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 4.   Defesa de direitos humanos no Brasil urbano: luta contra violência da polícia, crime organizado e corrupção

 

A estagnação econômica em toda a América Latina nos anos 80, combinada com a migração em massa das áreas rurais para os centros urbanos, detonou um aumento sem precedentes de crimes nas duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo a antropóloga e conhecida pesquisadora da violência urbana Alba Zaluar, de 1983 a 1990 a taxa de homicídios no Rio de janeiro cresceu de 23 mortes a cada 10.000 habitantes para 63,03 mortes a cada 10.000 habitantes, ou seja, triplicou.[1] Em São Paulo, um aumento similar de três vezes foi registrado de 1980 a 1994.

 

Neste contexto e enfrentando a resistência de um governo federal ainda controlado pelos militares, políticos da oposição se elegeram governadores em São Paulo e no Rio de Janeiro  após eleições no final de 1982. Nesses estados, administrações com um novo discurso sobre direitos humanos assumiram o poder precisamente durante o período marcado pelo aumento de crimes violentos jamais documentado no Brasil. Um dos resultados deste período que persiste até hoje tem sido a associação, por parte de uma significativa parcela da população, entre a defesa dos direitos humanos  o aumento de crimes violentos e a defesa de bandidos.

 

No Rio de Janeiro o governador, Leonel brizola (1983-1986 e 1987-1991) ao implementar uma política mais voltada ao respeito dos cidadãos, como por exemplo, reduzir incursões abusivas da polícia nas favelas,  foi visto em muitos setores da sociedade e da polícia como conivente com bandidos e traficantes. de forma crescente, os habitantes do Rio de Janeiro, particularmente aqueles das classes alta e média, vieram a entender segurança pública sob o prisma de uma falsa, embora largamente disseminada, dicotomia: a de que é preciso escolher entre forças policiais agressivas (com os abusos de direitos fundamentais) ou inação policial e submissão à criminalidade (com respeito pelos direitos humanos).

 

Sentimento semelhante se desenvolveu em São paulo, onde o aumento do crime nos anos 80 levou a segurança pública a ocupar um lugar central como assunto mais importante na política estadual. No curso dos anos 80, após o governo de Franco Montoro, autoridades políticas encorajaram a polícia a responder agressivamente à criminalidade. Muitos policiais entendiam este discurso, quase literalmente, como uma licença para matar. Entre 1988 e 1992, o número de civis mortos pela Polícia Militar de São Paulo cresceu cinco vezes, de 294 para pelo menos 1.470, [2] aproximadamente um terço de todos os homicídios no estado naquele ano.

 

Neste contexto polarizado, aqueles que defendem os direitos humanos nos principais centros urbanos no Brasil são largamente considerados aliados do crime e da criminalidade, o que complica mais sua já difícil missão. Essa visão popular, freqüentemente sustentada por autoridades irresponsáveis, permite que as forças policiais desacreditem as alegações e documentações dos defensores de direitos, apelando para a preocupação do público com sua segurança e invocando a falsa dicotomia que força uma escolha entre forças policiais vigorosas e respeito pelos direitos humanos.

 

A batalha contra a corrupção policial

 

No cenário urbano, uma área particularmente difícil na defesa de direitos destacados neste relatório tem sido a batalha contra a corrupção policial. Esta corrupção, que com freqüência anda lado a lado com a  violência policial, tem mostrado envolver uma larga série de autoridades, incluindo não apenas policiais de alto escalão, mas também promotores, juizes e funcionários eleitos. O desenvolvimento do papel do Brasil no tráfico internacional de narcóticos nas últimas décadas (primeiro como um ponto de trânsito e mais tarde também como mercado consumidor) tem garantido a presença de milhões, se não bilhões, de dólares em comércio ilegal. Este fato, combinado com as leis de sigilo bancário do país, tem feito do Brasil um importante centro de lavagem de dinheiro. Esta combinação tem promovido o crescimento de unidades de crime organizado que com freqüência contam com a cumplicidade ou assistência direta de autoridades do alto escalão.

 

Documentar e denunciar este tipo de corrupção é uma atividade extremamente perigosa, como os corajosos esforços do detetive da polícia civil Francisco Badenes, demonstram. Por uma década, Badenes tem investigado a Scuderie Le Cocq, uma organização legalmente constituída e profundamente envolvida nos assim chamados assassinatos de “limpeza social” (cujo alvo são adolescentes que vivem e trabalham nas ruas de Vitória, no Espírito Santo), extorsões e outras formas de corrupção.

A teia intrincada de policiais corruptos e assassinos que Badenes investigou tornou o sistema judiciário ineficaz para combater seus crimes: quando investigadores de polícia, promotores e juízes que não são parte da rede da Scuderie investigam os crimes do grupo, são induzidos a abandonar os casos contra os membros da Scuderie através de suborno ou intimidação.

 

A gravidade da investigação conduzida por Badenes requer menção especial. Os envolvidos na scuderie, segundo evidências colhidas e apresentadas por Badenes à Câmara dos Deputados, incluem o ex-governador do Espírito Santo e ex-ministro da defesa Élcio Álvares no vértice de um sindicato criminal com ligações com o Partido da Frente Liberal, PFL. O presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, José Carlos Gratz, vem logo após Álvares, segundo Badenes.

 

Ameaças de morte a Regino Antônio de Pinho Filho, Fortaleza, Ceará

 

Em 8 de outubro de 2001, Regino Antônio de Pinho Filho (Pinho), um representante da Associação dos Parentes e Amigos das Vítimas de Violência (APAVV) em Fortaleza, estado do Ceará, começou a receber ameaças de morte. Quatro dias antes, através da APAVV, Pinho havia submetido um relatório sobre crimes de matadores profissionais no estado do Ceará entre 1997 e 2001. Tendo apresentado suas denúncias , pinho concedeu várias entrevistas à mídia, e declarou publicamente que as cidades de Tabuleiro do Norte e São João do Jaguaripe registravam a maior incidência de atividade de pistolagem no Ceará. Logo depois, em 8 de outubro de 2001, um telefonema anônimo para a casa de Pinho disse o ameaçou dizendo que ele era “muito novinho para morrer”. Em 10 de outubro de 2001, Pinho recebeu uma carta afirmando “Justiça ajuste de conta é um erro a saída é o fim sem a vida. P. de T. N. Cuidado”[3] O texto era escrito com letras recortadas de revistas.

 

Em 12 de outubro de 2001,  pPinho registrou um boletim de ocorrência na delegacia local sobre as ameaças.[4] Para acelerar a investigação, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados requisitou informações e assistência do secretário Freire.[5] Em resposta, o general Gal.Vargas Freire disse à Comissão que havia designado o investigador da Polícia Civil Lauro da Costa Leite Sobrinho para o caso.[6]

 

Em 14 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça  Global enviou Ofício JG/RJ no 059/02 para Secretário o general Gal. Cândido Vargas Freire, secretário de Segurança Pública do estado do Ceará, requisitando maiores informações sobre os recentes progressos deste caso.

Até o momento de finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global não havia recebido uma resposta.

 

 

 

 

 

Ameaças de morte, processos judiciais de intimidação e difamação contra o detetive Francisco Vicente Badenes Júnior, Espírito santo

 

No curso de quase dez anos de investigação do crime organizado no estado do Espírito santo, o nacionalmente elogiado detetive da Polícia Civil Francisco Vicente Badenes Júnior tem sido sujeito a várias formas de intimidação. Desde 1991, Badenes tem investigado a Scuderie Detetive Le Cocq (S.D.L.C), um grupo de vigilância paramilitar com ligações com o crime organizado e com membros do alto escalão da política e da  polícia.

 

Em 1996, o governo brasileiro conferiu a Badenes o Prêmio Nacional de Direitos Humanos por suas investigações sobre a S.D.L.C, e Badenes desde então adquiriu uma reputação entre as organizações brasileiras e internacionais de direitos humanos como um tenaz combatente do crime.[7] Entretanto, o trabalho de Badenes causou retaliações por parte de membros e simpatizantes da S.D.L.C, na forma de ameaças de morte e ações judiciais infundadas. Além disso, em pelo menos uma ocasião, segundo fontes da imprensa, um pistoleiro teria sido contratado para matar badenes, embora, felizmente, esse crime não tenha se concretizado. badenes está atualmente sob proteção do Programa Nacional de Proteção Às Vítimas e Testemunhas do Governo federal.

 

Badenes começou a investigar a S.D.L.C em 1991, quando o governador do Espírito santo Albuíno Azeredo criou um órgão especial para investigar o envolvimento da organização  no assassinato de crianças de rua no Espírito santo.[8] Badenes foi nomeado investigador-chefe do órgão, conhecido como Comissão de Investigações Administrativas Especiais.

 

Fundada em 1964, sob a ditadura militar brasileira, em homenagem ao detetive assassinado Milton Le Cocq D’Oliveira, a S.D.L.C teve mais de 3.800 membros no começo dos anos 90, e teve filiais em todo o Brasil e América latina.[9] O aparato sofisticado da S.D.L.C incluiu departamentos de Assuntos especiais, serviços de inteligência e contra-inteligência, e a S.D.L.C operava sua própria estação de rádio e revista.[10]  A Scuderie Detetive Le Cocq, é formalmente reconhecida através de Registro Civil no Estado do Espírito santo, sob a égide de "Uma instituição benemérita e filantrópica, sem fins lucrativos, com o objetivo de servir à comunidade”.[11] Segundo investigações realizadas sobre a S.D.L.C, o “serviço” prestado era vigilância, incluindo execuções extrajudiciais de suspeitos de crimes de rua comuns, freqüentemente adolescentes de rua. José Guilherme Godinho Ferreira, um dos fundadores do grupo, criou o slogan mais conhecido do grupo: “Bandido bom é bandido morto”.[12] A partir de 1996, os membros do grupo incluíam juízes, promotores, policiais, militares, fiscais do estado, vereadores, um deputado e um magnata do jogo do bicho, todos distinguidos por um adesivo de pára-brisas com o logotipo da S.D.L.C, uma caveira com as iniciais E.M. Publicações do grupo afirmavam que estas letras vinham de Esquadrão Motorizado, embora muitos leiam nas iniciais Esquadrão da Morte, uma interpretação bem mais condizente com a imagem mórbida que as letras acompanham.[13] Além dos membros oficiais do grupo, a S.D.L.C tinha muitos simpatizantes em todo Brasil, devido à infeliz, porém largamente difundida crença de que as principais vítimas da S.D.L.C, crianças de rua, deveriam ser eliminadas. Como resultado das atividades de grupos como a S.D.L.C, os assassinatos de crianças e jovens subiram muito em 1992 e 1993, sendo que trinta e quatro foram registrados em 1993 somente no Espírito Santo.[14]

 

As investigações de Badenes sob o patrocínio da Comissão levaram a numerosas prisões de policiais ligados à SDLC.[15] Entretanto, as prisões levaram a poucas condenações, e muitos dos suspeitos foram subseqüentemente liberados, criando um clima de medo tanto para as testemunhas como para os investigadores. Muitas das testemunhas se recusaram a fornecer provas ou testemunhar, e vários detetives trabalhando para a Comissão requisitaram transferência após serem intimidados, inclusive o presidente da Comissão, Manoel Antônio de Barros, que não acreditava que o governo do estado do Espírito santo estivesse fazendo o suficiente para apoiar a Comissão.[16] No final de 1993, Badenes começou a ser ameaçado.[17] Reportagens de jornal circularam a notícia de que dois assassinos profissionais haviam sido contratados para matá-lo como resposta às investigações da Comissão. Os prováveis assassinos aparentemente fugiram do Espírito Santo antes de realizar o assassinato.

 

Em 20 de novembro de 1995, Badenes apresentou suas descobertas sobre a S.D.L.C à Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, apresentando 5.297 páginas de documentos, nove fitas de vídeo e duas fitas de áudio.[18] Além de implicar a S.D.L.C no assassinato de dezenas de adolescentes, Badenes atribuiu os assassinatos do jornalista Mário Eugênio e da investigadora da Comissão do Orçamento, Ana Elisabeth dos Santos, ambos oponentes da S.D.L.C, aos integrantes do grupo.[19] Em um capítulo entitulado “Do sistema de acobertamento”, Badenes escreveu que devido à influência da S.D.L.C:

 

“No poder judiciário, há a protelação de depoimentos relevantes quando se trata de pessoas influentes... No Ministério Ppúblico não são acompanhados os inquéritos... Na polícia Civil... as provas colhidas pelo perito desaparecem ou são manipuladas. Há confissões forjadas para desviar os verdadeiros culpados. Há álibis forjados.”[20]

 

Badenes identificou uma campanha de intimidação de testemunhas realizada pela S.D.L.C, começando em 1995, na qual a Scuderie ameaçou matar três testemunhas de homicídios cometidos pela organização ou seus simpatizantes, sob o pretexto de que estas testemunhas haviam cometido os crimes. As descobertas de Badenes também demonstraram vínculos entre a S.D.L.C e o Sindicato da Polícia Civil do Espírito Santo, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte do Espírito Santo e a União Democrática Ruralista (UDR).

 

Além disso, Badenes citou o testemunho de cinqüenta e um membros da S.D.L.C sobre as vantagens de pertencer ao grupo.[21]  Um membro revelou que os policiais de trânsito não o incomodavam por causa da insígnia da S.D.L.C em seu pára-brisas. Outro afirmou que a condição de membro garantia maior segurança privada. Um terceiro se sentia mais seguro sob a proteção do grupo porque a S.D.L.C era “formada por policiais”.

