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Desmascarando
o Truste
Defesa do Nordeste
Algodoeiro
Banco do Brasil a serviço
das firmas estrangeiras – seleção
das sementes de “fibra longa” –
esquema para o Nordeste – discurso do deputado
Djalma Maranhão, da Frente Parlamentar
Nacionalista
Na
sessão de 2 de outubro de 1959, o deputado
Djalma Maranhão pronunciou, no Palácio
Tiradentes o seguinte discurso:
Deputado
DJALMA MARANHÃO
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ocupei recentemente
a tribuna, para examinar problemas econômicos
do Nordeste. Trouxe eu, então, a debate,
o problema da shelita, minério do tungstênio.
Hoje,
desejo estudar e apresentar soluções
par o problema de algodão. Começo
por dividir meu discurso, em três partes:
primeiro, uma análise sobre o algodão
no Brasil, fundamentalmente, no Nordeste e, de
maneira genérica, no Estado de São
Paulo; e, por último, as conclusões
e apresentações de projetos de lei.
O algodão
é uma das matérias-primas fundamentais
da Humanidade. Se o desenvolvimento industrial
de um povo, exige energia elétrica, ferro
e petróleo se para a manutenção
dos povos são necessários carne
e trigo, do mesmo modo, o mundo não pode
viver sem algodão. Se recuarmos ao tempo
do homem da caverna verificaremos a luta tremenda
do homem para defender-se do frio ou do calor.
A princípio, de maneira elementar caçavam
e aproveitavam a pele dos animais, como proteção
contra as intempéries. Com a marcha do
tempo, chegamos à fase da lã. Então,
ainda quase em estado primitivo, o homem retirava
dos rebanhos a lã para vestimentas rudimentares.
Descobriu-se, depois, um arbusto silvestre produtor
de um floco branco, com o qual se iniciou a fabricação
dos tecidos.
Mas,
naquela época, deixava-se de lado o caroço
do algodão, que, nos dias presentes, tem
grande utilidade, não somente como óleo
comestível, mas também como forragem
de gado, com aproveitamento da torta e do farelo,
e, bem assim, dos sais nutritivos.
Mas,
Sr. Presidente, se formos examinar a história
do algodão, veremos que já Colombo
era filho de tecelão, profissão
que ele mesmo exerceu na sua primeira infância.
Por sua vez, também, Vasco da gama, quando
procurou o caminho das Índias, atingiu
diretamente as fontes de produção
de algodão. Somente na Ilha Barbados nas
Antilhas, entretanto, foi feito o seu primeiro
cultivo metódico.
BASES MONOPOLISTAS – OS INGLESES
Sr.
Presidente, o comércio e a industrialização
do algodão sempre foram feitos na base
do monopólio. Esse primeiro monopólio
vem da Babilônia, de onde, partiam caravanas,
levando o produto para as áreas do mundo
civilizado de então. Entretanto, somente
quando a Inglaterra começou o seu domínio
sobre o mundo, como “rainha dos mares”
passou o algodão a ter grande importância
no mercado internacional. Isto porque os ingleses,
não somente fabricavam, como vendiam o
próprio algodão. Dispunham, nas
suas colônias de vastas terras para plantio,
e instalaram em Lancashire a grande indústria
fabril detentora posteriormente do monopólio
universal desse produto.
Nessa
época, o algodão tinha a sua base
no tráfico de escravos: estes, levados
para as plantações das colônias
britânicas, dava à Inglaterra um
predomínio absoluto.
A indústria
desenvolveu-se também em Liverpool, que
depois se transformou em grande centro algodoeiro
do mundo e mercado negreiro dos mais importantes.
Mas,
se a Inglaterra pôde, durante muito tempo,
manter seu predomínio no mercado algodoeiro,
para isso concorreram vários fatores. Em
primeiro lugar, foi inventada, a roda mecânica
de fiar; depois, o tear mecânico e, finalmente,
a máquina a vapor. Baseados neste tripé,
isto é, dispondo da roda de riar, do tear
e da máquina a vapor, os ingleses conseguiram
dominar o comércio algodoeiro do mundo.
Manchester, Liverpool e Lancashire transformaram-se
em autênticas legendas, e o mundo inteiro
passou a observar e a acompanhar estarrecido a
evolução avassaladora dos monopolistas
ingleses.
SURGEM OS JAPONESES
Antes, porém, da Segunda Guerra Mundial,
surgiram os japoneses na luta pela conquista do
mercado algodoeiro. Logo depois do conflito mundial
lançaram em Osaka seu centro fabril de
maior importância, e chegaram a ultrapassar,
em 1933, a própria indústria algodoeira
inglesa.
Isso
se verificou em conseqüência, primeiro,
dos baixos salários pagos pelos japoneses
em suas fábricas; em segundo lugar, porque
os nipônicos encaminharam a sua imigração
no sentido dos países plantadores de algodão.
Começaram por atingir os mercados consumidores
da Inglaterra.
Nos
países subdesenvolvidos da África,
com tecidos baratos e de qualidade inferior, os
japoneses foram alicerçando e fundamentando
sua indústria expansionista para passar
a uma etapa superior e enfrentar os ingleses nos
seus próprios redutos da Europa, na confecção
de tecidos finos.
Nesta
época os japoneses chegaram a superar também
a indústria alemã, que estava, então,
em franco desenvolvimento. Mas depois da Segunda
Grande Guerra, deu-se justamente o oposto. Havia
passado a fase do “perigo amarelo”.
Se os japoneses haviam saído vitoriosos,
graças aos efeitos da Primeira Grande Guerra,
envolvendo-se, entretanto, na aventura sinistra
de Hitler, formando o eixo Berlim-Roma-Tóquio,
foram arrastados à conflagração.
