SEGUNDO RELATÓRIO
NACIONAL SOBRE OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
2000 – 2002
REGIÃO NORDESTE
A Região Nordeste, formada pelos estados de
Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte
e Sergipe, possui uma extensa área de sertão, de clima semi-árido, que começa no
interior e chega até o litoral nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará. Nesta
área, as chuvas são escassas e mal distribuídas, os solos são rasos e
pedregosos, a vegetação típica é a catinga, e a única fonte de água perene é o
Rio São Francisco. A atividade agrícola se concentra na região da Zona da Mata e
no Agreste. A Zona da Mata é uma faixa litorânea de 200 km, onde predominam,
desde o período colonial, as plantações de cana de açúcar. No Agreste, que é a
região de transição entre a Zona da Mata e o sertão semi-árido, predominam os
minifúndios e pecuária leiteira. Por fim, o Meio Norte é a região de transição
entre o sertão semi-árido e a Floresta Amazônica. O Nordeste é a região que tem
a maior população rural do país. Dos 47.741.711 habitantes da região (28,12% da
população brasileira), 30,93% vive em áreas rurais.1 A taxa de crescimento anual
da população é de 1,1%, a mais baixa entre todas as regiões do país.2 O Nordeste
é a única região do país que envia migrantes para as outras regiões em maior
número do que recebe migrantes das outras regiões. 3 É a região do país que tem
a maior população em situação de pobreza (com renda familiar mensal per capita
de até meio salário mínimo). Apesar da diminuição da pobreza na década de 1990,
50,12% da população ainda vivia em situação de pobreza em 1999.4 Na década de
1990, aumentou o rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios. Mas o
rendimento dos responsáveis pelos domicílios na região ainda é o menor do país.5
Ainda que a desigualdade de renda também tenha diminuído na década de 1990 no
Nordeste, assim como nas demais regiões, o grau de desigualdade de renda
permanece alto, inferior ao do Centro-Oeste, mas superior ao de todas as outras
regiões do país. 6 Há na região uma longa história de luta pela terra, agravada
pelo quadro de pobreza e desigualdade existente na região. Ainda hoje, o
Nordeste é a região com maior número de conflitos rurais, que resultaram em 25
mortes entre 1999 e 2001. O número de mortes em decorrência de conflitos rurais
aumentou de seis em 1999 para nove em 2000 e dez em 2001. Os estados com maior
número de conflitos são Pernambuco, Ceará e Maranhão. Os estados com maior
número de mortes na luta pela terra são Pernambuco, Maranhão, Bahia e Alagoas. 7
Nos últimos anos, a região apresenta forte crescimento da atividade turística,
concentrada nas capitais com centros históricos e patrimônios culturais, como
Salvador, Recife, Olinda, São Luís do Maranhão, e praias do extenso litoral que
atraem turistas do Brasil e do Exterior. Ao lado do turismo, aumenta o problema
da exploração sexual e tráfico para fins de exploração sexual de mulheres,
adolescentes e crianças. O Nordeste é, ao lado do Sudeste, a região que registra
maior número de denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes. E, ao
lado do Norte, a região que registra o maior número de rotas de tráfico de
mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual. A maior
população afro-descendente no país se encontra nesta região.8 Principalmente na
Bahia, estado com a maior concentração da população negra do país, a sociedade
civil se organizou na defesa dos direitos dos afro-descendentes e atualmente
existem muitas organizações não governamentais que lutam contra a discriminação,
o preconceito racial e a defesa de políticas afirmativas para proteção e
promoção dos direitos da população negra. De 29 comunidades quilombolas
tituladas pela Fundação Cultural Palmares, INCRA e governos estaduais, 9 estão
situadas da Região Nordeste. 9 O Nordeste é também a região do país que
apresenta o maior número de pessoas portadoras de deficiência, proporcionalmente
à população.10 Diversos estados desenvolvem programas visando promover a
integração dos portadores de deficiência à sociedade. Na Bahia e no Ceará, há
registro de casos de discriminação e violência praticada contra pessoas
portadoras de deficiência por policiais, que exemplificam problemas enfrentados
por membros deste grupo em diversos estados. Destaca-se na Região Nordeste o
empenho e articulação de algumas organizações da sociedade civil que
possibilitam que graves violações de direitos humanos como a discriminação por
opção sexual e assassinatos de homossexuais possam ser denunciadas, os processos
criminais acompanhados, e os casos quando divulgados possam ser conhecidos pela
sociedade. Comprovando assim que esses crimes não são casos isolados ou ações
eventuais, mas práticas continuadas de discriminação e homicídios contra gays,
lésbicas, bissexuais e transexuais. O Grupo Gay da Bahia é um exemplo dessas
organizações não governamentais. Atua intensamente na defesa dos direitos dos
homossexuais, e incentiva a formação e fortalecimento de outras organizações a
denunciar esse tipo de violação. Pernambuco é o estado que tem o maior índice de
homicídios do Brasil, contribuindo de maneira significativa para aumentar o
quadro de violência na Região Nordeste.11 Entretanto, a diferença entre o índice
de homicídios em Pernambuco e outros estados da região deve ser relativizada. Em
diversos estados da região, particularmente Maranhão e Piauí, há muitos casos de
morte, inclusive mortes violentas, que não chegam ao conhecimento das
autoridades das áreas da saúde e da segurança pública, e não aparecem nos
sistemas de registro e nas estatísticas oficiais. Na luta contra a impunidade e
na defesa dos direitos das vítimas de violência, quatro estados da região já têm
um programa estadual de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas (Bahia,
Ceará, Maranhão e, o primeiro estado a ter o programa, desenvolvido pelo
Gabinete de Assessoria Jurídica a Organizações Populares, que inspirou os demais
programas, Pernambuco). Três estados criaram um centro de apoio a vítimas de
crimes (Alagoas, Bahia e Paraíba) e Pernambuco está implantando um centro. Bahia
e Rio Grande do Norte criaram ouvidorias de polícia, mas as duas são dotadas de
pouca autonomia para receber e acompanhar a investigação de denúncias contra
policiais. Em Recife e Pesqueira, Pernambuco, e em Salvador, Bahia, foram
estabelecidos, em 2002, núcleos da Rede Nacional de Observatórios de Direitos
Humanos, que visa formar grupos de jovens para identificar as violações de
direitos humanos e atuar na proteção e promoção dos direitos humanos nas suas
comunidades. 12
1 IBGE, Censo Demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).
2 IBGE, Censo Demográfico 1996 (www.ibge.gov.br).
3 IBGE, Censo demográfico 2000 (www.ibge.gov.br).
4 Folha de S. Paulo, 17 de outubro de 2002,
Eleições especial
5 Quadro "Pobreza cai em todas as regiões". A
população considerada pobre é a população residente com renda familiar per
capita de até meio salário mínimo. Dados do IBGE, elaborados pelo IPEA, mostram
que a população em situação de pobreza na Região Nordeste diminuiu de 64,5% da
população total em 1992 para 50,3% em 1995 e 50,1% em 1999, enquanto no país
diminuiu de 40,2% da população total em 1992 para 28,4% em 1999. 5 Folha de S.
Paulo, 20 de dezembro de 2001, Censo 2000, Especial 5, quadros "Rendimento
Mensal dos responsáveis pelo Domicílio". O rendimento médio do dos responsáveis
pelos domicílios na Região Nordeste aumentou de R$ 301 em 1991 para R$ 448 em
2000, enquanto no país aumentou de R$ 542 em 1991 para R$ 769 em 2000.
6 Folha de S. Paulo, 20 de dezembro de
2001, Censo 2000, Especial 5, "A Concentração de renda em 2000". A desigualdade
de renda é medida pelo índice de Gini, que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo
de zero, maior a igualdade na distribuição de renda. Quanto mais próximo de 1,
maior a desigualdade na distribuição de renda. Valores acima de 0,5 indicam a
existência de alto grau de concentração de renda na sociedade. No ano 2000, o
índice de Gini da Região Nordeste foi de 0,617, enquanto para o Brasil foi de
0,609.
7 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil
2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT
(www.cptnac.com.br).
8 Idem. A população afro-descendente representa
66,5% e a população negra 7,51% da população total.
9 Comunidades Remanescentes de Quilombos;
contribuição para o Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável
–Fundação Cultural Palmares. (www.palmares. gov.br).
1 0 Idem. No Nordeste, há 7, 9 milhões de pessoas
portadoras de deficiência –o que representa 16,70% da população da região. No
país, a população portadora de deficiência representa 14,45% da população total.
1 1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III:Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002).
12 A formação da Rede Nacional de Observatórios
de Direitos Humanos é um projeto coordenado pelo Instituto São Paulo contra a
Violência e o Núcleo de Violência da Universidade de São Paulo, com apoio da
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Secretaria de Estado da Assistência
Social e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
ALAGOAS
VIOLÊNCIA
POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÂNCIA RURAL
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
GAYS, LÉSBICAS, TRANSEXUAIS
E BISSEXUAIS
O Estado do Alagoas é um dos menores estados do
país, juntamente com Sergipe. Situado a leste
da Região Nordeste, faz divisa com Pernambuco,
Sergipe e Bahia. Sua capital é Maceió e as principais
atividades econômicas são a agricultura (principalmente
cana de açúcar), indústria (química, açúcar e
álcool, cimento e alimentícia), extração de sal-gema,
gás natural e petróleo a partir da década de 1960
e, na década de 1990, turismo. Entre os anos de
1999 e 2002, a violência fatal foi um dos principais
problemas existentes no Estado. Entre todas as
unidades federativas da Região Nordeste, Alagoas
tem o segundo maior índice de homicídios por 100
mil habitantes (enquanto a taxa média da região
é de 20,7, no estado ela é de 25,6). 1 Há denúncias
da atuação de grupos de extermínio, associados
com o crime organizado e com a participação de
agentes do estado. No período, ocorreram greves
promovidas por policiais civis e militares, que
contribuem para aumentar a sensação de insegurança
da população e a instabilidade no sistema de segurança
pública em Alagoas. Outro problema verificado
são as condições a que estão submetidas as pessoas
privadas de liberdade. No sistema prisional, há
superlotação dos estabelecimentos penitenciários.
Em relação aos adolescentes em conflito com a
lei, a existência de uma única unidade de internação
dificulta a ação sócio-educativa de internação
e contribui para o aumento da violência dentro
das unidades. Entre elas, cite-se a rebelião ocorrida
em 2001 que causou a morte de quatro jovens. A
atuação do Fórum de Mulheres de Alagoas, monitorando
a violência contra a mulher no estado, é uma das
ações que merecem destaque.
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VIOLÊNCIA POLICIAL,
EXECUÇÕES E TORTURA
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos
e a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos
Advogados do Brasil-Alagoas denunciam a persistência
dos grupos de extermínio no Estado de Alagoas.
Em 1998, um cemitério clandestino havia sido localizado
em um canavial próximo ao Complexo Benedito Bentes,
no Tabuleiro do Martins. Em 2002, cemitérios clandestinos
também foram descobertos em Marechal Deodoro e
Coqueiro Seco. 2 Em parte como resultado da atuação
de grupos de extermínio, associados ao crime organizado,
com envolvimento de policiais, Alagoas tem a segunda
mais alta taxa de homicídio da Região Nordeste
(25,6 homicídios por 100 mil habitantes), inferior
apenas à taxa registrada em Pernambuco (52,3 homicídios
por 100 mil habitantes). 3 Em visita ao Brasil,
no ano 2000, o relator especial da Organização
das Nações Unidas para a Tortura, Nigel Rodley,
observou a prática de tortura em Alagoas. No relatório
apresentado à ONU, há referência a seis casos
de tortura, praticada por policiais civis e militares,
ocorridos nos anos de 1999 e 2000. Alagoas apresentou,
em três anos, três greves de policiais civis por
melhores salários. Uma ocorreu em julho de 2001,
em conjunto com policiais militares, e teve duração
de quatro dias. O governador Ronaldo Lessa chegou
a solicitar a intervenção do Exército para conter
essa greve. 4 Em março de 2000, houve greve por
melhores salários durante o período do Carnaval,
paralisando 13 das 14 delegacias de Maceió.5 Em
junho de 1999 a greve chegou a interditar a entrada
do Instituto Médico Legal, deixando cadáveres
expostos em frente ao Instituto em Maceió.6
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO
Como em vários estados da federação, Alagoas
tem um número de presos maior do que a capacidade
oferecida nas 3 unidades penitenciárias e um hospital
psiquiátrico no sistema penitenciário. São 852
presos para 672 vagas. Não há presos nas delegacias
ou outras instalações do sistema de segurança
pública. Chama a atenção que, embora o sistema
ofereça 104 vagas para o cumprimento de pena em
regime semi-aberto, atualmente se encontram apenas
14 detentos cumprindo pena neste regime. Já o
número de vagas disponíveis para o regime fechado
é de 403 vagas, mas são 698 os presos que estão
cumprindo a pena nesse regime. A desproporcionalidade
pode indicar que as sentenças têm privilegiado
a pena em regime fechado ou que o sistema de progressão
da pena não está funcionando como prevê a Lei
de Execução Penal. 7 É através de rebeliões que
os presos conseguem chamar a atenção da sociedade
em geral para as condições em que estão vivendo
e para suas reivindicações. Nesses momentos há
uma certa mobilização das atenções da sociedade
para as formas pelas quais são tratados os criminosos.
Em 05 de março de 2001, 448 detentos no presídio
São Leonardo, periferia de Maceió, se rebelaram.
As reivindicações se referiam à revisão das penas
daqueles que já haviam cumprido boa parte de suas
sentenças, aplicação de penas alternativas para
aqueles com bom comportamento e demissão de diretores
de segurança que agridem presidiários. Durante
a rebelião foram mortos cinco detentos e um grupo
dos amotinados decepou cabeça e membros de uma
das vítimas.
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VIOLÊNCIA RURAL
Em Alagoas, entre 1999 e 2001, ocorreram 105
conflitos rurais, sendo que mais da metade dos casos (53) ocorreram em 1999.
Contudo, o número de pessoas envolvidas aumentou de 49.072, naquele primeiro
ano, para 57.975, em 2000. Em 2001, os conflitos atingiram 12.780 pessoas. No
período, foram registradas quatro mortes em decorrência de conflitos rurais,
sendo duas em 1999, uma em 2000 e uma em 2001. Um outro assassinato aconteceu em
2002. 8
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CRIANÇAS
E ADOLESCENTES
O número de jovens, entre 15 e 24 anos
mortos por homicídio aumentou de 172 para 279 entre 1998 e 2000 (crescimento de
62,21%). O número de mortes por homicídio por 100 mil habitantes na população
entre 15 e 24 anos aumentou de 29,2 em 1998 para 46 em 2000 (57,53%). Um
indicador da probabilidade dos jovens serem mortos é a taxa de vitimização
juvenil que, em Alagoas, era de 79,4, menor que taxa nacional de vitimização
juvenil que, em 2000, era de 92,7. 9 Um levantamento realizado pelas
organizações da sociedade civil indicou que, em nove anos (entre 93 e 2002), 60
crianças e adolescentes em situação de rua foram mortos ou desapareceram em
Maceió. Um dos casos, ocorrido em junho de 2001, foi do adolescente Labirinto,
de 16 anos, seqüestrado nas proximidades de uma Pizzaria, na Praça Sinimbu,
quando se encontrava na companhia de outros meninos de rua. Apesar de gritar por
socorro, o adolescente não conseguiu ser socorrido e nunca mais foi localizado,
o que deixou as testemunhas aterrorizadas. 10 Não existindo na capital alagoana
nenhum abrigo para esta população, os adolescentes acabam ficando na Praça
Sinimbu, na Feira do Rato e no Mercado da Produção, locais de maior concentração
de crianças e adolescentes em situação de rua. Apesar dos alertas das entidades,
a atuação do grupo de extermínio não vem recebendo a devida atenção das
autoridades, uma vez que todos os homicídios encontram-se impunes.11 12 Em
relação à efetivação dos instrumentos de democracia participativa previstos no
ECA, até o final do 1º semestre de 2002, somente 56 dos 101 municípios contavam
com Conselhos Tutelares, restando, também, ser implantados no Estado 26
Conselhos Municipais de Direitos. Essa situação revela um flagrante
descumprimento do ECA, no que se refere a implantação desses órgãos. 1 3
Um levantamento do Fórum dos Conselhos Tutelares
do Estado de Alagoas, realizado entre janeiro
e junho de 2002, indicou que foram registrados
neste período 5.834 casos de violações de direitos
e violências praticadas contra crianças e adolescentes.
Entre as quantitativamente mais significativas
destacam-se: os espancamentos (1.902) e o abandono
(1.285). Destaca-se também a ocorrência de 191
homicídios e 216 casos de abuso e exploração sexual
(assim compreendidas: a prostituição infanto-juvenil,
o estupro, a prática de atos libidinosos, o atentado
violento ao pudor e o assédio). 14 Exploração
Sexual No período de fevereiro de 1997 a junho
de 2002, o Sistema Nacional de Combate à Exploração
Sexual Infanto-Juvenil registrou no Brasil um
total de 3.295 denúncias de exploração sexual,
das quais 28 partiram do Estado de Alagoas. Deste
total, seis foram realizadas durante o 1º semestre
de 2002. 15 Trabalho Infanto-Juvenil Segundo o
Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do
Adolescente, em 1999 havia 62.089 crianças e adolescentes,
na faixa de 5 a 15 anos de idade, trabalhando
no Estado de Alagoas. Deste total, 18.067 (29,1
%) trabalhavam na área urbana e 44.022 (70,9 %)
na rural. O Mapa aponta que esse grupo ocupava,
com maior freqüência, os seguintes setores: Agropecuária
(45.716), Comércio (6.212) e Prestação de Serviços
(6.211). Ademais, 26.528 não recebiam remuneração,
11.289 eram empregados, 8.467 trabalhadores domiciliares
e 7.901 exerciam atividade por conta própria.
1 6 Medidas Sócio-Educativas Conforme dados apresentados
pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente e pelo Departamento da
Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos
Humanos do Ministério Justiça, o Estado de Alagoas
tinha, em março de 2002, 300 jovens inseridos
em medida sócio-educativa de liberdade assistida
(90,91% do total de adolescentes em conflito com
a lei).17 Em junho do mesmo ano, havia uma única
unidade em que estavam internados todos os 30
adolescentes submetidos a esta medida no Estado.
O índice de adolescentes em liberdade assistida
era de 10.18 No final do 1º semestre de 2002,
havia 15 jovens internados provisoriamente, que,
assim como aqueles que cumpriam a medida de privação
total de liberdade, eram do sexo masculino. A
quantidade de adolescentes inseridos em Liberdade
Assistida, comparada ao número daqueles sob regime
de internação, coloca Alagoas em segundo lugar
entre os estados com maior percentual de adolescentes
na medida em meio aberto, alcançando 90,91% do
total. O Poder Judiciário Alagoano, ao que parece,
concretiza o princípio da excepcionalidade no
momento da aplicação da medida sócio-educativa
de internação. Apesar do baixo número de adolescentes
internados no Centro de Ressocialização de Menores
(CRM) de Maceió, que em tese poderia facilitar
o desenvolvimento de um programa sócio-educativo
em conformidade com o ECA, no dia 13 de março
de 2001 ocorreu uma rebelião sem precedentes no
Estado, sendo inclusive divulgada na imprensa
nacional. Entre os 29 adolescentes, que na época
estavam internados no local, 4 foram mortos e
tiveram seus corpos carbonizados. Alguns meses
depois deste lamentável incidente, o CRM foi visitado
pela IV Caravana Nacional de Direitos Humanos.
Em relatório divulgado pela Comissão de Direitos
Humanos da Câmara Federal, pode-se perceber que,
apesar da "relação tranqüila e respeitosa
dos internos com os monitores e com o diretor"
e do "bom projeto arquitetônico" do
Centro, as condições a que estavam submetidos
os adolescentes indicavam a existência de violação
dos direitos dos adolescentes internados. Por
ser a única instituição de internação para adolescentes
em conflito com a lei no estado e 70% dos internos
serem oriundos do interior e da Região Metropolitana,
criando dificuldades para o recebimento de visitas.
Os familiares são revistados mediante a prática
ilegal e humilhante do desnudamento,embora a casa
disponha de detector de metal. Na Unidade, a única
cela de isolamento - um cubículo imundo e escuro
- foi interditada por decisão judicial. 1 9 Além
destes fatos negativos, outro que mereceu amplo
destaque no citado relatório foi a regulamentação
interna relativa à execução da medida sócio-educativa.
Os procedimentos internos do CRM, normatizados
através de portarias editadas pelos juízes da
Vara da Infância e Juventude de Maceió, constituíram
um conjunto de restrições que, muitas vezes, contrariavam
o ECA. As portarias, citadas no relatório e a
seguir reproduzidas, demonstram que ao invés de
se promover um reordenamento da instituição nos
moldes do ECA, deu-se preferência a um processo
sócio-educativo permeado por ações meramente restritivas,
de contenção e isolamento: (1) são permitidas
visitas dos familiares dos adolescentes duas vezes
por semana (cada uma de 3 horas), porém "por
determinação, podem (os jovens) apenas permanecer
cerca de 10 minutos com seus filhos na parte administrativa
da unidade"; (2) a Portaria 10/01 dispõe
sobre a proibição total de fumar, sob os argumentos
que o cigarro produz danos à saúde e coloca em
risco a unidade; (3) a Portaria 9/01 impõe que
os aparelhos de TV, rádio e som que estavam na
posse dos adolescentes, sejam devolvidos aos familiares,
argumentando que notícias de rebeliões poderiam
incitar os jovens e que a programação televisiva
brasileira é ruim; e (4) "a Portaria, de
nº 11/01, proíbe que os internos usem pulseiras,
brincos, anéis e similares", uma vez que
"a posse desses adereços traria o risco da
existência de trocas e, por decorrência, a possibilidade
de conflitos, pequenos furtos, etc." 2 0
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MULHERES
No Estado de Alagoas, as mulheres estão
organizadas no Fórum de Mulheres de Alagoas, que monitora os casos de violência
contra a mulher, registrando diversos casos de agressão e espancamento, estupro
e assassinato, muitos deles envolvendo o marido ou companheiro da vítima entre
2000 e 2002. 21 Entre os casos de agressão e espancamento, está de uma dançarina
que acusou seu ex-namorado de atacála e agredi-la no camarim. A dançarina fez
exame de corpo delito e o delegado abriu inquérito. Outro caso, é o de uma
doméstica de 22 anos e seus dois filhos que foram espancados pelo marido e pai,
que ainda ateou fogo na casa onde viviam. A doméstica denunciou o caso na
Delegacia de Defesa da Mulher e pediu garantia de vida para ela e seus filhos.
Entre os casos de estupro, está o de uma doméstica que foi estuprada por três
homens, que em seguida arrancaram seus dois olhos. Os três foram presos em
flagrante. Outro caso foi de uma estudante que foi estuprada, morta a tiros e
teve seu corpo foi parcialmente carbonizado. O agressor não foi localizado.
Entre os casos de assassinato por arma de fogo, há o caso do trabalhador rural
que matou a esposa grávida de oito meses com um tiro de espingarda calibre 12. O
trabalhador foi preso em flagrante. Outro caso é o de uma doméstica de 31 anos
que foi assassinada na frente de seus três filhos menores por seu ex-marido com
um revólver calibre 38 com dois disparos. Há também casos de agressão por arma
branca. Uma mulher de 30 anos resolveu separa-se de um trabalhador rural de 38
anos, casado, com quem tinha uma relação extra-conjugal. O trabalhador, após
discutir, aplicou-lhe vários golpes de facão, arrancando um de seus braços e
causando outros ferimentos em seu corpo. Em outro caso, uma senhora de 61 anos
foi morta pelo marido, feirante de 56 anos, com cerca de 20 golpes de faca, a
maioria nos órgãos genitais. O feirante fechou a casa, deixou-a agonizando até
morrer e fugiu, mas foi preso pela polícia. Em Alagoas, há apenas duas
Delegacias Especiais de Defesa da Mulher, uma em Maceió e outra em Arapiraca,
município localizado no agreste alagoano. A Delegacia Especial de Defesa da
Mulher de Maceió registrou 29 ocorrências de estupros, 15 atentados violentos ao
pudor e 915 lesões corporais em 2000. Em 2001, foram 60 estupros, 7 atentados
violentos ao pudor e 1.220 de lesões corporais. 22
No estado, a taxa de homicídios contra mulheres
é de 4,6 por 100 mil habitantes no ano 2000. As
mulheres representam 9,3% das vítimas de homicídio.
23
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AFRO-DESCENDENTES
A população afro-descendente (1.821.750)
representa 64,54% da população do estado, proporção
inferior à média da Região Nordeste. Na população
afrodescendente, 3,96% se declararam negros e
60,58% pardos. 2 4 O Governo do Estado de Alagoas
instalou, em 21 de março de 2002, o Disque Discriminação
e Racismo, em parceria com a Ordem dos Advogados
do Brasil, Comissão de Defesa de Minorias Étnicas
e Sociais, Grupo Gay de Alagoas, Defensoria Pública
Estadual, Ministério Público Estadual e Federal.
Com o objetivo de atender as vítimas, coibir a
prática e responsabilizar os agentes que promovem
o racismo, o Disque Discriminação e Racismo, ao
receber as denúncias de discriminação contra negros,
homossexuais, indígenas, portadores de deficiência
e idosos, presta assistência jurídica, psicológica
e social às vítimas. No período de março a agosto
de 2002, o serviço recebeu 38 denúncias, das quais
7 eram referentes à discriminação contra negros.25
Um exemplo de denúncias recebidas foi o caso de
um professor que sofreu discriminação em uma delegacia.
Ele foi agredido moralmente, humilhado e discriminado
por um delegado e um escrivão por ser negro e
homossexual. O caso foi encaminhado ao Ministério
Público. 26
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INDÍGENAS
O Alagoas tem uma população de pelo menos
7.581 indígenas, distribuídos em 8 povos indígenas.2 7 Estima-se que tenha a 13ª
maior população indígena do país. 2 8 O Estado tem 10 áreas indígenas, que se
encontram na seguinte situação jurídica:
Situação |
No. de Terras Indígenas |
A identificar |
2 |
Em identificação |
2 |
Identificadas / Aprovadas pela
Funai |
1 |
Declaradas |
1 |
Registradas |
1 |
começaram a pleitear o reconhecimento de sua
identidade étnica nos últimos anos nesse estado. Até 1998, Alagoas contava
apenas com seis grupos indígenas. Atualmente, conta com pelo menos 10. O
primeiro deles foram os indígenas Kalancó, que ressurgiram em julho de 1998.
Depois disso, em abril de 1999, surgiram os Karuazu, que até então realizavam
seus rituais às escondidas. Em setembro de 2001, ressurgiu o povoamento dos
indígenas Catókinn, com mais de 400 indígenas. Por fim, em dezembro de 2001
ressurgiu uma comunidade de mais de 100 famílias de indígenas Koiupanká, povo
que foi expulso de Pernambuco por criadores de gado por volta de 1883, época em
que se deslocaram até o local em Alagoas. O reconhecimento desses povos é
fundamental para que, entre outras prerrogativas a que têm direitos, tenham suas
terras demarcadas. Os indígenas de todos esses quatro povos se auto-reconhecem e
são reconhecidos pela sociedade local como indígenas, apesar de ainda não terem
sido reconhecidos pela Funai. 30 Violências Indígenas de Alagoas e de Sergipe
vêm denunciando as irregularidades decorrentes da terceirização e da
municipalização dos serviços de saúde indígena. Alegam que a municipalização
permite às prefeituras que empreguem e demitam funcionários de acordo com
critérios próprios, desconsiderando os Conselhos Distritais de Saúde. No
município de São Sebastião, a prefeitura demitiu agentes de saúde já treinados e
capacitados para atendimento dos indígenas Karapotó e Kariri-Xocó em suas
comunidades, o que levou os indígenas a começarem um protesto contra os rumos do
modelo de políticas de saúde. Eles reclamam a falta de profissionais e o
despreparo dos agentes de saúde não-indígenas. Além disso, também acusam que os
repasses de recursos financeiros de saúde indígena estariam sendo feitos
diretamente às prefeituras por meio de "acordos", sem assinaturas de convênios,
o que permitiria aos prefeitos utilizar o dinheiro para outros fins. Os
indígenas realizaram ações e redigiram documentos onde expressaram o
descontentamento com esse modelo de terceirização e municipalização do
atendimento à saúde. 3 1 IDOSOS Alagoas, em 2000, apresentava uma população de
203.882 idosos.32 Entre os anos de 1991 e 2000, a população de idosos passou de
6,4% para 7,2% da população total. A Secretaria de Estado de Assistência Social
desenvolve projetos voltados para as pessoas com idade igual ou superior a 60
anos e com renda familiar per capita de até meio salário mínimo. Segundo a
Secretaria, esse projetos visam apoiar técnica e financeiramente estados,
municípios e instituições no desenvolvimento de ações de proteção, promoção e
inclusão social das pessoas idosas e de suas famílias, estabelecendo parcerias
que integrem as diversas políticas sociais, tais como educação, saúde, trabalho,
habitação, justiça, cultura, esporte e turismo. 33
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PORTADORES
DE DEFICIÊNCIA
A Secretaria de Estado de Assistência
Social desenvolve programas e projetos destinados às Pessoas Portadoras de
Deficiência. Um dos programas atende 13.216 pessoas da comunidade que são
portadoras de deficiências, que não têm capacidade laborativa, nem capacidade
para as atividades cotidianas. São priorizadas pessoas que tenham renda familiar
inferior a um quarto do salário mínimo, ou que estejam em risco pessoal e
social. Dentro do programa várias formas de Atendimento são dadas aos portadores
de deficiência: reabilitação na comunidade; atendimento domiciliar; atendimento
em Centro-Dia; residência em Casa-Lar; residência em abrigo para pequenos
grupos; residência em família acolhedora; integrações ao mercado de trabalho,
desenvolvem também, projetos no sentido de revitalizar os serviços de prevenção
da deficiência, tratamento precoce, habilitação e reabilitação.
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GAYS,
LÉSBICAS, TRANSEXUAIS E BISSEXUAIS
Nos anos de 2000 e 2001, foram registrados
14 homicídios homofóbicos, tendo sido 10 contra
gays e os demais contra travestis. 35 No primeiro
semestre de 2002, um professor foi detido, agredido
moralmente e obrigado a passar mais de trinta
minutos sentado no chão, ouvindo ameaças, por
um delegado de Porto Calvo, em razão de ser homossexual
assumido. A vítima, apoiada pelo Grupo Gay de
Alagoas, denunciou o ocorrido à Corregedoria Geral
do Estado, ao Conselho de Direitos Humanos e ao
Disque- Discriminação, pedindo o afastamento do
delegado. 36 Outro caso, ocorrido no dia 27 de
março de 2002, ocorreu com um homossexual de 33
anos, que foi apedrejado e agredido a golpes de
cassetete por um grupo de rapazes, em uma praça
da cidade de Marimbondo, vindo a falecer uma semana
depois na Unidade de Emergência de Maceió. 37
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1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH; 2002).
2 Gazeta de Alagoas, Tribuna e O Jornal, notícias
de julho de 2002. 3
Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH; 2002).
4 Folha de S. Paulo, 18, 20 a 23 de julho
de 2001, O Estado de S. Paulo, 18, 20 e 22 de julho de 2001.
5 Folha de S. Paulo, 15 de julho de 2001,
Cotidiano, C 4, quadro "As principais greves no país desde 1997".
6 O Estado de S. Paulo, 21 de outubro de 2000,
Cidades, C5, "Última paralisação da PM ocorreu no mês passado".
7 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/depen/default.htm).
8 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil
2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT
(www.cptnac.com.br).
9 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação
entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de
homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a
concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a
este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais
grupos da população.
1 0 Gazeta de Alagoas, 28 de julho de 2002. Os
dados foram levantados durante um encontro, que contou com a presença de
representantes da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e
Idoso da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Alagoas (OAB/AL), do Movimento
Nacional de Meninos e Meninas de Rua de Alagoas, além de educadores sociais e 25
meninos e meninas em situação de rua.
11 Em 2001, o Projeto Catarse, entidade que
trabalha com as crianças e adolescentes em situação de rua, encaminhou ao
Ministério Público Estadual representação elencando os desaparecimentos desses
meninos e meninas.
1 2 Os jovens indicam que automóveis, parecidos
com Opala, de cores cinza e preta costumam circular tarde da noite nos locais em
que se reúnem os meninos e meninas. Um destes veículos era semelhante ao que
seqüestrou o adolescente Labirinto.
1 3 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
14 Os dados foram fornecidos pela Comissão de
Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e Idoso da OAB/AL e pelo Fórum
dos Conselhos Tutelares do Estado de Alagoas. Para constituição do quadro de
violências, as informações foram colhidas pelo Fórum em 72 Conselhos Tutelares
do Estado, além de ter sido utilizado dados da Delegacia de Defesa da Mulher, da
Infância e Juventude, da Pastoral da Criança, do Hospital Universitário, de
Movimentos de Defesa e de informações veiculadas na imprensa local (A Gazeta de
Alagoas, O Jornal, a Tribuna de Alagoas, TV Pajuçara e TV Alagoas).
15 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na
introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso
sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial
(compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a
pornografia).
16 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de
Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p 37.