 

Badenes concluiu sua apresentação requisitando a revogação da autorização legal do grupo. Quando este relatório foi escrito, a Ação de Dissolução da Suderie Le Cocq ainda estava pendente.

 

Por essa época, intrigado com o número de assassinatos e outros crimes cometidos pelos membros da S.D.L.C no Espírito Santo que permaneciam sem resolução, Badenes decidiu obter uma lista dos membros do grupo. Badenes conseguiu um mandato judicial da juíza de Vitória, Magda Lugon, ordenando que a S.D.L.C fornecesse uma lista de membros. O presidente da S.D.L.C, Mário Rodrigues Lopes, submeteu uma lista, mas Badenes notou que os nomes de muitos suspeitos nos casos não resolvidos estavam faltando.  Por causa desta falha em cumprir com os termos de uma ordem judicial, Badenes chegou com vários policiais a uma propriedade usada pela S.D.L.C e confiscou os arquivos e computadores do grupo. A correspondência interna da S.D.L.C revelou que suas atividades criminais iam muito além da execução de crianças e adolescentes de rua, e incluíam tráfico de drogas, roubo de carros, jogo do bicho[22] e outros negócios tipicamente associados com o crime organizado.[23] Além disso, estes materiais documentavam o conluio entre promotores, advogados de defesa e juizes filiados à S.D.L.C para garantir a liberdade de membros da S.D.L.C acusados de crimes. Esta prática ajudou a explicar a preponderância de crimes sem resolução envolvendo membros da S.D.L.C que havia inicialmente despertado o interesse de Badenes na lista de membros da S.D.L.C.

 

Em 20 de janeiro de 2000, Badenes usou muitos destes documentos apreendidos em uma segunda apresentação sobre a S.D.L.C à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Dessa vez badenes registrou o envolvimento da S.D.L.C em uma larga série de atos criminoso s. Na talvez mais importante parte de seu testemunho, Badenes forneceu um “gráfico organizacional” retratando o ex-governador e então ministro da Defesa Élcio Álvares no topo de um sindicato criminoso com ligações com Partido da Frente Liberal (PFL). O presidente da Assembléia Legislativa do estado do espírito Santo, José carlos gratz, vinha logo abaixo do ministro da Defesa Élcio Álvares no esquema organizacional investigado por Badenes. Além destes funcionários federais, Badenes identificou a participação de vários funcionários públicos do estado do espírito Santo, inclusive do prefeito de Cariacica, Dejair Cabo Camata, na participação em assassinatos contratados de políticos locais, venda ilegal de armas, e estabelecimento de conexões de drogas, tudo em associação com a S.D.L.C. Camata tinha boas conexões na política nacional, o primo de Camata, Gerson, representava o Espírito Santo no Senado Federal, e a mulher de gerson Camata servia na Câmara dos Deputados.

 

Investigações paralelas realizadas por autoridades federais corroboraram muito da substância do que Badenes havia afirmado em seu primeiro depoimento frente à Câmara dos deputados, que por sua vez não diferia significativamente de suas afirmações no segundo depoimento no Congresso.[24] Em novembro de 2000, a Câmara dos De deputados criou a Comissão Parlamentar de Inquérito Destinada a Investigar o Avanço e a Impunidade do Narcotráfico (CPI). Em sua seção no Espírito Santo, o relatório da CPI se baseou significativamente no testemunho de Badenes frente à Comissão de Direitos Humanos em janeiro de 2000, e condenou a influência da SDLC e outras organizações criminosas no estado. O representante do Legislativo José carlos Gratz, identificado nas investigações no mais alto escalão da S.D.L.C , caracterizou o relatório da CPI como “papel higiênico usado”.[25] O porta-voz do ministro da Justiça, João Benedito de Azevedo Marques, declarou que a S.D.L.C cooperou com policiais locais “Como se fossem uma verdadeira quadrilha de bandidos, travestidos de policiais, que matam, extorquem, roubam e seqüestram impunemente”.[26] Um dossiê da Polícia federal caracterizou a SDLC como “O maior grupo de criminosos organizados de que se tem notícia no Brasil, para roubar, traficar, matar e espalhar o terror”.[27] O Procurador da RepúblicaThe regional Prosecutor of the Republic no espírito Santo, ao condenar a S.D.L.C no estado, notou que “Há informações de que grandes empresários sonegadores seriam mandantes de crimes de homicídio para a manutenção de seus esquemas de sonegação”.[28]

 

As investigações de Badenes ganharam o respeito de Ongs brasileiras e internacionais de direitos humanos, que pressionaram o governo federal a investigar a ação criminosa da Scuderie. Alguns meses após seus depoimentos à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos deputados, em 1995, Badenes recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos. Uma semana após a apresentação de Badenes para a Comissão em janeiro de 2000, o presidente Fernando Henrique Cardoso exonerou Álvares do Ministério da Defesa. No curso das investigações de Badenes sobre a S.D.L.C, retaliações têm vindo em forma de ameaças de morte, difamação e ações judiciais.[29]

 

Em 9 de abril de 1998, atuando sobre evidências fornecidas por Badenes, a polícia Militar de Vitória prendeu o prefeito de Cariacica, Camata, sob a acusação de contrabando de armas.[30] Naquele dia, camata recebeu um número de visitantes de alto escalão que mais tarde Badenes incluiu em seu gráfico organizacional da SDLC, entre eles o então ministro da Defesa, Élcio Álvares. Mais tarde naquele dia Álvares pediu ao governador do Espírito santo, Vítor Buaiz, que libertasse Camata.[31] Em 10 de abril de 1998, menos de vinte e quatro horas após a prisão de Camata, Geraldo Corrêa Lima, um desembargador do Tribunal de Justiça juiz da Suprema Corte do estado do Espírito santo, ordenou a libertação de Camata. Após sua libertação, Camata fez uma ameaça pública a Badenes, afirmando “Vou deixar um recado para o delegado Badenes: quando ele vier me prender da próxima vez, que venha preparado para tudo”. Camata acrescentou “Prefiro morrer a ser preso por ele outra vez, vou para o inferno mas levo ele comigo”.[32]

 

Em 3 de março de 1999, a pPromotora de Justiça da 9ª Vara de Vitória, Eloísa hHelena Chiabai, indiciou Badenes por difamar o caráter do delegado da Polícia Civil do espírito santo Ismael Foratini Peixoto de Lima. Em um relatório de 495 páginas, badenes havia acusado Foratini de distorcer evidências para isentar os assassinos do advogado criminal Carlos Batista de freitas afiliados da S.D.L.C.[33] Em novembro de 2000, a CPI reviu as alegações de badenes sobre o delegado da Polícia Civil e concordou com elas, contestando a acusação de difamação de Chiabai. O relatório da CPI afirmava que Foratini, “...associando-se com os integrantes da MÁFIA SERRANA; cabendo-lhe, na qualidade de autoridade policial, a missão de sabotar e retardar o desdobramento das apurações neste inquérito policial, para assegurar a impunidade dos mandantes do homicídio de CARLOS BATISTA”.[34] A CPI também destacou Chiabai por suas ligações com a SDLC, escrevendo “Consideramos suspeita as atuações [da promotora] Dra. Eloisa Helena Chiabai... naqueles processos que envolvem questões concernentes à atuação do crime organizado e interesses de associados da Scuderie Detetive Le Cocq...”.[35] A tentativa de Chiabai de proteger Foratini registrando queixas de difamação contra badenes não deu certo. Em 21 de junho de 2001, a Primeira Varadivisão  Criminal de Vitória arquivou a queixa, endossando a conclusão da CPI de que a denúncia de Badenes contra Foratini era fundamentada, e que portanto o indiciamento de Badenes por difamação feito por Chiabai era sem fundamento.

 

Entretanto, enquanto Badenes conseguiu afastar o processo de difamação, a S.D.L.C levou sua campanha de intimidação para a imprensa. Durante 2001, simpatizantes da S.D.L.C deram entrevistas aos jornais do Espírito Santo questionando a saúde mental de Badenes. No começo de 2001, Dório Antunes de Souza em entrevista aos jornais diários de Vitória A Gazeta e A Tribuna, afirmou que Badenes era homossexual. Infelizmente, no Brasil, muitos consideram a homossexualidade doença ou imoral.

 

Em junho de 2001, Eitel Santiago de Brito Pereira (Brito), Assistant Directoe of the Federal Office of the Public ProsecutorSubprocurador-Geral da República, convidou Badenes para dirigir o Centro de Inteligência de Análise Financeira daquele escritório, focalizando em redes financeiras ilegais associadas ao crime organizado. Visto que badenes era tecnicamente um funcionário do estado, sua transferência para um cargo federal requeria a aprovação do governador do Espírito santo José Inácio ferreira, que concedeu a transferência.

 

No final de agosto de 2001, a esposa de ferreira, governador do Espírito Santo, viu-se envolvida num escândalo de desvio fraudulento de verbas públicas. A legislatura estadual estabeleceu uma comissão parlamentar para investigar as acusações, conduzida pelo membro da S.D.L.C Gilson Lopes, detetive de polícia aposentado que foi implicado nas investigações de Badenes em janeiro de 2001, e depois foi eleito deputado estadual. No meio do escândalo, Ferreira tornou-se simpatizante da S.D.L.C., e substituiu o então secretário de Segurança Pública do estado do Espírito Santo pelo ex-presidente da S.D.L.C Mário Rodrigues Lopes, e o presidente do Conselho da Polícia Civil por João manoel Rodrigues, também integrante da S.D.L.C. Ferreira então subitamente voltou atrás em sua decisão de permitir a transferência de Badenes para Brasília, e exigiu que badenes retornasse ao Espírito Santo dentro de trinta dias. Badenes não voltou, mas a campanha da S.D.L.C continuou.

 

Em 22 de agosto de 2001, o novo presidente do Conselho da Polícia Civil nomeado por Ferreira, João rodrigues, começou processos disciplinares contra Badenes, agora subordinado de Rodrigues, citando má conduta de Badenes na investigação sobre Foratini.[36] Rodrigues substanciou suas queixas com as acusações registradas por Chiabai – apesar do fato do tribunal as ter rejeitado dois meses antes – e recomendou a demissão de Badenes. Várias jornais vieram em defesa de Badenes. A edição de setembro de 2001 do jornal Jornal Tribunal do Direito afirmou que “A reação diante das investigações do delegado Badenes sobre as bandas podres foi fulminante: a própria Polícia Civil voltou-se contra ele, abrindo inquérito administrativo acusando-o de ‘denegrir a imagem dos colegas’ (sic)”.[37] Aumentando o furor na imprensa, em dezembro de 2001 o federal prosecutorProcurador da República  Luiz Francisco de Souza anunciou que Badenes havia se tornado o alvo de uma campanha de intimidação da S.D.L.C, e havia recebido ameaças de morte.[38]

 

Com as ações disciplinares de Rodrigues ainda pendentes, a SDLC tentou uma nova abordagem. No final de 2001, Dório Antunes de Souza, um parceiro de negócios de Álvares, vazou em uma reportagem a falsa informação de que havia um contrato no valor de cinco dígitos em reais sobre a vida de Badenes. Depois se descobriu que a informação era realmente falsa, mas essa tática também representou uma forma de intimidação, usando a simpatia da imprensa por Badenes para levá-lo a temer por sua segurança.

 

Em 27 de janeiro de 2002, badenes respondeu ao registrar uma requisição de processo criminal contra seu superior, alegando que o estabelecimento de processos disciplinares por Rodrigues constituía um abuso de autoridade.[39] Badenes afirmou que ao iniciar os processos, Rodrigues se baseou em evidências falsas que já haviam sido judicialmente descartadas, e que o processo inteiro buscava detê-lo para que não completasse suas legítimas investigações.[40] Duas semanas depois, o Assistant Director of the Federal Office of the Public prosecutor Sub-Procurador-Geral da República, Brito, superior de Badenes em Brasília, requisitou que o presidente do Suprema CorteTribunal de Justiça do Espírito santo arquivasse o processo contra badenes.[41]

 

Em 13 fevereiro de 2002, badenes escreveu para o Prof. Paulo Sérgio pinheiro, secretário Nnacional de Direitos Humanos, resumindo as intimidações perpetradas pela S.D.L.C na década anterior, e requisitando “providências cabíveis” para combatê-las.[42]

 

Até a data em que foi escrito este relatório, o processo de Rodrigues ainda estava pendente. Também sem resolução estavam os processos de dissolução da Scuderie, iniciado depois do primeiro depoimento de Badenes frente à Comissão de Direitos Humanos, em 1995.

 

O Juiz Federal, que sucedeu o Juiz Athiê (indiciado por suspeita de corrupção no Superior Tribunal de Justiça), entendeu que a Justiça Federal não seria competente para julgar o caso, apesar de todos os fatos apontarem nesse sentido e que a atuação criminosa da Scuderie tem ramificações em diversos estados, e proferiu decisão no sentido de que o processo passe para a Justiça Estadual.

 

O Ministério Público Federal recorreu e atualmente o processo encontra-se no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Estado do Rio de Janeiro aguardando decisão judicial.