Da mesma maneira que saíram derrotados
militarmente foram vencidos economicamente.
OS
ESTADOS UNIDOS DOMINARAM OS MERCADOS
Parte daí a predominância de um novo
monopólio. E se, antes haviam sido os ingleses,
depois os japoneses, agora chegou a vez dos Estado
Unidos da América.
Mas
a indústria algodoeira americana tem, também,
a sua história. E essa história
vem desde a ocasião em que, colônia
da Inglaterra, plantava algodão para os
teares ingleses. Vindo a libertação
da América do Norte, tentaram e conseguiram
seus habitantes fundar sua própria indústria
algodoeira. Tiveram porém, primeiramente
de enfrentar a Guerra do Algodão, porque
foi a luta de uma parte industrializada dos Estados
Unidos com outra parte agrícola, que baseava
sua agricultura no braço escravo.
Somente
com a vitória do norte industrial pôde
a América do Norte colocar-se na frente
dos ingleses e dos japoneses, no mercado algodoeiro.
Essa luta teve, entretanto, suas fases mais dramáticas
e mais difíceis. E só venceu quando
os americanos tentaram seu próprio descaroçador
de algodão (cotton-gin) para descaroçar
o tipo de caroço de algodão norte-americano
que era mais duro e áspero.
A Bolsa
de Nova York passou a substituir no mundo a Bolsa
de Liverpool e a Bolsa de Osaka. Mas, ao mesmo
tempo que os americanos se lançavam no
mercado mundial do ouro branco, surgia também
o algodão soviético.
O ALGODÃO SOVIÉTICO
Em Ferglana, na Ásia Central, surgia o
primeiro centro algodoeiro da União Soviética
que se fez através da irrigação
transformando autênticos desertos em algodoais.
O antigo Vale Maldito do Rio Amudarza e a gigantesca
represa Vaksch-Sroj que rivaliza com as monumentais
obras de irrigação do Vale do Tennessee
é um exemplo para o Nordeste brasileiro.
Naquela região semi-árida, onde
não produzia-se quase nada, encontra-se
hoje um dos maiores campos algodoais do mundo
inteiro. Mas a luta da União Soviética
para obter a sua industrialização
custou milhares de vidas à época
da revolução.
O Sr.
Miguel Leuzzi – Abordou V. Excia., com grande
conhecimento, o problema da cultura do algodão
no Nordeste . Nós, de São Paulo
constantemente reclamamos do Governo Federal o
incremento da produção algodoeira
na área do São Francisco, porquanto
nessa região poderemos recolher manancial
tão grande de algodão que poderemos
enfrentar o produto oriundo do Egito, pela sua
qualidade e sua fibra. Acredito que um dos fatores
de sucesso é o Nordeste e o Norte voltarem
suas vistas para a cultura algodoeira no Vale
do São Francisco, a tal ponto que, em breve,
possamos suplantar essa cultura no meu Estado,
São Paulo.
O SR.
DJALMA MARANHÃO – Agradeço
o aparte do nobre colega. Na segunda parte do
discurso, quando examinarmos o problema do algodão
no Brasil, focalizaremos o assunto com dados mais
precisos.
EGITO, A MELHOR FIBRA
Também no Egito, o algodão dependeu
muito da irrigação. Foi a irrigação
do rio Nilo que permitiu se instalassem, ali,
as grandes plantações dos algodões
egípcios, considerados os melhores do mundo.
Sabemos,
por exemplo, que, quando a Itália tentou
fazer na África e na Ásia, a sua
expansão colonialista, tentou na Abissínia
desviar as águas do rio Sudão, atingindo,
assim, a Inglaterra, não somente no campo
militar, mas também no campo econômico.
O
EXEMPLO DE GANDHI
Na Índia, tivemos aquele exemplo impressionante
de Mahatma Gandhi que, através de sua pregação
pacifista, conseguiu que os hindus retomassem
os fusos rudimentares para enfrentar os teares
altamente industriais da Inglaterra, provocando
um abalo muito grande na economia britânica.
BOLSAS
DE ALGODÃO
Sr. Presidente, se analisarmos, de maneira rápida,
o problema do algodão em algumas partes
do mundo, poderemos dizer que as bolsas de algodão,
que servem para regularizar a lei da oferta e
da procura, surgiram nos fins do século
XVIII e início do século XIX.
Depois
que apareceram os primeiros concorrentes para
enfrentar o monopólio inglês, as
mais importantes, dessas bolsas, nos dias de hoje,
são as de Nova York, Liverpool, Havre,
Osaka, Cairo, São Paulo e Bremen. A bolsa
de Bremen, por exemplo, teve a sua fase áurea
quando se transformou em porto de imigrante. Os
navios vinham dos países do Novo Mundo,
transportando algodão e retornavam com
imigrantes. Hoje, entretanto, as Bolsas de Algodão,
perderam grande parte de nossas influências,
devido os governos dos países produtores,
controlarem oficialmente as cotações.
Mas,
Sr. Presidente, esta é a primeira parte
do nosso discurso.
O Sr.
Carvalho Sobrinho – Permita-me o nobre orador.
