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Djalma Maranhão, CERN 1985

 

 

 

De Pé no Chão | 40 Horas de Angicos | Movimento de Natal

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Prefácio
Djalma Maranhão
Marcos Maranhão

Relembro Nilo Pereira, ao falar sobre Padre Monte: “Sinto-me chamado a escalar o cimo da montanha. Esta ascensão torna humilde o peregrino audaz”.

Como encontrar palavras que expressam em toda sua dimensão e grandeza o líder popular, o pai amoroso, o companheiro terno, o amigo solidário, o administrador competente, o parlamentar atuante, o mandatário honesto, o prefeito que Natal amou, o político destemido e corajoso, o desportista completo, o jornalista vibrante, o estudioso dos problemas econômicos e sociais do Brasil, o idealizador dos grandes projetos públicos da cidade, o homem que esteve um século adiante das necessidades de Natal, trabalhando pela grandeza da pátria.

Contemplo meu pai com os olhos de infância e adolescência, e numa névoa trazida pelo passado que se clarifica quando a memória traz recordações vindas de um mar longínquo e aportadoras para as praias brancas e douradas da imagem presente.

Quando meu pai, no desempenho do “munus” público viajava para a capital da República na tentativa de conseguir recursos políticos e administrativos para Natal, sua volta era uma explosão de alegria, de festas e cores, que se traduziam na multidão de amigos e no carinho familiar constante. Os presentes trazidos, bolas, brinquedos, máquinas elétricas, criavam um mundo mágico que ele fazia surgir, abrindo as valises num sorriso franco que expressava o amor do pai profundamente carinhoso que ele foi. O atleta se transfigurava em criança na presença do filho, e aquele lidador, forte, física e politicamente, percorria com às mãos dadas as minhas mãos, longas jornadas de sonho e encantamento.

Como esquecer as primeiras caminhadas ao seu lado no jipe “Furamundo”, onde mostrava o mar, o céu, os bairros pobres, suas realizações do dia-a-dia, e as estrelas no crepúsculo.

Nasci em 1947, quando meu pai iniciava sua efetiva vivência partidária que iria lhe proporcionar os mandatos de deputado estadual e prefeito, levando-o à Câmara Federal, através de uma proposta democrática, nacionalista, abrangente, extensiva a toda sociedade brasileira.

Durante a época da guerra desempenha atividades jornalísticas, como correspondente da UPI em Natal, cobrindo as operações militares aliadas.

Em suas atividades instala um pequeno moinho de milho, funda o “Diário de Natal”, ao lado de Ruy Paiva, e Waldemar de Araújo, monta o “Monitor Comercial”, casa-se com minha mãe, ingressa no Partido Social Progressista, do qual será Presidente e assume, posteriormente, a direção do “Jornal de Natal”, pertencente a Café Filho.

Vejo Café Filho presente em nossa casa, comungando com meu pai dos ideais populares, na magia das multidões entusiasmadas pelas legendas que falavam de paz, justiça, amor e liberdade. Neste primeiro encontro da infância as mãos de meu pai me conduziam até Café Filho para que eu pronunciasse discursos de saudação, se orgulhando do filho criança que despontava cedo para os horizontes mais amplos da jornada humana.

Assisti os caminhos de meu pai. Jornalista, Presidente da Associação Norte-Rio-Grandense de Imprensa, Esportista atuante, Atleta, Presidente do Conselho Estadual de Desportos, Deputado Federal e Estadual, Prefeito de Natal em dois mandatos.

Com os olhos voltados para as regiões mais profundas do meu espírito, revejo a biblioteca de meu pai, onde tudo falava de eternidade, como no dizer de Manuel Bandeira e, guiado pelo seu amor, conheci um mundo interior onde Machado de Assis, José de Alencar, Jorge Amado, Alexandre Herculano, José Lins do Rêgo, Eça de Queiroz, Stefan Zweig, Racine, Shakespeare, Rilke, Verlaine, Neruda, entre outros, traziam mensagem e ecos ao coração do homem.

Foi o prefeito que se identificou com a cidade, criando raízes com seu povo e sua gente.

Restaurou os autos folclóricos. De sua ação firme e dedicada de apoio reviviam as lapinhas, os pastoris, os fandangos, bambelôs, cheganças, araruna e serestas, árvores de natal e presépios, enfeitavam as noites da cidade.

Construiu a Galeria de Arte, Concha Acústica, Fontes Luminosas que coloriam a noite e as madrugadas. Realizou Feira de Livros, Praças de Cultura, Congressos Brasileiros de Folclore, trazendo a Natal vultos como Jorge Amado, Gustavo Barroso, Mauro Mota, Eduardo Portela, Paulo Freire, Edson Carneiro, Mário Melo, José Condé, Umberto Peregrino, Antônio Vilela, Waldemar Cavalcanti, Ênio Silveira, Luiza Barreto Leire, Miécio Tati, Mário Jorge de Couto Lopes, Hildegarde Viana, Paulo Dantas, Edgar Proença, Pierri Furter, Carlos Pena Filho, Barbosa Lessa, Bruno de Meneses, Théo Brandão, Manoelito de Ornelles, Dante de Laytano, Carlos Galvão Krebs, Eneida, Domingos Vieira Filho, Nunes Pereira, João Climaco Bezerra, Mozart Soriano, Ascenço Ferreira, Júlia Dorado, Rômulo Angentiére entre tantos outros.