O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes
conforme o Estado. Em Alagoas foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15
anos nas atividades de: Agricultura Canavieira; Beneficiamento de Peixes e
Camarões; Catadores de Lixo; Catadores de Mariscos; Comércio Ambulante;
Fabricação de Fogos de Artifício; Fumicultura; Panfletagem; Produção de Farinha
de Mandioca; Guardas Mirins; Serviços em Cerâmica e Olarias; Serviços em
Oficinas Mecânicas; Serviços em Pedreiras; Transporte Col etivo (Kombistas); e
Venda de Jornais.
17 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca). Na construção da última porcentagem indicada foram
considerados apenas os adolescentes inseridos nas medidas de internação,
semiliberdade e liberdade assistida. Desconsiderou-se as demais medidas
(advertência, obrigação de reparar o dano e prestação de serviço à comunidade)
uma vez que a fonte de dados fazia referência àquelas medidas mais gravosas.
1 8 Este índice foi obtido a partir do resultado
da divisão do número total de adolescentes em liberdade assistida pelo número
total de inseridos em medidas em meio fechado (assim consideradas internação e
semiliberdade). Quanto maior o índice, maior também a aplicação no Estado da
medida em meio aberto em comparação ao número de adolescentes privados, parcial
ou totalmente, de liberdade.
1 9 Comissão de Direitos Humanos da Câmara
Federal, IV Caravana Nacional de Direitos Humanos: Uma Amostra da situação dos
adolescentes privados de liberdade nas FEBEMs e congêneres: O sistema Febem e a
produção do mal, Brasília, Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações,
2001.
2 0 Idem, 119-121.
2 1 Fórum de Mulheres de Alagoas, Relatório sobre
a violência contra a mulher no Estado de Alagoas. 2000/2002.
2 2 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).
2 3 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002).
2 4 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br).
25 Governo do Estado de Alagoas, Secretaria
Extraordinária de Projetos Especiais, Disque Discriminação e Racismo. Relatório
de Denúncias de Março a Agosto de 2002.
2 6 Tribuna de Alagoas, 27 de julho de 2002.
2 7 Instituto Sócio-Ambiental:
(www.socioambiental.org).
28 Conselho Indigenista Missionário
(www.cimi.org.br), que informa ter esse estado uma população de 9.233 indígenas.
2 9 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção
das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de
2002).
3 0 Gazeta de Alagoas, 24 de setembro de 2002,
"Índios lutam para conquistar reconhecimento da FUNAI; Gazeta de Alagoas, 03 de
outubro de 2002, "Identidade e cultura. A festa de ressurgimento dos índios
Catókinn, no Alto Pariconha, interior de Alagoas"; Gazeta de Alagoas, 11 de
dezembro de 2001, "Cimi anuncia nova tribo indígena em Alagoas". Notícias
disponíveis no web-site da Associação Nacional de Ação Indigienista
(www.anai.org.br) e CIMI, Informes n.º 358, n.º 441 e n.º 491, de 29 de abril de
1999, 13 de dezembro de 2000 e 12 de dezembro de 2001.
3 1 Conselho Indigienista Missionário, Informes
n.º 446 e n.º 453, de 1 de fevereiro de 2001 e 22 de março de 2001.
3 2 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br)
3 3 Secretaria de Estado da Assistência Social (
www.seas.al.gov.br )
34 Idem.
35 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa Mortis:
Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil
– 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001) e Mott, Luiz, Marcelo
Cerqueira e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo
Gay da Bahia - 2001 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
3 6 Tribuna, dia 27 de julho de 2002.
3 7 O Estado de S. Paulo, 5 de abril de 2002,
"Homossexual agredido morre em Maceió".
BAHIA
VIOLÊNCIA
POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÊNCIA RURAL
TRABALHO ESCRAVO
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS
POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Exploração
Sexual
Trabalho Infanto-Juvenil
Medidas Sócio-Educativas
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
IDOSOS
PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
MIGRANTES
GAYS, LÉSBICAS, TRANSEXUAIS
E BISSEXUAIS
O Estado da Bahia, situado ao sul da Região
Nordeste, faz divisa com os estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Piauí,
Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e Tocantins. Sua capital é Salvador e a sua
economia está baseada na agricultura (cana-de-açúcar, mandioca, feijão, milho,
cacau e coco) e, de maneira crescente, na indústria (química e petroquímica). É
um importante centro turístico no Nordeste e no País. O desrespeito aos direitos
civis e políticos e a violência excessiva e ilegal de agentes do estado têm sido
verificados na Bahia com uma freqüência que merece destaque. Nesse sentido, a
existência de grupos de extermínio, a quantidade e gravidade dos conflitos no
campo, a repressão da polícia às manifestações de segmentos da sociedade civil,
as ameaças à liberdade de imprensa são alguns dos problemas verificados no
período de análise desse relatório. Um dos casos, de grande destaque nacional,
ocorreu no dia 22 de abril de 2000, durante as comemorações dos 500 anos da
chegada dos portugueses ao Brasil. Nesse dia, uma manifestação organizada por
representantes de grupos indígenas, trabalhadores sem terra, do movimento negro
e demais organizações da sociedade civil foi brutalmente reprimida pela polícia
militar, em Santa Cruz de Cabrália. Policiais, sem identificação no uniforme,
atiraram bombas de gás lacrimogêneo e espancaram os manifestantes. 1 O estado
também registra conflitos entre fazendeiros e indígenas. A falta de
regularização de terras e o deslocamento para áreas distintas daquelas em que
originariamente residiam são causas para o aumento dos conflitos que atingem,
entre outros, os indígenas pataxós. No estado merece destaque a atuação do
movimento negro e do movimento de gays, lésbicas, transexuais e bissexuais.
Entre as organizações que lutam pelo respeito à orientação e diversidade sexual
destaca-se o Grupo Gay da Bahia (GGB). Não só uma referência para o estado como
também para o Brasil, o GGB denuncia todas as expressões de homofobia,
divulgando informações sobre orientação sexual, trabalhando na prevenção da
Aids, conscientizando os homossexuais e a sociedade dos direitos e práticas que
viabilizam o exercício da cidadania plena de gays, lésbicas, travestis e
transexuais.
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VIOLÊNCIA
POLICIAL, EXECUÇÕES E TORTURA
Persistem os problemas de violência policial
e, inclusive, de participação de policiais em
grupos de extermínio na Bahia. Em 2000 e 2002,
o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
recebeu denúncias e criou comissão e sub-comissão
com o objetivo de apurar denúncias de assassinatos
praticados por grupos de extermínio no estado.2
O governo estadual, entretanto, diz não ter informações
sobre a existência de grupos de extermínio no
estado. 3 Na Bahia, 132 pessoas foram mortas por
policiais no ano 2000 (107 por policiais militares;
25 por policiais civis) e 112 pessoas foram mortas
por policiais em 2001 (86 por policiais militares
e 26 por policiais civis). O número de pessoas
mortas supera o número de pessoas feridas por
policiais em serviço, o que sugere o uso excessivo
da força por parte dos policiais. No ano 2000,
110 pessoas foram mortas por policiais em serviço
(88 por policiais militares; 22 por policiais
civis) contra 84 pessoas feridas (75 por policiais
militares e 9 por policiais civis). Em 2001, 88
pessoas foram mortas por policiais (63 por policiais
militares e 25 por policiais civis) contra 81
pessoas feridas (75 por policiais militares e
seis por policiais civis).4 Já no período de folga,
o número de pessoas mortas por policias é inferior
ao de pessoas feridas. No ano 2000, 22 pessoas
foram mortas e 74 foram feridas por policiais
em folga (19 mortas e 17 feridas por policiais
militares; três mortas e três feridas por policiais
civis). Em 2001, foram 24 pessoas mortas e 64
pessoas feridas por policiais em folga (23 mortas
e 61 feridas por policiais militares; uma morta
e três feridas por policiais civis). 5 As mortes
de policiais, por outro lado, totalizaram 78 no
ano 2000 (63 policiais militares e 15 policiais
civis) e 269 em 2001 (252 policiais militares
e 17 policiais civis). Na grande maioria dos casos,
entretanto, os policiais morrem quando estão fora
de serviço. No ano 2000, 16 policiais foram mortos
em ação policial (13 policiais militares e três
policiais civis), enquanto 62 policiais morreram
fora de serviço (50 policiais militares e 12 policiais
civis). Já em 2001, quando o número de policiais
mortos atinge o pico, 105 policiais foram mortos
em ação policial (92 policiais militares e 13
policiais civis) e 164 policiais foram mortos
fora de serviço (160 policiais militares e quatro
policiais civis). 6 Os problemas de violência
e corrupção na polícia são agravados pelos baixos
salários e más condições de trabalho dos policiais,
que geram movimentos reivindicatórios, greves
e rebeliões no estado. Policiais militares e civis
realizaram greve por melhores salários, com a
duração de treze dias, em julho de 2001. Os policias
em greve ocuparam quartéis da polícia militar.
O Exército foi chamado a intervir para conter
a greve. Durante a greve, houve uma onda de saques
e assaltos, a população começou a fazer justiça
com as próprias mãos. A greve deixou um saldo
de 37 pessoas mortas, 126 feridas à bala e 80
estabelecimentos comerciais saqueados. O período
de maior violência, entre o início da noite do
dia 15 de julho e o final da tarde de 16 de julho,
foi chamado pelos jornais de "noite do terror"
ou "dia do terror". 7 Policiais militares
e civis voltaram a realizar greve por melhores
salários, em janeiro de 2002. Os grevistas chegaram
a ocupar quartéis da polícia militar, mas os quartéis
foram desocupados pela tropa de choque da polícia
militar. 8 Em parceria com a Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, o Governo do Estado desenvolve
o Programa Estadual de Proteção a Vítimas de Crimes,
que atendeu a 200 pessoas em 2001. A entidade
Cidade Luz, através de convênio com a Secretaria
da Justiça e Direitos Humanos, mantém o Centro
de Atendimento a Vítimas da Violência, que presta
assistência e orientação jurídica, psicológica
e social para vítimas da violência. 9
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO
Em visita ao Brasil,
no ano de 2000, o Relator Especial da Organização
das Nações Unidas para a Tortura, Nigel Rodley,
observou a prática de tortura no Estado da Bahia,
citando 11 casos no seu relatório, a maioria acontecidos
em 1999 e 2000, envolvendo policiais civis e militares.
Uma das denúncias mais graves diz respeito ao
espancamento por policiais militares de 22 presos
na Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, em
19 de fevereiro de 2000, supostamente com a aprovação
dos diretores da unidade. 10 A população de detentos,
em setembro de 2002, corresponde a 9.380 detentos,
distribuídos nas 7.547 vagas dos quatorze estabelecimentos
prisionais e unidades policiais. O sistema penitenciário
oferece 4.086 vagas, enquanto as instituições
policiais oferecem 3.461. É de 1.833 o número
de detentos acima da capacidade das vagas. 11
Alguns casos demonstram a presença da prática
de tortura e maus tratos nos estabelecimentos
penitenciários da Bahia. Em janeiro de 2000, vinte
e dois detentos foram espancados por policiais
militares na Penitenciária Lemos Brito em Salvador.
Segundo a denúncia a ação dos policiais contou
com a aprovação dos diretores da instituição.
Os maus tratos e agressões deixaram lesões que
foram comprovadas e denunciadas pela pastoral
carcerária que presta assistência religiosa no
local. A Comissão Especial de Combate à tortura
do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
- Ministério da Justiça, visitou o Complexo Penitenciário
de Teixeira de Freitas em dezembro de 2001 com
o objetivo de apurar denúncias de tortura, maus
tratos e tratamentos cruéis, desumanos e degradantes
contra os detentos. Sem prévio aviso, a Comissão
se deslocou para o sul da Bahia e constatou que
no Complexo Penitenciário, inaugurado há seis
meses, não havia superlotação, a arquitetura permitia
boas condições de habitabilidade e estavam garantidas
a visita íntima, os banhos de sol e o acesso aos
profissionais adequados para acompanhar a pena.
Ao circular pelas celas, a Comissão encontrou
diversos presos com sérias lesões decorrentes
de espancamento. Os detentos relataram a "rotina
do terror", diversas práticas de tortura,
humilhação, e maus tratos promovidos pelos policiais
militares e diretores do Complexo Penitenciário,
que algumas vezes agiam encapuzados, algumas vezes
sem capuz. As lesões apresentavam as mesmas características
e 14 detentos fizeram exame de corpo de delito.
Por fim, foi denunciada a existência de uma dispensa,
bem pequena, com reduzida aeração, sem luz elétrica,
utilizada como sala de castigo, chamado de "latão".
Constatadas as denúncias a Comissão tomou todas
as providências para responsabilização dos agentes
torturadores. Além da mobilização das autoridades
estaduais, dos poderes executivo, judiciário e
legislativo a Comissão determinou que policiais
federais acompanhassem as investigações, uma vez
que, ainda na presença da Comissão, alguns policiais
militares ameaçaram os presos prometendo quebrar
ossos assim que a comitiva partisse. 12
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VIOLÊNCIA RURAL
Na Bahia, foram contabilizados 106 conflitos
rurais, entre 1999 e 2001. Nesse período, o número
de conflitos registrados a cada ano vem diminuindo.
O mesmo acontece com a quantidade de pessoas envolvidas
que, em 1999, era de 101.552, em 2000, passou
a 7.025 e, em 2001, afetou diretamente 5.887.
Mesmo com essas reduções, o número de mortes em
conflitos rurais aumentou de um, em 1999, e um,
em 2000, para dois em 2001. Até agosto de 2002,
outros dois assassinatos, em decorrência dos conflitos,
foram verificados no estado. 1 3 No dia 4 de abril
de 2002, no município de Ourolândia, dois trabalhadores
estavam voltando de uma área de assentamento rural
quando foram abordados por três policiais acompanhados
por um funcionário do exproprietário da área do
assentamento. Sob a alegação de que teriam furtado
um pedaço de arame, os policiais ameaçaram os
trabalhadores com espingardas e facão e, inclusive,
espancaram um deles, ameaçando-o de morte caso
não dissesse quem havia roubado o arame. O trabalhador,
em seguida, procurou o posto de Saúde da cidade
de Ourolândia, e foi levado para o hospital de
Jacobina, onde ficou internado durante quatro
dias. Os policiais continuaram ameaçando os trabalhadores
da área do assentamento a mando do vaqueiro do
antigo dono. 14
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TRABALHO ESCRAVO
A Procuradoria Regional do Trabalho da 5ª
Região recebe, em média, quatro denúncias de trabalho
escravo por ano. Em 2002, havia oito procedimentos
investigatórios para apurar denúncia de trabalho
forçado na Bahia. 15 Em 1999, foi detectado, na
Fazenda Terras Brancas, que "gatos"
recrutavam mão de obra para o plantio e desfibramento
do sisal e a extração de pedras e britas. O problema,
porém, é que aos "trabalhadores contratados"
não tinham respeitados os direitos trabalhistas,
como registro em carteira, recebimento de salário
mínimo, condições de trabalho em ambiente higiênico
e seguro, e fornecimento de equipamento de proteção.
16
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LIBERDADES
CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS
Por duas vezes, nos dias 10 e 16 de maio
de 2001, a polícia militar reprimiu violentamente
manifestações organizadas por estudantes universitários,
secundaristas e lideranças políticas, a favor
da cassação dos senadores Antônio Carlos Magalhães,
José Roberto Arruda e Jader Barbalho, em Salvador.
17 Na década de 90, dez jornalistas foram mortos
na Bahia. A ABI, a Fenaj e o Sinjorba entregaram
ao Ministério da Justiça um documento relatando
os dez assassinatos. Até abril de 2000, apenas
um culpado tinha sido condenado pela justiça.
Os outros permaneciam impunes. 18 Em maio de 2000
a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) levou
à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
o resultado de suas investigações sobre o assassinato
de dois jornalistas ocorridos na Bahia: Manoel
Leal de Oliveira, assassinado em 14 de janeiro
de 1998 e Ronaldo Santana de Araújo, assassinado
em 9 de outubro de 1997. Devido ao descaso e à
negligência pelos quais as autoridades conduziram
as investigações, a SIP resolveu encaminhar esses
casos à Comissão Interamericana, para que fossem
devidamente investigados. 19 A ONG Repórteres
sem Fronteiras denunciou dois casos de violações
nesse estado. O primeiro foi do jornalista Jossé
Olympio, do jornal "A Tarde", que em
dezembro de 2001 teria sofrido ameaças de morte
depois de denunciar irregularidades um projeto
agrário no município de Riachão das Neves. O outro
caso, ocorrido em janeiro de 2001, foi a denúncia
de difamação feita contra o jornalista Marconi
de Souza, também do jornal "A Tarde",
porque havia publicado, no dia 25 de outubro de
2000, declarações de que 80% dos recursos publicitários
de Salvador eram destinados à Rede Bahia, que
pertence a membros da família de Antônio Carlos
Magalhães. 20 No ano de 2000, dois jornalistas
foram ameaçados de morte nesse estado. No dia
15 de fevereiro, o jornalista Luciano A. Jatobá
Silva, do jornal "A Cara da Bahia",
sofreu ameaças de morte após ter denunciado irregularidades
em compras realizadas pela Secretaria de Saúde
de Senhor do Bonfim e pela Prefeitura de Pindobaçu.
E, no dia 03 de março de 2000, o radialista Luiz
Fernando Almeida Vieira, da Rádio União de Gandu,
que vinha denunciando desvios de verba na Prefeitura
de Eunápolis e envolvimento de policiais em atividades
marginais, sofreu um atentado em sua residência,
que resultou no incêndio de um carro e na perda
total dos móveis. 2 1 No dia 09 de março de 2001,
o presidente do Diretório do Partido Verde de
Ubaíra e colaborador da prefeita do município,
Narthur de Assis Filho, foi brutalmente assassinado.
Testemunhas atestam que os autores do crime seriam
o ex-prefeito da cidade, Ivan Eça Menezes, e seu
irmão Laurito Eça Menezes, que teriam agido devido
à demissão de cinco pessoas, contratadas ilegalmente
na gestão anterior, da prefeitura (sendo que,
na verdade, a decisão da demissão foi tomada pela
Câmara de Vereadores do Município, no exercício
de sua competência). A família do ex-prefeito
ocupou a Prefeitura da cidade por mais de vinte
anos, sendo que na última eleição havia perdido
a disputa para a atual prefeita, Rosane Fagundes,
do PSB, que contou com a fundamental colaboração
da vítima. 22 O Exército foi chamado para acompanhar
as eleições de 6 outubro de 2002 no município
de Camaçari, devido à constatação da existência
de um excesso 18 mil títulos de eleitores na realização
do recadastramento. Dois municípios receberam
esta proteção no 2º turno, em 27 de outubro do
mesmo ano. 23
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CRIANÇAS E ADOLESCENTES
O número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos
por homicídio aumentou de 791 para 807 entre 1998
e 2000. O número de mortes por homicídio por 100
mil habitantes na população entre 15 e 24 anos
diminuiu de 28,3 em 98 para 27,8 em 2000. Um indicador
da probabilidade dos jovens serem mortos é a taxa
de vitimização juvenil, que era de 78,6 em 2000
na Bahia, um pouco mais baixa que a taxa nacional
de 92,7 em 2000. 24 Em relação à violência fatal,
os jovens figuram muito mais como vítimas do que
como agressores. Em 2001, 94 pessoas com idade
inferior a 18 anos foram assassinadas na Região
Metropolitana de Salvador, contudo o número de
homicídios praticados por adolescentes foi bem
inferior. 25 Em relação à efetivação dos instrumentos
de democracia participativa previstos no ECA,
até o final do 1º semestre de 2002, somente 141
dos 413 municípios contavam com Conselhos Tutelares
e 228 cidades não apresentavam Conselhos Municipais
de Direitos. Isso revela o descumprimento do ECA,
por parte dos governos municipais, no que se refere
a implantação desses órgãos. 2 6 Entre dezembro
de 2001 e fevereiro de 2002, o Projeto Viver atendeu
114 crianças e 39 adolescentes vítimas de violência
sexual, perpetradas em sua maioria no ambiente
familiar. 27
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Exploração
Sexual
No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002,
o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual
Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de
3.295 denúncias de exploração sexual, das quais
184 partiram do Estado da Bahia. Deste total,
33 foram feitas no 1º semestre de 2002. 28 Entre
os anos de 2001 e 2002 foi realizada Pesquisa
Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e
Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial,
que constatou a existência no Brasil de 172 rotas
de tráfico de crianças e adolescentes para fins
de exploração sexual comercial. A Bahia apresentou
duas rotas, sendo que uma delas também envolvia
mulheres com idade superior a 18 anos. 29
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Trabalho Infanto-Juvenil
Segundo o Mapa de Indicativos do Trabalho
da Criança e do Adolescente, em 1999, havia 525.183
crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos
de idade trabalhando no Estado da Bahia. Deste
total, 135.455 (25,79%) trabalhavam na área urbana
e 389.728 (74,21%) na rural. O Mapa aponta que
esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes
setores: Agropecuária (371.362) e Comércio (56.349).
Ademais, 328.587 não recebiam remuneração, 71.606
eram empregados, 36.137 trabalhadores domiciliares
e 32.679 trabalhavam por conta própria. 30 Pesquisa
de Emprego e Desemprego, realizada pela Secretaria
de Planejamento do Estado, aponta que em 1999
havia, em Salvador, 14 mil adolescentes, entre
12 e 14 anos, trabalhando como domésticas. A pesquisa
indica, também, que as condições sócio-econômicas
desfavoráveis de suas famílias e o aspecto cultural,
relacionado à continuidade da atividade profissional
de suas mães e avós, eram as principais causas
para manutenção do trabalho infanto-juvenil doméstico.
31 A Associação Brasileira de Estudos do Trabalho-
Abet e a Universidade Federal da Bahia publicaram
um estudo sobre o impacto do trabalho doméstico
infantojuvenil que comprovam ser este o principal
fator responsável pela retirada da criança da
escola. Enquanto na Região Metropolitana de Salvador
a média de freqüência escolar era de 92%, na mesma
região, essa média cai para 50% quando a criança
desempenhava serviços domésticos. 32 Na Bahia,
segundo publicação da organização CIPÓ – Comunicação
Interativa – e da Rede ANDI, o PETI (Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil), com apoio
e mobilização da sociedade civil, atuava, até
o ano de 2000, em 48 municípios baianos, tendo
já passado pelo programa 45 mil crianças e adolescentes,
com idade entre 7 e 14 anos. Considerado um PETI
modelo, o programa funcionava "através do
sistema bolsa-escola: para cada filho comprovadamente
matriculado, a família recebia um auxílio em dinheiro,
para que a criança não trabalhasse. No turno em
que não estava na sala de aula, o aluno apresentava
uma série de atividades educativas complementares
e de lazer" nas, denominadas, Unidades de
Jornada Ampliada. 33 Com o objetivo de conhecer
a realidade e necessidade de cada região do estado,
o Centro de Recursos Humanos da Universidade Federal
da Bahia realiza pesquisa tanto nos municípios
onde já se desenvolve o programa quanto naqueles
em que se pretende implantá-lo. Além do PETI,
a Delegacia Regional do Trabalho tem buscado reprimir
a utilização de mão-deobra infanto-juvenil notificando
empresas e pessoas que façam uso dela.
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Medidas Sócio-Educativas
Conforme dados apresentados pelo Fórum Nacional
de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente
e pelo Departamento da Criança e do Adolescente
da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério
Justiça, a Bahia tinha, em março de 2002, 418
adolescentes inseridos em medida sócio-educativa
de liberdade assistida e, no mês de junho, 146
em internação e 14 em semiliberdade.34 Assim,
o índice de adolescentes em liberdade assistida
era de 1,28.35 Havia, ainda, 220 adolescentes
em internação provisória. Muito próximo da média
nacional, 4,47% de jovens em regime de internação
e de semiliberdade eram do sexo feminino (havendo
um total de 17 adolescentes). O elevado número
de internações provisórias, coloca a Bahia entre
os estados com maior número de adolescentes nesta
medida. A grande quantidade de internações provisórias,
que supera em muito o número de internados por
sentença, pode indicar que a medida esteja sendo
utilizada pelo Judiciário como mera punição ou
castigo imediato, contrariando as condições previstas
no ECA para decretação da medida. 36
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MULHERES
O Coletivo de Mulheres do Calafate - CMC,
em Salvador, é uma instituição sem fins lucrativos
com o objetivo de promover a saúde da mulher,
combater e prevenir a violência doméstica e sexual.
Fundado por nove mulheres vítimas da violência
de seus maridos, o Coletivo desenvolve quatro
programas com a comunidade de Calafate: Medicina
Alternativa; Prevenção as DST/Aids; atividades
com crianças e adolescentes; e pesquisas sobre
violência doméstica e o perfil agressor em parceria
com o Grupo de Estudos sobre a Mulher/UFBA. Neste
último programa, o CMC organiza para toda a comunidade,
incluindo os agressores, palestras sobre gênero,
saúde, sexualidade, violência doméstica, direitos
reprodutivos e da mulher. O CMC observou mudanças
no comportamento dos agressores. Como as palestras
estão servindo de conscientização aos direitos
da mulher, o agressor passou a não agredir fisicamente,
pois sabe que deixando "marcas no corpo"
a mulher poderá denunciá-lo. Deste modo, a violência
psicológica vem aumentando na comunidade de Calafate.
Pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos sobre
a Mulher com 250 mulheres atendidas pelo Coletivo
Calafate constatou que 99,6% dessas mulheres sofrem
ou já sofreram algum tipo de violência, podendo
ser elas sexuais, físicas ou emocionais. 3 7 A
taxa de homicídio contra as mulheres no estado
foi de 3,2 por 100 mil habitantes no ano de 2000.
As mulheres representam 10,4% das vítimas de homicídios.
38 Em relação aos crimes praticados contra as
mulheres, foram registrados na Delegacia Especial
de Atendimento à Mulher e nas Delegacias de Polícia
de Salvador, no ano 2000, 2.512 casos de ameaça,
2.750 casos de lesão corporal, 4.034 agressões,
9 atentados violentos ao pudor, 7 assédios sexuais,
42 homicídios dolosos, 446 estupros. Em 2001,
foram registradas 2.718 ameaças, 2.536 casos de
lesão corporal, 3.590 agressões, 7 atentados violentos
ao pudor, 10 assédios sexuais, 52 homicídios dolosos
e 395 estupros. 39 A Pesquisa Nacional sobre Tráfico
de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins
de Exploração Sexual Comercial constatou a existência
de cinco rotas de tráfico de mulheres para fins
de exploração sexual comercial no estado, e uma
destas rotas também envolvia crianças e adolescentes.
Salvador, assim como em outras capitais do Nordeste
(como Recife/PE, Fortaleza/CE e Natal/RN), verifica-se
uma possível inter-relação entre turismo sexual
e tráfico, uma vez que essas cidades, além de
receberem um grande fluxo de turistas estrangeiros,
são apontadas como os principais locais de destino
do tráfico. Inquéritos e processos demonstram
que Salvador está na rota de tráfico de mulheres
para a Europa. 40
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AFRO-DESCENDENTES
A Bahia é o estado brasileiro com a maior
proporção de pessoas que se identificam como afro-descendentes.
No estado, 74,95% (9.795.849) das pessoas se declararam
negros ou pardos. Na população afro-descendente,
13,01% se declararam negros e 61,94% pardos. 41
Conforme dados da 2ª Promotoria de Justiça da
Cidadania e Combate ao Racismo, de março de 1997
a novembro de 2002, foram atendidas 206 casos,
sendo que 53 deles resultaram no ingresso de ação
penal e 113 casos estão em tramitação na promotoria.
Os outros 40 tratam-se de injúria, com conteúdo
racista, e a eventual proposição de ação não compete
ao Ministério Público, uma vez que a ação penal
é privada. 42 No estado, atuam diversas organizações
de defesa da cultura e dos direitos da população
negra. Essas organizações militam pela igualdade
de direitos entre brancos e afro-descendentes
em diversos setores da sociedade. A Promotoria
de Combate ao Racismo do Ministério Público, acima
citada, e o Disque Racismo são exemplos de ações
voltadas para a defesa dos direitos da população
afro-descendente. Entre dezembro de 2000 e abril
de 2002, o Disque-Racismo da Bahia recebeu cerca
de 300 denúncias. Os responsáveis pelo serviço
informam que em alguns casos as vítimas de racismo
desistem de prosseguir na denúncia por medo de
repreensão, por pressão da família ou, ainda,
por que são desencorajadas, seja pela polícia
seja pelo fato de ser lento o sistema judiciário.
4 3 Discriminação Racial Um dos casos registrados
no Disque-Racismo, ocorreu às vésperas do Natal
de 2001 e a vítima foi uma menina afro-descendente
de 6 anos de idade que estava acompanhada de sua
mãe numa loja de eletrodomésticos. Enquanto sua
mãe pesquisava os preços de bicicletas, a menina
subiu no brinquedo exposto assim como outra menina
de cor branca. O vendedor, porém, repreendeu apenas
a de cor negra, tendo ele alegado que a menina
seria uma criança de rua pela sua cor (mostrando
a pele). O caso tramita na Delegacia da Criança
e do Adolescente (Derca) e deve ser encaminhado
à Justiça. 4 4 Em outro caso, um pedreiro foi
ao mercado de Salvador e, após escolher verduras
e frutas para seu filho de cinco anos, passou
pelo caixa e pagou pelos produtos que estava levando.
Contudo, foi barrado pelo proprietário do mercado
que insinuou que ele estaria levando, debaixo
da camisa, um pacote de biscoito. Constrangido
com a situação, a vítima tirou o guarda-chuva
velho que estava em seu bolso para demonstrar
que não tinha nada escondido. O caso foi registrado
na 9ª Delegacia (Boca do Rio). 45 O Disque Racismo
encaminhou ao Ministério Público Estadual, no
dia 20 de maio de 2002, um textodenúncia que condenava
o tratamento constrangedor e discriminatório dispensado
a pessoas afro-descendentes nos bancos. Um dos
coordenadores do Disque Racismo afirmou que os
cidadãos afro-descendentes são vítimas constantes
dos vigilantes que controlam as portas giratórias
de acesso aos guichês dos bancos. Em muitos casos,
os afro-descendentes são obrigados a abrirem a
bolsa e revelarem objetos pessoais, violando o
direito à intimidade garantido pela Constituição.
Uma funcionária pública chegou a ser algemada
por uma delegada que estava num banco, em fevereiro
de 2002. O Disque Racismo enviou a denúncia ao
Ministério Público, solicitando instauração de
inquérito na Corregedoria da Polícia Civil. 4
6 No município de Araci, um agricultor foi agredido
verbalmente por policiais civis e militares que
o chamaram de "negro preto do carvão".
Desde 3 de fevereiro de 1998, o agricultor busca
obter reparação da ofensa que lhe foi feita. O
caso foi encaminhado à Comissão de Direitos Humanos
da Assembléia Legislativa. 47 Ações Afirmativas
A Universidade Federal da Bahia desenvolve projetos
para ampliar o acesso e garantir a permanência
de estudantes negros. 48 A Fundação BankBoston,
em sua filial de Camaçari, cidade majoritariamente
negra no estado, tem uma política de contratação
de mão-de-obra local que obedece aos indicadores
raciais e de gênero do local, isto é, 40% de mulheres
e 70% de afro-descendentes. 49
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INDÍGENAS
A Bahia tem uma população de pelo menos 9.583
indígenas, distribuídos em 9 povos indígenas. Além disso, também abriga um outro
povo, com uma população de 1.630 indígenas, que vive entre a Bahia e
Pernambuco.50 Estima-se que tenha a 8ª maior população indígena do país. 51
O Estado tem 26 áreas indígenas, que se encontram
na seguinte situação jurídica: 52
Situação |
No. de Terras Indígenas |
A identificar |
5 |
Em identificação |
1 |
Com restrição de uso |
1 |
Identificadas / Aprovadas pela
Funai |
1 |
Declaradas |
6 |
Homologadas |
7 |
Registradas |
5 |
Pataxós Desde o ano de 1961, com a criação do Parque
Nacional Monte Pascoal, os Pataxós vivem situações
de conflito com os fazendeiros das áreas para
onde foram deslocados, após serem expulsos de
suas terras tradicionais. Há alguns anos resolveram
voltar a essa área e iniciaram um movimento de
retomada do Monte Pascoal. Os enfrentamentos e
conflitos pelos quais os indígenas Pataxós do
Sul do Estado da Bahia têm passado são, em grande
parte, conseqüências dessa situação. Em 19 de
agosto de 1999, cerca de 400 indígenas Pataxós
ocuparam o Monte Pascoal. Foi um ato de retomada
do território tradicional que acabou tornando-se
símbolo de resistência do movimento indígena no
país. Um Grupo Técnico começou a estudar a situação
local, mas teve seus trabalhos paralisados no
início de novembro, o que motivou os indígenas
a ocuparem a administração da Funai de Eunápolis
e a posteriormente, em 23 de março de 2000, ocuparem
uma fazenda vizinha ao Monte Pascoal. Em 9 de
abril de 2002, o governo lançou um Programa de
Gestão Ambiental. Segundo os indígenas e o Conselho
Indigenista Missionário, o verdadeiro objetivo
desse programa seria a retirada dos Pataxós do
Monte Pascoal. 53 A área de Corumbauzinho, logo
ao lado do Monte Pascoal, também tem sido sede
de conflitos. Em agosto de 1999, os Pataxós denunciaram
desmatamentos realizados por fazendeiros nesse
local, que já haviam sido multados pelo Ibama
duas vezes. Cerca de um ano depois, em 24 de agosto
de 2000, os indígenas ocuparam essa terra com
o intuito de barrar o processo de destruição.