V. Excia., está tratando o algodão,
que constitui uma das riquezas materiais do País,
e eu agora já me sinto mais desabafado
para falar e de outras riquezas. A maior riqueza
paulista, riqueza incomensurável, riqueza
quase divinatória seria aquela que propiciasse
aos paulistas encontrar, nesta fase tumultuária
da vida do País, um homem que postulando
ser o seu representante na mais alta administração
do País, tivesse a dignidade dos paulistas,
o exemplo dos paulistas, a tradição
dos paulistas, o amor dos paulistas à sua
terra e sobretudo a renúncia dos paulistas
que tem sido um dos fatores morais do grande enriquecimento
do País. Estamos atravessando para valorizar
o algodão para valorizar o café
para valorizar as riquezas minerais da Nação
um período que exige dos homens públicos
renúncia. Enquanto lá o Sr. Carvalho
Pinto está atrelando à falta de
renúncia do Sr. Jânio Quadros, o
Marechal Teixeira Lott, dá ao Brasil o
exemplo de renúncia, querendo a pacificação,
a solução dos seus problemas materiais,
morais e espirituais.
O SR.
DJALMA MARANHÃO – Sr. Deputado haveremos
de analisar este aspecto na segunda parte de nosso
discurso em explicação pessoal –
e pediríamos a V. Excia., Sr. Presidente
nos concedesse a prorrogação de
25 minutos, após o término da sessão.
Voltaremos, entretanto, à tribuna e aqui
continuaremos a examinar o problema do algodão,
situando-o no plano nacional, porque o Nordeste
tem sido muitas vezes prejudicado pela fase de
industrialização do Estado de São
Paulo. (Muito bem, muito bem).
O SR.
DJALMA MARANHÃO:
(Para explicação pessoal) –
Sr. Presidente, Srs. Deputados, a segunda parte
do discurso que iniciamos no Grande Expediente
refere-se ao problema do algodão no Brasil
e, de maneira fundamental, no Nordeste. Desejaríamos
citar inicialmente a opinião do Dr. José
Augusto, ex-Deputado e ex-Governador do Rio Grande
do Norte, um dos grandes conhecedores do problema,
quando ele diz:
“O
gado levou o homem civilizado para o Seridó,
e o algodão expulsou o gado e fixou o homem
à região”.
Há
também uma opinião do agrônomo
Ursulino Veloso das mais importantes sobre o assunto:
“Considero
a mocó, uma fonte inesgotável de
riquezas, um meio seguro de fixar o sertanejo
ao seu sertão onde ambos, homem e mocó
podem viver associados ajudando um ao outro, de
mãos dadas, na estreia compreensão
de uma luta comum que os faz gigantes na adversidade,
felizes ambos na grandeza dos seus destinos”.
A
LINHAGEM S-9193
Sr. Presidente, extraindo dos arquivos da Estação
Experimental do Seridó, o agrônomo
Ursulino Veloso confeccionou em 1933 gráficas
em que se verifica que a atual já famosa
linhagem S-9.193, isolada em 1949 pelo então
chefe daquela Estação Experimental,
agrônomo Fernando Melo, segundo o esquema
genealógico desta linhagem feito pelo mesmo
técnico constante de seu relatório
referente a 1953 provém em linha reta por
doze gerações sucessivas através
de progênies e linhagens conduzidas experimentalmente,
de uma planta que recebeu em 1931 o nº de
registro 11.323, colhido da filial 78, de cuja
matriz não se conhece a procedência
por falta de registro.
OPINIÃO
DO PROF. HARLAND
Mas, Sr. Presidente, existe, no estudo do problema
do algodão nordestino a opinião
de um grande técnico internacional, o prof.
Harland que considera o algodoeiro mocó,
forma Seridó ou algodão Bourbon
que vive e é cultivado nas Índias
Ocidentais, na região do Madalim, na Colônia;
em partes do Haití; em estado meio selvagem,
desde o norte do Rio de janeiro, até o
Amazonas; na Venezuela e algumas partes do Equador.
Diz
ainda o Professor Harland que nas regiões
mencionadas acima, onde se cultivava o bourbon,
o clima tende geralmente para o árido,
com vegetação do tipo erófilo,
semelhante ao das regiões mais secas do
Nordeste do Brasil.
O Professor
Harland, em seu relatório de uma visita
de inspeção feita à Fazenda
São Miguel, no Rio Grande do Norte, onde
se fazem trabalhos de seleção do
Mocó por técnicos estrangeiros,
assim se expressa com relação ao
cruzamento do Mocó versus Pima:
“Em
primeiro lugar, estamos lidando com um cruzamento
de duas espécies, Gossypiun purpurascens
(Mocó)e Cossypiun barbadense (Pima).
Cada
uma dessas espécies se compõe de
um grupo complexo de genes (fatores hereditários),
que agem conjuntamente e harmoniosamente para
produzir a adaptação à extrema
aridez, em um caso, e a abundância de água,
no outro. Cada espécie tem a sua arquitetura
hereditária especial, e, quando as duas
espécies se misturam, como num híbrido,
ocorre uma grande variedade de combinações,
em sua maioria, mais fracas do que os seus genitores,
ou então indesejáveis sob outros
pontos de vista.
Qualquer
geração, depois desse primeiro cruzamento,
apresenta alguns tipos inferiores e pouco harmoniosos.
Para
ilustra com um exemplo, é como se misturássemos
várias partes de dois automóveis
diferentes, digamos um Rolls Royce e um Ford,
e depois tentássemos fazer uma série
de novos carros com os pedaços. É
evidente que a maioria dos carros seriam de algum
modo ineficaz e que nenhum seria tão bom
quanto os dois tipos originais”.
ESQUEMA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA
Temos um esquema de assistência técnica
algodoeira da região do Seridó,
organizado pelo agrônomo Ursulino Veloso
que já citamos neste discurso. É
um esquema dos mais interessantes, em razão
do qual, a expansão de sua cultura terá,
como base de desenvolvimento, aquela região
do Rio Grande do Norte, onde se acha instalada
a Estação Experimental de Cruzeta,
dependência do Instituto Agrônomo
do Nordeste, especializada no melhoramento dos
algodões de fibra longa.
