0,39 %), 21 lesões corporais (0,45 %), 32 maus tratos (0,68 %) e 2.499 vias de fato (53,49 %). Quanto aos crimes envolvendo violência sexual, foram 4 atentados violentos ao pudor (0,09 %), 42 estupros (0,90 %) e 12 tentativas de estupro (0,26 %). 2 2 No estado, há registro de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual. A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, constatou a existência de três rotas de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual comercial, sendo que as três rotas também envolviam crianças e adolescentes. 23

< Voltar

AFRO-DESCENDENTES

A população afro-descendente (364.513) representa 65,38% da população do estado, proporção inferior à média da Região Norte. Na população afro-descendente, 5,71% se declararam negros e 59,67% pardos. 24

< Voltar

INDÍGENAS

 O Acre tem uma população de pelo menos 7.510 indígenas, distribuídos em 10 povos. Além disso, também abriga outros dois povos, com uma população de, ao todo, 2.633 indígenas, que vivem entre o Acre e o Amazonas.25 Estima-se que tenha a 12ª maior população indígena do país.26 É o estado que conta com a quinta maior proporção da população indígena do país, sendo que 1,83% da população local se declara indígena. 27 O Estado tem 29 áreas indígenas, que se encontram na seguinte situação jurídica: 28

Situação

No. de Terras Indígenas

A identificar 1
Em identificação 3
Identificadas / Aprovadas pela Funai 1
Declaradas 2
Homologadas 9
Registradas 13

Esses dados correspondem às informações fornecidas pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Justiça e Segurança Pública, segundo as quais o estado abriga um total de 10.946 indígenas. Além disso, segundo essa mesma fonte, a situação fundiária das Terras Indígenas no dia 6 de novembro de 2002 é a seguinte: 23 áreas inteiramente regularizadas, 2 áreas já demarcadas e aguardando Decreto de Homologação, 2 áreas já declaradas e aguardando demarcação e outros trâmites posteriores, 2 áreas em processo de demarcação e 5 áreas aguardando o início do processo de identificação.30 No total, são 34 áreas, o que contrasta com as informações acima descritas, fornecidas pelo Instituto Sócio Ambiental, para quem o estado contaria com 29 áreas.

A terra indígena dos Ashaninka foi invadida no final de 2000 por madeireiros peruanos, que abriram uma estrada clandestina ligando algumas cidades à terra, e lá abriram clareiras e iniciaram um processo intensivo de retirada de cedro e mogno.31 Os indígenas Ashaninka também enfrentam problemas com os caçadores profissionais, que invadem freqüentemente suas terras em busca de caça, sendo que chegam até a saquear cerca de 500 quilos de carne de uma vez só. Os caçadores são algumas vezes também acompanhados por madeireiros e seus empregados. As invasões e saques costumavam ser muito freqüente, até que em agosto de 1999 os indígenas encaminharam uma denúncia ao Ministério Público, dando origem a um processo do qual fez parte a ida da Polícia Federal ao local dos fatos. A partir daí, depois de superadas ainda muitas invasões e conflitos, os caçadores foram aos poucos deixando de entrar no território dos Ashaninka. 32 Violências No dia 14 de maio de 2000, o índio Manchinery José Pedro Matias foi assassinado a facadas e pauladas após ter sido atacado por cinco homens. Havia acabado de concluir um curso para agentes de saúde e voltava acompanhado de outros dois indígenas de uma comemoração para o hotel em que estavam hospedados. No caminhão foram surpreendidos com agressões morais e xingamentos preconceituosos por parte de um grupo de homens, que logo em seguida os atacou, matando José Pedro e ferindo gravemente os outros dois indígenas. Quatro homens foram presos acusados de serem os autores do crime. O quinto seria menor de idade. 3 3 Outro caso de violência fatal ocorreu na terra indígena do Alto Tarauacá, em junho de 2000, quando invasores da área indígena, que entraram nela para desmatar, retirar madeira e caçar, foram avistados por cerca de dez indígenas não contatados. Dispararam várias vezes, sendo que ao menos um índio foi morto. Seu corpo foi encontrado dias depois, quando verificou-se que ele foi morto e em seguida castrado. Foi o único corpo encontrado, mas a Funai possui informações de que pelo menos mais três indígenas teriam sido assassinados no local. 3 4 Boas práticas Conhecido como "Governo da Floresta", o Governo de Jorge Viana tem apoiado o avanço dos processos de regularização das terras indígenas do estado, dando condições para a vigilância de seus limites, o uso sustentado de suas riquezas e a preservação da floresta, e tem colaborado nos processos de formação de professores bilíngües, agentes de saúde e agroflorestais. Um exemplo do que têm acontecido pode ser percebido através da narração do episódio envolvendo a rodovia BR-364. O projeto de construção dessa rodovia é antigo e prevê uma extensão de mais de três mil quilômetros. No estado do Acre, a estrada começou a ser asfaltada em 1996, de forma que desprezava os impactos socioambientais que poderia causar. O Estudo de Impacto Ambiental elaborado foi criticado por todos ligados à área devido à fragilidade das informações que continha e à falta de análise dos impactos decorrentes da pavimentação. Em 1998, alguns indígenas katukina foram ao Ministério Público e entregaram um documento demonstrando os problemas decorrentes da construção, tais como: saúde, invasões de caçadores, roubos, etc. Também pediam a anulação do Estudo de Impacto Ambiental. Atendendo ao pedido dos indígenas, no dia 3 de julho de 1999 o novo governo eleito realizou uma audiência pública com os Katukina e com representantes de outras populações indígenas e seringueiras da região. Algumas propostas foram tiradas, entre elas o compromisso do governo de elaboração de uma política conjunta e a revisão do estudo anterior com a participação das comunidades. 35

< Voltar

IDOSOS

O Estado do Acre tinha, em 2000, uma população de idosos de 30.404.36 Seguindo a tendência nacional, mas num ritmo inferior à média nacional, a população de idosos cresce em relação às demais faixas etárias da população. Em 1991, os idosos do Estado representavam 4,8% da população total; no ano de 2000, este número passou a 5,5%. PORTADORES DE DEFICIÊNCIA A Fundhacre desenvolve a primeira etapa da Campanha Nacional de Protetização para Pessoas Portadoras de Deficiências Físicas, distribuindo pernas e pés mecânicos, bem como muletas, cadeiras de roda e ainda equipamentos de prótese corretivos para coluna, braços e outros membros do corpo. As oficinas de ortopedia se localizam nas cidades de Cruzeiro do Sul e Rio Branco onde são produzidos as próteses, órteses e ainda calçados ortopédicos que estão sendo distribuídos nesta campanha.

< Voltar


1 Os assassinos de Chico Mendes foram presos e condenados a 19 anos de prisão em 1990, esacaparam da prisão em 1993 e foram recapturados em 1996.

2 Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Relatório de Atividades – Setembro 2002.

3 Centro de Direitos Humanos da Diocese e o Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Acre, Dossiê A Ação dos Grupos de Extermínio no Acre.

4 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/Depen/default.htm).

5 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002 disponíveis no web-site da Comissão (www.cptnac.com.br).

 6 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 2000.

7 Ministério do Trabalho e Emprego, A Experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.

8 Jornal da Tarde, 28 de agosto de 2002, "Tensão no Acre pela vida de Jorge Viana", e 3 de setembro de 2002, "TSE pode julgar hoje o recurso de Viana".

9 Folha de S. Paulo, 3 de outubro de 2002, "170 municípios pedem proteção do Exército para votação do dia 6"; e Agência Estado, 27 de outubro de 2002, "Forças Armadas atuam em 149 municípios, sem incidentes até agora" (www.estadao.org.br).

1 0 Waiselfisz; J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais grupos da população.

1 1 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

1 2 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial (compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a pornografia).

1 3 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

1 4 A Gazeta, 16 de maio de 2001 (www.agazeta-acre.com.br).

15 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p. 67. O mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes conforme o estado. No Acre foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15 anos nas atividades de: Comércio (Ambulante e Varejista); Extrativismo (Seringa e Castanha); Hortifrutigrangeiros; Indústria Movelaria e Assemelhados; Lavagem de Automóveis; Panificação; Pecuária; Produção de Farinha de Mandioca; Quebra de Concreto; Guardas Mirins; Serviços (Domésticos; em Cerâmica e Olarias; em Madeireiras e Serrarias; e em Oficinas Mecânicas); Borracharias; Sorveteria; e Venda de Jornais.

 1 6 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca). No índice indicado foram considerados apenas os adolescentes inseridos nas medidas de internação, semiliberdade e liberdade assistida. Desconsiderou-se as demais medidas (advertência, obrigação de reparar o dano e prestação de serviço à comunidade) uma vez que a fonte de dados fazia referência àquelas medidas mais gravosas.

1 7 Este índice foi obtido a partir do resultado da divisão do número total de adolescentes em liberdade assistida pelo número total de inseridos em medidas em meio fechado (a internação e a semiliberdade). Quanto maior o índice, maior também a aplicação no Estado da medida em meio aberto em comparação ao número de adolescentes privados, parcial ou totalmente, de liberdade.

18 Waiselfisz, J.J., Mapa da Violência III (Brasília: Unesco, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002).

19 A Gazeta, 14 de novembro de 2002 (www.agazeta-acre.com.br).

2 0 A Gazeta, 23 de agosto de 2002 (www.agazeta-acre.com.br).

 2 1 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).

22 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - Pesquisa Nacional sobre as Condições de Funcionamento das Delegacias Especializadas no Atendimento às Mulheres. Relatório disponível no web-site da entidade (www.mj.gov.br/sedh/cndm).

2 3 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

2 4 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

 2 5 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org).

26 Conselho Indigenista Missionário (www.cimi.org.br).

2 7 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

 2 8 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de 2002).

 2 9 Uma delas em conjunto com o Estado do Amazonas.

3 0 Governo do Estado do Acre, "Situação Fundiária das Terras Indígenas do Estado do Acre".

3 1 Conselho Indigenista Missionário, Informe n.º 442, de 4 de janeiro de 2001.

32 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, "Os Ashaninka do Rio Amônia no Rumo da Sustentabilidade", de Margarete Kitaka Mendes, p. 571-574.

3 3 Conselho Indigenista Missionário, Informes n.º 412 e n.º 415, de 25 de maio de 2000 e 15 de junho de 2000.

3 4 Conselho Indigenista Missionário, Informe n.º 427, de 5 de setembro de 2000.

35 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, "Governo da Floresta", p. 565, e "BR-364: no Caminho dos Katukina", de Edilene Cofface de Lima, p. 575-578. 3 6 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).


AMAPÁ
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÊNCIA RURAL
TRABALHO ESCRAVO
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
IDOSOS

O Estado do Amapá, situado ao norte da Região Norte, faz divisa com a Guiana Francesa, Suriname e Pará. Tem como capital Macapá e 90% do seu território coberto pela Floresta Amazônica. A economia baseada na extração da castanha-do-pará, da madeira e na mineração de manganês. Passou da condição de território federal a de estado com a promulgação da Constituição Federal em 5 de outubro de 1988. No Estado do Amapá, o período recente foi marcado por conflitos políticos envolvendo o crime organizado. Em 1999, agravou-se a crise decorrente dos conflitos entre o então Governador do Estado, João Alberto Capiberibe, e o crime organizado e os velhos esquemas de clientelismo local. A vinda da CPI do Narcotráfico para o Estado também contribuiu para o acirramento do conflito. Durante seu mandato, ex-governador Capiberibe, eleito senador em 2002, teve sua atuação reconhecida pelas políticas adotadas em defesa dos povos indígenas e do meio ambiente. O Amapá apresenta elevadas taxas de homicídio. Enquanto a taxa média da Região Norte é de 18,7 homicídios por 100 mil habitantes, no Amapá chega a 32,5 homicídios por 100 mil habitantes. Além disso, entre os anos de 1991 e 2000, a taxa de homicídios sofreu um aumento de 79,56%.1 A taxa de mortalidade por homicídio entre os jovens de 15 a 24 anos aumentou de 38,6 por 100 mil habitantes em 1991 para 75,8 em 2000 (+ 96,37%). 2

< Voltar

SISTEMA PENITENCIÁRIO

O sistema prisional do Amapá dispõe de 537 vagas, das quais 518 estão distribuídas em nove estabelecimentos: cinco unidades prisionais, duas cadeias públicas e um hospital psiquiátrico; são dezenove as vagas nas unidades policiais. Em setembro de 2002, o número de presos excedia o número de vagas, respectivamente 850 detentos para 537 vagas. 3 Apesar de haver 89 vagas para cumprimento de medida de segurança, em setembro de 2002, não havia nenhum preso cumprindo medida de segurança no estado. Caso as vagas destinadas para cumprimento de medida de segurança não estejam sendo utilizadas, é agravado o problema de superlotação nas demais unidades prisionais. Caso as vagas para medida de segurança estejam sendo utilizadas para presos que não receberam esta pena, que deveriam cumpri-la em regime fechado, o descumprimento da Lei de Execução Criminal é alarmante, uma vez que estes detentos se encontram em um local absolutamente inapropriado, o hospital psiquiátrico. Ainda em relação à utilização das vagas de acordo com o tipo de sentença recebida, o número de presos que ainda não foram condenados e podem estar aguardando julgamento em instituições inadequadas é expressivo. São 462 presos provisórios para apenas 74 vagas em cadeias públicas e 19 vagas em distritos policiais. Se os presos provisórios estão em locais adequados a sua situação processual, a superlotação nestas unidades é grave. Porém, se eles se encontram detidos em unidades prisionais para presos já condenados, se encontram em situação irregular.

< Voltar

VIOLÊNCIA RURAL

No Amapá, os casos de conflito de terra diminuíram entre os anos de 1999 e 2002. Em 1999 foram registrados seis casos, em 2000 um caso, em 2001 dois casos e entre janeiro e agosto de 2002 outros dois casos. O número de pessoas envolvidas nos conflitos também diminuiu, passando de 2.627 em 1999 para 195 em 2001 e 60 entre janeiro a agosto de 2002. No período, não foram registrados assassinatos em decorrência de conflitos de terra. 4

< Voltar

TRABALHO ESCRAVO

Em 1999, a Comissão Pastoral da Terra registrou a presença de doze trabalhadores em condição análoga a de escravo, no município de Calçoene. 5 Em 2001, o Grupo de Fiscalização Móvel do Gertraf realizou uma operação no Amapá, mas não encontrou trabalhadores em situação degradante ou análoga à escravidão. 6

< Voltar

LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS

A situação político-institucional do Amapá, já complicada havia algum tempo, foi recentemente agravada no episódio de tentativa de impeachment do Governador. O impeachment foi aprovado pela Assembléia Legislativa em um processo marcado por irregularidades e posteriormente invalidado pelo Supremo Tribunal Federal e pela Comissão Julgadora. O pedido tinha como fundamento uma acusação envolvendo a utilização dos recursos públicos por parte do governador. O que estava por traz dela, porém, relacionava- se com a política que vinha sendo desenvolvida pelo governo no estado. Em contraposição aos governos anteriores, Capiberibe vinha desenvolvendo uma política transparente, priorizando os investimentos sociais e rompendo com clientelismos e corrupções. Segundo depoimentos do governo, a crise institucional se agravou justamente em 1999, no momento em que a Assembléia Legislativa alterou a Lei de Diretrizes Orçamentárias do Estado, ampliando as verbas do Judiciário e do Legislativo (verba usada no favorecimento pessoal de seus membros) e comprometendo a capacidade de investimento do Executivo. De acordo com o próprio Capiberibe, a vinda da CPI do Narcotráfico ao Amapá teria contribuído como agravante da crise. O resultado de tudo isso foi justamente o pedido infundado e irregular de impechment, que foi invalidado posteriormente. 7 Quatro municípios desse estado receberam a proteção das Forças Armadas nas eleições realizadas no dia 27 de outubro de 2002. 8

< Voltar

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Em relação à efetivação dos instrumentos de democracia participativa previstos no ECA, até o final do 1º semestre de 2002, somente metade dos municípios do Amapá tinham instalado Conselhos Tutelares, o que significa que ocorria um flagrante descumprimento do ECA no que se refere a implantação desses órgãos. Quanto aos Conselhos Municipais de Direitos a situação era um pouco melhor, porém em quatro das doze cidades do Estado não havia o Conselho. 9 Exploração Sexual No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002, o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração sexual, das quais 11 denúncias de exploração sexual originaram-se no Amapá. 10 Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, que constatou a existência no Brasil de 172 rotas de tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial. Tinham origem no Amapá oito rotas, sendo que 6 delas também envolviam mulheres com idade superior a 18 anos. 11 Trabalho Infanto-Juvenil O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente indica que em 1999 havia 6.643 crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Amapá. Porém, cabe salientar, que assim como outros estados da Região Norte, o Mapa não traz informações sobre o trabalho da população infanto-juvenil do Amapá residente em área rural. O Mapa aponta que esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes setores: Agropecuária (2.447), Comércio (1.399) e Científico/Artístico (1.048).12 Destes, 3.147 (47,37%) não recebiam remuneração, 1.399 (21,06%) eram empregados, 1.049 (15,79%) trabalhavam para autoconsumo e 1.048 (15,78%) eram domésticos. 13 Medidas Sócio-Educativas Conforme dados apresentados pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e pelo Departamento da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério Justiça, o Estado do Amapá tinha, em março de 2002, 59 adolescentes inseridos em medida sócio-educativa de liberdade assistida. Em junho do mesmo ano, havia: 56 cumprindo internação, 32 em semiliberdade e 14 internados provisoriamente. Em relação ao sexo, somente havia duas meninas internadas provisoriamente e outras duas em semiliberdade. Até junho de 2002, o Estado contava com duas unidades para cumprimento da medida de internação, um para semiliberdade e um para internação provisória. 14 A partir destes dados, verifica-se que o Poder Judiciário do Amapá está dando maior prioridade a aplicação de medidas em meio fechado, já que - considerando o universo total de medidas de Liberdade Assistida, Semiliberdade e Internação em execução no Estado – apenas 40,14% são medidas em meio aberto. Outro dado a se destacar consiste na elevada utilização da semiliberdade como meio de sócio-educação. MULHERES No Amapá, há registro de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual. A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial constatou a existência de seis rotas de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual comercial no estado, sendo que todas envolviam crianças e adolescentes. 15 No estado, a taxa de homicídios contra as mulheres foi de 1,7 por 100 mil habitantes no ano 2000 (a menor da Região Norte). As mulheres representam 2,6% das vítimas de homicídios no estado. 16 O número de crimes contra mulheres, registrados na Delegacia Especializada de Crimes contra a Mulher de Macapá, diminuiu de 1999 para 2001. Em 1999, foram registradas 6.316 ocorrências de crimes, sendo que 2.238 foram de lesão corporal, 1.472 vias de fato, 30 tentativas de estupro, 77 estupros, 4 de tentativa de homicídio, 2 homicídios e 27 atentados violentos ao pudor. Em 2000, foram 5.991 ocorrências, sendo 2.117 lesões corporais, 1.463 vias de fato, 14 tentativas de estupro, 40 estupros, 4 tentativas de homicídio e 12 atentados violentos ao pudor. Em 2001, foram registradas 5.584 ocorrências de crimes contra a mulher, das quais 1.896 foram de lesão corporal, 1.542 vias de fato, 26 tentativas de estupro, 58 estupros, 4 tentativas de homicídio, 3 homicídios e 5 atentados violentos ao pudor.17 Entretanto, segundo dados globais da polícia, o número de ocorrências de estupro diminuiu de 110 em 1999 para 100 em 2000, mas aumentou para 118 em 2001. 18

