7.
Em
defesa dos direitos trabalhistas no Brasil Urbano: Investigações sobre
corrupção levam à violência
A
defesa dos direitos trabalhistas no Brasil, assim como a defesa de
muitos outros direitos, é protegida por lei. Mesmo assim, como um
muitas outras áreas apresentadas neste relatório, líderes urbanos de
direitos trabalhistas enfrentam riscos severos quando denunciam práticas
irregulares e corruptas. O exemplo mais claro dos perigos enfrentados
por sindicalistas urbanos é demonstrado pela severa violência
infligida aos líderes dos sindicatos de enfermeiros e trabalhadores do
setor elétrico no Rio de Janeiro.
Num período de quatro anos, quatro líderes foram perseguidos e
assassinados no Rio de Janeiro. Só nos últimos dois anos, três líderes sindicais foram
assassinados. Infelizmente, até a data de finalização deste relatório,
os casos não haviam sido resolvidos pela investigação policial,
permitindo que o clima de medo continue inalterado.
Assassinato
de Aldamir Carlos dos Santos, sindicalista, Rio de Janeiro, Capital
Em
24 de novembro de 2001, um motociclista não identificado atirou e matou
o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Energia (Sintergia),
Aldamir Carlos dos Santos, de 38 anos, no Rio de Janeiro.
Aldamir presidia o Sintergia desde de 2000, além de ser candidato pelo Partido
dos Trabalhadores à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro. Na noite do assassinato, Aldamir voltava para casa dirigindo,
após uma reunião com uma organização local de direitos civis. Quando
parou num semáforo, um motoqueiro parou ao lado de seu carro e o matou
com um tiro na cabeça. O autor dos disparos fugiu.
Em
25 de novembro de 2001, o delegado do 29o Distrito
Policial anunciou que investigaria o assassinato como uma tentativa de
assalto.
No dia seguinte, membros da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e
outros sindicalistas fizeram gestões junto ao Secretário de Segurança
Pública do Estado do Rio de Janeiro, Josias Quintal, pedindo ação no
caso. Josias Quintal prometeu uma investigação rigorosa, e em 27 de
novembro o governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho anunciou à
imprensa que as autoridades resolveriam o caso dentro de 48 horas.
A
estimativa do governador Garotinho foi mais do que otimista. Em 7 de
dezembro de 2001, o deputado José Dirceu presidiu uma reunião pública
com a presença do Ministro da Justiça, onde a viúva de Aldamir, o
atual presidente do Sintergia, e outros amigos solicitaram a intervenção
do governo federal na investigação.
Atualmente
o caso está a cargo da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO)
da polícia estadual. Em 9
de janeiro de 2002, policiais fizeram uma reconstituição do crime.
Em
14 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou a
Ofício
Correspondência
Oficial JG/RJ no 051/02 a Pedro Paulo
Abreu, delegado da DRACO, solicitando as informações mais recentes
sobre o desenrolar do caso.
Em
resposta, em 18 de fevereiro, o subdelegado da DRACO, Ricardo Hallak,
falou por telefone com o Centro de Justiça Global. O subdelegado Hallak
declarou que a investigação ainda não havia terminado, e que o inquérito
policial oficial
havia sido enviado à Promotoria Pública em 30 de janeiro de 2002, com
uma requisição de extensão para finalizar a investigação.
Assassinato
de Guaraci Novaes Barbosa, 59 anos, membro do Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN), Rio de Janeiro, Capital
Guaraci
havia submetido documentos comprometedores às autoridades de
enfermagem, indicando corrupção dentro do COFEN, uma autarquia federal
vinculada ao Ministério do Trabalho.
Em
1996, num congresso para sindicatos de enfermagem, profissionais e
outros afiliados, Guaraci participou da criação do grupo MovimentAÇÃO,
em seqüência às
investigações de irregularidades no Conselho Nacional de Enfermagem
sob a liderança de Gilberto Teixeira e sua mulher, Hortência Maria da
Santana. As irregularidades incluíam falta de supervisão profissional,
corrupção e malversação de fundos.
Com
o congresso de 1996 deu-se início a uma mobilização de enfermeiros em
larga escala, sobretudo no Rio de Janeiro, onde fica a sede do COFEN. A
Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN) e sindicatos de enfermeiros
em todo o Brasil organizaram protestos públicos, passeatas e denúncias
em congressos de enfermagem. Houve uma ruptura política dentro do COFEN,
no qual alguns dos conselheiros, entre eles Maria Lúcia Tavares e
Guaraci Novaes Barbosa, entregaram documentos com evidências de má
administração financeira à ABEN e ao Sindicato dos Enfermeiros do Rio
de Janeiro (SERJ). O SERJ denunciou então tais irregularidades ao Tribunal de
Contas da União, ao Ministério do Trabalho e à Procuradoria Geral da
República no Rio de Janeiro. Então,
Guaraci avisou aos membros do SERJ que eles corriam risco de vida.