   

Quando este relatório foi escrito, Badenes estava sob proteção do Programa de Assistência às Vítimas e às Testemunhas Ameaçadas, enquadrado em uma modalidade especial[43]

 

Assassinato de João Elízio Lima Pessoa, ativista de direitos humanos e líder comunitário, Águas Lindas, Goiás

 

No início de fevereiro de 2000, homens encapuzados, que se acreditava fossem policiais, fizeram uma emboscada e assassinaram o ativista comunitário João Elízio Lima Pessoa, 43 anos de idade, em Águas lindas, estado de Goiás. João Elízio foi uma figura pública de grande importância por muitos anos em Águas lindas. Em 1998, fundou o Conselho Comunitário de Águas Lindas, que com sucesso conseguiu melhorias na coleta de lixo, trabalho para pessoas carentes e apoio financeiro para os aposentados.[44]  João Elízio também havia trabalhado na comissão regional de Transporte de Águas Lindas, um órgão de supervisão do governo. O objetivo mais visível de João Elízio, entretanto, vinha sendo a defesa dos direitos civis. Nesse contexto, havia sido um crítico aberto da Polícia Militar de Águas Lindas, que acusava de extorsão, buscas sem mandato, ataques, espancamentos, tortura e assassinato.

 

As denúncias João Elízio sobre a má conduta da polícia atraíram sobre ele o descontentamento da polícia local. As autoridades federais e estaduais reconheciam o ativismo de João, e no final de 1998, o secretário de Segurança Pública do estado de Goiás o indicou para o Comitê de Segurança de Águas lindas, um conselho de inspeção civil. Em sua nova função, continuou a denunciar abusos de direitos cometidos pela polícia local. Logo após sua indicação, começou a receber ameaças de morte de integrantes da polícia de Águas Lindas, inclusive de um delegado e de um tenente. Em novembro de 1998, João Elízio testemunhou frente à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, acusando o sargento Josué Alves da Silva de liderar um grupo de policiais corruptos responsável por numerosos casos de espancamentos, extorsão, e, em um caso, por liberar da custódia da polícia dois colegas que seriam julgados por assassinato.[45] O testemunho de João Elízio  foi suficientemente condenatório para levar o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Eraldo trindade, a requisitar que o ministro da Justiça tomasse medidas urgentes para garantir sua segurança.[46] Infelizmente, o ministro da Justiça não agiu. Dois anos depois, o mesmo sargento Alves se tornou o principal suspeito do assassinato de João Elízio Lima Pessoa.

 

Em 7 de fevereiro de 2000, por volta das 22:00 horas, João e sua mulher, Neuza maria de Souza, estavam indo para casa de carro sob uma chuva pesada após uma reunião do Comitê de Segurança de Águas Lindas.[47] João Elízio, no banco do motorista, notou alguns entulhos e pedras grandes na estrada, e desviou para evitá-los. Quando ele virou o volante, o carro morreu. Devido à chuva, o motor do carro estava frio, e levou mais tempo que o normal para funcionar. Quando finalmente conseguiu fazer o motor do carro funcionar, uma bala de revólver atingiu o carro, esmigalhando o pára-brisas. Este primeiro tiro foi seguido por uma série de disparos, que atingiram a ele e sua esposa antes que conseguissem se agachar juntos ao painel do carro. Depois que os disparos cessaram, sua esposa, ferida no pescoço, engatinhou para fora do carro e correu ao longo da estrada para pedir socorro. O primeiro carro a parar foi um veículo da polícia, que a levou de volta até o carro de João. Enquanto eles se aproximavam,  Neuza notou o que lhe pareceu ser um carro da polícia se afastando de uma área obscura e cheia de árvores próxima dali. João estava morto chegaram ao local da emboscada, tendo sido atingido por três balas na cabeça. Os policiais que ajudaram a esposa de João, disseram a ela que não poderiam perseguir os assaltantes, pois não tinham armas suficientes.

 

No dia seguinte, o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado trindade, solicitou a assistência da polícia Federal na investigação. O deputado Trindade ressaltou em sua correspondência que a ação das autoridades federais era imperativa desta vez, visto que o governo havia falhado anteriormente na forma como tratou a ameaça à vida de João Elízio.[48]

 

Naquela mesma semana, o disco rígido do computador de João Elízio, no escritório da Comissão regional de Transporte foi misteriosamente apagado, segundo os depoimentos de sua esposa e de outra testemunha que solicitou que sua identidade não fosse revelada. Ambas as testemunhas afirmaram que o disco rígido continha testemunhos sobre violações de direitos civis pela polícia e que João pretendia entregar para a Comissão de Direitos Humanos e Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do narcotráfico em Brasília.

 

Em 15 de fevereiro de 2000, uma testemunha ocular oculta por um capuz, óculos escuros, luvas e um casaco longo chegou a uma delegacia de polícia em Goiânia e disse aos investigadores que o mesmo sargento Alves que João havia anteriormente acusado de liderar um grupo de policiais corruptos havia participado de seu  assassinato.[49] A testemunha afirmou que quatro policiais encapuzados, dois usando distintivos da Polícia Militar, abriram fogo contra o carro parado de João Elízio. Depois do tiroteio, os quatro homens saíram da estrada correndo para a mata e tiraram seus capuzes. A testemunha conseguiu ver seus rostos e identificou um dos policiais como o sargento Alves. A testemunha também afirmou que os quatro policiais entraram em uma caminhonete da Polícia Militar estacionada em uma clareira na mata e saíram dali. Finalmente, a testemunha notou dois outros carros da polícia, ambos com policiais dentro, em uma estrada ali perto.

 

O depoimento da testemunha levou o secretário de Segurança Pública do estado de Goiás, Demóstenes Torres, a deter todos os treze oficiais da Polícia Militar em serviço na noite do assassinato de João Elízio Lima Pessoa. Os Departamentos de Polícia Civil e Militar em Águas Lindas iniciaram investigações separadas, tendo o sargento Alves como principal suspeito.

 

Em 14 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou Ofício JG/RJ no 031/02 para o secretário Torres, solicitando maiores informações sobre os recentes progressos deste caso.

 

Até o momento de finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global não havia recebido uma resposta.

 

Tentativa de assassinato de Sivaldo Dias campos, membro do Movimento Cívico de Combate à Corrupção, Cuiabá, Mato Grosso

Em setembro de 2000, Sivaldo Dias Campos era o presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) em Cuiabá. Campos era um militante ativo do Movimento Cívico de Combate à Corrupção (MCCC). Em 9 de setembro de 2000, Campos denunciou um esquema de compra de votos, implicando vários candidatos à câmara municipal de Cuiabá. Campos apresentou suas queixas primeiro a um juiz responsável por supervisão eleitoral, e então publicou suas acusações na imprensa. A denúncia de cCampos incluía conversações de telefone gravadas entre candidatos e equipe de campanha.

 

Em 9 de outubro, indivíduos em um carro vermelho não-identificado fotografaram a casa de Sivaldo e as de seus vizinhos no Jardim Industriário, bairro de Cuiabá.[50] Na manhã de 10 de outubro de 2000, às 7:30 horas, Campos estava em casa com sua mulher, Sônia Paiva de Oliveira, quando um homem jovem apareceu em sua porta da frente. Segundo sua esposa , após alguns minutos ela olhou novamente e percebeu que havia três homens à porta, ao invés de um. Campos apareceu na sala e os homens entraram na casa. Sônia percebeu que os três homens jovens carregavam revólveres. Campos disse a sua mulher que permanecesse calma. Os homens perguntaram por objetos de valor, como dinheiro, jóias e a chave do carro, e a levaram para o quarto. Do quarto Sônia ouviu um barulho alto seguido pelo som de um corpo caindo no chão. Ela deixou o quarto para ver o que estava acontecendo e viu seu marido caído no chão. Ele conseguiu levantar e sair da sala, indo em direção ao quarto. Um dos homens então atirou em Campos, atingindo-o no pescoço. Campos cambaleou até o quarto e então caiu no chão. Quando eles estavam saindo, outro homem deu um tiro na cabeça de Campos. Eles deixaram a casa no carro da vítima e o abandonaram a menos de cinco quilômetros dali.[51] Por milagre, Campos sobreviveu.

 

A pasta de documentos de Campos desapareceu do carro. naquele dia Campos tinha uma entrevista agendada na qual planejava denunciar outros crimes eleitorais.

 

Por volta das 10:30 horas, apenas três horas após a tentativa de assassinato, a polícia conclui sua investigação do caso, dizendo a Sônia que havia ocorrido um roubo de rotina, agravado pela reação da vítima.[52]

 

No começo da tarde do mesmo dia, três suspeitos já haviam sido presos. Testemunhas oculares não reconheceram nenhum deles.[53]

 

Os deputados josé Dirceu e aloísio mercadante apresentaram ao ministro da Justiça José Gregori um documento solicitando a proteção de Sônia assim como de outras vítimas potenciais. Entretanto, o ministro da Justiça autorizou proteção apenas para Sônia, e somente pelo tempo que ela passar fora de casa.[54]

 

O Public prosecutorprocurador-geral de justiça de mato Grosso indiciou seis pessoas pelo atentado à vida de Sivaldo. Três deles confessaram a participação no crime, estão presos e aguardam julgamento. Nicássio Barbosa, que supostamente orquestrou o ataque, e dois cúmplices também aguardam julgamento, em liberdade.

 

O ataque a Sivaldo o deixou com o lado esquerdo do corpo paralisado e incapaz de falar.[55]

 

 

Ameaças de morte à equipe do Centro de Direitos Humanos Simão Bororo, Rondonópolis, Mato Grosso

 

No outono de 1996, a equipe do Centro de Direitos Humanos “Simão Bororo” (CDHSB) de Rondonópolis, estado do Mato Grosso, tornou-se alvo de uma campanha difamatória da mídia e começou a receber cartas ameaçadoras. O CDHSB vem denunciando por vários anos, as más condições das prisões em Rondonópolis e documentando ameaças de morte, tortura e assassinatos cometidos pela Polícia Civil local. Isso levou a uma reação contra o CDHSB e a defesa dos direitos civis em geral, por parte da polícia e os políticos locais.

 

No outono de 1996, essa reação começou a tomar a forma de uma campanha ativa quando uma estação de rádio local, Rádio Clube de Rondonópolis, começou a atacar diretamente o CDHSB em seu programa “Ronda Policial”.[56] O programa acusou o CDHSB de favorecer os direitos dos criminosos sobre os das vítimas, e foi parte de uma campanha maior da mídia dirigida contra o CDHSB e defensores dos direitos humanos em geral que envolveu a estação de televisão local TV Cidade. A Rádio Clube e a TV Cidade eram ambas de propriedade do deputado Wellington Fagundes, um oponente da defesa de direitos humanos com conexões próximas com a força policial de Rondonópolis. Logo após a primeira transmissão, o deputado Fagundes devotou uma segunda publicação à suposta má conduta do CDHSB, e instou os espectadores a fechar a organização. O CDHSB considerou essa mensagem um incitamento à violência, e solicitou intervenção judicial para moderar o tom do programa. Os esforços do CDHSB não tiveram sucesso, e o deputado fagundes redobrou seus ataques contra o CDHSB.[57]

 

Em 13 de novembro de 1996, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados enviou o deputado Pedro Wilson Guimarães a Rondonópolis para investigar a situação, e solicitou que a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) enviasse um representante para acompanhar a investigação do deputado Wilson.[58]

 

Durante o começo de 1997, o CDHSB recebeu ameaças de morte anônimas pelo correio. Uma carta avisava que se continuasse a “defende ladrão asasino” (sic), a equipe do CDHSB estava colocando suas vidas em risco.[59] Algumas cartas tinham como alvo funcionários específicos e suas famílias. Em abril daquele ano, a procuradora Valéria Teressoli Bertholdi Estrela e a juíza Sonja Faria Borges de Sá, que estavam na época trabalhando com o CDHSB em um caso envolvendo crimes cometidos pela Polícia Civil, receberam ameaças de morte e solicitaram proteção às suas vidas. Em 28 de abril de 1997, após vários meses de ameaças, o CDHSB enviou uma extensa queixa ao procurador Geralprocurador-geral de justiça do mato Grosso, Antônio Hans, assim como para outras autoridades estaduais e federais, com relação a natureza incendiária do programa de televisão e das cartas hostis.[60] No mesmo dia, o deputado Pedro Wilson Guimarães, que havia estado em Rondonópolis investigando o caso em nome da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, escreveu ao procurador-g Geral solicitando que autoridades estaduais fornecessem apoio e recursos adequados para o Ministério Público de Rondonópolis, para que o mesmo fosse capaz de levar em frente as investigações e seus funcionários não estivessem sujeitos a intimidações.[61]

 

Em 10 de julho de 1997, o procurador-geral informou à Comissão que tomaria medidas para investigar as ameaças sofridas pelo CDHSB e protegeria as vítimas dessas ameaças.[62]

 

Em 15 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou Ofício JG/RJ no 058/02 para o procurador-geral de justiçadr. antônio, Public prosecutor do estado do Mato Grosso, solicitando maiores informações sobre os recentes progressos deste caso.

 

Em resposta, em 28 de fevereiro de 2002, Guiomar Teodoro Borges, director of Public Prosecutionsprocurador-geral de Justiça  dee Mato Grosso, informou ao Centro de Justiça Global que, em resposta a uma requisição do Office of the Public ProsecutorMinistério Público, o juiz supervisionando que cuidava do caso havia arquivado o mesmo baseado na expiração do estatuto de limitaçõesdeclarou por sentença a extinção da punibilidade dos agentes, que nunca foram identificados.[63]

 

 

Assassinato de Carlos Magno Nazareth cerqueira, Ex-Chefe daPolícia Militar, Rio de Janeiro

 

O cCoronel carlos magno Nazareth cerqueira serviu como delegado chefe da Polícia Militar no estado do Rio de Janeiro durante as administrações do governador Leonel Brizola de 1983 a 1986 e de 1991 a 1994. Como chefe da polícia, o coronel Cel. Cerqueira buscou limitar os abusos cometidos por seus subordinados através de uma série de medidas, inclusive restringindo as operações policiais nas favelas. Antes de se aposentar da Polícia Militar em 1994, o coronel Cel. Cerqueira desenvolveu uma reputação de ser a favor dos direitos humanos e punir os policiais envolvidos em violações dos direitos dos cidadãos. Depois de sua aposentadoria, o coronel Cel. Cerqueira dedicou seu tempo ao estudo da violência urbana como vice-presidente do Instituto carioca de Criminologia.