< Voltar

AFRO-DESCENDENTES

A população afro-descendente (351.292) representa 73,64% da população do estado, proporção superior à média da Região Norte. Na população afro-descendente, 6,63% se declararam negros e 67,01% pardos. 19

< Voltar

INDÍGENAS

 O Amapá tem uma população de 4.943 indígenas, distribuídos em cinco povos indígenas.20 Estima-se que tenha a 19ª maior população indígena do país.21 O Estado tem cinco áreas indígenas, sendo que quatro já estão registradas e uma está em processo de identificação: 22 A falta de saneamento básico vem comprometendo a saúde dos indígenas Waiãpi e fazendo vítimas. Somente durante o mês de julho de 1999, cinco crianças morreram e outras quinze foram infectadas e hospitalizadas, vítimas da bactéria Escherichia coli, que se propaga pela água e é transmitida por leite materno. Todas tinham menos de um ano de idade e morreram em tempo inferior a 24 horas, depois de terem contraído a doença. Sendo a bactéria transmissora da doença desconhecida, o que se constatou foram os sintomas da doença, que seria uma espécie de gripe, seguida de forte vômito, diarréia e febre.23 Além disso, no final de 2000, os Waiãpi foram vítimas de casos de catapora. 24 Boas Práticas A Associação dos Povos Indígenas Oiapoque (Apio) foi formada em 1992 como conseqüência da luta conjunta de diversas etnias pela demarcação das terras indígenas nas décadas de 70 e 80. Inicialmente marcada por caráter mais reivindicatório, foi aos poucos transformando o caráter de sua atuação. Desde a eleição de 1994, em que foi eleito para o estado um governo que prioriza as ações descentralizadoras, tornando fundamental a participação direta das comunidades tradicionais do estado, entre elas as indígenas – trata-se da eleição de Capiberibe ao Governo do Estado em 1994, sendo que ele foi posteriormente reeleito em 1998 -, a Apio passou a atuar juntamente com o governo na implementação dos projetos sociais, estabelecendo prioridades, gerenciando projetos e contratando mão-de-obra para eles. Diversas ações foram realizadas nessa parceria da Apio com o governo do estado, sendo que, por exemplo, em cinco anos foram construídas 14 escolas, 5 centros comunitários, 13 alojamento para professores não indígenas e um alojamento para os indígenas em trânsito em Oiapoque. Além disso, a Casa de Saúde do Índio em Oiapoque foi reformada e ampliada e um caminhão com capacidade de transportar até 12 toneladas de produção agrícola foi adquirido. Esse é um caso exemplar e bem sucedido de uma parceria entre o governo e os povos indígenas tradicionais na busca de soluções para os problemas e na ação conjunta na elaboração e na execução de projetos e políticas sociais. 25

< Voltar

IDOSOS

O Amapá tinha, em 2000, uma população de 11.349 idosos.2 6 Apesar de ser o estado em que a população de idosos teve o menor incremento na década, a tendência nacional de envelhecimento da população também foi verificada no estado: os idosos representavam 3,9% da população em 1991 e 4,1% em 2000.

< Voltar

MIGRANTES

 A população de migrantes (97.854) representa 20,51% da população do estado do Amapá.27 É o estado em que tem a segunda maior população de migrantes do país, proporcionalmente à população, menor apenas que a de Roraima.

< Voltar


1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH; 2002).

2 Idem. A taxa de vitimiação juvenil por homicídios é a relação entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de homicídio na população total. Exemplo: Quanto maior a taxa de vitimização maior é a concentração de homicídios na população jovem; se, ao contrário, a taxa é zero ou próxima a este valor significa que os homicídios atingem na mesma proporção tanto a faixa jovem quanto o resto da população.

3 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/Depen/default.htm).

4 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT (www.cptnac.com.br).

5 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999.

 6 Ministério do Trabalho e Emprego, A Experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.

7 Material recebido do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – Ministério da Justiça.

 8 Agência Estado, 27 de outubro de 2002, "Forças Armadas atuam em 149 municípios, sem incidentes até agora" (www.estadao.org.br).

9 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

10 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial (compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a pornografia).

11 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

1 2 Mais especificamente foram encontrados trabalhadores entre 5 e 15 anos que estavam inseridos nas seguintes atividades econômicas: Açougue; Agricultura; Coleta de Material Reciclável; Comércio (Ambulante, de Combustíveis e Varejista); Construção Civil; Extração de Palmito; Lavagem de Automóveis; Reparação de Objetos Pessoais; Serviços (de Engraxate, Flanelinha e Domésticos); Serviços e Comércio de Alimentos; Borracharia; e Venda de Jornais

1 3 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p. 70.

14 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

15 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

1 6 Waiselfisz, J.J., Mapa da Violência III (Brasília: Unesco, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002).

1 7 Instituto de Mulheres Negras do Amapá, Relatório IMENA.

1 8 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).

1 9 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

 2 0 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org).

21 Conselho Indigenista Missionário (www.cimi.org.br), que informa ter esse estado uma população de 4.457 indígenas.

2 2 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org).

2 3 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 395 (OESP, 21 de julho de 1999; OESP, 21 de julho de 1999, "Bactéria faz vítimas",).

2 4 CIMI, Informe n.º 438, de 23 de novembro de 2000.

2 5 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 393 (Antinka Capiberibe, out/00 "Associação dos Povos Indígenas de Oiapoque,).

2 6 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

 2 7 Idem.


AMAZONAS
VIOLÊNCIA POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÊNCIA RURAL
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Exploração Sexual
Medidas Sócio-Educativas
INDÍGENAS
IDOSOS
MIGRANTES
GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS E TRANSEXUAIS

O Estado do Amazonas, situado no centro da Região Norte e da Floresta Amazônica, faz divisa com todos os estados da região, com exceção do Tocantins, e ainda com Mato Grosso, Venezuela, Colômbia e Peru. É o estado brasileiro que tem a maior área territorial e tem 92% do seu território coberto pela Floresta Amazônica. A capital é Manaus, situada às margens do Rio Negro, e a economia do estado é baseada no extrativismo, inclusive extração de madeira, pesca, mineração (estanho e cassiterita) e, principalmente na Zona Franca de Manaus, indústria. É o estado que tem a maior população indígena do país. São diversos os problemas que enfrentam, merecendo destaque a disputa pelas terras indígenas e a relação estabelecida frequentemente entre os militares e as mulheres indígenas na qual os militares mantêm relações sexuais com as mulheres indígenas e as abandonam quando ficam grávidas. Outro problema sério no Amazonas é a exploração sexual de mulheres, adolescentes e crianças. Doze rotas de tráfico de mulheres com essa finalidade têm origem no Amazonas, sendo que dez delas também envolvem crianças e adolescentes. Na Região Norte, é o estado que tem o segundo maior número de rotas, inferior apenas ao Pará. A maior incidência de tráfico ocorre com adolescentes, que circulam entre as capitais e municípios de confluência, por estradas, portos e vias aéreas, e que transitam entre o Amazonas, o sul e o nordeste do país. 1 O Amazonas é o estado com maior número de registros de assassinatos de homossexuais na Região Norte – que decorre em parte da existência de uma organização de defesa dos direitos deste grupo, Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis, que incentiva as denúncias e luta pela punição dos responsáveis e pela eliminação deste tipo de violência.

< Voltar

VIOLÊNCIA POLICIAL E TORTURA

 Em visita ao Brasil, no ano de 2000, o Relator Especial da Organização das Nações Unidas para a Tortura, Nigel Rodley, observou a prática de tortura no Estado do Amazonas, citando um caso no seu relatório, no qual a vítima foi agredida por policiais, que tentaram sufocá-la colocando um saco plástico na sua cabeça. O caso ocorreu em 1996, mas somente em 1998 a corregedoria da polícia civil abriu inquérito para apurar o caso. Não há informação sobre a conclusão do inquérito. 2

< Voltar

SISTEMA PENITENCIÁRIO

 Há superlotação no sistema prisional do Amazonas. O estado tem um total de 1.058 vagas, das quais 639 no sistema penitenciário e 419 nas delegacias de polícia. Em setembro de 2002, se encontravam em regime de privação de liberdade 1.901 detentos, ou seja, 843 detentos a mais do que oferece a capacidade do sistema no estado. 3

< Voltar

VIOLÊNCIA RURAL

 No Amazonas, o número de conflitos de terra caiu de cinco em 1999 para dois em 2000, mas aumentou novamente para cinco em 2001. O número de pessoas envolvidas caiu de 3.465 em 1999 para 1.200 no ano 2000, mas também aumentou para 3.200 pessoas em 2001. No período, não foram registrados assassinatos em decorrência de conflitos de terra. 4

< Voltar

LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS

 Nesse estado, ao menos dois municípios receberam a proteção do Exército nas eleições realizadas no dia 06 de outubro de 2002 e 10 municípios receberam esta proteção no 2º turno, em 27 de outubro do mesmo ano. Os juízes dos municípios de Coari e Nova Aripuanã, que tiveram seus prefeitos assassinados nos últimos anos, requisitaram essa proteção. 5

< Voltar

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

 No Amazonas, o número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos por homicídio diminuiu de 256 em 1998 para 249 em 2000. O número de mortes por homicídio por 100 mil habitantes na população entre 15 e 24 anos diminuiu de 43,9 em 98 para 39,8 em 2000. Um indicador da probabilidade dos jovens virem a ser mortos é a taxa de vitimização juvenil que era, no Amazonas, de 102,6 no ano 2000, que é bastante significativa se comparada com a taxa nacional de vitimização juvenil de 92,7. 6 Dados do final do 1º semestre de 2002 indicavam que apenas 28 dos 61 municípios (45%) amazonenses contavam com Conselhos Tutelares. Isso significa que no Estado ocorria um flagrante descumprimento do ECA no que se refere à implantação desses órgãos. Quanto aos Conselhos Municipais de Direitos, a situação era um pouco melhor, porém em 23 das cidades (37%) não estava instalado. 7 Informações datadas de 2001 apontam que em Manaus os principais órgãos e serviços existentes para crianças e adolescentes vítimas de violência (em especial, as violências sexuais e intrafamiliar) eram: sete Conselhos Tutelares; Ministério Público; Central de Resgate Social;8 Estação Direito,9 Delegacias Especializadas de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente e de Ordem Pública e Social;10 Serviço de Atendimento às Vítimas de Abuso Sexual;11 Casa Mamãe Margarida;12 Projeto Agente Jovem;13 Programa Criança Urgente.14

< Voltar

Exploração Sexual

 No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002, o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração sexual, das quais 66 originaram- se no Estado do Amazonas. Deste total, 27 foram feitas no 1º semestre de 2002. 16 Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, que constatou a existência no Brasil de 172 rotas de tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial. Tinham origem no Amazonas 14 rotas, sendo que 10 delas também envolviam mulheres com idade superior a 18 anos. 17 Trabalho Infanto-Juvenil O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente indica que em 1999 havia 26.326 crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Estado do Amazonas. Porém, cabe salientar, que assim como outros Estados da Região Norte, o Mapa não traz informações sobre o trabalho da população infanto-juvenil do Amazonas residente em área rural. O Mapa aponta que esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes setores: Agropecuária (8.776) e Comércio (8.775). Ademais, 14.361 (55,39%) não recebiam remuneração, 4.787 (18,46%) trabalhavam por conta própria, e 3.190 (12,3%) eram domésticos. 1 8

< Voltar

Medidas Sócio-Educativas

 Conforme dados apresentados pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e pelo Departamento da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério Justiça,1 9 o Estado do Amazonas tinha, em março de 2002, 1.007 adolescentes inseridos em medida sócioeducativa de liberdade assistida. Em junho do mesmo ano, havia: 118 cumprindo internação, 50 em semiliberdade e 35 internados provisoriamente. Em relação ao sexo, o número de adolescentes do sexo feminino era: 7 internadas por sentença e 6 internadas provisoriamente. Até junho de 2002, o Estado contava com 3 unidades para cumprimento da medida de internação, 2 para semiliberdade e 2 para internação provisória A medida de liberdade assistida, conforme se verifica, é quase seis vezes mais aplicada que as medidas em meio fechado (internação e semiliberdade). A grande quantidade de adolescentes em liberdade assistida coloca o Amazonas em 4º lugar entre os estados brasileiros que mais aplicam as medidas em meio aberto. Com os dados apresentados conclui-se que aparentemente o Judiciário está observando com maior atenção o princípio da excepcionalidade das medidas de internação do que a maioria dos outros entes federativos, ao menos no momento da aplicação da medida de internação. MULHERES Em uma Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher no Estado do Amazonas, foram registradas 5.640 ocorrências em 1999. Destas, 2.312 foram ameaças (40,99%), 2 tentativas de homicídio (0,04%), 1.370 lesões corporais (24,29%), 2 maus tratos (0,04%) e 1.659 vias de fato (29,41%). Quanto aos crimes que envolvem violência sexual, foram 12 ocorrências de atentado violento ao pudor (0,21%), 62 estupros (1,10%) e 15 tentativas de estupro (0,27%). 20 Em Manaus, foram registradas na polícia, em 1999, 382 ocorrências de estupros, em 2000, 304 ocorrências de estupros e 147 de atentado violento ao pudor e, em 2001, 300 ocorrências estupros e 201 de atentado violento ao pudor. 21 No Amazonas, a taxa de homicídios contra as mulheres foi de 2,6 por 100 mil habitantes no ano 2000. As mulheres representaram neste ano 6,5% das vítimas de homicídios no estado. 22 AFRO-DESCENDENTES A população afro-descendente (1.955.148) representa 69,51% da população do estado, proporção superior à média da Região Norte. Na população afrodescendente, 3,72% se declararam negros e 65,80% pardos. 2 3

< Voltar

INDÍGENAS

O Amazonas tem uma população de pelo menos 71.071 indígenas, distribuídos em 45 povos indígenas. Além disso, conjuntamente com outros estados, também abriga outros 6 povos indígenas, totalizando uma população de 24.690 indígenas.24 25 Tem a maior população indígena do país. Além disso é o estado que conta com a segunda maior proporção da população indígena do país,26 sendo que 4,26% da população local se declara indígena. 27 O Estado tem 181 áreas indígenas, que se encontram na seguinte situação jurídica: 28

Situação

No. de Terras Indígenas

A identificar 7
Em identificação 53
Com restrição de uso 1
Identificadas / Aprovadas pela Funai 7
Declaradas 31
Homologadas 33
Registradas 50

O Ibama apreendeu 3 mil peças de madeira, no início de 1999, na área limite com a reserva indígena dos Sateré-Maué, o que indica a possibilidade de madeireiros terem invadido a área. Parte da madeira foi encontrada submersa em rios, numa estratégia para driblar a fiscalização. 3 1 Violências A Terra Indígena Alto Rio Negro, que tem quase 8 milhões de hectares e que abriga pelo menos 20 povos indígenas, foi homologada em 1998. Entre os problemas que alguns indígenas dessa área vêm enfrentando está o alcoolismo e algumas doenças, tais como a tuberculose, que em 1999 atingiu cerca de 20% da população local, e o tracoma, uma doença provocada por uma bactéria e que pode levar à cegueira, que nesse mesmo ano atingiu ao menos 50% dos 298 indígenas de diversas etnias que foram examinados. 32 Um problema enfrentado pelos ribeirinhos e por comunidades indígenas da região da margem direita do Rio Negro está relacionado com os empreendimentos turísticos criados no município de Barcelos. Um hotel de selva localizado neste local abriga turistas estrangeiros praticantes de pesca esportiva. As lanchas que utilizam nessa atividade afugentam os peixes e prejudicam a pesca indígena. Em 2000, outros hotéis nos mesmos moldes estavam sendo construídos na região. 3 3 Outro problema enfrentado tanto nessa região como em outras regiões da fronteira amazônica é a relação entre os indígenas e os militares. No pelotão militar que fica na região de Maturacá, é constante o clima de tensão entre os militares e os Yanomamis que lá vivem. Entre os problemas enfrentados está as relações sexuais vividas entre os militares e as índias. Não se sabe ao certo se as relações são ou não consentidas, mas é conhecido o fato de que freqüentemente, quando as índias ficam grávidas, os militares negam envolvimento ou abandonam o local (muitas vezes são transferidos). 3 4 Segundo dados do Ministério da Defesa, em março de 2001, no Estado do Amazonas, 112 militares estavam casados legalmente com índias, 131 viviam maritalmente com elas, 34 pagavam pensão judicial para elas e estavam na justiça 4 processos de comprovação de paternidade e 58 processos de pensão alimentícia. 35 Os indígenas Ticunas da região do Alto Solimões tiveram registrados, no ano de 1999, dez casos de suicídio. Oito indígenas se mataram por enforcamento e dois por ingestão de timbó, um veneno extraído da raiz de uma planta que leva à morte por asfixia. A maioria deles era jovem.36 Nesse mesmo ano, também morreu um índio Ticuna vítima de cólera. Quando ficou doente, não havia remédio no posto de saúde local e nem combustível no barco para poder transportá-lo. O pedido de socorro chegou tarde demais. 37 Apesar da conquista que foi a homologação da Terra Indígena Vale do Javari, o que aconteceu em 2 de maio de 2002, depois de mais de vinte anos de luta, os indígenas que habitam o local ainda enfrentam problemas. Entre eles está o problema do narcotráfico, que se intensifica dia-a-dia na região. Até pistas de pouso já foram identificadas na área. Há informações de que indígenas estariam sendo usados para transportar insumos químicos do Brasil para laboratórios de refino de cocaína na Colômbia. 38 Os indígenas Mura do Rio Igapó sofreram nos últimos anos a maior epidemia de malária de sua história. 100% dos indígenas foram atingidos, sendo que em 1999 foram registrados três casos de morte. 39

< Voltar

IDOSOS

 Havia no Amazonas, em 2000, uma população de 137.060 idosos.40 Seguindo a tendência nacional, a população nesta faixa etária cresce em relação à população total: os idosos representavam 4,2% da população em 1991 e passaram a representar 4,9% no ano 2000.

