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         4. Um
        novo ator político: o Movimento Nacional de Direitos Humanos
        
         Nesse contexto de
        transição e de fortalecimento da sociedade civil, foi criado, em
        janeiro de 1982, em Petrópolis (RJ), o Movimento Nacional de Direitos
        Humanos, auto-definido como um “movimento civil, democrático, ecumênico
        e suprapartidário, que congrega, atualmente, centenas de entidades que
        lutam na defesa e na promoção dos direitos humanos, ao lado dos
        despossuídos e marginalizados, contribuindo para o avanço da luta
        social na perspectiva da construção de uma sociedade democrática,
        pluralista e libertadora, com base na história e na cultura de cada
        povo”.
        
         As entidades e
        os militantes que se reuniram no Centro de Formação Franciscana para a
        América Latina (Cefepal), em Petrópolis, para a assembléia de fundação
        do MNDH eram oriundos, testemunhas e partícipes das lutas sociais
        brasileiras pela democracia e justiça social. Em termos específicos,
        reuniram-se para articular melhor a caminhada que já vinha sendo
        realizada. O ideário definido pelo incipiente Movimento resume-se muito
        bem nas palavras já citadas: “civil” (expressão da sociedade civil
        brasileira), “democrático” (a democracia como um valor a ser
        reconstruído institucionalmente e construído, social, política e
        economicamente), “ecumênico” (como manifestação concreta do
        ecumenismo nascido em defesa dos interesses populares e democráticos,
        durante a ditadura) e “suprapartidário” (representando a convergência
        de várias forças políticas progressistas).
        
         Em sua matriz, o
        Movimento recebeu forte e duradoura 
        influência da Teologia da Libertação. Um de seus fundadores, o
        teólogo Leonardo Boff, é uma das personalidades mais expressivas dessa
        corrente.
        
         Em seu 4º Encontro
        Nacional, em Olinda (PE), o Movimento aprovou sua Carta de Princípios,
        que parte de duas afirmações essenciais: a primeira, relacionando à
        luta atual pelos direitos humanos a toda uma série de lutas sociais e
        políticas, na história do Brasil e a segunda, situando os direitos
        humanos basicamente como os direitos das maiorias.
        
         Ao comentar essa
        Carta, em discurso feito em Brasília, em 1992, (ao receber o Prêmio
        Nacional de Direitos Humanos), dizia Leonardo Boff: “Onde encontramos
        uma perspectiva mais alternativa e revolucionária que esta? É a
        carteira de identidade do MNDH. Todos hoje falam dos direitos humanos.
        Falam os Estados, falam as instituições financeiras internacionais,
        falam as Igrejas, falam os organismos de classe, fala a mídia. Mas, de
        que perspectiva falam? Consultemos a literatura mundial sobre o tema.
        Que ótica privilegia? A imensa maioria, com raríssimas exceções,
        fala do lugar de quem tem seu direito assegurado, fala a partir do
        poder, da ordem vigente, fala a partir de quem pode falar. Quem fala a
        partir dos silenciados? Quem assume a perspectiva das vítimas? Quem
        mais escuta o direito de seu grito? Aqui está a originalidade do MNDH.
        Ousou, de forma conseqüente, colocar-se no lugar do outro. E esse outro
        são as maiorias nacionais e mundiais”.
        
         Depois da primeira fase
        histórica, com sede em Petrópolis, o Movimento decidiu, em Goiânia,
        transferir sua sede para Brasília. Essa decisão voltou-se para a busca
        de realização de dois objetivos: o primeiro, de caráter mais geral,
        baseado na intenção de reforçar o aspecto propositivo e institucional
        da atuação do MNDH e o segundo, mais específico, em função do
        processo constituinte. As entidades de direitos humanos já vinham
        participando, ativamente, dos debates em torno da redação da nova
        Carta constitucional, que seria aprovada em 1988. 
        
        
         Daí em diante, o
        Movimento foi crescendo em várias dimensões simultâneas e paralelas:
        em nível interno, aprofundando o debate sobre a sua identidade,
        ampliando o número de entidades filiadas, incorporando ONGs de outros
        segmentos sociais (entidades dos movimentos de mulheres, negros,
        indigenistas); em nível externo, ampliando sua participação no
        universo da sociedade civil brasileira, abrindo-se para parcerias
        externas, intervindo, sempre mais, no cenário institucional.
        
         Catorze anos depois, o
        MNDH implementa uma nova etapa de sua trajetória, com a elaboração de
        seu plano estratégico participativo. Este processo realiza-se com base
        no principal momento de avaliação do Movimento, em sua história,
        representado pela avaliação conjunta CESE/MNDH, feita em 1995, sob a
        coordenação de José Carlos Zanetti, pela Coordenadoria Ecumênica de
        Serviço e de Juan Oscar Gatica, pelo Movimento Nacional de Direitos
        Humanos.
          
        
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