A região
do Seridó constitui inicialmente, a fonte
de toda semente Mocó, selecionada, utilizada
nos demais Estados do Nordeste, até que
se formem novos núcleos de sementes melhoradas
daquela procedência.
A divisão
das zonas que seriam em número de 3 e a
localização de suas respectivas
sedes têm, neste plano, a sua representação
em quadro de esquematização, anexo,
no qual figuram todos os setores de atividades
componentes da organização regional
do Seridó.
A Primeira
Zona teria sua sede, ou residência, em Jardim
do Seridó, compreendendo os municípios
de Cruzeta, Acari, Caicó, São João
do Sabugí, Carnaúbas, Parelhas e
Picuí (8).
A Segunda,
com sede em Jardim do Piranhas, compreenderia
Serra Negra do Norte, Caraúbas, Augusto
Severo, Jucurutu, Brejo do Cruz e Catolé
do Rocha.
A Terceira,
sediada em Currais Novos, compor-se-ia dos Municípios
de Florânia, São Vicente, Santa Cruz
e Cerro Corá.
ESQUEMA PARA O NORDESTE
O agrônomo Ursulino Veloso defende a localização
desses Campos – Residências, assim
distribuídos:
O Município
de Serra Talhada onde já existe uma grande
propriedade agrícola do Estado de Pernambuco
e na qual funciona uma Estação Experimental
para o Mocó ofereceria condições
ótimas para a fundação desse
Campo-Residência, nas bases acima estabelecidas.
O Campo-Residência
de Serra Talhada, como núcleo reprodutor
e multiplicador de sementes serviria à
Zona sertaneja do Estado, inclusive o Município
de Delmiro Gouveia no Estado das Alagoas, onde
está localizada a Companhia Agro-Fabril
de Pedra que mantém uma vasta e bem cuidada
cultura de Mocó com um programa de desenvolvimento
capaz de, em futuro próximo cobrar o consumo
de matéria-prima empregada na sua indústria.
No
Estado da Paraíba, Patos por sua situação
geográfica e propícias condições
ecológicas à cultura do Mocó,
e onde o seu cultivo já constitui atividade
básica da população rural,
seria o município indicado para a instalação
de um desses Campos-Residências. Não
haveria necessidade de aquisição
de propriedades por parte do Governo Federal,
de vez que lá existe um antigo campo de
sementes, mantido pela Secção de
Fomento Agrícola do Ministério da
Agricultura.
O Estado
do Ceará, onde se cultiva, quase que exclusivamente,
o Mocó híbrido, tipo sertão,
terá inicialmente duas dessas instalações
nas zonas Centro e Sul, em municípios adequadamente
escolhidos.
Uma
dessas instalações, a do Centro
ou a do Sul, poderia, de futuro, ser adaptada
a uma Estação Experimental sob a
jurisdição do Instituto Agronômico
do Nordeste dado o distanciamento do Centro gerador
de sementes que é a região do Seridó
e da própria sede do IANE.
A região
do Seridó, no Rio Grande do Norte, como
centro gerador de sementes, teria uma organização
mais ampla abrangendo todos os municípios
produtores de fibra longa, igualmente os do fácil
aquisição. A região seria
dividida em zonas de cooperação
e cultura, dirigidas por agrônomos subordinados
à Estação Experimental de
Cruzeta, cujo chefe seria o supervisor de todos
os trabalhos da região.
Os
agrônomos Carlos V. Faria e Fernando Melo
estudando o que foi conseguido e o que necessita
ser feito com os algodoeiros arbóreos do
Nordeste, chegaram às seguintes conclusões:
Os novos tipos selecionados, em cooperação
cientifica, pela Fazenda São Miguel, Estação
Experimental de Pendências e Estação
Experimental do Seridó, a produção
atingiu, em anos normais, mais de seiscentos quilogramas
por hectare, com os devidos tratos culturais.
Há linhagens que, em estudos, cuja produção
nos campos, quando progênios, alcançaram
até 1.700 quilogramas por hectares.
Devemos,
aqui, lembrar, ser o Mocó uma árvore
e, como tal, exige solo bem profundo, pois suas
raízes podem atingir 12 metros.
A percentagem
de fibras que nos tipos não selecionados
era de 27 por cento foi elevado para 32 por cento,
o que representa um aumento de 5 por cento. No
Comprimento da fibra o aumento foi de 3 a 5 milímetros.
Nesta
primeira etapa, ficaram bem servidos o plantador
e o beneficiador.
Passamos
agora, a dar maiores detalhes sobre os requisitos
industriais. Este setor pede fio forte e limpo
com boa aparência.
As
normas inglesas determinam que o mais alto titulo
fiado, tem que ter em fio cardado 2.000 unidades
(Títulos x Resistência) e no fio
penteado 2.250.
Pelo exame do Quadro III vemos que os nossos tipos
dão fio de título 80s., portanto,
dentro da classe longa.
TIPOS
A PRODUZIR NO NORDESTE
Aproveitando a experiência do Egito, devemos
ter dois tipos de fibras em face das diversas
exigências nos mercados consumidores.
Vejamos:
Tipo A – Longo – Títulos 65s.
a 80s. (limpo)
M. F. – I e M. F. 2 – S. Miguel
9.193 E. E. Seridó
Que correspondem a um intermediário Giza
23 e 30 e Menufi e X-1.730 a Gl e similar ao Novo
Giza 51.
Tipo
B – Médio – Títulos
35s. a 50s. (limpos) a ser selecionado, que corresponderá
ao Aslimouni ou ao novo Luxor.