 

Em 14 de setembro de 1999, o coronel Cel. Cerqueira, 62 anos de idade, foi atingido por tiros e assassinado enquanto esperava o elevador no prédio em que trabalhava, perto do centro do Rio.[64] Espantosamente, duas horas depois autoridades estaduais da polícia declararam o crime solucionado. O secretário de segurança pública do estado do rio de janeiro, Josias Quintal, contou à mídia brasileira que o sargento da Polícia Militar Sidney Rodrigues, 45, havia dado o tiro que matou Cel. Cerqueira e então, logo depois, matou-se com um tiro na cabeça.[65] Autoridades do rio de Janeiro também afirmaram que o sargento Sgt. Rodrigues tinha um histórico de problemas psicológicos. O comandante do batalhão em que Sgt. rodrigues trabalhava e a esposa de Sgt. Rodrigues negaram ter conhecimento de seus supostos problemas psicológicos.[66]

 

Segundo os depoimentos iniciais das testemunhas publicados na mídia brasileira, rodrigues atirou várias vezes; tiros adicionais podem ter sido disparados pelos guardas de segurança em serviço no prédio.[67] A arma usada por Rodrigues pertencia a outro policial que havia sido assassinado em agosto de 1998. desde a morte deste policial, a arma estava desaparecida.

 

Na opinião do então ex-governador do Rio de Janeiro leonel Brizola e do atual governador Anthony Garotinho, o assassinato pode ter sido uma represália contra o coronel Cel. Cerqueira por seus esforços em reestruturar as forças policiais do Rio de Janeiro. “Foi um crime encomendado”, declarou Garotinho.[68]

 

Após a morte do sargento Sgt. Rodrigues em 27 de setembro, em decorrência de ferimentos causados por arma de fogo, a polícia descartou a hipótese de suicídio.[69] Relatórios da autópsia mostraram que a bala que atingiu Rodrigues foi disparada de uma certa distância e de outro revólver que o dele. Esta revelação invalidou a explicação do assassinato de Cel. Cerqueira inicialmente apresentada pelas autoridades, isto é, homicídio seguido de suicídio. As verdadeiras circunstâncias da morte de Cel. Cerqueira permanecem desconhecidas, assim como os motivos das autoridades para apresentar o caso como solucionado apesar da falta de evidências convincentes que garantissem tal conclusão.

 

Em 19 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou Ofício JG/RJ no 073/02 para o secretário Josias Quintal requisitando maiores informações sobre os recentes progressos deste caso.

 

Em resposta, em 28 de fevereiro de 2002 o chefe de Gabinete da polícia Civil, Danton Moreira de Souza, informou ao Centro de Justiça Global que em 7 de julho de 2000 o inquérito policial havia sido reativado, mas que não havia mais informações disponíveis sobre o assassinato de Cel. Cerqueira.[70]

 

 

 

 

Ameaças contra Luis Eduardo Soares, Ex-Coordenador de Segurança Pública, Rio de Janeiro, Capital

 

Em 1998, Anthony Garotinho foi eleito governador do Estado do Rio de Janeiro. Um dos principais pontos de sua campanha era a reforma da polícia. Após sua eleição, Garotinho nomeou Luis Eduardo Soares, respeitado professor universitário e especialista em segurança pública, para o cargo de Coordenador de Segurança, Justiça, Defesa Civil e Cidadania da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

Em linhas gerais, o projeto de segurança proposto por Luis Eduardo Soares promovia o policiamento comunitário e o controle externo dos abusos policiais. Logo após tomar posse, o governo do Estado criou a Ouvidoria de Polícia e nomeou Julita Lerngruber, reconhecida especialista em assuntos penais, para sua diretoria. Na mesma época, Luis Eduardo Soares buscou a exoneração de policiais, conhecidos por seus métodos abusivos, dos postos de comando das forças policiais. Esses esforços provocaram resistência significativa de vários setores tanto da Polícia Civil quanto da Polícia Militar do estado. Durante seu mandato na Secretaria de Segurança Pública do Estado, Luis Eduardo Soares precisou de um minucioso esquema de segurança pessoal.

 

No final de 2000, Luis Eduardo Soares se opôs a nomeação de Rafik Lousada para a direção da Polícia Civil. Sua posição — baseada em preocupações sobre o envolvimento de Rafik Lousada em corrupção — acionou uma crise dentro da Secretaria de Segurança Pública. Em princípios de março, após receber uma queixa de um delegado sobre a participação de policiais que teriam facilitado a fuga de um suspeito traficante, Luis Eduardo Soares encaminhou a informação diretamente ao Ministério Público e não à Corregedoria da Polícia. Imediatamente após esse incidente, o Governador Garotinho exonerou Luis Eduardo Soares.[71] Após seu afastamento, Luis Eduardo Soares, sofreu ataques do Governador que através da imprensa contestou sua ética e acusou-o de indiretamente apoiar o tráfico de drogas. Em decorrência da intensificação das tensões que seguiram as acusações, o Secretário de Segurança Pública designou trinta policiais militares para garantir a segurança pessoal de Luis Eduardo Soares. Apesar dessa medida de precaução, Luis Eduardo Soares temia que os ataques verbais se tornassem físicos e no dia 21 de março de 2000, deixou o Rio de Janeiro em direção aos Estados Unidos. Sua família, mais tarde, também se transferiu para Nova Iorque, também temendo por sua segurança. [72]

 

Alguns dias após a partida de Luis Eduardo Soares, a esposa de um de seus colegas foi abordada por policiais da Delegacia de Repressão de Entorpecentes, DRE, divisão da Polícia Civil. Depois do incidente a mulher contatou seu marido que solicitou a ajuda da força da Polícia Militar designada para a proteção de Luis Eduardo Soares. Policiais Militares escoltaram o casal até sua casa em um veículo utilizado pelo destacamento de segurança do Luis Eduardo Soares, e em seu trajeto, foram interceptados em uma emboscada da Polícia Civil. Seguiu-se uma disputa entre representantes das Polícias Civil e Militar que quase resultou em um confronto armado.[73]

 

Nos Estados Unidos, Luis Eduardo Soares trabalhou na Universidade de Columbia, onde escreveu um livro, Meu Casaco de General,[74] relatando suas experiências na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Em 2001, Luis Eduardo Soares retornou ao Brasil e assumiu a responsabilidade pelos assuntos de segurança do governo da cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.

 

No dia 19 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou ofício JG/RJ No. 074/02 para o Cel. Josias Quintal, Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, solicitando maiores informações sobre os desenvolvimentos recentes referentes a esse caso.

 

Em resposta, no dia 28 de fevereiro de 2002, o Chefe de Gabinete da Polícia Civil, Danton Moreira de Souza informou que não havia nenhuma outra informação sobre o caso disponível. [75]

 

 

Ameaças de Morte contra Antônio Carlos Ferreira Gabriel (“Rumba”), Líder Comunitário, Rio de Janeiro, Capital.

 

Antônio Carlos Ferreira Gabriel, conhecido como “Rumba”, 47 anos, é um líder comunitário, de descendência afro-brasileira, na favela do Jacarezinho, Rio de Janeiro. Nos anos 80, cocaína e armas de fogo começaram a circular no Jacarezinho e em outras comunidades, criando uma atmosfera de tensão entre os moradores e traficantes. Segundo Rumba, a polícia tem desempenhado um papel chave na manutenção dessas tensões através de invasões regulares nas comunidades, abuso de autoridade e uso indiscriminado da violência durante perseguições de traficantes.[76]

 

Rumba trabalha desde 1972 em projetos sociais dentro do Jacarezinho. Em 1994, criou o Centro Cultural do Jacarezinho e em 1995 tornou-se membro da Associação de Moradores do Jacarezinho. Desde 1999, Rumba é o presidente dessa Associação, tendo criado a Liga das Associações do Complexo do Jacarezinho que oferece um fórum para debates sobre os assuntos da comunidade.

 

Em 1994, Rumba começou a denunciar casos de violência policial na cidade do Rio de Janeiro, especialmente casos de violações dos direitos humanos cometidos contra os moradores do Jacarezinho. Essas violações incluíam invasões e operações de busca nas casas sem a devida autorização, prisão arbitrária dos residentes e execuções sumárias.

 

Em 1995, o então Governador do Estado do Rio de Janeiro, Marcelo Alencar, com o apoio do então Secretário de Segurança Pública, Gen. Nilton Cerqueira, implementou uma nova política de prevenção ao crime através da premiação e promoção de policiais envolvidos em atos de “bravura”. Na prática, no entanto, esses atos de bravura invariavelmente resultavam em incidentes onde civis eram mortos por policiais.[77]

 

Logo após, Cel. Marcos Paes, Comandante do Terceiro Batalhão de Polícia responsável pela jurisdição do Jacarezinho, declarou à imprensa do Rio de Janeiro que os moradores dessa comunidade não teriam permissão para deixar suas casas após as 10:00 da noite, e que aqueles que chegassem as suas casas após esse horário seriam considerados “marginais”. Em doze dias sob a supervisão do Cel. Paes, doze moradores foram mortos no Jacarezinho. Rumba acredita que, o aparato de segurança, montado pelo Gen. Cerqueira e o Cel. Paes permitiu e encorajou policiais à violarem os direitos humanos mais básicos dos moradores do Jacarezinho.[78]

 

Ainda segundo Rumba, por vários meses, pelo menos uma pessoa era morta por semana no Jacarezinho.[79] Rumba denunciou esses e outros abusos cometidos pela polícia à Ouvidoria de Polícia do Rio de Janeiro. [80]

 

Em 1999, para chamar atenção sobre a crise no Jacarezinho e o trabalho da Associação dos Moradores, Rumba convidou organizações de direitos humanos, a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e da Câmara dos Vereadores para visitarem a comunidade. Além disso, a Associação, liderada por Rumba, convocou a imprensa e distribuiu panfletos para atrair publicidade.

 

Após esse apelo público, Rumba começou a receber as primeiras ameaças, inicialmente feitas através de ligações telefônicas para sua residência onde uma voz masculina anônima dizia: “Rumba, eu vou te meter bala” e também “Rumba, você não passa dessa semana”. Algumas das ameaças foram feitas diretamente a sua esposa; outras foram deixadas em sua secretária eletrônica. Durante esse período, apreensivo com sua segurança, Rumba refugiou-se no Espírito Santo com sua esposa.

 

Ao retornar do Espírito Santo, Rumba continuou seu trabalho como líder comunitário do Jacarezinho. Após testemunhar na 23a. Delegacia de Polícia no caso de uma família de quatro jovens que haviam sido mortos no Jacarezinho, Rumba descobriu que alguém havia arrombado e atirado contra a parede de sua casa. Rumba aflito com a falta de segurança no Jacarezinho retornou ao Espírito Santo onde ficou durante um mês.

 

Em agosto de 2000, Rumba retornou ao Jacarezinho e em entrevista ao site “No.Com” sugeriu que as comunidades pobres poderiam se aliar a elementos criminosos para prevenir o abuso policial. Em pleno desacordo com as declarações de Rumba, o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Cel. Josias Quintal declarou à imprensa que abriria uma investigação policial sobre Rumba assim como de todos os outros líderes que aderissem a sua causa.[81]

As ameaças foram intensificadas depois do ano 2000.  Em um incidente, no dia 17 de janeiro de 2001, o policial militar Sgt. Castro, disse: “Tua batata está assando”, uma expressão indicando que os dias de Rumba estariam contados.[82]

 

No mês de julho de 2001, Rumba denunciou a extorsão, corrupção e seqüestros cometidos por policiais contra os moradores do Jacarezinho. Eram denúncias de incidentes nos quais a polícia seqüestrava membros da família de conhecidos traficantes, demandando resgates da ordem de R$ 30.000. Muitas das vítimas apelavam a Rumba por ajuda, mas se recusavam a reportar os incidentes oficialmente com medo de serem assassinados. Em resposta, Rumba convidou a Ouvidoria de Polícia para trabalhar com a Associação dos Moradores numa campanha para encorajar os cidadãos a usar as linhas diretas da Ouvidoria.

 

Logo em seguida, vários policiais começaram a seguir e atormentar Rumba. Em uma ocasião, policiais entraram em sua casa com os revólveres apontados, encontrando apenas sua esposa em trajes de dormir (para entrar em sua casa os policiais tiveram que passar por três portas, que precisariam uma chave mestra capaz de abrir qualquer fechadura). Sua esposa ligou para ele pedindo ajuda. Quando ele chegou encontrou um grupo de policiais em sua porta e fotografou-os. Embora Rumba tivesse conseguido amenizar a situação, um policial forçou-o a entregar o filme com suas imagens.

 

A esposa de Rumba registrou queixa na 25a Delegacia de Polícia. Logo depois, Rumba e sua família começaram a receber novas ameaças que levaram sua esposa a retirar as queixas. Essas ameaças eram feitas por telefone e mensagens deixadas por policiais. Policiais vigiavam sua casa o dia inteiro e a noite pessoas encapuzadas caminhavam próximo à casa. Rumba e sua família se mudaram três vezes em menos de três meses.