Os fazendeiros locais se armaram para enfrentar
os indígenas, chegando a disparar tiros contra
eles. Em agosto de 2001, em decorrência de ordem
judicial, foram expulsos de lá pela polícia. 54
Violências Na madrugada do dia 18 de julho de
2002, o líder Pataxó Hã-hã-hãe Raimundo Dominciano
dos Santos foi morto em uma fazenda do município
de Pau Brasil. Quinze pistoleiros invadiram a
ocupação indígena, mataram Raimundo e feriram
gravemente um outro indígena. O líder indígena
Milton Matos Silva já havia sido assassinado no
início do ano. Esses assassinatos são resultado
da tensão e da violência que impera no local.
Desde 1999, a tensão nesse local vem se agravando.
Um confronto ocorreu no dia 16 de novembro de
1999, quando cerca de 1200 indígenas Pataxó Hã-hã-hãe
da aldeia Caramuru Catarina Paraguaçu, no município
de Pau Brasil, no Sul da Bahia, retomaram uma
área de 2 mil hectares de seu território tradicional
que estava invadida por nove fazendas. Policiais
militares foram ao local para impedir a ocupação
e entraram em choque com os indígenas, sendo que
como resultado desse embate dois policiais foram
mortos. Os indígenas negam serem os responsáveis
pelas mortes. Quatro dias depois os policiais
romperam acordo feito e invadiram novamente as
ocupações e espancaram os indígenas. A ocupação
do local se deveu ao fato da Justiça Federal ainda
não haver, 17 anos depois, julgado a Ação de Nulidade
de Títulos Imobiliários impetrada pela Funai em
1982 contra os fazendeiros que ocuparam o local.
Na década de 70, o governo do Estado da Bahia
concedeu ilegalmente títulos imobiliários aos
fazendeiros, diminuindo de 54 mil para 2.100 hectares
a terra indígena que havia sido delimitada em
1926. Nesses anos todos, o conflito foi acirrado
e 13 lideranças indígenas morreram, entre elas
o indígena Galdino Jesus dos Santos, que havia
ido à Brasília reivindicar a retomada dessa área
indígena quando foi morto (ver Distrito Federal).
Ao longo de 2000 e 2001 esses indígenas continuaram
ocupando essas fazendas que estavam sob sua terra.
Até outubro de 2001, tinham retomado cerca de
30% de suas terras originárias. O final de 2001
foi marcado por fortes tensões. Várias casas foram
incendiadas ou destruídas por bombas e tiros,
houve episódios em que pistoleiros atiraram contra
indígenas. Foi nesse contexto que o indígena Raimundo
Dominiciano dos Santos foi morto. 55 Os indígenas
Pataxós da terra indígena "Barra do Caí",
na região de Cumuruxatiba, no município de Prado,
também vêm sofrendo medo e ameaças. Em abril de
2000 eles realizaram uma tentativa de retomar
a área e, enquanto estavam no local, foram ameaçados
por pistoleiros que rondavam o local. Abandonaram
a área sendo expulsos a tiros. Desde então, os
indígenas passaram a ser insultados, sofreram
prisões ilegais e agressões físicas. Em fevereiro
de 2002, ocorreram diversos episódios de pistoleiros
invadirem a aldeia indígena e atacarem atirando.
5 6 Além disso, os Pataxós da aldeia Pequi têm
sido agredidos por pistoleiros, como ocorreu na
madrugada do dia 15 de setembro de 2002, quando
foram expulsos de sua aldeia com jagunços auxiliados
de policiais militares, que invadiram o local
atirando, destruindo moradias e agredindo fisicamente
os indígenas. As trinta famílias residentes fugiram
do local e seis indígenas foram presos. Quatro
dias depois do episódio, apenas um indígena tinha
sido solto, e ele possuía sinais de tortura. 5
7
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IDOSOS
O Estado da Bahia registrava, em 2000, uma
população de 1.077.901 idosos.58 Seguindo a tendência
nacional, a população de idosos cresce em relação
às demais faixas etárias da população: os idosos
representavam 6,9% da população total em 1991;
no ano 2000, este número aumentou para 8,2%.
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PORTADORES
DE DEFICIÊNCIA
No Relatório sobre a Tortura no Brasil, do Relator
Especial da Organização das Nações Unidas para
a Tortura, Nigel Rodley, há um caso de tortura
contra um homem portador de problemas mentais.
O homem portador de problemas mentais teria sido
espancado nas mãos com uma palmatória e com um
cabo de vassoura por um policial militar em uma
delegacia de polícia em Salvador em maio de 2000.
Ele teria ficado com hematomas no corpo e suas
mãos teriam ficado inchadas por dez dias. Segundo
informações recebidas pelo Relator Especial, ele
estaria brincando perto de uma delegacia e esse
fato teria aborrecido os policiais. O incidente
teria sido reportado ao Ministério Público. 59
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MIGRANTES
De um trabalho desenvolvido em fevereiro
de 1999 pela Fundação Joaquim Nabuco em Petrolínia,
verificou- se que, em se tratando do perfil das
migrantes, as suas idades variavam de 20 a 59
anos, a maioria era analfabeta ou sabe apenas
assinar o próprio nome. A maioria era casada,
possuía uma média de 3,2 filhos e tinha uma renda
média familiar mensal de R$ 57,18. Por suas atividades
produtivas, as assalariadas recebiam, por mês,
um salário de R$ 142,00 e mais os acréscimos dos
abonos de família. As diaristas, por outro lado,
recebiam, mediante a sua produção, de R$ 3,00
a R$ 12,00 por dia. Como não existe um vínculo
formal entre os empregadores e as diaristas, as
mesmas por vezes passavam vários dias, semanas
e/ou meses sem conseguir um trabalho. 60
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GAYS, LÉSBICAS, TRANSEXUAIS
E BISSEXUAIS
O Grupo Gay da Bahia (GGB) é responsável
pela publicação de vários relatórios a respeito
de violações aos direitos dos homossexuais e de
outros temas de interesse. Dentre as publicações,
destaca-se a edição das obras: "Causa Mortis:
Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato
de Homossexuais no Brasil – 2000, editado em 2001"
e "O Crime Anti-Homossexual no Brasil, editado
em 2002". Com a contribuição do GGB foi realizada
a Parada do Orgulho Gay em Salvador que, em 16
de junho de 2002, reuniu aproximadamente 15 mil
pessoas. 61 Em 2000 foram registrados 22 homicídios
homofóbicos, tendo sido 18 contra gays e 4 contra
travestis. 62 Um caso de violência contra homossexuais
aconteceu em Salvador. Um professor universitário
homossexual foi agredido moralmente e espancado
por dois rapazes em frente a sua casa. Desmaiado,
o professor foi levado a um hospital, com a visão
comprometida e as vértebras machucadas. 6 3
<
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1 Folha de S. Paulo, 23 de abril de 2000,
Primeira Página, "Conflito marca festa dos 500 anos"; Estado de S. Paulo, 23 de
abril de 2000, "Conflito dos 500 anos deixa feridos e 141 presos".
2 Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, Relatório – Setembro 2002.
3 Governo do Estado da Bahia, relatório enviado à
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos
4 Idem.
5 Idem.
6 Idem.
7 O Estado de S. Paulo, 6 e 10 a 18 de julho de
2001, e Folha de S. Paulo, 6 e 12 a 18 de julho de 2001.
8 Folha de S. Paulo, 9 de janeiro de 2002,
Cotidiano, C1 , "PMs e policiais civis voltam a parar na Bahia", e O Estado de
S. Paulo, 9 de janeiro de 2002, Cidades, C 1, "PM invade quartéis para sufocar
greve na Bahia".
9 Idem.
10 Rodley, Nigel, Relatório sobre a Tortura
no Brasil. Disponível no web-site da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos
(www.mj.gov.br/sedh) e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).
11 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/depen/default.htm).
1 2 Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana do Ministério da Justiça, Relatório sobre a visita de representantes da
Comissão Especial de Combate à tortura ao complexo Penitenciário de Teixeira de
Freitas, Estado da Bahia (Brasília: CDDPH, 2001).
13 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil
2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT
(www.cptnac.com.br).
1 4 Comissão Pastoral da Terra da Bahia,
Relatório Comissão Pastoral da Terra/Bahia.
1 5 Informações da Procuradoria Regional do
Trabalho-5ª Região, em dossiê enviado pelo Governo do Estado da Bahia à
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos.
1 6 Ministério Público do Trabalho, Relatório de
Atividades 2001 – Trabalho Escravo/Forçado.
1 7 Folha de S. Paulo, 11 de maio de 2002 e 17 de
maio de 2002, "PM reprime manifestação em favor da cassação de ACM, em Salvador"
e "Polícia baiana reprime ato contra ACM". 1
8 A Tarde, 23, 16 e 9 de abril de 2000;
"Seqüestro, espancamentos e ameaças", "ABI quer apuração de crimes contra
jornalistas" e "Ministério da Justiça acionado contra crimes".
1 9 Ver web-site do Sociedade Interamericana de
Imprensa (http://216.147.196.167/portugues/portugues.cfm).
20 Repórteres sem Fronteiras (www.rsf.org.fr).
21 Jornal da Tarde, 23 de abril de 2000, "
Seqüestro, espancamento e ameaças".
2 2 Material recebido do Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana – Ministério da Justiça.
2 3 Folha de São Paulo, 03 de outubro de 2002,
"170 municípios pedem proteção do Exército para votação do dia 6"; Agência
Estado, 27 de outubro de 2002, "Forças Armadas atuam em 149 municípios, sem
incidentes até agora" (www.estadao.org.br).
2 4 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instittuto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH; 2002).
2 5 CIPÓ – COMUNICAÇÃO INTERATIVA E REDE ANDI, A
Criança e o Adolescente na Mídia Bahia/Sergipe – Janeiro a Dezembro de 2000 –
Série Rede ANDI, Salvador, 2002, p. 44.
2 6 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
2 7 Diário da Região, 12 de março de 2002, p.
Cotidiano 9. Notícia disponível no site da ABMP (www.abmp.org.br). O Projeto
Viver, que atende vítimas de violência sexual, é fruto de parceria entre a
Secretaria de Segurança Pública, a Secretaria de Saúde, a Delegacia de Repressão
aos Crimes contra Criança e Adolescente e a Delegacia Especial de Proteção à
Mulher.
2 8 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na
introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso
sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial
(compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a
pornografia).
29 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações
sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de
Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial
(Brasília: CECRIA, 2002).
3 0 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de
Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p 40.
O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes
conforme o Estado. Na Bahia foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15
anos nas atividades de: Agriculturas (Canavieira e de Subsistência);
Beneficiamento de Castanha de Caju; Colheita de Guaraná; Culturas (de Laranja,
Mandioca, Algodão, Cacau e Café); Cultura e Desfibramento de Feijão e Milho;
Fumicultura; Hortifruticultura; Mariscagem; Produção (de Carvão Vegetal e de
Farinha da Mandioca); e Serviços (em Oficinas Mecânicas e em Pedreiras)
3 1 Jornal A Tarde - BA, 1 de abril de 2002, p.
Local 5 . Notícia disponível no web-site da ABMP(www.abmp.org.br).
3 2 Menezes; Wilson Fora do Lugar: Crianças e
Adolescentes no Mercado de Trabalho (Salvador:2000) In: Revista do UNIFEM –
Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher. Maria Maria –
Trabalhadoras Domésticas: Quem são e o que pensam, ano 4, nº4, Brasília, 2002,
p. 32-40.
3 3 CIPÓ – COMUNICAÇÃO INTERATIVA E REDE
ANDI, A Criança e o Adolescente na Mídia Bahia/Sergipe – Julho a Dezembro de
2000 – Série Rede ANDI, Salvador, 2001, p. 42-44.
3 4 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
3 5 Este índice foi obtido a partir do resultado
da divisão do número total de adolescentes em liberdade assistida pelo número
total de inseridos em medidas em meio fechado (assim consideradas internação e
semiliberdade). Quanto maior o índice, maior também a aplicação no Estado da
medida em meio aberto em comparação ao número de adolescentes privados, parcial
ou totalmente, de liberdade.
3 6 O parágrafo único do art.108 do
Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe sobre a internação provisória: "A
decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e
materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida".
3 7 Coletivo de Mulheres do Calafate,
Relatório Violência Doméstica e Sexual contra mulheres do Calafate, 2002.
3 8 Waiselfisz, J.J., Mapa da Violência III
(Brasília: Unesco, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002).
3 9 Governo do Estado da Bahia, relatório enviado
à Secretaria de Estado dos Direitos Humanos.
4 0 CECRIA - Centro de Referência, Estudos
e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre
tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual
Comercial (Brasília: CECRIA, 2002).
4 1 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br).
4 2 Dados fornecidos pelo Ministério
Público da Bahia – Procuradoria Geral da Justiça/ 2ª Promotoria de Justiça da
Cidadania e Combate ao Racismo.
43 Correio da Bahia, 14 de maio de 2002. 4
4 Idem.
4 5 Jornal A Tarde,13 de junho de 2002.
4 6 Correio da Bahia, 21 de maio de 2002.
4 7 Jornal A Tarde, 20 de agosto de 2002.
4 8 Silva, Maria Aparecida da. In: Racismo no
Brasil – São Paulo; Petrópolis; ABONG, 2002. Página 119.
4 9 Idem.
50 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org)
5 1 Conselho Indigenista Missionário
(www.cimi.org.br), que informa ter esse estado uma população de 15.290
indpigenas.
5 2 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção
das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de
2002).
5 3 Conselho Indigenista Missionário , Informes
n.º 380, n.º 386, n.º 403 e n.º 509, de 30 de setembro de 1999, 11 de novembro
de 1999, 23 de março de 2000 e 25 de abril de 2002.
5 4 Conselho Indigenista Missionário, Informes
n.º 372, n.º 426 e n.º 472, de 5 de agosto de 1999, 31 de agosto de 2000 e 2 de
agosto de 2001.
5 5 Conselho Indigenista Missionário, Informes
n.º 387, n.º 388, n.º 466, n.º 484, n.º 489, n.º 521 e n.º 522, de 18 de
novembro de 1999, 23 de novembro de 1999, 21 de junho de 2001, 25 de outubro de
2001, 29 de novembro de 2001, 13 de julho de 2002 e 25 de julho de 2002.
5 6 Conselho Indigenista Missionário,
Informes n.º 419 e n.º 500, de 13 de julho de 2000 e 21 de fevereiro de 2002.
5 7 Conselho Indigenista Missionário, Informes
n.º 530 e n.º 531, de 19 de setembro de 2002 e 26 de setembro de 2002.
5 8 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br)
5 9 Rodley, Nigel. Relatório sobre a Tortura no
Brasil. (Genebra: Organização das Nações Unidas, 2001. Doc E/CN.4/2001/66).
6 0 Dados do relatório da Fundação Joaquim
Nabuco, disponível no web-site da entidade (www.fundaj.gov.br/tpd/115.html). Do
conjunto de quarenta e quatro mulheres entrevistadas, 19 eram advindas do Estado
de Pernambuco (municípios de Serra Talhada, Serra Nova, Ouricuri, Salgueiro,
Trindade, Tacaratu, Dormentes, Afrânio, Exu, São José do Belmonte, Pedra Grande,
e da Serra do Araripe); 9 eram migrantes do Ceará (municípios de Barros,
Juazeiro do Norte, Crato, Mauriti e Boa Viagem); 8 vieram do Piauí (municípios
de Picos, Jaicós, São Miguel de Tapuia, Oeiras e Ipiranga); quatrovieram da
Paraíba (municípios de Cajazeiras, Picuí, Bonito de Santa Fé, e Santa Luzia); 3
eram provenientes da Bahia (municípios de Tapera, Morro do Chapéu e Remanso); e
1 era proveniente do Rio Grande do Norte (município de Caicó).
6 1 Grupo Gay da Bahia (www.ggb.org.br.).
6 2 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa Mortis:
Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil
– 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001) e Mott, Luiz, Marcelo
Cerqueira e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo
Gay da Bahia - 2001 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
6 3 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa Mortis:
Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil
– 2000 (Salvador: Editora Grupo.
CEARÁ
VIOLÊNCIA
POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÊNCIA RURAL
TRABALHO ESCRAVO
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Exploração
Sexual
Medidas Sócio-Educativas
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
IDOSOS
PORTADORES
DE DEFICIÊNCIA
GAYS,
LÉSBICAS, TRANSEXUAIS E BISSEXUAIS
O Estado do Ceará, situado ao norte da Região
Nordeste, faz divisa com os estados do Piauí, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande
do Norte. Sua capital é Fortaleza e a sua economia está baseada na agricultura,
indústria, mineração e pecuária. O turismo adquire importância crescente na
economia do estado. Entre 1999 e 2001, o Ceará foi um dos cinco estados
brasileiros em que mais ocorreram conflitos rurais, sendo que, na Região
Nordeste, somente Pernambuco teve maior quantidade de conflitos. Destaque-se a
omissão do sistema de justiça e do estado cearense diante da tentativa de
homicídio, ocorrida em 1983, que deixou paraplégica Maria da Penha Maia
Fernandes. Passados mais de 18 anos do crime, o processo ainda não tinha sido
concluído. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em abril de 2001,
responsabilizou o Estado brasileiro condenando- o por negligência, tolerância e
omissão em relação à violência doméstica. 1 Mesmo não tendo atingido a
totalidade do que prevê o ECA, o Ceará merece destaque positivo, pelo fato de
ser o estado do Nordeste que mais avançou no sentido de criar os órgãos
destinados à proteção dos direitos da infância e juventude. Assim, em relação à
efetivação dos instrumentos de democracia participativa nessa área, até o final
do 1º semestre de 2002, havia 123 Conselhos Tutelares e 167 Conselhos Municipais
de Direitos instalados nos 184 municípios do estado. 2
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VIOLÊNCIA
POLICIAL E TORTURA
Em visita ao Brasil, no ano de 2000, o Relator
Especial da Organização das Nações Unidas para
a Tortura, Nigel Rodley, observou a prática de
tortura no Estado do Ceará, citando 5 casos no
seu relatório, acontecidos em 1999 e 2000, envolvendo
policiais civis e militares. Um caso aconteceu
na Penitenciária de Potengi e outro na prisão
de Aracati. Em fevereiro de 2000, um fotógrafo
e um motorista do jornal O Povo teriam sido agredidos
e espancados pelo prefeito de Hortolândia e seus
empregados quando investigavam denúncias de corrupção
no município. 3
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO
Com uma população carcerária de 6.762 detentos
o estado disponibiliza 4.839 vagas. O número da
população carcerária está acima da capacidade
do sistema prisional, com uma superlotação de
1.923 detentos. Se diferenciando dos outros estados
da federação, o Ceará, possui 157 unidades prisionais,
das quais 150 são cadeias públicas e apenas duas
unidades são penitenciárias. 4 O Relatório da
II Segunda Caravana Nacional de Direitos Humanos
sobre Sistema Prisional brasileiro visitou alguns
estabelecimentos do sistema prisional do estado.
Constatou diversas situações de tratamentos desumanos
e degradantes e em alguns casos a presença de
maus tratos. Encontrou, em todos os estabelecimentos,
superlotação e condições absolutamente inadequadas
de habitabilidade. A visita ao Instituto Penal
Paulo Sarasate, de Fortaleza, verificou a prática
de violência de policiais contra os detentos.
O Segundo Distrito Policial conhecido como o "Distrito
Modelo", também foi objeto de atenção da
Caravana. As instalações que deveriam abrigar
a custódia de pessoas com prisão preventiva encontrava-se
superlotada com 28 presos. As celas eram sujas,
escuras e sem ventilação e com intenso odor fétido.
No chão, o lixo e a sujeira propiciavam a proliferação
de baratas. Os presos eram obrigados a dormir
no chão, sobre a laje, sem colchão ou manta. Sem
direito a banho de sol ou deslocamento para se
exercitarem. A insalubridade do local proporcionava
condições ideais para ocorrência de doenças. Os
detentos não recebiam visitas de familiares e
ainda relataram sessões de espancamentos e maus
tratos perpetrados pelos policiais. A Cadeia Pública
em Maracanaú não possuía diretor, lá trabalham
3 policiais militares, um agente penitenciário
e dois vigilantes. Muitos presos estavam doentes
com tuberculose e um dos detentos possuía hanseníase.
O Instituto Penal Feminino preserva as celas de
isolamento, consideradas as piores de todas as
visitadas no Brasil. Três pequenos cubículos escuros
e úmidos que conservavam embaixo dos colchões
um buraco no concreto com inúmeras baratas.
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VIOLÊNCIA
RURAL
Entre 1999 e 2001, o Ceará foi o estado da
Região Nordeste que teve o segundo maior número
de conflitos rurais. Somente atrás de Pernambuco,
o estado registrou 31 conflitos em 1999, 116 em
2000 e 74 em 2001, totalizando 221. Apesar de
não ter vitimado ninguém de forma fatal, esses
conflitos envolveram, no período, 94.540 pessoas.
5
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TRABALHO
ESCRAVO
O Grupo Especial de Fiscalização Móvel
realizou uma operação no Ceará no ano 2000, mas não encontrou presença de
trabalhadores em situação degradante ou análoga à escravidão. 6
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CRIANÇAS
E ADOLESCENTES
O número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos
por homicídio aumentou de 313 para 432 entre 1998
e 2000. O número de mortes por homicídio por 100
mil habitantes na população entre 15 e 24 anos
aumentou de 21,6 em 98 para 28,7 em 2000. Um indicador
da probabilidade dos jovens morrerem é a taxa
de vitimização juvenil, que era de 74,1, menor
que a taxa nacional de vitimização juvenil que,
em 2000, era de 92,7. 7 Vinculado à Secretaria
de Trabalho e Ação Social, o Serviço de Atendimento
SOS Criança – Projeto Sentinela do Ceará funcionava,
até julho de 2002, em 11 municípios. Atuando de
forma integrada com instituições governamentais,
não governamentais, Conselho Tutelar e Conselhos
de Direito, esse projeto atende vítimas de maus-tratos,
exploração infantil, abuso sexual, violência doméstica,
entre outras violações cometidas contra crianças
e adolescentes. 8 No período compreendido entre
janeiro de 2000 e julho de 2002, foram contabilizados
6.108 casos de violência perpetrados contra pessoas
com idade inferior a 18 anos. Deste total, 2.994
eram violências físicas, 2.445 negligência familiar,
424 violências sexuais (abuso ou exploração) e
245 violências psicológicas. 9
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Exploração
Sexual
No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002,
o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual
Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de
3.295 denúncias de exploração sexual, das quais
260 originaram- se no Estado do Ceará. Deste total,
71 foram feitas no 1º semestre de 2002. A quantidade
de denúncias oriundas do Ceará, coloca-o na terceira
posição entre os estados que receberam o maior
número de denúncias registradas no Sistema. 10
Trabalho Infanto-Juvenil Segundo o Mapa de Indicativos
do Trabalho da Criança e do Adolescente, em 1999
havia 295.270 crianças e adolescentes na faixa
de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Estado
do Ceará. Deste total, 91.613 (31,03%) trabalhavam
na área urbana e 203.657 (68,97%) na rural. O
Mapa aponta que esse grupo ocupava, com maior
freqüência, os seguintes setores: Agropecuária
(202.722), Comércio (26.879), Prestação de Serviços
(25.369) e Indústria de Transformação (24.453).
Ademais, 174.480 não recebiam remuneração, 38.067
eram empregados, 28.066 trabalhavam para autoconsumo
e 21.703 exerciam trabalho domiciliar. 1 1
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Medidas
Sócio-Educativas
Conforme dados apresentados pelo Fórum Nacional
de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente
e pelo Departamento da Criança e do Adolescente
da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério
Justiça, o Estado do Ceará tinha, em março de
2002, 743 adolescentes inseridos em medida sócio-educativa
de liberdade assistida e, no mês de junho, 389
em internação, 30 em internação provisória e 60
em semiliberdade. Do total de adolescentes sob
internação, 355 eram do sexo masculino e 34 do
feminino. 12 Apesar de ser somente o 3º Estado
mais populoso do Nordeste, o Ceará ostenta a 1ª
colocação da região em quantidade de adolescentes
inseridos em liberdade assistida, semiliberdade
e internação. Dentro deste contexto, destaca-se
o elevado número de adolescentes sob medida de
internação, representando 1/3 do total de jovens
inseridos em uma das três medidas sócioeducativas
mais gravosas.
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MULHERES
A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres,
Crianças e Adolescentes para fins de Exploração
Sexual Comercial constatou a existência de três
rotas de tráfico de mulheres para fins de exploração
sexual comercial no estado. Os dados da Polícia
Federal indicam a existência de rotas internacionais
de tráfico de mulheres saindo de Fortaleza para
a Europa, acompanhando o movimento do turismo
sexual. Assim como em outras capitais do Nordeste
- especialmente, Recife (PE), Salvador (BA) e
Natal (RN) -, Fortaleza (CE) se destaca como um
dos principais locais de turismo sexual e de destino
do tráfico de pessoas para esse fim. 1 3 No Ceará,
a taxa de homicídio contra as mulheres é de 2,8
por 100 mil habitantes no ano de 2000. As mulheres
representam 8,7% das vítimas de homicídios. 1
4 Em 1999, em Fortaleza, foram registradas, pela
polícia, 71 estupros e 59 atentados violentos
ao pudor. No ano seguinte, registraram-se 65 estupros
e 66 atentados violentos ao pudor. Em 2001, foram
47 ocorrências de estupro e 66 de atentado violento
ao pudor. 1 5 No período de janeiro 2001 até junho
2002, o Fórum de Mulheres Cearenses, a partir
de dados sobre violência contra mulher colhidos
na Delegacia de Mulheres e no Instituto Médico
Legal, indica a ocorrência de 4.492 lesões corporais;
3.973 ameaças; 125 maus tratos; e 86 homicídios.
16 Apesar da reivindicação do segmento organizado
de defesa dos direitos da mulher, até 2001 só
existia uma única Delegacia de Atendimento à Mulher
no estado, que estava localizada em Fortaleza.
Contudo, após o surgimento de um assassino, que
em 23 dias matou de forma bárbara seis mulheres,
o Governo do Estado mobilizou-se para em junho
de 2001 anunciar a instalação de delegacias da
mulher nas cidades de Crato, Juazeiro do Norte,
Sobral e Iguatu. A promessa era de que ainda em
2001 fossem instaladas as delegacias em Crato
e Sobral. Contudo, até outubro de 2002, apenas
uma delas tinha sido instalada. 17 Para atendimento
de mulheres vítimas de agressão e violência, o
Governo do Estado do Ceará, através da Secretaria
do Trabalho e Ação Social, tem o Albergue Casa
do Caminho. Localizada em Fortaleza, a Casa atendeu,
entre 2000 e 2002, 118 mulheres vítimas de agressão
física. Segundo dados do Governo do Estado, estão
sendo desenvolvidos projetos (de capacitação de
profissionais e de lideranças comunitárias assim
como de divulgação de serviços) com vistas a garantir
os direitos das mulheres e um atendimento adequado
a essa parcela da população. 18
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AFRO-DESCENDENTES
A população afro-descendente (4.640.119) representa
62,45% da população do estado, proporção inferior
à média da Região Nordeste. Na população afrodescendente,
3,32% se declararam negros e 59,12% pardos. 1
9
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INDÍGENAS
O Ceará tem uma população de 5.093 indígenas,
distribuídos em 8 povos indígenas.20 Estima-se que tenha a 10ª maior população
indígena do país. 21 O Estado tem 7 áreas indígenas, que se encontram na
seguinte situação jurídica: 22
Situação |
No. de Terras Indígenas |
A identificar |
2 |
Em identificação |
1 |
Com restrição de uso |
1 |
Identificadas / Aprovadas pela
Funai |
1 |
Declaradas |
2 |
O Estado do Ceará é o estado do Nordeste com maior
número de reivindicações por demarcação de terras.
Nenhuma área foi ainda demarcada e em quase todas
há complicados conflitos com os posseiros. Em
março de 1999, os indígenas Tapeba tiveram problemas
com um posseiro em suas terras. O posseiro, que
já tem uma cerâmica e uma pedreira no local, tentou
nessa ocasião cercar uma área maior, chegando
a pegar parte da lagoa que é de onde os indígenas
retiram sua sobrevivência. Foi a segunda vez que
os indígenas flagraram tentativa de invasão. 23
Violências Em abril de 2001, quando foi publicada
pelo Governo Federal portaria declarando a terra
indígena em que vivem apta a ser demarcada fisicamente,
os indígenas Tremembé da comunidade do Córrego
João Pereira, município de Itarema, começaram
a sofrer ameaças. Motoqueiros rondavam suas casas
e as invadiam. Os conflitos judiciais em torno
da posse dessas terras começaram por volta de
1991, quando os Tremembé primeiro solicitaram
à Funai estudos para identificação na área. Desde
então, até o começo de 2002, quando a terra finalmente
começou a ser demarcada (foi a primeira terra
indígena demarcada no Ceará), os indígenas vinham
sofrendo com a disputa pela área, travada com
posseiros e empresas instaladas no local. Segundo
disseram os envolvidos na questão, foi um tempo
de muitas dificuldades, ameaças de morte, perseguições,
insegurança e medo, no qual os indígenas sofreram
muito com cercas e casas incendiadas, roçados
destruídos, expulsão de suas casas e até mortes.
24 Os indígenas Pitaquarys vêm enfrentando problemas
decorrentes da presença de posseiros em suas terras.
Segundo eles essa presença traz para lá violência,
prostituição, tumultos, xingamentos, ameaças,
bebedeiras, poluição e queimadas. O processo de
demarcação foi iniciado em 1997 e a área já foi
identificada e delimitada pela Funai, mas a portaria
determinando o início da demarcação ainda não
foi expedida. Desde novembro de 2001 os indígenas
vêm enfrentando problemas mais específicos com
um determinado posseiro, dono de uma churrascaria
na área. Várias vezes fecharam a estrada e o portão
que dão acesso à terra, contando inclusive com
a ajuda de outros povos indígenas do Ceará e de
outros estados. 2 5
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IDOSOS
O Ceará tinha, em 2000, uma população de
658.989 idosos.26 A população de idosos vem crescendo
em relação às demais faixas etárias da população,
tendo passado de 7,7% da população total em 1991
para 8,9% no ano 2000. No Ceará, mais precisamente
na cidade de Sobral, foi instalado, em 28 de maio
de 2002, o serviço de Disque-Idoso, fruto de uma
parceria entre Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos, Prefeitura Municipal de Sobral e Diocese,
por meio da Associação Cearense Próidoso. 27 A
iniciativa já apresenta seus primeiros resultados:
entre 3 de junho e 10 de outubro, foram recebidas
30 denúncias. As principais violações se referiam
a: violência psicológica (7), negligência de cuidados
(7), maus tratos (8) e cárcere privado (6). Em
22 casos, os agressores eram familiares.
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PORTADORES
DE DEFICIÊNCIA
O deficiente auditivo denunciou que foi agredido
por dois soldados e um capitão da polícia militar
no Conjunto Esperança. Afirmou que estava sentado
em um bar quando os policiais chegaram para fazer
vistoria no local, em busca de armas. Um dos policiais
teria mandado o deficiente auditivo levantar,
mas este, por não escutar, não cumpriu a ordem
e continuou sentado. Foi neste momento que os
policiais teriam agredido. A vítima disse também
ter recebido pancada no abdômen e ter sido ameaçado
com uma escopeta. Cerca de 50 pessoas teriam presenciado
a ação dos policiais. 2 8
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GAYS,
LÉSBICAS, TRANSEXUAIS E BISSEXUAIS
Entre 2000 e 2001, foram registrados 5 homicídios
homofóbicos, tendo sido 3 contra gays, 1 contra
lésbica e 1 contra travesti.2 9 Em 2001, 3 homicídios
homofóbicos, tendo sido 2 contra gays e 1 contra
lésbica. 3 0 O Grupo de Resistência Asa Branca
(GRAB) é uma entidade civil que atua na defesa
dos direitos de gays, lésbicas, travestis, transexuais
e bissexuais, contribuindo para a formação e/ou
fortalecimento de grupos homossexuais no interior
do Ceará e em outros estados, prestando assessoria
jurídica às pessoas afetadas por discriminação
em decorrência da orientação sexual, e promovendo
e participando de fóruns, atos públicos, debates
e informativos relacionados com direitos humanos
dos homossexuais, sexualidade e DST/Aids. 3 1
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1 Uma descrição mais detalhada desse conflito
encontra-se no Capítulo "Sistema Internacional e a Situação dos Direitos Humanos
no Brasil".
2 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
3 Rodley, Nigel, Relatório sobre a Tortura no
Brasil. Disponível no web-site da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos
(www.mj.gov.br/sedh) e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).
4 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/depen/default.htm).
5 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil
2001.
6 Ministério do Trabalho e Emprego, A Experiência
do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.
7 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação
entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de
homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a
concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a
este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais
grupos da população.
