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Educando para a Cidadania
Os Direitos Humanos no Currículo Escolar

A QUÍMICA E A CIDADANIA

 

A Química é uma ciência relativamente nova, uma ciência de atividades modernas, uma ciência elitista. É elitista porque utiliza uma linguagem própria, trabalha com códigos, usa pormenores, seu conteúdo não é visualizado na rotina de sala de aula. Além desta abstração teórica, utiliza, como sala ambiente, um laboratório e um instrumental todo específico e seletivo.

A disciplina de Química pode ser contestada por sua fragmentação em relação à Física, à Biologia, onde a não interdisciplinariedade embota a compreensão do todo. Mas a Química se faz necessária para a compreensão de fenômenos de desenvolvimento invisível aos nossos olhos. Faz-se necessária para a compreensão para a interpretação de situações lógicas, quantitativas, que ocorrem ao nosso redor, que vivemos, às vezes, sem fazer a ligação com a ciência como um todo.

Um estudante vê a Química como uma ciência a ser estudada a partir de um ritual: deve-se colocar um avental, realizar experiências com líquidos ou com pó (ambos de odor geralmente desagradável), manusear o maior número de vidrarias possível e obter um resultado conhecido ou esperado teoricamente. Nas conversas de sala de aula, o aluno quer saber como se faz uma bomba atômica ou está curioso para realizar experiências aventureiras, como, por exemplo, aquelas que trarão como conseqüência pequenas explosões. O aluno acredita que a Química, através de seus fenômenos, só ocorre em laboratório.

Criou-se, através dos tempos, dos quadrinhos, da literatura vulgar, filmes, desenhos animados, a idéia de que o tipo físico do cientista, do professor de Química (explora-se uma imagem masculina) é o “baixinho, que usa avental, careca, poucos cabelos em desalinho, linguagem de pouca compreensão”. Em síntese, algo de “louco” e com estilo de vida anormal, se comparado às demais pessoas. Esta rotulação sugere outra batalha a ser travada: a desmistificação da imagem física, isto é, do cientista. A ciência não é privilégio de qualquer tipo de pessoas, seja quanto a raça, a religião ou sexo. Não é preciso possuir determinado biotipo para mergulhar no mundo da Química. Isto exige uma adaptação, uma transformação, uma nova abertura e desmistificação do próprio educador. Necessita-se viver a Química rotineiramente, explicando uma série de fenômenos que nos ocorrem no dia-a-dia, não pensando na ciência Química somente a partir de uma sala ambiente como o laboratório, mas vinculando-a, inicialmente, com todos os fenômenos da vida. Não é teorização de sala de aula, mas realização de atividades experimentais também neste local. Buscar no pátio, na rua, um local de estudo e de interpretação de fenômenos químicos.

Para chegarmos a esta ambientação mais ampla que o laboratório ou que a teorização na sala de aula, necessitamos, também, rever os conteúdos que são trabalhados, selecionados e padronizados, muito antes de começarmos a estudá-los como alunos e, após, como professores. Devemos ter claro que o aluno nem sempre irá especializar-se em Química, que o seu contato com a Química pode fixar somente nos três anos do segundo grau. O estudante precisa de uma visão generalista dos fenômenos químicos, não fragmentada, não teoricista e não supérflua para o momento que está vivendo. Não necessita fazer parte de um grupo de disciplinas que assunta, que impõem medo em busca de auto-afirmação.

Quando o professor vai lecionar numa escola pública noturna da periferia ou de uma cidade da região metropolitana, terá como clientela: adolescentes que necessitam trabalhar para ajudar em casa; estudantes que possuem como realidade do dia-a-dia um trabalho ou oficina mecânica ou em supermercado, num emprego doméstico, ou atrás de um balcão de loja comercial, ou andando pelas ruas como contínuo. São estudantes que falam e vivem em um mundo onde o que lhes é próximo é o trabalho, o dinheiro, a família, o sexo, os esportes, as drogas, a aparência física e a moda, a admiração por carros e motos, a aversão à política, a insatisfação por serem pobres, o “tirar nota boa”, o consumir a partir do que mais observam, que é a televisão. Não é possível falar-se de números quânticos, de hibridação de orbitais, de processo óxido-redução, desvincular-se da realidade do aluno, elitizando ainda mais o estudo da Química.

Quando se estuda as propriedades da matéria, deve-se mostrar que a densidade não pode ser fragmentada entre massa e volume. Isto pode ser visto como o uso de tachinha, de prego e de grande prego, buscando, assim, para a sala de aula, esses outros materiais do dia-a-dia do aluno. até seu próprio corpo pode conduzir a uma relação com o espaço urbano e a massa populacional, fazendo-se uma reflexão sobre o resultado de tantas pessoas estarem juntas sem medir se há espaço para todas. Ao estudar a natureza dos corpos, com material simples, com produtos de limpeza, de polimento, de acabamento em pintura e obra de alvenaria, na busca de maior interpretação de fenômenos da rotina de trabalho dos alunos.

