|    CONCLUSÃO
              
                
              
               Para
              a aplicação do direito internacional dos direitos humanos no
              direito brasileiro é necessário buscar uma correlação entre a
              legislação nacional e as normas internacionais de proteção. O
              instituto do amicus curiae é
              um exemplo concreto desta possibilidade desta correlação.
              
               Porém,
              ainda é necessário serem percorridas outras vias para a plena
              implementação da normativa internacional no âmbito interno. 
              A implementação da normativa internacional pode ocorrer
              em um primeiro momento, quando houver a aplicação imediata das
              normas internacionais no ordenamento jurídico interno pelos
              Tribunais locais. Além disso, pode ser utilizada uma outra via,
              para a aplicação da normativa internacional no âmbito interno,
              quando decisões dos órgãos internacionais forem implementadas
              pelo Estado brasileiro. Para isso, é necessário que sejam
              acionados os sistemas internacionais de proteção aos direitos
              humanos, global (ONU) ou regional (OEA). As decisões dos órgãos
              internacionais sobre a responsabilidade internacional do Estado,
              em deteminado caso específico, por violações a direitos humanos
              consagrados em tratados internacionais, leva o Estado a acatá-las
              e criar mecanismos de implementação a nível interno.
              
               Um
              exemplo concreto desta possibilidade seria quando a Comissão
              Interamericana publicasse um Relatório Final condenando o governo
              brasileiro (pagamento de indenizações a vítimas ou familiares,
              agilização do processo judicial para sancionar as responsáveis
              pela violações, entre outras medidas concretas) seria uma forma
              de implementar a normativa internacional de direitos humanos em âmbito
              nacional. É importante destacar que o cumprimento das recomendações
              pelo governo brasileiro é baseado no princípio da boa-fé, que
              rege as relações internacionais. A publicação do Relatório
              significa uma condenação de caráter moral, e o governo
              brasileiro, cumprindo com as suas obrigações internacionais, de
              boa-fé, tem o dever de implementar as recomendações da Comissão
              Interamericana.
              
               Ao
              aderir ao tratado internacional de direitos humanos, o Brasil
              assume a obrigação de adotar a legislação necessária para
              assegurar que as decisões proferidas pelos órgãos
              internacionais sejam aplicadas e exigíveis a nível nacional.
              Neste sentido, alguns países da região criaram leis específicas
              ou estabeleceram mecanismos para facilitar a implementação das
              decisões dos órgãos internacionais tais como a Costa Rica, a
              Colômbia, o Peru e a Argentina. O Brasil deveria seguir o exemplo
              de tais países e criar uma legislação específica para a
              implementação das decisões dos órgãos internacionais. Porém,
              ainda temos uma etapa a vencer neste processo, a aceitação pelo
              Brasil da Jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos
              e da competência dos Comitês das Nações Unidas para receberem
              denúncias de casos individuais de violações de direitos
              humanos.
              
               7.
              ANÁLISE DE CASOS HIPOTÉTICOS
              
               Seminário
              sobre a aplicação do direito internacional dos direitos humanos
              no direito interno – casos retirados do livro – “Guía sobre
              a Aplicación del Derecho Internacional en la Jurisdicción
              Interna” (Instituto Interamericano de Direitos Humanos –
              1996).
              
               Caso
              1 – liberdade de expressão
              
               José
              Villavicencio é um dos jornalistas nacionais mais crítico da
              gestão atual do Presidente da República. Em especial, questionou
              os esforços do Poder Executivo destinados a fazer oposição a
              independência do Poder Judicial de diversos funcionários.
              
               Em
              13 de fevereiro de 1994, o jornalista Villavicencio publicou um
              artigo no diário El Heraldo intitulado “O Executivo faz-se de
              Corte”, no qual ao referir-se ao Ministro da Corte Suprema de
              Justiça, Marco Tulio, utilizou a expressão 
              “asqueroso”. Com tal adjetivo, o jornalista fazia referência
              ao quadro de que o próprio Ministro havia assinalado que a dependência
              de outros companheiros da Corte do Poder Executivo que causava-lhe
              asco.
              