< Voltar

MIGRANTES

 No Amazonas, há significante imigração estrangeira, de outros países da Região Amazônica, particularmente Peru, Colômbia e Venezuela. O Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) da Arquidiocese de Manaus presta atendimento social aos migrantes nacionais e estrangeiros na sua sede em Manaus e em dioceses e prelazias espalhadas no interior de todo o Estado do Amazonas. Em muitos casos, os estrangeiros buscam recursos financeiros para tramitar o processo de legalização de sua permanência no país. Outro apoio decorre da busca de informações ou apoio jurídico para a condução do processo ou então para serviços de intermediação devido a fatores como dificuldade de entender o idioma ou traduções oficiais. De acordo com o SPM, esta população de imigrantes estrangeiros residindo ou em trânsito ou ainda com permanência no estado chega a aproximadamente quarenta mil pessoas, a grande maioria originária do Peru, incluindo pessoas em situação legal e ilegal, o que corresponde a menos de 2% da população amazonense.

< Voltar

GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS E TRANSEXUAIS

De acordo com a Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis, foram registrados 4 homicídios homofóbicos no ano 2000, tendo sido 3 contra gays e 1 contra travestis. Um dos assassinatos foi praticado por estrangulamento, outro por facadas e estrangulamento, e o outro por 15 facadas. O assassinato da travesti foi provocado por golpes de garrafa. 41 Em 2001, o número de casos aumentou. Foram registrados 9 homicídios, 7 contra gays, 1 contra travesti e 1 contra lésbica. Os gays foram mortos com 8 facadas em um caso, 12 em outro, 17 num terceiro e por enforcamento em outro caso. A travesti foi morta a tiros e a lésbica, por golpes de facas e martelo. 42 Em 2002, foram registrados 10 homicídios contra homossexuais, sendo 7 contra gays e 3 contra travestis. Com relação aos gays, as formas mais violentas dos assassinatos foram, em um caso por 10 facadas, em outro por pauladas e um tiro na testa, em outro por esfaqueamento craniano e em outro por pauladas e furos de prego. Duas travestis foram mortas a tiros, e uma por 2 facadas. 4 3 A Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis relata que, no período de janeiro a junho de 2001, 12 homossexuais receberam ameaças de morte, outros 18 foram espancados por vizinhos ou desconhecidos, 17 saíram feridos por facas e garrafas de vidro e 5 por arma de fogo.44 Ademais, a Associação recebeu denúncias de 27 prisões arbitrárias e 5 extorsões praticados por policiais. 45 No dia 1º de janeiro de 2000, 6 travestis que se encontravam na escadaria da Ponte Negra, Manaus, foram agredidos com cassetete, tapas e socos, algemados, arrastados, e presos. Na delegacia, foram obrigados pelos policiais a ficar de calcinha. Na cela foram novamente agredidas e violentadas por 50 presos e obrigadas a fazer sexo oral com policiais. Foi perguntado por uma delas aos policiais se não fariam nada para impedir, não obtiveram nenhuma alteração de comportamento dos policiais. 46

< Voltar


1 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

2 Rodley, Nigel, Relatório sobre a Tortura no Brasil. Disponível no web-site da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (www.mj.gov.br/sedh) e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).

3 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/Depen/default.htm).

4 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002 disponíveis no web-site da Comissão (www.cptnac.com.br).

5 Folha de São Paulo, 03 d outubro de 2002, "170 municípios pedem proteção do Exército para votação do dia 6"; Agência Estado, 27 de agosto de 2002, "Forças Armadas atuam em 149 municípios, sem incidentes até agora" (www.estadao.org.br).

6 Waiselfisz, J.J., Mapa da Violência III (Brasília: Unesco, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimiação juvenil por homicídios é a relação entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de homicídio na população total. Exemplo: Quanto maior a taxa de vitimização maior é a concentração de homicídios na população jovem; se, ao contrário, a taxa é zero ou próxima a este valor significa que os homicídios atingem na mesma proporção tanto a faixa jovem quanto o resto da população.

7 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

8 "Serviço municipal de atendimento de urgência e emergência social junto à população de rua e às crianças e adolescentes com direitos ameaçados ou violados"

9 ONG que integra a Rede Txai, é referência do Sistema Nacional de Combate à Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e trabalha no encaminhamento e acompanhamento de denúncias de violações.

1 0 As Delegacias Especializadas registram, respectivamente, violência intrafamiliar e exploração sexual e comercial.

1 1 O serviço é oferecido pelo Hospital Universitário Getúlio Vargas.

1 2 ONG que atua como apoio para meninas durante o dia.

13 Projeto da Secretaria Municipal da Infância e Juventude (SMIJ) que atende adolescentes de 15 a 18 anos, fornecendo bolsa, capacitação e qualificação profissional.

1 4 Também da SMIJ, o Programa atende a crianças e adolescentes em situação de rua.

1 5 Agência Uga-Uga de Comunicação e Rede Andi. A Criança e o Adolescente na Mídia Amazonas – Infância Roubada - uma análise da cobertura da mídia sobre os crimes sexuais. Pesquisa Agência Uga-Uga de Comunicação/Rede Andi, Ano 3, Nº 3, Manaus, 2002, p. 27

6 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial (compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a pornografia).

17 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

1 8 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p 73. O Mapa traz, ainda, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes conforme o Estado. No Amazonas foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15 anos nas atividades de: Catadores de Lixo; Comércio (Ambulante e de Combustíveis); Indústria Movelaria e Assemelhados; Metalurgia e Serralheria; Panfletagem; Panificação; Pesca; Produção de Carvão Vegetal; Serviços de Engraxate; Serviços e Comércio de Alimentos; Serviços (em Cerâmicas e Olaria; em Madeireiras e Serrarias; em Oficinas Mecânicas; e em Pedreiras); Transporte Coletivo (Kombistas); e Venda de Jornais.

1 9 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

2 0 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - Pesquisa Nacional sobre as Condições de Funcionamento das Delegacias Especializadas no Atendimento às Mulheres. Relatório da pesquisa disponível no web-site da entidade(www.mj.gov.br/sedh/cndm).

21 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).

2 2 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002).

2 3 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

2 4 Esses indígenas, que vivem no Amazonas e em outros estados, estão distribuídos da seguinte forma: junto com o Acre há dois povos, somando um total de 2636 indígenas; junto com o Para há um povo com 7134 indígenas; junto com Rondônia há um povo com 269 indígenas; junto com Roraima há dois povos totalizando 12.631 indígenas; e junto com Roraima e com o Pará há um povo com 2020 indígenas.

2 5 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org).

2 6 Conselho Indigenista Missionário (www.cimi.org.br), que informa ter esse estado uma população de 61.660 indígenas.

2 7 IBGE, Censo Demográfico 2000.

28 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de 2002).

2 9 Uma delas em conjunto com os estados de Roraima e do Pará.

3 0 Duas delas em conjunto com o estado de Roraima e uma delas em conjunto com o estado do Acre.

3 1 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 481 (A Crítica, 18 de abril de 1999, "Madeira é apreendida próxima à terra indígena").

3 2 Instituto Sócio-Ambiental , Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 282 (A Crítica, 03 de março de 1999, ("Doença ameaça deixar índios cegos"; CB, 04 de abril de 1999; A Crítica, 21de setembro de 1999, "Alcoolismo provoca violência entre os índios", "Tuberculose atinge 20% da população do Alto Rio Negro").

3 3 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p.291 (ISA, 28 de outubro de 2000, "Ecoturismo prejudica comunidades indígenas e ribeirinhas em Barcelos").

3 4 Instituto Sócio-Ambiental, 11 de novembro de 2002, "Cenas da relação índios e militares na fronteira amazônica", notícia disponível no site da entidade (www.socioambiental. org).

3 5 Folha de São Paulo, 22 de março de 2001, "Há ‘sexo consentido’ entre índia e militar, diz Quintão".

3 6 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org)., Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 415 (FSP, 07 de dezembro de 1999, "Mais dez casos").

37 Idem, p. 419 ("Cólera", Jornal Magüta, CGTT, 1999).

38 Idem, p. 435 ("Tráfico usa índios, diz secretário antidrogas", JB, 28 de maio de 1999); e artigo retirado do web-site do ISA (www.socioambiental.org), intitulado "Terra indígena Vale do Javali é finalmente homologada", de 04 de julho de 2001.

39 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 479 ("A saúde vai mal", ISA, jan/00).

40 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

4 1 Relatório da Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis

. 4 2 Idem.

4 3 Idem.

 44 Idem.

4 5 Idem.

46 Mott, Luiz, Marcelo Cerqueira e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo Gay da Bahia - 2001 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).


PARÁ
VIOLÊNCIA POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SOCIEDADE PARAENSE DE DIREITOS HUMANOS
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÊNCIA RURAL
TRABALHO ESCRAVO
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Exploração Sexual
Trabalho Infanto-Juvenil
Medidas Sócio-Educativas
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS E TRANSEXUAIS

O Estado do Pará, situado no centro da Região Norte, a leste do Amazonas, faz divisa com a Guiana, Suriname, Roraima, Amapá, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Sua capital é Belém e as principais atividades econômicas são o extrativismo mineral (bauxita, cobre, manganês, ferro, calcário, ouro, estanho) principalmente em Carajás e Serra Pelada a partir da década de 1970, agricultura e pecuária no sul do estado desde a década de 1960, extrativismo vegetal desde o século 19, incluindo extração de madeira, e a indústria. O Estado do Pará apresenta altos índices de violência urbana e rural, incluindo violência praticada por agentes públicos e em unidades de internação de adolescentes. De 1999 a 2001, o Pará foi o estado que registrou o maior número de casos de trabalho escravo e o maior número de mortos em conflitos rurais no país. Na Região Norte, é o estado que tem o maior número de rotas de tráficos de mulheres para fins de exploração sexual. Por outro lado, o Pará é um estado em que a sociedade civil está articulada e conta com diversas organizações que monitoram, denunciam e produzem relatórios e dados sobre casos de violação de direitos humanos, como a Sociedade Paraense de Direitos Humanos, a Comissão Pastoral da Terra e o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Emaús. A violência e as violações de direitos humanos no sul do Pará foram objeto de comissão especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, que apresentou relatório, em dezembro de 1999, solicitando ao Ministro da Justiça providências para conter a violência na região, inclusive a formação de uma força tarefa. 1

< Voltar

VIOLÊNCIA POLICIAL, EXECUÇÕES, TORTURA

A Ouvidoria do Sistema de Segurança Pública do Pará foi instituída pela Lei 5.944/96 e iniciou suas atividades em julho de 1997. A Ouvidoria participa do Conselho de Segurança Pública (CONSEP) e do Conselho Executivo do Programa de Proteção a Vítimas, Testemunhas e Familiares (PROVITA). A partir de fevereiro de 2000, passou a ser implementada a Resolução 004 do CONSEP, que obriga a autoridade policial a comunicar ao CONSEP, via boletim de ocorrência policial, toda e qualquer ocorrência de morte envolvendo policiais civis ou militares, como vítimas, autores ou suspeitos da ação, no prazo máximo de 48 horas. Tal procedimento contribuiu para aumentar o número de denúncias de homicídio praticado por policiais recebidas pela Ouvidoria e aumentou a eficácia da Ouvidoria no acompanhamento das denúncias referentes a homicídios praticados por policial. De 1998 a 2001, a Ouvidoria recebeu 1.804 denúncias, das quais 93 foram investigadas e encerradas (5%) e 1.711 ainda estão em processo de investigação (95%). O número de denúncias caiu de 439 em 1998 para 425 em 1999, mas subiu para 455 em 2000 e 485 em 2001. Entre 1998 e 2001, foram denunciados 2.304 policiais militares, 2.915 policiais civis, 59 bombeiros e 24 agentes de trânsito, num total de 5.302 policiais e agentes de do sistema de segurança. O número de denúncias contra policiais militares cresceu de 435 em 1998 para 512 em 1999, 647 em 2000 e 710 em 2001, enquanto o número de denúncias contra policiais civis aumentou de 667 em 1998 para 760 em 1999, mas caiu para 748 em 2000 e 740 em 2001. 2 Segundo dados da Ouvidoria, o número de vítimas de homicídio praticado por policiais e agentes do sistema de segurança pública aumentou de 21 em 1998 para 35 em 1999, 57 em 2000 e 54 em 2001, totalizando 167 vítimas no período 1998-2001. O número de policiais e agentes do sistema de segurança denunciados por homicídio aumentou de 31 em 1998 (11 policiais civis, 17 policiais militares, dois bombeiros e 1 agente de trânsito) para 38 em 1999 (21, 17, 0 e 0), 98 em 2000 (25, 73, 0 e 0) e 94 em 2001 (40, 54, 0 e 0). No total, foram denunciados por homicídio 262 policiais e agentes do sistema de segurança pública, sendo 97 policiais civis, 161 policiais militares, 2 bombeiros e 2 agentes de trânsito. 3 A maioria das denúncias recebidas pela Ouvidoria de Polícia durante o período de 1998 a 2001 dizem respeito a abuso de autoridade (1.792 denunciados, sendo 1.075 policiais militares e 701 policiais civis). Em seguida: lesão corporal (662 denúncias, sendo 235 contra policiais civis e 418 contra policiais militares), ameaça (511 denúncias, sendo 248 contra policiais civis e 21 contra militares), tortura (260 denúncias, sendo 141 contra policiais civis e 117 contra policiais militares) e extorsão (203, sendo 164 contra policiais civis e 38 contra policiais militares). 4 A Comissão Pastoral da Terra do Pará e Amapá divulgou em junho de 2000 o Dossiê sobre Tortura, Maus Tratos e Impunidade de Policiais Civis e Militares no Sul do Pará, apresentando informações sobre 22 vítimas de espancamento e tortura por policiais civis e militares, incluindo uma vítima fatal de policiais civis em 1998 e outra de policiais militares no ano 2000. O dossiê apresenta os casos de seis vítimas de espancamento pela polícia civil em 1997, uma em 1998 e 10 em 1999, duas vítimas de espancamento pela polícia militar em 1998 e 1 em 1999. 5 O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria denunciou a atuação do crime organizado e de pistoleiros e policiais em conflitos rurais no sul e sudeste do estado, que já teriam causado a morte de cinco pessoas na região a Fazenda Mandassaia, entre janeiro e julho de 2002. 6 Em visita ao Brasil, no ano de 2000, o Relator Especial da Organização das Nações Unidas para a Tortura, Nigel Rodley, observou a prática de tortura e outros tratamentos cruéis no Estado do Pará, citando 52 casos no seu relatório, a maioria registrada nos anos 1999 e 2000, todos envolvendo policiais civis ou militares. 7 Entre as práticas mais utilizadas de tortura descritas pelo relator estão: roleta russa, surras, espancamentos utilizando instrumentos de madeira e ferro, choques elétricos, golpes com porretes, afogamento, palmatória, sufocamento com saco plástico na cabeça. A prática da tortura é exercida frequentementre dentro das delegacias, principalmente para se obter confissão de crimes e para punição de suspeitos ou criminosos, podendo levar à morte em casos de omissão de assistência médica. A prática de tortura e outros tratamentos cruéis envolve diversos casos de violência contra adolescentes. Como o caso de um jovem suspeito de assalto, preso por policiais militares, levado para floresta e espancado. Outro caso envolveu três adolescentes suspeitos de furtar uma camisa, que foram levados por policiais militares a uma guarita e espancados. A mãe de um deles tentou impedir, sendo golpeada na cabeça com um pau de vassoura, agredida e ameaçada de morte caso contasse o caso a alguém. Entre maio e junho de 2002, depois de sucessivos adiamentos, foram julgados os policiais militares que comandaram e participaram da desobstrução da rodovia PA-150, ocupada por trabalhadores sem-terra, em Eldorado dos Carajás, no Pará, em 17 de abril de 1996, durante a qual foram mortos 19 trabalhadores sem terra.

< Voltar

SOCIEDADE PARAENSE DE DIREITOS HUMANOS

A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), organização não governamental fundada em 1977, recebeu menção honrosa do Prêmio Nacional de Direitos Humanos 2000, na categoria Organizações Não Governamentais, por sua atuação no combate à violência policial e violência rural no Estado do Pará. A SPDDH desenvolve projetos nas áreas de assistência jurídica às vítimas de violação de direitos humanos, proteção de vítimas e testemunhas ameaçadas, uso de mecanismos internacionais de proteção dos direitos humanos, banco de dados de homicídios e políticas públicas de segurança.

O Cel. PM Mário Colares Pantoja e o Maj. PM José Maria Oliveira, comandantes das tropas da polícia militar, responsáveis pela operação da polícia militar, foram condenados a 228 anos prisão e a 158 anos de prisão pela Justiça do Pará. Ambos recorrem da sentença em liberdade. A Justiça absolveu o Cap. PM Raimundo Almendra Lameira, quatro tenentes, onze sargentos e 124 cabos e soldados que também participaram da operação.