 

Durante o período de Janeiro a agosto de 2001, o Secretário Cel. Josias Quintal (que anteriormente ameaçara Rumba com um inquérito policial) convidou-o para fazer parte do Centro de Referência para as Comunidades Especiais. Rumba aceitou o convite como forma de se proteger das ameaças de morte. Nesse espaço oficial, Rumba, juntamente com vários outros líderes, expôs alegações de falta de conduta de centenas de policiais graves o suficiente para garantir suas exonerações.

 

Em agosto de 2001, Rumba recebeu um convite para participar por vários meses em um projeto chamado CAPA (Coalizão Contra o Abuso Policial) na Universidade de Texas, em Austin, Estados Unidos. Ao retornar ao Rio de Janeiro, no final de 2001, Rumba recebeu a informação de que a policia estava ciente de seu retorno.

 

Em 19 de dezembro de 2001, um grupo da Polícia Militar invadiu o Centro Cultural do Jacarezinho, dirigido por Rumba. O único funcionário presente no momento da invasão correu para informar Rumba da ação policial.[83] Quando Rumba chegou ao local e solicitou uma explicação não recebeu qualquer resposta. Nesse momento, Rumba deixou o edifício e contatou o advogado do Centro Cultural e o Centro de Justiça Global.

 

No dia 21 de dezembro de 2001, o Centro de Justiça Global encaminhou informações sobre as ameaças de morte sofridas por Rumba para a Representante Especial sobre os Defensores de Direitos Humanos das Nações Unidas, Hina Jilani.

 

No dia 15 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou Ofício JG/RJ No. 065/02 para o Secretário de Segurança Pública, Cel. Josias Quintal solicitando maiores informações sobre os acontecimentos mais recentes desse caso.

 

Até a finalização deste relatório o Centro de Justiça Global não havia recebido uma resposta.

 

 

Ameaças ao Grupo Tortura Nunca Mais e a sua ex-Presidente, Cecília Coimbra, Rio de Janeiro, Capital

 

O Grupo Tortura Nunca Mais, GTNM/RJ, tem sido extremamente ativo na denúncia de casos de tortura e abusos policiais e militares cometidos desde a transição para a democracia em 1985. Tanto o GTNM/RJ e, em particular, Cecília Coimbra, que atualmente é vice - presidente da organização no Rio de Janeiro, tem recebido várias ameaças desde 1986.

 

Em 1986, quando o GTNM/RJ inaugurou várias ruas com nomes de militantes mortos ou desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil, recebeu uma ligação que perguntava se os membros do GTNM/RJ haviam preparados seus caixões.[84] Logo depois, o Grupo recebeu uma carta que alertava para que seus membros tomassem cuidado porque estavam prestando homenagens a terroristas e criminosos. O GTNM/RJ denunciou o fato na imprensa nacional e as ameaças diminuíram. Em 1991, após uma campanha organizada pelo GTNM/RJ que visava revogar as licenças médicas de médicos que falsificaram autópsias para encobrir assassinatos cometidos pelas forças policiais e de segurança durante a ditadura, o GTNM/RJ recebeu novas ameaças e cartas intimidatórias. Em 1994, exatamente trinta anos após o golpe de Estado que instalou a ditadura militar no Brasil, o GTNM/RJ recebeu várias ameaças anônimas em resposta a sua campanha contra a tortura “64 nunca mais”.[85]

 

No início de março de 1998, o GTNM/RJ recebeu várias cartas e telegramas (alguns anônimos, outros assinados por oficiais militares) expressando desprezo pela organização e seu trabalho. Depois de um mês, o GTNM/RJ ganhou as manchetes nacionais ao denunciar a promoção de generais das forças armadas com evidências, apuradas pelo Grupo, de participação em atos repressivos durante a ditadura. Segundo a tradição militar, os oficiais receberiam a promoção em ato público no dia 31 de março, dia do aniversário do golpe militar de 1964. Os protestos do GTNM/RJ contra a escolha dessa data em particular para comemorar o evento e a promoção de alguns desses indivíduos provocou um debate na imprensa sobre a utilização desta data para a promoção desses oficiais que uma vez estiveram envolvidos em atividades repressivas no dia do aniversário do golpe.[86]

 

Além da publicidade gerada pela crítica à promoção dos oficiais, o GTNM/RJ acirrou ainda mais a hostilidade por parte dos simpatizantes militares ao coordenar uma campanha de sucesso que culminou na renúncia forçada do Gel. Ricardo Agnese Fayad, que havia sido nomeado como Diretor Assistente de Saúde das Forças Armadas. Segundo documentos do GTNM/RJ, Ricardo Fayad participou diretamente na tortura de presos políticos nos anos 60 e 70.

No dia 1° de abril de 1998, um grupo chamado de “Tradição Família e Propriedade” (TFP) distribuiu panfletos acusando o GTNM/RJ de “comunizarem” o país. Por volta da mesma hora, Cecília Coimbra, então presidente do Grupo, notou que estava sendo seguida quando se dirigia ao evento do GTNM/RJ.

 

No dia 3 de abril de 1998, o GTNM recebeu um panfleto anônimo atacando seus membros pela conduta contra a nomeação do Gen. Fayad. No mesmo dia, Cecília Coimbra recebeu uma mensagem gravada com ameaças. A mensagem dizia: “Filha da p., terrorista, você vai ver o que você merece.” [87]

No dia 8 de abril, outra mensagem gravada na secretária eletrônica do escritório do GTNM/RJ dizia: “Alô, veja bem, aqui é um amigo da causa de vocês. Avisa a Cecília que estão planejando coisa feia pra ela. Cuidado, tomem muito cuidado porque não vai ser coisa pequena não. Vai ser coisa séria. E tem mais, cuidado com a floricultura. Eu não me identifico por segurança. Cuidado! Estão armando pra valer.”[88]  O escritório do GTNM no Rio de Janeiro está localizado no segundo andar de um prédio onde no primeiro andar funciona uma floricultura. Cecília Coimbra relatou ao Centro de Justiça Global que “o objetivo principal (das ameaças) era intimidar nosso trabalho.”[89]

 

No dia 8 de abril, Cecília Coimbra enviou cartas e efetuou ligações para a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, para o Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e para o Presidente Fernando Henrique Cardoso solicitando proteção para os membros do GTNM/RJ.

 

No dia 9 de abril de 1998, as ameaça tornaram-se públicas mas as autoridades estaduais e federais não tomaram as medidas adequadas para garantir a segurança dos membros do GTNM/RJ. As autoridades do Rio de Janeiro ofereceram o serviço de segurança prestado por policiais em uma viatura que vigiava, uma vez por semana, durante um mês, as reuniões na sede do GTNM no Rio de Janeiro.

 

Embora, nenhum membro do GTNM/RJ tenha sofrido danos físicos em 1998, Cecília Coimbra continua apreensiva pela segurança de seus companheiros. O GTNM/RJ continua recebendo cartas com conteúdo intimidatório. Dessas cartas, algumas são escritas a mão, outros impressos em computador e outros são panfletos. O conteúdo varia desde ataques vulgares dirigidos à Cecília e sua família a artigos escritos em defesa das ações de grupos militares durante a ditadura no Brasil, criticando de forma contundente as posições e o trabalho do GTNM/RJ. Segundo Cecília Coimbra, o grupo tem recebido esse tipo de comunicação intimidatória todos os meses durante os últimos quatro anos. [90]

 

No dia 19 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou ofício JG/RJ No. 072/02 para o Cel. Josias Quintal, Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, solicitando maiores informações sobre os acontecimentos atuais do caso.

 

Em resposta, no dia 28 de fevereiro de 2002, o Chefe de Gabinete da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Danton Moreira de Souza, informou ao Centro de Justiça Global que não foi possível localizar o arquivo referente ao caso. [91]

 

 

Ameaça de Morte Contra Cristina Guimarães, Jornalista, Rio de Janeiro, Capital

 

Em agosto de 2001, Cristina Guimarães, jornalista, trabalhou na reportagem “Feira das Drogas”, noticiado pela Rede Globo. A matéria abordava o tráfico de drogas em favelas do Rio de Janeiro e continha cenas de traficantes vendendo drogas abertamente em plena luz do dia. [92]

 

Para fazer a matéria, Cristina entrou nas comunidades da Rocinha e Mangueira com uma mini câmera escondida em sua bolsa, filmando por cerca de seis horas. A matéria foi uma das vencedoras do Prêmio Esso de Jornalismo em 2001. As imagens filmadas por Cristina permitiram à polícia identificar vários suspeitos traficantes e levou à prisão de um suspeito logo após a exibição da reportagem.

 

Em setembro de 2001, ao retornar de suas férias, Cristina Guimarães soube através de um companheiro de trabalho que morava na Rocinha, que os traficantes haviam oferecido uma recompensa de R$ 20.000 por sua cabeça. Cristina também recebeu várias ligações de um telefone localizado na Rocinha. Quando ela atendia ao telefone, a pessoa perguntava se ela era “a dona ferrada”. [93]

 

Cristina Guimarães também foi ameaçada enquanto dirigia. Em duas ou três ocasiões, um motociclista equipado com capacete bateu em seu pára-brisa e perguntou se ela era “Cristina”. [94]

 

Cristina alega que quando informou seu chefe na TV Globo das ameaças que estava sofrendo, e não recebeu a devida atenção. Cristina começou a adoecer, necessitando de tranqüilizantes para dormir, demitiu-se da Rede Globo e se mudou do Rio de Janeiro. Ela reportou seu caso para Anistia Internacional. Até 13 de janeiro de 2002, Cristina estava vivendo clandestina, sob proteção de seguranças particulares.

 

Ameaça de Morte contra Roberto Monte, Ativista dos Direitos Humanos e Plácido Medeiros de Souza, Delegado de Polícia, Natal, Rio Grande do Norte

 

Francisco Gilson Nogueira de Carvalho, advogado do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular, CDHMP, organização dirigida por Roberto Monte, investigava e reportava crimes cometidos por um esquadrão da morte conhecido como “Meninos de Ouro”. O grupo CDHMP se tornou-se conhecido devido às investigações de uma Comissão Especial do Ministério Público de Natal e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Segundo a Human Rights Watch, os Meninos de Ouro era um grupo formado por policiais civis e membros da Secretaria de Segurança Pública responsáveis por uma dúzia de assassinatos e vários outros crimes cometidos ao longo da última década.[95]  A busca de Gilson Nogueira por justiça nesses crimes intensificou as tensões entre a polícia do Rio Grande do Norte e a comunidade de direitos humanos.

 

Em 20 de outubro de 1996, passageiros de um veículo em trânsito dispararam dezessete tiros contra Gilson Nogueira matando-o quando ele retornava de Macaíba, Rio Grande do Norte.[96]  Até o presente, ninguém foi condenado por esse crime embora um suspeito (Otávio Ernesto) aguarde julgamento, como detalhado abaixo.  

Ao longo de seis anos, Roberto Monte e seus companheiros do CDHMP continuaram a pressionar, com alguns êxitos, as autoridades locais para que estas investigassem e julgassem os policiais e funcionários da Secretaria de Segurança Pública envolvidos nos assassinatos atribuídos aos Meninos de Ouro.[97] Um avanço importante foi a condenação de um dos membros dos Meninos de Ouro, o policial Jorge Luis Fernandes, conhecido como “Jorge Abafador” por um homicídio duplo cometido em 3 de março de 1995 no bairro de Mãe Luiza em Natal.  

 

O policial civil Plácido Medeiros de Souza, atuou em uma investigação paralela sobre o assassinato de Gilson Nogueira e descobriu que Jorge Luis Fernandes, em prisão preventiva à época do assassinato, era constantemente liberado pelas autoridades para sair da delegacia. As saídas de Jorge Luis Fernandes e seus retornos eram anotados em um livro de registro. Plácido descobriu, ao revisar esse registro que Jorge Luis Fernandes deixou a delegacia no dia 19 de outubro de 1996 e retornou em 21 de outubro de 1996, o que abria uma possibilidade de seu envolvimento no assassinato de Gilson Nogueira no dia 20 de outubro de 1996. Logo após a investigação de Plácido, as evidência das saídas e retornos de Jorge Luis Fernandes nessas datas desapareceu do livro de registros da investigação policial sobre o caso que, por sua vez, foi encerrado sem implicar ninguém. Como descrevemos abaixo, uma investigação paralela efetuada pela Human Rights Watch e pelo fotógrafo-jornalista John Maier levantou novas evidências, o que levou a reabertura do caso e posteriormente o ex-policial Otávio Ernesto foi indiciado.

 

Embora as autoridades do Rio Grande do Norte tenham afastado Maurílio Pinto de Medeiros de seu posto de Secretário Adjunto de Segurança Pública durante a investigação sobre o assassinato de Gilson Nogueira, seis meses depois Maurílio Pinto de Medeiros foi designado para a direção de um departamento especial da polícia do estado. No final de 2001, o Secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, Anísio Marinho Neto, nomeou Maurílio Pinto de Medeiros para o cargo de Sub-Cordenador de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública. Com essa promoção, Maurílio Pinto de Medeiros ganhou responsabilidade sobre as investigações e as informações sobre os suspeitos.