Maria
Lúcia Martins Tavares, que se tornara presidente do COFEN, solicitou
proteção policial para si e para Guaraci, pouco antes de seu
assassinato, ao Superintendente da Polícia Federal Jairo Kulman, que
atendeu sua solicitação.
Numa
terça-feira de agosto de 1997, às 9:30 da noite aproximadamente,
Guaraci, acompanhada por seu segurança, o sargento Jorge Frisch,
retornava do Aeroporto Internacional do Rio, para onde havia acompanhado
Maria Lúcia, que viajava para Belém. Dois homens, armados com pistolas
9mm automáticas, ultrapassaram seu carro na Rua Leão Godinho de
Oliveira e dispararam. Guaraci recebeu dez tiros e morreu na hora.
Frisch foi atingido quatro vezes e levado ao Hospital Central da Polícia
Militar.
Em
19 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou Ofício JG/RJ
no 073/02 ao Cel. Josias Quintal, Secretário de
Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, solicitando as informações
mais recentes sobre o desenrolar do caso.
Até
o momento de finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global
não havia recebido resposta.
Assassinato
de Edma Valadão, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio de
Janeiro, e Marcos Valadão, presidente da Associação Brasileira de
Enfermagem, Rio de Janeiro, Capital
Edma
Valadão e Marcos Valadão faziam parte do grupo MovimentAÇÃO liderado
por Guaraci Barbosa (caso acima), que havia denunciado irregularidades
financeiras dentro do COFEN, este liderado por Gilberto Teixeira e sua
mulher, Hortência Maria da Santana. Após a morte de Guaraci, Edma e
Marcos exigiram que sua morte fosse investigada.
A partir de então começaram a receber
Após
as denúncias, Edma foi candidata à presidência do SERJ contra a chapa
apoiada pelo COFEN. Durante
a campanha, tanto ela como o SERJ foram alvo de inúmeras ameaças.
Edma
ganhou a eleição com 80% dos votos. Em 13 de agosto de 1999, Edma
tomou posse como presidente do SERJ. No dia 20 de agosto, Edma e Marcos
deixaram sua casa, rumo à Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ). Quando pararam num sinal vermelho, dois homens em uma
motocicleta se aproximaram. Os homens estavam armados e dispararam,
primeiro em Marcos, que dirigia, e depois contra Edma, e então fugiram.
Marcos morreu na hora, enquanto Edma foi levada ao Hospital
Salgado Filho, onde faleceu horas depois.
A
ABEN e a Federação Panamericana de Profissionais de Enfermagem
enviaram uma comunicação à Comissão de Direitos Humanos da Câmara
dos Deputados, denunciando as irregularidades no COFEN. A ABEN também
enviou uma circular a várias autoridades brasileiras denunciando
diversas ocorrências de anos anteriores, tais como as mortes de Guaraci
Barbosa e de Jair Barbosa, motorista do COFEN que foi assassinado após
haver testemunhado nas investigações dos assassinatos de Guaraci
Barbosa, Edma, e Marcos.
A
Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados respondeu à ABEN
ao criar uma subcomissão de deputados do Rio de Janeiro, incluindo
Fernando Gabeira, Antônio Carlos Biscaia, Eber Silver e Carlos Santana,
para supervisionar e agilizar as investigações.
Em
4 de novembro de 1999, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara dos Deputados enviou um ofício ao Secretário de Segurança Pública
do Estado do Rio de Janeiro, Coronel.
Josias Quintal, solicitando sua intervenção pessoal para agilizar as
investigações.
O
inquérito policial estava a cargo da Delegacia de Repressão ao Crime
Organizado da Polícia (DRACO). Em
agosto de 2001, agentes da DRACO encontraram quatro revólveres, uma
pistola e uma carabina, que de acordo com dicas recebidas pelos agentes,
eram armas usadas para matar Edma e Marcos.
Em
12 de dezembro de 2001, a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro organizou uma sessão pública sobre “
Os “Assassinatos
de Sindicalistas no Rio de Janeiro” (checar
título original)
para verificar o progresso dos inquéritos policiais
sobre as mortes de Edma e Marcos, entre outros.
Em
8 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou Ofícioa
Correspondência Oficial JG/RJ no 026/02
ao Secretário Quintal solicitando as informações mais recentes sobre
o desenrolar do caso.
Até
o momento da finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global
não havia recebido resposta.
Ameaças
a Solange G. Belchior, sindicalista, Rio de Janeiro, Capital
Solange
G. Belchior é presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro
(SERJ), onde trabalha desde 1998.