               Com
              base neste artigo, o Ministro iniciou uma ação privada por injúria
              que recaiu na Quarta Vara Penal de primeira instância. A juiza
              considerou que a expressão utilizada pelo jornalista excedia aos
              limites da honra do funcionário e constituía um agravo ao
              Ministro, decidindo por iniciar um processo penal por desacato
              para penalizar o jornalista pelas expressões utilizadas no seu
              artigo.
              
               O
              delito de desacato está previsto no artigo 244 do Código Penal
              que estabelece: “Será reprimido com prisão de 15 dias a seis
              meses quem provocar, ameaçar, injuriar, ou de qualquer modo
              ofender em sua dignidade ou decoro a um funcionário público por
              causa ligada ao exercício de suas funções. A prisão será de
              um mês a um ano, se o ofendido for o Presidente da Nação, um
              membro do Congresso, um governador da província, um Ministro
              nacional ou provincial, um membro dos legislativos municipais ou
              um juiz.”
              
               A
              juíza condenou o jornalista a dez meses de prisão por delito de
              desacato, atribuindo-lhe a intenção de difamar o Ministro. O
              jornalista negou a pretensão de difamatória contida em seu
              artigo, dizendo que utilizou a palavra asqueroso com um sentido
              alternativo, que refere-se aquele que sente asco, no lugar do
              sentido mais generalizado de ser repugnante.
              
               A
              juíza, que modificou a qualificação do delito de injúria pelo
              de desacato contra o jornalista afirmou na sua sentença que o
              desacato tutela: “...mais além da honra do funcionário, a
              pureza e a dignidade do cargo que ocupa.”
              
               Conforme
              o estabelecido no Código Penal, e segundo a interpretação
              jurisprudencial (na qual baseou-se a juíza para proferir a sua
              sentença), a figura do desacato: 
              
               a)
              é de ação pública
              
               b)
              não admite como prova de verdade dos fatos justificáveis
              
               c)
              requer a aplicação de prisão preventiva a quem injuria um
              funcionário público.
              
               O
              jornalista José Villavicencio consulta vocês, advogados
              especializados na defesa dos direitos humanos, para apresentar um
              recurso de apelação contra a sentença da primeira instância. São
              suas perguntas:
              
               1.
              Existem normas dos tratados de direitos humanos que o amparem?
              Quais são elas e quais os artigos que fazem referência à
              liberdade de expressão?
              
               2.
              Além dos tratados mencionados na resposta anterior, Villavicencio
              pode alegar que o artigo 244 do Código Penal gera distinção
              discriminatória entre as ‘figuras públicas’ e as outras
              pessoas no território nacional? Neste caso qual seria o direito
              que poderia alegar ter sido violado em quais tratados
              internacionais está previsto?
              
               3.
              Supondo que Villavicencio pusesse basear-se nos tratados
              internacionais para apresentar a sua apelação, como poderia um
              tratado derrogar uma disposição do Código Penal?
              
               4.
              Villavicencio poderia iniciar uma campanha nacional para que o Código
              Penal fosse modificado e adequado às normas internacionais? Quais
              seriam as conseqüências desta adequação no âmbito do Poder
              Judiciário?
              
               CASO
              2 – DEVIDO PROCESSO LEGAL
              
               Você
              é advogado de uma organização de direitos humanos. Um militante
              ecologista foi preso no momento em que pintava uma parede com
              palavras contrárias aos experimentos anunciados por uma potência
              nuclear no Pacífico Sul. A sua organização pediu a você para
              assumir a defesa do ecologista. Porém ao tentar tomar providências
              no caso, o juiz decidiu que, conforme o artigo 195 do Código de
              Processo Penal, você somente poderia comunicar-se com o seu
              representado depois que o mesmo tivesse prestado depoimento como
              acusado.
              
               O
              mencionado artigo dispõe que: “o sumário somente poderá ser
              examinado pelas partes e seus defensores depois da declaração do
              acusado”.
              
               O
              caso seguiu adiante e você teve que aguardar que as declarações
              fossem prestadas por Luis para então examinar o expediente. Em
              seguida, você consegui obter a liberação provisória do
              processado. Entretanto, quando você foi expor o caso para o
              pessoal da sua organização, uma pessoa assinalou que você
              deveria ter atacado judicialmente o dispositivo em questão,
              porque era contrário às normas de direitos humanos
              internacionais, ratificadas pelo país.
              