8 Dados divulgados pela Secretaria de Trabalho e
Ação Social relativos ao Serviço de Atendimento SOS Criança do Ceará/Projeto
Sentinela – 2000/2001/2002. As cidades que têm instalada unidades do serviço são
Crato, Juazeiro, Crateús, Sobral, Itapipoca, Quixadá, Canindé, Beberibe,
Caucaia, Maracanaú e São Gonçalo.
9 Idem. O Projeto assim define: violência física
é "o uso da força de forma não acidental, com o objetivo de agredir, ferir ou
machucar o corpo da criança ou adolescente, deixando ou não marcas"; negligência
familiar é o "ato de omissão do responsável pela criança ou adolescente quem
prover as necessidades básicas para o seu desenvolvimento saudável"; violência
sexual é a "situação em que uma criança ou adolescente é usado para satisfação
sexual de um adulto ou adolescente mais velho"; e violência psicológica é
"influência negativa exercida pelo adulto sobre a criança ou adolescente,
ocasionando prejuízo no seu desenvolvimento. As formas mais freqüentes são:
rejeitar, isolar, ignorar, aterrorizar, humilhar".
1 0 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na
introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso
sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial
(compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a
pornografia).
1 1 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de
Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p 44.
O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes,
entre 5 e 15 anos. No Ceará constatou-se o trabalho dessa faixa da população na:
Agricultura Canavieira; Cultura do Caju; Fabricação de Santos e Serviços em
Pedreiras.
12 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
1 3 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e
Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico
de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial
(Brasília: CECRIA, 2002).
14 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002).
1 5 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).
1 6 Fórum de Mulheres Cearenses.
1 7 Informação enviada pela representante do
Fórum de Mulheres Cearenses sobre a situação da mulher no estado do Ceará e
dados sobre as violações.
1 8 Os projetos desenvolvidos são: Projeto de
revisão e atualização do "Guia: Prestação de Serviços em Saúde Reprodutiva";
Projeto de capacitação e assessoramento das Lideranças Feministas e Conselheiras
dos Direitos de Direitos das Mulheres; Projeto de capacitação para Policiais da
Academia Civil; e Projeto de capacitação para Policiais das Delegacias de Defesa
da Mulher e para organizações não-governamentais em direitos humanos e violência
contra a mulher.
19 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br).
20 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org).
2 1 Conselho Indigenista Missionário
(www.cimi.org.br)., que informa ter esse estado uma população de 11.589
indígenas.
2 2 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção
das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de
2002).
2 3 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas
no Brasil 1996-2000, p. 555 ("Pé de guerra", Diário de Fortaleza, 05 de março de
1999).
2 4 O Povo, 28 de setembro de 2001, "Índios
Tremembé sofrem ameaças por causa da demarcação"; O Povo, 24 de outubro de 2001,
"Tremembés voltam a denunciar ameaças após a demarcação"; Diário do Nordeste, 21
de setembro de 2002, "Perícia será feita na área dos Tremembé"; Maria Amélia,
Associação Missão Tremembé, 12 de fevereiro de 2002, "Demarcação da Terra
Indígena Tremembé Córrego João Pereira". Associação Nacional de Ação
Indigienista (www.anai.org.br)
25 O Povo, 14 de dezembro de 2001, "Barreira
contra os posseiros"; O Povo, 04 setembro de 2002, "Índios Pitaguarys fecham
novamente acesso a suas terras". Notícias disponíveis no web-site da Associação
Nacional de Ação Indigienista (www.anai.org.br)
2 6 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br)
2 7 Disque-Idoso de Sobral/CE.
28 O Povo, 16 de janeiro de 2000.
2 9 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa
Mortis: Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais
no Brasil – 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001).
3 0 Mott, Luiz, Marcelo Cerqueira e Cláudio
Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo Gay da Bahia - 2001
(Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
3 1 Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB), Dados
de dossiê preparado pelo Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB).
MARANHÃO
VIOLÊNCIA POLICIAL,
TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
TRABALHO ESCRAVO
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Exploração
Sexual
Caso dos Meninos Emasculados
Trabalho Infanto-Juvenil
Medidas Sócio-Educativas
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
Violências
GAYS,
LÉSBICAS, TRANSEXUAIS E BISSEXUAIS
O Estado do Maranhão, situado ao norte da Região
Nordeste, faz divisa com o Piauí, Tocantins e
Pará, e tem parte de seu território coberto pela
Floresta Amazônica. Sua capital é São Luís e a
economia é baseada na indústria (transformação
de alumínio e alumina, alimentícia, madeireira),
no extrativismo (babaçu), na agricultura (mandioca,
arroz, milho) e na pecuária. Na região, o Maranhão
foi o estado que registrou o maior crescimento
do número de conflitos rurais, que aumentaram
de 15 em 1999 para 101 em 2001. No período, foram
mortas cinco pessoas em conflitos rurais. Uma
grave violação aos direitos humanos constatada
no estado se refere à submissão de pessoas à condições
análogas à de escravos. O Gertraf, no ano de 2001,
localizou 563 pessoas nessas condições, ficando,
assim, apenas abaixo do Pará que, entre todos
os estados brasileiros, foi o que teve o maior
número de trabalhadores em situação de escravidão.
Outra séria violação diz respeito à violência
e exploração sexual de mulheres, crianças e adolescentes.
Entre outras formas de violência sexual, a Pesquisa
Nacional sobre Tráfico de Pessoas para Fins de
Exploração Sexual constatou que o Maranhão é o
estado brasileiro em que se identificou o maior
número de rotas de tráfico. Preocupados com a
situação, a sociedade civil e o governo se mobilizaram
bastante nos últimos anos. Entre as iniciativas
promovidas está a aprovação, pelo Conselho Estadual
dos Direitos da Criança e do Adolescente do Maranhão,
do Plano Estadual para Enfrentamento da Violência
Sexual contra Crianças e Adolescentes. 1 O caso
dos meninos emasculados é um grave problema no
Maranhão, uma vez que apesar já terem sido assassinados,
desde 1991, 22 meninos entre 9 e 15 anos, a justiça
e a polícia pouco têm feito para conter e punir
os agressores. O Centro de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente Pe. Marcos Passerini
é uma das organizações da sociedade civil que,
participando ativamente no caso dos meninos emasculados
e no combate à violência sexual, tem tido uma
consistente atuação para garantir os direitos
de crianças e adolescentes.
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VIOLÊNCIA POLICIAL
E TORTURA
O Ministério Público e organizações de direitos
humanos denunciam a prática de tortura no Maranhão.
No ano 2000, 14 casos de tortura foram investigados
e denunciados pelo Ministério Público. Em dezembro
de 2000, o Secretário da Segurança Pública proibiu
a divulgação de laudos do Instituto Médico Legal
para o Ministério Público sem a sua aprovação.
O Ministério Público contestou a legalidade da
determinação, mas sem sucesso. Em julho de 2001,
denúncia de cerceamento da atividade do Ministério
Público na investigação de crimes cometidos por
policiais foi apresentada pelo Centro de Justiça
Global ao Relator Especial da Comissão de Direitos
Humanos das Nações Unidas para Independência dos
Juízes e Advogados. 2 Policiais civis realizaram
greve por melhores salários em dezembro de 2000.
3
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO
Com uma superpopulação carcerária e déficit
de 2.090 vagas, o sistema prisional do Maranhão
dispõe de três estabelecimentos penitenciários.
Atualmente a população carcerária compreende 2.905
detentos, correspondendo a mais de três vezes
a capacidade de vagas do sistema prisional que
é de 815. A situação é crítica especialmente na
disponibilidade de vagas para o número de presos
cumprindo pena em regime fechado, são 220 vagas
para 2.368 detentos. 4 Em janeiro de 2001 uma
rebelião provocou a morte de três presos na Casa
de Detenção do Complexo Penitenciário de Pedrinhas,
em São Luís do Maranhão. A Casa de Detenção continuava
superlotada, com capacidade para 600 presos abrigava
1.200. No dia 3 de setembro desse mesmo ano outra
rebelião violenta provocou a morte de mais três
presos e oito presos e dois agentes de segurança
ficaram feridos. VIOLÊNCIA RURAL No Maranhão,
o número de conflitos rurais aumentou significativamente
nos últimos anos, passando de 15 em 1999 para
81 em 2000 e 101 em 2001. O número de pessoas
envolvidas nos conflitos foi de 5.475 em 1999,
19.884 em 2000 e 18.789 em 2001. No período, em
decorrência dos conflitos, morreram cinco pessoas.
De janeiro a agosto de 2002, mais uma pessoa foi
assassinada. 5
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TRABALHO ESCRAVO
Em 2001, a Comissão Pastoral da Terra (CPT)
registrou a presença de 563 trabalhadores em condição
análoga a de escravo, nos municípios de Açailândia,
Buriticupu, Santa Luzia, Bom Jardim e Amarante.6
De janeiro a agosto de 2002, a CPT registrou a
presença de 50 trabalhadores em condição análoga
a de escravidão, no município de Gonçalves Dias.
7 O Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Gertraf
realizou duas operações no Maranhão em 1999 e
outras duas no ano 2000, sem identificar a presença
de trabalhadores em situação degradante ou análoga
à escravidão.8 Em 2001, o Grupo Especial de Fiscalização
Móvel realizou 7 operações no Maranhão, que resultaram
na libertação de 392 trabalhadores encontrados
nessa situação. 9 Em fiscalização realizada na
Fazenda Caru no município de Carutapera, em setembro
de 1999, o Ministério Público do Trabalho constatou
a existência de trabalhadores empregados sem receber
salário e em condições precárias de vida e de
trabalho. Vinte dois trabalhadores desejavam deixar
a fazenda, porém não tinham condição para isso,
diante da falta de transporte e por ser um local
de difícil acesso. 10
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CRIANÇAS E ADOLESCENTES
O número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos
por homicídio aumentou de 77 para 133 entre 1998 e 2000 (crescimento de 72,73%).
O número de mortes por homicídio por 100 mil habitantes na população entre 15 e
24 anos aumentou de 6,5 em 98 para 10,6 em 2000 (+ 63,08%). Um indicador da
probabilidade dos jovens serem mortos é a taxa de vitimização juvenil, que era
de 74,5 em 2000. 11 Em relação à efetivação dos instrumentos de democracia
participativa previstos no ECA, até o final do 1º semestre de 2002, somente 61
(28%) dos 217 municípios contavam com Conselhos Tutelares e 95 (44%) das cidades
não havia instalado os Conselhos Municipais de Direitos, o que revela que no
Maranhão ocorre um flagrante descumprimento do ECA, no que se refere a
implantação desses órgãos. 12 A Defensoria do Estado do Maranhão, buscando
aprimorar o atendimento jurídico à população entre 0 e 18 anos, começou a
instalar, a partir de 2002, sete Núcleos de Atendimento à Criança e ao
Adolescente.13 Os Núcleos contarão com o trabalho de defensores públicos,
advogados, estagiários e pessoal de apoio administrativo, que terão capacitação
específica para atuar na área da infância e juventude. 14
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Exploração
Sexual
No período de fevereiro de 1997 a junho de
2002, o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil
registrou no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração sexual, das quais
89 originaram- se no Estado do Maranhão. Deste total, 34 foram feitas no 1º
semestre de 2002. 15 Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada Pesquisa
Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de
Exploração Sexual Comercial, que constatou a existência no Brasil de 33 rotas de
tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial no
Maranhão, sendo que 24 delas também envolviam mulheres com idade superior a 18
anos. Um quinto de todas as rotas de tráfico brasileiras, envolvendo crianças e
adolescentes, têm origem no Maranhão. 16 Um local de fluxo de tráfico de
mulheres e adolescentes é o Porto de Itaqui, localizado em São Luís. Em outras
situações, as meninas, da capital e do interior, saem de suas casas e vão para
bordéis localizados nas rodovias ou passam a trabalhar em casas de prostituição.
Muitas vezes a prostituição e o tráfico, em especial nas zonas de garimpo (por
exemplo, na cidade de Alta Flores), estão intimamente ligadas a um regime de
"semi-escravidão". 17 A partir de dados dos Conselhos Tutelares e das Delegacias
Especializadas da Mulher, Criança e Adolescente sobre violência sexual nos
município de São Luís, Imperatriz e Caxias foi verificada a ocorrência, entre
janeiro de 2000 e junho de 2001, de 214 casos que vitimaram pessoas entre 0 e 18
anos de idade. A maioria das vítimas eram crianças (entre 0 e 12 anos) e do sexo
feminino. Os agressores, quase que na totalidade do sexo masculino, tinham uma
relação de proximidade com a vítima (sendo os principais agentes: padrasto,
amigo, pai, namorado e vizinho). Um outro dado significativo é que o estupro era
o crime sexual mais freqüente nas cidades de Imperatriz (66%) e de Caxias (46%).
18 Por todos os problemas acima destacados, foi constituído no estado um plano
estadual para enfrentamento da violência e exploração sexual. O plano tem por
principal objetivo "Fortalecer todo o processo de articulação e mobilização para
enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes no Estado do
Maranhão, que tem como concepção a intercomplementaridade de ações
técnico-políticas e financeiras, que garantam a consolidação de uma política
nesta área". Entre as ações já promovidas para o enfrentamento do problema, está
a implantação, em 2001, do Sistema de Atendimento a Casos de Violência Sexual
contra Crianças e Adolescentes.19 O responsável pela execução desse serviço, que
se tornou uma referência para outros estados, é o Centro de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente Pe. Marcos Passerini.
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Caso
dos Meninos Emasculados
No período compreendido entre janeiro de 1999 e
agosto de 2002, 6 meninos foram emasculados no Maranhão, o que configura um
total de 22 meninos vítimas desses crimes desde setembro de 1991, data do
primeiro caso ocorrido. De modo geral, os meninos tinham entre 9 e 15 anos,
estando em período relativo ao final da infância e início da puberdade. Com
exceção de um menino, todos moravam na periferia da Grande São Luis, em lugares
pobres e precários, muitas vezes cercados por matas e com habitações distantes
umas das outras. Esses meninos desapareciam em lugares ermos e pouco
movimentados, sendo depois encontrados torturados, emasculados e assassinados.
Tinham os órgãos sexuais extirpados e diversos membros e órgãos internos do
corpo arrancados. As investigações dos casos têm sido marcadas pela lentidão e
pelo desinteresse em solucioná-los, tanto da polícia quando da justiça. Um caso
exemplar é o de Ranier Silva Cruz, o primeiro dos meninos emasculados,
desaparecido em 17 de setembro de 1991. Em janeiro de 2001, quase dez anos após
sua morte, seu caso foi arquivado pela justiça, sob a alegação de falta de
provas. Havia, porém, um suspeito do crime, inclusive com prisão preventiva
decretada, mas ele não compareceu à delegacia para depor, sendo o caso arquivado
sem seu depoimento. Por isso, o Centro Marcos Passerini e o Centro de Justiça
Global elaboraram uma petição à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OEA). Em 06 de setembro de 2001, a petição foi aceita.
Devido à imensa divulgação na mídia do caso, em outubro de 2001, a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados enviou um representante (o Deputado
Orlando Fantazinni) ao Maranhão para verificar a situação e produzir um
relatório para o Ministério da Justiça. Nesse relatório foi solicitada
autorização para a atuação da Polícia Federal na investigação dos casos. No
entanto, o Gerente da Gerência de Justiça, Segurança e Cidadania do Maranhão
(Raimundo Cotrim) se pronunciou argumentando a não necessidade de participação
da Polícia Federal. Apesar do Governo do Estado se pronunciar a favor dessa
participação, essa intervenção não ocorreu. Além disso, no dia 11 de novembro de
2001, o Gerente declarou à imprensa que a polícia maranhense teria solucionado
13 dos até então 19 casos ocorridos. Essa declaração não corresponde, de forma
alguma, ao que vêm acontecendo com as investigações desenvolvidas. As situações
processuais dos casos se encontram da seguinte forma:
– em 11 casos, a polícia indiciou os suspeitos,
mas somente 4 deles (referentes a 3 casos) estão presos; os outros estão soltos,
foragidos. Nos outros 11 casos a polícia não indicou nenhum suspeito, embora, em
dois deles, haja suspeitos (apesar de constarem nos inquéritos);
– 13 dos 22 casos ainda estão em fase de
Inquérito Policial, não tendo ainda sido remetidos para a Justiça. Desses, 3
inquéritos (de casos de 1991) desapareceram, sendo 1 deles reinstaurado, 1
achado e, o outro, permanece sumido e 4 Inquéritos foram arquivados;
– em 5 casos a causa mortis encontra-se
indeterminada;
– o menino Hermógenes Colares, desaparecido em 7
de setembro de 2000, não teve os restos encontrados pela polícia reconhecidos
por seus familiares como sendo dele. Ainda não foi realizado exame de DNA com a
mãe do menino para verificar se o cadáver encontrado seria mesmo dele.
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Trabalho
Infanto-Juvenil
Segundo o Mapa de Indicativos do Trabalho da
Criança e do Adolescente, em 1999 havia 365.759 crianças e adolescentes na faixa
de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Estado do Maranhão. Deste total, 102.152
(27,93%) trabalhavam na área urbana e 263.607 (72,07%) na rural. O Mapa aponta
que esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes setores: Agropecuária
(289.145) e Comércio (41.189). Ademais, 271.022 (74,27%) não recebiam
remuneração, 26.360 (7,22%) trabalhavam para autoconsumo, 22.244 (6,1%) por
conta própria, 17.298 (4,74%) exerciam trabalho domiciliar e 15.652 (4,29%) eram
empregados. 21 O Centro Marcos Passerini desenvolveu um estudo sobre a situação
do trabalho infanto-juvenil doméstico em São Luís.22 Para traçar o panorama do
problema na capital do Estado foram, preliminarmente, visitadas instituições
responsáveis pela fiscalização e atendimento da demanda.23 Num segundo momento
foram entrevistadas 130 crianças e adolescentes que desenvolviam trabalhados
domésticos. É um fenômeno com forte conteúdo cultural, uma vez que muitas
famílias maranhenses utilizam crianças e adolescentes nessa forma de trabalho,
tendo por base a idéia de ajuda a esse segmento. Em São Luís 81,6%, dos
entrevistados era proveniente do interior do estado, em que a miserabilidade e a
falta de serviços públicos básicos (em especial a educação) são fatores, muito
presentes, que intensificam o fluxo migratório para a capital maranhense.24 As
faixas etárias que mais se concentravam a mão-de-obra infantojuvenil eram de 10
a 14 anos (48,4%) e 15 a 17 (43,9%), e 92,3%, das crianças e adolescentes
entrevistadas eram do sexo feminino. A falta de remuneração,25 a não garantia de
direitos trabalhistas e a defasagem escolar26 foram outras violações constatadas
no estudo que se agregavam ao trabalho infanto-juvenil.
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Medidas
Sócio-Educativas
Conforme dados apresentados no Fórum Nacional de
Defesa dos Direitos da Criança e do adolescente
e pelo Departamento da Criança e do Adolescente
da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério
Justiça, o Maranhão tinha, em março de 2002, 181
adolescentes inseridos em medida sócio-educativa
de liberdade assistida e, no mês de junho, 313
em internação, 121 em internação provisória e
22 em semiliberdade. Do total de adolescentes
sob internação (provisória ou não), 417 eram do
sexo masculino e 17 do feminino. 27 O que mais
chama a atenção no estado é o alto número de adolescentes
sob privação total de liberdade em comparação
àqueles que cumprem a medida de liberdade assistida.
Este fato denota que o Poder Judiciário não vem
respeitando o princípio da excepcionalidade da
medida mais rigorosa do ECA. 28
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MULHERES
No Maranhão, a taxa de homicídio contra as
mulheres foi de 1 por 100 mil habitantes no ano 2000. As mulheres representam
8,5% das vítimas de homicídio. 29 Em quatro Delegacias Especializadas no
Atendimento à Mulher no Estado do Maranhão, foram registradas, em 1999, 7.803
ocorrências policiais. Desse universo, destacam-se os crimes de: lesões
corporais (3.385), ameaça (2.428) e maus tratos (119). No total registrado
também há 284 ocorrências de crimes sexuais, sendo 171 de estupro, 68 tentativas
de estupro e 45 atentados violentos ao pudor. 30 Em São Luiz, somente no ano de
2001, a polícia registrou 164 ocorrências de estupros e 60 atentados violentos
ao pudor. 31
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AFRO-DESCENDENTES
A população afro-descendente (4.146.076)
representa 73,36% da população do estado, proporção superior à média da Região
Nordeste. Na população afro-descendente, 9,52% se declararam negros e 63,84%
pardos. 32 Existem comunidades remanescentes de quilombos que estão sendo
deslocadas da região de Alcântara, para a construção de uma base espacial. Esse
processo inviabiliza a subsistência de centenas de famílias, que estão sendo
deslocadas para as chamadas "agrovilas", que correspondem a lotes individuais
para cada família, dificultando a gestão coletiva da terra, impróprios para a
agricultura e longe dos locais de pesca. Além disso, por não terem recebido
título de propriedade estão impedidos de construir novas casas, dificultando a
possibilidade de expansão familiar e aumentando o êxodo das famílias para
regiões urbanas. Todo processo de construção da base também tem gerado conflitos
e destruição ambiental. 3 3
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INDÍGENAS
O Maranhão tem uma população de 16.845 indígenas,
distribuídos em 7 povos indígenas.34 Estima-se que tenha a 7ª maior população
indígena do país. 35 O Estado tem 19 áreas indígenas, que se encontram na
seguinte situação jurídica: 36]
Situação |
No. de Terras Indígenas |
A identificar |
2 |
Em identificação |
1 |
Declaradas |
2 |
Registradas |
14 |
Em julho de 1999, os Krikati tiveram a área de
sua terra diminuída em 20 mil hectares, através de despacho ministerial,
resultante de um processo iniciado pelo invasor da terra indígena. Antes disso,
os Krikati vinham enfrentando, há pelo menos quinze anos, uma longa luta no
processo de regularização de sua terra, que é explorada por fazendeiros locais,
por madeireiros e também por carvoarias. Em 1992, após a realização de estudos
técnicos, tiveram seu território de 146 mil hectares declarado como área
indígena. No entanto, a demarcação não foi homologada. Os indígenas, cansados de
tanto esperar, e após pressionarem muito, começaram eles mesmos a demarcar
fisicamente a área. O governo, por sua vez, alegou considerar problemática essa
demarcação precária e traçou novo mapa, que diminuía a área indígena em 30 mil
hectares. Até que, em julho de 1999, o Ministério da Justiça determinou a
redefinição de uma linha divisória da área, diminuindo-a em 20 mil hectares. Em
agosto de 2002, a terra ainda não havia sido nem homologada. 37 Uma área
indígena que fica entre os estados do Maranhão e do Pará e na qual vivem os
povos Tembé, Timbira e Kaapor vem sofrendo muito com as invasões dos
madeireiros. Há pelo menos 14 anos os indígenas se deparam com esse problema,
que não é resolvido não obstante as inúmeras liminares de desintrusão de área
que já foram concedidas. 38
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Violências
Um caso muito grave de condições de sobrevivência
relaciona-se com o povo Guajá. Até julho de 1999,
acreditava-se que 60 indígenas Guajá ainda sobreviviam.
Trata-se de um grupo não contatado e nômade, que
vive da caça e da pesca, e que necessita, assim,
que suas terras sejam devidamente demarcadas para
que possam continuar a sobreviver. O processo
de demarcação de suas terras, porém, foi suspenso
devido à interferência dos invasores (colonos,
fazendeiros e madeireiros), sendo que o prazo
para utilização do dinheiro que estava à disposição
do governo para fazer essa demarcação acabou em
junho de 2000, sem que a terra fosse demarcada.
3 9 Outro caso muito grave de condições de sobrevivência
diz respeito às condições sanitárias dos indígenas
Kanela e Guajajara. Em junho de 1999, a Funai
elaborou um relatório, após seus técnicos terem
visitado 11 aldeias indígenas. Destas, 6 foram
consideradas em "estado de emergência".
Muitos indígenas estavam bebendo água de lamaçais
e de poços com fezes em volta, sendo que 66% dos
atendimentos ambulatoriais da região correspondiam
a atendimentos de doenças parasitárias e infecciosas
entre os indígenas. O caso mais grave era o da
aldeia Santa Maria, onde o açude estava totalmente
seco, sendo que o açude próximo, usado pelos indígenas,
estava com água barrenta, quase acabando e com
fezes de animais em volta. 4 0 Outro problema
muito sério sofrido pelos indígenas Guajajara
está relacionado com o tráfico de drogas. Desde
o começo da década de 90 que os traficantes vêm
invadindo suas terras para plantar maconha, valendo-se,
assim, da fragilidade da fiscalização e da política
indigenista oficial. Para obter o apoio dos indígenas
com o tráfico, os traficantes estariam até passando
a viver com as índias. 4 1 Também os indígenas
Awa vêm enfrentando problemas, tendo seu modo
de vida ameaçado pelo desflorestamento da Amazônia.
Agricultores e madeireiras começaram a explorar
as terras amazônicas, sendo que uma nova linha
ferroviária abriu caminho para os posseiros conseguirem
chegar no local onde vivem esses indígenas, no
interior do estado do Maranhão. O resultado disso
foram retiradas de madeira e queimadas. A terra
transformada em pasto e dividida em dois pedaços,
o que afetou drasticamente os modos de vida desses
indígenas, que sempre caçaram e viveram como nômades.
Como conseqüência disso, alguns indígenas passaram
a viver escondidos no que restou da floresta.
Outros (230 indígenas) passaram a viver em aldeias
supervisionadas pela Funai, em clima de completa
insegurança. 42
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GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS
E TRANSEXUAIS
Em 2000 foram registrados 3 homicídios homofóbicos,
praticados contra gays. 43
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1 Resolução nº 6/02 do CEDCA/MA, aprovada em
Plenária Extraordinária de 16 de maio de 2002.
2 Centro de Justiça Global (www.global.org.br).
3 O Estado de S. Paulo, 15 de dezembro de 2000,
Cidades, C6, "Greve põe policiais e sindicalistas lado a lado". 4 Ministério da
Justiça, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional
(www.mj.gov.br/depen/default.htm).
5 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil
2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT
(www.cptnac.com.br).
6 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 2001.
7 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no
Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo –
Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT
(www.cptnac.com.br).
8 Ministério do Trabalho e Emprego, A
Experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel 2002.
9 Idem.
1 0 Ministério Público do Trabalho, Relatório de
Atividades 2001 – Trabalho Escravo/Forçado.
11 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação
entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de
homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a
concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a
este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais
grupos da população.
1 2 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
1 3 A criação dos Núcleos foi possível após ter
sido firmado o Convênio nº 096/2001 com a Secretaria de Estado de Direitos
Humanos do Ministério da Justiça. As cidades a terem os Núcleos são: Bacabal,
Caxias, Imperatriz, Paço do Lumiar e São Luís.
1 4 Os Seminários e Cursos para a
capacitação dos profissionais e estudantes foram realizados entre agosto e
novembro de 2002 e contaram com a presença de estudiosos e pessoas com
reconhecida atuação na área da Infância e Juventude.
15 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na
introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso
sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial
(compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a
pornografia).
1 6 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e
Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico
de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial
(Brasília: CECRIA, 2002).
1 7 Idem.
1 8 Fundação da Criança e do Adolescente
(FUNAC), Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes em São Luís, Imperatriz
e Caxias. (São Luís: FUNAC, 2002).
1 9 Cite-se, também, como iniciativas de
mobilização e discussão sobre a temática: "Seminário Sobre Violência Sexual
Contra Crianças e Adolescentes: Nem Sempre Quem Cala Consente"; e a ação do
Grupo de Apoio às Comunidades Carentes do Maranhão (GACC.MA).
20 Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente Pe. Marcos Passerini. Dossiê dos Casos dos Meninos Emasculados do
Maranhão – 1991/2002, São Luis, 2002 (última revisão em 20 de fevereiro de
2002).
2 1 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de
Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p 46.
O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes
conforme o Estado. No Maranhão foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15
anos nas atividades de: Agricultura Canavieira; Agropecuária; Catadores de Lixo;
Coleta e Quebra de Coco Babaçu; Comércio (Ambulante; e Varejista); Extração de
Carne de Carangueijo; Extração e Quebra de Pedras em Pedreiras;
Hortifruticultura; Indústria Movelaria e Assemelhados; Produção (de Carvão
Vegetal; e de Farinha de Mandioca); Serviços Diversos (Convênios e Programas
Educativos/Sociais e Guardas Mirins); e Serviços (Domésticos; em Cerâmicas e
Olarias; em Madeireiras e Serrarias; e em Oficinas Mecânicas).
2 2 Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente Pe. Marcos Passerini. Dossiê dos Casos dos Meninos Emasculados do
Maranhão – 1991/2002, São Luis, 2002 (última revisão em 20 de fevereiro de
2002).
2 3 O levantamento, preliminar, foi realizado nos
Conselhos Tutelares (do Centro e de Itaqui-Bacanga), Juizado da Infância de
Juventude (1ª Vara), SOS Criança da FUNAC, Delegacia Regional do Trabalho e
Sindicato das Trabalhadoras Domésticas. Contudo, "no levantamento não foi
possível identificar um número elevado de denúncias, devido essas instituições
terem dificuldade na sistematização dos dados e também na catalogação do
trabalho doméstico de crianças e adolescentes enquanto violação para efeito de
registro específico. Este fato impossibilitou dimensionar o número de casos, uma
vez que geralmente as denúncias são classificadas enquanto uma outra violação de
direitos".
2 4 Neste fluxo (interior-capital) a forma mais
tradicional de vida dessas crianças e adolescentes é a cultura do
apadrinhamento, "em que os pais da criança escolhem um padrinho para os filhos,
preferencialmente uma pessoa que tem mais recursos que eles". "Muitas vezes o
entendimento da menina ou do menino trabalhador doméstico é que seus
empregadores são seus tios, quando não têm nenhuma ligação biológica ou afetiva,
já que conforme entendem, essa família fez um favor ou uma caridade ao lhe
receber em sua residência" , p.29
2 5 Segundo o estudo: 66% recebiam apenas
objetos, como "roupas calçados, material escolar, produtos de higiene pessoal e
até brinquedos"; "3,1% afirmaram não receber nenhuma forma de pagamento, tendo
garantida apenas a moradia, a escola e a alimentação"; e apenas 3 entre 130
entrevistados recebiam valor igual ou superior a um salário mínimo (entre estas
três, uma trabalhava em duas casas, por isso o valor era superior a um salário
mínimo)
2 6 95,4% das crianças e adolescentes
pesquisadas apresentavam defasagem escolar "na relação idade/série prevista na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que prevê a idade de 07 a 14 anos para a
conclusão do ensino fundamental", p.28.
2 7 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
2 8 O Estatuto da Criança e do Adolescente,
no art. 122, estabelece que a aplicação da medida de internação só será possível
nas seguintes hipóteses: quando o ato infracional for cometido mediante grave
ameaça ou violência a pessoa; se houver reiteração no cometimento de outras
infrações graves; ou se o jovem descumpre reiterada e injustificavelmente medida
anteriormente imposta. Além dessas condições, o juiz deverá observar o que
dispõe o parágrafo 2º do mesmo artigo 122 do ECA que estabelece que: "em nenhuma
hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada".
2 9 Waiselfisz, J.J., Mapa da Violência III
(Brasília: Unesco, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002). 3
0 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - Pesquisa Nacional sobre as
Condições de Funcionamento das Delegacias Especializadas no Atendimento às
Mulheres. Relatório da pesquisa disponível no web-site da
entidade(www.mj.gov.br/sedh/cndm). 3 1 Ministério da Justiça, Secretaria
Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).
3 2 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br).
3 3 Rede de Direitos Humanos
(www.dhnet.org.br/inedex.htm).
3 4 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org).
35 Conselho Indigenista Missionário
(www.cimi.org.br),que informa ter esse estado uma população de 16.352 indígenas.
3 6 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção
das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de
2002).
37 Conselho Indigenista Missionário - CIMI,
Informe n.º 370, de 22 de julho de 1999; ISA, Os Povos Indígenas no Brasil
1996-2000, "A não regularização da terra Krikati: até quando?", Maria Elisa
Ladeira, p. 670-672; e web-site do ISA:
www.socioambiental.org.
3 8 Conselho Indigenista Missionário, Informe n.º
370, de 22 de julho de 1999.
3 9 Conselho Indigenista Missionário, Informe n.º
371, de 29 de julho de 1999; e ISA, Os Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, p.
686 (Survival para Povos Indígenas, 31 de julho de 2000 , "Survival exige de FHC
demarcação de terra"; CB, 02 de setembro de 2000, "Briga na justiça atrasa
demarcação").
4 0 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas
no Brasil 1996-2000, p. 687 ("Funai revela situação dramática dos Kanela e
Guajajara", O Popular, 15 de junho de 1999).
4 1 Conselho Indigenista Missionário,
Informe n.º 371, de 29 de julho de 1999; e ISA, Os Povos Indígenas no Brasil
1996-2000, p. 687 (OESP, 27 de julho de 1999, "PF incinera maconha em aldeia
indígena").
4 2 The independent, 28 de fevereiro de 2002; "A
agropecuária toma o lugar da floresta e acaba com o modo de vida de uma tribo".
4 3 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa Mortis:
Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil
– 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001).