 

Jorge Luis Fernandes foi condenado a quarenta e sete anos de prisão em regime fechado pelo duplo assassinato cometido em março de 1995. No entanto, segundo fontes do Rio Grande do Norte, Jorge Luis Fernandes teria continuado a cumprir sua sentença na delegacia de Cidade Satélite, ao invés de cumprir sua sentença em um estabelecimento seguro exigido por lei. Além disso, Jorge Luis Fernandes continua sendo funcionário público e recentemente recebeu uma promoção. O nível de cumplicidade vai além: o juiz criminal, Carlos Abel, garantiu a Jorge Luis Fernandes permissão para deixar a delegacia duas vezes por semana, uma ordem sem precedentes válidos no direito brasileiro.

 

Roberto Monte tem sido o ativista local mais importante na denúncia do papel de Maurílio Pinto de Medeiros, Jorge Luis Fernandes e outros policiais violentos nesse e em outros vários assassinatos. Devido ao seu trabalho de defesa dos direitos humanos, Roberto Monte vem sendo ameaçado de morte e objeto de processos indevidos.

 

É nesse contexto que o mais recente plano para assassinar Roberto Monte e Plácido veio à tona. Um homem anônimo primeiro ligou para Plácido no dia 22 de outubro de 2001 e depois novamente (esta vez, Plácido conseguiu gravar o telefonema) no dia seguinte, 23 de outubro, fornecendo informações sobre um recente plano do assassinato de Plácido e Roberto Monte.

 

Além dessas duas ligações telefônicas, o Centro de Justiça Global obteve informações de uma pessoa em Natal que pediu para não ser identificada que também recebeu uma ligação anônima—a terceira desta série—entre 8 e 9 de novembro de 2001, informando que Jorge Luis Fernandes planejava não apenas assassinar Plácido como também a Roberto Monte.

 

O Centro de Justiça Global obteve a transcrição da ligação gravada feita para Plácido no dia 23 de outubro de 2001. O seguinte trecho confirma o grau de urgência desse caso:

Plácido:  “… Esses caras que vão atacar, eles virão a minha casa ou vão para outro lugar? “

Chamador anônimo: “Não, eu não sei.  Não sei onde... você sabe, eu acho que pode ser a qualquer hora... A pessoa que falou disse que pode ser a qualquer momento... Hoje, quando você sair... qualquer hora... por isso esteja preparado para usar um colete [a prova de balas] , você sabe, esteja preparado, e com seu revolver pronto, quase na mão...”

Plácido:  “Mas esses caras só atiram na cabeça... esses caras só atiram na cabeça... eles sabem [como lidar com] coletes...”

Chamador anônimo: “Não deixe nenhuma motocicleta chegar muito perto... essas coisas... seria bom ter alguém ao seu lado, com um revólver na mão...”

 

Com base nessa informação, no dia 13 de novembro de 2001, Plácido preparou uma declaração a que foi enviada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, resumindo o contexto das intimidações e suas advertências telefônicas de 22 e 23 de outubro de 2001.

 

Embora Plácido não tenha podido determinar a identidade das pessoas que efetuaram as ligações, o aparelho de identificação de chamadas registrou o número: (84) 234-1337.  Segundo Plácido, esse número é de um telefone público próximo à delegacia onde Jorge Fernandes estava detido. [98]

 

Ainda com base nessa informação, em 14 de novembro de 2001, durante uma audiência perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o Centro de Justiça Global apresentou evidências do risco de vida ao qual estavam submetidos Roberto Monte e Plácido. O Centro de Justiça Global também forneceu informações adicionais nas subcomissões subseqüentes da Comissão.

Na Sexta-feira, 7 de dezembro de 2001, a Comissão autorizou o pedido de medidas cautelares do Centro de Justiça Global ao governo brasileiro para oferecer proteção a Roberto Monte e Plácido e tomar medidas urgentes para garantir que Jorge Luis Fernandes seja transferido para um centro de detenção de segurança, sem o direito de saída do estabelecimento. [99]

 

O Centro de Justiça Global recebeu a decisão na segunda-feira, 10 de dezembro de 2001, e em seguida, enviou ofício No. JG-RJ 228/01 para a Representante Especial dos Defensores de Direitos Humanos da ONU, Hina Jilani. O ofício informava a Representante Especial do risco de vida que correm Roberto Monte e Plácido.

 

No dia 13 de dezembro de 2001, a Anistia Internacional circulou um comunicado urgente entre seus membros, solicitando que estes escrevessem as autoridades brasileiras solicitando medidas de proteção para Roberto Monte e Plácido. Centenas de cartas foram enviadas. [100]

 

Em Janeiro de 2002, o Ministro da Justiça escreveu a Roberto Monte e Plácido oferecendo a assistência do Programa de Proteção a Testemunha PROVITA ou outros meios de proteção. Tanto Roberto Monte quanto Plácido responderam que aceitariam a proteção da Polícia Federal, mas não entrariam no programa PROVITA.[101] A organização do PROVITA enviou uma segunda correspondência, no dia 26 de fevereiro de 2002, perguntando se os dois desejavam entrar no programa.[102]  Novamente, ambos recusaram o convite expressando interesse em receber proteção da Polícia Federal. Segundo o CDHMP, Jorge Fernandes ainda não teria sido transferido para um estabelecimento seguro mas suas saídas da delegacia estariam sendo controladas.

 

Até a finalização desse relatório, Roberto e Plácido não contavam com proteção da Polícia Federal.

 

 

Processos Indevidos contra James Cavallaro, Diretor Executivo do Centro de Justiça Global, ex-Diretor da Human Rights Watch no Brasil,  Natal, Rio Grande do Norte

 

Como relatado acima, uma série de crimes cometidos por um grupo de policiais criminosos em Natal, supostamente coordenado pelo Secretário Adjunto de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, Maurílio Pinto de Medeiros, e conhecido como os “Meninos de Ouro”, recebeu atenção nacional e internacional no início de 1995. Além do trabalho do CDHMP e da Comissão Especial do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, grupos de direitos humanos nacionais e internacionais apoiaram o esforço para trazer à justiça os policiais criminosos de Natal. Entre os envolvidos nesse esforço estava o escritório da Human Rights Watch no Brasil e seu diretor, James Cavallaro. Durante o período de 1995-1998 Cavallaro viajou para Natal em várias ocasiões para pesquisar e documentar esses abusos, encontrar-se com autoridades para pressionar por investigações e instauração de processos, e encontrar com a mídia local, nacional e internacional. A pesquisa em Natal resultou na publicação de um relatório detalhado sobre a violência policial no Brasil que retratava os Meninos de Ouro.[103]

 

Em 1998, juntamente com o jornalista-fotógrafo, John Maier, em trabalho para a revista Time e a BBC de Londres, Cavallaro se encontrou com um ex-policial atuante em um esquadrão da morte em Natal. Esse policial, que insistiu que sua identidade não fosse revelada, forneceu informações sobre as ações dos grupos de extermínio (inclusive os Meninos de Ouro em Natal). Revelou detalhes sobre dezenas de assassinatos e ocultação dos corpos das vítimas. Essa fonte informou a Cavallaro e a John Maier sobre dois métodos de ocultação dos corpos das vítimas. Um envolvia a cobertura do corpo com uma substância corrosiva e retirada desses em poços da região. O outro método era a utilização de cemitérios clandestinos. Ainda segundo essa fonte, um cemitério clandestino estaria situado na periferia de Natal em propriedade do ex-policial Otávio Ernesto. Essa fonte informou ainda detalhes sobre o assassinato do ativista de direitos humanos, Gilson Nogueira, no dia 20 de outubro (Ver caso anterior), citando inclusive os nomes e as funções dos que estariam envolvidos. Segundo essa fonte, o assassinato teria sido encomendado por Maurílio Pinto de Medeiros e executado por quatro membros do grupo de extermínio de Natal: Maurílio Pinto Jr. (filho de Maurílio Pinto de Medeiros), Otávio Ernesto, Jorge Luis Fernandes e Admilson Fernandes.

 

Com base nessas informações, foram mantidas várias reuniões com as autoridades da Polícia Federal. Essas autoridades planejaram uma vistoria na propriedade de Otávio Ernesto, citada pela fonte confidencial como local onde se situaria um cemitério clandestino. No dia 16 de novembro de 1998, agentes da Polícia Federal entraram na propriedade de Otávio Ernesto para procurar o cemitério clandestino. A polícia não localizou restos mortais na área (que havia sido remanejada recentemente, sugerindo, pelo menos, a possibilidade de uma tentativa de ocultação de algo). No entanto, o grupo encontrou várias armas de fogo e munição ilegais. Exames de balística realizados pela Polícia Federal em uma das armas demonstrou conclusivamente que essa era compatível com as cápsulas de balas encontradas na cena do assassinato de Gilson Nogueira.

 

Essa descoberta levou a prisão e a denúncia pelo Ministério Público de Otávio Ernesto pelo assassinato de Gilson Nogueira. Infelizmente, os outros citados confidencialmente pela fonte como participantes do assassinato não foram presos ou indiciados. No processo criminal contra Otávio Ernesto, a juíza  Patrícia Gondim Moreira citou Cavallaro como testemunha. Em seu depoimento nesse processo, Cavallaro citou a informação recebida dessa fonte confidencial sobre os nomes dos participantes no assassinato de Gilson Nogueira.[104]

 

No dia seguinte, Cavallaro em entrevista ao jornal Diário de Natal repetiu o conteúdo de seu depoimento perante o tribunal. Em resultado desses depoimentos, publicados no Diário de Natal, Maurílio Pinto de Medeiros abriu uma ação civil por danos morais assim como uma representação para que o Ministério Público do Rio Grande do Norte indiciasse Cavallaro pelo crime de difamação.[105]   O Ministério Público aceitou e indiciou Cavallaro.[106] Seus advogados, com base nas deficiências legais da ação, inclusive a incapacidade das autoridades do Rio Grande do Norte em notificar Cavallaro pessoalmente, ingressaram com o um questionamento da legalidade da ação. O questionamento foi recusado pelos tribunais do estado. Uma apelação ao Supremo Tribunal Federal (através de um pedido de habeas corpus), no entanto, provou ser eficaz. O Supremo Tribunal Federal declarou que o indiciamento fosse arquivado em decisão publicada em 4 de fevereiro de 2002.[107]

 

 Uma outra ação criminal por difamação decorrente do depoimento de Cavallaro, no entanto, ainda está pendente. Essa ação requerida por Admilson Fernandes de Melo, ainda está sendo processada sob o número 096/99 na Primeira Divisão da Comarca de Macaíba, Rio Grande do Norte.

 

 

Seqüestro de Carlos Roberto Bezerra e Ameaças de Morte contra os Membros do Ministério Público do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte

 

Em maio de 1998, três homens armados seqüestraram o segurança de plantão do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, localizado na capital do estado, Natal, e ameaçaram os membros desse órgão.[108] Os indivíduos visavam Anísio Marinho Neto, Procurador-Geral de Justiça, Paulo Leão, Presidente da Associação do Ministério Público, Paulo Pimentel, Promotor Público na Comarca de Almino Afonso, e Edevaldo Alves Barbosa, da Comarca de Lages. Todos esses homens investigavam o assassinato do Promotor da Comarca de Pau dos Ferros, Manuel Alves Pessoa Neto, em novembro de 1997. Segundo fontes jornalísticas, a investigação revelava que o assassinato teria sido encomendado por um juiz do distrito de Neto.

 

No dia 12 de maio de 1998, por volta das 3:00 da tarde, um homem que se identificou como “Henrique” ligou para a sede do Ministério Público e pediu para falar com a secretaria do Procurador Geral de Justiça. Quando a secretária atendeu, o homem disse em voz ameaçadora de que haveria seqüestro na área, e que os Procuradores “iam pagar pelo que fizeram”.

 

Por volta das 7:00 da noite, nesse mesmo dia, três homens armados com revólver calibre 12 e uma pistola calibre 38 saíram de uma carro Tempra escuro estacionado em frente ao Ministério Público.  Os homens armados agarraram o vigia, Carlos Roberto Bezerra e forçaram-no a entrar no bagageiro do veículo. Os homens foram para uma área abandonada nas redondezas da cidade Parnamirim.

 

Ao chegarem em Parnamirim, os seqüestradores retiraram Carlos Roberto do porta-malas e mostraram algumas fotos de jornais de Marinho, Pimentel, Leão e Alves, além de uma foto do próprio Bezerra.

Os homens bateram em Carlos Roberto, causando hematomas em sua cabeça e pernas, e ameaçaram-no de morte. Os homens também afirmaram que iriam causar os mesmos ferimentos naqueles promotores que constavam das fotografias do jornal. Carlos Roberto pensou que reconheceu um dos seqüestradores como um dos envolvidos na tentativa de assassinato do Promotor Alves em novembro de 1997.  

 

Carlos Roberto conseguiu distrair os seqüestradores e escapar em direção a um bairro residencial. Os homens atiraram três vezes contra ele mas não o acertaram. Carlos Roberto chegou em segurança a uma delegacia local onde prestou depoimento sobre o incidente e contatou o Ministério Público.

 

No dia seguinte, Marinho encontrou o Secretário de Segurança Pública, José Carlos Leite Filho, e o Comandante da Polícia Militar, Cel. Frankin Gadelha, para solicitar medidas que garantissem a segurança dos membros do Ministério Público. Mais tarde, nesse mesmo dia, Marinho solicitou a assistência da Assembléia Legislativa e do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte.