< Voltar

SISTEMA PENITENCIÁRIO

 Não há superlotação no sistema penitenciário. Em setembro de 2002, a população carcerária era de 3.059, distribuída nas 3.095 vagas do estado. Embora aproximadamente 50% dos encarcerados ainda não tenham sido julgados, ou seja, são presos provisórios, não há no estado um só cidadão encarcerado em delegacias de polícia ou qualquer outra instalação do sistema de segurança pública. O número de detentos que estão cumprindo pena em regime fechado é bastante alto. Dos 3.059 presos 2.545 estão distribuídos nas treze penitenciárias existentes no estado, restando apenas 514 presos que se encontram cumprindo pena em regime aberto, semi aberto e medida de segurança. 8 O relatório da Campanha Nacional Permanente Contra a Tortura mostra que a Central de Atendimento do SOS Tortura recebeu nos sete primeiros meses de funcionamento, de 30 de outubro de 2001 a 6 de junho de 2002, 1.302 denúncias de alegações de tortura, das quais 99 foram do Pará e 41 de Belém. O Pará é o quarto estado (após São Paulo, Minas Gerais e Bahia) e Belém é a segunda cidade (após São Paulo) com maior número de denúncias no país. 9

< Voltar

VIOLÊNCIA RURAL

O Pará foi o estado com maior número de conflitos rurais e maior número de pessoas envolvidas nestes conflitos na Região Norte entre 1999 e 2001. Houve 97 casos de conflitos de terra em 1999, 93 no ano 2000 e este número aumentou para 143 em 2001. O número de pessoas envolvidas nos conflitos diminuiu de 70.078 em 1999 e 70.321 em 2000 para 52.697 em 2001. De janeiro a agosto de 2002, foram registrados 28 conflitos, envolvendo 15.636 pessoas. 10 Entre 1999 e 2001, o Pará apresentou o maior número de mortes em conflitos rurais na Região Norte e no País. No período, houve 33 mortes em decorrência dos conflitos, sendo nove em 1999, 10 no ano 2000, oito em 2001 e seis entre janeiro e agosto de 2002. 11

< Voltar

TRABALHO ESCRAVO

 O Pará é o estado com maior número de pessoas encontradas trabalhando em situação análoga a de escravo. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou a presença de 583 pessoas em situação análoga a de escravo em 1999 (nos municípios de Marabá, Santana de Araguaia, São Felix do Xingu, Tomé Açu e Santa Maria das Barreiras), 290 em 2000 (nos municípios de Xinguara/Sapucaia, Santana de Araguaia, São Felix do Xingu, Água Azul do Norte, Santa Maria das Barreiras, Itaituba/Altamira, Bannach, Xinguara/Bannach e Paraupebas), 1.294 em 2001 (municípios de Curionópolis, Bannach, Xinguara, Xinguara/Sapucaia/ Bannach, Água Azul do Norte, Paragominas, Canaã dos Carajás, Cumaru do Norte, Novo Repartimento, Santana de Araguaia, São Felix do Xingu), e 469 de janeiro a agosto de 2002 (nos municípios de Santana do Araguaia, Xinguara, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Parauapebas/Pacajá, Marabá, Brejo Grande do Araguaia, São Felix do Xingu e Cumaru do Norte). 1 2 O Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Gertraf realizou cinco operações no Pará em 1999, libertando 486 trabalhadores em situação degradante ou análoga à escravidão (sendo que parte destes foram libertados em operações realizadas na divisa do Pará e do Mato Grosso). Em 2000, foram realizadas outras seis operações, que resultaram na libertação de 370 trabalhadores. Em 2001, mais dez operações aconteceram no Pará, que resultaram na libertação de 359 trabalhadores.13

trabalhador dirigiram-se à fazenda, onde puderam constatar a existência de outros 20 trabalhadores retidos por 15 pistoleiros. Apesar de delegado da Polícia Federal de Marabá ter se prontificado a acompanhar a operação, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel só chegou à fazenda em 18 de setembro de 2000, não encontrando mais ninguém no local. Neste período, o trabalhador ficou sob a proteção da CPT, em Redenção, aguardando obter notícias de sua mulher que ainda estava retida na fazenda com os filhos. 18

< Voltar

LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS

 Nas eleições de 6 de outubro de 2002 a Justiça Eleitoral solicitou o apoio do Exército para o Município de Curionópolis, no sul do estado. O local estava em clima de conflito devido à presença de cerca de 10 mil garimpeiros, que reivindicavam a entrada em Serra Pelada. Nas eleições realizadas no dia 27 de outubro de 2002, 68 municípios deste estado receberam a proteção das Forças Armadas. 19

< Voltar

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

 No Estado do Pará, o número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos por homicídio diminuiu de 298 para 289 entre 1998 e 2000. O número de mortes por homicídio por 100 mil habitantes na população entre 15 e 24 anos diminuiu de 23,3 em 98 para 21,3 em 2000. Um indicador da probabilidade dos jovens virem a ser mortos é a taxa de vitimização juvenil que, no Pará, era de 64 no ano de 2000, menor que taxa nacional de vitimização juvenil de 92,7. 20 O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Emaús (CEDECA - Emaús) indica que entre os anos de 1990 e 1999 houve um aumento nos números da violência contra a criança e adolescente. Enquanto no início de 1990 havia um total de 2.277 casos registrados, no final da década este número ficou três vezes maior, sendo que 6.203 casos foram registrados. Entre as violências mais freqüentes ocorridas no ano de 1999, destacam-se as Em março de 1999, foram descobertos 182 trabalhadores vivendo em regime de escravidão em São Félix do Xingu, em uma fazenda localizada dentro da reserva dos indígenas Parakanã. Não tinham carteira assinada, viviam em condições subumanas, deviam mais em comida ao dono da fazenda do que tinham a receber de salário e eram ameaçados de morte caso tentassem deixar o local. A situação de ilegalidade foi descoberta por técnicos do Incra de Marabá. A fazenda, de 13 ha, não pode servir para reforma agrária justamente por localizarse dentro de terra indígena. Ao menos cem indígenas Parakanã vivem na reserva. 14 Em 2002, 136 trabalhadores foram libertados em agosto na Fazenda Rio Dourado, município de Cumarú do Norte. Os trabalhadores tinham carteira assinada, mas não eram pagos e viviam em condições insalubres.15 Outros 57 trabalhadores foram libertados em outubro na Fazenda 21, município de Xinguara. 16 Em agosto de 2001, a Comissão Pastoral da Terra encaminhou ao Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Gertraf denúncia da presença de trabalhadores em situação de escravidão em uma fazenda de propriedade de um deputado estadual do Piauí. Fiscais do Grupo Especial de Fiscalização Móvel e da Secretaria de Inspeção do Trabalho libertaram os trabalhadores e os levaram para São Felix do Xingu, a 1.000 km de Belém. Durante uma semana, o Grupo Móvel pressionou o fazendeiro para que ele pagasse os direitos trabalhistas dos trabalhadores, mas o deputado recusou-se a pagar. A CPT acompanhou os trabalhadores durante mais de uma semana, pressionando o deputado fazendeiro até que o mesmo aceitou pagar, mas apenas parcialmente, o que era devido aos trabalhadores. 17 Em 4 de setembro de 2000, na Fazenda Forkilha, em Santa Maria das Barreiras, um trabalhador foi vítima de tentativa de homicídio por parte do proprietário. O trabalhador conseguiu fugiu para Marabá e denunciou a agressão à Polícia Federal. No dia 6 de setembro de 2000, o trabalhador foi levado pela Polícia Federal para a Comissão Pastoral da Terra de Xinguara, que encaminhou no mesmo dia um pedido de intervenção ao Grupo Especial de Fiscalização Móvel. Membros da CPT e o violências físicas (3.552) e sexuais (751) bem como o abandono e negligência (744). Os dados apontam, também, que em 1999 foram registrados 1.584 casos de violência doméstica praticada contra crianças e adolescente (26% do total de ocorrências) e 1.780 casos de violência intrafamiliar (29%). 21 Em relação à efetivação dos instrumentos de democracia participativa previstos no ECA, até o final do 1º semestre de 2002, somente 75 dos 142 municípios paraenses contavam com Conselhos Tutelares e 94 com Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Apesar de estar abaixo da média nacional e ser flagrante o descumprimento do ECA, a instalação dos Conselhos (Tutelares e de Direitos) teve um sensível aumento entre 2001 e o 1º semestre de 2002. 2 2 Possivelmente, a recomendação do Ministério Público Estadual nº 001/2000 tenha contribuído para a criação de novos Conselhos, em ritmo mais acelerado que em anos anteriores. 2 3 Outra questão que merece atenção dos governos estadual e municipais, bem como dos Conselhos de Direitos do Pará é a implantação e regular funcionamento do Sistema de Informações para a Infância e Juventude. Até o 1º semestre de 2000, apenas 10 municípios tinham o sistema, contudo apesar do equipamento estar disponível nestas cidades, em algumas delas ele não funcionava em razão dos novos conselheiros, eleitos após a implantação do sistema, não terem tido uma capacitação para manusear o equipamento.

< Voltar

Exploração Sexual

No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002, o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração sexual, das quais 47 originaram- se no Estado do Pará. Deste total, nove foram feitas no 1º semestre de 2002. 24 Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, que constatou a existência no Brasil de 172 rotas de tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial. Tinham origem no Pará 19 rotas, sendo que 9 delas também envolviam mulheres com idade superior a 18 anos. 25

< Voltar

Trabalho Infanto-Juvenil

O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente indica que em 1999 havia 99.697 crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Estado do Pará. Porém, cabe salientar, que assim como outros Estados da Região Norte, o Mapa não traz informações sobre o trabalho da população infantojuvenil do Pará residente em área rural. O Mapa aponta que esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes setores: Comércio (37.040) e Prestação de Serviços (22.299). Ademais, 43.342 (44,08%) não recebiam remuneração, 24.067 (24,47%) eram empregados e 10.093 (10,26%) domésticos. 26 O CEDECA-Emaús realizou uma pesquisa em Belém mostrando as inúmeras violências que se agregam ao ilegal trabalho infantil doméstico27, que é aceito e, algumas vezes, ‘justificado’ sob a alegação de que se trata de um caso de filantropia e uma oportunidade para superar a pobreza", "faz parte da cultura urbana de Belém e das grandes cidades da região amazônica". A pesquisa destacou que 122 das 255 meninas pesquisadas não se reconhecem como trabalhadoras domésticas. Apesar de desenvolver esta função, são tidas como "filhas adotivas" ou afilhadas e recebem apenas alimentação, roupas e calçados, mas não propriamente uma remuneração. Em virtude da jornada de trabalho média ser de 12 horas diárias, o direito à educação também fica violado. Assim, as meninas, quando freqüentam a escola, têm um nível de escolaridade abaixo da média e uma defasagem se comparadas às crianças e adolescentes com a mesma idade. Muitas delas abandonam os estudos ou são forçadas a fazê-lo pela família empregadora. 28 O direito à convivência familiar e comunitária também é violado, uma vez que as meninas são impedidas de contactar seus familiares e amigos e quase não têm dias de folga. As ações violentas praticadas pelos empregadores foram relatadas nos depoimentos das próprias meninas que sofrem freqüentes agressões físicas, humilhações e assédio sexual.

< Voltar

Medidas Sócio-Educativas

Conforme dados apresentados pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e pelo Departamento da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério Justiça, o Estado do Pará tinha, em março de 2002, 130 adolescentes inseridos em medida sócio-educativa de liberdade assistida e, no mês de junho, 128 em internação e 20 em semiliberdade. Em relação ao sexo, somente havia um total de sete meninas internadas. O índice de adolescentes em liberdade assistida era de 0,88. 29 Seguindo a mesma tendência verificada no Amapá, o Poder Judiciário paraense tem aplicado medidas mais rigorosas em detrimento de outras menos severas. Isto porque, mais da metade dos 426 adolescentes inseridos em uma das três medidas (liberdade assistida, semiliberdade e internação) estão cumprindo medida de semiliberdade ou de internação. A IV Caravana Nacional de Direitos Humanos da Câmara Federal elaborou o relatório "Uma amostra da situação dos adolescentes privados de liberdade nas FEBEMs e congêneres" que contém um panorama do tratamento dispensado aos adolescentes em conflito com a lei no Estado do Pará.30 Um primeiro dado destacado é que todas as quatro unidades existentes, à época, localizavam-se na capital, Belém. Esse fato, por si só, já acarreta uma grave violação, pois o ECA, em vários de seus dispositivos, sempre reafirma a importância do convívio familiar, impondo inclusive que os adolescentes sob internação recebam visita semanalmente e permaneçam na sua cidade ou naquela mais próxima– estando todas as unidades do Estado localizadas numa só cidade, provavelmente os familiares dos adolescentes do interior terão restrita sua participação no processo sócio-educativo, ficando prejudicada a consecução da finalidade da medida. 31 As unidades visitadas abrigavam entre 3 e 49 adolescentes, estando uma delas com lotação superior à capacidade prevista. Nesses estabelecimentos e, em especial, nas duas unidades com maior contingente de adolescentes privados de liberdade (CIAM e EREC), era flagrante o descumprimento ao reordenamento institucional previsto no ECA. Práticas baseadas em violências físicas e psíquicas assim como ausência de conteúdo sócioeducativo e desrespeito a direitos básicos foram pontos verificados durante a passagem da IV Caravana. As unidades em que se verificou as condições mais gritantes de violação de direitos foram o Centro de Internação para Adolescentes Masculino (CIAM) e o Centro de Internação Espaço Recomeço (EREC), caracterizados, respectivamente, como "ociosidade e modelo prisional" e "recomeço do Código de Menores". No CIAM eram mantidos, em cerca de 20 celas "minúsculas e fétidas", 35 internos que passavam grande parte do dia trancados. Durante a visita, foram constatadas precariedade na assistência social e na atenção saúde; ociosidade; presença de celas de isolamento; perpetração de maus tratos; baixa qualidade da alimentação; inexistência de educação e de assistência jurídica; além da submissão dos familiares a procedimentos humilhantes, ilegais e vexatórios durante a revista. No EREC, o projeto arquitetônico e a situação dos adolescentes internos mostraram ser mais uma parte da herança do antigo Código de Menores. O relatório identifcou um prédio em forma de "L" onde estavam 13 celas e longe de todos e de tudo há uma espécie de ‘cofre’ onde se construiu um isolamento escuro e úmido. A prática de encaminhar internos para a ‘contenção’ ou para o ‘cofre’ está absolutamente institucionalizada e pode se prolongar, havia casos de adolescentes com mais de 30 dias neste local. No Centro Sócio-Educativo Masculino localizado na periferia de Belém foram constatadas práticas que necessitam de correção, tais como a ociosidade o emprego sistemático dos adolescentes em tarefas de limpeza e a interdição da sexualidade, como também ocorria nos outros centros. No Centro de Internação Feminino, que tinha 3 internas quando da visita, verificou-se que a ociosidade e a utilização do isolamento em cela de contenção são alguns fatos negativos constatados. Entre julho de 1999 e junho de 2000, a Universidade da Amazônia e o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Emaús desenvolveram pesquisa sobre a situação dos adolescentes após o cumprimento de medida sócio-educativa em capitais e cidades da Região Norte do país.32 O estudo, que ouviu educadores, jovens que cumpriram medidas e seus familiares, constatou que em Belém, 83% dos adolescentes pesquisados não estavam estudando e 80% estavam desempregados. O fato, expresso pelos adolescentes da capital paraense, de que 87% deles não conheceu, durante o processo sócio-educativo, seu advogado deve ser tratado com muita atenção, posto que a ausência de advogado torna nulo o processo, uma vez que não lhe foi garantido o devido processo legal.