               1.
              Qual tipo de ação você poderia interpor para buscar a modificação
              do mencionado artigo do Código de Processo Penal? Com base em que
              instrumentos legais (internos ou internacionais) você
              apresentaria a ação?
              
               CASO
              3 – DEVIDO PROCESSO LEGAL – LEI DE ANISTIA
              
               Danilo
              Montenegro abandonou o seu país Ruritania em 1978 por perseguições
              de caráter político. Ruritania está sob ditadura militar há
              quinze anos, caracterizada por violações sistemáticas aos
              direitos humanos e pela ausência de abertura política.
              
               Encontrando-se
              no exterior, Danilo foi julgado a revelia por um tribunal militar,
              acusado do delito de organização de um partido político que as
              autoridades consideravam subversivo. Foi condenado à pena de
              morte pelo delito de traição, pois o tribunal sustentou que os
              fins do Partido afetavam a segurança nacional do Estado.
              
               O
              texto da lei expressa que “comete traição que colocar ao
              conhecimento de potências estrangeiras segredos militares,
              segredos de Estado, ou qualquer informação que puder ser
              utilizada contra o Estado”.
              
               A
              frase “qualquer informação que puder ser utilizada contra o
              Estado” foi introduzida no Código Penal por uma reforma adotada
              depois da entrada em vigor dos instrumentos internacionais das
              quais Ruritania é parte.
              
               Danilo
              somente soube da sentença por informações da imprensa, no exílio
              pois não foi citado a comparecer e nem pode designar uma dvogado
              para representá-lo. No expediente há menção de que Danilo foi
              citado por avisos publicados em um diário da capital para que
              comparecesse em juízo. Os bens que possuía no país de origem
              foram confiscados e vendidos. Seu pai e irmão foram perseguidos e
              presos, apesar de que não realizavam nenhuma atividade política,
              e não foram acusados de nenhum tipo de delito.
              
               Em
              Ruritania foi aprovada uma lei de anistia para todos os condenados
              por delitos políticos, inclusive aqueles pelos quais foi
              condenado Danilo. Não obstante, a anistia teria eficácia somente
              em caso de seus beneficiários terem retornado ao país. Passado
              um ano de vigência da lei, haveria a caducidade dos seus efeitos,
              não beneficiando mais a quem tivesse retornado depois deste período.
              
               Danilo
              contrata você como advogado para poder retornar ao seu país,
              para que apresente todas as ações possíveis para demonstrar a
              sua inocência e recuperar os seus bens.
              
               Ruritania
              é parte do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e
              da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos. 
              
               Que
              medida legal você tomaria?
              
               Caso
              n. 4 – violência policial
              
               Em
              Chigestan, país que vive em um regime democrático, Ricardo Munoz
              e Manuel Escobar assaltam um Banco e fogem com o dinheiro. A polícia
              foi chamada e inicia uma perseguição aos fugitivos, que numa
              tentativa desesperada entram em uma casa, armados e seqüestram os
              seus moradores, a quem ameaçavam de morte. Chegando ao local, os
              policiais advertem os assaltantes de que devme render-se
              imediatamente. Os assaltante revidam dizendo que se a casa for
              invadida pela polícia eles matarão os moradores. A polícia
              inicia as negociações por telefone. No final de doze horas de
              negociação, os assaltantes aceitam liberar os reféns e
              entregam-se em seguida. Quando os reféns foram libertados, a polícia
              invade a casa e mata todos os assaltantes.
              
               No
              processo criminal sobre a morte dos assaltantes, os agentes
              policiais alegaram que ao ingressarem na casa foram recebidos a
              tiros pelos assaltantes que viram-se obrigados a revidar para a
              sua defesa, e que além disso, tinham ordens superiores de atuar
              com a máxima energia e eficácia.
              
               Todos
              os fatos foram comprovados, inclusive ordens de atuar com máxima
              energia e eficácia. 
              
               Chigestan
              é parte em todos os instrumentos internacionais de direitos
              humanos.
              