PRODUÇÃO, CARACTERÍSTICA
E PREÇOS
Interessantes pesquisas foram realizadas pelo
Escritório Técnico de Estudos Econômicos
do Banco do Nordeste que passamos a utilizar,
como ilustração do nosso discurso,
inclusive documentários, obtidos em estudos
do Dr. George Barr.
Algodão de fibra extralonga constitui apenas
cerca de 5 por cento da produção
mundial de algodão. Este tipo de algodão
inclui variedades que geralmente tem um comprimento
de fibra de 1 3/8 de polegadas (35mm) ou de maior
comprimento.
Os
algodões incluídos são o
Karnak e o Menufi egípcios, o Sakels e
o tipo Sakel do Sudão, o Mocó do
Brasil, o Pima e o Karnak do Peru e o Supima dos
Estados Unidos. O Mocó, do Brasil, está
incluído nesse grupo porque quando a melhor
semente é utilizada e os métodos
de cultivo são satisfatórios a maior
parte da safra é classificada dentro desse
comprimento. Em outras palavras, é incluída
aqui por causa do seu comprimento potencial, e
não por ter a maior parte da safra atual
do algodão Mocó um comprimento de
1 3/8 ou mais.
UM TIPO SELECIONADO DE MOCÓ
Carlos Farias dá os seguintes dados de
um tipo selecionado de Mocó, numa obra
publicada em 1958, sob o título: - Coordenação
de esforço para o cultivo de algodão
longo no Ceará.
Desde
1923, a Fazenda São Miguel, pertencente
à Cia. Brasileira de Linhas para Coser,
sediada no Rio Grande do Norte vem selecionando
os algodões arbóreos do Nordeste,
pugnando desta forma pelo melhoramento desta importante
planta, para o Polígono seco. Nos últimos
12 anos foi desenvolvido um vasto plano de genética
algodoeira em cooperação com a Estação
Experimental do Seridó, no Rio Grande do
Norte e o Serviço de Genética do
Governo da Paraíba. Deste conjunto de esforços
que se caracterizou por um verdadeiro trabalho
de equipe, onde mais de 250 mil plantas foram
examinadas, surgiram variedades realmente superiores,
entre elas podemos citar o tipo “Condado”,
de São Miguel a ES-9.193, da Estação
Experimental do Seridó e P-46, do Serviço
de Genética da Paraíba. As características
do tipo Condado podem assim ser resumidas:
a)
Comprimento da fibra – 36/38mm. (a maior).
b) Percentagem de fibra – 30 a 32%
c) Percentagem de óleo – 20 a 22%
d) Micronaire (Resistência corrente ar)
– 27 a 43
e) Resistência (Índice Pressley)
– 8 a 9
f) Maturidade – 0,950 a 1.000
g) Número médio de nós –
17
h) Resistência em fio 80s. – 26 a
28 libras.
O preço
de venda do algodão de fibra extralonga
nos grandes mercados mundiais, foi afetado adversamente,
em 1957, por uma reduzida atividade comercial
e, em 1958-1959, a safra de Mocó resultou
em preços mais elevados para essa cultura
– (Tabela III e Quadro I).
Toda
a safra de algodão Mocó é
produzida no Polígono das Secas e, aproximadamente,
90% dela nos Estados do Ceará, Paraíba
e Rio Grande do Norte.
Quase
todas as outras fibras de algodão extralongas,
produzidas no mundo, são cultivadas nos
vales irrigados de desertos quentes. Consequentemente,
a produção de Mocó, por hectare,
é muito baixa comparada com a do algodão
irrigado. Por sua vez, a quantidade de terra cultivada
com algodão Mocó é muito
grande – Tabela V.
A baixa
produção e o baixo rendimento por
hectare, no Brasil, relacionam-se com o baixo
custo da mão-de-obra e o baixo valor da
terra.
PROBLEMA DOS MERCADOS
Sr. Presidente, um dos problemas mais sérios
para o algodão nordestino é aquele
que se refere aos mercados.
O algodão
Mocó está sendo utilizado, principalmente
em São Paulo e no Rio, na produção
de fio e de produtos de algodão destinados
a fins especiais, ordinariamente fabricados com
fibra extralonga; também considerável
parte desse fio está sendo exportada par
a Argentina. Além disso, algumas fábricas
européias têm encontrado novos usos
para o algodão Mocó.
O futuro
do Mocó estará assegurado:
a)
Se o Brasil adotar medidas para produzir um artigo
uniforme e de qualidade semelhantes às
das melhores seleções atualmente
encontradas nas estações experimentais.
A cultura
algodoeirade fibra longa no Brasil está
totalmente concentrada na área do Polígono
das Secas.
Dada
a sua perenidade, podendo viver mais de 20 anos,
na opinião de Renato Braga, na sua atribuída
zona de origem, chegou no passado, a constituir
bem de raiz. Hoje, com o aumento da área
de cultivo e a maior incidência das pragas
a substituição das culturas é
feita de 5 a 6 anos.
O habitat
do algodoeiro mocó é encontrado
no Seridó e a fitogeografia do Nordeste
seco aponta a puiba, jurema, capim penasco, xique-xique,
favela e a oiticica como plantas indicadoras de
condições favoráveis a seu
cultivo, ensina Guimarães Duque.
Origem
Provável – Parece não haver
dúvida de que o algodão mocó
tenha surgido primitivamente na região
do Seridó. A origem genética da
planta continua, entretanto, a ser objeto das
mais variadas hipóteses e alguns estudiosos,
entre os quais Fernando Melo, dizem “que
permanece no terreno de pura especulação”.