< Voltar

MULHERES

O Pará é o estado com maior número de rotas de trafico de mulheres para fins de exploração sexual na Região Norte. Depois do Maranhão, é o estado com maior número de rotas de tráfico de mulheres em todo o país. A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial constatou a existência de 16 rotas de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual comercial no Pará, sendo que em nove rotas há também envolvimento de crianças e adolescentes. 33 Em 14 Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher no Estado do Pará, foram registradas 9.582 ocorrências policiais em 1999. Destas, foram 3.910 ameaças (40,81%), 14 homicídios (0,15%), 22 tentativas de homicídio (0,23%), 4.234 lesões corporais (44,19%), 24 lesões corporais culposas 24 casos (0,25 %), 11 maus tratos (0,11%), 680 vias de fato (7,10%) e 3 seqüestros e cárcere privado (0,03 %). Quanto aos crimes envolvendo violência sexual, foram 46 ocorrências de atentado violento ao pudor (0,48%), 143 estupros (1,49%) e 40 tentativas de estupro (0,42 %). 34 Na capital Belém, a polícia registrou, em 1999, 159 ocorrências de estupros, 67 atentados violentos ao pudor, em 2000, 135 estupros, 103 atentados violentos ao pudor, em 2001, e 119 estupros e 92 atentados violentos ao pudor. 35 No Pará, a taxa de homicídios contra as mulheres foi de 2,1 por 100 mil habitantes no ano 2000. As mulheres representam 7,8% das vítimas de homicídio no estado. 3 6

< Voltar

AFRO-DESCENDENTES

A população afro-descendente (4.391.915) representa 70,93% da população do estado, proporção superior à média da Região Norte. Na população afro-descendente, 5,09% se declararam negros e 65,83% pardos. 37

< Voltar

INDÍGENAS

 O Pará tem uma população de pelo menos 11.908 indígenas, distribuídos em 19 povos indígenas. Além disso, conjuntamente com outros estados, também abriga outros 7 povos indígenas, totalizando uma população de pelo menos 19.162 indígenas.38 Estima-se que tenha a 6ª maior população indígena do país. 39 O Estado tem 43 áreas indígenas, que se encontram na seguinte situação jurídica: 40

Situação

No. de Terras Indígenas

A identificar 5
Em identificação 4
Identificadas / Aprovadas pela Funai 4
Declaradas 7
Homologadas 2
Registradas 21

O problema da exploração ilegal de madeira, principalmente mogno, está fortemente presente nesse estado. Tanto em regiões ao Sul quanto em regiões ao Norte dele os madeireiros invadem as terras indígenas para realizar a extração. Os indígenas Arara, das terras indígenas Cachoeira Seca e Arara enfrentam cronicamente problemas com pescadores e com madeireiros que invadem suas terras para roubar madeira. Em março e abril de 1999, a Funai e o Ibama realizaram uma vistoria em um igarapé dentro da terra de Cachoeira Seca, onde encontraram três acampamentos que serviam de apoio ao trabalho irregular e apreenderam 214 toras de mogno e cedro. Com relação à exploração dentro da terra Arara, as notícias são de que é uma empresa madeireira que a realiza. A presença dos pescadores é uma ameaça para esses indígenas desde a década de 80, quando o esgotamento do potencial pesqueiro nas regiões em que costumavam pescar começou a fazer com que eles se deslocassem rio acima rumo às terras indígenas. Eles utilizam técnicas de pescar tais com geleiras, redes e sistemas de arrastão, que prejudicam a pescaria e conseqüentemente a alimentação dos próprios indígenas. Atividade é realizada de maneira ilegal porque não foi regulamentada. Há casos em que os pescadores, para conseguirem ter acesso aos locais de boa pescaria dentro das áreas indígenas, fornecem aos indígenas produtos, entre eles bebidas alcoólicas. 43 Os indígenas Parakanã que vivem na terra indígena Apytewa vivem situações muito problemáticas com os posseiros, que invadem suas terras em busca de ouro e de madeira, principalmente de mogno. No dia 23 de novembro de 2001 um confronto deixou várias pessoas feridas, mortas e desaparecidas. Em julho do mesmo ano uma liminar de reintegração de posse foi concedida em favor da comunidade indígena por um juiz de Marabá. O conflito poderia ter sido evitado caso a liminar tivesse sido cumprida. 44 Os indígenas Kaiapó enfrentam muitos conflitos com os madeireiros. No início de 1999 um acordo inédito contra a exploração ilegal de madeira foi assinado por indígenas e pelo governo. No entanto, o problema não foi resolvido. Na terra indígena Baú, um grupo de 16 turistas foi seqüestrado pelos indígenas em agosto de 2000. Foram liberados quando o Ministro da Justiça lhes garantiu que sua terra seria demarcada. Nessa área, de 1,8 milhões de hectares, existem 250 fazendas. Os fazendeiros e madeireiros resistem fortemente à demarcação da área indígena. Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça suspendeu o processo de demarcação. Até agosto de 2000 a terra ainda não havia sido demarcada, apesar de o processo de demarcação continuar na justiça. 45 Violência Neste estado encontramos alguns casos de descontentamento e indignação dos indígenas com relação ao modelo de saúde implementado pelo governo federal em 1999, no qual as atribuições que antes eram de responsabilidade da Funai passaram para a Funasa, em um processo de municipalização e terceirização da assistência médica. Em outubro de 1999, os Xikrim protestaram contra esse modelo. Segundo eles, dois meses depois de implementado o Distrito Sanitário do local ele ainda não tinha diretor. Em maio de 2001, cerca de 111 indígenas Tembé e Kaapor ocuparam o prédio da Funai e realizaram um grande protesto contra esse modelo de assistência à saúde. Denunciaram problemas em seu Distrito Sanitário tais como o alastramento de doenças, o despreparo de funcionários, atendimentos grosseiros e humilhações. 4 6 Durante os meses de outubro e novembro de 2000, ao menos oito indígenas Arawetes morreram como decorrência de um surto de catapora (doença de origem virótica chamada de varicela na linguagem médica) na aldeia Ipixuna, em Altamira, no sudoeste do estado. Dos 280 indígenas que habitam o local tem-se notícia de que pelo menos 218 teriam sido acometidos pela doença. Os idosos foram os mais atingidos. As interpretações sobre os motivos do surto são divergentes e um inquérito foi instalado pelo Ministério Público Federal para apurar as responsabilidades. Segundo a Funasa, órgão do Ministério da Saúde, a doença, de simples tratamento, se espalha rapidamente entre os indígenas devido ao fato de viverem em malocas coletivas (cada uma com 40 a 50 indígenas) e de terem baixa imunidade em decorrência de desnutrição. Para os médicos da Funasa, o que os mata não é propriamente a catapora, mas sim a infecção nas bolhas que se transforma em ferida, além da desidratação. A Funai e antropólogos discordaram e afirmaram que o impacto drástico da doença se deu em função da ineficiência do convênio da Funasa com a Prefeitura de Altamira, que contratou profissionais sem experiência para tratar dos indígenas, que permitiram que indígenas doentes retornassem às comunidades e contaminassem os demais. O Conselho Indigenista Missionário concorda com a Funai e aponta casos de má utilização de recursos por parte da Funasa. Outras tribos também foram atingidas, mas não de forma tão grave quanto essa. 4 7 Acesso à justiça No dia 14 de setembro de 2000 uma sentença judicial inédita e inovadora foi proferida em favor de um povo indígena. Os indígenas Paraná ganharam na justiça a ação indenizatória que moveram contra a União e a Funai pelos danos materiais e morais causados pelo contato que tiveram com os brancos, promovido a partir de 1973, por conta da construção da Rodovia Cuiabá- Santarém. A condenação envolveu o pagamento de 4 mil salários mínimos corrigidos para os indígenas. Esses indígenas viveram uma difícil história desde que foram expulsos de suas terras. Enfrentaram abandono, doenças, mortes e transferência para o Parque do Xingu. Em 1995 começaram a voltar para suas terras e enfrentaram dificuldades, mas em 1998 conseguiram o reconhecimento delas. Nos últimos anos eles têm conseguido algumas vitórias. 4 8 IDOSOS Em 2000, havia no Pará uma população de 356.562 idosos. Entre os anos de 1991 e 2000, a população de idosos no estado aumentou de 4,9% para 5,8% da população total. 49

< Voltar

PORTADORES DE DEFICIÊNCIA

 A população de portadores de deficiência (1.100.202) representa 17,77% da população do Pará. É o estado que tem a maior proporção da Região Norte, e a quarta maior proporção do Brasil. 50

< Voltar

GAYS, LÉSBICAS, TRANSEXUAIS E BISSEXUAIS

Em 2000, foi registrado 1 caso de homicídio homofóbico contra um gay.5 1 No mesmo ano, homossexuais foram impedidos de dançar em festa junina em Belém porque o regimento interno do concurso oficial de quadrilhas juninas proíbe que casais homossexuais dancem juntos.5 2 Em 2001, aconteceram 3 homicídios homofóbicos, todos contra gays. 5 3

< Voltar


1 Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Relatório – Setembro 2002.

2 Ouvidoria do Sistema de Segurança Pública do Pará, relatório "Análise Temporal do Ano 1998, 1999, 2000, 2001".

 3 Idem.

4 Idem. A diferença entre o número total de denúncias e o número de denúncias contra policiais civis e militares deve-se à existência de denúncias contra bombeiros e agentes de trânsito.

5 Comissão Pastoral da Terra – Sul do Pará, Dossiê sobre Torturas, Maus Tratos e Impunidade de Policiais Civis e Militares no Sul do Pará.

6 Informações da Comissão Pastoral da Terra – Sul do Pará e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria. Ver também Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Relatório – Setembro 2002.

7 Rodley, Nigel, Relatório sobre a Tortura no Brasil. Disponível no web-site da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (www.mj.gov.br/sedh) e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).

8 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/depen/default.htm).

9 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Campanha Nacional Permanente Contra a Tortura (Brasília: MJ/SNDH e MNDH, 2002).

1 0 Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002 disponíveis no web-site da Comissão (www.cptnac.com.br).

1 1 Idem.

1 2 Idem.

1 3 Ministério do Trabalho e Emprego, A Experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.

1 4 ISA, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 525, "Fazenda dentro da TI usava trabalho escravo".

 1 5 Folha de S. Paulo, 28 de agosto de 2002, "Fiscais libertam 136 trabalhadores".

1 6 Folha de S. Paulo, 22 de outubro de 2002, "Mais 57 trabalhadores são libertados no PA".

17 Comissão Pastoral da Terra/Pará (www.cptnac.com.br/cpt/regionais/pa.htm).

1 8 Revista Problemas Brasileiros nº 350 Março/Abril de 2002, p. 7 a 11.

19 Folha de São Paulo, 03 de outubro de 2002, "170 municípios pedem proteção do Exército para votação do dia 6"; Agência Estado, 27 de outubro de 2002, "Forças Armadas atuam em 149 municípios, sem incidentes até agora" (www.estadao.org.br).

2 0 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais grupos da população.

2 1 Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Emaús (CEDECA - EMAÚS). Violência contra Crianças e Adolescentes na Região Metropolitana de Belém - 1998 & 1999 – Dados e Reflexões sobre a Problemática. Belém, 2001. Para constituição do número total de casos, o CEDECA-Emaús utiliza como fonte: os Conselhos Tutelares, o SOS Criança, a Secretaria de Segurança Pública (SEGUP) e o Instituto Médico Legal (IML), por entenderem que estas instituições representam os principais órgãos de denúncias contra as crianças e adolescentes.

 2 2 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

2 3 Publicada no D.O.E./PA em 25 de agosto de 2000, o Ministério Público do PA recomenda "que sejam instaurados Procedimentos Administrativos objetivando, através de Termo de Conduta, a implantação, em cada Município, da política na área da Infância e Juventude. Em não havendo êxito na área administrativa, que seja adotada a medida cabível por via judicial, no sentido de que a previsão legal seja garantida".

 24 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial (compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a pornografia).

2 5 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

2 6 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001, p 76. O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes conforme o Estado. No Pará foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15 anos nas atividades de: Agricultura; Comércio (Ambulante; e Varejista); Construção Civil; Extrativismo; Hotelaria; Indústria; Lavagem de Automóveis; Produção de Carvão Vegetal; Serviços Diversos (Convênios e Programas Educativos/Sociais e Guardas Mirins); Serviços e Comércio de Alimentos; e Serviços (em Madeireiras e Serrarias; e em Oficinas Mecânicas).

2 7 Os dados integram o estudo intitulado "O Trabalho Doméstico de Meninas de Belém" desenvolvido pelo CEDECA-Emaús e tem trechos divulgados no site da organização (www.emauscrianca.org.br - seções: "Agência de Notícias" e "Dados e Pesquisas"). Foram pesquisadas inicialmente 255 meninas trabalhadoras domésticas. Posteriormente fez-se uma análise mais pormenorizada de jovens entre 13 e 20 anos, elegendo-se uma amostra da qual foram entrevistadas 16 meninas da rede pública de ensino. A pesquisa indica que os direitos das meninas são violados com: "agressão física, verbal, discriminação, exploração, constrangimento, opressão, assédio sexual cerceamento da liberdade, da comunicação, humilhação, violência psicológica, negligência, crueldade, constrangimento, tratamento desumano, ferindo os artigos. 5º, 16º, 17º e 18º do Estatuto da Criança e do Adolescente".

2 8 Coletânea de anúncios de ofertas de empregos realizada pelo falecido Juiz da Infância e Juventude, Paulo Frota, continham os seguintes dizeres: "Precisa-se de babá com idade entre 10 e 40 anos, que durma no emprego, não estude e goste de criança" e "Precisa-se de uma moça de 12 a 17 anos, com referência, que durma no emprego, que não esteja estudando, com folga quinzenal e que goste de criança" (ambos os anúncios são de setembro de 1999) – Revista do UNIFEM – Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher. Maria Maria – Trabalhadoras Domésticas: Quem são e o que pensam, ano 4, nº4, Brasília, 2002, p. 32-40.

2 9 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca). O índice foi obtido a partir do resultado da divisão do número total de adolescentes em liberdade assistida pelo número total de inseridos em medidas em meio fechado (assim consideradas internação e semiliberdade). Quanto maior o índice, maior também a aplicação no Estado da medida em meio aberto em comparação ao número de adolescentes privados, parcial ou totalmente, de liberdade.

30 Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, IV Caravana Nacional de Direitos Humanos: Uma Amostra da situação dos adolescentes privados de liberdade nas FEBEMs e congêneres: O sistema Febem e a produção do mal, Brasília, Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 200.

3 1 Art.124, VI e VII do Estatuto da Criança e do Adolescente.

 32 CEDECA-Emaús (www.emauscrianca.org.br).

33 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

34 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - Pesquisa Nacional sobre as Condições de Funcionamento das Delegacias Especializadas no Atendimento às Mulheres. Relatório da pesquisa disponível no web-site da entidade(www.mj.gov.br/sedh/cndm).

35 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).

 3 6 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002).

3 7 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

3 8 Esses indígenas, que vivem no Pará e em outros estados, estão distribuídos da seguinte forma: junto com o Amazonas há um povo com 7134 indígenas; junto com o Amazonas e Roraima há um povo com 2020 indígenas; junto com o Mato Grosso há 3 povos, somando um total de 7508 indígenas; junto com Mato Grosso e Tocantins há um povo com 2500 indígenas; e junto com Roraima há um povo formado por não se sabe quantos indígenas. Informação disponível no web-site da entidade (www.socioambiental.org).

3 9 Conselho Indigienista Missionário (www.cimi.org.br).

4 0 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de 2002).

4 1 Uma delas em conjunto com os estados do Amazonas e de Roraima.

42 Uma delas em conjunto com o Mato Grosso.

 4 3 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 526-7; O Liberal, 17 de abril de 1999, "Roubo de madeira"; ISA/ abr/99, "Operação surpreende madeireiros na TI"; ISA, 30 de maio de 2000; "Morte de Arara leva pescadores à prisão"; ISA, fev/99, "Pescadores voltam a invadir TI"; ISA. Ago/99, "Madeireiro em TI é amparado por liminar".

4 4 Conselho Indigienista Missionário, Informe n.º 489, de 29 de novembro de 2001.

 4 5 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 506 (Últimas Notícias/ISA, 04 de fevereiro de 1999, "Governo e Kayapó assinam acordo contra madeira ilegal"); p. 514-515 (OESP, 04 de agosto de 2000, "Ministro manda demarcar TI; OESP, 05 de agosto de 2000, "E reféns são liberados"; O Liberal, 08 de agosto de 2000, "PF quer impedir reação de fazendeiros à demarcação"; O Liberal, 23 de agosto de 2000, "Demarcação é suspensa").

46 Conselho Indigienista Missionário, Informe n. 460, de 10 de maio de 2001; e ISA, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 517-9 (O Liberal, 29 de fevereiro de 1999, "Xikrin protestam contra mudanças na política se saúde").

4 7 Conselho Indigienista Missionário, Informe n.º 438, de 23 de novembro de 2000; ISA, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 530-2 (Últimos Segundos/IG, 04 de novembro de 2000, "Catapora mata 4", Últimos Segundos/IG, 04 de novembro de 2000, "Malocas, alimentação precária e falta de higiene", Notícias Sociambientis/ISA, 09 de novembro de 2000, "Quem vai segurar o rescaldo da crise?", Últimos Segundos/IG, 14 de novembro de 2000, "Funasa e Cimi divergem sobre aplicação de recursos").

48 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, "Os Paraná consolidam o retorno", p. 491-494.

 4 9 IBGE, Censo Demográfico 2000. (www.ibge.gov.br).

5 0 Idem.

 51 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa Mortis: Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil – 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001).

 52 Idem. 53 Mott, Luiz, Marcelo Cerqueira e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo Gay da Bahia - 2001 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).