PARAÍBA
VIOLÊNCIA
POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÊNCIA RURAL
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS
POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
INDÍGENAS
PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
GAYS,
LÉSBICAS, TRANSEXUAIS E BISSEXUAIS
O Estado da Paraíba,
situado a leste da Região Nordeste, faz divisa
com os estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco
e Ceará. Sua capital é João Pessoa e a economia
se baseia na agricultura (cana-de-açúcar, abacaxi,
mandioca, milho, feijão), na indústria (alimentícia,
têxtil, de açúcar e álcool), na pecuária e no
turismo. Em razão da violência rural existente
no estado, a Assembléia Legislativa instalou uma
Comissão Parlamentar de Inquérito em 2001. O envolvimento
e a omissão de agentes do estado diante da violência
rural tem sido denunciada por organizações da
sociedade civil. Outro grande problema verificado
no estado se refere à exploração sexual de crianças
e adolescentes. Em 1997, CPI da Prostituição,
instalada no estado, apontou Campina Grande como
maior pólo de aliciamento de meninas. Como fruto
da CPI foi desmontada boa parte da rede de prostituição.
Contudo, nos últimos anos percebese que o município
de Patos passou a ser esse foco central de aliciamento
e a capital, João Pessoa, assim como na década
de 1990, manteve-se como local de destino das
meninas prostituídas. No Estado da Paraíba, destaca-se
o Movimento do Espírito Lilás que, trabalhando
no sentido de coibir a violência praticada contra
homossexuais, vem promovendo ações para mobilizar
a comunidade homossexual e sensibilizar a população
para a importância do respeito à diversidade.
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VIOLÊNCIA POLICIAL,
EXECUÇÕES, TORTURA
O relatório Execuções Sumárias, Arbitrárias
ou Extrajudiciais – Uma aproximação da Realidade
Brasileira aponta a atuação de um grupo de extermínio,
que teria sido responsável pelo assassinato de
mais de vinte pessoas, entre 1997 e 1999, nas
cidades de Pedras de Fogo e Jacupiranga. 1 Soldados,
cabos e sargentos da polícia militar realizaram
greve por melhores salários, com a duração de
dezoito dias, em setembro de 1999. O Exército
foi chamado a intervir para conter a greve e garantir
a segurança em João Pessoa. 2
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO
Embora a população carcerária tenha
diminuído entre o período de abril de 2001 a junho de 2002 em 20,49 %, o sistema
prisional da Paraíba está superlotado. Tanto na proporção geral entre vagas e
número de presos que estão no sistema, 1.908 vagas para 3.151 detentos; quanto
na proporção de vagas para regimes específicos e número de detentos cumprindo
penas nesses regimes, sempre há um excedente de detentos. É no regime fechado
que a superlotação é maior: são 1.537 vagas para 2.530 presos condenados a
cumprir pena nesse regime. 3 Mesmo sob a custódia do estado, não está
salvaguardada a integridade física dos detidos no sistema prisional. Sem
capacidade de defesa, podem sofrer violência dos outros detentos, dos agentes
penitenciários e ainda de agentes externos que invadem o espaço de
encarceramento sem dificuldades e cometem chacinas, eliminando desafetos e
arquivos vivos. A Pastoral Carcerária da Arquidiocese da Paraíba tem denunciado
casos de tortura e maus tratos de detentos que ocorrem no sistema prisional da
Paraíba. No dia treze de maio de 1999, doze homens, alguns encapuzados,
fortemente armados, invadiram a cadeia da cidade de Alhandra. Obrigaram o
carcereiro a abrir as celas um e dois e dispararam vários tiros contra os presos
que se encontravam nessas celas. Cinco detentos morreram e oito ficaram feridos.
O motivo da chacina teria sido vingança. Três homens suspeitos de envolvimento
na morte de um policial no distrito de Mata Redonda estavam presos em Alhandra.
4
A Pastoral Carcerária foi chamada a apurar as denúncias
de espancamento decorrente da reclamação dos detentos
sobre a forma que são realizadas a revista íntima
em mulheres. No dia 03 de junho de 2002, 9 presos
foram espancados, algemados e semi-nus, pelos
agentes de segurança da Penitenciária de Segurança
Máxima Dr. Geraldo Beltrão. As péssimas condições
de habitabilidade também são denunuciadas pelos
presos. Os detentos se encontravam apenas de cueca,
reclamavam do frio, da umidade da cela sem colchão
e lençol. 5 No dia 17 de julho de 2002, uma equipe
formada por representantes de entidades de direitos
humanos realizou outra visita à mesma penitenciária.
Foi constatado o constrangimento a que são submetidas
as visitas, com a revista íntima realizada em
todas as mulheres, inclusive idosas e crianças.
Também foi encontrada a cela do castigo (isolado),
na qual se encontravam cinco detentos, inclusive
um com cirurgia do tórax recente, todos dormindo
no chão e reclamando do frio e das péssimas condições
da cela. 6 Em visita ao Brasil, no ano de 2000,
o Relator Especial da Organização das Nações Unidas
para a Tortura, Nigel Rodley, observou a prática
de tortura no Estado da Paraíba, citando seis
casos no seu relatório, registrados entre 1997
e 2000, todos envolvendo policiais e/ou militares.
Em um dos casos, na Penitenciária Sílvio Porto,
em João Pessoa, 24 presos teriam sido espancados
por policiais em 12 de julho de 2000. 7
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VIOLÊNCIA RURAL
Na Paraíba, o número de conflitos rurais
passou de 35 em 1999 para 46 em 2000 e 43 em 2001.
O número de pessoas envolvidas passou de 14.200
em 1999 para 33.040 em 2000 e 18.435 em 2001.
Apenas um assassinato foi registrado no período,
em 1999. 8 Segundo informações da Comissão Pastoral
da Terra da Paraíba, o estado vem enfrentando
a atuação de grupos armados, com a participação
de policiais civis e militares. Os agentes da
polícia, na história recente da Paraíba, estão
envolvidos nos assassinatos de trabalhadores rurais
e suas lideranças, como são os casos de João Pedro
Teixeira e Margarida Maria Alves. 9 No início
de 2001, o Deputado Frei Anastácio requereu à
Assembléia Legislativa a instalação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito – CPI, para apurar a
violência contra os trabalhadores rurais da Paraíba.
Nessa CPI, foram levantados vários casos de violações
cometidas contra trabalhadores rurais no estado.
Um deles foi o do trabalhador J. F. da S., ocorrido
no dia 24 de março de 2001. No trajeto para o
acampamento dos sem-terra, J.F sofreu tentativa
de homicídio praticada por duas pessoas não identificadas
que estavam em uma moto. Segundo as informações
prestadas pela vítima, um dos estranhos sacou
um revólver e efetuou três disparos, que atingiram
o pára-lama da bicicleta que conduzia e a pochete
que portava. A vítima teria encontrado dificuldades
em registrar a ocorrência na Delegacia de Pilar,
sendo que o Delegado queria, ainda, cobrar pela
cópia da certidão da ocorrência. Outro caso citado
na CPI foi o do trabalhador rural Almir Muniz
da Silva da Fazenda Tanques, que se encontra desaparecido
desde o dia 29 de junho de 2002. Segundo informações
da CPT, Almir foi visto pela última vez entrando
sozinho na estrada de canavial próxima à Fazenda
Tanques. Há suspeitas de que ele tenha sido vítima
de emboscada, cuja autoria é atribuída ao policial
civil Sérgio Azevedo, proprietário da Fazenda.
Conforme as informações, a Fazenda Tanques vem
sendo palco de conflitos, desde que o Incra passou
a vistoriá-la a pedido de um grupo de agricultores
do qual Almir fazia parte. Por causa desse conflito,
não haveria passagem tranqüila pela Fazenda Tanques,
e muitas pessoas já estavam sofrendo ameaças.
As suspeitas recaem ainda mais sobre Sérgio Azevedo
pois teria, ele, declarado que até o final de
junho daria "fim" em Almir. Boatos na
cidade indicam que Sérgio Azevedo estaria declarando
"ter matado um sem terra com oito tiros e
depois passado por cima dele com a agrade do trator,
e isto seria apenas o primeiro, depois morreriam
outros, pois ele era policial e se sentia acobertado
por gente importante: Dr. Júlio Paulo Neto (ex-Procurador
Geral da Justiça), o Secretário de Segurança Pública
e o Governador do Estado". Por várias vezes
a CPT teria denunciado Sergio Azevedo à Secretaria
de Segurança Pública, mas nenhuma providência
teria sido tomada. A situação tende a se agravar
uma vez que tem aumentado o número de capangas,
fortemente armados, na Fazenda. Foi enviado, também,
ofício ao Governador do Estado. As proporções
que vêm tomando esses conflitos rurais têm preocupado
a CPT, cogita-se, inclusive, a existência de um
suposto plano para executar o Frei Anastácio Ribeiro,
deputado estadual e coordenador da Comissão Pastoral
da Terra na Paraíba. Essa tentativa de assassinato
estaria vinculada às atividades do religioso,
que teria denunciado um policial civil por suposto
envolvimento em atos de tortura e violência relacionados
às disputas de terra.
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LIBERDADES
CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS
Nas eleições
realizadas no dia 27 de outubro de 2002, quatro
municípios desse estado receberam a proteção das
Forças Armadas. 10
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CRIANÇAS E ADOLESCENTES
O número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos
por homicídio aumentou de 138 para 213 entre 1998
e 2000. O número de mortes por homicídio por 100
mil habitantes na população entre 15 e 24 anos
aumentou de 19,8 em 98 para 29,9 em 2000. A taxa
de vitimização juvenil era de 98,9 em 2000, taxa
significativa se comparada com a taxa nacional
de vitimização juvenil de 92,7. 1 1 Em relação
à efetivação dos instrumentos de democracia participativa
previstos no ECA, até o final do 1º semestre de
2002, somente 26% dos 223 municípios contavam
com Conselhos Tutelares. O que significa que no
Estado ocorria um flagrante descumprimento do
ECA no que se refere a implantação desses órgãos.
Quanto aos Conselhos Municipais de Direitos a
situação era um pouco melhor, porém em 45% das
cidades não estava instalado. 12 Exploração Sexual
No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002,
o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual
Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de
3.295 denúncias de exploração sexual, das quais
23 originaram- se no Estado da Paraíba. Deste
total, 6 foram feitas no 1º semestre de 2002.
13 Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada
Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças
e Adolescentes para fins de Exploração Sexual
Comercial14, que constatou a existência no Brasil
de 172 rotas de tráfico de crianças e adolescentes
para fins de exploração sexual comercial. Tinham
origem no Estado da Paraíba duas rotas que envolviam
exclusivamente crianças e/ou adolescentes. Campina
Grande era o maior pólo estadual de aliciamento
de crianças e adolescentes para prostituição até
1997, quando a Assembléia Legislativa Estadual,
instalou a CPI da Prostituição. Nos anos seguintes,
o foco central de aliciamento migrou para o município
de Patos, apesar de Campina Grande ainda se manter
na rota de exploração. O relatório da VII Caravana
Nacional de Direitos Humanos, realizado pela Comissão
de Direitos Humanos da Câmara Federal, descreve
que a rota "se inicia em Patos, passa por
Campina Grande, João Pessoa e se ramifica através
dos Estados de Pernambuco (Recife) e Rio Grande
do Norte (Natal)"15. Muitas adolescentes
de cidades pequenas do interior da Paraíba, com
promessas de ingresso na carreira de modelo, se
dirigem a Patos e lá são aliciadas para a prostituição.
Os organismos estatais, Prefeitura de Patos ou
a Polícia, mesmo diante da grave situação instalada
no município, não agiam para coibi-la, o que,
segundo a VII Caravana, indicava o "descaso
das autoridades locais". Dos depoimentos
das adolescentes prostituídas em Patos, verifica-se
que o fenômeno está mais relacionado a uma cultura
de consumo e sua clientela é composta, em geral,
por homens de classe média. Em João Pessoa, há
outro grande foco de prostituição. A realidade
difere de Patos em vários aspectos: a prostituição,
por ser um meio de lucro fácil, atrai vários adolescentes
e até crianças. Crianças muito pobres, vindas
de bairros e localidades carentes em torno da
capital, podem ser encontradas nos inúmeros pontos
de prostituição: desde o Terminal Rodoviário,
passando pelo Mercado Central, várias praças,
chegando a prostíbulos requintados como a Granja
do Gaúcho. A clientela também é diversificada,
sendo que, a maioria das denúncias aponta que
a "clientela é a de renda mais baixa",
o que fornece um quadro da miséria em que essas
crianças transitam, vivendo muitas das vezes na
rua. Algumas chegam a ser pressionadas pela própria
família a se prostituírem, para contribuir com
o sustento da família. 1 6 Diante da gravidade
dos casos relatados pela VII Caravana, a Comissão
de Direitos Humanos da Câmara Federal, além de
outras providências no âmbito estadual e nacional,
encaminhou o relatório à Comissão Interamericana
de Direitos Humanos, em maio de 2002. 17 Trabalho
Infanto-Juvenil Segundo o Mapa de Indicativos
do Trabalho da Criança e do Adolescente, em 1999
havia 124.989 crianças e adolescentes na faixa
de 5 a 15 anos de idade trabalhando no Estado
da Paraíba. Deste total, 36.287 (29,03%) trabalhavam
na área urbana e 88.702 (70,97%) na rural. O Mapa
aponta que esse grupo ocupava, com maior freqüência,
os seguintes setores: Agropecuária (90.717) e
Comércio (11.592). Ademais, 76.103 (61,13%) não
recebiam remuneração, 12.600 (10,12%) eram empregados,
12.599 (10,12%) trabalhadores domiciliares e 10.583
(8,5%) trabalhavam para autoconsumo. 1 8 Medidas
Sócio-Educativas Conforme dados apresentados no
Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança
e do Adolescente e pelo Departamento da Criança
e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos
do Ministério Justiça, o Estado da Paraíba tinha,
em março de 2002, 168 adolescentes inseridos em
medida sócioeducativa de liberdade assistida e,
no mês de junho, 179 em internação, 26 em internação
provisória e 9 em semiliberdade. De 205 adolescentes
sob internação (provisória ou não), 199 eram do
sexo masculino e 6 do feminino.1 9 Assim como
em outros estados da Região Nordeste (como Maranhão
e Sergipe), percebe-se que o Poder Judiciário
vem invertendo o princípio da excepcionalidade
da internação, tornando-a regra. 2 0 MULHERES
Na Paraíba, a taxa de homicídios contra as mulheres
é de 2,5 por 100 mil habitantes no ano de 2000.
As mulheres representam 8,7% das vítimas de homicídios.21
Em João Pessoa, a polícia registrou 25 ocorrências
de estupro e 11 atentados violentos ao pudor em
1999, 26 estupros e 9 atentados violentos ao pudor
em 2000, e 59 estupros e 44 atentados violentos
ao pudor em 2001. 22 Em três Delegacias Especializadas
no Atendimento à Mulher no Estado da Paraíba,
foram registradas 501 ocorrências policiais em
1999. Destas, foram 139 ameaças (27,74%), 4 atentados
violentos ao pudor (0,80%), 3 homicídios (0,60%),
2 tentativas de homicídios (0,40%), 245 lesões
corporais (48,90%), 2 lesões corporais culposas
(0,40%), 2 maus-tratos (0,40%), 12 estupros (2,40%)
e 14 vias de fato (2,79%). 23 Informações do Centro
da Mulher 8 de Março, com base em notícias dos
jornais "Correio da Paraíba", "O
Norte", "Diário da Borborema" e
"A União" sugerem o aumento da violência
contra a mulher no estado. No ano 2000, foram
registrados 21 casos de agressão, 5 ameaças de
morte, 52 estupros, 14 tentativas de estupro,
57 homicídios e 16 tentativas de homicídios. Em
2001, foram 171 casos de agressão, 42 ameaças
de morte, 81 estupros, 19 tentativas de estupro,
62 homicídios e 19 tentativas de homicídios. De
janeiro a junho de 2002, foram 44 casos de agressão,
22 ameaças de morte, 33 estupros, 20 tentativas
de estupro, 39 homicídios e 20 tentativas de homicídios.
24 Em junho de 2001, o Tribunal de Justiça da
Paraíba julgou e absolveu o agropecuarista José
Buarque Gusmão Neto (Zito Buarque), acusado de
ter sido o mandante do assassinato da líder sindical
Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato
de Trabalhadores Rurais, acontecido em agosto
de 1983. 25 AFRO-DESCENDENTES A população afro-descendente
(2.044.793) representa 59,38% da população do
estado, proporção inferior à média da Região Nordeste.
Na população afrodescendente, 4,07% se declararam
negros e 55,30% pardos. 2 6 Por intermédio da
Curadoria de Defesa dos Direitos do Cidadão foi
criado o Disque Racismo, resultado de uma parceria
entre a Pastoral do Negro, o Movimento Negro,
o Conselho de Psicologia da Paraíba e do Rio Grande
do Norte, e o Ministério Público. Com o objetivo
de orientar o processo de reeducação, tanto do
agressor quanto da vítima em casos de discriminação
racial, o Disque Racismo presta atendimento jurídico
e psicológico à vítima. Os casos denunciados que
chegam à justiça são acompanhados pelos advogados
até a resolução do conflito. Até novembro de 2002,
o Disque Racismo recebeu 51 denúncias, sendo que
15 delas foram encaminhadas para a Curadoria de
Defesa dos Direitos do Cidadão. Algumas ações
de discriminação são promovidas por afro-descendentes
contra afro-descendentes. Um caso citado pela
entidade exemplifica o encaminhamento dado para
casos como estes. O caso é referente a um funcionário
da Universidade Federal da Paraíba que tinha o
hábito de contar piadas racistas, até que uma
outra funcionária, cujo marido é afro-descendente,
ouviu uma dessas piadas. Ela o denunciou ao Disque
Racismo que tomou a providência de procurá- lo
e tentar solucionar esse conflito. Uma vez que
ele também é afro-descendente a entidade sugeriu
que participasse das atividades promovidas nos
grupos de cultura afro-descendente que são parceiros
do Disque Racismo. Como resultado da mediação
do conflito ficou acordado que ele iria pedir
desculpas públicas no setor em que trabalhava
e ajudaria a organizar a semana da consciência
afro-descendente na Universidade. A proposta da
instituição é inovadora porque utiliza mecanismos
alternativos para construir uma sociedade que
valorize a igualdade de direitos e respeite a
diversidade de todos os grupos raciais, étnicos
e culturais.
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INDÍGENAS
A Paraíba tem apenas um povo indígena, os
Pitiguaras, que tem uma população de 7.575 indígenas.
2 7 Estima-se que tenha a 14ª maior população
indígena do país. 2 8 O Estado tem três áreas
indígenas, sendo uma em processo de identificação
e duas já registradas. 29 Na área indígena de
Monte-Mor, ainda não declarada como terra indígena,
as 48 famílias indígenas que lá residem enfrentam
situações de difíceis condições de sobrevivência.
Nessa área, encontram se empresários e fazendeiros,
que mantém atividades como usinas e canaviais.
Como resultado dessa ocupação, devido ao emprego
de fertilizantes e à exploração intensiva do solo,
os indígenas não conseguem desenvolver sua agricultura
tradicional, baseada no uso sustentável dos recursos
fundiários. Além disso, são proibidos de arrancar
qualquer pedaço de madeira, ou de pegarem insumos
já utilizados e de levantar roçados em áreas anteriormente
ocupadas por canaviais. São também constantes
os casos de ameaça de morte, destruição de casas
e prisões arbitrárias cometidas pelos vigias das
usinas e fazendas contra os indígenas. A atividade
canavial atinge também os manguezais e os polui,
matando caranguejos e peixes, e atingindo assim
atividades de subsistência dos indígenas. Como
resultado dessa situação, os indígenas acabam
aceitando o trabalho assalariado nos canaviais,
o que tem sérias conseqüências. Ficam em contato
direto com agrotóxicos, o que pode gerar problemas
de saúde. Além disso, muitas vezes os indígenas
têm problemas para receber seus direitos (férias,
fundo de garantia e etc.), situações em que recorrem
ao advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
A área de Monte-Mor é a última área dos Potiguaras
da Paraíba que ainda falta ser reconhecida. Desde
o ano de 1883 os indígenas Potiguara vêm obtendo
algumas vitórias no sentido do reconhecimento
das terras que habitam desde antes da chegada
dos portugueses. Nesse ano, obtiveram a posse
permanente de mais de 21 mil ha de suas terras.
Uma parte significativa de suas terras foi deixada
de lado até que, em 1988, outros 4.500 ha foram
identificados. No entanto, a terra de Monte-Mor,
de 5,3 mil hectares, continuou sem ser reconhecida.
Em 1993 iniciou-se um processo de demarcação dessas
terras, mas que foi interrompido pelo Ministério
de Justiça, em 1999, como resultado do acatamento
da contestação apresentada no processo e que havia
sido considerada improcedente pela Funai. O Ministro
da Justiça propôs a desaprovação da identificação,
o arquivamento do processo e o retorno dos autos
à Funai, para proceder novos estudos que excluíssem
as propriedades dos contestantes. Os Potiguaras
recorreram desse despacho e obtiveram decisão
judicial que o refutava e intimava a Funai a providenciar
novos estudos de identificação. Um novo estudo
foi feito entre janeiro e abril de 2000, tendo
como resultado o acréscimo de 600 ha em relação
à extensão proposta na primeira identificação.
A área ainda não foi demarcada, encontrando-se,
atualmente, em fase de identificação. 3 0 IDOSOS
A Paraíba tinha, em 2000, uma população de 350.566
idosos.31 Seguindo a tendência nacional, a população
de idosos cresceu em relação às demais faixas
etárias da população, passando de 9,1% da população
total em 1991 para 10,2% em 2000. A proporção
de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos
relativamente à população total é a mais alta
entre os estados da Região Nordeste, indicando,
ainda mais, a importância de políticas públicas
para essa faixa etária.
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PORTADORES
DE DEFICIÊNCIA
A população de portadores de deficiência
(653.111) representa 18,96% da população da Paraíba.
É o estado que tem a segunda maior população de
portadores de deficiência, proporcionalmente à
população total, na Região Nordeste e no país,
inferior apenas a do Maranhão. 3 2 Em João Pessoa,
a 5ª Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça
do Trabalho, em ação movida pela Procuradoria
Geral do Trabalho, impediu a dispensa de mais
de 100 pessoas portadoras de deficiência pela
Telemar e determinou a destinação de 4% dos 733
postos de trabalho da empresa para portadores
de deficiência. Em Campina Grande, a 1ª Vara da
Justiça do Trabalho determinou que o Carrefour
destinasse 3% dos postos de trabalho para pessoas
portadoras de deficiência. 3 3
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GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS
E TRANSSEXUAIS
O Movimento do Espírito Lilás (MEL) é uma
organização da sociedade civil, criada em março
de 1992, com a preocupação em enfrentar a problemática
da Aids. Atualmente, o MEL se dedica à proteção
e promoção dos direitos e da cidadania. 34 Em
2001, segundo dados do Movimento Espírito Lilás,
foram registrados sete homicídios homofóbicos
no estado, sendo quatro contra gays, dois contra
travestis e um contra lésbica. As formas utilizadas
foram diversas esfaqueamento, pauladas, e disparo
de arma de fogo. 35 No dia 08 de junho de 2002,
foi realizada pelo MEL, com apoio de diversas
instituições locais, a 1ª Parada pela Diversidade
Sexual em João Pessoa, em comemoração ao Dia Mundial
do Orgulho Gay (28 de junho), conseguindo reunir
cerca de duas mil pessoas, de várias regiões do
Nordeste. 36 Em 2002, foram registradas as ocorrências
de 3 assassinatos no estado, sendo uma das vítimas
bissexual e duas vítimas homossexuais. Um dos
homicídios foi causado por espancamento e tiro,
e outro por tiro (não há informações sobre o terceiro).3
7 Em 2001, um homossexual de 29 anos foi espancado
com socos, paus e pontapés por pessoas que suspeitavam
que estivesse com Aids e contaminando outras pessoas
com uma seringa com sangue. Outra pessoa, também
de 29 anos, foi espancada em João Pessoa, por
boatos desse tipo. 3 8
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1 Piovesan, Flávia, Cavallaro, James Louis, Lima
JR., Jayme Bevenuto (Organizadores). Execuções Sumárias, Arbitrárias ou
Extrajudiciais. Recife, 2002.
2 O Estado de S. Paulo, 21 de outubro de 2000,
Cidades, C5, "Última paralisação da PM ocorreu no mês passado".
3 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/depen/default.htm).
4 Dossiê enviado à Comissão Teotônio Vilela pela
ACAT – Ação dos Cristãos pela Abolição da Tortura.
5 Idem.
6 Idem. Além da Pastoral Carcerária,
participaram da visita representantes do Conselho Penitenciário da Paraíba,
Comissão de Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba e Ordem dos
Advogados da Paraíba.
7 Rodley, Nigel, Relatório sobre a Tortura
no Brasil. Disponível no web-site da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos
(www.mj.gov.br/sedh) e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).
8 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil
2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT
(www.cptnac.com.br).
9 Comissão Pastoral da Terra da Paraíba,
Relatório 2001 – Assessoria Jurídica. Paraíba
10 Agência Estado, 27 de outubro de 2002, "Forças
Armadas atuam em 149 municípios, sem incidentes até agora" (www.estadao.org.br).
1 1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação
entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de
homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a
concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a
este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais
grupos da população
12 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
1 3 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na
introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso
sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial
(compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a
pornografia).
1 4 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e
Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico
de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial
(Brasília: CECRIA, 2002).
1 5 Comissão de Direitos Humanos da Câmara
Federal, VII Caravana Nacional de Direitos Humanos - Relatório sobre a
exploração sexual de crianças e adolescentes no Estado da Paraíba; disponível no
web-site da Camara dos Deputados (www.camara.gov.br/cdh)
1 6 Idem.
1 7 Folha de S. Paulo, Cotidiano, 6 de maio de
2002, p. C5 , notícias disponíveis no site da ABMP(www.abmp.org.br)
1 8 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de
Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p 50.
O Mapa traz as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes conforme o
Estado. Na Paraíba foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15 anos nas
atividades de: Agricultura; Agricultura de Subsistência; Catadores de Lixo;
Comércio Varejista; Cultura e Desfibramento do Sisal; Fumicultura; Indústria
Calçadista; Produção de Farinha de Mandioca; Serviços de Rua; Serviços (em
Cerâmicas e Olarias; e em Pedreiras); e Tecelagem.
19 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
20 O Estatuto da Criança e do Adolescente, no
art. 122, estabelece que a aplicação da medida de internação só será possível
nas seguintes hipóteses: quando o ato infracional for cometido mediante grave
ameaça ou violência a pessoa; se houver reiteração no cometimento de outras
infrações graves; ou se o jovem descumpre reiterada e injustificavelmente medida
anteriormente imposta. Além dessas condições, o juiz deverá observar o que
dispõe o parágrafo 2º do mesmo artigo 122 do ECA que estabelece que: "em nenhuma
hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada".
2 1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002).
2 2 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).
2 3 Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher - Pesquisa Nacional sobre as Condições de Funcionamento das Delegacias
Especializadas no Atendimento às Mulheres. Relatório da pesquisa disponível no
web-site da entidade(www.mj.gov.br/sedh/cndm).
2 4 Banco de Dados do Centro da Mulher 8 de
Março/ Dados coletados dos jornais: "Correio da Paraíba", "O Norte", "Diário da
Borborema" e "A União".
2 5 Ver relato do caso no capítulo "Sistema
Internacional e a Situação dos Direitos Humanos no Brasil".
2 6 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br).
2 7 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org).
2 8 Conselho Indigienista Missionário
(www.cimi.org.br), que informa ter esse estado uma população de 8.214 indígenas.
2 9 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção
das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de
2002).
3 0 Instituto Sócio-Ambiental, Os Povos Indígenas
no Brasil 1996-2000, p. 543-45 ("Os Potiguara de Monte-Mor e a Luta pelo
Reconhecimento de seu Território", Sidnei Peres, julho/2000).
3 1 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br)
3 2 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br).
3 3 Valor, 26 de novembro de 2002, "Procuradores
pedem mudança na reserva de vagas a deficientes".
3 4 Movimento Lilás; Dados do dossiê elaborado
pelo MEL - Movimento do Espírito Lilás
3 5 Idem. Os dados do Grupo Gay da Bahia indicam
a ocorrência de cinco homicídios na Paraíba em 2001, sendo 4 contra gays e 1
contra lésbica.
36 Boletim Informativo do Movimento do Espírito
Lilás, ano 1, n. 2, julho/agosto/setembro 2002.
3 7 Movimento Lilás; Dados do dossiê
elaborado pelo MEL - Movimento do Espírito Lilás
3 8 Mott, Luiz, Marcelo Cerqueira e Cláudio
Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo Gay da Bahia - 2001
(Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
PERNAMBUCO
VIOLÊNCIA
POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÊNCIA RURAL
TRABALHO ESCRAVO
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
Violências
IDOSOS
PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
GAYS, LÉSBICAS, TRANSEXUAIS
E BISSEXUAIS
O Estado de Pernambuco,
localizado no centroleste da Região Nordeste,
faz divisa com Paraíba, Ceará, Alagoas, Bahia
e Piauí. Sua capital é Recife e sua economia é
baseada na agricultura (cana-de-açúcar, mandioca),
pecuária e indústria (alimentícia, química, metalúrgica,
eletrônica, têxtil). Pernambuco é o estado brasileiro
que tem os maiores índices de mortes por homicídio
entre todos os estados do país. Apesar de o índice
estar em processo de queda, depois de atingir
um pico em 1998, aconteceram 53,3 homicídios por
100 mil habitantes no ano 2000, superior a do
Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Entre
os jovens, de 15 a 25 anos, a taxa de homicídio
chegou a 102,8 por 100 mil habitantes, inferior
apenas a do Rio de Janeiro (107,6 por 100 mil
habitantes).1 A taxa de homicídios contra mulheres
foi de 7,3 por 100 mil habitantes no ano 2000,
a mais alta entre os estados da Região Nordeste,
sendo que 7,2% das vítimas de homicídios no estado
eram do sexo feminino. 2 A violência no campo
também é preocupante em Pernambuco. Entre todos
da Região Nordeste, é o estado que registrou o
maior número de conflitos rurais no período entre
1999 e 2001. No mesmo período, nove pessoas foram
assassinadas em conflitos rurais no estado. Segundo
o Conselho Indigenista Missionário, Pernambuco
foi o estado em que mais ocorreram conflitos por
terras indígenas e violências contra povos indígenas
em 2001.3 O povo Xukuru é o que mais sofre com
os conflitos e com a violência. Em 2001, aconteceu
uma morte em decorrência de conflitos na terra
Xukuru.
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VIOLÊNCIA POLICIAL,
EXECUÇÕES, TORTURA
O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana recebeu no ano 2000 e passou a acompanhar a investigação de denúncias de
atuação de grupo de extermínio, com envolvimento de vigilantes trabalhando para
empresários e comerciantes locais, na região do município de Timbaúba. As
denúncias foram investigadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito da
Assembléia Legislativa e pelo Ministério Público de Pernambuco. 4 A partir dos
dados fornecidos pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco relativos a
denúncias contra policiais, no período de janeiro a setembro de 2001, o Grupo de
Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) elaborou breve estudo
indicando que, de 325 denúncias registradas pelas polícias, 93,8% eram contra
policiais civis e 6,2% contra policiais militares. No período, foram instaurados
apenas 22 sindicâncias e afastados 16 policiais. Apesar de a maioria das
denúncias terem sido feitas contra policiais civis, foram afastados 15 policiais
militares e apenas um policial civil. As denúncias de abuso de autoridade são as
mais comuns, incluindo abuso de poder, prisões ilegais, agressões físicas ou
morais, invasão de domicílio e abordagem irregular. Houve registro de apenas uma
denúncia de tortura. 5 Na análise dos dados da Secretaria de Defesa Social, o
Gajop ressalta que a prática da tortura é freqüente em Pernambuco, assim como em
outros estados do país, conforme aponta o relatório apresentado pelo Relator
Especial da Organização das Nações Unidas para a Tortura, Nigel Rodley, no qual
são apresentados 30 casos ocorridos em Pernambuco, incluindo casos envolvendo
policiais civis, policiais militares e agentes penitenciários entre 1998-2000.
Diversas denúncias apresentadas pelo relator dizem respeito à prática de tortura
no presídio Aníbal Bruno, em Recife. 6 Policiais civis realizaram greve por
melhores salários, em julho de 2001. A 1a Vara da Fazenda julgou a greve legal.
O Governo do Estado recorreu e o Tribunal de Justiça julgou a greve ilegal.7
Policiais militares realizaram greve por melhores salários, com a duração de
doze dias, em outubro de 2000. O Exército foi chamado a intervir e ocupou a
cidade de Recife para conter a greve.
Conflitos e trocas de tiros entre cabos e soldados
em greves e oficiais da polícia militar deixaram
quatro policiais e um civil feridos em Recife.