Há versões que falam de semente
trazidas no século passado no Egito. O
fato é que o “mocó apresenta
uma das adaptações mais felizes
de um cruzamento natural com fixação
acentuada de características de resistência
à seca e qualidade da fibra”, conforme
se encontra no livro – “O Solo e a
Água”.
Variedades
Existentes – Algodão Mocó
é o nome genético com que é
designado no Nordeste o algodão de fibra
longa e porte arbóreo, cultivado principalmente
na região Seridó. Designações
comuns no mercado: Seridó e Sertão;
o primeiro para identificar o tipo cultivado na
zona seridoense, de fibra acima de 34mm; e o segundo
para algodão de outras zonas secas do Nordeste,
com fibra de 32/34mm.
A Sinonimia
popular abrange seinha, mocozinho mocozão,
mocó tocha, etc.
A despeito
do algodão mocó constituir a “lavoura
dinheiro” do Nordeste seco – a rotina
ainda continua a lamentavelmente, predominar nos
seus métodos culturais. Os processos adotados,
entretanto, variam significativamente de acordo
com as diferentes zonas de produção.
Preliminarmente,
cabe salientar que o maior volume de sua safra
é obtido pelo tradicional sistema de parceria
(meia e terça). Este é um problema
que somente será solucionado através
da Reforma Agrária.
Anteriormente,
as safras algodoeiras do Nordeste eram exportadas
para o exterior. Entretanto, depois da última
guerra, houve uma modificação e
as safras de algodão fino, de algodão
de fibra longa estão sendo enviadas quase
todas, porque este ano houve uma ligeira exceção
para o mercado consumidor de São Paulo.
Entretanto,
quando são feitas as fixações
dos preços mínimos do algodão,
o algodão de fibra longa, não recebe
a consideração que os inferiores
de fibra curta, recebem.
Portanto,
o Nordeste precisa especializar-se na produção
de sua fibra longa, para poder voltar ao mercado
exportador e ser, portanto, mais um conquistador
de divisas.
O crack do café em 1930 possibilitou o
desenvolvimento, principalmente do algodão
paulista.
Sr.
Presidente, quando fazemos estas restrições
ao setor industrial de São Paulo, não
nos queremos opor ao desenvolvimento industrial,
porque há necessidade do binômio
economia-industrial para chegarmos ao maior desenvolvimento
do Brasil. O Nordeste, entretanto, não
pode ficar nessa situação dependente
das fábricas de São Paulo.
Agora,
mesmo, no Nordeste, temos informação
de que organizações como a Sociedade
Algodoeira Nordeste do Brasil, a SANBRA, está
exigindo dos plantadores a entrega do algodão
ao preço de 23 cruzeiros, abaixo do alcançado
no mercado local. Isso acontece com os agricultores
que recebem na entressafra qualquer financiamento.
Agem assim esses trustes, quando outras firmas
também financiadoras, estão comprando
ao preço de 25 cruzeiros o quilo.
Há,
também uma denúncia sobre a subsidiária
da Machine Cotton, que financia a primeira prestação
cobrando juros na base de 2% e somente nas prestações
subsequentes cobra o juro normal de 1%.
BANCO DO BRASIL A SERVIÇO DAS FIRMAS
ESTRANGEIRAS
Sr. Presidente, poderíamos analisar agora
a posição dessas firmas internacionais
que, recebendo financiamentos dos mais vultosos
nos estabelecimentos oficiais de crédito,
não dão aos nossos plantadores de
algodão a necessária assistência.
Temos em mãos informações
do Ministério da Fazenda através
do Banco do Brasil, de que, no ano passado, em
mais de 400 bilhões em financiamentos,
somente firmas estrangeiras com uma única
exceção foram beneficiadas. A impressão
predominante no Brasil, particularmente no Nordeste
é de que essas organizações
compram o algodão com capital próprio,
quando, na verdade elas negociam com dinheiro
emprestado pelo Banco do Brasil, fazendo concorrência
aos comerciantes brasileiros e empobrecendo o
País, pois os lucros são enviados
para o estrangeiro.
Para constatar este escândalo, passamos
a ler o ofício que recebemos do Ministério
da Fazenda, transcrevendo o Aviso 173, no qual
fica comprovado que mais de 90% dos financiamentos
foram feitas a firmas estrangeiras.
MINISTÉRIO
DA FAZENDA
GABINETE DO MINISTRO
C/442
Sr. Deputado Djalma Maranhão
Transmito-lhe à inclusa cópia autenticada
do Aviso nº 173, de 6 de junho último
deste Ministério, de conformidade com a
solicitação constante de sua carta
de 16 do corrente mês.
Atenciosas
saudações – Antônio
Carlos Barcelos – Chefe do Gabinete.
Ref.: GERAI-59-11.
Rio de Janeiro, 20 de maio de 1959
Senhor Chefe do Gabinete
Referindo-nos
ao expediente SC, 96.175-59 desses Ministério
pertinente ao ofício nº 314, de 22-4-59,
em que a Câmara dos Deputados, em atenção
ao requerimento nº 96-59 do Sr. Deputado
Costa Lima, solicita diversas informações
sobre os financiamentos concedidos por esta Carteira
através das nossas filiais no Estado de
São Paulo, para as safras de algodão
de 1956-1957 e 1957-1958, apraz-me informar a
V. Sa., em resposta aos quesitos formulados no
aludido requerimento:
a) Cr$ 49.709.362,20;
b) Cr$ 422.592.052,50;
c) Os beneficiários nas operações
em tela foram apenas os seguintes: - Decreto nº
40.431: Anderson Clayton & Cia. Ltda. e Brasil
Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro S.A.