RONDÔNIA

O Estado de Rondônia, situado no sudoeste da Região Norte, faz divisa com os estados do Acre, Amazonas e Mato Grosso, e com a Bolívia. Sua capital é Porto Velho e as principais atividades econômicas são a agricultura (café, cacau, arroz, mandioca, milho) e o extrativismo vegetal e mineral (borracha, madeira, minérios, inclusive cassiterita). O estado atraiu muitos migrantes de outras regiões do país nas décadas de 1960 e 1970, para trabalhar na agro-pecuária, extração da madeira e mineração, devido à distribuição de terras promovida pelo governo federal. Criado em 1943 como Território Federal de Guaporé, tornou-se Território Federal de Rondônia em 1956. Finalmente, em 1981, Rondônia deixou de ser território federal e passou a condição de estado. Depois do Pará, Rondônia é o estado da Região Norte com o maior número de conflitos rurais e o segundo maior número de trabalhadores em situação de escravidão. O estado apresenta problemas graves no sistema prisional, exemplificados pela situação do Presídio de Urso Branco, no qual as autoridades, ainda que alertadas por instituições nacionais e internacionais do que estava por acontecer, não agiram no sentido de evitar uma série de rebeliões e mortes. As violações de direitos humanos e a fragilidade das instituições do sistema de segurança e justiça agravam o quadro de violência no estado, fazendo com que Rondônia seja um dos estados que tem maior índice de violência fatal na Região Norte e no País. A gravidade da situação do estado pode ser percebida através do elevado número de homicídios por 100 mil habitantes. Enquanto a taxa média na Região Norte é de 18,7 homicídios por 100 mil habitantes, em Rondônia ela chega a 34,9. 1

 VIOLÊNCIA POLICIAL E TORTURA

 Em 2002, as corregedorias das polícias civil e militar e da superintendência de assuntos penitenciários receberam 11 denúncias de prática de tortura, que deram origem a 14 sindicâncias administrativas, 4 processos administrativos e 14 inquéritos policiais, sobre a atuação de 27 policiais e 6 agentes penitenciários. Nenhum policial ou agente penitenciário foi até agora punido pela prática de tortura. 2

SISTEMA PENITENCIÁRIO E UNIDADES FECHADAS

Rebeliões e tentativas de fugas aconteceram constantemente no Presídio Urso Branco, no qual eram mantidos presos provisórios e condenados, sem atendimento médico, assistência jurídica e o mínimo respeito aos seus direitos. Não havia nem mesmo registro oficial da população carcerária, que superava em duas vezes a capacidade do presídio. Dezesseis detentos morreram entre novembro de 2000 e setembro de 2001, dos quais três foram assassinados por outros detentos durante uma rebelião, em novembro de 2000, e um foi assassinado por policiais quando tentava fugir. Todos os outros foram assassinados em conflitos internos entre presos. Seis foram assassinados em um só dia, em 12 de setembro de 2001. 3 Em janeiro de 2002, uma rebelião resultou na morte de 27 detentos no Presídio Urso Branco. Em 14 de março, medidas cautelares foram solicitadas a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) visando equacionar os aspectos mais emergenciais da questão. As medidas determinadas pela Comissão ao Governo Federal, medidas protetivas para evitar novas mortes no presídio, não foram completamente efetivadas, e mais 10 presos foram executados. As novas mortes motivaram a CIDH a encaminhar o pedido de Medidas Provisionais à Corte Interamericana de Direitos Humanos, instância máxima do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos, exigindo que o Governo Federal cumprisse suas determinações. 4 O estado tem 24 unidades prisionais. Entre estas, 11 são casas do albergado e uma é colônia agrícola, que a princípio são adequadas ao cumprimento de regime aberto e semi-aberto. Mas o número de vagas destinadas ao cumprimento de pena nestes regimes (217) é insuficiente para o número de presos que estão cumprindo pena (749). O número total de vagas existentes no sistema prisional é de 1.391 para uma população carcerária de 3.052 pessoas detidas. O número de presos é mais que o dobro do número de vagas disponíveis, caracterizando um problema grave de superlotação. 5

VIOLÊNCIA RURAL

 Rondônia registrou 18 casos de conflito de terra em 1999, 14 em 2000, 14 em 2001 e 17 casos entre janeiro e agosto de 2002. O número de pessoas envolvidas caiu de 11.129 em 1999 para 6.060 em 2000 e 5.695 em 2001, mas voltou a subir para 13.939 entre janeiro e agosto de 2002. Depois do Pará, Rondônia é o estado com maior número de conflitos e de pessoas envolvidas em conflitos rurais na Região Norte. 6 Desde 1999, segundo a Comissão Pastoral da Terra, foi registrado apenas um caso de assassinato em decorrência dos conflitos rurais, em 2002. Mas, segundo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, dois trabalhadores do assentamento Paulo Freire, município de Brasilândia, vizinho à área de conflito, foram assassinados por pistoleiros da Fazenda Glads, em 2001. 7

 TRABALHO ESCRAVO

 Em 1999, a Comissão Pastoral da Terra registrou a presença de 28 trabalhadores em condição análoga a de escravo, no município de Chupinguaia. Constatou, ainda, a presença de 19 trabalhadores em condição análoga a de escravo, no mesmo município, entre janeiro e agosto de 2002. 8 Em 2000, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Gertraf realizou uma operação em Rondônia, mas não houve registro de trabalhadores encontrados em situação degradante ou análoga à escravidão. 9

 LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS

 O jornalista Renato Quintino da Silva, que escrevia para o jornal "Cone Sul" em Espigão do Oeste, sofreu ameaças de morte após ter divulgado na imprensa possíveis atos de improbidade administrativa cometidos pelo presidente da Câmara dos Vereadores, Edson Messias do Vale, e pelo prefeito da cidade, Arlindo Dettman. Como conseqüência de suas reportagens, o Ministério Público começou a investigar os fatos, o que resultou na determinação da justiça de afastamento do prefeito e em duas ações contra o presidente da Câmara. As ameaças foram tantas que o jornalista teve que se mudar para outro estado do país em busca de segurança. 1 0 Quinze municípios desse estado receberam a proteção das Forças Armadas nas eleições realizadas no dia 27 de outubro de 2002. 11

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

 Em Rondônia, o número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos por homicídio aumentou de 146 para 157 entre 1998 e 2000. O número de mortes por homicídio por 100 mil habitantes na população entre 15 e 24 anos aumentou de 51,8 em 1998 para 53,4 em 2000. Um indicador da probabilidade dos jovens virem a ser mortos é a taxa de vitimização juvenil, que era de 52,8 em 2000, fazendo de Rondônia o estado da Região Norte com menor vulnerabilidade para a faixa de jovens entre 15 e 24 anos e um dos menores do Brasil, cuja taxa nacional de vitimização juvenil, em 2000, era de 92,7. 1 2 Em relação à efetivação dos instrumentos de democracia participativa previstos no ECA, até o final do 1º semestre de 2002, somente 29 dos 52 municípios contavam com Conselhos Tutelares. Isso significa que no Estado ocorria um flagrante descumprimento do ECA. Quanto aos Conselhos Municipais de Direitos, a situação era melhor, porém em 16 cidades não estavam instalados. 1 3 Exploração Sexual No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002, o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração sexual, das quais 24 originaram- se no Estado de Rondônia. Deste total, metade delas (12) foram feitas no 1º semestre de 2002. 14 Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, que constatou a existência no Brasil de 172 rotas de tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial. Tinham origem no Estado de Rondônia quatro rotas, sendo que todas elas também envolviam mulheres com idade superior a 18 anos. 15 Trabalho Infanto-Juvenil O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente mostra que em 1999 havia 9.528 crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Estado de Rondônia. Porém, cabe salientar, que assim como outros Estados da Região Norte, o Mapa não traz informações sobre o trabalho da população infanto-juvenil de Rondônia residente em área rural. O Mapa aponta que esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes setores: 1º Comércio (3.528), 2º Indústria de Transformação (3.177), 3º Prestação de Serviços (1.764) e 4º Agropecuária (1.059). Ademais, 4.234 (44,44%) eram empregados, 2471 não recebiam remuneração e 1.764 eram domésticos. 1 6 Medidas Sócio-Educativas Conforme dados apresentados pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do adolescente e pelo Departamento da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério Justiça, o Estado de Rondônia tinha, em março de 2002, 195 adolescentes inseridos em medida sócio-educativa de liberdade assistida e, no mês de junho, 24 em internação e 25 em internação provisória. Deste total de 49 jovens em privação de liberdade, havia somente quatro do sexo feminino. 1 7 Com um índice de liberdade assistida de 8,13, o Estado se coloca entre os três primeiros Estados do Brasil que proporcionalmente mais aplicam a medida em meio aberto.18 Assim, como em Alagoas e Goiás, o Poder Judiciário de Rondônia, ao que parece, ao menos no momento da aplicação de medida sócio-educativa, está colocando em prática o princípio da excepcionalidade da medida de internação. Contudo, Rondônia vem descumprindo as determinações do ECA, devido à não aplicação da medida de semi-liberdade.

MULHERES

 Na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher e da Família de Porto Velho, foram registradas 2.366 ocorrências de violência contra mulheres no ano 2000, a maior parte delas referentes a lesões corporais e ameaças. Foram 952 ocorrências de leão corporal (40,2%), 713 ameaças (30,1%), 6 tentativas de homicídio (0,3%), 6 maus tratos (0,3%) e 11 vias de fato (0,5 %). Quanto aos crimes que envolvem violência sexual, foram 5 ocorrências de atentado violento ao pudor (0,2 %), 43 de estupro (1,8%) e 8 tentativas de estupro (0,3%). Em 2001, também predominaram as ocorrências de lesão corporal e ameaça. Das 2.140 ocorrências de violência contra mulheres registradas, 853 foram lesões corporais (39,8%), 776 ameaças (36,3 %), 2 tentativas de homicídio (0,1%), e 2 vias de fato (0,1%). Quanto aos crimes que envolvem violência sexual, foram 3 ocorrências de atentado violento ao pudor (0,1%), 21 estupros (1,0%) e 9 tentativas de estupro (0,4%). 1 9

A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, constatou a existência de cinco rotas de tráfico de mulheres para fins de exploração se-xual comercial, sendo que quatro rotas também envolviam crianças adolescentes. 20 Em Rondônia, a taxa de homicídios contra mulheres foi de 4,3 por 100 mil habitantes no ano 2000. As mulheres representam 9,4% das vítimas de homicídios no estado. 21 Na capital Porto Velho, o número de ocorrências de estupro registradas pela polícia aumentou 25 em 1999 para 26 em 2000 e 59 em 2001. número de ocorrências de atentado violento ao pudor aumentou de 76 em 1999 para 88 em 2000 e diminui para 62 em 2001. 2 2

AFRO-DESCENDENTES

 A população afro-descendente (711.330) representa 51,55% da população do estado, proporção inferior à média da Região Norte. Na população afro-descendente, 4,67% se declararam negros e 46,88% pardos.

 INDÍGENAS

 Rondônia tem uma população de pelo menos 5.237 indígenas, distribuídos em 23 povos indígenas. Além disso, conjuntamente com outros estados, também abriga outros 3 povos indígenas, totalizando uma população de 2.446 indígenas.24 Estima-se que tenha a 18 maior população indígena do país. 25 O Estado tem 21 áreas indígenas, que se encontram na seguinte situação jurídica: 26

Situação

No. de Terras Indígenas

A identificar 3
Com restrição de uso 1
Identificadas / Aprovadas pela Funai 1
Declaradas 1
Homologadas 2
Registradas 13

Pelo menos durando os últimos vinte anos, os indígenas Uru-Eu-Wau-Wau tiveram suas terras invadidas por posseiros. Incitados por madeireiros, proprietários de terra e políticos locais, invadem áreas indígenas, retiram madeira e abrem pastos. Invasões e desocupações se intercalam no local há vários anos, sendo que o clima permanece sendo de tensão e insegurança. Durante o mês de maio de 2001, a Funai, o Ibama, a Política Federal e o Ministério Público Federal realizaram uma ação conjunta de desintrusão da área na qual retiraram cerca de 80 pessoas. No entanto, logo depois de se retirarem no local, os posseiros retornaram, razão pela qual os indígenas se organizaram e os expulsaram de lá. 2 7 Assim como no Estado do Mato Grosso, os indígenas Cinta-Larga têm enfrentado sérios problemas decorrentes da extração de madeira e do garimpo presentes em suas terras, situadas na divisa entre os dois estados. 2 8 IDOSOS Em Rondônia, em 2000, o número de idosos era de 72.062.29 Seguindo a tendência nacional, mas com o ritmo mais acelerado entre todas as unidades federativas, a população de idosos em Rondônia passou de 3,8% da população total em 1991 para 5,2% em 2000. MIGRANTES A população de migrantes (181.479) representa 13,15% da população do estado de Rondônia.3 0 É o estado em que tem a quinta maior população de migrantes do país, proporcionalmente à população, menor apenas que a de Roraima, Amapá, Tocantins e Distrito Federal. GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS, TRANSEXUAIS Apenas 1 caso de homicídio homofóbico foi registrado no estado, contra gay, no ano 2000. 31


1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH; 2002).

2 Governo do Estado de Rondônia, relatório enviado à Secretaria de Estado dos Direitos Humanos.

3 Salla, Fernando e outros, "Situação da Violação dos Direitos Humanos no Sistema Penitenciário Brasileiro" (Rio de Janeiro: Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional – CEGIL, 2002).

4 Informações mais detalhadas no capítulo "O Sistema Internacional e a Situação dos Direitos Humanos no Brasil".

5 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/Depen/default.htm).

6 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT (www.cptnac.com.br).

7 Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Relatório Brasil 2001 – Violência no Campo.

 8 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999, e relatório com dados de janeiro a agosto de 2002 no web-site da CPT (www.cptnac.com.br).

9 Ministério do Trabalho e Emprego, A Experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.

10 Material recebido do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – Ministério da Justiça.

11 Agência Estado, 27 de outubro de 2002, "Forças Armadas atuam em 149 municípios, sem incidentes até agora" (www.estadao.org.br).

1 2 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais grupos da população.

13 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

14 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial (compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a pornografia).

15 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

1 6 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p 25. O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes conforme o Estado. Em Rondônia foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15 anos nas atividades de: Catadores de Lixo; Comércio Ambulante; Cultura (do Cacau; e do Café); Extração de Cassiterita; Guardadores de Carro; Serviços Diversos (Convênios e Programas Educativos/Sociais e Guardas Mirins); Serviços e Comércio de Alimentos; Serviços (de Engraxate; em Cerâmicas e Olarias; e em Madeireiras) e Venda de Jornais.

1 7 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca). 

18 Este índice foi obtido a partir do resultado da divisão do número total de adolescentes em liberdade assistida pelo número total de inseridos em medidas em meio fechado (assim consideradas internação e semiliberdade). Quanto maior o índice, maior também a aplicação no Estado da medida em meio aberto em comparação ao número de adolescentes privados, parcial ou totalmente, de liberdade.

19 Governo do Estado de Rondônia, Secretaria de Estado da Segurança Pública – Departamento Geral da Polícia Civil, Delegacia de Defasa da Mulher. Dados enviados pela Casa 8 de Março de Porto Velho/RO.

20 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes – (Coordenação Nacional). Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial. Brasília, 2002.

2 1 Waiselfisz, J.J., Mapa da Violência III (Brasília: Unesco, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002).

22 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm). 2 3 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

24 Esses indígenas, que vivem em Rondônia e em outros estados, estão distribuídos da seguinte forma: junto com o Amapá há um povo com 269 indígenas; e junto com o Mato Grosso há dois povos, somando um total de 2.177 indígenas.

25 Conselho Indigenista Missionário (www.cimi.org.br), que informa ter esse estado uma população de 5.869 ind.

26 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de 2002).

27 Informações retiradas do site do ISA (www.socioambiental.org), em artigo intitulado "Índios Uru-Eu—Wau-Wau expulsam posseiros de suas terras", de 04 de julho de 2001.

2 8 Estado do Mato Grosso.

29 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br). 3 0 Idem. 3 1 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa Mortis: Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil – 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001).


RORAIMA

O Estado de Roraima, situado ao norte da Região Norte, faz divisa com os estados do Amazonas e Pará, e com a Venezuela e Guiana. Sua capital é Boa Vista e sua economia é baseada na agricultura, pecuária e extrativismo (madeira, ouro, diamantes, cassiterita). Antes de ser transformado em estado federal, com a promulgação da Constituição Federal em 5 de outubro de 1988, Roraima havia sido parte do Estado do Amazonas, transformado em Território Federal do Rio Branco em 1943 e Território Federal de Roraima em 1962. Roraima é o estado do país que conta com a maior proporção de indígenas em relação ao total da população, sendo que 42% do território são ocupados por terras indígenas. A Terra Raposa do Sol vem sendo a atual protagonista dos mais sérios conflitos. São muitos os casos de violências, inclusive fatais, que ocorrem nesse local, freqüentemente invadido por garimpeiros, colonos, rizicultores e policiais do exército. É também polêmica a recente construção de um quartel militar dentro de uma aldeia indígena, o que pode contribuir para o agravamento de problemas como o da prostituição e do alcoolismo. Além disso, Roraima é um dos Estados da Região Norte que tem maior índice de violência fatal, o que pode ser percebido através das taxas de homicídio do estado. Enquanto a taxa média da região é de 18,7 homicídios por 100 mil habitantes, nesse estado ela é de 34,9.1 É, ainda, o estado que tem a maior taxa de homicídios contra mulheres no país. Em 2000, 17,2% das vítimas de homicídio eram mulheres, sendo que a taxa de homicídios contra as mulheres foi de 13,9 por 100 mil habitantes. 2

SISTEMA PENITENCIÁRIO

 Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional, não há problema grave superlotação nas unidades prisionais de Roraima. Se considerarmos o número total de presos e número total de vagas, havia 51 vagas não ocupadas em setembro de 2002. No que diz respeito à adequação entre os locais que os detentos estão cumprindo a pena e o regime determinado pela mesma, o estado respeita as garantias determinadas pela Lei de Execução Penal. O regime aberto dispõe de 162 vagas, onde atualmente encontram-se 62 detentos cumprindo esse regime. No regime semi-aberto, são 50 vagas para 37 presos. O número de presos cumprindo o regime fechado (294), entretanto, é superior ao número de vagas disponíveis para esse regime (228). 3

 LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS

 Os 15 municípios desse estado receberam apoio do Exército nas eleições realizadas no dia 06 de outubro de 2002. O motivo foi a dificuldade de locomoção dos eleitores. 4