 

O seqüestro e as ameaças de morte receberam atenção significativa da mídia durante a semana seguinte, levando o Deputado Pedro Wilson Guimarães a solicitar o envolvimento da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados no caso. No dia 26 de maio de 1998, a Comissão de Direitos Humanos respondeu clamando a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte a tomar a medidas para proteção dos promotores e através de uma investigação da secretaria sobre o incidente. [109]

No dia 14 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou ofício JG/RJ No. 029/02 para Paulo Roberto Dantas D. S. Leão, Procurador-Geral de Justiça, solicitando maiores informações sobre o progresso de caso.

Até o momento de finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global não havia recebido uma resposta.

 

 

Ameaça de Morte de Isabel Cândido, Assistente Social, Limeira, São Paulo

 

Quando recebeu sua primeira ameaça de morte, em maio de 2001, Isabel Cândido trabalhava há quase três anos no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, (CEDECA) em Limeira, São Paulo. Durante o período de seu mandato no CEDECA, Isabel trabalhou com vários jovens vitimas de torturas cometidas por policiais civis e militares. No início de 2001, o CEDECA promoveu um fórum público com a Polícia Militar para discutir o tema de violência. Durante o evento ocorreu um desentendimento, quando funcionários do CEDECA notaram um tenente da polícia filmando o evento. O tenente estava apontando a câmera em direção aos jovens sob cuidados do CEDECA que acompanhavam o evento. Os jovens se sentiram ameaçados com a presença da câmera e esconderam seus rostos. Isabel Cândido solicitou que as filmagens fossem interrompidas e que a polícia mostrasse as cenas filmadas. Inicialmente a polícia recusou o pedido mas cedeu sob pressão das autoridades públicas que participavam do fórum. As imagens gravadas revelaram que o tenente havia filmado unicamente os rostos dos jovens. 

 

No início de maio de 2001, Isabel começou a receber ligações telefônicas que a advertiam para tomar cuidado, pois poderia ser vítima de um ataque. Em princípio, Isabel acreditou que essas ligações não fossem ameaças, mas sim advertências bem intencionadas para alerta-la de perigos. Mais tarde nesse mesmo mês, a sede do CEDECA sofreu uma invasão durante a noite. Os invasores causaram grandes danos no escritório de Isabel destruindo a porta e seu arquivo. Isabel acredita que os invasores estavam procurando por arquivos sobre o tratamento dos jovens, que eles não encontraram porque Isabel os havia retirado do escritório.

 

Em agosto de 2001, Isabel recebeu uma ligação telefônica que dizia que “o gás iria subir, e se ela estivesse no CEDECA ela iria rodar junto!” Isabel recebeu outra ligação em setembro, e começou a questionar o que ela havia interpretado como ligações de boas intenções. Na época, Isabel estava trabalhando em um caso no qual policiais haviam espancado um jovem e descarregado spray de pimenta em seus olhos. Após acompanhar o adolescente a delegacia de polícia para registrar queixa sobre as ações dos policiais ao delegado, Isabel recebeu uma ligação advertindo que ela tomasse cuidado com as pessoas com quem estava lidando. [110]

 

Isabel não sabe quem fez as ameaças por telefone mas tem poucas dúvidas de que sejam em decorrência de seu trabalho como defensora dos direitos dos adolescentes.

 

No dia 15 de fevereiro de 2002, o Centro de Justiça Global enviou ofício JG/RJ No. 036/02 para Saulo de Castro Abreu Filho, Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, solicitando maiores informações sobre os progressos do caso.

 

Até o momento de finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global não havia recebido uma resposta.

 

                       

Ameaças a Raquel Pântano De Gaspari, Limeira, São Paulo

 

Raquel Pântano De Gaspari, de vinte e cinco anos de idade, trabalha como educadora no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, CEDECA na cidade de Limeira, São Paulo. [111] Em meados de julho de 2000, o adolescente F. S, [112] de dezesseis anos de idade, procurou por Raquel no escritório da CEDECA, após escapar da Unidade Franco da Rocha (unidade da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, Febem). F. S. era interno na Febem por tráfico de drogas e roubo. Raquel foi a primeira a atender seu caso quando F. S foi preso e por essa razão ele a procurou após fugir da Febem.  

 

F. S. contou a Raquel que ele havia sofrido repetidas agressões dentro da Febem. Segundo o adolescente, ele estava sendo ameaçado por outros jovens de sua mesma cidade e membros da mesma organização criminosa da qual ele era membro.

 

Raquel e outros membros do CEDECA, percebendo o risco de vida que F. S. corria, providenciaram um lugar seguro para que ele pudesse ficar e continuaram a prestar assistência. F. S voltou para a escola e começou a freqüentar um grupo de Hip Hop organizado pelo CEDECA

 

Em fevereiro de 2001, F. S. trouxe seu amigo, Rogério Arado, de vinte e sete anos de idade, para o grupo de Hip Hop. Arado pertencera a mesma gang que F. S.. Rogério foi apresentado a Raquel e depois de algum tempo contou a ela que ele não mais queria fazer parte da organização criminosa e que gostaria de dar uma nova direção a sua vida. Nessa época, Rogério contou a Raquel como funcionava a organização criminosa e sua atuação no roubo de cargas e no tráfico de entorpecentes na região. Ele também contou a ela que membros influentes da comunidade, tais como políticos, homens de negócios, um juiz e um promotor faziam parte da organização.

 

Em junho, Raquel e Rogério decidiram denunciar a situação. Raquel solicitou o auxílio do Deputado Renato Simões, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo na preparação da denuncia.

Em agosto de 2001, Raquel começou a receber as primeiras ameaças. Uma noite ela saíra para jantar com alguns amigos e quando  retornou para casa recebeu um ligação de um homem que dizia: “Foi bom o seu jantar? É bom encontrar os amigos, nê? Mas acidentes acontecem! A casa vai cair para o seu lado! Você já esta há muito tempo nesse mundo!” Raquel estava tremendo e passou o telefone para sua mãe, que ouviu o homem dizer o seguinte: “ela ficou nervosinha? É bom mesmo que ela tenha medo!” O homem então desligou. [113]

Desde então, Raquel tem recebido várias ligações com ameaças com a frase “acidentes acontecem!”. A mãe de Raquel adquiriu um identificador de chamadas mas o telefone do chamador sempre aparece como sendo 0000, 0024 ou outro número incompleto. Raquel, com ajuda da empresa telefônica local, pôde determinar que a maioria das chamadas são feitas do estado do Paraná, mas não conseguiu identificar a cidade.

 

Mais tarde, em agosto, Raquel recebeu outra ligação que dizia para ela “Fique esperta, pois vai ter um latrocínio no CEDECA! A casa vai cair! De hoje vocês não passam!”. Em resposta a ligação, Raquel registrou boletim de ocorrência na delegacia da mulher em sua cidade.[114]

 

Entre setembro e outubro de 2001, [115] Raquel ouviu o barulho de uma motocicleta em frente a sua casa enquanto recebia amigos. Não foi possível identificar o motociclista, embora eles pudessem ver que era um homem. O homem continuou em frente a casa da Raquel, acelerando o motor de sua motocicleta, até que partiu disparando um tiro para o alto. 

 

Em outra ocasião, um dos vizinhos de Raquel a alertou para o fato de que um homem a esperava e observava de dentro de um carro escuro estacionado próximo a sua casa. Quando escureceu, e o homem não partia, o vizinho chamou a Policia Militar que chegou no local e perguntou ao homem o que ele fazia ali. Ele respondeu que estava procurando por uma loja. Segundo Raquel o bairro onde ela mora é uma zona residencial e não há lojas no local.

Por volta do dia 6 de dezembro de 2001, Rogério ligou para Raquel para informa-la que a organização havia ordenado que ele deixasse a cidade e que ele não podia contar a ela para onde ele estava indo.

 

Até meados de dezembro de 2001, Raquel continuava a receber ligações telefônicas dizendo, “acidentes acontecem!”

 

 

Assassinato de Maria Nivaneide Santos Costa, Educadora, Nossa Senhora do Socorro, Sergipe

 

Maria Nivaneide Santos Costa, de vinte e sete anos de idade, era uma professora primária, ativista dos direitos da criança e, desde 1998, educadora pública do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, MNMMR em Sergipe. Além disso, ela era vice-presidente do Conselho Tutelar da Infância e da Adolescência. Seu marido, Edenilson Costa, é o presidente da Associação de Moradores do Loteamento Rosa de Maio localizado no município de Nossa Senhora do Socorro. Ele militava pelo reforço da segurança dentro desse bairro, o bloco Rosa de Maio situado na região metropolitana de Aracajú, através da construção de uma delegacia local. [116] 

 

Por volta das 2:00 da manhã do dia 4 de fevereiro de 1999, Maria Nivaneide estava dormindo em sua casa quando seis homens com capuzes e armados fizeram uma tentativa de arrombamento. Os homens atiraram contra as janelas e portas e tentaram derrubar a porta da frente. Maria Nivaneide tentou prevenir que eles entrassem gritando pela ajuda dos vizinhos. [117]

 

José Robério, vizinho de Maria Nivaneide ouviu ela gritar pedindo ajuda e implorando para os agressores “Não matem meus filhos”. Ele tentou abrir a porta de sua casa mas os homens atiraram em sua direção. Desarmado, ele não pôde ajuda-la.[118] Maria Nivaneide foi atingida por vários tiros que atravessaram a porta e as janelas e morreu imediatamente.

 

A Sociedade Afrosergipana de Estudos da Cidadania, SACI, e a Comissão Estadual do MNMMR denunciaram o assassinato ao Secretário de Segurança Pública, a Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE, ao Ministério Público e a Secretaria do Estado de Justiça solicitando que o assassinato fosse investigado e que os responsáveis fossem presos.[119]

 

No dia 9 de fevereiro de 1999, o Instituto de Estudos Sócio-Econômicos solicitou que a Secretaria de Segurança tomasse as medidas para a investigação do caso. [120]

 

No dia 3 de março de 1999, o Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Nilmário Miranda, solicitou informações sobre as medidas tomadas pela Secretaria de Segurança Pública referentes a esse caso. [121]

Em 19 de março de 1999, o superintendente da Polícia Civil do Estado de Sergipe, Paulo Ferreira Lima respondendo às solicitações anteriores sobre o andamento das investigações, informou que o assassinato de Maria Nivaneide não foi motivado pelo seu trabalho dentro da comunidade ou do trabalho de seu marido. Ele atribuiu o crime aos “abismos existentes entre as classes sociais”. Em quarenta e oito horas as autoridades estaduais prenderam quarto indivíduos apontados como responsáveis pelo assassinato. A polícia prendeu um quinto suspeito assim como a arma e os objetos roubados da casa de Maria Nivaneide. Três dias depois, o inquérito policial havia sido encerrado.[122]

No dia 11 de março de 2002, o Centro de Justiça Global enviou ofício JG/RJ No. 97/02 para João Eloi de Menezes, Superintendente da Polícia Civil do Estado de Sergipe, solicitando maiores informações sobre os desenvolvimentos mais recentes desse caso.

Até o momento de finalização deste relatório, o Centro de Justiça Global não havia recebido resposta.



[1] Alba zZaluar, “Violence Related to Illegal Drugs, Youth and Masculinity Ethos,, (summaryResumo de by Corinne Davis), in Department of Sociology, University of Texas at Austin, Memoria: Rising Violence and the Criminal Justice Response in Latin America – Towards an Agenda for Collaborative Research in the 21st Century, mimeo, 6 a 9 de maio de 1999, Austin, Texas.

[2] Human Rights Watch/Americas, Police Brutality, op. cit, p. 50, n.94.

[3] Boletim de ocorrência no 102-12461/2001, registrado na delegacia do Segundo Distrito policial de Fortaleza, 12 de outubro de 2001.

[4] Ibid.

[5] Ofício no 1124P da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados para Go general al. Vargas freire, 8 de novembro de 2001.

[6] Ofício no 1552/2001-GAB-SSPDC do general Vargas Gal. freire para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, 13 de novembro de 2001.

[7] “Fighting Crime from the Inside Out”, The Standard (Cambridge, Reino Unido), no 21, julho-outubro de 2001.

[8] José Arbex Jr. e Cláudio Júlio Tognolli, O século do crime, (São Paulo:, Jinkings), 1996, pp 76-83.

[9] Human Rights Watch/Americas, Final Justice: Police and Death Squad Homicides of Adolescents in Brazil, (Nova YorkIorque:, Human Rights Watch) 1994, pp 112-114.

[10] Arbex e Tognolli, op. cit., p. 83.

[11] Ibid., p. 78.

[12] “Colunista e diretora do Jornal da Cidade, Vitória, Espírito Santo, Brasil”, www.impunidad.com, www.impunidad.com/cases/marianilceP.htm  p. 9.

[13] Human Rights Watch, op. cit., pp. 112-113.

[14] Ibid., p. 113.

[15] Ibid., pp. 112-114.

[16] Ibid., p. 113.

[17] Ibid., p. 114.

[18] “Defesa Aberta: O serviço de inteligência do Palácio do planalto e a polícia investigam envolvimento do ministro Élcio Álvares com o crime organizado”, Isto É, no 1566, 6 de outubro de 1999, citação na webno Internet: www.zaz.com.br/istoe/politica/1999/10/01/000.htm

[19] Arbex e Tognolli, op. cit., pp. 79-80.

[20] Ibid.

[21] Ibid., p. 82.

[22] O jogo do bicho é uma prática de apostas ilegal no Brasil, na qual os participantes apostam em um ou vários animais representados em uma cartela de apostas.

[23] “Defesa Aberta”, op.cit., pp. 1-3.

[24] Arbex e Tognolli, op. cit., p. 82.