               A
              família de Munoz contrata você pata atuar como advogado e
              apresentar todas as ações judiciais cabíveis contra os
              policiais.
              
               Quais
              as providências legais que seriam cabíveis neste caso e com base
              em que instrumentos internacionais de proteção aos direitos
              humanos?
              
               Caso
              5 – nacionalidade dos povos indígenas
              
               Existe
              um povo indígena semi-nômade chamado “Kueni”, que é
              perfeitamente individualizado, tem tradições, cultura, custumes,
              instituiçõwes sociais e jurídicas próprias, e habita as zonas
              de fronteira do país de Burilandia e de seu vizinho, Portolandia.
              Há a circunstância agravante de que parte de seu territórios
              estiveram durante muitos anos sendo disputados com seus vizinhos.
              A cultura territorial de Kueni é coletiva, não individualizada,
              e indiferente à divisão política entre os Estados, que foi de
              fato criada pelos colonizadores espanhóis e seus descendentes.
              Assim, suas condições de vida e costumes permitiram a este povo
              indígena demonstrar que pertencem à etnia Kueni, porém não
              possuem meios para provar o seu nascimento.
              
               Durante
              muitos anos, muitos Kuenis negaram-se sistematicamente a aceitar a
              condição de residentes estrangeiros ou mesmo naturalizados, e
              lutaram para que sejam reconhecidos como burilandeses por
              nascimento. Porém, não puderam provar que nasceram em território
              nacional e nem a identidade de seus pais ou mães, ou outros
              antepassados.
              
               Não
              existe em Burilandia nenhum tratamento constitucional sobre
              direitos indígenas, distinguindo-os dos direitos das demais
              pessoas, tendo a legislação chegado somente a reconhecer que os
              Kuenis que não podem comprovar o seu nascimento no país de sua
              filiação a um nacional, possuem condição legal de residentes
              estrangeiros, com a possibilidade de incorporarem-se à sociedade
              burilandesa como naturalizados.
              
               Tal
              reconhecimento vem sendo objeto de muitas críticas e dúvidas,
              uma vez que conforme a própria Constituição todas as pessoas
              estão sujeitas a legislação comum, universal aplicada aos
              tribunais ordinários, integrados exclusivamente no Poder
              Judicial, em condições de igualdade e não-discriminação.
              Assim conferir aos indíos privilégios de nacionalidade,
              naturalização ou residência seria considerado inválido por
              ferir a constituição.
              
               Burilândia
              é parte de todos os tratados internacionais de direitos humanos,
              e especificamente do Convênio 169 da OIT que expressamente
              garante os direitos de igualdade e não-discriminação e os princípios
              da universalidade das leis.
              
               Há
              uma norma na Constituição, em matéria de direitos humanos,
              específica de “proteção e garantia”que torna extensivo aos
              direitos reconhecidos nos intrumentos internacionais sobre
              direitos humanos aplicáveis na República as normas sobre o
              recurso do amparo constitucional.
              
               A
              Constituição não outorga hierarquia nem constitucional nem
              supra constitucional aos tratados internacionais sobre direitos
              humanos, tendo autoridade superior 
              às leis ordinárias somente. 
              
               Se
              você fosse advogado de uma organização ligada à causa indígena,
              quais medidas tomaria para garantir a não-discriminação e a
              igualdade jurídica no tratamento em questão?
              
               CASO
              6 – direitos econômicos, sociais e culturais
              
               O
              Estado Equidade é parte da Convenção Americana sobre Direitos
              Humanos, ou Pacto São José e já reconheceu a jurisdição
              obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
              Ratificou o Protocolo adicional à Convenção Americana sobre
              Direitos Humanos em matéria de direitos econômicos, sociais e
              culturais, ou Protocolo de São Salvador (que ainda não está
              vigente), também ratificou o Pacto Internacional de Direitos Econômicos,
              Sociais e Culturais. Na sua Constituição estão incluídos os
              direitos clássicos de liberdade e não-discriminação não
              estando contemplado o direito à saúde como parte dos direitos
              protegidos pelo artigo 90, que prevê a utilização do “recurso
              de defesa de direitos fundamentais “para prevenir, impedir e
              reparar violações aos direitos humanos, ainda que não estejam
              definidos os alcances deste recurso.
              