É preciso também que fale sobre o governante que encontrou uma Natal de argila e areia e a transformou numa cidade pavimentada. Que trouxe o asfalto, a iluminação de mercúrio. Que protegeu as dunas, mas com o progresso abriu o caminho da Via Costeira. Que construiu o Palácio dos Esportes, a Estação Rodoviária, a Galeria de Artes e os Centros Comerciais das Rocas e Lagoa Seca.

Que concedeu isenção fiscal às indústrias utilizadores de matéria-prima da região como a Guararapes. Que fez o Código Tributário de Natal. Que doou milhares de terrenos, aforando-os aos pobres e contribuindo na construção de suas casas. Que ajudou a Academia de Letras a erguer sua sede própria. Que incentivou a música criando o Coral da Cidade. Que mandou mensagens à Câmara Municipal criando o Serviços de Casas Populares, a Companhia de Abastecimento Alimentício, a Empresa de Ônibus Elétricos, a Guarda Municipal, o programa de Educação e Saúde.

Palmira Wanderley, a grande poetisa premiada pela Academia Brasileira de Letras, com seu livro “Roseira Brava”, num poema que ofereceu a meu pai em um dos seus aniversários afirma:

“Djalma, eu que sou a poetisa da cidade do Natal que ensinei a juventude lhe querer muito bem, e mostrei a todo mundo as belezas que ela tem. Venho render homenagem a seu Prefeito também. Pela Coroa dos Magos de tantos globos de luz. Pela árvore da alegria que dá sombra pra Jesus; Pelo encanto diferente que a cidade soube dar; Pela alegria do povo. Pela crença popular; Pelas festas de Natal. Que nasceu no mesmo dia. Que o Deus Menino nasceu. Louvado seja o Prefeito. Que o destino da cidade tão cristãmente entendeu. Pelos cantos. Pelas danças. Pelos fandangos nas praças. Pelas lapinhas de outrora, revivendo a tradição. Aceite meus parabéns.

Vejo meu pai percorrendo a cidade, verificando as obras da Prefeitura. Conversando com os poetas, visitando peixadas, caranguejadas, associação de bairro e de rua em número de milhares, igrejas católicas, convivendo com padres e freiras que faziam ação social nos bairros pobres. Abraçando centenas de compadres e afilhados. Era um homem de grandes amizades acima de eventuais dissenções políticas. Teve em Dinarte Mariz um grande amigo, inexcedível.
Numa restituição telúrica do tempo aos acontecimentos transcorridos revejo o café da manhã em nossa casa onde meu pai, na cabeceira, dominava os acontecimentos e recebia os numerosos amigos que chegavam com as notícias do dia. Seu último aniversário em Natal foi uma apoteose, realizado no Palácio dos Esportes, onde centenas de mesas, abrigavam milhares de pessoas que iam saudar o Prefeito, após haverem publicado seus nomes em listas do Diário de Natal. Integrantes dos Poderes Públicos, da Imprensa, da Igreja, da Maçonaria, Sindicatos, Lions, Rotary, Estudantes, Professores, Funcionários, Membros de Associação de Bairros, Juizes, Militares, Políticos. Todos iam levar sua homenagem ao Prefeito, chamado carinhosamente de “Caudilho” e que, organizando duas ligações de oposição no Rio Grande do Norte, vencera as eleições de 1955, e 1960. Era o candidato nato a Governador do Estado.

Sinto, numa evocação proustiana, os sons e os perfumes das noites de São João, quando ao lado de meu pai percorria as fogueiras que traçavam na noite o perfil de ouro e fogo que emoldurava sua figura legendária.

Defendeu, na Câmara Federal a industrialização do tungstênio no Rio Grande do Norte e a necessidade da Reforma agrária, lutando contra os trustes estrangeiros. Abordou os problemas do algodão, do sal, do porto de Areia Branca, numa visão de defesa dos interesses nacionais.

Criou a campanha “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”, dando acesso democrático e integrado das comunidades pobres às fontes do saber.

Seu ideário democrático, contido nos principais discursos, pronunciados na Câmara Federal, reunidos por mim, são publicados neste livro; onde todos poderão ver seu pensamento político, efetivo, para o veredicto da história.
Djalma Maranhão a quem Nelson Werneck Sodré chamou no “Seminário” nº 255, de “capaz, justo e lúcido”, a quem Neiva Moreira adjetivou como grande brasileiro que deveria ter estátuas em todas as ruas de Natal; classificado como humanista, homenageado na imprensa carioca por José Condé, Eneida, Adonias Filho, e indicado por Ênio Silveira como “patriota dedicado ao Brasil merecendo a reverencia dos democratas: , descansa hoje na sua cidade que tanto amou. O vento entretanto traz sua presença, embalando os coqueirais cujas palhas serviram de teto para sua campanha “De Pé no Chão Também Se Aprende a Ler”.

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