[25] “Colunista e diretora do Jornal da Cidade, Vitória, Espírito Santo, Brasil”, www.impunidad.com, www.impunidad.com/cases/marianilceP.htm, p. 4.

[26] Arbex e Tognolli, op. cit., p. 82.

[27] Ibid.

[28] Ibid.

[29] Representação Criminal contra João Manoel Rodrigues por abuso de autoridade, submetida por Francisco Vicente badenes Júnior ao Office of the Public prosecutorProcurador-Geral de Justiça do estado do Espírito Santo, 27 de janeiro de 2002.

[30] “Prefeito do ES beneficiado com habeas corpus”, www.an.com.br, 11 de abril de 1998.

[31] “Colunista e diretora do Jornal da Cidade”, op. cit., p. 7.

[32] “Prefeito do ES beneficiado com habeas corpus”, www.an.com.br, 11 de abril de 1998.

[33] Representação criminal, op. cit., p. 2. Badenes vinculou o assassino de Batista, oficial da Polícia civil Derly de Aguiar, à SDLC em depoimento de Francisco Vicente badenes Júnior, prestado frente ao Internal Affairs Office da polícia Civil, Brasília, 6 de fevereiro de 2002, p. 3.

[34] Representação criminal, op.cit., p. 4. A maior parte dos membros da Máfia Serrana são afiliados da SDLC. “Colunista e diretora do Jornal da Cidade”, op. cit., p. 7.

[35] Representação criminal, op. cit., pp. 5-6.

[36] Ibid., p.2.

[37] “As bandas podres do Espírito Santo”, Jornal do Tribunal do Direito, setembro de 2001.

[38] “Perseguição”, A Gazeta (Vitória), 9 de dezembro de 2001.

[39] representação criminal, op. cit., p. 1.

[40] Ibid., p. 12.

[41] Carta de Eitel Santiago de Brito Pereira, Federal Office of the Public ProsecutorSub-Procurador-Geral da República, para o Supremo Superior Tribunal de Justiça, 7 de fevereiro de 2002.

[42] Carta de Badenes ao Dr. paulo Sérgio Pinheiro, secretário Nnacional de Direitos Humanos, Brasília, 13 de fevereiro de 2002.

[43] Depoimento de Francisco Vicente Badenes Júnior para a Divisão Administrativa, Internal Affairs Division, Polícia Civil, Brasília, 6 de fevereiro de 2002, p. 1.

[44] Materiais para odo arquivo do caso de João Elízio Pessoa Lima, fornecidas pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados.

[45] “Violência policial em Águas Lindas, Goiás”, dossiê apresentado por Lima Pessoa para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, novembro de 1998.

[46] Ofício no 1077/98P do deputado Eraldo Trindade, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, para o senador Renan Calheiros, ministro da Justiça, 30 de dezembro de 1998.

[47] “Entrevista: Maria Neuza de souza”, Correio Braziliense, Brasília, 11 de fevereiro de 2000.

[48] Ofício no 081/00P do deputado Trindade para o Dr. José Gregori, secretário estadual de direitos humanos, 8 de fevereiro de 2000.

[49] “Sargento acusado da morte de João Elízio”, Correio Braziliense, Brasília, 15 de fevereiro de 2000.

[50] Correspondência do partido dos Trabalhadores (PT) para o ministro da Justiça, José Gregori, 16 de outubro de 2000.

[51] Depoimento de Sônia de Paiva Oliveira, Divisão de Homicídios e de Proteção à Pessoa de Cuiabá, 12 de outubro de 2000.

[52] Ibid.

[53]Ibid.

[54] Correspondência do partido dos trabalhadores para o ministro da Justiça, op. cit.

[55] Entrevista do Centro de Justiça Global com o membro da diretoria do PT Jurandir da Silva, 14 de fevereiro de 2002.

[56] Ofício no 022/97 de Paulo Augusto Mário Isaac, presidente do CDHSB, para o governador do Mato Grosso, et alli, 30 de abril de 1997.

[57] Ibid.

[58] Ofício no 912/96 do deputado Hélio Bicudo, membro da Comissão, para Américo Antunes, presidente da FENAJ, 13 de novembro de 1996; Ofício no 913/96 do deputado Bicudo para Irene Maria dos Santos, secretária executiva do Movimento nacional de Direitos Humanos (MNDH), 13 de novembro de 1996; Ofício no 914/96 do deputado bicudo para o CDHSB, 13 de novembro de 1996.

[59] Carta anônima para o CDHSB, 26 de março de 1997.

[60] Ofício no 022/97 de Isaac, op. cit.;  carta de leila Fagundes Borges Teruel, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, para o deputado Pedro Wilson guimarães, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, 20 de junho de 1997.

[61] Ofício no 349/97P do deputado Wilson guimarães para o Dr. Antônio Hans, procurador- geral do estado deo mato Grosso, 28 de abril de 1997.

[62] Ofício no 428/97-GAB do Gabinete do procurador-geral de Justiça de Mato Grosso,office of public prosecutions para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, 10 de julho de 1997.

[63] Ofício no 0187/2002-GAB de Guiomar Teodoro Borges, Director of the Office of the Public prosecutorprocurador-geral de Justiça de Mato Grosso, para o Centro de Justiça Global, 28 de fevereiro de 2002. 

[64] “Ex-chefe da PM do Rio é assassinado”, Folha de S. paulo, 15 de setembro de 1999.

[65] Ibid., e “Versão oficial causa surpresa”, Folha de S. paulo, 17 de setembro de 1999.

[66] “’psicopata’ matou coronel, diz secretário”, Folha de S. paulo, 16 de setembro de 1999.

[67] “Versão oficial”, op. cit.

[68] “Foi um crime encomendado, diz garotinho”, Folha de S. Paulo, 15 de setembro de 1999.

[69] “Polícia do rio descarta suicídio de sargento”, Folha de S. paulo, 30 de setembro de 1999.

[70] Ofício no 0049/1201-2002 do chefe de Gabinete da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Danton Moreira de Souza, para o Centro de Justiça Global, 28 de fevereiro de 2002.

[71] Gov. Garotinho disse à imprensa, improvavelmente, que o afastamento de Luis Eduardo Soares era resultado de uma disputa sobre outro incidente.

[72] Luis Eduardo Soares, Meu Casaco de General (São Paulo: Companhia das Letras), 2000, p. 470.

[73] Ibid, p. 473.

[74] Ibid.

[75] Ofício No. 0049/1201-2002 do Chefe de Gabinete da Polícia Civil do Rio de Janeiro Danton Moreira de Souza para o Centro de Justiça Global, 28 de fevereiro, 2002.

[76]Entrevista do Centro de Justiça Global com Antônio Carlos Ferreira Gabriel (Rumba), Rio de Janeiro, 17 de dezembro, 2001.

[77] Essas políticas aberrantes são analisadas no relatório da Human Rights Watch, Brutalidade Policial Urbana no Brasil (Nova Iorque: Human Rights Watch), 1997 e Ignacio Cano, Letalidade da Ação Policial no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: ISER), 1998.

[78] Ibid.

[79] Ibid.

[80] Queixa No.129/99 para a Ouvidora da Polícia do Rio de Janeiro, 23 de março, 1999.

 

[81] Ibid.

[82]Relato de  Rumba para a Ouvidoria da Polícia do Rio de Janeiro em 17 de Janeiro de 2001; também referido no depoimento oficial de Rumba a 1a Delegacia da Polícia Judiciária Militar em 2 de agosto, 2001.

[83] Investigação in loco do Centro de Justiça Global, Jacarezinho, Rio de Janeiro, dezembro 2001.

[84] Entrevista do Centro de Justiça Global com Cecília Coimbra, Rio de Janeiro, 28 de dezembro, 2001.

[85] Ibid.

[86] Ibid.

[87] Ibid.

[88] Ibid.

[89] Caso No. 0712/98, Relatório de Denúncia, Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Brasília.

[90] Entrevista do Centro de Justiça Global com Cecília Coimbra, op. cit.

[91] Ofício No. 0049/1201-2002 do Gabinete do Chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Danton Moreira de Souza para o Centro de Justiça Global, 22 de fevereiro, 2002.

[92] “Repórter da Globo diz que traficantes querem matá-la,” Folha de S. Paulo, 13 de janeiro, 2002.

[93] Ibid.

[94] Ibid.

[95] Human Rights Watch, Brutalidade Policial Urbana (Nova Iorque: Human Rights Watch), 1997, pp. 88-82.

[96] Ibid., pp. 92-94.  Incluímos informações sobre o assassinato de Gilson Nogueira para explicar o contexto das ameaças a Roberto e Plácido. O assassinato de Gilson Nogueira não se enquadra no período analisado neste relatório, 1997-2001.

[97] Por vários anos, a Human Rights Watch e, especialmente, seu diretor no Brasil, James Cavallaro, apoiou os esforços do CDHMP no sentido de pressionar por investigação e processo dos abusos cometidos pelos Meninos de Ouro. Cavallaro e a Human Rights Watch observaram vários julgamentos e levantaram a questão da violência policial em Natal através de publicações e intervenções na mídia brasileira e internacional. Como explicamos a baixo, esse papel ativo da Human Rights Watch na luta para processar os assassinos levou a supostos membros dos Meninos de Ouro e elementos dentro do Ministério Público a conduzir processos civil e criminal indevidos contra Cavallaro alegando difamação. Esses casos serão resumidos a baixo.

[98] A urgência da situação era salientada pela natureza da comunicação. As ligações não eram ameaças diretas as vitimas em potencial mas sim alerta de pessoas de dentro que conheciam o perigo iminente.

[99] Ofício, Comissão Inter-Americana para o Centro de Justiça Global, comunicando a decisão de adotar medidas cautelares para Roberto Monte e Plácido Medeiros de Souza, Washington D.C, 7 de dezembro, 2001.

[100] Anistia Internacional (Urgent Action Request), Fear for Safety, 13 de dezembro de 2001; Brasil: Roberto Monte (Defensor dos Direitos Humanos), Plácido Medeiros de Souza (Delegado) AI Index: AMR 19/002/2001, 13 de dezembro, 2001.

[101] Entrevista telefônica do Centro de Justiça Global com Aloísio Matias dos Santos, Centro de Direitos Humanos e Memória Popular, CDHMP, 7 de março, 2002.

[102] Ofício No. 238 do Programa de Proteção a Testemunha para Roberto Monte e Plácido Medeiros de Souza, 26 de fevereiro, 2002, e entrevista telefônica do Centro de Justiça Global com Aluízio Matias dos Santos, op. cit.

[103] Ver, Human Rights Watch, Brutalidade Policial Urbana no Brasil, (Nova Iorque: Human Rights Watch), 1997.

[104] Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Admissibility Report No. 12.058 (Caso Gilson Nogueira, Brasil), 2000.

[105] Maurílio Pinto Jr. entrou com outra ação contra Cavallaro no Tribunal de pequenas causas, também por difamação. Essa ação foi recusada por falta de conformidade com os requerimentos do processo judicial.

[106] A ação criminal contra Cavallaro no estado do Rio Grande do Norte está sendo processada sob o No. 001.99007376-0, 4ª  Vara Criminal, Natal, Rio Grande do Norte.

[107] Ver, Pedido de Habeas Corpus No. RH 11451, Tribunal Superior de Justiça (Caso No. 001.99007376-0, 4ª Vara Criminal, Natal, Rio Grande do Sul.)

[108] Muitos dos detalhes sobre o incidente foram tirados dos artigos jornalísticos: “Invasão e ameaça a promotores,” Diário de Natal,  14 de maio, 1998; e “Vigia é seqüestrado e espancado,” Tribuna do Norte (Natal), 14 de maio, 1998.

[109] Ofício No. 545/98-P do Deputado Eraldo Trindade, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados para o Cel. Sebastião Américo de Sousa, Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Norte, 26 de maio, 1998.

[110] Cândido contou ao Centro de Justiça Global que ela prestou queixa policial sobe esses incidentes. Entrevista telefônica do Centro de Justiça Global com Isabel Cândido, 11 de março, 2002.

[111] Informação neste relatório provem da entrevista do Centro de Justiça Global com Raquel Pântano de Gaspari, Limeira, São Paulo, 14 de dezembro, 2001.

[112] O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a publicação dos nomes de menores supostamente envolvidos em conduta ilegal.

[113] Entrevista do Centro de Justiça Global com Raquel Pântano de Gaspari, op. cit..

[114] Ibid.

[115] De Gaspari contou ao Centro de Justiça Global que ela não pôde lembrar a data exata das ocorrências. Entrevista do Centro de Justiça Global com Raquel Pântano De Gaspari, op.cit..

[116] Informação fornecida pela Comissão Estadual do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, MNMMR e a Sociedade Afrosergipana de Estudos e Cidadania, SACI, em relatório divulgado para a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Sergipe e outras autoridades, em fevereiro e março, 1999. 

[117] Ibid.

[118] Ibid.

[119] Ibid.

[120] Carta de Aurélio Vianna, Secretário Executivo Adjunto do Instituto de Estudos Sócio-econômicos, para Gilson Garcia, Secretário de Segurança Pública do Estado de Sergipe,  9 de fevereiro, 1999.

[121] Ofício No. 087/99-P da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados para Gilson Garcia, Secretário de Segurança Pública do Estado de Sergipe, 3 de março, 1999.

[122] Ofício No. 338/99 de Paulo Ferreira Lima, Superintendente da Polícia Civil para o Deputado Nilmário Miranda, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,  16 de março, 1999.

 

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