Em
1996, num congresso organizado pela comunidade de enfermeiros e
afiliados, foi formado o grupo MovimentAÇÃO, em resposta às investigações
de irregularidades no Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), incluindo
falta de supervisão profissional, corrupção e malversação de
fundos. O COFEN é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do
Trabalho.
Durante
as eleições de 1999, Edma Valadão foi eleita presidente do SERJ, com
Solange G. Belchior como vice. Quando
Edma foi assassinada (veja acima), Solange tornou-se presidente do SERJ
e continuou o trabalho de Edma de denunciar a malversação de fundos no
COFEN.
Entre
18 e 20 de agosto de 1999, Edma Valadão, Marcos Valadão e Solange
Belchior participaram da Conferência de Saúde do Estado do Rio de
Janeiro, realizada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). No
dia 20, Belchior estava na conferência quando recebeu um telefonema
avisando que o casal Valadão havia sido morto a caminho da conferência.
Solange aproveitou-se do grande público presente para anunciar
publicamente o que acabara de ouvir. Ela declarou que o casal Valadão
havia sido emboscado e assassinado pelos que se sentiram incomodados com
as denúncias de Edma contra o COFEN.
Ela repetiu as denúncias que, junto com Edma, havia enviado a
autoridades tais como o Tribunal de Contas da União, o Ministério do
Trabalho e a Promotoria
Pública FederalProcuradoria
Geral da República
no
do Rio de Janeiro. Solange foi então para o local do crime
e repetiu as declarações que fizera na conferência, desta vez à
imprensa.
Em
resposta, o COFEN e alguns de seus escritórios regionais – os
Conselhos Regionais de Enfermagem – moveram diversas ações de difamaçãocrime
contra a honra.
[10]
Ao todo, o COFEN moveu 29 ações criminais e 23 ações civis em várias
partes do Brasil, algumas contra o SERJ e outras contra Solange.
O objetivo do litígio parece ter sido evitar que Solange e o SERJ
continuassem as denúncias de irregularidades no COFEN
(neste
texto estava escrito CFE, mas eu troquei para COFEN, para estar de
acordo com dois textos prévios, favor checar a abreviação correta).
A
partir do início das ações, Solange começou a receber telefonemas
ameaçadores anônimos, em casa e na sede do SERJ, nos quais avisavam
que ela estava falando demais. Após o assassinato de Edma e Marcos,
Solange esteve sob proteção policial por três meses, por causa das
ameaças, enquanto seus filhos foram morar com os avós. Após a instalação
de um aparelho de identificação de chamadas, os telefonemas
continuaram, mas passaram a ser mudos, sem ameaças. Na época da
entrevista de Solange ao Centro de Justiça Global, ela ainda recebia
estes telefonemas.
Em
15 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou o Ofício
a
Correspondência Oficial JG/RJ No. 065/02 ao Coronel
Cel.
Josias Quintal, Secretário de Segurança Pública do Estado do
Rio de Janeiro, solicitando as informações mais recentes sobre o
desenrolar do caso.
Até
o momento da finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global
não havia recebido resposta.
Ameaças
de morte contra Daniel Rodrigues da Silva, líder sindical em Aracajú,
Sergipe
Em
8 de outubro de 1997, Daniel Rodrigues da Silva, presidente do Sindicato
dos Empregados em Empresas de Segurança e Vigilância, Transportes e
Valores e Similares (Sindivigilante) do Estado de Sergipe, recebeu uma
carta revelando planos para assassiná-lo. Segundo o autor da carta,
quem planejava matá-lo era Averaldo Vieira Miranda, diretor de operações
at SSA – Serviços de Segurança Auxiliar Ltda., uma grande empresa de
segurança privada onde o autor da carta era supervisor.
Como líder sindical, Rodrigues havia irritado a direção da SSA,
ao denunciar em diversas ocasiões as práticas trabalhistas ilegais da
empresa às autoridades públicas, entre elas o
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) do Estado de
Sergipe.
Como resultado das denúncias, a empresa recebera diversas multas. O
autor da carta participou de reuniões executivas no início de agosto
de 1997, onde o diretor Vieira propusera “calar” Rodrigues, e que a
morte “teria que aparentar um acidente”. Vieira teria dito que se
Rodrigues estivesse em Salvador, onde a reunião se passava, que ele
mesmo cuidaria do caso. A carta concluía que, “como o Sr. Averaldo
Vieira Miranda possui ficha policial que faz temer por suas ameaças,
lhe comunico do fato, pois em nada quero contribuir para o seu
silenciamento”
Em
15 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou Ofício
a
Correspondência Oficial JG/RJ no 60/02 a
Gilberto Fernando Góes Passos, Secretário de Segurança Pública do
Estado de Sergipe, solicitando as informações mais recentes sobre o
desenrolar do caso.
Até
o momento da finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global
não havia recebido resposta.
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