               As
              autoridades de Equidade anunciaram a suspensão das zonas rurais
              de campanhas de vacinação infantil contra o sarampo, desinteria
              e a poliomelite “em razão dos crescentes custos e da
              necessidade de reajustes orçamentários derivados de uma mudança
              de prioridades na liberação dos mencionados recursos”. A
              porcentagem do orçamento nacional que é conferida à área da saúde
              pública é inferior a 1%, colocando a saúde entre as últimas
              prioridades. Estima-se que o aumento das doenças infantis
              decorrente da falta de vacinação produzirá 10.000 mortes a mais
              durante o ano nas zonas afetadas pelas epidemias, por tratarem-se
              das regiões mais pobres de Equidade, cujos habitantes não poderão
              arcar individualmente com os custos de serviços médicos.
              
               Com
              base na situação descrita acima:
              
               Você
              é um advogado de uma ONG dedicada à defesa dos direitos humanos
              em Equidade. Você utilizaria o recurso de defesa dos direitos
              fundamentais, previsto na Constituição contra a disposição do
              governo da Equidade? Que fundamentos alegaria? Na sua defesa
              utizaria do sistema interamericano ou global de proteção dos
              direitos humanos? Qual/Quais?
              
               2.
              Como representante do Governo, quais seriam os seus argumentos
              diante do recurso apresentado pela ONG? Que teoria usaria com
              respeito aos direitos protegidos? Você se basearia em algum
              instrumento internacional de proteção. Qual?
              
               3.
              Como juiz elabore uma sentença que considere os argumentos
              apresentados por ambos os lados contendo fudamentação
              relacionada com a aplicação do Direito Internacional no direito
              interno, referência ao Pacto de São José e ao Protocolo San
              Salvador, levando em conta que a Constituição assinala no seu
              artigo 7 que
              
               “
              As Convenções internacionais ratificadas pelo Congresso terão
              hierarquia superior à lei inferior à Constituição, salvo os
              referentes aos direitos humanos que gozarão de hierarquia
              constitucional”.
              
               4.
              Que importância tem o fato de que a suspensão da campanha de
              vacinação ter atingido as áreas rurais?
              
               5.
              Você crê que o caso poderia ser levado perante o sistema
              interamericano de direitos humanos, com base instrumento
              internacional e perante qual órgão?
              
               Caso
              7 – prisão ilegal e tortura
              
               Luis
              estava jogando sinuca com os amigos quando foi preso em uma operação
              ilegal no Estado Molotor, que tinha por objetivo percorrer alguns
              bares da zona suburbana da capital para supostamente prevenir possíveis
              atividades delituosas ao tráfico de drogas e armas.
              
               Luis
              ficou incomunicável por uma semana e foi submetido a torturas
              constantes para confessar que estava ligado ao crime
              internacional. Finalmente foi liberado porém com graves danos físicos
              que o deixaram impossibilitados para trabalhar por um ano, além
              de seqüelas psicológicas que o tornaram um homem inseguro e
              amedrontado, com necessidade de acompanhamento especializado que não
              tinha condições de pagar.
              
               Através
              de escritório de apoio jurídico-popular, a família apresentou
              um recurso de habeas-corpus, no qual nunca houve pronunciamento do
              juiz, e nem das autoridades responsáveis pela prisão de Luis. Os
              policiais que prenderam e torturaram Luis não só não fizeram
              esforço para ocultar as suas identidades, como também mantiveram
              a vigilância sobre a sua mulher e seus filhos estacionando um
              carro em frente a sua casa por várias horas.
              
               O
              caso de Luís não é o único e sabe-se que a polícia de Molotor
              pratica a tortura como forma de combate à delinquência e também
              como forma de obtenção de provas, ou simplismente como vingança
              pessoal ou política.
              
               Molotor
              é parte da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, tendo
              reconhecido a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos
              Humanos, mas ainda não ratificou a Convenção para prevenir e
              combater a tortura, em parte porque as normas de procedimentos
              penais vigentes em Molotor não anulam a confissão obtida por
              meio de coação ou tortura. Além disso, o governo já
              pronunciou-se publicamente dizendo que não medirá esforços para
              combater “ de qualquer forma” a crescente onda de
              criminalidade que afeta Molotor.
              