8
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO
O sistema prisional oferece 4.345 vagas para
8.958 detentos, ou seja, há superlotação do sistema,
aproximadamente dois presos para cada vaga. O
maior déficit está no número de vagas para cumprimento
de regime fechado, são 3.501 vagas para 7.740
presos. O número destinado para cumprimento de
medida de segurança também não é suficiente, uma
vez que são 177 vagas para 285 presos. 9 A II
Caravana Nacional de Direitos Humanos visitou
estabelecimentos prisionais no Estado de Pernambuco
e encontrou estabelecimentos com características
bastante diferentes. O Presídio Professor Barreto
Campelo foi o único estabelecimento prisional
visitado pela Caravana no país que não realiza
revista íntima nos familiares dos detentos, que
são obrigados a passar por um detector de metais
preservando a segurança do estabelecimento, mas
não são submetidos à humilhação do desnudamento.
Já o Presídio Professor Aníbal Bruno foi considerado
um dos piores estabelecimentos prisionais do país,
recordista em superlotação. O estabelecimento
prisional conta com uma estrutura administrativa
caótica, onde policiais militares e agentes penitenciários
dividem funções no contato diário com os presos.
Os policiais militares trabalham com a manutenção
da disciplina, tarefa realizada com muita violência
e castigos arbitrários e ilegais. O presídio possui
histórico de motins e fugas. Quando os presos
chegam ao presídio são encaminhados a uma cela
de triagem e ali permanecem por uma média de 8
dias. Muitos relataram casos de espancamento nesse
período. 1 0
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VIOLÊNCIA RURAL
Pernambuco é o estado com o maior número de conflitos
rurais e o maior número de pessoas envolvidas
em conflitos rurais no Nordeste e no país. Depois
do Pará, é o estado que registrou o maior número
de mortes em decorrência de conflitos rurais entre
1999 e 2001. O número de conflitos rurais diminuiu
de 141 em 1999 e 142 em 2000 para 122 em 2001.
O número de pessoas envolvidas nestes conflitos
também diminuiu de 107.734 em 1999 para 90.082
em 2000 e 84.566 em 2001. Mas o número de mortes
decorrentes de conflitos rurais aumentou de uma
em 1999 para quatro em 2000 e quatro em 2001.
Entre janeiro e agosto de 2002, aconteceram mais
duas mortes. 11
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TRABALHO ESCRAVO
Em janeiro de 2000, o Ministério Público do Trabalho
entrou com uma ação contra a empresa Informador
de Pernambuco Ltda, que mantinha seus empregados
em condições análogas a de escravidão, proibindo-
lhes de usar os refeitórios, além de insultá-los
e ameaçá-los quando manifestavam intenção de procurar
a Delegacia Regional do Trabalho. Não era permitido
o gozo de intervalos intra-jornadas e folgas previstas
em lei. Não havia registro em carteira de trabalho
e não era pago real salário. 1 2
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CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Entre 15 e 24 anos,
o número de mortos por homicídio diminuiu de 1.810
para 1.696 entre 1998 e 2000. O número de mortes
por homicídio por 100 mil habitantes na população
entre 15 e 24 anos diminuiu de 112,6 em 98 para
102,8 em 2000. O decréscimo dos homicídios de
jovens coloca o estado de Pernambuco em terceiro
lugar entre as unidades federativas que tiveram
maior redução desse índice. Mesmo com a redução
apontada, o estado tem as maiores taxas de vitimização
juvenil, conforme ressaltado na introdução deste
capítulo. No ano de 2001 foram registradas, pela
Diretoria Executiva de Polícia da Criança e do
Adolescente, 3.379 ocorrências de violências contra
crianças e adolescentes, das quais 920 eram intra-familiar.
Estas se subdividiam nos seguintes tipos de violência
doméstica: física (662), sexual (79), psicológica
(94) e negligência (85). Se comparados aos anos
de 1999 (4.206) e 2000 (4439), os dados podem
indicar que houve uma redução no número de casos
em razão de uma política de atenção à criança
e ao adolescente, contudo a mudança de endereço
da Diretoria de Polícia da Criança e do Adolescente,
as condições de trabalho da polícia e a greve
da polícia civil, são alguns dos fatores que possivelmente
motivaram este aparente quadro de redução das
violências contra a infância e juventude, mascarando
a situação dramática existente. 13 A preocupação
da Prefeitura do Recife com as vítimas de violência
doméstica tem-se traduzido na construção de Centros
de Saúde para Crianças e Adolescentes do Recife.
O primeiro, inaugurado em março de 2002, fornecia
serviços de pediatras, psicólogos, assistentes
sociais, enfermeiras, auxiliares de enfermagem,
dentistas, ginecologistas e advogados a pessoas
com idade entre 0 e 19 anos. 14 Em relação à efetivação
dos instrumentos de democracia participativa previstos
no ECA, até o final do 1º semestre de 2002, somente
64 (35%) municípios pernambucanos contavam com
Conselhos Tutelares. O que significa que no Estado
ocorria um flagrante descumprimento do ECA no
que se refere a implantação desses órgãos, que
têm por função zelar pelo cumprimento dos direitos
da criança e do adolescente. Quanto aos Conselhos
Municipais de Direitos a situação era um pouco
melhor. Restavam, porém, 48 das 185 cidades instalarem
este Conselho. 16 Exploração Sexual No período
de fevereiro de 1997 a junho de 2002, o Sistema
Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil
registrou no Brasil um total de 3.295 denúncias
de exploração sexual, das quais 150 originaram-
se no Estado de Pernambuco. Deste total, 45 foram
feitas no 1º semestre de 2002. 17 Considerando
apenas o período de jan/2000 a dez/2001, houve
no Brasil 423 denúncias de abuso sexual, ao qual
o Estado de Pernambuco responde por 12. No mesmo
período houve 36 casos denunciados de tráfico
de crianças e adolescentes para fins de exploração
sexual no Brasil, sendo três de Pernambuco. De
um total de 80 casos de turismo sexual que chegaram
ao Sistema, nove eram do Estado de Pernambuco.
1 8 Visando coibir o turismo sexual, a Polícia
Federal passou a integrar, em abril de 2002, força-tarefa
convocada pela Comissão Especial de Combate à
Prostituição Infantil da Assembléia Legislativa.
19 Os dados da Diretoria de Polícia da Criança
e do Adolescente sobre a violência sexual em Pernambuco
vinham crescendo desde 1997 (455 casos). Em 1999
e 2000 os casos aumentaram ainda mais, tendo sido
registradas, respectivamente, 712 e 761 ocorrências.
Em 2001, provavelmente pelos mesmos motivos da
redução da violência doméstica (acima citados),
foram registrados 543 casos. Deste total de 2001,
que inclui também a violência sexual intrafamiliar,
os crimes quantitativamente mais presentes foram:
atentado violento ao pudor (175 casos), estupro
(132) e sedução (108). 20 Os dados oficiais, contudo,
não traduzem a realidade vivenciada pelas organizações
integrantes da Rede de Combate ao Abuso e Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes, uma vez que
na maioria das vezes (segundo as próprias fontes
oficiais ou não) os agressores "são pessoas
próximas das vítimas, inclusive seus familiares".
Diante deste fato, a partir de 2000, a Rede intensificou
o trabalho de sensibilização da comunidade e dos
profissionais que atuavam junto às crianças e
adolescentes. Inicialmente, a sensibilização voltou-se
aos educadores das escolas públicas da Região
Metropolitana do Recife, através de discussões
temáticas e elaboração da Cartilha "Abuso
e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
– Vamos falar sobre isso". Após esta grande
mobilização, sucederam-se outras como: a campanha
que incentivava a denúncia de crimes sexuais (denominada
"Violência sexual contra crianças e adolescentes
é crime: sua obrigação é denunciar"); a interiorização
das ações de combate, que sempre se concentram
na Região Metropolitana do Recife; e a discussão
do Plano Estadual de Enfrentamento da Violência.
2 1 Dentro deste contexto, foi de grande importância
a instalação do Programa Sentinela que, em 2000,
atendia a 25 municípios (oito da Região Metropolitana
e 17 do sertão) e era coordenado por representantes
de organizações não governamentais (Casa Mulher
Menina e Grupo de Adolescentes Nova Aliança) e
de órgãos governamentais (Secretaria de Justiça
e 2ª Vara da Infância e Juventude). 22 Trabalho
Infanto-Juvenil O Mapa de Indicativos do Trabalho
da Criança e do Adolescente indicou que, em 1999
271.280 crianças e adolescentes na faixa de 5
a 15 anos de idade trabalhando no Estado de Pernambuco.
Deste total, 65,21% (176.900) trabalhavam na área
urbana e 34,79% (94.380) na rural. O Mapa aponta
que esse grupo ocupava, com maior freqüência,
os seguintes setores: Agropecuária (134.372) e
Comércio. Ademais, 152.308 não recebiam remuneração,
39.662 eram empregados, 29.142 trabalhavam para
autoconsumo e 23.340 exerciam trabalho domiciliar.
23 Debate promovido pela organização Auçuba –
Comunicação e Educação, traz dados quantitativos
e qualitativos sobre o combate ao trabalho infanto-juvenil
no Estado.2 4 Em 1997, foi instalado o Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), que
atendia inicialmente 13 municípios da Mata Sul
do Estado. Neste mesmo período houve um fortalecimento
da atuação da sociedade civil organizada, que
através de fórum, que lutava em prol da erradicação
do trabalho infantil, defendia, além da ampliação
do PETI, outras ações tanto complementares ao
programa quanto de política pública educacional
e de desenvolvimento. Em 2000, os atendidos pelo
PETI já somavam 81.930 crianças e adolescentes,
entre 7 e 14 anos, de 74 municípios. Apesar deste
considerável aumento, considera- se que falta
muito para a erradicação do trabalho infantil.
Entre os problemas, tem-se que: poucos dos municípios
beneficiados "estão desenvolvendo uma proposta
pedagógica articulada com a escola de ensino fundamental,
discutindo sobre trabalho, sobre desenvolvimento
local, sobre geração de renda para as famílias";
a falta de uma política efetiva para os adolescentes,
que deixam de ser beneficiados pelo programa quando
completam 14 anos; e as demandas crescentes, em
razão do empobrecimento e da falta de postos de
trabalho da população em geral. Medidas Sócio-Educativas
Apesar da violência ser associada, mais comumente,
aos jovens em conflito com a lei do que propriamente
aos crimes praticados contra crianças e adolescentes,
esta faixa da população é mais vitimizada do que
agente da violência. Entre 1999 e 2001, para cada
crime cometido por um adolescente ocorriam outros
quatro cuja vítima tinha idade inferior a 18 anos.
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MULHERES
Pernambuco é o estado do país que, depois
do Maranhão, tem o maior número de rotas de tráfico
para fins de exploração sexual. Segundo a Pesquisa
Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e
Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial,
realizada entre os anos de 2001 e 2002, 13 rotas
tinham origem no Estado de Pernambuco e 10 delas
envolviam, além de crianças e adolescentes, mulheres
com idade superior a 18 anos. 2 6 No Estado, existem
apenas duas Delegacias Especializadas no Atendimento
a Mulher, ambas na Região Metropolitana de Recife.27
No interior, a Secretaria da Justiça e Cidadania
apóia movimentos para implementação da Delegacia
da Mulher no Município de Caruaru.28 Enquanto
isso não acontece, as mulheres continuam a enfrentar
dificuldades para registrar ocorrências nas delegacias
de polícia. Em pesquisa realizada nas duas Delegacias
Especializadas no Atendimento à Mulher no Estado
de Pernambuco, verificou-se que, em 1999, foram
registradas 6.336 ocorrências policiais. Destas,
2.711 foram ocorrências de lesão corporal, 2.280
de ameaça, 150 de vias de fato, 30 tentativas
de homicídio, 17 de maus tratos, e cinco seqüestros
e cárcere privado. Quanto aos crimes envolvendo
diretamente violência sexual, foram registradas
56 ocorrências de estupro e 9 tentativas de estupro.
29 O Governo do Estado de Pernambuco, através
da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado
de Pernambuco, pretende reinstalar o Centro Integrado
da Mulher que visa prestar assistência jurídica
à mulher vitimizada. Atualmente, há um serviço
disque-denúncia para atender mulheres vítimas
de violência. 30
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AFRO-DESCENDENTES
A população afro-descendente (4.612.558)
representa 58,25% da população do estado, proporção inferior à média da Região
Nordeste. Na população afro-descendente, 4,94% se declararam negros e 53,31%
pardos. 3 1 O Ministério Público do Estado de Pernambuco, através do Centro de
Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Cidadania, registrou,
em 2000, três casos de discriminação racial e, em 2002, um. As medidas
geralmente adotadas pelo Mistério Público foram a instauração de procedimentos
administrativos, em que eram ouvidos ofendidos e testemunhas. Depois de
coletadas as provas, o Centro de Apoio as encaminhou a Central de Inquéritos. 32
Estava previsto que, a partir de 20 de novembro de 2002, o Disque Racismo de
Pernambuco passasse a funcionar recebendo denúncias de todos os tipos de
discriminação racial. Casos de Discriminação Racial Um tenente do Exército,
afro-descendente, em companhia de amigos, foi parado em uma batida policial. Ao
dizer que era militar, acabou sendo espancado e chamado de "negro safado", sem a
chance de mostrar seus documentos. A Corregedoria da Polícia Militar em
Pernambuco está analisado o caso. 33 Um outro caso é o da diretora de uma creche
de Recife que teria obrigado a filha de três anos de uma empregada doméstica a
cortar o cabelo para ir à creche. Segundo a mãe da criança, a diretora teria
declarado que "criança preta, pobre e de cabelo ruim só entraria na creche de
cabeça raspada". Após uma vistoria policial na creche, foi constatado indício de
racismo, pois todas as crianças negras da escola estavam com o cabelo raspado. 3
4 Outro caso foi da soldada que estava em um caixa eletrônico, quando uma
advogada começou a agredi-la pela demora. Quando a soldada saiu, a advogada a
xingou de "negra safada". A soldada teria reagido, respondendo que ela deveria
ser respeitada como militar, mulher e negra. Ela conseguiu duas testemunhas, e
deu voz de prisão levando a advogada para o quartel. A agressora passou a noite
presa e saiu após pagar fiança. O caso está na justiça. 35 No dia 9 de novembro
de 2000, um caso de discriminação, de grande repercussão pelo seu resultado,
ocorreu na Companhia Pernambucana de Saneamento. Um operador de computadores foi
alvo de discriminação racial por parte de seu superior imediato. O gerente,
acusado de perseguir os funcionários afrodescendentes, há cinco anos vinha
reduzindo e cortando a escala de horas extras e de cursos de capacitação; e
utilizava expressões discriminatórias e preconceituosas como: "vou clarear o
setor". Segundo testemunhos dos colegas do operador, seu chefe disse várias
vezes: "negro não poderia passar da função de vassoura". O operador após receber
ordens para trabalhar em mais um setor, além daquele em que já trabalhava,
comunicou ao chefe que as funções estavam além de sua capacidade. O funcionário
foi, então, humilhado pelo gerente e recebeu uma suspensão de um dia de
trabalho. Após levar a notícia de racismo a uma delegacia, o gerente da Divisão
expulsou-o do setor em que trabalhava. Em 2001, a Companhia foi condenada pelo
Tribunal Regional do Trabalho em Pernambuco a pagar uma indenização ao operador.
De acordo com a ONG Djumbay, esta é a primeira decisão judicial no Brasil que
condena uma empresa a pagar indenização por discriminação racial. 3 6 INDÍGENAS
Pernambuco tem uma população de pelo menos 19.515 indígenas, distribuídos em 8
povos indígenas. Além disso, também abriga um outro povo, com uma população de
1.630 indígenas, que vivem entre Pernambuco e a Bahia.37 Estima-se que tenha a
5ª maior população indígena do país. 38 O Estado tem 10 áreas indígenas, que se
encontram na seguinte situação jurídica: 39
Situação |
No. de Terras Indígenas |
Reservadas |
2 |
Registradas |
2 |
Homologadas |
3 |
Identificadas / Aprovadas pela
Funai |
2 |
Declaradas |
1 |
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Violências
1) Os indígenas Xucurus continuam a enfrentar problemas
sérios e graves em conseqüência de sua luta pela
terra. No dia 23 de agosto de 2001 o índio Francisco
Quintana, conhecido como Chicão Quelé, foi assassinado.
Ele foi a quarta vítima fatal do conflito no local.
Antes dele, outras três pessoas já haviam sido
mortas, entre eles o índio Xicão Xucuru. Chicão
Quelé foi assassinado dentro da área indígena,
por pistoleiros que o aguardavam em uma "tocaia"
há pelo menos dois dias. 41 Em 20 de maio de 1998
o cacique Francisco de Assis Araújo, o Xicão Xucuru,
foi assassinado com quatro tiros no momento em
que saía de casa, no município de Pesqueira. Era
conhecido por sua firme atuação na articulação
dos povos indígenas na luta pela terra e odiado
pelos fazendeiros locais. Até setembro de 2000
as investigações estavam muito lentas, razão pela
qual o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, órgão do Ministério da Justiça, resolveu
constituir uma comissão para investigar o assassinato.
Em abril de 2002, a Polícia Federal prendeu o
acusado de ser pistoleiro do crime e o acusado
de ser o intermediário entre os mandantes do crime
e seu executor. Mas até agora o crime ainda não
foi solucionado. 42 A área em que vivem os Xucurus,
de 27.555 hectares, foi declarada terra indígena
em 1992, demarcada em 1995 e homologada no dia
2 de maio de 2002. Esse intervalo foi marcado
por situações de conflitos e violências com os
fazendeiros da região, que tentaram insistentemente
anular a demarcação. No momento da homologação,
ainda havia 281 invasores vivendo nessas terras,
o que colocava a necessidade da Funai agir rapidamente
no sentido de retirá-los de lá e indenizá-los
de suas benfeitorias de boa fé. No início de 2000,
uma fábrica de produtos alimentícios invadiu parte
das terras, levando-os a acamparem às margens
da rodovia PE-219, que corta a área indígena e
liga o município de Pesqueira ao estado da Paraíba,
bloqueando o trânsito no local. Permaneceram alguns
meses acampados, até que tiveram que deixar o
local em virtude de uma liminar proferida pelo
juiz. 43 Além das violências fatais descritas
acima, também são muitos os casos de outros tipos
de violência sofridos pelos indígenas. Alguns
indígenas são freqüentemente ameaçados, o que
faz com que vivam em clima de tensão e insegurança.
No começo de julho de 2002, o índio João Campos
da Silva, o Dandão, foi preso pela Polícia Federal,
gerando a revolta de diversos indígenas e entidades
de direitos humanos. 44 2) De 1999 até 2002, ao
menos três indígenas Trukás foram assassinados
em Pernambuco. No dia 29 de junho de 1999, a índia
Truká Dominga Maria Maciel Gundim, filha de uma
antiga liderança desses indígenas, foi assassinada
em Cabrodó, na Ilha de Assunção. O crime foi cometido
pelo posseiro João Barbosa Rodrigues, que atirou
contra ela quando seguia em direção à casa de
um parente. Depois disso, em janeiro de 2002,
a Polícia Militar seqüestrou e matou dois indígenas
Trukas. Seus corpos foram encontrados carbonizados.
Essas mortes são resultantes do conflito em torno
da terra existente entre os indígenas e os posseiros
que invadiram suas terras. Em 1992 o processo
de demarcação dessa terra, de 5300 hectares, foi
completado, com o devido registro da área. No
entanto, os problemas não foram superados. No
final de 1999, os indígenas tiveram problemas
com a Funai, que não liberou no prazo estipulado
os recursos financeiros destinados ao pagamento
das benfeitorias de boa-fé dos 64 ocupantes não
indígenas das terras. Até hoje, mais de 70% das
indenizações de benfeitorias ainda não foram pagas.
Além disso, os indígenas enfrentam diversos problemas
provenientes do fato dessas terras encontrarem-
se dentro do chamado polígono da maconha. Segundo
contam, os traficantes se aproveitam da falta
de providências fundiárias por parte do governo
e se escondem na Ilha pra fugir da polícia e plantar
maconha. Em agosto de 2000, a Polícia Federal
se instalou na área indígena alegando estar em
operação para a destruição de maconha. No entanto,
a operação resultou na prisão de oito indígenas,
inclusive do líder Ailson dos Santos, e no posterior
espancamento deles. Os indígenas reagiram às prisões
lançando pedras contra os policiais, que responderam
lançando bombas de efeito moral, de gás lacrimogêneo
e balas de borracha, inclusive dentro das casas.
Idosos e mulheres grávidas não foram poupados
dessa ação. 4 5 3) Em 25 de dezembro de 1999,
foi assassinado o agricultor Edmilson João da
Silva, importante liderança da aldeia indígena
de Serra Negra, onde vivem os indígenas Pipipãs.
Quatro homens armados entraram na casa em que
estava, retiraram-no de lá e o mataram. Até hoje
o crime não foi solucionado. Edmilson estava envolvido
da luta indígena de retomada de suas terras. 46
Em agosto de 2002, em uma conferência sobre consumo
de álcool e redução de danos, os indígenas apresentaram
um relatório elaborado por eles no qual dizem
que cerca de metade dos indígenas do estado de
Pernambuco teriam problemas com drogas. Segundo
dizem, o que consomem é uma mistura de álcool,
açúcar e água. Apontam que os problemas que os
levam a isso são o estresse decorrente da luta
pela posse da terra, a ociosidade e a discriminação
que sofrem por parte da população branca. Segundo
dizem, mil dos 4 mil Trukás são adolescentes com
problemas de alcoolismo e 4 mil dos 9 mil Xucurus
também são dependentes de álcool. Os indígenas
acreditam que o problema só pode ser melhorado
com ações educativas e que a proibição do produto
não funcionaria. 47 Os indígenas Atikum têm enfrentado
problemas sérios de relacionamento com a polícia.
Segundo contam, os policiais agem com truculência
e desrespeito, ilegalmente presentes invadem a
área indígena e os recolhem e os transportam de
um lugar a outro, ameaçando- os para que informem
nomes de suspeitos de crimes. 4 8
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IDOSOS
Em 2000, havia em Pernambuco 704.886 idosos.49
A proporção de idosos em relação à população total,
seguindo a tendência brasileira de envelhecimento,
aumentou de 7,8% da população total em 1991 para
8,9% no ano 2000. O Ministério Público do Estado,
através do Centro de Apoio Operacional das Promotorias
de Justiça e Defesa da Cidadania, instaurou, entre
2000 e 2002, um total de 73 procedimentos administrativos
que tinham por objeto a defesa de direitos dos
idosos. Deste total, 6 foram instaurados em 2000,
20 em 2001 e 47 procedimentos nos primeiros seis
meses de 2002. As medidas adotadas pelo Ministério
Público incluem: "acompanhamento da atuação
dos diversos Conselhos de Direito, com interesse
no assunto; atuação efetiva e articulada no combate
à violência ao idoso, fiscalizando abrigos e similares,
solicitando providências em casos concretos; e
conhecimento de ocorrências de possíveis não cumprimento
da Lei, abertura de procedimentos administrativos,
juntando documentos, solicitando providências
aos órgãos públicos e privados, tomando medidas
administrativas e judiciais em cada caso".
50 Nos dias 17 e 18 de outubro de 2001, a V Caravana
Nacional de Direitos Humanos da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados esteve em Recife
e alguns municípios da Região Metropolitana. A
passagem da V Caravana por Pernambuco, além da
visita a sete abrigos para idosos, consistiu na
realização de audiência pública sobre a temática,
com a presença de representantes de autoridades
governamentais, de entidades da sociedade civil
e de profissionais envolvidos com a área de atenção
aos idosos. Cabe destacar a importância da passagem
da caravana, uma vez que aproximadamente 65% dos
procedimentos instaurados pelo Centro de Apoio
Operacional do Ministério Público ocorreram em
2002, indicando a possibilidade de que a atuação
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados tenha incentivado as denúncias ao Ministério
Público. O padrão de atendimento verificado pela
V Caravana em seis das sete instituições visitadas
era permeado pela: falta de privacidade; presença
de barreiras arquitetônicas; precariedade da higiene;
existência de acomodações inadequadas; péssima
qualidade do mobiliário; falta de conforto e segurança;
ociosidade; falta de profissionais ou número insuficiente;
falta de medicamentos e de comida (às vezes até
estragada); tratamento massificado e despersonalizado;
isolamento social; restrição a visitas etc. Algumas
caracterizações do ambiente e comentários contidos
no mencionado relatório expressam bem o quadro
de ausências e deficiências verificadas nestas
instituições: "No dia de nossa visita, havia
150 idosos internados. O asilo possui 300 vagas";
"Depósito de velhos"; "Cenário
não evoca apenas miséria, mas negligência e maus
tratos"; "Os idosos vivem em ociosidade
máxima"; "aguardam silenciosamente por
suas mortes"; "Para que não fumasse,
(uma senhora) era presa à cadeira, todos os dias";
"As condições de habitabilidade são, verdadeiramente,
subumanas"; e, por último, numa das instituições
- que abrigava idosos e pessoas com problemas
de saúde mental, incluindo um jovem autista -
havia uma senhora aparentemente com problemas
de saúde mental que "por não saberem lidar
com ela, delimitaram seu espaço, como se estivesse
presa. 5 1 De todas as instituições visitadas,
apenas uma foi qualificada pela V Caravana como
modelo. Para atender a 25 idosos, esta instituição,
denominada "Conviver Geriátrico" e localizada
em Boa Viagem, no Recife, contava com uma equipe
de 17 profissionais qualificados para o trabalho,
entre os quais enfermeira, nutricionista, fisioterapeuta,
médico, terapeuta ocupacional, auxiliares de enfermagem
e auxiliares de serviços gerais. Além do conforto,
da adequação arquitetônica e da segurança, constatou-se
que às pessoas lá internadas eram garantidas:
atividades físicas, recreativas e fisioterápicas;
acesso aos meios de comunicação; visitas freqüentes;
e atividades externas.
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PORTADORES
DE DEFICIÊNCIA
A delegacia Regional do Trabalho contabilizou
até maio de 2002, 914 pessoas com deficiência
ocupando postos de trabalhos no estado. 52 Informações
fornecidas pelo Governo do Estado de Pernambuco,
através Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado,
indicam que o DETRAN/PE vem promovendo ações que
visam à melhoria de acesso aos deficientes físicos
bem como a inserção deles no mercado de trabalho.
O órgão construiu rampas de acesso às áreas operacionais
do Departamento, reformou sanitários, criou vagas
especiais no estacionamento de usuários e funcionários.
Além disso, o DETRAN/PE emprega, nos serviços
operacionais, funcionários com deficiência física
e auditiva. 5 3 O Projeto Mutirão da Cidadania,
que integra as Casas da Cidadania de Olinda, em
parceria com organizações não-governamentais (entre
elas, a Associação de Amparo as Pessoas Portadoras
de Deficiência/ AMPADD), tem prestado serviços
de emissão de carteira de transporte e emissão
de registro de nascimento de deficientes mentais.
5 4
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GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS
E TRANSEXUAIS
Em 2000 e 2001, foram registrados 34 homicídios
homofóbicos, tendo sido 21 contra gays e 13 contra
travestis.55 O estudante Sidley Rodrigo dos Santos,
24 anos, foi humilhado, no dia 24 de janeiro de
2000, ao tentar fazer matrícula na Escola Murilo
Braga, em Cavaleiro, pela diretora que lhe disse,
na presença de várias pessoas, que ele não poderia
estudar lá porque o colégio se destinava apenas
a pessoas normais. 56
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1 Waiselfisz; J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002).
2 Idem.
3 Conselho Indigienista Misisonário, Informe n.º
481, de 4 de outubro de 2001.
4 Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, Relatório – Setembro 2002. Ministério Público do Estado de Pernambuco,
Procuradoria Geral de Justiça, Grupo de Trabalho CPI Narcotráfico, Relatório
Parcial – Atuação dos membros deste Grupo de Trabalho na Promotoria de Justiça
de Timbaúba.
5 Gajop, "Análise de dados fornecidos pela
Secretaria de Defesa Social sobre sindicâncias, processos administrativos e
afastamentos de membros do seu quadro funcional (período janeiro – setembro
2001)". Texto disponível no web-site do Gajop (www.gajop.org.br).
6 Rodley, Nigel, Relatório sobre a Tortura no
Brasil. Disponível no web-site da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos
(www.mj.gov.br/sedh) e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).
7 O Estado de S. Paulo, 4, 6, 10, 12 de julho de
2001, e Folha de S. Paulo, 6 de julho de 2001
8 O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, dias
21 a 31 de outubro de 2000.
9 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/depen/default.htm).
1 0 Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados, Relatório da II Caravana Nacional de Direitos Humanos. Texto
disponível no web-site da Comissão (www.camara.gov.br/cdh).
1 1 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no
Campo – Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo –
Brasil 2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT
(www.cptnac.com.br).
1 2 Ministério Público do Trabalho, Relatório de
Atividades 2001 – Trabalho Escravo/Forçado.
1 3 Diretoria Executiva de Polícia da
Criança e do Adolescente/DPCA (www.dpca.cjb.net); e AUÇUBA – COMUNICAÇÃO E
EDCUAÇÃO – E REDE ANDI, A Criança e o Adolescente na Mídia em Pernambuco –
Janeiro a Dezembro de 2001 – Ano II/nº 3, Série Rede ANDI, 2002, p. 47-48
1 4 Folha de Pernambuco, Grande Recife, 21 de
março de 2002, p. 4 (Web-site ABMP - Seção Notícias (www.abmp.org.br))
1 5 AUÇUBA – COMUNICAÇÃO E EDCUAÇÃO – E REDE
ANDI, A Criança e o Adolescente na Mídia em Pernambuco – Janeiro a Dezembro de
2001 – Ano II/nº 3, Série Rede ANDI, 2002, p. 35-36 e Diário de Pernambuco, Vida
Urbana, 18 de março de 2002, p.9.
16 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
1 7 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na
introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso
sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial
(compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a
pornografia).
18 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br).
19 Jornal do Commercio, Cidades, 4 de abril de
2002, p. 2 e Folha de Pernambuco, Cidadania, 4 de abril de 2002, p. 4
(www.abmp.org.br).
2 0 Diretoria Executiva de Polícia da
Criança e do Adolescente (www.dpca.cjb.net)
2 1 AUÇUBA – COMUNICAÇÃO E EDCUAÇÃO – E REDE
ANDI, A Criança e o Adolescente na Mídia em Pernambuco – Janeiro a Dezembro de
2001 – Ano II/nº 3, Série Rede ANDI, 2002, p. 27.
2 2 Idem.
2 3 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa
de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p
52. O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e
adolescentes conforme o Estado. Em Pernambuco foi constatado o trabalho de
pessoas entre 5 e 15 anos nas atividades de: Catadores de Lixo; Confecção de
Roupas; Construção Civil; Debulhamento de Feijão e Milho; Fabricação de
Artefatos de Couro; Hortifruticultura; Produção de Farinha de Mandioca; Serviços
de Rua; e Tecelagem.
2 4 AUÇUBA – COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO – E
REDE ANDI, A Criança e o Adolescente na Mídia em Pernambuco – Julho a Dezembro
de 2000 – Série Rede ANDI, 2000, p. 39-51 – Participaram do debate Nilza Agreli
(Coordenadora do PETI), Fábio Atanásio de Morais (Coordenador do UNICEF/Recife)
e Abdalaziz Moura (Coordenador da organização não governamental SERTA).
2 5 Diário de Pernambuco, 20 de agosto de 2001,
p. E6
2 6 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e
Ações sobre Crianças e Adolescentes, Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico
de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial
(Brasília: CECRIA, 2002).
2 7 Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos
Reprodutivos – Regional Pernambuco.Violência contra a mulher, 2001. 2 8 Governo
do Estado de Pernambuco, relatório enviado à Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos.
2 9 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher -
Pesquisa Nacional sobre as Condições de Funcionamento das Delegacias
Especializadas no Atendimento às Mulheres. Relatório disponível no web site do
Conselho (www.mj.gov.br/sedh/cndm).
3 0 Governo do Estado do Pernambuco, relatório
enviado á Secretaria de Estado dos Direitos Humanos.
3 1 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br).
3 2 Dados da Secretaria da Justiça e Cidadania do
Estado de Pernambuco/2002
3 3 O Globo, 21 de abril de 2002.
34 Idem.
35 Idem.
3 6 O Globo, 10 de abril de 2002
37 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org).
3 8 Conselho Indigenista Missionário
(www.cimi.org.br)., que informa ter esse estado uma população de 19.138
indígenas.
3 9 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção
das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de outubro de
2002).
4 0 Sendo uma delas em conjunto com o estado de
Santa Catarina.
41 Conselho Indigenista Missionário, Informe n.º
476, de 30 de agosto de 2001.
4 2 Conselho Indigenista Missionário, Informes
n.º 361, n.º 428, n.º 507 e n.º 510; de 20 de maio de 1999, 14 de setembro de
2000, 11 de abril de 2002 e 02 de maio de 2002.
43 Conselho Indigenista Missionário, Informe n.º
396, e n.º 402 e n.º 459, de 3 de fevereiro de 2002, 16 de março de 2002 e 3 de
maio de 2001.
4 4 Conselho Indigenista Missionário,
Informe n.º 520, de 11 de julho de 2002.
4 5 Conselho Indigenista Missionário, Informe n.º
368, n.º 387, n.º 425 e n.º 481, de 8 de julho de 1999, 18 de novembro de 1999,
24 de agosto de 2000 e 4 de outubro de 2001; e ISA, Os Povos Indígenas no Brasil
1996-2000, p. 557 (Diário de Pernambuco, 08 de maio de 1999 , "Narcotráfico
atrapalha levantamento fundiário").