O consumo alimentar industrializado pode ser analisado e questionado a partir de uma lista de códigos de aditivos químicos alimentares, onde o aluno poderá saber o que está comendo, o que é aquela substância química colocada no seu alimento, a que grupo químico pertence, o que ela pode causar, quais as possíveis reações químicas que podem ocorrer no seu organismo, o que a OMS está fazendo, identificando, em rótulos e embalagens, os ativos químicos alimentares. O aluno estará sabendo se os seus direitos estão sendo respeitados, será mais seletivo na sua alimentação, irá refletir mais sobre o que é anunciado nos meios de comunicação e o que ele precisa realmente consumir.

Usando vinagre e leite de magnésio é possível ao aluno fazer uma reação química que lhe explique a função de medicamentos no combate à acidez estomacal. Conhecerá a cal virgem e a água nas reações químicas de formação de cal hidratada para a construção de uma obra de alvenaria.

Através da queima de uma vela, de uma folha de papel, de um pedaço de madeira, é possível ao aluno compreender a combustão celular, a obtenção de energia e, a seguir, analisar a crise energética, as fontes energéticas, a energia nuclear, suas finalidades e o que pode causar, assim como o uso, para outros fins, dos elementos radioativos. A partir desta análise, cabe ao aluno ver o aspecto político da questão: qual o papel do governo e da sociedade no desenvolvimento da energia nuclear? E cabe ao professor ser claro quanto a sua posição perante a situação. O professor de Química não pode ser uma pessoa alienada, neutra. Deve defender suas posições perante os alunos, não os inibindo quando queiram defender posições antagônicas. Demos outros exemplos:

A partir do estudo das nomenclaturas e das propriedades físicas e químicas das substâncias, torna-se possível ao aluno saber que produtos químicos compõem a receita indicada pelo médico ( a partir da leitura de bulas é possível analisar o efeito das substâncias no nosso organismo e os prejuízos da auto-medicação, questionando a causa desta prática).

Em uma técnica de redescoberta, como gotejar vinagre em vários tipos de leite, pode-se possibilitar a aplicação do método científico dedutivo, sem a necessidade de fixar nomes de etapas ao roteiro, como hipótese, diagnóstico, prognóstico, variável dependente, variável interveniente, etc, o que pode conduzir a uma burocracia que monopoliza a atenção do aluno em detrimento da pesquisa científica.

A partir da pesquisa científica, no campo da Química, é possível analisar a sua importância, a postura do governo, a mão-de-obra potencial, a evasão no mercado de trabalho, a busca de melhores condições de trabalho fora do país, o convite de outros países aos pesquisadores nacionais, os valores aplicados a essa mesma pesquisa científica e o retorno obtido.

O equilíbrio da natureza e a correlação com os fenômenos químicos podem ser vistos através de reações químicas mensuráveis, com o retorno do produto ao meio ambiente. Isto pode ser trabalhado a partir da queima de óleo diesel, da queima de tiras da borracha ou de palha de aço, buscando analisar as conseqüências da poluição ambiental, do efeito estufa, do desmatamento, da necessidade de reciclagem do lixo. Que excelente tema integrador para a interdisciplinariedade.

A separação de mistura através da filtração e com o destilador construído pelos alunos mostra a necessidade da potabilização da água, da higiene para com as verduras, frutas e legumes, como deve ser feito o processo de perfuração de poços, a limpeza e conservação de produtos hortigranjeiros, aproveitamento integral dos alimentos (folhas, cascas e sementes). A troca de receitas e a experimentação de bolinhos de casca de batata inglesa, podem mostrar como desperdiçamos essa casca de batata, por exemplo, na esteira geral de tantos desperdícios de alimento.

Entre muitas alternativas práticas de metodologia de ensino de Química cabe, sempre ao professor despertar o interesse e a compreensão do aluno, sem desvincular a Química do cotidiano. E nessa perspectiva, e só nela, que a ciência, e a Química em particular, podem ter especial significação para o despertar de uma consciência de cidadania e para a ação dos cidadãos organizados, no sentido de qualificar sempre mais a vida neste planeta.

Luiz Antônio Garcia Feijó

Educador na Escola Estadual Antônio de Castro Alves, em Alvorada, e no Colégio Anchieta, em Porto Alegre. Atua também no campo de educação de deficientes auditivos.

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