2. Juntando, em devolução o supramencionado
expediente, aproveitamos a oportunidade para reiterar
a V. Excia., os protestos de nosso estima e apreço.
Anexos: 1-5.
ham/
Banco do Brasil S.A. – J. Mendes de Souza.
Diretor.
A Sua Senhora o Senhor Chefe do Gabinete do Ministro
da Fazenda.
Confere com o original.
Gabinete do Ministro da Fazenda, 27-5-1959 –
a) – Enéas da Silva Pires –
Auxiliar
Está conforme.
Gabinete do Ministro da Fazenda, 27-5-1959 –
a) Olavo José Monteiro, Enc. da Mecanografia.
Cop. AB.
Confere com a cópia arquivada neste Gabinete.
G.M.F. – Mecanografia, 20-10-59 –
(Assinatura Ilegível), Auxiliar.
Visto.
G.M.F. 20-10-59 – Olavo José Monteiro,
Encarregado da Mecanografia.
Apresentamos, em conseqüência, à
Casa Projeto de Lei que altera a Lei nº 492,
de 30 de agosto de 1957, modificada pela Lei nº
2.666, de 6 de dezembro de 1955.
O SR. PRESIDENTE – (Sérgio Magalhães
– 1º Vice) – Atenção!
Lembro ao nobre orador que o tempo de que dispõe
está findo.
O SR. DJALMA MARANHÃO – Sr. Presidente,
concluirei o meu discurso, tão logo termine
a leitura do texto do projeto.
É
o seguinte o projeto de lei:
PROJETO DE LEI Nº
Altera a Lei nº 492, de 30 de agosto de 1937,
modificada pela Lei nº 2.666, de 6 de dezembro
de 1955.
O Congresso
Nacional decreta:
Art. 1º. Acrescente-se na Lei nº 2.666
de 6 de dezembro de 1955, que regula o penhor
rural e o crédito pignoratício,
no Capítulo VI – Das Disposições
Transitórias, onde couber o seguinte artigo:
“Art.... Os estabelecimentos de créditos
oficiais destinarão seus financiamentos
exclusivamente à firmas ou empresas nacionais,
ficando impedidos de operar com firmas ou empresas
estrangeiras e suas subsidiárias.
Parágrafo único – Consideram-se
firmas ou empresas estrangeiras:
1º - As que têm como participantes
sócios cotistas ou portadores de ações
que sejam estrangeiros, residentes e domiciliados
no exterior;
2º - As que têm como participante pessoa
jurídica residente, domiciliada ou sediada
no exterior;
3º - As que, têm sede ou matriz estabelecida
no estrangeiro.
Sala das Sessões, em 16 de outubro de 1959
– Djalma Maranhão.
UM
PIONEIRO NA LUTA ANTI-TRUSTE
Devemos salientar, Sr. Presidente, que a luta
contra a dominação da SANBRA e Anderson
Clayton vem de longos anos. Os produtores brasileiros
de algodão tiveram uma atitude de vigilância
naqueles momentos em que o truste internacional
do algodão lançava as suas garras
contra o Brasil, no ano de 1936.
Na
Assembléia Legislativa do Rio Grande do
Norte ergueu-se a voz do deputado Gonzaga Galvão,
que em sucessivos discursos desmascarou a trama
sinistra e apontou ao País os perigos daquela
penetração estrangeira. Os seus
discursos tiveram ampla repercussão, em
todo o Nordeste e no Brasil. E graças a
um projeto de lei de sua autoria, aprovado pela
Assembléia, a SANBRA foi inicialmente derrotada
em nosso Estado.
Em
seu primeiro discurso, pronunciado a 23 de setembro
de 1936, dizia o professor Gonzaga Galvão.
“Sr.
Presidente,
Infiltram-se no Rio Grande do Norte, elementos
estrangeiros, componentes de duas firmas comerciais,
a SANBRA e Anderson Clayton, com intenções
perigosas. Os argumentos que pretendo trazer sobre
o assunto, aos meus ilustres pares demonstrarão,
de modo cabal, os fins dessas duas grandes forças
que não são outras senão
aniquilar o nosso sucesso comercial, industrial
e agrícola”.
Apoiando
o orador, acrescentava em aparte o deputado Pedro
Matos:
- “Muito Bem. Vamos lutar contra uma verdadeira
horda. Além de martirizadas por uma séria
de implacáveis castigos, mais essa desgraça
contra a nossa principal produção”.
O orador
leu da tribuna um impressionante documento, o
memorial da Conferência Nacional de Algodão,
realizada em São Paulo, no mês de
abril de 1935, onde além de outras importantes
denúncias, se lê:
- “Anderson Clayton & Cia Ltda. vieram
para aqui com quatro mil contos de capital organizado
com a compra nos Estados Unidos de alguns “congelados”
americanos no Brasil, ali adquiridos com 25 e
30% de abatimento. Utilizando-se do crédito
que, incontestavelmente a casa matriz possui em
todo o mundo, movimentam aqui nos Bancos os capitais
de que necessitam de momento e orientam e dirigem,
assim, com o dinheiro brasileiro, uma das mais
ricas e prósperas fontes econômicas
do País, preparando-se para a dominarem,
inteiramente, e até a aniquilarem se tanto
lhes convier e interessar”.
Como
se vê, Sr. Presidente, essas firmas aqui
entraram para utilizar-se dos dinheiros brasileiros,
o que fazem até hoje.
Desde
aquela época, o Banco do Brasil encontra-se
a serviço da SANBRA e Anderson Clayton.
Em 1936, Anderson Clayton obteve um empréstimo
no Banco do Brasil de quarenta mil contos, açambarcando
toda a disponibilidade daquele estabelecimento.