4 6 Informações fornecidas pelo Governo do Estado
de Pernambuco, através da Secretaria de Justiça e Cidadania.
47 Diário de Pernambuco, 31 de outubro de
2002, "Alcoolismo atinge tribos pernambucanas".
4 8 Informações fornecidas pelo Governo do
Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Justiça e Cidadania.
4 9 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br)
5 0 Governo do Estado de Pernambuco,
Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado, relatório enviado à Secretaria de
Estado dos Direitos Humanos.
5 1 Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados, V Caravana Nacional de Direitos Humanos: Uma Amostra da Realidade dos
Abrigos e Asilos de Idosos no Brasil (Brasília: Câmara dos Deputados,
Coordenação de Publicações, 2002). Disponível, no web-site da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados (www.camara.gov.br/cdh).
5 2 Idem.
5 3 Governo do Estado de Pernambuco,
relatório enviado à Secretaria de Estado dos Direitos Humanos.
5 4 Idem.
5 5 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa Mortis:
Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil
– 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001) e Mott, Luiz, Marcelo
Cerqueira e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo
Gay da Bahia - 2001 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
5 6 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira, Causa Mortis:
Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil
– 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001).
PIAUÍ
VIOLÊNCIA
POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO,
UNIDADES FECHADAS
VIOLÊNCIA RURAL
TRABALHO ESCRAVO
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS
POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
IDOSOS
GAYS, LÉSBICAS, TRANSEXUAIS
E BISSEXUAIS
O Estado do Piauí, situado ao norte da Região Nordeste,
faz divisa com Ceará e Pernambuco, Bahia, Tocantins
e Maranhão. Sua capital é Teresina e sua economia
se baseia na indústria (química, têxtil, bebidas),
agricultura (algodão, arroz, cana-de-açúcar, mandioca)
e na pecuária. No Piauí, há denúncias graves de
violências praticadas por policiais e agentes
penitenciários, inclusive tortura e outros tratamentos
cruéis, agravados por greves de policiais e agentes
penitenciários e rebeliões e fugas em unidades
prisionais. Além do problema de superlotação,
em flagrante descumprimento do Estatuto da Criança
e do Adolescente, adolescentes em conflito com
a lei cumprem medidas sócio-educativas de internação
em presídios destinados a presos adultos. Em quase
dez anos de existência do ECA, o Piauí não promoveu
o reordenamento institucional previsto em lei,
que impõe aos estados e municípios a criação de
programas e de instalações adequadas para o cumprimento
das medidas sócio-educativas. Toda essa situação,
juntamente com a postura assumida por representantes
dos três poderes (Executivo, Legislativo ou Judiciário),
tem contribuído para o agravamento da situação
da infância e juventude no estado, na medida em
que reiteradamente são descumpridas as previsões
legais, tratando-se a questão apenas com mera
violência e repressão. Violações de direitos perpetradas
contra os adolescentes em conflito com a lei são
reiteradamente denunciadas por entidades de defesa
dos direitos humanos. Visando alterar esse quadro
de violência, destaque- se a atuação do Conselho
Tutelar de Teresina que, assumindo seu papel de
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança
e do adolescente, é de fundamental importância
para garantir os direitos dos adolescentes em
conflito com a lei e privados de liberdade. A
atuação do Conselho Tutelar de Teresina só reafirma
a importância de se instalar esse órgão previsto
no Estatuto da Criança e do Adolescente. Contudo,
o estado ainda está extremamente atrasado na implantação
de conselhos. Até o final do 1º semestre de 2002,
somente 41 dos 221 municípios contavam com Conselhos
Tutelares e em 122 cidades ainda não tinha sido
instalado o Conselho Municipal de Direitos. Esse
flagrante descumprimento do ECA, coloca o Piauí
entre os piores estados brasileiros, sendo, inclusive,
na Região Nordeste, o que menos instalou tais
conselhos. 1
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VIOLÊNCIA POLICIAL,
EXECUÇÕES, TORTURA
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos
Advogados do Brasil-Piauí recebeu em 2001 e 2002
diversas denúncias de tortura, espancamento, agressão
física e verbal, ameaça e arbitrariedade praticadas
por policiais civis e militares e, também, por
agentes penitenciários. Há diversas delegacias
em que policiais militares exercem a função de
delegado. Em uma delas, no município do Morro
do Chapéu, um sargento da polícia militar, que
exerce as funções de delegado de polícia, foi
denunciado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Morro do Chapéu como responsável pela prática
de ações ilegais e abusivas para atender os interesses
do prefeito municipal. Através de um abaixo assinado
encaminhado à Comissão de Diretos Humanos da Ordem
dos Advogados do Brasil-Piauí, o Sindicato solicita
providências para a exoneração e abertura de processo
administrativo e judicial contra o policial. 2
O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
recebeu e investigou denúncias de envolvimento
de policiais com o crime organizado, incluindo
práticas com tráfico de drogas, roubo de veículos,
roubo a bancos, prostituição infantil, pistolagem,
além de agressões e assassinatos contra prefeitos
e policiais empenhados na luta contra o crime
organizado. 3 Em visita ao Brasil, no ano de 2000,
o relator especial da Organização das Nações Unidas
para a Tortura, Nigel Rodley, observou a prática
de tortura no Piauí. No relatório apresentado
à ONU, há referência a um caso de tortura, ocorrido
no ano 2000, no qual uma costureira grávida teria
sido espancada pelo proprietário da casa em que
morava que, acompanhado de policias militares,
queria despejá-la. Ela ficou com graves hematomas
e foi levada para o hospital, vindo a morrer três
dias depois. 4
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO, UNIDADES FECHADAS
A população prisional aumentou em 121,6%
durante o período de abril de 2001 a junho de 2002, destacando-se o Piauí como o
estado da federação em que a população carcerária mais cresceu no período.
Embora não exista ainda um problema grave de superlotação, o crescimento da
população encarcerada é alarmante. A capacidade de vagas disponíveis no estado é
de 1.427, enquanto o número de presos é de 1.795. Não existem vagas para o
cumprimento de medida de segurança, mas chama a atenção o fato de 14 pessoas
estarem cumprindo essa medida. A inexistência de vagas para o cumprimento da
medida sugere que as pessoas nessa situação estejam em locais inapropriados, sem
o acompanhamento de profissionais especializados, constituindo-se uma grave
violação de direitos. 5 Durante greve realizada em junho de 2002, policiais
civis e agentes penitenciário bloquearam o acesso à Casa de Custódia de Teresina
e soltaram 50 presos acusados de assaltos e pequenos delitos. Com capacidade
para abrigar 290 presos, a Casa de Custódia abrigava 492 presos, muitos deles
mantidos presos ilegalmente, incluindo 50 adolescentes em conflito com a lei
cumprindo medida sócio-educativa de internação. Durante a greve, os detentos
realizaram rebelião, durante a qual um preso morreu e cinco pessoas, um preso e
quatro agentes penitenciários, foram agredidos, espancados e feridos. 6
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VIOLÊNCIA
RURAL
Conforme dados enviados pela Comissão Pastoral
da Terra do Piauí, um pescador, residente na Comunidade
Mexeriqueira, vice-presidente da Associação da
Comunidade Mexeriqueira, foi assassinado com quatro
tiros, por dois motoqueiros não identificados.
Após o crime, os motoqueiros fugiram em direção
ao Ceará. A vítima era uma liderança na luta contra
os projetos de empresas de crustáceos na região
e havia denunciado um empresário espanhol e outros
empresários que haviam comprado 170 hectares da
área da União. 7 Para realização desse projeto,
a empresa cercou aproximadamente 5 mil metros
da área da Comunidade Mexeriqueira, a fim de evitar
acesso das famílias ao rio Toa. Essa ação deixou
50 famílias de pescadores numa situação crítica
de sobrevivência, pois impediam que eles fossem
ao rio pescar e, aos manguezais, para pegar caranguejo.
Diante dessa situação, o presidente da Associação
de Moradores de Mexeriqueira denunciou o fato
à Comissão Pastoral da Terra. Segundo a denúncia,
o empresário espanhol teria contratado 5 pistoleiros
para amedrontar as famílias do local. 8 Mediante
liminar judicial expedida pelo juiz da Comarca
de Porto, as famílias foram despejadas por policiais
militares. Nessa ação, as roças e os pertences
das famílias foram destruídos. 9 Os responsáveis
pela morte do pescador ainda não foram localizados
pela polícia. Representantes do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Luís Correia (STR) denunciaram
o crime à entidade de defesa dos direitos humanos
no Brasil e no exterior.10 Inquérito policial
aponta as investigações do assassinato como sendo
crime de pistolagem, uma vez que, depoimentos
retratam que o pescador assassinado não tinha
inimigos na comunidade. 11
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TRABALHO ESCRAVO
Preocupado
com o número de pessoas do Piauí que são aliciadas
para trabalhar em situação análoga a de escravo
em outros estados brasileiros, a CPT, CUT e FETAG
promoveram nos dias 20 e 21 de julho de 2001,
em Teresina, o Primeiro Seminário Estadual de
Combate ao Trabalho Escravo. Após o seminário,
parte dos participantes se deslocou para a cidade
de Barras, onde ocorreu um encontro também de
combate ao trabalho escravo na sede do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais, com a participação de
60 vítimas e seus familiares. Durante a reunião
foi realizada a projeção de um vídeo em que lavradores
de Barras eram libertados de uma fazenda do Sul
do Pará, muitos deles reconheciam as pessoas filmadas
e se reconheciam na tela. 12 Na região de São
Raimundo do Nonato, no Piauí, a mão de obra utilizada
nas áreas das caieiras era escrava. A fundação
FUMDAHM – FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM AMERICANO, que
administra o Parque Nacional da Serra da Capivara,
está transformando a área em parque arqueológico,
gerando emprego à população, e está fomentando
a produção de mel orgânico, abrindo alternativas
de desenvolvimento sustentável. 13
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LIBERDADES
CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS
No Estado do Piauí, 38 municípios pediram
proteção do Exército para a votação nas eleições realizadas no dia 06 de outubro
de 2002. O motivo de tantos pedidos foi o seqüestro de um técnico da Embratel
que estava trabalhando para a Justiça Eleitoral na transmissão dos dados das
eleições em 2000. Além disso, dois prefeitos foram mortos nesse estado nos
últimos anos (os prefeitos dos municípios de Luzilândia e de Altos). 1 4 Segundo
informações da Secretaria da Justiça e Cidadania do Piauí, de janeiro até
setembro de 2002, 15 jornalistas foram ameaçados, 14 foram demitidos e 11 foram
agredidos. Além disso, nesse período 25 pessoas foram ameaçadas, quatro foram
demitidas, cinco foram agredidas e três foram mortas devido à expressão de
opinião. 1 5
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CRIANÇAS
E ADOLESCENTES
O número de jovens mortos por homicídio, registrado
no período, coloca o estado entre os três primeiros
de maior aumento percentual do número de mortos
nas unidades federativas no período. O número
de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos por homicídio
aumentou de 54 para 89 entre 1998 e 2000 (crescimento
de 64,81%). O número de mortes por homicídio por
100 mil habitantes na população entre 15 e 24
anos aumentou de nove em 1998 para 14,3 em 2000
(+58,89%). A taxa de vitimização juvenil em 2000
era de 75,6. 16 Pesquisa solicitada pela Secretaria
Municipal da Criança e do Adolescente de Teresina
traçou um panorama da situação da infância e juventude
em situação de rua na capital do estado. O estudo
desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas sobre a
Criança e o Adolescente da Universidade Federal
do Piauí, entre os meses de maio de 2001 e março
de 2002, contabilizou em três dias de pesquisa
de campo a existência de "1.358 crianças
e adolescentes em situação de rua em diferentes
regiões da cidade, nos turnos da manhã, tarde
e noite".1 7 A grande maioria era do sexo
masculino (83,21% do total) e a faixa etária em
que havia maior concentração era de jovens entre
13 e 17 anos, o que correspondia a 53,17% do total
de pessoas com menos de 18 anos que se encontram
em situação de rua. Quanto ao tempo de permanência
nesta situação, a grande maioria estava há mais
de um ano, sendo que 9,65% do total há mais de
cinco anos. Das 1.358 crianças e adolescentes
entrevistadas, 41,75% afirmaram que ao menos mais
um (uma) irmão (ã) também fazia da rua um local
de sociabilidade. Ademais, 35,19% dos pesquisados
disseram estar na rua acompanhados de algum membro
da família (irmãos, pais avós ou tios) e 1.151
(84,76%) afirmaram que estavam freqüentando a
escola. Exploração Sexual No período de fevereiro
de 1997 a junho de 2002, o Sistema Nacional de
Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registrou
no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração
sexual, das quais 33 originaram- se no Estado
do Piauí.
Entre os anos de 2001 e 2002 foi realizada
Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins
de Exploração Sexual Comercial, que constatou a existência no Brasil de 172
rotas de tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual
comercial. Três rotas tinham origem no Estado do Piauí, sendo que duas delas
também envolviam mulheres com idade superior a 18 anos. 19 Trabalho
Infanto-Juvenil O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente
aponta que, em 1999, 162.474 crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de
idade estavam trabalhando no Estado do Piauí. Deste total, 39.341 (24,21%)
trabalhavam na área urbana e 123.133 (75,79%) na rural. O Mapa indica que esse
grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes setores: Agropecuária
(134.372) e Comércio (12.775). Ademais, 100.648 não recebiam remuneração, 23.504
exerciam trabalho domiciliar, 17.884 eram empregados e 10.730 trabalhavam para
autoconsumo. 20 Dados da já citada pesquisa encomendada pela Secretaria da
Criança e do Adolescente de Teresina revelam que, de um universo de 1.358
pessoas em situação de rua com até 18 anos, 89,40% faziam uso do espaço da rua
como local de trabalho – sendo que 527 eram crianças, entre um e doze anos.
Nesse sentido, os motivos que impeliam à rua, a infância e juventude piauiense,
eram: colaborar com o orçamento familiar, obter dinheiro para despesas pessoais,
auxiliar o trabalho desenvolvido por responsáveis ou, simplesmente, o gosto pelo
trabalho. Em Teresina, crianças e adolescentes em situação de rua exerciam
principalmente as funções de vigia de carro, vendedor fixo e ambulante. 21
Apesar do trabalho constituir a principal causa de saída para a rua,
considerável parcela dos meninos e meninas, nessa situação, era beneficiada por
programas governamentais, como Bolsa Escola (19,59%) e PETI - Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil - (0,81%). Mesmo sendo curto o espaço de tempo
desde que foram intensificados os programas dessa natureza, o estudo deduz que o
aumento da pobreza em Teresina tem forçado que filhos de outras famílias sejam
levados à situação de rua, o que "sugere a existência de uma estratégia
equivocada de abordagem dos problemas, que insiste em implementar medidas
compensatórias, de caráter restrito e focalista, sem enfrentar a questão central
da pobreza". 22 Medidas Sócio-Educativas O Serviço Social do Estado (SERSE)
através do Complexo de Apoio Social ao Adolescente (CASA) criou, somente em
1999, o programa de Liberdade Assistida. Desenvolvido apenas em Teresina, o
programa atendeu, desde sua criação até julho/2002, 48 adolescentes. Já a medida
de Prestação de Serviços à Comunidade foi instalada somente em 2000 e apenas na
capital do estado. Da implantação da PSC até julho de 2002, foram encaminhados
ao programa 84 jovens em conflito com a lei.23 O quadro, no Estado, é ainda pior
para a medida de semiliberdade que, após 12 anos de vigência da nova legislação
infanto-juvenil, não tem um programa específico que a discipline. Todas estas
omissões fazem com que a medida de internação seja amplamente utilizada no
Estado. De antemão é bom que se esclareça que, para o cumprimento da medida de
internação, a única unidade existente no estado (também em Teresina) era o CASA.
O local, construído em meados da década de 1970, foi idealizado na vigência do
Código de Menores para ser um Centro de Recepção e Triagem e ao longo de 27
anos, sofreu apenas manutenções de rotina, que não propiciaram a adequação do
espaço físico aos moldes indicados para o devido atendimento ao adolescente
autor de ato infracional. Em fevereiro de 2002, após denúncias dirigidas ao
Conselho Tutelar de Teresina, representantes deste órgão, acompanhados de
membros da OAB/PI e do Núcleo de Pesquisa e Estudo da Criança e do Adolescente
da Universidade Federal do Piauí (NUPEC/UFPI), baixaram Portaria de Fiscalização
do CASA. As visitas, realizadas nos dias 28/2/02 e 12/3/02, constataram uma
série de violências e violações de direitos perpetradas no interior da
instituição. 24
Quanto às instalações físicas, constatou-se
durante a fiscalização que os adolescentes viviam num "mini-presídio", composto
por três pavilhões que abrigavam celas gradeadas. As camas, localizadas no
interior destas celas, eram feitas de tijolo e cimento, sendo que algumas
estavam sem colchões. Havia também uma cela "especial" ("solitária" sem cama nem
colchão), dividida em dois cubículos, que servia como punição aos internos
"rebeldes". A capacidade prevista da unidade era para 38 adolescentes, contudo,
durante a visita, foram contabilizados mais de 68 internos. O Conselho Tutelar
constatou torturas e maustratos perpetrados contra os adolescentes, através dos
relatos desses jovens. Um desses relatos revelou que um dos internos havia
ficado quase quatro meses na cela ‘especial’, sem direito a banho de sol. Mesmo
quando ficou doente, durante o período de punição, ele não podia sair. A mera
tentativa de manifestar reclamações à Coordenadora Técnica já é suficiente para
punição na cela ‘especial’. Muitos já haviam sofrido discriminação, desrespeito
à sua dignidade e até mesmo torturas. Uma das técnicas de tortura utilizadas na
unidade era chamada pelos adolescentes de ‘pau-de-açucar’, onde eles eram
algemados em uma trave e era colocado açúcar, onde ficavam horas em meio a sol e
chuva, sem comer. Vários depoimentos dados pelos internos foram gravados, e
fotos foram tiradas a fim de demonstrar as marcas de agressões. 2 5 Quanto ao
corpo técnico, foram verificados a ausência de qualificação e o despreparo
teórico, prático e psicológico para o trabalho. O que se torna mais grave pelo
fato de alguns dos "educadores" serem prestadores de serviços terceirizados de
uma empresa de segurança de valores e limpeza, que lhes pagava um salário
líquido de R$ 250,00 por mês. Ademais, durante o processo de fiscalização, que
redundou em denúncia encaminhada aos órgãos competentes, foram constatadas: a
precariedade das atividades físicas (restringidas a utilização de um campo de
futebol e uma quadra de futebol de salão); a dificuldade de comunicação entre
adolescentes e familiares (em especial, daqueles de comarcas do interior do
Estado); a desnecessidade de continuidade da internação; o não acesso ao
defensor; a ausência de separação dos adolescentes por critérios de idade,
compleição física e gravidade da infração (indiscriminadamente a unidade
abrigava nos mesmos espaços jovens de 12 a 19 anos que tinham praticado furto,
desacato, arrombamento, homicídio, latrocínio, estupro etc.); falta de
profissionalização (segundo os adolescentes desde novembro de 2001 não havia
atividades de profissionalização).26 27 Mesmo depois de ter sido afastada a
Diretora do CASA, a situação no local não melhorou, culminando em uma rebelião,
sem precedentes no Estado, iniciada no dia 4/5/02, que após 8 horas resultou em
uma morte, 10 feridos e a destruição da unidade.2 8 Com este lamentável fato, os
adolescentes continuaram a ser submetidos a condições iguais ou piores ao
período anterior à rebelião. Entre as medidas tomadas, a mais repudiada, pelas
entidades de defesa dos direitos dos adolescentes em conflito com a lei, foi a
transferência dos jovens para a Casa de Custódia Ribamar Leite. O local, com
capacidade para 297 pessoas e que abrigava 472 adultos, passou a servir, também,
para os 64 adolescentes que cumpriam anteriormente internação no CASA. Em visita
de representantes do Departamento da Criança e do Adolescente do Ministério da
Justiça e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, "entre
outras constatações os adolescentes falaram de atentado à sua integridade
física, de falta de condições higiênicas, de falta de projetos educativos, de
falta de informações, da falta de contato com a família (o juiz suspendera as
visitas por 15 dias em função da destruição de colchões)". Diante da crítica
situação encontrada no Piauí, o Ministério da Justiça liberou verba federal e
designou técnicos para acompanharem as modificações no sistema de atendimento
aos adolescentes em conflito com a lei do Piauí.
No final de junho de 2002, diante das precárias
condições da Casa de Custódia e da não conclusão
das obras de uma nova unidade para os adolescentes,
os jovens foram novamente transferidos desta vez
para a Penitenciária Irmão Guido. A Penitenciária
- que segue o modelo prisional, mas não estava
abrigando, ainda, presos adultos - também apresentou
problemas quanto à ociosidade permanente; a confinação,
em boa parte do dia, em "celas"; e o
fato de grande parte dos adolescentes não estarem
sentenciados e já ter expirado o prazo de 45 dias
da internação provisória (dos 66 adolescentes
à época internados, somente 13 estavam sentenciados).
MULHERES No estado, a taxa de homicídios contra
as mulheres foi de 1,2 por 100 mil habitantes
no ano 2000. As mulheres representaram 7,4% das
vítimas de homicídios.29 Em pesquisa realizada
em duas Delegacias Especializadas no Atendimento
à Mulher no Estado do Piauí, verificou-se que,
em 1999, foram registradas 1.411 ocorrências policiais.
Destas, 370 foram ocorrências de ameaça, uma de
homicídio, 41 tentativas de homicídio, 126 de
lesão corporal, 34 de maus tratos e uma de seqüestro
e cárcere privado. Foram 103 ocorrências de crimes
de violência sexual, sendo destas 49 de estupro,
34 de tentativa de estupro e 20 ocorrências de
atentado violento ao pudor. 30 Em 2001, somente
em Teresina, a polícia registrou 80 ocorrências
de estupro e 86 de atentado violento ao pudor.3
1 Nos primeiros nove meses de 2002, nas Delegacias
de Polícia, incluindo as Especializadas no Atendimento
à Mulher, foram registradas 2.259 ocorrências
de violência contra a mulher, entre as quais 32
estupros. 3 2 A Prefeitura Municipal de Teresina,
através da Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania
e Assistência Social mantém o serviço Disque Mulher
Cidadã que atende mulheres vítimas de violência.
Este serviço, entre maio de 2001 e junho de 2002,
atendeu a 585 mulheres, sendo que 38 foram vítimas
de agressão física, 28 de agressão moral e 8 de
ameaça. 33
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AFRO-DESCENDENTES
A população afro-descendente (2.031.231)
representa 71,44% da população do estado, proporção
superior à média da Região Nordeste. Na população
afro-descendente, 8,24% se declararam negros e
63,20% pardos. 3 4
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INDÍGENAS
No Censo Demográfico de 2000, consta que
2.106 pessoas, o equivalente a 0,07% da população desse Estado, se declarou
indígena. No entanto, não constam como povo ou etnia reconhecida nem nos
registros da Funai nem nos registros do Instituto Sócio- Ambiental. 35
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IDOSOS
O Piauí tinha,
em 2000, uma população de 236.954 idosos.36 Seguindo
a tendência nacional, a população de idosos cresce
em relação às demais faixas etárias da população.
Os idosos representavam 6,6% da população em 1991,
e passaram a 8,3% no ano 2000. Nesta década, o
Piauí foi o estado que registrou o maior aumento
da população idosa em relação à população total
na Região Nordeste.
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GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS,
TRANSEXUAIS
Nos anos de 2000 e 2001, foram registrados
seis homicídios homofóbicos, tendo sido quatro
contra gays e dois contra travestis. 37 Em 2001,
na capital do estado, Francisco, 22 anos, tomou
um táxi para que o levasse em casa. Quando o motorista
do táxi percebeu que Francisco era homossexual,
tinha problemas mentais e possuía apenas R$ 2,00
na carteira, parou o carro e expulsou-o do taxi.
A polícia, percebendo que Francisco era homossexual,
espancou-o e, em seguida, levou o jovem preso.
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1 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
2 Dossiê enviado à Comissão
Teotônio Vilela de Direitos Humanos pela Comissão
de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do
Brasil-Piauí.
3 Conselho de Defesa dos Direitos
da Pessoa Humana, "Relatório do Conselheiro
Carlos Chagas do CDDPH, sobre a ação do crime
organizado no estado do Piauí".
4 Rodley, Nigel, Relatório
sobre a Tortura no Brasil. Disponível no web-site
da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (www.mj.gov.br/sedh)
e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).
5 Ministério da Justiça, Secretaria
Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário
Nacional (www.mj.gov.br/depen/default.htm).
6 Dossiê enviado pela Ordem
dos Advogados do Brasil-Piauí, com notícias dos
jornais Diário do Povo e Correio do Piauí.
7 Informe CPT/PI, Teresina,
02 de abril de 2002; Diário do Povo, Teresina,
03 de abril de 2002; Diário do Povo, Teresina,
05 de maio de 2002.
8 Diário do Povo, Teresina,
09 de abril de 2001.
9 Relatório CPT/PI, Teresina,
25 de janeiro de 2002; Jornal Meio Norte, Teresina,
05 de maio de 2002.
1 0 Diário do Povo, Teresina,
03 de abril de 2002.
1 1 Informe CPT/PI, Teresina,
15 de abril de 2002; O Dia, Teresina, 18 de abril
de 2002
1 2 Idem.
1 3 Revista Problemas Brasileiros
nº 350, Março/Abril 2002, pág. 17 a 11.
1 4 Folha de São Paulo, 03
de outubro de 2002, "170 municípios pedem
proteção do Exército para votação do dia 6".
1 5 Governo do Estado do Piauí,
Secretaria da Justiça e da Cidadania, Plano Nacional
de Direitos Humanos – I, Relatório de Estado do
Piauí.
16 Waiselfisz, J.J. Mapa da
Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília:
UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil
por homicídios é a relação entre a taxa de óbitos
por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas
de homicídio na população total. Quanto maior
a taxa de vitimização, maior é a concentração
de homicídios na população jovem. Quando a taxa
é zero ou próxima a este valor, os homicídios
atingem na mesma proporção os jovens e os demais
grupos da população.
1 7 Núcleo de Pesquisas e
Estudos sobre a Criança e o Adolescente do Centro
de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal
do Piauí e Secretaria Municipal da Criança e do
Adolescente da Prefeitura Municipal de Teresina,
Estudo sobre a realidade da Criança e do Adolescente
em situação de rua em Teresina/PI - Relatório
de Pesquisa, Teresina, 2002. O estudo esclarece
que se entende "por criança e adolescente
em situação de rua o grupo que, segundo Rosemberg
(1994), se apropria do espaço da rua com outros
fins – trabalhar, brincar, esmolar, etc. – que
não o da mera circulação", p. 6.
18 ABRAPIA - Sistema Nacional
de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil
(www.abrapia.org.br). Conforme descrito na introdução
geral, o conceito de exploração sexual infantojuvenil
abrange: abuso sexual (intra-familiar e extra-familiar)
e exploração sexual comercial (compreendendo o
tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo
sexual e a pornografia).
1 9 CECRIA - Centro de Referência,
Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes,
Relatório Nacional - Pesquisa Sobre tráfico de
Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de
Exploração Sexual Comercial (Brasília: CECRIA,
2002).
2 0 Ministério do Trabalho
e Emprego, Mapa de Indicativos do Trabalho da
Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001),
p 54. O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas
pelas crianças e adolescentes conforme o Estado.
No Piauí foi constatado o trabalho de pessoas
entre 5 e 15 anos nas atividades de: Agricultura
Canavieira; Cata do Caranguejo e Pesca do Camarão;
Catadores de Lixo; Comércio (Ambulante e Varejista);
Indústria Salineira; Panfletagem; Rizicultura;
Salinas; Serviços (em Madeireiras; em Oficinas
Mecânicas; em Olarias e em Pedreiras) e Venda
de Jornais.
2 1 Núcleo de Pesquisas e
Estudos sobre a Criança e o Adolescente do Centro
de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal
do Piauí e Secretaria Municipal da Criança e do
Adolescente da Prefeitura Municipal de Teresina,
Estudo sobre a realidade da Criança e do Adolescente
em situação de rua em Teresina/PI - Relatório
de Pesquisa, Teresina, 2002, p. 57.
2 2 Idem.
2 3 Diário do Povo, Teresina,
27 de julho de 2002 (reportagem integrante do
material fornecido pelo Conselho Tutelar de Teresina).
2 4 Relatório de Fiscalização
no Complexo de Apoio ao Adolescente – CASA de
Teresina/PI, realizada em fevereiro e março de
2002 – Responsável: Conselho Tutelar de Teresina
(2 de abril de 2002).
2 5 Jornal Na Hora, Piauí,
10 de abril de 2002 (reportagem integrante do
material fornecido pelo Conselho Tutelar de Teresina).
2 6 Os funcionários indicavam
que havia profissionalização na área de marcenaria,
contudo o CT relembra que este tipo de atividade
é vedado aos adolescentes em razão de sua periculosidade
e insalubridade.
2 7 Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente de Teresina
(CMDCAT), Ministério Público e Serviço Social
do Estado do Piauí.
28 O jovem Flávio Cardoso
Pereira (17 anos), que cumpria internação no CASA,
foi morto pelos próprios adolescentes com mais
de cem golpes de estilete, faca e caco de telha.
Durante a rebelião, ficaram feridos oito adolescentes
e dois policiais militares.
2 9 Waiselfisz, J.J. Mapa
da Violência III: Os Jovens do Brasil (Brasília:
UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002).
3 0 Conselho Nacional
dos Direitos da Mulher - Pesquisa Nacional sobre
as Condições de Funcionamento das Delegacias Especializadas
no Atendimento às Mulheres. Relatório da pesquisa
disponível no web-site do Conselho (www.mj.gov.br/sedh/cndm).
3 1 Ministério da Justiça,
Secretaria Nacional de Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).
3 2 Governo do Estado do Piauí,
relatório enviado à Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos.
3 3 Prefeitura Municipal de
Teresina, Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania
e de Assistência Social, Projeto Disque Mulher
Cidadã – Relatório Anual 2001 e Projeto Disque
Mulher Cidadã - Relatório Semestral de Atividades
Janeiro a Junho 2002.
3 4 IBGE, Censo Demográfico
2000 (www.ibge.gov.br).
3 5 IBGE, Censo Demográfico
2000, web-site da Funai (www.funai.gov.br) e web-site
do ISA (www.socioambiental.org).
3 6 IBGE, Censo Demográfico
2000 (www.ibge.gov.br)
37 Mott, Luiz e Marcelo
Cerqueira. Causa Mortis: Homofobia. Violação dos
Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais
no Brasil – 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay
da Bahia, 2001) e Mott, Luiz, Marcelo Cerqueira
e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no
Brasil. Editora Grupo Gay da Bahia - 2001 (Salvador:
Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
38 Mott, Luiz, Marcelo Cerqueira
e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no
Brasil. Editora Grupo Gay da Bahia - 2001 (Salvador:
Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
RIO
GRANDE DO NORTE
VIOLÊNCIA
POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO,
UNIDADES FECHADAS
VIOLÊNCIA RURAL
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS
POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
GAYS, LÉSBICAS, TRANSEXUAIS
E BISSEXUAIS
O Estado do Rio Grande do Norte, situado no extremo
noroeste da Região Nordeste, faz divisa com a
Paraíba e o Ceará. Sua capital é Natal e sua economia
se baseia na extração mineral (petróleo e sal
marinho), agricultura e indústria. Em 1999, o
Rio Grande do Norte lançou o Programa Estadual
de Direitos Humanos, elaborado a partir da 2a
Conferência Estadual de Direitos Humanos, realizada
em 1998. No Rio Grande do Norte, um dos graves
problemas é a continuidade da atuação do grupo
de extermínio denominado Meninos de Ouro (Golden
Boys), que conta com a participação de agentes
da polícia civil, apesar das reiteradas denúncias
de organizações não governamentais, inclusive
junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da Organização dos Estados Americanos. Em relação
à efetivação dos instrumentos de democracia participativa
previstos no ECA, a falta dos Conselhos (Tutelar
e de Direitos) no Rio Grande do Norte coloca o
Estado entre os piores do Nordeste e do Brasil.
Até o final do 1º semestre de 2002, somente 53
dos 166 municípios contavam com Conselhos Tutelares.
O que significa que no Estado ocorria um flagrante
descumprimento do ECA no que se refere a implantação
desses órgãos. Quanto aos Conselhos Municipais
de Direitos a situação era um pouco melhor, contudo,
95 cidades ainda não haviam instalado. 1
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VIOLÊNCIA POLICIAL,
EXECUÇÕES E TORTURA
No Rio Grande do Norte, há um grupo de extermínio
formado por policiais civis, denominado Meninos
de Ouro. O grupo é acusado da prática de crimes,
particularmente extorsão e execuções de criminosos,
e eliminação daqueles que contestam sua atuação.