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

 Em Roraima, o número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos por homicídio aumentou de 45 para 53 entre 1998 e 2000. O número de mortes por homicídio por 100 mil habitantes na população entre 15 e 24 anos aumentou de 69,8 em 98 para 75,7 em 2000. Um indicador da probabilidade dos jovens virem a serem mortos é a taxa de vitimização juvenil. Em 2000, era de 91,9, o que faz de Rondônia o Estado da Região Norte com a maior taxa de vulnerabilidade para a faixa de jovens entre 15 e 24 anos, índice próximo ao da taxa nacional de vitimização juvenil, que era de 92,7 em 2000. 5 Em relação à efetivação dos instrumentos de democracia participativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), até o final do 1º semestre de 2002, somente 6 dos 15 municípios de Roraima contavam com Conselhos Tutelares e 13 com Conselhos Municipais de Direitos.6 Em um estado com tão poucos municípios, o flagrante descumprimento do ECA, no que se refere a implantação desses órgãos, é reforçado pelo fato da criação não significar que haja estrutura para um bom desenvolvimento das funções atribuídas aos Conselhos. A falta de estrutura é um problema que atinge grande parte dos Conselhos instalados no Brasil e em Boa Vista. Tais problemas vêm dificultando o trabalho dos Conselheiros Tutelares, que vêem recebendo aproximadamente mil denúncias por mês (muitas delas de maus tratos e espancamento), e "se vê obrigado a arquivar os processos". 7 Exploração sexual Não há qualquer denúncia oriunda do estado de Roraima registrada no sistema nacional de combate à exploração sexual infanto-juvenil. Cabe salientar, que este fato não significa que não haja exploração sexual.8 A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial identificou 10 rotas de tráfico de crianças e adolescentes que tinham sua origem em Roraima, sendo que nove delas envolviam tráfico também de mulheres com idade superior a 18 anos. 9 O Conselho Tutelar de Boa Vista, em fevereiro de 2002, encaminhou representação ao Ministério Público denunciando a rede de prostituição infanto-juvenil instalada na cidade de Boa Vista, cujas vítimas têm idade entre 8 e 17 anos. Somente nos quatro meses iniciais de 2001, o Conselho descobriu e recebeu denúncias de 36 crianças e adolescentes prostituídas. No relatório produzido, verifica-se o envolvimento de pessoas "do mais alto escalão da sociedade (como políticos, médicos, advogados e militares, entre outros)". Relatam, ainda, a "questão do tráfico de escravas brancas – meninas que vêm normalmente de Manaus e de Belém – para a Venezuela. Esse tráfico seria fomentado por americanos e venezuelanos, com a ajuda de brasileiros". Em razão das denúncias e conseqüente aumento da fiscalização e repressão à prostituição infanto-juvenil - envolvendo ações do Ministério Público, da Polícia Federal e de outros órgãos-, os membros do Conselho Tutelar passaram a ser ameaçados. Em julho de 2002, o presidente licenciado do Conselho, Antônio Leandro da Fonseca Farias, foi seqüestrado por dois homens e só não foi executado porque a arma utilizada falhou. Antes de ser libertado, os seqüestradores lhe avisaram "para parar de falar em prostituição". 10 Trabalho infanto-juvenil O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente indica que em 1999 havia 2.163 crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de idade trabalhando no estado de Roraima. Cabe salientar, porém, que assim como outros estados da Região Norte, o Mapa não traz informações sobre o trabalho da população infantojuvenil de Roraima residente em área rural. O Mapa aponta que esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes setores: Prestação de Serviços (927) e Indústria de Transformação (618). Ademais, 927 eram empregados, 618 domésticos, 309 exerciam atividade por conta própria e 309 não recebiam remuneração. 11 Segundo dados veiculados no jornal Folha de Boa Vista, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), no Estado de Roraima, fornece a crianças e adolescentes, entre 7 e 14 anos, uma bolsa no valor de R$ 40,00 e, em contrapartida, os beneficiários devem estudar regularmente e praticar atividades culturais, esportivas e psicossociais. O PETI atendia 700 crianças e adolescentes em 2001 e, um ano após, os beneficiários somavam 3.560. As entidades que atuam no combate ao trabalho infanto-juvenil indicam que o Programa tem "sido a grande mola, para o salto de qualidade nos encaminhamentos das crianças engraxates". Além das atividades e da obrigatoriedade da presença na escola, a fiscalização constante tem servido para que o trabalho infantojuvenil seja reduzido. 12 Medidas sócio-educativas Conforme dados apresentados pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e pelo Departamento da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério Justiça, o Estado de Roraima tinha, em março de 2002, 167 adolescentes em medida sócio-educativa de liberdade assistida e, no mês de junho, 32 em internação (sendo todos os privados de liberdade do sexo masculino). Roraima se destaca pela alta porcentagem de adolescentes em regime de liberdade assistida, com um índice de 5,22. 13 Em junho de 2002, não havia nenhum adolescente inserido na medida de semiliberdade, tampouco sob internação provisória, o que se justificava pelo flagrante descumprimento a adequação imposta pelo ECA, uma vez que não existia no estado unidades para o cumprimento destas medidas. Deve-se, por outro lado, destacar o fato de existir em Roraima, algumas estruturas e serviços que em outros Estados não há, tais como: Delegacia de Defesa da Infância e Juventude com funcionamento 24 horas, coordenado por equipe interdisciplinar, Defensoria Pública atuante desde o momento da apreensão em flagrante e Ministério Público com atuação inclusive no final de semana. Na execução das medidas sócio-educativas, em especial a de internação, o Centro Sócio-Educativo Homero de Souza Cruz Filho tornou-se entre os anos de 1999 e 2001 - com o Programa Cidadania Ativa - uma referência para os demais estados do Brasil quando, no ano de 2000, recebeu o Prêmio Sócio-Educando.14 Com atividades de grupo, que reúne adolescentes, família e comunidade, o Programa premiado aumentou significativamente o envolvimento de todos na vida dos jovens internados, colaborando, assim, para o desenvolvimento do processo sócio-educativo. Não se pode esquecer, também, que o Sistema de Justiça de Roraima colabora para o sucesso no tratamento das questões relativas aos adolescentes em conflito com a lei. Idealizado e implantado pelo Juiz Mauro Campello em 1999, na Vara da Infância e Juventude de Boa Vista, o Programa Justiça Dinâmica (também agraciado com o Prêmio Sócio-Educando no ano de 2000) envolve as Polícias (Militar e Civil), o Ministério Público, o Juizado da Infância e Juventude, Entidade de Atendimento Sócio-Educativo e a Ordem dos Advogados do Brasil/RR. Apesar de todas essas ações positivas, no mês de agosto de 2002, houve um incidente no Centro Sócio- Educativo, em que dois internos atearam fogo em colchões da unidade. Conforme nota do Desembargador Mauro Campello, este fato poderia ser uma resposta algumas mudanças negativas que estavam em curso na instituição. Cita o desembargador que as alterações implicavam: na transformação do modelo arquitetônico da unidade, que voltava a ter características de cadeião; na falta de treinamento e capacitação permanente dos funcionários; e na possível ausência de atividades lúdicas e culturais. 15

MULHERES

 De 1999 para 2001, houve aumento significativo no número de estupros registrados pela polícia. Em Boa Vista, a polícia registrou 36 ocorrências de estupro e 36 de atentado violento ao pudor em 1999, 29 estupros e 22 atentados violentos ao pudor em 2000, e 71 estupros 28 atentados violentos ao pudor em 2001. 16 Em 2002, houve um grande aumento do número de registros de crimes na Delegacia da Mulher, atribuído pela delegada responsável tanto ao aumento da violência quanto ao aumento das denúncias apresentadas pelas mulheres. O número de ocorrências registradas na Delegacia da Mulher aumentou de 667 em 1999, para 1.379 em 2000, 1.258 em 2001 e 20.320 entre janeiro novembro de 2002. 17 A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial constatou a existência de nove rotas de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual comercial com origem no estado, sendo que todas as rotas também envolviam crianças e adolescentes. 18

AFRO-DESCENDENTES

 A população afro-descendente (220.306) representa 67,91% da população do estado, proporção superior à média da Região Norte. Na população afro-descendente, 3,46% se declararam negros e 64,45% pardos.

INDÍGENAS

 Roraima tem uma população de 24.683 indígenas, distribuídos em seis povos indígenas. Além disso, conjuntamente com outros estados, também abriga outros quatro povos indígenas, totalizando uma população de pelo menos 14.651 indígenas.20 21 Estima- que seja o Estado que tem a 3ª maior população indígena do país, perdendo somente para Amazonas Mato Grosso do Sul.2 2 É, ainda, o Estado com a maior proporção da população indígena do país, sendo que 6,45% da população local se declara indígena. 2 3 O Estado tem 30 áreas indígenas, que se encontram na seguinte situação jurídica: 24

Situação

No. de Terras Indígenas

A identificar 2
Identificadas / Aprovadas pela Funai 1
Declaradas 6
Homologadas 4
Registradas 17

Segundo o Conselho Indígena de Roraima (CIR), 42% da extensão territorial deste Estado é de terra tradicional indígena. São muitos os conflitos em torno da terra vivenciados pelos indígenas, tanto em decorrência presença de invasores quanto de outros conflitos. Raposa do Sol O local em que ocorreram os maiores conflitos nos últimos anos foi a Terra Indígena Raposa do Sol (também chamada de Serra do Sol). Habitada pelos indígenas Makuxi, Ingarikó, Wapixana, Taurepang e Patamona, totalizando uma população de cerca de 12 mil pessoas, divididos em 100 aldeias, essa área, ainda não homologada, é constantemente invadida por garimpeiros, colonos, rizicultores, policiais e oficiais do exército. Em 1995 o município de Uiramutã e Pacaraima foi ilegalmente criado na terra indígena, trazendo junto disseminação de bebidas alcoólicas, prostituição, drogas, abusos de autoridades, agressões físicas, torturas, loteamento de terras e ampliação das invasões. Além disso, as presenças também ilegais de vilas (nas antigas bases de apoio ao garimpo) trazem doenças, poluem a água e agridem o meio ambiente, e a constante presença da Polícia Militar, que freqüentemente persegue lideranças, prende ilegalmente, espanca e tortura indígenas. A presença de rizicultores também é problemática, pois para plantar arroz, necessitam desmatar o local e utilizar agrotóxicos, que poluem as águas dos rios, matando a fauna local. Atualmente, outro problema enfrentado pelos indígenas da Raposa do Sol está relacionado com a reativação do Programa Calha Norte, plano militar desenvolvido na época da ditadura para ocupar e integrar a Amazônia ao resto do país. Contra a vontade dos indígenas, estão construindo um quartel militar dentro da Aldeia Macuxi do Uiramutã. A construção desse aparato militar tende a trazer para o local problema como a propagação de bebidas alcoólicas, abusos sexuais, prostituição, várias formas de terrorismo e desorganização da cultura local. Além disso, já existem duas unidades militares no interior da área. Desde o final do ano de 2000, os indígenas vêm enfrentando uma intensa batalha jurídica em torno da questão, quando as primeiras máquinas de terraplanagem chegaram ao local, e a posterior conquista dos indígenas de uma primeira liminar suspendendo as obras. Há casos de indígenas que foram assassinados, sofreram tentativas de homicídio e foram espancados e torturados ao longo dos últimos anos. Em fevereiro de 1999, o índio Reman Almeida André foi encontrado morto com uma rede enrolada em seu pescoço, o índio Paulo José de Souza foi baleado e o missionário Egon Rech foi esfaqueado por posseiros. Em julho do mesmo ano, o índio Altevar Silva de Almeida, de 17 anos, foi morto por moradores da cidade de Normandia com pontapés, garrafadas e contes com gargalo de garrafa. Em 2000, o índio José Maria dos Santos foi humilhado, espancado com socos, pontapés e torturado de outras formas por policiais militares, que queriam que ele confessasse um crime. Como conseqüência do ocorrido, sofreu um politraumatismo e apresentou problemas clínicos como amnésia e surdez parcial, ocasionada pela ruptura de um tímpano. No início de 2001, o índio Moacir Daniel da Silva foi esfaqueado por um ex-vaqueiro e o índio Luiz de Lima foi espancado por homens embriagados. Ao longo do ano, dois indígenas sofreram tentativas de homicídio. Outros dois indígenas foram vítimas de torturas praticadas por policiais. Nesses anos também ocorreram outros casos de ameaças e violências contra os indígenas. Além disso, ocorreram também casos de abordagens dos indígenas pelos policiais, de provocações de incêndios, de furtos de gado, de extração e destruição de madeira, de invasões de garimpeiros, de explorações turísticas ilegais, de disseminação de bebidas alcoólicas, de desmatamentos e emprego de agrotóxicos por parte de arrozeiros e etc. 2 6 Violências A terra indígena Yanomami, tem sofrido muitas invasões por parte de garimpeiros, madeireiros, pescadores, militares e fazendeiros, esses últimos muitas vezes atuando no sentido de viabilizar as atividades nos garimpos. Em setembro de 2000, estimava-se haver entre mil e quatro mil garimpeiros no local. Suas presenças trazem problemas sociais, ambientais e culturais para os indígenas, além de trazerem doenças tais com a malária e doenças sexualmente transmissíveis, resultantes também da prostituição. Além das tensões e conflitos entre eles e os indígenas, há também as tensões internas ao grupo dos indígenas que resultam da situação, já que há aldeias que se opõe ao garimpo e há aldeias que se aliam aos garimpeiros, muitas vezes porque recebem em troca presentes e armas de fogo. Há notícia de que pelo menos 4 indígenas morreram no ano de 2000 em decorrência desses conflitos. 2 7 Em novembro de 2000, foi lançado o livro Trevas no Eldorado. A obra é resultante de muitos anos de pesquisas que denuncia a coleta de amostras de sangue em várias aldeias Yanomamis na Venezuela e no Brasil pelo geneticista James Neel e pelo antropólogo Napoleon Chagnon entre 1967 e 1968. Essa é uma entre as várias acusações que sofreram em decorrência das viagens que faziam pelo meio das aldeias indígenas, nem sempre recebiam o consentimento da Funai. Davam aos indígenas pequenas coisas materiais em troca de seu sangue. Em abril de 2002, líderes Yanomamis foram a um seminário nos Estados Unidos reivindicar a devolução das amostras de seu sangue, que se encontram armazenadas em pelo menos cinco instituições de pesquisas americanas. 2 8 Boas Práticas Nesse Estado, percebemos uma tendência oposta à dos outros estados do Brasil. Ao contrário da situação de muitos outros estados, em que indígenas criticam a descentralização e terceirização da saúde, em Roraima há notícias de experiências muito bem sucedidas nessa área. A entrega dos cuidados com a saúde dos Yanomamis a Oraganização Não- Governamental Uriki tem trazido ótimos resultados. A mortalidade de crianças com menos de um ano de idade caiu de 197,4 para cada mil nascidos vivos em 1998 para 38,4 em 2002, sendo que a redução no índice de mortalidade geral foi de 50%. Os casos de malária diminuíram de 4.152, em 1998, para 55 em 2000 (até setembro). Sendo responsável por cuidar de 45% dos 12.765 indígenas Yanomamis do país, uma equipe de 150 pessoas fica ininterruptamente na área indígena. O êxito de seu trabalho é também resultado da realização a sistematização dos atendimentos, da aplicação de métodos básicos de cuidados com a saúde e da diagnosticação precoce das doenças, o que não era feito antes. Além disso, são também oferecidos para os indígenas programas para a formação de microscopistas e agentes de saúde, sendo que, até setembro de 2002, 30 indígenas já haviam sido capacitados. 2 9

IDOSOS

 Roraima tinha, em 2000, uma população de 13.128 idosos.30 A proporção das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos na população, apesar de ser a menor do Brasil, cresce em relação às demais faixas etárias da população, passando de 3,3% em 1991 para 4% no ano 2000.

PORTADORES DE DEFICIÊNCIA

 Em Roraima, há aproximadamente 37.721 portadores de deficiência, que representam 11,63% da população do estado.31 Os portadores de deficiência estão organizados em cinco associações, todas elas situadas na capital do estado, Boa Vista, entre elas a Associação dos Deficientes Físicos de Roraima. 32

MIGRANTES

 A população de migrantes (81.087) representa 25% da população do estado de Roraima. É o estado em que tem a maior população de migrantes do país, proporcionalmente à população. 33 A transformação de Roraima de território federal em estado e a construção de prédios da administração pública, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, incentivaram o fluxo de migrantes para o estado, provenientes de outros estados da Região Norte e da Região Nordeste. Em 1999, a pavimentação total da BR 174, que liga Manaus à Boa Vista e esta a fronteira internacional, contribuiu para atrair migrantes e para o crescimento da população urbana em Boa Vista e Pacaraima (cidade na fronteira com a Venezuela). 3 4


1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH; 2002).

 2 Idem.

3 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/Depen/default.htm).

4 Folha de São Paulo, 03 de outubro de 2002, "170 municípios pedem proteção do Exército para votação do dia 6".

5 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais grupos da população.

6 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

7 Notícia disponível no web-site da ABMP, consultada no dia 16 de maio de 2002 (www.abmp.org.br.).

8 Conforme descrito na introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso sexual (intrafamiliar e extra-familiar) e exploração sexual comercial – compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a pornografia.

9 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

 10 A Crítica. AM, 26 de julho de 2002, p. C8.Notícia disponível no web-site da ABMP (www.abmp.org.br)

1 1 Ministério do Trabalho e Emprego. Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente. Brasília, 2001, p 80. O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes conforme o Estado. Em Roraima foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15 anos nas atividades de: Agricultura; Comércio Ambulante; Extração Vegetal; e Serviços (Diversos; Domésticos; em Marcenarias; em Olarias; e em Serrarias).

1 2 Folha de Boa Vista, 23 de fevereiro 2002 . Notícia disponível no web-site da ABMP (www.abmp.org.br)

13 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca). O índice foi obtido a partir do resultado da divisão do número total de adolescentes em liberdade assistida pelo número total de inseridos em medidas em meio fechado (assim consideradas internação e semiliberdade). Quanto maior o índice, maior também a aplicação no Estado da medida em meio aberto em comparação ao número de adolescentes privados, parcial ou totalmente, de liberdade.

1 4 O Prêmio Sócio-Educando, é um projeto desenvolvido pela ANDI, ILANUD em que se são destacadas experiências positivas na efetivação do estatuto da Criança e do adolescente.

 1 5 Nota do Desembargador Mauro Campello às notícias publicadas nos jornais Folha da Boa Vista e Brasil Norte. Disponível no Site da ABMP (www.abmp.org.br).

1 6 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).

1 7 Relatório enviado à Comissão Teotônio Vilela pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Diocese de Roraima.

1 8 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

19 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

2 0 Esses indígenas, que vivem em Roraima e em outros estados, estão distribuídos da seguinte forma: junto com o Amazonas há dois povos, somando um total de com 12631 indígenas; junto com o Amazonas e o Pará há um povo com 2.020 indígenas; e junto com o Pará há um povo, formado por não se sabe quantos indígenas.

2 1 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org). 22 Conselho Indigenista Missionário (www.cimi.org.br). 2 3 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

 2 4 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org).Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de 2002).

2 5 Uma delas em conjunto com os estados do Amapá e do Pará.

2 6 Texto elaborado a partir de material recebido do Conselho Indígena Missionário de Roraima – CIR, e de ISA, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, "Facada na Raposa", de Márcio Santili, p. 297-303.

2 7 Texto elaborado a partir de material recebido do Conselho Indígena Missionário de Roraima – CIR, e de ISA, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p. 352-352, ISA, agosto de 2002, "Crescimento do garimpo em Surucucu é preocupante", ISA, 04 de setembro de 2000, "Garimpo gera violência em Parafuri", O Globo, 21de setembro de 2000, "Ministério Público quer que PF investigue nova invasão",.

2 8 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org), em artigo da Comissão Pró-Yanomami, de 09 de maio de 2002, e em artigo do ISA de 05 de abril de 2002; e reportagem "Geneticista dos EUA colheu sangue de indígenas sem autorização da Funai", Jornal do Comércio (PE), 22 de outubro de 2000.

2 9 Folha de São Paulo, 7 de outubro de 2002. "Ação de ONGs baixa mortalidade de índios".