A denúncia feita pelo deputado Gonzaga
Galvão foi corroborada pelo então
deputado estadual João Câmara, depois
Senador da República, e figura destacada
da vida política e econômica do Rio
Grande do Norte, que afirmou categoricamente:
- “Isso
é um crime!
Sr.
Presidente,
É
contra esse crime que estamos lutando hoje, da
tribuna da Câmara Federal e na qualidade
de representante pelo Rio Grande do Norte. É
preciso que o nosso povo desperte para essa luta.
Chamo
a atenção desta Casa para um documento
em que um nordestino dos mais ilustres, o Governador
Agamenon Magalhães, então Ministro
do Trabalho denunciava os trustes do algodão.
O documento foi lido pelo professor Gonzaga Galvão,
na Assembléia do Rio Grande do Norte, na
reunião de 5 de Outubro de 1936, com as
seguintes palavras:
“Quero,
Sr. Presidente, mostrar a esta Assembléia,
mais um documento contra as firmas que se dizem
nacionais, mas, o são, apenas, na aparência.
Falta, desta vez, S. Excia., o Sr. Ministro do
Trabalho. Em ofício dirigido à Câmara
dos Deputados, o titular da pasta do Trabalho
respondeu ao pedido de informações
que lhe foi transmitido sobre a situação
das companhias estrangeiras aparentemente nacionais,
que funcionam hoje no País.
Entre
outras cousas, o Sr. Agamenon Magalhães
diz o seguinte:
“Cabe-me
declarar que, realmente, a Sociedade Anderson
Clayton & Cia Ltda., com sede na capital do
Estado de São Paulo e filiais nos Estados
de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Maranhão e Sergipe, só
aparentemente é brasileira, desde que das
4.000 quotas em que se divide o seu capital registrado
de 4.000,000$000, pertencem 3.997, à firma
Anderson Clayton & Cia com sede em Houston
Texas, Estados Unidos da América, e apenas
uma a cada um dos quotistas Charles Emmet Wanddell,
James Ashfoy Russel Jr. E Ruy Campista, segundo
consta do respectivo contrato arquivado em nosso
País.
Sabe-se
que, na grande República norte-americana,
são esses os maiores comerciantes de algodão
e que sua forte projeção se faz
sentir em todos os continentes, onde haja campo
para a sua atividade. Na América do Sul,
possuem filiais em Buenos Ayres, Assunpção
e Lima. Escritórios seus a funcionarem
em Bombaim, Shangai, Osaka, Alexandria e Havre.
Segundo ainda a revista norte americana TIMES,
número de 17 de agosto último, pág.
57 e seguintes, em Milão, fazem negócios
sob a firma de Lampar & Cia.; em Liverpool,
sob a de D. T. Pennefather & Co. Seus representantes
estão espalhados desde Goteboorg, Suécia,
até Barcelona, Espanha, de Lodz, Polônia,
até ao Porto, Portugal.
Trata-se,
portanto, de sociedade organizada sob o domínio
absoluto de uma firma dos Estados Unidos que age
em nosso País através de pessoa
jurídica fictícia brasileira. É
o sistema “halding”; a sociedade principal
infiltra-se através de outras, comprando
quotas, ou adquirindo ações quando
se revestem de forma anônima.
Contra
tais processos evidentemente fraudulentos, tem-se
insurgido este Ministério, recusando o
arquivamento dos contratos no registro comercial
do Distrito Federal, de uma jurisdição.
Entretanto,
ainda agora, a Egrégia Corte Suprema ante
um pedido de mandato de segurança formulado
pela Sociedade C. Fuert & Cia. Ltda., a quem
se delegara deferimento à alteração
do contrato em virtude da qual, num capital de
60 quotas, foram 55 transferidas a uma sociedade
anônima estrangeira, resolveu opostamente
à decisão deste Ministério,
mandando que se considerasse legítima semelhante
transferência, sob o fundamento de que o
art. 19 do Código Civil reconhece as pessoas
jurídicas estrangeiras, que podem, desse
modo, adquirir ações e quotas de
sociedades comerciais.
Em
face do exposto torna-se absolutamente necessário
imprescindível mesmo, que o legislador
brasileiro vote uma lei que confira ao Estado
o direito expresso de fiscalizar toda e qualquer
espécie de sociedade industrial ou comercial,
pelo que toca à intervenção,
franca ou disfarçada, de elementos estrangeiros
nos centros e mercados nacionais, facultando-se
ao poder público estender sua ação
não só às sociedades por
ações, como às constituídas
por quotas e até às simples firmas
ou razões comerciais.
Sr.
Presidente,
Rendo
aqui as minhas homenagens a esse pioneiro da luta
contra os trustes do algodão, o Professor
Gonzaga Galvão, que hoje ocupa cargo da
administração federal no meu Estado,
transcrevendo estas palavras de um dos seus discursos
sobre o problema do algodão.
- Sr.
Presidente,
Coloquei-me
na vanguarda do movimento que em nossa terra resolver
a sua maior e mais importante questão econômica
e social. Fui para ela arrastado, Sr. Presidente,
por um impulso em meu próprio dever de
zelar pelo nosso patrimônio e combater os
violadores da Lei, aqueles que perturbam a nossa
tranqüilidade industrial, comercial e agrícola,
em seu proveito pessoal, como acontece com as
firmas Anderson Clayton & Cia e SANBRA.
Sr.
Presidente, dada a exiguidade de tempo e por já
haver expirado o prazo de que dispunha para concluir,
pediria à Mesa considerasse como lidos
os gráficos que trouxe à tribuna,
a fim de que façam parte deste discurso.
– (Muito bem, muito bem. Palmas).
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