Mais de cinqüenta mortes foram atribuídas a este
grupo, inclusive duas mortes na Chacina de Mãe
Luiza em março de 1995 e o assassinato em outubro
de 1996 do advogado Francisco Gilson Nogueira
de Carvalho, do Centro de Direitos Humanos e Memória
Popular, que atuava como assistente do Ministério
Público no processo contra o delegado Maurílio
Pinto de Medeiros, acusado de comandar o grupo
de extermínio. Na seqüência da execução do advogado,
o delegado Maurílio Pinto de Medeiros, que exercia
o cargo de secretário adjunto da segurança, foi
afastado, mas as investigações sobre a atuação
do grupo de extermínio não prosseguiram. Em março
de 1999, foi assassinado o decorador Antônio Lopes,
conhecido como "Carla", que teria informações
sobre a atuação do grupo de extermínio. 2 Em visita
ao Brasil, no ano de 2000, o relator especial
da Organização das Nações Unidas para a Tortura,
Nigel Rodley, observou a prática de tortura e
outros tratamentos cruéis no Rio Grande do Norte,
citando em seu relatório sete casos, a maioria
no ano 2000, envolvendo policiais civis e militares.
Há dois casos referentes à tortura na Colônia
Penal João Chaves, em Natal. 3
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO, UNIDADES FECHADAS
Não há superlotação
carcerária no estado. São 1.324 vagas nos estabelecimentos
prisionais para 1.168 presos, destas 1.009 vagas
são destinadas a pena de regime fechado. As vagas
para cumprimento de medida de segurança não são
suficientes, neste caso há superlotação, 31 presos
receberam essa medida e o estado só disponibiliza
24 vagas. Neste caso a inadequação da estrutura
poderá concretizar uma grave violação de direitos
humanos, uma vez que muitos dos presos que recebem
esse tipo de medida necessitam de atendimento
médico especializado. 4 Um caso de morte de vários
presos provocada pela intervenção policial se
deu em 5 de fevereiro de 1998, quando cerca de
trinta presos tentaram fugir da penitenciária
Central João Chaves, na cidade de Natal. Policiais
militares na operação de recaptura feriram dez
e executaram sete presos. Segundo os laudos necroscópicos
posteriormente divulgados ficou constatado que
apenas um preso morreu em decorrência de hemorragia
por causa de tiro levado na perna, sendo que todos
os outros morreram com tiros na cabeça, tórax
e abdômen.
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VIOLÊNCIA RURAL
No Rio Grande do Norte, o número de conflitos
rurais aumentou de 15 em 1999 para 27 em 2000, mas diminuiu para 18 em 2001. O
número de pessoas envolvidas nos conflitos também aumentou de 7.545 em 1999 para
10.440 em 2000 e diminuiu para 5.560 em 2001. Entre janeiro de 1999 e agosto de
2001, não foram registradas mortes em decorrência de conflitos rurais no estado.
5
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LIBERDADES
CIVIS E DIREITOS POLÍTICOS
Nas eleições realizadas no dia 27 de outubro de
2002, seis municípios desse estado receberam a
proteção das Forças Armadas. 6 Segundo o Governo
do Estado, desde o ano de 2000, três jornalistas
foram ameaçados em função do exercício de suas
atividades profissionais. 7
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CRIANÇAS
E ADOLESCENTES
O número de jovens, entre 15 e 24 anos, mortos
por homicídio diminuiu de 89 para 77 entre 1998
e 2000. O número de mortes por homicídio por 100
mil habitantes na população entre 15 e 24 anos
diminuiu de 16,2 em 98 para 13,5 em 2000. Um indicador
da probabilidade dos jovens virem a ser mortos
é a taxa de vitimização juvenil, que era em 2000
de 46,8. A redução das taxas de morte de jovens
em razão de homicídio colocou o Estado do Rio
Grande do Norte em primeiro lugar entre as unidades
da federação em que esses índices mais diminuíram,
entre 1998 e 2000. 8 A Secretaria Estadual da
Ação Social, através da Fundação Estadual da Criança
e do Adolescente, desenvolve o Programa SOS Criança
em Natal. Voltado às crianças e adolescentes em
situação de risco pessoal e social, por ação ou
omissão dos responsáveis, o serviço busca sempre
atuar de maneira integrada às várias ações e demais
serviços, governamentais e não governamentais,
de defesa e atendimento a essa faixa da população.
Entre janeiro de 1999 e julho de 2001, foram registrados
8.483 casos de violações perpetradas contra crianças
e adolescentes. Deste total, as violências mais
comuns foram: negligência (2.428), maus tratos
(2.044) e espancamento (957). Exploração Sexual
No período de fevereiro de 1997 a junho de 2002,
o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual
Infanto-Juvenil registrou no Brasil um total de
3.295 denúncias de exploração sexual, das quais
56 originaram- se no Estado do Rio Grande do Norte.
9 O governo e a sociedade civil da Capital do
Rio Grande do Norte, visando combater a exploração
sexual, se uniu em outubro de 2001 para elaborar
o Plano Municipal de Enfrentamento e Combate à
Exploração Sexual. Paralelamente, foi estabelecida
parceria entre Ministério Público, Secretaria
de Segurança, Conselho Tutelar e órgãos governamentais
do Estado e do Município, com intuito de prevenir
e repreender permanentemente a exploração sexual
de crianças e adolescentes. Trabalho Infanto-Juvenil
O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e
do Adolescente indicou que em 1999 havia 162.474
crianças e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos
de idade, estavam trabalhando no Estado do Rio
Grande do Norte. Deste total, 22.653 (47,91%)
trabalhavam na área urbana e 24.626 (52,09%) na
rural. O Mapa aponta que esse grupo ocupava, com
maior freqüência, os seguintes setores: Agropecuária
(23.144) e Comércio (10.343). Ademais, 25.596
não recebiam remuneração, 7.388 eram empregados,
4.433 trabalhavam para autoconsumo, 3.448 eram
domésticos e 3.445 (7,21%) trabalhavam por conta
própria. 10 A Comissão Estadual do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) idealizou
e o Governo do Estado em parceria com a UNICEF
lançaram, em 5 de outubro de 2001, Campanha de
Combate ao Trabalho Infantil no Estado. A Campanha
busca reforçar os resultados do PETI que em 1999
atendia a 700 crianças e adolescentes, registrava
em 2001 um total de 43.000 beneficiados. 11 Medidas
Sócio-Educativas Conforme dados apresentados pelo
Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança
e do Adolescente e pelo Departamento da Criança
e do Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos
do Ministério Justiça, ao Rio Grande do Norte
tinha, em março de 2002, 144 adolescentes inseridos
em medida sócio-educativa de liberdade assistida
e, no mês de junho, 39 em internação (sendo quatro
do sexo feminino), 55 em internação provisória
e 17 em semiliberdade. Havia no Estado, Em relação
à efetivação dos instrumentos de democracia participativa
previstos no ECA, até o final do 1º semestre de
2002, três unidades para cumprimento da medida
sócioeducativa de internação, duas para semiliberdade
e uma para internação provisória. 12 Com características
proporcionais muito semelhantes ao Estado da Bahia,
o Rio Grande do Norte tem: (1) quantidade relativa
de adolescentes em regime de liberdade assistida
muito próxima da média nacional (comparando-se
jovens em liberdade assistida. e em internação
ou semiliberdade); e (2) de cada 10 adolescentes
privados de liberdade, aproximadamente seis estão
provisoriamente e quatro privados de liberdade
por força de uma sentença. No município de Parnamirim
estava localizado o Centro Educacional Pitimbu,
que mereceu destaque na mídia estadual,13 em meados
de 2002, em razão da precariedade da estrutura
local, que abrigava - sem separação por critério
etário, de compleição física e de gravidade da
infração - adolescentes e jovens adultos, com
idades entre 13 e 20 anos. Esta violação flagrante
ao art. 123 do ECA prejudicava a consecução dos
objetivos da medida sócio-educativa, favorecendo,
inclusive, que o aumento do grau de reincidência
dos adolescentes.
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MULHERES
A Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres,
Crianças e Adolescentes para fins de Exploração
Sexual Comercial, constatou a existência de uma
rota de tráfico de mulheres para fins de exploração
sexual comercial. A região também apresenta um
problema de turismo sexual e aponta uma possível
inter-relação com o turismo sexual e tráfico,
já que Recife (PE), Fortaleza (CE), Salvador (BA)
e Natal (RN), capitais que aparecem como os principais
locais de destino do tráfico, são também as cidades
nordestinas que mais recebem turistas estrangeiros.
Existem inquéritos e processos que informam a
existência de tráfico de mulheres para a Europa.
1 4 No Rio Grande do Norte, a taxa de homicídios
contra as mulheres é de 1,4 por 100 mil habitantes
no ano de 2000. As mulheres representam 7,8% das
vítimas de homicídios.1 5 Em Natal, a polícia
registrou 74 ocorrências de estupro e 83 atentados
violentos ao pudor em 1999, 35 estupros e 42 atentados
violentos ao pudor em 2000, 73 estupros e 80 atentados
violentos ao pudor em 2001. 1 6 Em duas Delegacias
Especializadas no Atendimento à Mulher no estado
do Rio Grande do Norte, foram registradas 3.457
ocorrências policiais em 1999. Destas, foram 758
ameaças (21,93%), 76 atentados violentos ao pudor
(2,20%), 16 homicídios (0,46%), 2.175 lesões corporais
(62,92%), 2 lesões corporais culposas (0,06%),
3 maus-tratos (0,09%), 1 cárcere privado (0,03),
68 estupros (1,97%), 4 tentativas de estupro (0,12%)
e 39 vias de fato (1,13%). 17
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AFRO-DESCENDENTES
A população afro-descendente (1.610.141) representa
57,99% da população do estado, proporção inferior
à média da Região Nordeste. Na população afrodescendente,
3,66% se declararam negros e 54,33% pardos. 1
8
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INDÍGENAS
No Censo Demográfico
de 2000, consta que 598 pessoas, o equivalente
a 0,02% da população desse Estado, se declarou
indígena. No entanto, não constam como povo ou
etnia reconhecida nem nos registros da Funai nem
nos registros do Instituto Sócio-Ambiental. 19
IDOSOS O Rio Grande do Norte tinha, em 2000, uma
população de 250.594 idosos.20 A população do
estado envelhece, ainda que em ritmo menos acelerado
que a população do país. A proporção de idosos
na população total do estado passou de 8,2% em
1991 para 9,% no ano 2000. PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
A população de portadores de deficiência (540.571)
representa 19,47% da população do Rio Grande do
Norte. É o estado que tem a maior população de
portadores de deficiência, proporcionalmente à
população, no país. 21
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GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS
E TRANSEXUAIS
Entre 2000 e 2001,
foram registrados 7 homicídios homofóbicos e em
todos a vítima era gay. 22
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1 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
2 O Primeiro Relatório Nacional de Direitos
Humanos não incluiu o Estado do Rio Grande do Norte e deixou de apresentar
informações sobre este caso. Ver mais informações sobre este caso no capítulo "O
Sistema Internacional e a Situação dos Direitos Humanos no Brasil".
3 Rodley, Nigel, Relatório sobre a Tortura no
Brasil. Disponível no web-site da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos
(www.mj.gov.br/sedh) e da ONG Justiça Global (www.global.org.br).
4 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/depen/default.htm).
5 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil
2001. Dados de janeiro a agosto de 2002, disponíveis no web-site da CPT
(www.cptnac.com.br).
6 Agência Estado, 27 de outubro de 2002,
"Forças Armadas atuam em 149 municípios, sem incidentes até agora"
(www.estadao.org.br).
7 Governo do Estado do Rio Grande do Norte,
Segundo Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil - RNDH II.
8 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação
entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de
homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a
concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a
este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais
grupos da população.
9 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na
introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso
sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial
(compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a
pornografia).
1 0 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de
Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001), p 57.
O Mapa traz, ainda, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes
conforme o Estado. No Rio Grande do Norte foi constatado o trabalho de pessoas
entre 5 e 15 anos nas atividades de: Caieiras; Comércio Ambulante; Cultura (do
Algodão; e do Caju); Cultura e Desfibramento do Sisal; Fabricação de Bonés;
Fumicultura; Hortifruticultura; Manequins e Modelos; Matadouros; Pesca; Produção
(de Carvão Vegetal; e de Farinha de Mandioca); Serviços (de Estamparia; de Rua;
em Cerâmicas e Olarias; e em Pequenas Salinas Manuais); Tecelagem; e Transporte
Coletivo (Kombistas)
11 Notícias ABMP, 5 de outubro de 2001
(www.abmp.org.br).
12 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
1 3 Diário de Natal, 5 de julho de 2002, p.3 ,
notícias disponíveis no site da entidade (www.abmp.org.br)
14 CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações
sobre Crianças e Adolescentes - (Coordenação Nacional). Relatório Nacional -
Pesquisa Sobre tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de
Exploração Sexual Comercial. Brasília, 2002.
1 5 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III:
Os Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002).
1 6 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).
1 7 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher -
Pesquisa Nacional sobre as Condições de Funcionamento das Delegacias
Especializadas no Atendimento às Mulheres. Relatório da pesquisa disponível no
web-site da entidade(www.mj.gov.br/sedh/cndm).
1 8 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br).
19 IBGE, Censo Demográfico 2000, web-site da
Funai (www.funai.gov.br) e web-site do ISA (www.socioambiental.org).
2 0 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br)
21 Idem.
2 2 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira. Causa
Mortis: Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais
no Brasil – 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001) e Mott, Luiz,
Marcelo Cerqueira e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora
Grupo Gay da Bahia - 2001 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
SERGIPE
VIOLÊNCIA
POLICIAL, TORTURA E EXECUÇÕES
SISTEMA PENITENCIÁRIO
VIOLÊNCIA RURAL
LIBERDADES CIVIS E DIREITOS
POLÍTICOS
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
MULHERES
AFRO-DESCENDENTES
INDÍGENAS
IDOSOS
GAYS, LÉSBICAS, TRANSEXUAIS
E BISSEXUAIS
O Estado de Sergipe, situado no leste da Região
Nordeste, faz divisa com Alagoas e Bahia. É o menor estado brasileiro. Sua
capital é Aracaju e sua economia se baseia na agricultura (laranja,
cana-de-açúcar, algodão, coco), pecuária, e , de maneira crescente, na
exploração do petróleo e gás natural e na indústria. Nos últimos anos, houve
aumento significativo do número de jovens vítimas de homicídio, passando de 53
em 1998 para 140 no ano 2000 (crescimento de 164,15%). O número de mortes por
homicídio por 100 mil habitantes na população entre 15 e 24 anos aumentou de
14,5 para 36,7 entre 1998 e 2000 (+153,10%).1 O Centro de Defesa da Mulher e
Apoio a Cidadania "Bem Querer", com sede em Aracaju e fundado em 08 de março de
2001, é uma das organizações da sociedade civil que merece destaque no estado. O
"Bem Querer" atende, orienta, encaminha e acompanha mulheres vitimizadas pela
violência, dando apoio, assistência jurídica, psicológica e social. Outra
organização que merece destaque é a Sociedade Afrosergipana de Estudos e
Cidadania – SACI, que em, novembro de 2000, implementou o Disque Racismo.
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VIOLÊNCIA
POLICIAL, EXECUÇÕES, TORTURA
Em Sergipe, há denúncias de violência praticada
por policiais, principalmente em delegacias, contra
profissionais do sexo. Conforme depoimentos fornecidos
à Associação Sergipana de Prostitutas, há casos
de mulheres que foram estupradas e que, ao chegar
nas delegacias para fazer ocorrência, foram discriminadas
e ridicularizadas em virtude de sua atividade
profissional. Em decorrência desta prática, muitas
mulheres acabavam não fazendo o boletim de ocorrência
quando são vítimas de estupro ou agressão. Ao
invés de irem às delegacias para prestar as denúncias,
em decorrência dessas séries de constrangimentos
a que eram submetidas, muitas mulheres optam por
apresentar denúncias à Associação. Ainda segundo
a Associação, há casos de clientes que levam as
profissionais do sexo para suas casas e, após
utilizarem seus serviços, chamam a polícia e as
acusam de roubo, além de não pagarem o programa.
Os policiais, segundo as denúncias, agem freqüentemente
com violência, com agressões físicas e morais
contra as mulheres. 2 Em agosto de 2000, policiais
militares realizam greve por melhores salários.
3
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SISTEMA
PENITENCIÁRIO
O estado apresenta grave problema de superlotação.
O sistema prisional dispõe de 658 vagas e atualmente
se encontram encarcerados 1.601 presos. Não há
disponibilidade de vagas para o regime aberto
e para medida de segurança, embora exista 90 presos
cumprindo pena em regime aberto. 4
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VIOLÊNCIA RURAL
Em Sergipe, ocorreram, entre 1999 e 2001, seis
conflitos de terra que envolveram 5.905 pessoas
e vitimaram, de forma fatal, duas. 5 Um dos casos
aconteceu no dia 17 de maio de 2001, quando policiais
invadiram um acampamento de trabalhadores sem
terra, às margens da Fazenda Cassugu, queimaram
todos os barracos, dispararam tiros e ameaçaram
os trabalhadores acampados.6 Quinze dias depois,
no município de Poço Redondo, 150 famílias do
projeto assentamento Queimada Grande realizavam
um mutirão para a recuperar os alimentos, quando
trinta policiais armados invadiram o assentamento
disparando tiros. Além de prenderem alguns dos
trabalhadores sem-terra, o delegado teria ameaçado
de morte alguns assentados. Todos os alimentos
encontrados foram levados pelos policiais. 7
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LIBERDADES
CIVIS E DIREITOS POLÍTICO
Em 23 de fevereiro de 2000, segundo caso
relatado pela Comissão de Direitos Humanos da
OAB/SE, o advogado José Elito de Vasconselhos
teria sofrido agressões por parte de policiais
militares, após ter batido levemente seu carro
em outro, no interior de um estacionamento. Diante
do fato, três policiais militares abordaram e
solicitaram os documentos ao advogado e conselheiro
da OAB/SE. Um dos policiais identificou- o como
um "rapaz dos direitos humanos". Alguns
momentos depois chamaram a equipe "Garra"
da Polícia, que chegou no local em três viaturas.
Diziam ao advogado, que recebeu um tapa no rosto
de um dos policiais, que a polícia tinha de ser
respeitada e que ele precisava tomar uns cacetes
para deixar de falar da polícia. Não bastassem
as ameaças e violência, a vítima, até ser liberada,
foi obrigada a permanecer um tempo no interior
de uma viatura, onde insultos verbais lhe foram
proferido
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CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Em relação à efetivação dos instrumentos de democracia
participativa previstos no ECA, até o final do
1º semestre de 2002, apenas 49 dos 75 municípios
contavam com Conselhos Tutelares. Quanto aos Conselhos
Municipais de Direitos a situação era melhor,
porém em nove cidades não estavam instalados.
9 Exploração Sexual No período de fevereiro de
1997 a junho de 2002, o Sistema Nacional de Combate
à Exploração Sexual Infanto-Juvenil registrou
no Brasil um total de 3.295 denúncias de exploração
sexual, das quais 18 originaram- se no Estado
de Sergipe. Deste total, 1/3 delas foram feitas
no 1º semestre de 2002. 10 Trabalho Infanto-Juvenil
O Mapa de Indicativos do Trabalho da Criança e
do Adolescente aponta que, em 1999, 53.888 crianças
e adolescentes na faixa de 5 a 15 anos de idade
estavam trabalhando no Estado de Sergipe. Deste
total, 22.639 (42,01%) trabalhavam na área urbana
e 31.249 (57,99%) na rural. O Mapa indica que
esse grupo ocupava, com maior freqüência, os seguintes
setores: Agropecuária (35.075), Comércio (5.740)
e Prestação de Serviços (5.739). Ademais, 26.017
não recebiam remuneração, 9.885 eram empregados
e 7.653 trabalhavam para autoconsumo. 11 Fruto
da mobilização e luta da sociedade civil organizada
do estado, o Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil (PETI) atendia, no ano de 2000, 64 municípios
sergipanos, beneficiando 23 mil crianças e projetava
para o ano de 2001 o acréscimo de outros cinco
municípios e mais 2.800 crianças beneficiadas.
12 Medidas Sócio-Educativas Conforme dados apresentados
pelo Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente e pelo Departamento da
Criança e do Adolescente da Secretaria de Direitos
Humanos do Ministério Justiça, Sergipe tinha,
em março de 2002, 22 adolescentes inseridos em
medida sócio-educativa de liberdade assistida
e, no mês de junho, 60 em internação (sendo cinco
do sexo feminino) e quatro em semiliberdade. Até
junho de 2002, o Estado contava com uma unidade
para cumprimento da medida de semiliberdade e
duas para internação. Em Sergipe, o total de adolescentes
(86) inseridos em uma das três medidas (liberdade
assistida, internação e semiliberdade), entre
todos os estados brasileiros, só era maior que
o de Tocantins. 1 3 Apesar do pequeno número de
adolescentes internados, o que em tese facilitaria
o desenvolvimento de um processo sócio-educativo
em consonância com as determinações do ECA, Sergipe
se destaca pelas péssimas condições a que submete
os jovens em conclito com a lei. Tais condições
foram constatadas pela Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados que, em visita a uma unidade
de privação de liberdade de jovens do Estado (o
CENAN de Aracajú), se depararam com 60 adolescentes
internados num espaço de características muito
assemelhadas àquelas do sistema prisional, entre
elas: as celas eram sem ventilação e sem luz natural
ou mesmo artificial; e a privada era um buraco
no chão, no qual os adolescentes tinham que usá-la
na frente de todos, isto porque na última reforma
retiraram a proteção que garantia um mínimo de
privacidade aos adolescentes ao utilizar o banheiro.
Verificou-se, também, durante a visita que muitos
adolescentes se encontravam doentes e sem tratamento
médico. Os adolescentes relataram terem apanhado
dos monitores e disseram que, como forma de punição,
eram obrigados a permanecer algemados de pé, em
uma grade externa, nos fundos do prédio, por até
24h. 1 4
<
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MULHERES
Em Sergipe, a taxa de homicídios contra as mulheres
é de quatro por 100 mil habitantes no ano de 2000.
As mulheres representam 9,2% das vítimas de homicídios.15
Em Aracaju, a polícia registrou, em 1999, 68 ocorrências
de estupro e 28 de atentado violento ao pudor.
Em 2001, os números aumentaram para 71 estupros
e 33 atentados violentos ao pudor. 16 A Secretaria
de Estado da Justiça e da Cidadania, em parceria
com a Comissão de Direitos Humanos da Universidade
Federal de Sergipe, realiza capacitação dos funcionários
da Delegacia Especial de Proteção à Mulher, em
especial, para que esses profissionais promovam
o adequado encaminhamento ao Centro de Referência
da Mulher, que fornece tratamento médico e psicológico
às vítimas de violência. Além disso, realiza palestras
em instituições de ensino, visando prevenir e
conscientizar os jovens e, assim, eliminar a perpetuação
da violência e da discriminação. 1 7 O Centro
de Defesa da Mulher e Apoio a Cidadania "Bem
Querer" informa que, até a julho de 2002,
não existia no Estado de Sergipe nenhum albergue
específico para atendimento da mulher. Ressalta,
também, que existem poucas Delegacias Especiais
da Mulher no estado e aquelas que já foram instaladas
têm um infra-estrutura precária, faltando o devido
de aparelhamento. 18 Desde sua fundação, em março
de 2001, até julho de 2002, "Bem Querer"
atendeu e acompanhou cerca de 50 mulheres. Os
casos diziam respeito à lesão corporal, ameaças,
crimes contra a honra e violência sexual. 1 9
Além desse atendimento direto às mulheres vitimizadas,
o "Bem Querer" tem outros dois projetos:
"O Fala Mulher" que, através da imprensa
(escrita, falada e televisada), pretende abrir
um espaço de expressão para as mulheres, onde
elas possam divulgar seus trabalhos, artísticos,
literários, artesanais etc.; e o "Disque
Mulher" que informa os direitos das mulheres,
recebe anúncios e sugestões. 20
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AFRO-DESCENDENTES
A população afro-descendente
(1.215.093) representa 68,09% da população do
estado, proporção superior à média da Região Nordeste.
Na população afro-descendente, 6,89% se declararam
negros e 61,20% pardos. 2 1 O Disque Racismo,
desenvolvido pela ONG SACI, funcionando como um
serviço de assistência jurídica gratuita via telefone.
Em dois anos, o serviço já recebeu 30 denúncias
que configuram injúria e preconceito racial. Quatro
delas resultaram em ações judiciais, que estão
em andamento no Poder Judiciário sergipano. A
SACI indica como dificuldade no rompimento do
preconceito e da discriminação, o fato das pessoas
terem dificuldade em perceber quando estão sendo
discriminadas e, muitas vezes, quando se apercebem
e registram o ocorrido, são dissuadidas de prosseguir
com a denúncia. Casos de Discriminação Racial
Em 24 de novembro de 1999, um senhor foi vítima
de injúria racial. Ele estava em uma churrascariaassistindo
a um jogo de futebol, quando foi repreendido por
uma senhora que gritou "negro safado, escravo!
Quem foi que abriu a senzala para você sair?".
A vítima ajuizou a ação contra esta senhora, e
o processo está em andamento. 2 2 No dia 04 de
julho de 2001, em Aracaju, uma menina que guiava
uma bicicleta passou por cima do pé de um menino
negro. O menino, ao pedir para que a menina tivesse
mais cuidado, foi agredido pela mãe da mesma que
disse: "Como é que uma mãe passa nove meses
para dar à luz a um neguinho assim?", ainda
o ameaçou dizendo que o pai da menina iria bater
nele ou em seu pai, e acrescentou: "Você
já viu negro ter vez? Pessoas como vocês não deveriam
morar neste bloco, aqui não é lugar para pessoas
como vocês". O garoto, além de se sentir
machucado com a agressão, se sentiu humilhado,
pois estava com mais três amigos. Seus pais procuraram
uma delegacia, instaurando inquérito. O processo
está em tramitação na justiça. 2 3 Em 24 de agosto
de 2001, em Gararu, uma menina, em seu trajeto
de volta do trabalho para a casa, foi atingida
moralmente ao ser xingada pela mãe de uma outra
menina que concorria a vaga do seu emprego. A
agressora a chamou de "negra porca",
"vai abrir a senzala", "vai comer
a lavagem da fazenda". O caso foi levado
ao Juizado Especial Criminal e foi determinada
a suspensão do processo, o que significa que a
agressora está proibida de freqüentar bares após
as 22:30 horas; de ausentar-se da comarca sem
autorização da juíza, salvo viagem a trabalho
para Aracaju; e estará obrigada a comparecer pessoalmente
a cada dois meses no juízo para justificar suas
atividades no período de 2 anos. 24 Em janeiro
de 2002, um funcionário de um condomínio em Aracajú,
após reunião dos moradores, foi demitido em razão
de suas características afro-descendentes. A vítima
entrou com ação judicial, ainda não julgada, alegando
ser vítima de preconceito racial. 25
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INDÍGENAS
Sergipe tem apenas
um povo indígena, os Xokó, que tem uma população
de 250 indígenas.26 Estima-se que tenha a 3ª menor
população indígena entre os estados que tem indígenas
no país. 27 O Estado tem apenas uma área indígena,
que se encontra registrada. 28 Violências Assim
como os indígenas de Alagoas, os indígenas de
Sergipe também vêm denunciando as irregularidades
decorrentes da terceirização e da municipalização
dos serviços de saúde indígena. Alegam que a municipalização
permite às prefeituras que empreguem e demitam
funcionários de acordo com critérios próprios,
desconsiderando os Conselhos Distritais de Saúde,
reclamam a falta de profissionais e o despreparo
dos agentes de saúde não-indígenas e acusam que
os repasses de recursos financeiros de saúde indígena
estariam sendo feitos diretamente às prefeituras
por meio de "acordos", sem assinaturas
de convênios, o que permitiria aos prefeitos poderem
utilizar o dinheiro para outros fins. Realizaram
ações e redigiram documentos onde expressaram
o descontentamento com esse modelo de terceirização
e municipalização do atendimento à saúde. 29
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IDOSOS
Sergipe tinha,
em 2000, uma população de 131.171 idosos.30 Mesmo
que de maneira tímida (é o estado com menor ritmo
de envelhecimento no Nordeste), a população com
idade igual ou superior a 60 anos vem crescendo
relativamente às demais faixas etárias da população.
Os idosos representavam 6,8% da população total
do estado em 1991, passando a representar 7,4%
no ano 2000.
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GAYS, LÉSBICAS, BISSEXUAIS
E TRANSEXUAIS
Nos anos de 2000 e 2001, foram registrados 5
homicídios homofóbicos, tendo sido quatro contra gays e um contra travesti.
No ano de 2001, um travesti de 23 anos encaminhou
representação ao Ministério Público, alegando
que teria sido discriminado, humilhado e ameaçado
de prisão, pelo promotor de justiça, caso não
se comportasse como homem durante processo em
que era acusado de praticar pedofilia em Aracaju.
32
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1 Waiselfisz, J.J. Mapa da Violência III: Os
Jovens do Brasil (Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna, Ministério da
Justiça/SEDH, 2002). A taxa de vitimização juvenil por homicídios é a relação
entre a taxa de óbitos por homicídio de jovens de 15 a 24 anos e as taxas de
homicídio na população total. Quanto maior a taxa de vitimização, maior é a
concentração de homicídios na população jovem. Quando a taxa é zero ou próxima a
este valor, os homicídios atingem na mesma proporção os jovens e os demais
grupos da população.
2 Associação Sergipana de Prostitutas.
3 Folha de S. Paulo, 15 de julho de 2001,
Cotidiano, C 4, quadro "As principais greves no país desde 1997".
4 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (www.mj.gov.br/depen).
5 Comissão Pastoral da Terra, Conflitos no Campo
– Brasil 1999, Conflitos no Campo – Brasil 2000 e Conflitos no Campo – Brasil
2001. Dados de janeiro a agosto de 2002 disponíveis no web-site da Comissão
(www.cptnac.com.br). 6 Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Relatório Brasil
2001 – Violência no Campo.
7 Idem.
8 Material recebido do Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana – Ministério da Justiça.
9 Ministério da Justiça, Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
1 0 ABRAPIA - Sistema Nacional de Combate à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil (www.abrapia.org.br). Conforme descrito na
introdução geral, o conceito de exploração sexual infanto-juvenil abrange: abuso
sexual (intra-familiar e extra-familiar) e exploração sexual comercial
(compreendendo o tráfico para fins sexuais, a prostituição, o turismo sexual e a
pornografia).
1 1 Ministério do Trabalho e Emprego, Mapa de
Indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente (Brasília: MTE, 2001) p 60.
O Mapa traz, também, as atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes
conforme o Estado. Em Sergipe foi constatado o trabalho de pessoas entre 5 e 15
anos nas atividades de: Agricultura; Agricultura de Subsistência; Catadores de
Mariscos; Comércio Ambulante; Panfletagem; Pecuária; Pesca; Produção de Farinha
de Mandioca; Rizicultura; Serviço (de Transportes – Carregadores -; em Cerâmicas
e Olarias; e em Pedreiras) e Venda de Jornais.
1 2 CIPÓ – COMUNICAÇÃO INTERATIVA E REDE ANDI, A
Criança e o Adolescente na Mídia Bahia/Sergipe – Julho a Dezembro de 2000 –
Série Rede ANDI, Bahia, 2000, p. 45. 1
3 Ministério da Justiça, Secretaria de
Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e do Adolescente
(www.mj.gov.br/sedh/dca).
1 4 Comissão de Direitos Humanos da Câmara
Federal, IV Caravana Nacional de Direitos Humanos: Uma Amostra da situação dos
adolescentes privados de liberdade nas FEBEMs e congêneres: O sistema Febem e a
produção do mal, Brasília, Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações,
2001
1 5 Waiselfisz, J.J., Mapa da Violência III
(Brasília: Unesco, Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça/SEDH, 2002).
1 6 Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de
Segurança Pública. (www.mj.gov.br/senasp/default.htm).
17 Governo do Estado de Sergipe, relatório
enviado para a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos.
1 8 Relatório do Centro de Defesa de Mulher e
Apoio à Cidadania "Bem Querer" de março a julho de 2002.
19 Idem.
2 0 Idem.
2 1 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br). 2 2 SOS Racismo (SACI Sociedade Afrosergipana Estudos da
Cidadania). 2 3 Idem. 24 Idem.
2 5 Idem.
2 6 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org).
2 7 Conselho Indigenista Missionário
(www.cimi.org.br), que informa ter esse estado uma população de 650 indígenas.
2 8 Instituto Sócio-Ambiental
(www.socioambiental.org). Dados atualizados em 3 de outubro de 2002 (com exceção
das informações de Terras Indígenas declaradas, atualizadas em 8 de agosto de
2002).
2 9 Conselho Indigenista Missionário, Informes
n.º 446 e n.º 453, de 1º de fevereiro de 2001 e 22 de março de 2001.
3 0 IBGE, Censo Demográfico 2000
(www.ibge.gov.br)
3 1 Mott, Luiz e Marcelo Cerqueira. Causa Mortis:
Homofobia. Violação dos Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil
– 2000 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2001) e Mott, Luiz, Marcelo
Cerqueira e Cláudio Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo
Gay da Bahia - 2001 (Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
3 2 Mott, Luiz, Marcelo Cerqueira e Cláudio
Almeida. O Crime Anti-Homossexual no Brasil. Editora Grupo Gay da Bahia - 2001
(Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2002).
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