3 0 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

31 Idem.

3 2 Relatório enviado à Comissão Teotônio Vilela pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Diocese de Roraima.

3 3 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

3 4 Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona Nº 94 (82), 1 de agosto de 2001. Migração e mudança social: a influência do migrante do setor nordestino no norte do Brasil.


TOCANTIS

O Estado do Tocantins, situado a sudeste da Região Norte, na área conhecida como Bico do Papagaio, faz divisa com os estados do Maranhão, Piauí, Bahia, Goiás, Mato Grosso e Pará. Sua capital é Palmas e sua economia está baseada na agricultura (arroz, milho, feijão, soja) e na pecuária. O estado foi criado, a partir da divisão do Estado de Goiás, por determinação da Constituição Federal de 1988. O Tocantins apresenta problema recorrente de violência policial, havendo inclusive denúncias de participação de policiais em grupo de extermínio. É um dos estados da Região Norte em que o índice de violência fatal mais cresceu entre os anos de 1991 e 2000. A taxa de homicídio no estado cresceu de 10,2 homicídios por 100 mil habitantes em 1991 para 15,3 em 2000 (+50%). 1 Depois do Pará, o Tocantins é o estado do Norte com maior número de trabalhadores escravos. Entre 1999 e 2001, o Gertraf localizou 90 pessoas vivendo em situação de escravidão, sendo que 22 foram liberadas. 2 É, ainda, o estado que mais desrespeita o Estatuto da Criança e do Adolescente, no que se refere à efetivação dos instrumentos de democracia participativa. Até o final do 1º semestre de 2002, somente 27 dos 134 municípios contavam com Conselhos Tutelares (19%) e somente 53 contavam com Conselhos Municipais de Direitos (38%). 3

VIOLÊNCIA POLICIAL, EXECUÇÕES E TORTURA

Durante os anos de 1999 e 2000, foram noticiados na imprensa 18 casos de homicídios, 2 tentativas de homicídio e 101 casos de tortura envolvendo policiais civis e militares. Em 30 de outubro de 2001, foi instalada a Central Estadual da Campanha Nacional Permanente Contra Tortura no Tocantins. A central recebeu, através do sistema disque-denúncia, 30 denúncias de tortura, das quais 24 são contra policiais civis e militares. As vítimas de violência policial que procuraram o Centro de Direitos Humanos de Palmas são encaminhadas para o Ministério Público. Três pessoas em 1998 e nove pessoas em 1999 tomaram a iniciativa de solicitar junto ao Ministério Público a apuração do crime de tortura. 4 Conforme informações do Centro de Direitos Humanos de Palmas, a partir de março de 1999, o governador estadual adotou medidas para coibir a violência –entre as quais o fechamento das casas noturnas à meianoite e abordagem dos cidadãos que estivessem nas ruas após este horário, para prestação de esclarecimentos – que contribuíram para o aumento dos abusos cometidos por policiais. 5 O Centro de Direitos Humanos de Palmas apresenta preocupação quanto ao preenchimento dos quadros da Polícia Civil, especialmente no que se refere aos delegados. Apenas 54 delegados de polícia são bacharéis em direito. Nos municípios do interior, 98 policiais militares exercem o cargo de delegados, responsáveis pelas delegacias, dificultando assim a denúncia das vítimas com medo de represálias, uma vez que o treinamento e a formação de um policial militar não atende às necessidades específicas para a realização de ações da polícia judiciária. 6 No mês de abril e maio de 2002, a imprensa realizou reportagens sobre a contratação de pistoleiros para assassinar o prefeito de um município do interior do Estado, Recursolândia. As reportagens sugeriam a existência de um grupo de extermínio no estado, relatando o suposto conluio entre policiais e pistoleiros, em que os pistoleiros executam as mortes determinadas pelos policiais, sendo as principais vítimas os traficantes e suspeitos de matar policiais. 7 Em visita ao Brasil, no ano de 2000, o Relator Especial da Organização das Nações Unidas para a Tortura, Nigel Rodley, observou a prática de tortura e outros tratamentos cruéis no Estado do Tocantins, citando 19 casos no seu relatório, registrados entre 1997 e 2000, todos envolvendo policiais civis e/ou militares. 8 Policiais militares realizaram greve por melhores salários, com a duração de doze dias, em maio de 2001. Os policias militares grevistas ocuparam o 1o Batalhão da Polícia Militar em Palmas. O Exército foi chamado a intervir para conter a greve. 9

 SISTEMA PENITENCIÁRIO

A população carcerária está um pouco acima do número de vagas disponíveis no sistema prisional. São 1.182 vagas, distribuídas entre o sistema penitenciário (702) e as instalações policiais (480), nas quais se encontravam encarcerados 1.240 presos em setembro de 2002. 1 0

VIOLÊNCIA RURAL

Em Tocantins, o número de conflitos rurais caiu de 16 em 1999 para 4 em 2000 e 6 em 2001. O número de pessoas envolvidas nestes conflitos também caiu de 2.335 em 1999 para 1.491 em 2000 e 823 em 2001. Entre janeiro e agosto de 2002, aconteceram cinco casos de conflito de terra, com o envolvimento de 735 pessoas. No período, não foram registradas mortes em decorrência de conflitos de terra. 11 Em 3 de novembro de 2000, uma ação da tropa de choque da polícia militar, com o objetivo de remover de um terreno do governo do estado cerca de 2.200 integrantes do Movimento Nacional da Luta por Moradia, com a utilização de balas de borracha e cassetetes, deixou 18 pessoas feridas e 500 barracos destruídos. 1 2

TRABALHO ESCRAVO

 Em 1999, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou a presença de 13 trabalhadores em condição análoga a de escravo, procedentes de Estreito/MA, Araguaína/TO, Pernambuco e Minas Gerais, na Fazenda Pantera, município de Bandeirantes.1 3 Em 2001, a CPT registrou a presença de 32 trabalhadores em condição análoga a de escravo, procedentes de Balsas/MA,na Fazenda Bela Vista, localizada no município de Presidente Kennedy, e 45 trabalhadores em condição análoga a de escravo na Fazenda Serra Centro, município de Campos Lindos. 1 4 O Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Gertraf realizou três operações em Tocantins em 1999 e duas em 2000, sem encontrar trabalhadores em situação degradante ou análoga à escravidão. Em 2001, o Grupo Móvel realizou outras três operações e 22 trabalhadores encontrados em situação degradante ou análoga à escravidão foram libertados. 15

LIBERDADES CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS

 Nesse estado, três zonas eleitorais, situadas nas terras dos indígenas Xerente, receberam a proteção do Exército nas eleições realizadas no dia 06 de outubro de 2002. Um município recebeu esta proteção no 2º turno, em 27 de outubro do mesmo ano. 16

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Em Tocantins, o número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos por homicídio aumentou de 39 para 62 entre 1998 e 2000. O número de mortes por homicídio por 100 mil habitantes na população entre 15 e 24 anos aumentou de 16,6 para 25,9 entre 1998 e 2000. Um indicador da probabilidade dos jovens virem a ser mortos é a taxa de vitimização juvenil que, em 2000, era de 62,7 no estado, mais baixa que a taxa nacional de vitimização, que no mesmo ano era de 92,7. 17 Exploração Sexual No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002, o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração sexual, das quais 10 originaram- se no Tocantins. Cabe destacar, que no último semestre de registros não houve denúncias provenientes do estado. 18 Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial, que constatou a existência no Brasil de 172 rotas de tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial. Tinham origem no Estado de Tocantins 5 rotas, sendo que duas delas também envolviam mulheres com idade superior a 18 anos. 19 Trabalho Infanto-Juvenil O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente indica que em 1999 havia 70.501 crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Estado de Tocantins. Deste total, 45.716 (64,84%) trabalhavam na área urbana e 24.785 (35,16%) na rural. O Mapa aponta que esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes setores: Agropecuária (21.349) e Prestação de Serviços (11.667). Ademais, 32.787 (46,31%) eram empregados, 20.689 (29,22%) não recebiam remuneração e 7.416 eram domésticos. 2 0 Medidas Sócio-Educativas Conforme dados apresentados pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e pelo Departamento da Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério Justiça, o Estado de Tocantins apresentava no primeiro semestre do ano de 2002 a menor quantidade absoluta de jovens inseridos nas medidas sócio-educativas de liberdade assistida (11) e de internação (9) totalizando 20 adolescentes. O índice de adolescentes sob liberdade 1,22. 21

 MULHERES

 A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial constatou a existência de quatro rotas de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual comercial, sendo que duas rotas também envolviam crianças e adolescentes. 22 Em Tocantins, a taxa de homicídios contra as mulheres é de 2,8 por 100 mil habitantes em 2000. As mulheres representam 9% das vítimas de homicídios.23 Na capital, Palmas, a polícia registrou 24 ocorrências de estupro e 6 de atentado violento ao pudor em 2001. 24 Em quatro Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher no Estado do Tocantins, foram registradas 1.014 ocorrências de violência praticada contra mulheres em 1999. Destas, 405 foram de ameaças (39,94% das ocorrências), 7 homicídios (0,69%), 4 tentativas de homicídio (0,39%), 240 lesões corporais (23,87%), 98 lesões corporais culposas (9,66%), 8 maus tratos (0,79%), 60 vias de fato (5,92%). Quanto aos crimes que envolvem violência sexual, foram 12 atentados violentos ao pudor (1,18%), 27 estupros (2,66%) e 3 tentativas de estupros (0,30%). 25

AFRO-DESCENDENTES

A população afro-descendente (745.329) representa 64,41% da população do estado, proporção inferior à média da Região Norte. Na população afro-descendente, 7,59% se declararam negros e 56,83% pardos. 26 O Governo do Estado informa que há casos de discriminação racial no Tocantins, mas não há dados que permitam avaliar a magnitude do problema. Informa ainda que não dispõe de informações sobre a participação dos negros nos quadros da administração pública, no ensino superior, entre as vítimas de crimes ou na população prisional. 2 7

INDÍGENAS

 O Tocantins tem uma população de 5.623 indígenas, distribuídos em 5 povos indígenas. Além disso, conjuntamente com outros estados, também abriga outros 2 povos indígenas, totalizando uma população de 2.516 indígenas.28 29 Estima-se que tenha a 15ª maior população indígena do país. 30

O Estado tem 8 áreas indígenas, que se encontram na seguinte situação jurídica: 31

Situação

No. de Terras Indígenas

A identificar 2
Identificadas / Aprovadas pela Funai 1
Declaradas 6
Homologadas 4
Registradas 17

Os indígenas Krahô e Kanela têm enfrentado condições adversas para manutenção da sua sobrevivência. Em 22 de setembro de 2001, uma decisão judicial de reintegração de posse proferida contra eles obrigou-os a desocupar a terra em que estavam e a ir para um assentamento, onde vivem em péssimas condições, passando fome e recebendo novas ameaças de despejo por parte do Incra. Haviam apenas recentemente voltado para essas terras, depois de um longo processo de tentativas nesse sentido. Na verdade, há mais de 80 anos, desde 1924, quando sofreram um massacre, esses indígenas tentam voltar para suas terras. Em 1963, foram acolhidos por um outro povo indígena da região, os Javaé. Ficaram ali até 1984, quando a cervejaria Brahma os expulsou. Foram, então, removidos para um assentamento do Incra, mas não conseguiram se adaptar devido à péssima qualidade da terra e da vida. Por isso, voltaram a sua terra original, de onde foram expulsos novamente, voltando a terem que viver em um assentamento que não lhes garante as mínimas condições de vida. 3 2 Outro grande problema enfrentado pelos povos indígenas nesse estado, bem como pelos povos indígenas de outros estados também, está ligado à sobreposição de unidades de conservação em seus territórios. Nesses espaços, a criação dessas unidades de conservação, na maioria dos casos, expulsou os indígenas de seus territórios. Alguns resolveram voltar, com fizeram os Javaé e os Karajá, em 22 de outubro de 2000. Voltaram para a Ilha do Bananal, de onde tinham sido expulsos com a criação do Parque Nacional do Araguaia. 33 Boas Práticas O Projeto Frutos do Cerrado, que envolve os Timbira do sul do Maranhão e do norte de Tocantins, além de outras organizações de não-indígenas, é um projeto de produção e comercialização de polpa de frutos nativos do cerrado, que objetiva possibilitar a essas comunidades a experiência de alternativas econômicas viáveis. O projeto conta com cooperativas, associações agroextrativistas de pequenos produtores, uma associação indígena que representa cinco povos Timbira e entidades de assessoria. Os frutos nativos coletados são transformados em polpa congelada e embalados para comercialização. Além disso, foram também estruturados viveiros de mudas para o trabalho do plantio de espécies nativas, adensando as áreas já produtivas e recuperando áreas desmatadas. Trata-se de uma concepção alternativa às grandes monoculturas, ao uso de agrotóxicos e, de uma forma mais geral, ao modelo de desenvolvimento predatório e prejudicial ao meio ambiente. Além disso, a experiência também é positiva ao sinalizar uma organização e um intercâmbio entre os diversos povos Timbira. 3 4

IDOSOS

O Estado do Tocantins, em 2000, registrava uma população de 78.412 idosos.35 O envelhecimento da população também se percebe no estado: em 1991, os idosos representavam 5,6% da população; no ano 2000, a proporção passou a ser de 6,8%. Na Região Norte, o Tocantins registra a maior proporção de idosos na população do estado.

PORTADORES DE DEFICIÊNCIA

 O Governo do Estado do Tocantins, através da Secretaria do Interior e Justiça, informa que tramita na Casa Civil um ante-projeto de lei para a criação do Conselho Estadual dos Direitos de Defesa da Pessoa Portadora de Deficiência. Visando sensibilizar os gestores municipais e mobilizar as representantes de entidades "de" e "para" pessoas portadoras de deficiência, foram realizados quatro fóruns de implementação de Conselhos Municipais de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência. Por solicitação da Secretaria do Interior e Justiça, a Secretaria de Infra-estrutura está adotando providências para constar em todos os projetos de obra pública acessibilidade física para o deficiente bem como providenciando as necessárias reformas nos prédios públicos sem tais condições. A ASSOBEN - Associação Beneficente Luta e Justiça atua na defesa dos direitos da pessoa portadora de deficiência.

MIGRANTES

A população de migrantes (177.034) representa 15,30% da população do estado de Tocantins. É o estado em que tem a terceira maior população de migrantes da Região Norte e a quarta maior do país, proporcionalmente à população total. 3 6


1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH; 2002).

2 Ministério Trabalho e Emprego, A Experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.

3 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca).

 4 Informações do Centro de Direitos Humanos de Palmas.

 5 Idem.

 6 Idem.

 7 Idem.

8 Rodley, Nigel, Relatório sobre a Tortura no Brasil. Disponível no web-site da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (www.mj.gov.br/sedh) e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).

9 Folha de S. Paulo, 28 de maio a 1o de junho de 2001, e O Estado de S. Paulo, 28 de maio a 1o de junho de 2001. 1 0 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/Depen/default.htm).

11 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT (www.cptnac.com.br). 12 Folha de S. Paulo do dia 04 de novembro de 2000.

13 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 1999.

1 4 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo – Brasil 2001.

1 5 Ministério Trabalho e Emprego, A Experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.

1 6 Folha de São Paulo, 03 de outubro de 2002, "170 municípios pedem proteção do Exército para votação do dia 6"; Agência Estado, 27 de outubro de 2002, "Forças Armadas atuam em 149 municípios, sem incidentes até agora" (www.estadao.org.br).

1 7 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais grupos da população.

1 8 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial (compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a pornografia).

19 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).

 2 0 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p. 82. O Mapa traz, ainda, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes conforme o Estado. Em Tocantins foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15 anos nas atividades de: Agricultura; Comércio em geral; Comércio Indústria e Serviço; Construção Civil; Indústria em Geral; Indústria Moveleira e Assemelhados; Serviços Diversos (Convênios e Programas Educativos/Sociais e Guardas Mirins); e Serviços (em Cerâmicas e Olarias; e Sorveteria).

2 1 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente (www.mj.gov.br/sedh/dca). Este índice foi obtido a partir do resultado da divisão do número total de adolescentes em liberdade assistida pelo número total de inseridos em medidas em meio fechado (assim consideradas internação e semiliberdade). Quanto maior o índice, maior também a aplicação no Estado da medida em meio aberto em comparação ao número de adolescentes privados, parcial ou totalmente, de liberdade.

2 2 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes – (Coordenação Nacional). Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial. Brasília, 2002.

23 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002).

2 4 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).

2 5 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - Pesquisa Nacional sobre as Condições de Funcionamento das Delegacias Especializadas no Atendimento às Mulheres. Relatório da pesquisa disponível no web-site da entidade(www.mj.gov.br/sedh/cndm).

26 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).

 2 7 Governo do Estado do Tocantins, relatório enviado pela Secretaria do Interior e Justiça para Secretaria de Estado de Direitos Humanos, em 21 de outubro de 2002.

28 Esses indígenas, que vivem no Tocantins e em outros estados, estão distribuídos da seguinte forma: junto com o Mato Grosso e o Pará há um povo com 2500 indígenas; e junto com Goiás há um povo com 16 indígenas.

2 9 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org).

30 Conselho Indigenista Missionário (www.cimi.org.br), que informa ter esse estado uma população de 7.740 indígenas.

3 1 Instituto Sócio-Ambiental (www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outurbro de 2002 (com exceção das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de 2002).

3 2 Conselho Indigenista Missionário, Informes n.º 480 e n.º 502, de 26 de setembro de 2001 e 07 de março de 2002.

3 3 Conselho Indigenista Missionário, Informes n.º 436 e n.º 462, de 9 de novembro de 2000 e 24 de maio de 2001.

 3 4 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, "A Organização Timbira e a Rede de Frutos do Cerrado", Jaime G. Siqueira Jr., p. 667-669.

35 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br)

36 Idem.


 

Desde 1995 © www.dhnet.org.br Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: enviardados@gmail.com Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Notícias de Direitos Humanos
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
História dos Direitos Humanos no Brasil - Projeto DHnet
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Memória e a Verdade
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multimídia Memória Histórica Potiguar