               1.
              Você é advogado e recebeu o caso de Luis depois da apresentação
              do recurso de habeas corpus pelo escritório. Que ações
              recomendaria para serem levadas adiante? Levaria o caso ao sistema
              interamericano? Quais direitos alegariam que foram violados, e
              quais artigos da Convenção Americana ou outro instrumentos não
              foram observados?
              
               2.
              Como os fatos ocorridos com Luis sejam comprovados, e for preferia
              sentença indenizatória para Luis, quais os mecanismo indicados
              para torná-la efetiva?
              
               Caso
              8 - discriminação racial no Brasil
              
               No
              dia 5 de maio de 1996, foi publicado no jornal A Gazeta um anúncio
              de sessão de empregos, para candidatas à vaga de empregada doméstica
              na casa da família da Sra. Maria do Carmo Nogueira exigindo que a
              futura empregada cumprisse com os seguintes requisitos: morasse no
              emprego, tivesse em experiência no trato com as crianças, possuísse
              a documentação pessoal em dia, e ser preferencialmente branca, não
              ter filhos, ser solteira e maior de 21 anos.
              
               A
              estudante do curso de enfermagem, Ana Claúdia Martins, que
              buscava emprego nos jornais havia algumas semanas, resolveu ligar
              para o número indicado ao anúncio e candidatar-se à vaga disponível
              que estava sendo oferecida. Ana Cláudia foi atendida por uma
              pessoa e ao identificar-se emostrar a intenção de preencher a
              vaga do anúncio, foi indagada sobre a cor da sua pele. Ana Claúdia
              respondeu que era negra, e a pessoa que não preenchia os
              requisitos necessários para o emprego na casa da Sra. Maria do
              Carmo.
              
               Diante
              desse fato, Ana Cláudia, registrou a ocorrência na Delegacia de
              Investigações sobre Crimes Raciais, acusando a Sra. Maria do
              Carmo de ter cometido delito de racismo, que é previsto na Lei
              Federal no. 7.716 de 5 de janeiro de 1989. Foi instaurado o inquérito
              policial para a apuração dos fatos.
              
               A
              Sra. Maria do Carmo ao prestar depoimento na polícia informou que
              havia contratado anteriomente uma pessoa de raça negra para
              trabalhar como empregada doméstica em sua casa e que esta na sua
              ausência maltratava a filha com agressões físicas. Como consequência
              destes maus tratos, as suas filhas passaram a sentir
              “receio”de pessoas de raça negra. Tais fatos foram o
              principal motivo pelo qual a Sra. Maria do Carmo redigiu o anúncio
              publicado no jornal A Gazeta com os termos “preferencialmente
              branca”. Além disso, a Sra. Maria do Carmo informou que era
              casada com um homem de raça negra e que por tal razão não possuía
              qualquer preconceito de raça ou cor. O seu marido compareceu a
              Delegacia para prestar depoimento e confirmou o depoimento da Sra.
              Maria do Carmo.
              
               O
              Ministério Público, com base em tais declarações, emitiu um
              parecer solicitando arquivamento do inquérito policial alegando
              que o inquérito não logrou apurar a prática de qualquer ato que
              pudesse constituir crime de racismo 
              previsto na Lei 7.716/89 e que por isso não havia nos
              autos base para o oferecimento de denúncia. O pedido de
              arquivamento foi acatado pelo juiz e os autos do inquérito
              policial foram arquivados.
              
               1.
              Com base nestes dados, quais passos você tomaria, como advogado
              atuante na área de direitos humanos, caso fosse procurado por Ana
              Cláudia?
              
               2.
              Se você fosse apresentar uma denúncia internacional qual/quais
              seriam os órgãos que poderiam recebê-la?  
              Quais seriam os tratados internacionais que seriam alegados
              por você na denúncia como tendo sido violados pelos Estado do
              Brasil? Faça uma lista e explique o conteúdo dos direitos que
              foram violados no caso de Ana Cláudia.
              
                
              
              
             |